ISSN 1514-3465
Efeitos do treinamento aeróbico sobre a leptina em obesos: revisão integrativa
Effects of Aerobic Training on Leptin in Obese Individuals: An Integrative Review
Efectos del entrenamiento aeróbico sobre la leptina en personas obesas: una revisión integradora
Marckson da Silva Paula
*profmarckson@gmail.com
Jani Cléria Pereira Bezerra
**j.cleria@gmail.com
Rodrigo Gomes de Souza Vale
+rodrigogsvale@gmail.com
Estélio Henrique Martin Dantas
++estelio.dantas@unirio.br
*Pós-graduado em treinamento desportivo e fisiologia do exercício
Universidade Castelo Branco (UCB)
Aluno especial do curso de pós-graduação stricto sensu
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
**Doutora em Enfermagem e Biociências
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
Doutora em Medicina do Esporte
Universidad Católica Nuestra Señora de la Asunción
Doutora em Saúde Pública
Universidad Internacional Tres Fronteras
+Doutor em Ciências da Saúde
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
++Doutor em Educação Física
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
(Brasil)
Recepción: 03/01/2025 - Aceptación: 04/04/2025
1ª Revisión: 17/03/2025 - 2ª Revisión: 01/04/2025
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
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Cita sugerida
: Paula, M. da S., Bezerra, J.C.P., Vale, R.G. de S., e Dantas, E.H.M. (2025). Efeitos do treinamento aeróbico sobre a leptina em obesos: revisão integrativa. Lecturas: Educación Física y Deportes, 30(324), 198-223. https://doi.org/10.46642/efd.v30i324.8089
Resumo
A obesidade está relacionada ao acúmulo excessivo de gordura corporal e à resistência à leptina, um hormônio que regula o apetite e o equilíbrio energético. O treinamento aeróbico é uma estratégia eficaz para combater a obesidade, pois, pode melhorar a função da leptina, ajudando a controlar o apetite e favorecer a perda de peso. Além disso, o exercício aeróbico aumenta os níveis de adiponectina, melhorando o metabolismo e o controle de peso. Objetivo: Investigar os efeitos do treinamento aeróbico sobre os níveis de leptina em indivíduos obesos. Metodologia: Para isso, foi realizada uma busca avançada nas bases de dados da Pubmed, Scopus, Embase, Web of Science, Cochrane Library e Lilacs. Resultados: Foram encontrados 390 artigos, sendo excluídos 193 por serem duplicados. Ao final, 10 foram selecionados por atenderem aos critérios de elegibilidade. Os níveis de leptina sérica foram reduzidos em obesos que praticaram o treinamento aeróbico em 9 estudos (90%). Conclusão: O treinamento aeróbico promove a redução dos níveis de leptina em indivíduos obesos, associando esse efeito à regulação do peso e resistência à insulina. Além da perda de gordura corporal, a duração e intensidade do treino aeróbico são fatores importantes. A combinação de exercícios aeróbicos com treinamento resistido e intervenções dietéticas mostrou-se mais eficaz na diminuição da leptina do que o exercício isolado.
Unitermos:
Obesidade. Treino aeróbico. Leptina.
Abstract
Obesity is related to excessive body fat accumulation and leptin resistance, a hormone that regulates appetite and energy balance. Aerobic training is an effective strategy to combat obesity, as it can improve leptin function, helping to control appetite and promote weight loss. Additionally, aerobic exercise increases adiponectin levels, improving metabolism and weight control. Objective: To investigate the effects of aerobic training on leptin levels in obese individuals. Methodology: a comprehensive search was conducted in PubMed, Scopus, Embase, Web of Science, Cochrane Library, and Lilacs databases. Results: A total of 390 articles were found, with 193 excluded due to duplication. In the end, 10 studies were selected for meeting the eligibility criteria. Serum leptin levels were reduced in obese individuals who performed aerobic training in 9 studies (90%). Conclusion: Aerobic training promotes the reduction of leptin levels in obese individuals, associating this effect with weight regulation and insulin resistance. In addition to body fat loss, the duration and intensity of aerobic exercise are important factors. The combination of aerobic exercise with resistance training and dietary interventions proved to be more effective in reducing leptin than exercise alone.
Keywords:
Obesity. Endurance training. Leptin.
Resumen
La obesidad está relacionada con la acumulación excesiva de grasa corporal y la resistencia a la leptina, una hormona que regula el apetito y el equilibrio energético. El entrenamiento aeróbico es una estrategia eficaz para combatir la obesidad, ya que puede mejorar la función de la leptina, ayudando a controlar el apetito y promover la pérdida de peso. Además, el ejercicio aeróbico aumenta los niveles de adiponectina, mejorando el metabolismo y el control del peso. Objetivo: Investigar los efectos del entrenamiento aeróbico sobre los niveles de leptina en individuos obesos. Metodología: Para ello se realizó una búsqueda avanzada en las bases de datos Pubmed, Scopus, Embase, Web of Science, Cochrane Library y Lilacs. Resultados: Se encontraron 390 artículos, de los cuales 193 fueron excluidos por ser duplicados. Al final, se seleccionaron 10 por cumplir los criterios de elegibilidad. Los niveles séricos de leptina se redujeron en individuos obesos que practicaban entrenamiento aeróbico en 9 estudios (90%). Conclusión: El entrenamiento aeróbico promueve la reducción de los niveles de leptina en individuos obesos, asociando este efecto con la regulación del peso y la resistencia a la insulina. Además de perder grasa corporal, la duración y la intensidad del entrenamiento aeróbico son factores importantes. Se demostró que la combinación de ejercicio aeróbico con entrenamiento de resistencia e intervenciones dietéticas es más eficaz para disminuir la leptina que el ejercicio solo.
