ISSN 1514-3465
Impacto da atividade física na mortalidade por asma
no Brasil. Análise epidemiológica e diretrizes de prescrição
Impact of Physical Activity on Asthma Mortality in Brazil.
An Epidemiological Analysis and Exercise Prescription Guidelines
Impacto de la actividad física en la mortalidad por asma en
Brasil. Análisis epidemiológico y directrices de prescripción
Luiz Augusto da Silva
*luizaugusto@uniguairaca.edu.br
Karine Emanueli da Silva Alenski
**emanuelikarine4@gmail.com
Maria Rita de Kassia Bernardino
**mariaritabernardino04@gmail.com
*Doutor em Educação Física
Departamento de Educação Física
da Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO)
e do Centro Universitário Guairacá (UNIGUAIRACÁ)
**Graduação em andamento em Educação Física
Departamento de Educação Física da UNICENTRO
Recepción: 17/11/2024 - Aceptación: 14/07/2025
1ª Revisión: 26/05/2025 - 2ª Revisión: 11/07/2025
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0
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Este trabalho está sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0) https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt |
Cita sugerida
: Silva, L.A. da, Alenski, K.E. da S., e Bernardino, M.R. de K. (2025). Impacto da atividade física na mortalidade por asma no Brasil. Análise epidemiológica e diretrizes de prescrição. Lecturas: Educación Física y Deportes, 30(329), 222-234. https://doi.org/10.46642/efd.v30i329.8006
Resumo
Este estudo explora a mortalidade por asma no Brasil ao longo dos últimos 13 anos, com uma análise epidemiológica detalhada das cinco regiões do país e das disparidades nos índices de mortalidade. Adicionalmente, o trabalho discute a importância da atividade física no manejo da asma, abordando as diretrizes de prescrição de exercícios para indivíduos com asma e o impacto positivo da atividade física na qualidade de vida e na capacidade respiratória. Com base em uma revisão sistemática dos estudos, este artigo apresenta recomendações para a prática segura de exercícios, considerando fatores como a broncoconstrição induzida por exercício e as necessidades específicas de diferentes faixas etárias.
Unitermos
: Asma. Mortalidade. Atividade física. Epidemiologia. Prescrição de exercícios.
Abstract
This study examines asthma mortality in Brazil over the past 13 years, providing a detailed epidemiological analysis across the country's five regions and highlighting disparities in mortality rates. Additionally, it discusses the role of physical activity in asthma management, including exercise prescription guidelines for individuals with asthma and the positive impact of physical activity on quality of life and respiratory function. Based on a systematic review of studies, this article offers recommendations for safe exercise practices, considering factors such as Exercise-Induced Bronchoconstriction and specific age-related needs.
Keywords
: Asthma. Mortality. Physical activity. Epidemiology. Exercise prescription.
Resumen
El presente estudio explora la mortalidad por asma en Brasil durante los últimos 13 años, con un análisis epidemiológico detallado de las cinco regiones del país y las disparidades en las tasas de mortalidad. Además, se analiza la importancia de la actividad física en el manejo del asma, abordando las pautas de prescripción de ejercicio para personas con asma y el impacto positivo de la actividad física en la calidad de vida y la capacidad respiratoria. Basado en una revisión sistemática de estudios, este artículo presenta recomendaciones para el ejercicio seguro, considerando factores como la broncoconstricción inducida por el ejercicio y las necesidades específicas de los diferentes grupos de edad.