Palabras clave
: Obesidad. Entrenamiento aeróbico. Leptina.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 324, May. (2025)
Introdução
A obesidade é um distúrbio metabólico complexo e a herança genética não é um fator determinante exclusivo nesse contexto, tendo os fatores ambientais como outras formas de influenciar os indivíduos por meio da observação de seu fenótipo (Wasim et al., 2016). A Organização Mundial da Saúde (OMS) define sobrepeso e obesidade como acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal, representando risco à saúde e sendo classificada como epidemia global (Cicchella et al., 2020). Além disso, a obesidade está associada a diversas comorbidades, como diabetes mellitus, dislipidemias, hipertensão arterial, doença hepática gordurosa, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer (Benatti, e Lancha Júnior, 2007; Obradovic et al., 2021). A obesidade também pode ser definida como uma inflamação sistêmica de baixo grau, e uma de suas características é a hiperleptinemia, que resulta dos elevados níveis de leptina na corrente sanguínea devido ao aumento do tecido adiposo. (Khodamoradi et al., 2022; Mitoiu, Nartea, e Miclaus, 2024)
A leptina, descoberta há mais de 25 anos, é um hormônio produzido principalmente pelo tecido adiposo, sendo diretamente relacionado à quantidade de gordura corporal. As pesquisas sobre esse hormônio focaram inicialmente em no seu papel em relação à regulação energética e da obesidade. Há um desenvolvimento de hiperfagia e obesidade nos pacientes com deficiência de leptina. Já na obesidade comum, os níveis de leptina são elevados, mas, há resistência a ela, o que impede a perda de peso sustentada (Izquierdo et al., 2019). A relação entre leptina e obesidade é confirmada em outros estudos, nos quais os autores destacam a associação dos níveis séricos desse hormônio e a porcentagem de gordura corporal. A concentração de leptina circulante diminui durante o jejum ou restrição calórica e aumenta com a alimentação, além de haver um aumento nos níveis de leptina conforme o aumento do tecido adiposo. (Obradovic et al., 2021; Mitoiu, Nartea, e Miclaus, 2024)
Dentre as diversas formas de intervenção em relação ao combate à obesidade, o treinamento aeróbico surge como uma delas. Esse tipo de treinamento foi eficiente em reduzir os níveis de leptina no soro em ratos e camundongos obesos (Peng, Yin, e Wang, 2021). Há carência na literatura de estudos que avaliem os níveis de leptina pós-intervenção com o treinamento aeróbico em indivíduos obesos. Contudo, alguns autores confirmaram a relação entre a redução dos níveis de leptina em obesos após o treinamento aeróbico. (Zouhal et al., 2020)
Dessa forma, o estudo tem como objetivo investigar os efeitos do treinamento aeróbico sobre os níveis de leptina em indivíduos obesos.
Métodos
A revisão integrativa aqui apresentada foi conduzida seguindo as diretrizes estabelecidas pelo PRISMA (Page et al., 2021) e pelo manual da Cochrane (Higgins et al., 2024). A questão de pesquisa formulada foi: "Quais os efeitos do treinamento aeróbico sobre os níveis de leptina em indivíduos obesos?".
Para definir a estratégia de busca avançada, foi utilizado o acrônimo PICO (Santos, Pimenta, e Nobre, 2007), no qual: (P: População; I: Intervenção; C: Comparador; O: Outcomes ou Desfecho). Assim, neste estudo, a população (P) incluiu indivíduos obesos, de ambos os sexos e de qualquer faixa etária, a intervenção (I) foi o treinamento aeróbico, o comparador (C) englobou grupos controle, outras intervenções ou comparações entre o mesmo grupo, porém, em momentos distintos (antes e após a intervenção) e o desfecho (O) referiu-se a alterações nas concentrações de leptina. As buscas foram realizadas em seis bases de dados: Pubmed, Scopus, Embase, Web of Science, Cochrane Library e Lilacs, abrangendo publicações até 20 de dezembro de 2024. As palavras-chave foram selecionadas com base nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e no Medical Subject Headings (MeSH), incluindo seus sinônimos relacionados. Os descritores usados foram: “obesidade”, “treino aeróbico” e “leptina”. Para otimizar a busca, foram aplicados operadores booleanos como OR e AND, sem restrições de data ou idioma.
Para a inclusão dos estudos nesta revisão integrativa, foram estabelecidos os seguintes critérios de elegibilidade: Critérios de inclusão: I) estudos realizados com indivíduos obesos (de ambos os sexos e sem restrições de idade); II) intervenções envolvendo treinamento aeróbico; III) desfechos relacionados a reduções das concentrações de leptina; IV) estudos experimentais; V) intervenções com grupo controle e/ou outras intervenções que possam reduzir os níveis de leptina. Critérios de exclusão: I) revisões bibliográficas, artigos de opinião e resumos; II) estudos não publicados em periódicos revisados por pares; III) estudos sem grupo controle, intervenções alternativas ou que não apresentassem valores pré e pós-intervenção quando houvesse apenas um grupo de intervenção; IV) pesquisas com animais; V) artigos incompletos ou restritos; VI) intervenções com treinamento resistido ou aeróbico de forma combinada; VII) indivíduos obesos com comorbidades.
Após as buscas, os resultados obtidos nas bases de dados foram encaminhados para avaliação independente de dois revisores, utilizando a plataforma Rayyan (Ouzzani et al., 2016), para selecionar os estudos que fariam parte desta revisão integrativa. Os títulos e resumos de todos os estudos encontrados foram avaliados, e aqueles sem elementos suficientes para inclusão ou exclusão foram mantidos para análise do texto completo. Em seguida, os estudos selecionados foram avaliados na íntegra pelos revisores para garantir sua elegibilidade. Também foram analisadas as referências dos estudos para identificar outros artigos relevantes por meio de busca manual. Em caso de discordância sobre a inclusão ou exclusão de um estudo, a decisão final foi tomada por consenso, ou, se necessário, pela opinião de um terceiro revisor.
Após a seleção final dos estudos e o acesso completo aos artigos, a extração de dados foi realizada em dezembro de 2024, abrangendo: fonte, intervenções, desfechos, resultados, participantes e outros aspectos, como conclusões e local das intervenções. Os dados foram então analisados e agrupados de acordo com suas características, a fim de otimizar a discussão.
Resultados
Foram identificados 390 artigos, dos quais, 193 foram excluídos por duplicidade. Ao final, 10 estudos foram selecionados por atenderem aos critérios de elegibilidade (ver Figura 1).
Figura 1. Fluxograma de seleção de estudos
Fonte: Adaptado de Page et al. (2021)
A Tabela 1 apresenta as características dos estudos, que foram conduzidos nos seguintes países: Irã (Soheili, Sori, e Rezaian, 2013; Tartibian, e Kushkestani, 2021; Ataeinosrat et al., 2022), Brasil (Campos et al., 2014; Dâmaso et al., 2014), EUA (Barbeau et al., 2003), Canadá (Samjoo et al., 2013), Países Baixos (Pasman, Westerterp-Plantenga, e Saris, 1998), Turquia (Yetgin et al., 2018) e não informado (Ozcelik et al., 2004).
Em relação aos tipos de estudos, foram identificados dois ensaios clínicos randomizados (ECR), três ensaios clínicos (EC), dois estudos longitudinais (LONG), dois semiexperimentais (SEXP) e um ensaio clínico não randomizado (ECNR). Quanto aos métodos utilizados para mensurar as concentrações de leptina, foram empregados o radioimunoensaio (RIE) e o ensaio imunoenzimático (EIE), com o primeiro método sendo utilizado em 30% e o segundo, em 70% dos estudos analisados.
Tabela 1. Características de identificação dos estudos.
REF |
LI |
TE |
Fonte |
Objetivo |
IMD |
Pasman et al. (1998) |
Maastricht, Países Baixos |
LONG |
American Journal of Physiology-Endocrinology and
Metabolism
(ISSN 1522-1555). Qualis CAPES: A1 |
Investigar o efeito de uma intervenção de EF após um tratamento de
perda de peso, focando na manutenção do peso a longo prazo em homens
OBE |
RIE
(Linco Research) |
Barbeau et al. (2003) |
Geórgia, EUA |
ECR |
Canadian Journal of Applied Physiology (ISSN 1066-7814). Qualis CAPES: B5 |
Examinar o efeito de duas intensidades de TFIS na LEP em ADL OBE e
explorou os correlatos no início e em resposta a 8 meses de TFIS |
RIE
(Linco Research) |
Ozcelik et al. (2004) |
N/I |
EC e LONG |
Neuroendocrinology
Letters (ISSN 0172-780X). Qualis CAPES: N/I |
Investigar os possíveis efeitos do estado de treinamento dos indivíduos
na relação entre exercício agudo e LEP em pacientes OBE. |
RIE (Human Leptin RIA, Diagnostic Systems Laboratories, DSL-23100) |
Soheili et al. (2013) |
Teerã, Irã |
SEXP |
Koomesh Journal (ISSN 1608-7046, 2345-3699). Qualis CAPES: N/I |
Investigar o efeito do TA de intensidade moderada sobre os níveis séricos de LEP, COR, TESTO, HC e índice de RI em homens OBE e inativos. |
EIE - ELISA (R&D, EUA) |
Samjoo et al. (2013) |
Ontário, Canadá |
ECNR |
Nutrition & Diabetes (ISSN 2044-4052). Qualis CAPES: A2 |
Investigar os efeitos do TA sobre os marcadores de estresse oxidativo e INFL em AD OBE com RI. |
EIE - ELISA (Human Leptin Kit DLP00, Quantikine, R&D Systems) |
Campos et al. (2014) |
São Paulo, Brasil |
EC |
Journal of Strength and Conditioning Research (ISSN 1064-8011, 1533-4287). Qualis CAPES: A2 |
Avaliar o impacto de dois tipos de TFIS (TA e TC) nos parâmetros relacionados às ADIPOC e ao metabolismo ósseo em ADL OBE |
EIE - ELISA (eBioscience San Diego, CA, EUA e R&D Systems (Minneapolis, EUA) |
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Yetgin et al. (2018) |
Egeu, Turquia |
ECR |
Journal of the Pakistan Medical Association (ISSN 0030-9982). Qualis CAPES: N/I |
Investigar os efeitos das modalidades de TFIS na TMB, AC e nível de
LEP sérica em meninos OBE ADL |
EIE - ELISA (EIA-2395 - DRG Instruments GmbH, Alemanha) |
Tartibian et al. (2021) |
Urmia, Irã |
SEX |
Human Movement (ISSN 1899-1955). Qualis CAPES: B1 |
Avaliar as alterações nas concentrações de ADIPOC e a correlação entre ADIPOC e %G após o TA em meninas OBE |
EIE - ELISA (EIA-2395, DRG Diagnostics, Alemanha) |
|
Teerã, Irã |
ECR |
Frontiers in Physiology (ISSN 1664-042X). Qualis CAPES: A2 |
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|
Nota: REF: referência; LI: local de intervenção; TE: tipo de estudo; IMD: instrumento de medida de desfecho; ADL: adolescentes; AD: adultos; OBE: obesos; TA: treinamento aeróbico; TR: treinamento resistido; TC: treinamento combinado; TFIS: treinamento físico; ECR: ensaio clínico randomizado; ECNR: ensaio clínico não randomizado; EC: ensaio clínico; SEXP: semiexperimental; LONG: longitudinal; RIE: radioimunoensaio; EIE: ensaio imuno enzimático; ADIPOC: adipocinas; LEP: leptina; GRE: grelina; COR: cortisol; TESTO: testosterona; HC: hormônio do crescimento; AC: aptidão cardiovascular; RCV: risco cardiovascular; RI: resistência à insulina; INFL: inflamação; TMB: taxa de metabolismo basal; %G: percentual de gordura corporal; EF: exercício físico; N/I: não informado. Fonte: Elaboração própria
A Tabela 2 apresenta as características das amostras dos estudos. No total, 383 indivíduos participaram das intervenções, sendo 203 do sexo masculino e 180 do sexo feminino. O público-alvo dos estudos foi diversificado, incluindo crianças, adolescentes e adultos, com idades variando entre 8 e 55 anos.