Palabras clave
: Asma. Mortalidad. Actividad física. Epidemiología. Prescripción de ejercicio.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 329, Oct. (2025)
Introdução
A asma é uma das doenças respiratórias crônicas mais prevalentes no mundo, afetando milhões de pessoas de diferentes faixas etárias e contextos socioeconômicos (Cagliari et al., 2023). No Brasil, configura-se como um relevante problema de saúde pública, com impacto expressivo nas taxas de hospitalização e mortalidade, sobretudo em regiões com desigualdade no acesso aos serviços de saúde. (Marques et al., 2022; Cardoso et al., 2017)
Clinicamente, a asma manifesta-se por obstrução variável das vias aéreas, inflamação crônica e hiperresponsividade brônquica, que comprometem a função respiratória e influenciam a capacidade física dos indivíduos (Gazzotti et al., 2013). Tais alterações repercutem diretamente na tolerância ao esforço, visto que pacientes asmáticos frequentemente apresentam limitação ventilatória, maior percepção de dispneia e redução no desempenho durante atividades físicas. (Roxo et al., 2010)
De acordo com as recomendações internacionais, a prescrição de exercícios físicos para pacientes asmáticos deve priorizar modalidades aeróbias em intensidade moderada a vigorosa, geralmente entre 40-60% do VO2máx ou 60-80% da frequência cardíaca de reserva, realizadas de três a cinco vezes por semana, com duração de 20 a 40 minutos por sessão (ACSM, 2023; GINA, 2023). Esse tipo de intervenção promove melhora da capacidade cardiorrespiratória e do controle clínico da doença, reduzindo sintomas e a percepção de dispneia. Já o treinamento de resistência deve ser realizado de duas a três vezes por semana, com intensidade entre 40-60% de 1RM em iniciantes e podendo evoluir para 60-80% de 1RM, com séries de 8 a 12 repetições envolvendo grandes grupos musculares, visando o ganho de força, resistência muscular e funcionalidade. A adoção de tais estratégias contribui para reduzir o risco de morbidade e mortalidade, além de contrapor os efeitos negativos da inatividade física, frequentemente observada em pessoas com asma.
A prática regular de atividade física é reconhecida como estratégia fundamental para a promoção da saúde e para o manejo de condições crônicas, incluindo a asma (Gina, 2023). Evidências demonstram que o exercício físico, quando adequadamente prescrito, contribui para a melhora da capacidade cardiorrespiratória, do controle clínico da doença e da qualidade de vida de pessoas asmáticas. Em contrapartida, a inatividade física está associada a piores desfechos, com aumento da morbidade e mortalidade por causas respiratórias e cardiovasculares. (Milanese, Miraglia del Giudice, e Peroni, 2019)
Apesar do receio comum de que o exercício possa desencadear crises asmáticas, principalmente em ambientes frios ou com ar poluído, a prática controlada de atividades físicas tem se mostrado benéfica (Freitas, Silva, e Carvalho, 2015). Exercícios aeróbicos e de resistência, por exemplo, são sugeridos como eficazes no aumento da capacidade cardiorrespiratória e muscular, ajudando no controle dos sintomas da asma e na redução das exacerbações (Valkenborghs et al., 2022). A American College of Sports Medicine (ACSM) defende que o exercício físico, quando bem orientado, pode não apenas melhorar a saúde física, mas também a saúde mental e a qualidade de vida dos indivíduos com asma. (ACSM, 2023)
Um fator relevante a ser considerado na prescrição de exercícios para asmáticos é a Broncoconstrição Induzida por Exercício (BIE), uma condição comum entre asmáticos e até mesmo em indivíduos sem asma, que resulta na contração das vias aéreas durante ou após a atividade física (Máximo et al., 2025). Esse fenômeno é agravado por fatores como ar frio e seco, poluentes e níveis elevados de alérgenos, destacando a importância de estratégias como o aquecimento adequado e a hidratação para mitigar o risco de crises (Winn et al., 2021). Além disso, o uso de broncodilatadores antes de atividades físicas pode ser uma medida preventiva eficaz em pacientes que apresentam sensibilidade à BIE. (Lima et al., 2010)
No contexto pediátrico, o exercício físico tem um papel fundamental não apenas no controle dos sintomas asmáticos, mas também no desenvolvimento físico e social das crianças e adolescentes. Estudos revelam que atividades físicas realizadas no ambiente escolar e supervisionadas podem proporcionar melhorias significativas no condicionamento físico, sem aumentar a frequência de crises ou piorar os sintomas da asma (Lu, e Forno, 2020). No entanto, a implementação de programas de exercício adaptados para asmáticos ainda enfrenta desafios, especialmente no que se refere à capacitação de profissionais e à criação de ambientes seguros e acolhedores.
Embora ainda haja necessidade de mais pesquisas sobre os impactos específicos de modalidades como o treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) para asmáticos, evidências preliminares indicam que ele pode ser seguro e eficaz para melhorar o condicionamento físico de adolescentes asmáticos, sem piorar os sintomas respiratórios (Winn et al., 2021). Em conjunto, essas evidências sugerem que o exercício físico, quando bem estruturado e monitorado, pode ser um componente importante no tratamento multidisciplinar da asma, proporcionando uma vida mais saudável e ativa para os pacientes.