Tabela 2. Características das amostras dos estudos.
Referência |
Amostra |
Características da população |
GI x GC ou IA |
Critérios de elegibilidade |
Pasman, Westerterp-Plantenga e Saris (1998) |
N=15M |
AD; OBE; SED; ID: 37,3 ± 5,2 anos; IMC: 29,8 ± 3,0 kg/m² |
GI (TA: n=7; ID: 38,0 ± 3,9 anos; IMC: 29,8 ± 3,0kg/m²) e GC (n=8;
ID: 36,6 ± 6,3 anos; IMC: 31,8 ± 2,3kg/m²) |
N/I |
Barbeau et al. (2003) |
N=55; 19M e 36F |
ADL; OBE; ID (12-16 anos); brancos (n=19; 8M - ID: 14,4 ± 1,3 anos e
11F - ID: 15,1 ± 1,3 anos) e negros (n=36; 11M - ID: 13,9 ± 1,1 anos
e 25F - ID: 14,9 ± 1,1 anos) |
GI (TFISAI: n=19), GI 2 (TFISIM: n=20) e GC (n=16) |
Inclusão: DCT > 85º percentil para GEN, RC e ID, SLS, não
participar de outro programa de controle de peso ou exercício. Exclusão: N/I. |
Ozcelik et al. (2004) |
N=14F |
AD; OBE; SED; ID: 41 ± 2,7 anos |
GI (pré e pós intervenção de 12 sem), sem GC. |
Inclusão: OBE, SED, não utilização de MICC. Exclusão: N/I. |
Soheili et al. (2013) |
N=20M |
AD; OBE; SED; ID (20-30 anos); IMC > 30kg/m² |
GI e GC (sem informações quanto ao número de participantes de cada
grupo) |
Inclusão: OBE, SED, ID (entre 18 e 30 anos), SLS, sem histórico de
lesões físicas/ortopédicas, IMC > 30kg/m². Exclusão: N/I. |
Samjoo et al. (2013) |
N=18M |
AD; OBE e MAG; SED; ID (20-55 anos) |
GI (MAG: n=9; ID: 38 ± 3 anos; IMC: 23,6 ± 0,5kg/m²) e GI 2 (OBE:
n=9; ID: 39 ± 3 anos; IMC: 33,6 ± 1,6kg/m²) |
Inclusão: OBE, SED, ID (entre 20 e 55 anos), IMC > 30kg/m².
Exclusão: DIAB, HAS, FUM, UBA; AF, RATF, UMED ↓LIP, ↓GLI,
↓PC, HAS, DEP. |
Campos et al. (2014) |
N=42; 14M e 28F |
ADL; OBE; ID: 16,22 ± 1,35 anos; IMC > 30kg/m² |
GI (TA: n=21; ID: 16,14 ± 1,17 anos; IMC: 35,82 ± 4,52kg/m²) e GI 2
(TA + TR: n=21; ID: 16,3 ± 1,53 anos; IMC: 37,6 ± 5,44kg/m²) |
Inclusão: ADL, OBE, ID (entre 14 e 18 anos), IMC > 30kg/m².
Exclusão: UMED ACV, AC, cortisona, FUM, UBA, uso prolongado de
suplementos de cálcio, outros que afetem o metabolismo ósseo, histórico
de fraturas e doenças renais. |
Dâmaso et al. (2014) |
N=139; 57M e 82F, 116 completaram o estudo |
ADL; OBE; ID: 16,89 ± 1,81 anos; pós-púberes |
GI (TA: n=55; IMC: 35.7 ± 4.3kg/m²) e GI 2 (TA + TR: n=61; IMC: 36,7
± 4,9kg/m²) |
Inclusão: ADL, OBE, ID (entre 15 e 19 anos), IMC > 95º percentil
das tabelas de crescimento do CDC (CDC, 2000). Exclusão: doenças endócrinas,
UBA, gravidez, UMED anabolizantes, psicotrópicos e outros que afetem
a regulação do apetite. |
Yetgin et al. (2018) |
N=16M |
ADL; OBE; SED; ID: 16,81 ± 0,91 anos; IMC > 95º percentil para a
faixa etária |
GI (TA: n=8; ID: 17 ± 0,7 anos; IMC: 32,19 ± 3,24kg/m²) e GI 2 (TR:
n=8; ID: 16,6 ± 1,0 anos; IMC: 32,52 ± 3,08kg/m²) |
Inclusão: ADL, OBE, SED, IMC > 95º percentil para a faixa etária.
Exclusão:
N/I. |
Tartibian et al. (2021) |
N=20F |
CRI; OBE; ID: 9,8 ± 1,5 anos; IMC > 25kg/m² |
GI (pré e pós intervenção de 12 sem), sem GC. |
Inclusão: CRI, OBE, SED, ID (entre 8 e 12 anos), SLS, IMC > 25kg/m².
Exclusão: HAS, DIAB,
doenças cardiovasculares, UMED, FUM. |
Ataeinosrat et al. (2022) |
N=44M |
AD; OBE; ID: 27,5 ± 9,4 anos; IMC: 32,9 ± 1,2 kg/m² |
GI (TA: n=11; IMC: 33 ± 1,2kg/m²), GI 2 (TR: n=11; IMC: 32,4 ±
1,4kg/m²), GI 3 (TI: n=11; IMC: 33,1 ± 0,7kg/m²) e GC (n=11; IMC:
32,9 ± 1,4kg/m²) |
Inclusão: AD, OBE, SED, ID (entre 23 e 32 anos), SLS, IMC > 30
kg/m², razão cintura/altura > 0,6. Exclusão: FUM, UBA, UMED que
afetem o metabolismo muscular e tecido adiposo, não realizar terapias
hormonais ou mentais. |
Nota: M: masculino; F: feminino; GI: grupo intervenção; GC: grupo controle; AD: adultos; ADL: adolescentes; CRI: crianças; OBE: obesos; MAG: magros; SED: sedentários; ID: idade; TA: treinamento aeróbico; TR: treinamento resistido; TI: treinamento intervalado; TFISAI: treinamento físico de alta intensidade; TFISIM: treinamento físico de intensidade moderada; IMC: Índice de Massa Corporal; DIAB: Diabetes Mellitus; HAS: Hipertensão Arterial Sistêmica; DEP: depressão; FUM: fumantes; UBA: usuários de bebida alcoólica; AF: ativos fisicamente; RATF: resultados anormais no teste físico; UMED: usuários de medicamentos; ACV: anticonvulsionantes; AC: anticoncepcionais; DCT: dobra cutânea do tríceps; MICC: medicamentos que influenciam a composição corporal; GEN: gênero; RC: raça; SLS: sem limitação de saúde; LIP: lipídios; GLI: glicose; PC: peso corporal; N/I: não informado; sem: semana(s). Fonte: Elaboração própria
A Tabela 3 apresenta os protocolos de treinamento aeróbico realizados. A duração da intervenção variou entre 12 semanas e 12 meses, sendo a intervenção de 12 semanas a mais utilizada nos estudos analisados (50%). Os tipos de atividades aeróbicas variaram, tendo a natação, ciclismo, corrida, exercícios em aparelhos ergométricos e circuito de exercícios com pesos.
A frequência semanal variou entre 2 e 5 vezes semanais, tendo a frequência de 3 vezes semanais como a mais utilizada (70%). A intensidade foi controlada por meio de percentuais do VO2máx, VO2pico, FC, 1RM e por meio de limiares de esforço físico.
Tabela 3. Protocolos de treinamento.
Referência |
Descrição |
Pasman et al. (1998) |
DI: 4 meses; FS: 3-4x/sem; INT: baixa/moderada; DS: 60’; TA: natação/ciclismo/corrida;
OBS: Após 4 meses, um grupo continuou a treinar (n=7) e o outro serviu
como grupo controle (n=8), realizando atividades 1x/sem. O grupo que
continuou o treinamento realizou atividades de intensidade
moderada/intensa |
Barbeau et al. (2003) |
DI: 8 meses; FS: 5x/sem; INT: 55-60% (moderada) e 75-80% (alta) do
V̇O2máx; TA: esteiras, ergômetros de ciclo, ergômetros de
remo; jogos; |
Ozcelik et al. (2004) |
DI: 12 sem; FS: 3-4x/sem; INT: de acordo com o LA; DS: 45’; TA:
cicloergômetro |
Soheili et al. (2013) |
Protocolo de treinamento não especificado |
Samjoo et al. (2013) |
DI: 12 meses; FS: 1ª sem: 2x/sem; INT: 50% do VO2pico; 2ª-12ª sem:
3x/sem; DS: 30’; INT: 70% do VO2pico; DS: 60’; TA: cicloergômetro |
Campos et al. (2014) |
DI: 12 sem; FS: 3x/sem; INT: FC no LV-I (50-70% do teste de consumo de
oxigênio); DS: 60’; TA: corrida em esteira ou bicicleta. OBS:
Ajuste da INT de 6 em 6 meses |
Dâmaso et al. (2014) |
DI: 12 sem; FS: 3x/sem; INT: FC no LV-I (50-70% do teste de consumo de
oxigênio); DS: 60’; TA: corrida em esteira ou bicicleta. OBS:
Ajuste da INT de 6 em 6 semanas |
Yetgin et al. (2018) |
DI: 6 meses; FS: 3x/sem; INT: 0-2 meses: 50-60% FCMÁX; 4-6 meses:
70-75% FCMÁX; DS: 60’; TA: corrida em esteira |
Tartibian et al. (2021) |
DI: 12 sem; FS: 3x/sem; INT: 55-70% FCMÁX; DS: 55’, sendo 10’
AQUEC/ALONG, 30’ PP e 10’ DESAQ/ALONG; TA: corrida. OBS:
AQUEC/ALONG: corrida/alongamento; DESAQ/ALONG: corrida
leve/alongamento |
Ataeinosrat et al. (2022) |
DI: 12 sem; FS: 3x/sem; INT: 3x14 repetições (50%1RM); DS: 70’,
sendo 10’ AQUEC/ALONG, 50’ PP e 10’ DESAQ/ALONG; TA: circuito de
10 exercícios; IDEE: <15”; IDES: 3’. Exercícios: 1-AGACH
barra, 2-PUX FREN, 3-LP, 4-SUP, 5-EJ, 6-FJ, 7-ELEV LAT, 8-FP em pé,
9-RD e 10-ECPA |