O exercício físico regular pode melhorar a função pulmonar em pacientes asmáticos por meio de diferentes mecanismos fisiológicos. A prática aeróbia aumenta a eficiência ventilatória, favorecendo a expansão pulmonar e o fortalecimento da musculatura respiratória, o que contribui para maior capacidade de ventilação durante o esforço. Além disso, o exercício estimula adaptações cardiorrespiratórias que ampliam a captação e a utilização de oxigênio, resultando em melhor condicionamento físico e menor percepção de dispneia. Do ponto de vista imunológico, há evidências de que a atividade física regular reduz a inflamação crônica das vias aéreas e diminui a hiperresponsividade brônquica, fatores centrais na fisiopatologia da asma. Essas adaptações, em conjunto, promovem não apenas melhorias na função pulmonar, mas também maior tolerância ao exercício e redução da frequência e intensidade das crises, impactando positivamente a qualidade de vida dos indivíduos asmáticos. (Freitas, Silva, e Carvalho, 2015; Valkenborghs et al., 2022)
Contudo, é essencial que indivíduos com asma consultem um médico antes de iniciar qualquer programa de exercícios, para garantir que as atividades sejam seguras e adequadas à sua condição. Também é importante ter um plano de ação para lidar com possíveis crises de asma durante o exercício, como manter um inalador de resgate à disposição.
Diretrizes para prescrição de exercícios físicos (ACSM)
A asma brônquica é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas, caracterizada por episódios de hiperresponsividade brônquica, com sintomas como sibilos, falta de ar e tosse, especialmente à noite ou de manhã. O exercício físico pode desencadear ou agravar esses sintomas, levando a um possível descondicionamento físico.
Embora não exista comprovação de que o exercício físico atue como terapia específica e isolada para o combate da asma, já que a doença possui uma base inflamatória crônica e demanda tratamento farmacológico adequado, a atividade física regular é amplamente recomendada como intervenção complementar. Os benefícios decorrem não de uma ação direta sobre os mecanismos fisiopatológicos da asma, mas de adaptações sistêmicas que contribuem para a melhora da saúde geral, da aptidão cardiorrespiratória e da qualidade de vida. Evidências indicam que programas de exercícios podem aumentar a capacidade aeróbica, reduzir a percepção de dispneia, melhorar a tolerância ao esforço e favorecer maior número de dias livres de sintomas, sem aumento significativo do risco de exacerbações quando a doença está controlada (Freitas, Silva, e Carvalho, 2015; Valkenborghs et al., 2022). Assim, a recomendação do exercício para indivíduos asmáticos se justifica por seu papel na promoção de saúde global e no manejo clínico da doença, e não como substituto das terapias farmacológicas convencionais.
A BIE ocorre quando o exercício provoca o estreitamento das vias respiratórias, afetando tanto asmáticos quanto não asmáticos. Fatores como ar frio, poluição e alérgenos podem agravar a condição. Um aquecimento adequado antes do exercício pode reduzir a ocorrência de boncoconstrição.
Para avaliar a função respiratória em pessoas com asma, são utilizados testes de esforço, frequentemente realizados em esteiras ou bicicletas ergométricas. Em alguns casos, broncodilatadores podem ser administrados para evitar a BIE. Testes alternativos, como a inalação de soluções hiperosmolares, também podem ser realizados, sempre com supervisão médica.
O exercício é seguro para asmáticos que mantêm seus sintomas sob controle com medicação. Recomenda-se atenção à frequência cardíaca alvo e evitar exercícios em condições que possam desencadear crises. Em caso de exacerbações, o ideal é interromper as atividades até a recuperação completa.
Objetivo do presente estudo é explorar a mortalidade por asma no Brasil ao longo dos últimos 10 anos, com uma análise epidemiológica detalhada das cinco regiões do país e das disparidades nos índices de mortalidade.
Métodos
Esta revisão sistemática seguiu as diretrizes do PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses) para garantir rigor e transparência no processo de seleção e análise dos estudos. O objetivo foi investigar os efeitos do exercício físico em pacientes com asma, com foco em modalidades de treinamento e impactos na saúde respiratória e cardiorrespiratória.
Estratégia de busca
A busca foi realizada em bases de dados científicas, incluindo PubMed, Scopus, Web of Science e Google Scholar, abrangendo o período de 2010 a 2023. Foram utilizados os seguintes termos de busca, combinados com operadores booleanos: “asthma AND exercise AND sport AND fitness”. A busca incluiu artigos publicados em inglês e português.