Nota: DI: duração da intervenção; TA: tipo de atividade; FS: frequência semanal; DS: duração da sessão; INT: intensidade; IDEE: intervalo de descanso entre exercícios; IDES: intervalo de descanso entre séries; 1RM: 1 repetição máxima; V̇O2máx: consumo máximo de oxigênio; FC: frequência cardíaca; FCMÁX: frequência cardíaca máxima; LA: limiar anaeróbico; LV: limiar ventilatório; AQUEC/ALONG: aquecimento/alongamento; PP: parte principal; DESAQ/ALONG: desaquecimento/alongamento; AGACH: agachamento; PUX FREN: puxada pela frente; LP: leg press; SUP: supino; EJ: extensão de joelhos; FJ: flexão de joelhos; ELEV LAT: elevação lateral de ombros; FP: flexão plantar; RD: rosca direta; ECPA: extensão de cotovelo na polia alta. Fonte: Elaboração própria
A Tabela 4 apresenta os resultados dos estudos, onde, os níveis de leptina sérica foram reduzidos em obesos que praticaram o treinamento aeróbico em nove estudos (90%). Em dois estudos, o treinamento combinado de treinamento aeróbico (TA) e treinamento resistido (TR) promoveu reduções significativas e superiores ao TA isolado (Campos et al., 2014; Dâmaso et al., 2014).
Em outros estudos, houve a inclusão de intervenções alternativas, como o treinamento resistido intervalado (TRI) e o treinamento aeróbico de alta intensidade (TAAI), com o TRI apresentando reduções significativas nos níveis séricos de leptina em obesos.
Tabela 4. Resultados dos estudos.
Referência |
Síntese dos resultados |
GI (pré/pós) |
GC ou GIA (pré/pós) |
Conclusões |
Pasman et al. (1998) |
O TA reduziu os níveis plasmáticos de LEP (p < 0,05) |
Pré: 9,3 ± 4,5ng/ml; Pós (16 meses): 7,2 ± 2,2ng/ml |
Pré: 11,9 ± 5,5ng/ml; Pós (16 meses): 11,0 ± 3,4ng/ml |
O TA pode reduzir os níveis de LEP independentemente da GC e da INS. O
estudo demonstrou que o TA, especialmente em indivíduos OBE, melhora a
sensibilidade à LEP, contribuindo para o controle de peso e
metabolismo. A relação entre LEP e GA sugere que o exercício é uma
estratégia eficaz no manejo da OB e distúrbios metabólicos |
Barbeau et al. (2003) |
Não houve DS entre os grupos |
TA (55-60% VO2 pico): teve uma média de mudança na LEP de 6,6 ± 16,6
mg/L TAAI (75-80% VO2 pico): teve uma média de mudança de 1,1 ± 24,2 mg/L |
GC (EEV): teve uma média de mudança na LEP de 6,7 ± 20,0 mg/L |
As doses de treinamento físico prescritas aos AD OBE durante 8 meses não
causaram DS na mudança média de LEP entre os grupos, embora tenha
ocorrido grande variabilidade nas respostas individuais |
Ozcelik et al. (2004) |
O TA fez reduzir a LEP em 44% (p = 0,0001) |
Pré: 23,62 ± 3,5ng/ml; Pós (12 sem): 13,13 ± 3,4 ng/ml |
Não houve GC |
Os resultados sugerem que o TA de 12 sem foi eficiente em causar uma
redução considerável nos níveis de LEP |
Soheili et al. (2013) |
O TA ocasionou uma redução de 19,38% na LEP |
Pré: 10,94 ± 1 ng/ml; Pós (16 sem): 8,82 ± 2 ng/ml |
Pré: 13 ± 1,56 ng/ml; Pós (16 sem): 10,94 ± 1,73 ng/ml |
O TA de intensidade moderada melhora altera os níveis de LEP, ajudando
na modulação do perfil hormonal do metabolismo em OBE |
Samjoo et al. (2013) |
O TA reduziu as concentrações de LEP em 33%, com maior redução nos
OBE (−34%) do que nos MAG (−22%), mas a LEP permaneceu mais
alta nos OBE |
OBE: Pré: 12966 ± 1787 ng/ml; Pós (3 meses): 8575 ± 1145 ng/ml |
MAG: Pré: 3583±543 ng/ml; Pós (3 meses): 2812 ± 463 ng/ml |
O TA melhora o estresse oxidativo, a INFL e a saúde metabólica em
OBE, sem a necessidade de perda de peso. Essas melhorias sugerem que a
AF pode ser uma estratégia terapêutica eficaz para reduzir a resistência
à INS e outras comorbidades da OB, mesmo sem DS na CC |
Campos et al. (2014) |
O TA + TR reduziu significativemente a LEP, quando comparado ao TA (p
< 0,05) |
TA: Pré: 34,77 ± 16,48 ng/ml; Pós (12 meses): 30,72 ± 17,94 ng/ml (Δ -4,04 ± 14,77 ng/ml) |
TA + TR: Pré: 35,12 ± 17,16ng/ml; Pós (12 meses): 28,20 ± 14,99
ng/ml (Δ
-6,92 ± 11,14 ng/ml) |
No grupo TA, não houve uma DS nos níveis de LEP, ao passo que no
grupo TA + TR, os níveis de LEP apresentaram uma DS. A redução de LEP
no grupo TA + TR contribuiu para a melhora do metabolismo ósseo e para
a diminuição da INFL relacionada à OB, efeitos não observados no
grupo TA. Assim, o TA + TR foi mais eficaz na regulação da LEP e no
aprimoramento da saúde óssea em comparação com o TA isolado |
Dâmaso et al. (2014) |
O TA + TR reduziu significativemente a LEP, quando comparado ao TA (p
< 0,05) |
TA: Pré: 23,60 ± 19,58 ng/ml; Pós (12 meses): 17,93 ± 18,73 ng/ml |
TA + TR: Pré: 48,32 ± 27,1 ng/ml; Pós (12 meses): 26,68 ± 20,15
ng/ml |
O TA + TR foi mais eficaz do que o TA isolado na melhoria da CC, perfil
metabólico e biomarcadores de INFL. Houve redução na GC, GV e GS,
LDL-c, LEP e razão LEP/ADIPO, além de aumento na MM e ADIPO. Esses
resultados destacam os benefícios clínicos do TA + TR no controle da
OB intra-abdominal e riscos cardiovasculares em AD |
Yetgin et al. (2018) |
O TA e TR reduziram significativamente a LEP (p < 0,05), sem DS
entre grupos (p = 0,442) |
TA: Pré: 63,70 ± 13,71 ng/ml; Pós (6 meses): 34,05 ± 5,68 ng/ml (p
< 0,001) |
TR: Pré: 52,25 ± 13,42ng/ml; Pós (6 meses): 28,47 ± 8,10 ng/ml (p
< 0,001) |
Os resultados indicaram que TA e TR melhoraram a saúde cardiovascular
e o controle hormonal da GC em AD OBE. O TR pode ser uma alternativa ou
complemento ao TA no tratamento da OB juvenil. |
Tartibian et al. (2021) |
O TA reduziu significativamente os níveis plasmáticos de LEP (p =
0,016) |
TA: Pré: 6,7 ± 1,9 ng/ml; Pós (12 sem): 5,4 ± 2 ng/ml |
Não houve GC |
Dado a melhora nas ADPC e a redução da GC observadas, conclui-se que
o TA de intensidade moderada pode ajudar na prevenção de doenças
associadas à OB, como as metabólicas e cardiovasculares |
Ataeinosrat et al. (2022) |
O TA, TR e TRI reduziram significativamente os níveis plasmáticos de
LEP quando comparados ao GC (p < 0,05) |
TA: Pré: 28,2 ± 3,7 ng/ml; Pós (12 sem): 13,5 ± 5,5 ng/ml (p <
0,05) TR: Pré: 27,9 ± 5,7 ng/ml; Pós (12 sem): 22,9 ± 3,6 ng/ml (p <
0,05) TRI: Pré: 29,6 ± 8,2 ng/ml; Pós (12 sem): 12,2 ± 3,5 ng/ml (p <
0,05) |
GC: Pré: 27,9 ± 3,7 ng/ml; Pós (12 sem): 32,7 ± 4,6 ng/ml |
Os protocolos de TA e TRI apresentaram o maior impacto sobre a LEP,
quando comparados aos indivíduos que participaram do TR ou GC |
Nota: DS: diferença significativa; GI: grupo intervenção; GC: grupo controle; GIA: grupo intervenção alternativa; OB: obesidade; INFL: inflamação; TA: treinamento aeróbico; TAAI: treinamento aeróbico de alta intensidade; TR: treinamento resistido; TRI: treinamento resistido intervalado; EEV: educação em estilo de vida; AF: atividade física; CC: composição corporal; MM: massa magra; GC: gordural corporal; GA: gordura abdominal; GV: gordura visceral; GS: gordura subcutânea; LEP: leptina; ADPC: adipocinas; ADIPO: adiponectina; INS: insulina; OBE: obesos; AD: adolescentes; sem: semanas. Fonte: Elaboração própria
Discussão
Esta revisão integrativa teve como objetivo analisar os efeitos do treinamento aeróbico sobre os níveis de leptina em indivíduos obesos. Em 90% dos estudos revisados, observou-se uma redução nos níveis de leptina após a intervenção com o treinamento aeróbico. Esses resultados corroboram a literatura, que aponta uma relação entre o aumento dos níveis de leptina e a propensão à obesidade. A leptina pode ser utilizada como uma ferramenta para prever a obesidade, tanto em crianças quanto em adultos, sendo tradicionalmente associada ao Índice de Massa Corporal (IMC) para essa finalidade. (Al Zein et al., 2024)
Além disso, a leptina, produzida pelos adipócitos, desempenha um papel relevante na regulação da ingestão alimentar e no controle do peso corporal, funcionando de maneira semelhante ao controle da temperatura corporal. Este hormônio também é um marcador biológico de inflamação, frequentemente elevado em indivíduos obesos. A leptina está envolvida na resistência à insulina, com sua ação sendo amplificada pela presença de níveis elevados de insulina e resistência à insulina no cérebro. A resistência à leptina, especialmente em áreas cerebrais como o núcleo arqueado (ARC) e a área tegmentar ventral (VTA), pode contribuir para o desenvolvimento da obesidade, aumentando o apetite e reduzindo o gasto de energia. (Lustig et al., 2022; Cui, López, e Rahmouni, 2017; Lopes, Porto, e Cavaglieri, 2017)
Alguns pesquisadores confirmam a associação positiva entre o aumento da adiposidade e os níveis elevados de leptina. Ozcelik et al. (2004) reforçam essa associação, indicando que a redução dos níveis de leptina está mais ligada à redução da gordura corporal do que ao exercício em si. Essa relação entre a redução da gordura corporal e a diminuição dos níveis de leptina também foi observada em outro estudo, no qual a redução de 14% da gordura corporal resultou em uma diminuição de 19% nos níveis de leptina. (Tartibian, e Kushkestani, 2021)