Critérios de inclusão e exclusão
Foram incluídos estudos que avaliaram o impacto de diferentes tipos de exercícios (aeróbico, resistência, HIIT, entre outros) em pacientes com asma. Artigos originais e revisões que discutem o impacto do exercício na capacidade respiratória, controle da asma e qualidade de vida. Estudos com metodologia clara, incluindo descrição detalhada da intervenção de exercício e das medidas de desfecho. Foram excluídos estudos que abordavam apenas populações não asmáticas ou com doenças respiratórias distintas. Artigos de opinião, cartas ao editor e resumos de conferências sem dados completos.
Triagem dos estudos
No processo de triagem foram identificados inicialmente 54 estudos relacionados ao tema. Após a leitura de títulos e resumos, 18 foram selecionados por apresentarem algum potencial de aderência aos critérios de inclusão. Contudo, ao passar pela análise de elegibilidade, observou-se uma queda significativa para 7 artigos, em razão da exclusão daqueles que não descreviam de forma clara a intervenção com exercício, incluíam populações mistas com outras doenças respiratórias ou apresentavam fragilidades metodológicas. Por fim, apenas 5 estudos foram considerados adequados para a análise final, pois atendiam plenamente aos critérios estabelecidos, demonstrando rigor científico e relevância para avaliar o impacto do exercício físico em pacientes com asma, tanto na função respiratória quanto no controle da doença e na qualidade de vida.
Extração de dados e análise
Para cada estudo incluído, foram extraídas informações sobre os autores, ano de publicação, tipo de exercício utilizado, frequência e intensidade da atividade, e principais achados relacionados à capacidade cardiorrespiratória, função pulmonar e qualidade de vida dos pacientes com asma. A análise dos dados foi realizada de forma descritiva, destacando os resultados e metodologias de cada estudo, permitindo comparações entre as diferentes intervenções e desfechos.
Resultados
Os resultados da revisão das bases de dados podem ser observados na Tabela 1. Foram encontrados 5 estudos dentro dos trabalhos elegíveis. Destacamos na tabela a autoria, o título, os principais achados e as conclusões do estudo.
Tabela 1. Resultados da Pesquisa em Bases de dados acerca dos estudos sobre Asma e Exercício Físico
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Autor |
Título |
Achados |
Conclusão |
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Valkenborghs et al. |
Exercise Training Programs Improve Cardiorespiratory and Functional Fitness in Adults With Asthma |
Treinamento aeróbico e de resistência demonstraram melhorar a função pulmonar e o controle da asma. Exercícios aeróbicos de intensidade moderada a vigorosa foram mais eficazes, com 3 sessões semanais recomendadas. |
Programas supervisionados de exercícios aeróbicos são eficazes para melhorar a saúde respiratória e funcional em adultos com asma. Mais estudos são necessários para avaliar o impacto dos exercícios de resistência. |
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Winn et al. |
Effect of high-intensity interval training in adolescents with asthma |
HIIT promoveu melhoras na aptidão cardiorrespiratória e manutenção do IMC em adolescentes com asma, mas não influenciou a função pulmonar ou controle da asma. |
HIIT é seguro e pode ser eficaz para melhorar a capacidade aeróbica e controlar o IMC em adolescentes asmáticos. A asma não afeta a treinabilidade aeróbica nesta população. |
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Sanz‐Santiago et al. |
Effect of a combined exercise program on physical fitness, lung function, and quality of life |
Exercícios combinados (aeróbico e resistência) durante 12 semanas melhoraram a força e a aptidão cardiorrespiratória em crianças asmáticas, mas sem grande impacto na qualidade de vida ou função pulmonar. |
Exercícios combinados são benéficos para melhorar a aptidão física em crianças com asma controlada e podem ser incluídos como parte do tratamento. |
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Milanese et al. |
Asthma, exercise and metabolic dysregulation in paediatrics |
Exercícios regulares reduziram sintomas e diminuíram a necessidade de medicamentos para controle da asma em crianças e adolescentes. |
Exercício deve ser incluído no tratamento padrão da asma, pois crianças asmáticas podem se beneficiar da atividade física sem prejuízos à saúde respiratória. |
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Lu et al. |
Exercise and lifestyle changes in pediatric asthma |
Exercícios e mudanças no estilo de vida melhoraram o condicionamento físico e controle da asma. Programas escolares podem ser uma oportunidade importante para promover atividade física. |
Intervenções de estilo de vida, incluindo exercícios, são promissoras para o controle da asma em crianças. Programas sustentáveis e apoio nas escolas devem ser incentivados. |
Fonte: Dados de pesquisa
Em seguida, mostramos o gráfico que apresenta a epidemiologia da asma no Brasil nos últimos 13 anos, com foco nas taxas de mortalidade em cada uma das cinco regiões do país (Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste), com dados obtidos do sistema DataSUS. Essa análise comparativa entre as regiões busca destacar as variações nos índices de mortalidade, fornecendo uma visão sobre como a asma impacta diferentemente as populações brasileiras de acordo com fatores regionais. Observa-se que as Regiões Sudeste e Nordeste concentram os maiores índices de mortalidade por asma, enquanto as Regiões Norte e Centro-Oeste apresentam números mais baixos. Essa disparidade pode estar associada a múltiplos fatores, como a maior densidade populacional e urbanização no Sudeste, onde há maior exposição a poluentes ambientais e fatores desencadeantes de crises asmáticas. No Nordeste, além da elevada concentração populacional em áreas urbanas, a desigualdade socioeconômica e o acesso limitado a serviços especializados de saúde podem contribuir para a piora dos indicadores de mortalidade. Em contrapartida, as Regiões Norte e Centro-Oeste, com menor densidade demográfica e menor nível de poluição atmosférica, registram taxas mais baixas. Esses dados ressaltam a necessidade de políticas públicas direcionadas, com foco tanto na ampliação do acesso ao diagnóstico e tratamento adequado, quanto na redução de fatores ambientais e sociais que agravam os desfechos da asma.