Nos estudos analisados nesta revisão, observou-se uma alteração nos níveis de leptina. Em um dos estudos, foi identificada uma correlação positiva entre a redução das concentrações de leptina e a quantidade de horas de treinamento semanal (r = 0,56, P < 0,05). Os autores afirmam que essa relação entre leptina e exercício não pode ser explicada apenas pela perda de gordura corporal, mas também pela duração do treinamento semanal dos indivíduos obesos. (Pasman, Westerterp-Plantenga, e Saris, 1998)
Um estudo sobre a relação entre os níveis de leptina e o gênero revelou que as participantes do sexo feminino, com idades entre 12 e 16 anos, apresentaram níveis mais elevados desse hormônio em comparação aos participantes do sexo masculino, enquanto a capacidade cardiovascular e o nível de atividade física mostraram uma correlação inversa. Os autores sugerem que essa diferença entre os gêneros pode ser explicada pelo fato de as mulheres, em geral, apresentarem níveis mais altos de leptina do que os homens (Barbeau et al., 2003; Mitoiu, Nartea, e Miclaus, 2024). Em um estudo realizado por Liu et al. (2022) com crianças e adolescentes saudáveis (6-18 anos) na Dinamarca, os resultados confirmaram essa diferença, com as meninas apresentando valores medianos de leptina significativamente mais altos do que os meninos (9,554 vs. 3,255 ng/mL, p < 0,001).
A relação entre adiposidade, inflamação e estresse oxidativo em indivíduos magros e obesos foi investigada, e pôde-se concluir que homens obesos apresentaram maior estresse oxidativo e inflamação do que homens magros. O treinamento aeróbico mostrou-se eficaz em aumentar a capacidade antioxidante muscular, reduzir o dano oxidativo e melhorar a resistência à insulina. (Samjoo et al., 2013)
Barrea et al. (2022) destacam que o treinamento combinado (aeróbico e resistido) pode ser mais eficaz para a perda de peso do que o treinamento aeróbico isolado. Outros estudos também confirmam que a combinação de exercícios aeróbicos e resistidos é mais eficiente na redução dos níveis de leptina do que o treinamento aeróbico isolado (Campos et al., 2014; Dâmaso et al., 2014). Em contrapartida, embora o treinamento resistido e o aeróbico apresentem eficácia similar na redução de leptina, apenas o treinamento aeróbico foi responsável pelo aumento na Taxa de Metabolismo Basal (TMB) (Yetgin et al., 2018). Ainda sobre a comparação de métodos de treinamento, uma revisão sistemática composta por 24 ensaios clínicos randomizados evidenciou a similaridade de efeitos sobre a redução dos níveis de leptina quando comparou o treinamento aeróbico, resistido e combinado. (Makarewicz et al., 2022)
Outros estudos evidenciaram a eficiência dos resultados sobre a redução dos níveis de leptina em obesos quando foram realizadas intervenções com exercícios e dietéticas. Em uma revisão sistemática e metanálise com 47 estudos e que envolveu 3.872 participantes, constatou-se que a combinação de dieta e exercício reduziu os níveis de leptina quando comparado à intervenção isolada de exercício físico (SMD: -0,34, p = 0,001). (Khalafi et al., 2023)
Esta revisão integrativa apresenta algumas limitações, como o número reduzido de estudos analisados, a escassez de pesquisas recentes sobre o tema, a heterogeneidade entre os estudos e a baixa quantidade de Ensaios Clínicos Randomizados (ECR). No entanto, o estudo também possui pontos positivos, como a abrangência das bases de dados consultadas, o que pode ser considerado um fator relevante.
Conclusão
Em síntese, esta revisão integrativa evidenciou os benefícios do treinamento aeróbico na diminuição dos níveis de leptina em indivíduos obesos, alinhando-se com a literatura que relaciona a elevação desse hormônio à obesidade. A leptina, produzida pelos adipócitos, tem um papel fundamental na regulação do peso e na resistência à insulina. Além da redução da gordura corporal, a duração e a intensidade do treinamento aeróbico também são fatores chave para a redução dos níveis de leptina. A combinação de exercícios aeróbicos com treinamento resistido, assim como a inclusão de intervenções dietéticas, mostrou ser mais eficaz na diminuição dos níveis de leptina do que o exercício isolado.
Referências
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