Figura 1. Mortalidade por Asma no Brasil por Região (Últimos 10 Anos)
Fonte: Dados de pesquisa
Os picos observados, especialmente no Sudeste e Nordeste, indicam que essas áreas enfrentam maior carga de mortalidade por asma, o que pode estar relacionado a fatores como densidade populacional, acesso aos serviços de saúde, e condições ambientais. Já as Regiões Norte e Centro-Oeste apresentam números mais baixos e menos variações ao longo do tempo. Esse cenário sugere a necessidade de políticas de saúde pública específicas para cada região, focadas na prevenção e controle da asma, considerando as disparidades regionais.
Discussão
Os estudos analisados reforçam que a prática de exercícios físicos apresenta benefícios significativos para pessoas com asma, embora o exercício em si não seja uma terapia direta para a condição. De forma geral, os achados destacam que a prescrição de atividades aeróbicas e de resistência, quando monitoradas adequadamente, pode contribuir para melhorias na aptidão cardiorrespiratória e força muscular de pacientes asmáticos (Valkenborghs et al., 2022; Sanz-Santiago et al., 2020). Esses resultados são consistentes com a recomendação do ACSM, que defende o exercício regular para aumentar a capacidade aeróbica e tolerância ao exercício em indivíduos com asma controlada.
O estudo de Winn et al. (2021) sobre o treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) em adolescentes com asma trouxe uma nova perspectiva, sugerindo que o HIIT é uma alternativa segura e eficaz para aumentar a aptidão aeróbica e estabilizar o índice de massa corporal (IMC) na população jovem asmática. Embora o HIIT não tenha demonstrado impacto direto na função pulmonar ou no controle dos sintomas, ele mostrou ser uma prática bem tolerada, sem crises induzidas pelo exercício. Essa evidência abre espaço para considerar o HIIT como uma alternativa interessante de treinamento para adolescentes, desde que haja acompanhamento profissional.
O trabalho de Sanz-Santiago et al. (2020) também reforça a segurança de programas de exercícios combinados em crianças asmáticas, ainda que os efeitos diretos na qualidade de vida e função pulmonar sejam limitados. A inclusão de exercícios de resistência e aeróbicos melhorou a força muscular e a aptidão física geral, mas não houve alterações substanciais nos sintomas respiratórios. Isso sugere que o exercício pode atuar mais como uma medida de fortalecimento da condição física geral do que um tratamento direto para a função pulmonar.
Além disso, a pesquisa de Milanese et al. (2019) apoia a inclusão do exercício físico como parte do tratamento padrão para asma em pediatria. Ao reduzir a hiper-responsividade brônquica e a dosagem de medicamentos de controle, o exercício físico contribui para uma abordagem mais sustentável e menos medicamentosa no manejo da asma, beneficiando tanto a saúde respiratória quanto a metabólica.
Esses achados confirmam a necessidade de diretrizes específicas que incentivem a atividade física em asmáticos, desde que sejam respeitadas condições como o controle prévio dos sintomas e o uso de broncodilatadores quando necessário. A revisão também aponta para a necessidade de estudos adicionais sobre a eficácia de programas de exercícios não supervisionados, uma vez que o acesso ao suporte presencial pode ser um desafio para alguns pacientes. Em suma, os resultados sugerem que a prática de exercício, quando personalizada e monitorada, é uma estratégia complementar promissora para a gestão da asma, com impacto positivo na qualidade de vida e saúde geral dos pacientes.
A seguir apresentamos um graphical abstract na Figura 2 que sintetiza as principais diretrizes de prescrição de exercícios para indivíduos com asma, destacando tanto os benefícios quanto as precauções necessárias para uma prática segura e eficaz. A prática regular de atividades físicas é altamente recomendada para asmáticos, devido aos seus efeitos positivos na capacidade respiratória, controle de sintomas e qualidade de vida, conforme demonstrado por diversos estudos. No entanto, a execução segura desses exercícios requer atenção especial, especialmente considerando o risco de Broncoconstrição Induzida por Exercício (BIE).
Na seção de Tipos e Frequência de Exercício, são apresentados três tipos principais de atividades recomendadas: exercícios aeróbicos, HIIT (treinamento intervalado de alta intensidade) e exercícios combinados (aeróbico + resistência). A recomendação de 3 vezes por semana para atividades aeróbicas de intensidade moderada a vigorosa reflete a evidência de que essas práticas melhoram a capacidade cardiorrespiratória e ajudam no controle dos sintomas asmáticos. O HIIT é indicado com supervisão, especialmente para adolescentes, pois permite o aumento do condicionamento físico sem comprometer a função pulmonar, desde que bem monitorado. Exercícios combinados, que integram resistência e aeróbico, são destacados por seus benefícios adicionais na força muscular e capacidade aeróbica.
A Prevenção da Broncoconstrição Induzida por Exercício foca nas estratégias para minimizar o risco de crises asmáticas desencadeadas pela atividade física. Recomendações como o aquecimento prévio, o uso de broncodilatadores antes do exercício (quando necessário) e a evitação de fatores como frio e poluição são essenciais para reduzir a incidência de BIE. Essas precauções, associadas à consulta médica prévia, são fundamentais para que asmáticos possam usufruir dos benefícios do exercício sem colocar a saúde em risco.
A seção de Resultados do Treinamento destaca os principais benefícios da prática física para asmáticos, incluindo a melhora da saúde respiratória e cardiorrespiratória, a redução na necessidade de medicamentos de controle e a qualidade de vida aprimorada. Esses benefícios refletem o impacto positivo da atividade física na saúde geral dos indivíduos com asma, tornando o exercício uma parte importante do manejo da condição.
Em conjunto, o graphical abstract evidencia que, com as devidas orientações e precauções, o exercício físico pode ser uma estratégia eficaz e segura no controle e na melhoria da qualidade de vida de pessoas com asma. Ele reforça a importância de uma abordagem personalizada, onde o tipo de exercício e as medidas preventivas são adaptadas às necessidades individuais, promovendo uma prática de atividade física inclusiva e segura para essa população.
Figura 2. Recomendações de Exercício para Indivíduos com Asma:
Tipos, Prevenção da Broncoconstrição e Benefícios para a Saúde
Conclusão
Este estudo demonstrou que a mortalidade por asma no Brasil varia significativamente entre as regiões, destacando a importância de políticas de saúde pública adaptadas às necessidades e particularidades locais. As regiões Sudeste e Nordeste, que apresentaram maiores índices de mortalidade, sugerem uma demanda por maior atenção na gestão e prevenção da asma. Além disso, o papel da atividade física no manejo da asma foi enfatizado, com evidências de que o exercício físico regular pode beneficiar a capacidade respiratória, reduzir os sintomas e melhorar a qualidade de vida de pessoas com asma, quando realizado de forma segura e monitorada.
As diretrizes de prescrição de exercícios para asmáticos, como aquecimento adequado e o uso de broncodilatadores em casos necessários, reforçam que a prática de atividade física deve ser incorporada ao tratamento da asma, respeitando as limitações e condições individuais dos pacientes. A implementação de programas educativos e a capacitação de profissionais de saúde para orientarem exercícios específicos para asmáticos são essenciais para que esses pacientes possam usufruir dos benefícios da atividade física com segurança. Em suma, o fortalecimento das estratégias de promoção de saúde e controle da asma, aliado ao incentivo para uma prática física segura, pode contribuir significativamente para a redução da mortalidade e o aumento da qualidade de vida de pessoas com asma no Brasil.
Referências
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 329, Oct. (2025)