Afonso Antonio Machado*

afonsoa@gmail.com

Bruna Feitosa de Oliveira**

brufeitosa7@gmail.com

Fernanda Jardim Maia+

fernanda.maia@unesp.br

Ielson José dos Santos++

ielson.santos@unesp.br

Marta Baggio Bippus+++

marta.baggio@unesp.br

*Atualmente é professor

no Centro Universitário Padre Anchieta (Faculdade de Psicologia)

onde coordena o Centro de Psicologia Aplicada

e prof. adjunto II da Universidade Estadual Paulista ‘Júlio de Mesquita Filho’ UNESP

em Rio Claro, onde atua na graduação e pós-graduação

Coordena o LEPESPE (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte).

**Doutoranda em Desenvolvimento Humano e Tecnologias

Mestre em Desenvolvimento Humano e Tecnologias

Graduada em Licenciatura e Bacharela em Educação Física pela UNESP

Membro do Laboratório de Estudos e Pesquisa em Psicologia do Esporte (LEPESPE)

+Doutora em Desenvolvimento Humano e Tecnologias

Mestre em Educação pela Universidade de Taubaté (UNITAU)

Graduada em Alfabetização e Letramento pela ISAL

Graduada em Pedagogia pela Faculdade Estácio e em Letras pela UNINTER

Efetiva da Rede Municipal de São José dos Campos

Membro do grupo de pesquisa do LEPESPE

++Doutorando em Desenvolvimento Humano e tecnologias (UNESP)

Membro do grupo de pesquisa do LEPESPE

Graduada em Letras - Português e Espanhol

pela Universidade Metropolitana de Santos

Graduada em Letras - Português e Inglês

Faculdades Integradas de Ciências Humanas, Saúde e Educação de Guarulhos

Graduada em Pedagogia pela Universidade Nove de Julho

Mestra em Linguística pela Universidade Cruzeiro do Sul

Atualmente é professor da Prefeitura de São José dos Campos

+++Doutoranda em Desenvolvimento Humano e Tecnologias

Membro do grupo de pesquisa do LEPESPE

Mestrado Profissional em Educação (UNITAU)

Pós Graduação em Psicopedagogia e Língua

e Literatura Portuguesa pela UNINOVE

Especialista em Inglês para Professores PUC-SP

Graduação em Letras - Português/Inglês pela Universidade Guarulhos

Atualmente, é Professora Efetiva do Ensino Fundamental I

da Prefeitura Municipal de Taubaté

(Brasil)

Recepción: 27/08/2024 - Aceptación: 14/07/2025

1ª Revisión: 01/06/2025 - 2ª Revisión: 10/07/2025

Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

Cita sugerida: Machado, A.A., Oliveira, B.F. de, Maia, F.J., Santos, I.J. de, e Bippus, M.B. (2025). Psicologia do Esporte no Brasil: evolução, atuação profissional e consequências percebidas em atletas. Uma análise quanti/qualitativa. Lecturas: Educación Física y Deportes, 30(327), 38-51. https://doi.org/10.46642/efd.v30i327.7860

 

Resumo

    A Psicologia do Esporte é um campo interdisciplinar que abrange a aplicação dos princípios psicológicos ao contexto esportivo, visando melhorar o desempenho atlético, bem-estar e desenvolvimento pessoal dos atletas. No Brasil, a formação e a atuação do psicólogo do esporte têm se consolidado ao longo das últimas décadas, acompanhando o crescimento e a profissionalização do esporte no país. Este estudo teve como objetivo investigar a trajetória da formação acadêmica, as principais áreas de atuação e os desafios enfrentados pelos psicólogos do esporte no Brasil. Para tanto, foram recrutados 230 participantes, sendo eles profissionais de Educação Física e psicólogos com especialização em Psicologia do Esporte e atuantes na área. Foi utilizada uma entrevista semiestruturada e um questionário estruturado como instrumentos e na análise foi utilizada a estatística descritiva para os dados quantitativos e análise de conteúdo por codificação para os dados qualitativos. A pesquisa revelou que, embora a formação acadêmica dos profissionais da Psicologia do Esporte no Brasil seja robusta, com muitos profissionais possuindo pós-graduação, ainda há desafios significativos na valorização e na integração interdisciplinar da profissão. A percepção de valorização moderada ou baixa por parte de muitos destes profissionais indica uma área que necessita de atenção e melhorias, evidenciando desafios especialmente em termos de financiamento e recursos. Portanto, conclui-se que apesar de ser uma área de atuação em crescente desenvolvimento e reconhecimento de sua importância, de acordo com os profissionais que atuam na área ainda há um longo caminho para atingir condições ideais de atuação.

    Unitermos: Psicologia do Esporte. Desenvolvimento humano. Evolução da profissão.

 

Abstract

    Sport Psychology is an interdisciplinary field that encompasses the application of psychological principles to the sporting context, with the aim of improving athletic performance, well-being, and the personal development of athletes. In Brazil, the training and work of sports psychologists has been consolidated over the last few decades, in line with the growth and professionalization of sport in the country. The aim of this study was to investigate the trajectory of academic training, the main areas of activity, and the challenges faced by sports psychologists in Brazil. To this end, 230 participants were recruited, including physical education professionals and psychologists who specialize in sports psychology and work in the field. A semi-structured interview and a structured questionnaire were used as instruments, and the analysis used descriptive statistics for the quantitative data and content analysis by coding for the qualitative data. The survey revealed that although the academic training of Sport Psychology professionals in Brazil is robust, with many professionals holding postgraduate degrees, there are still significant challenges in valuing and integrating the profession in an interdisciplinary way. The perception of moderate or low appreciation by many of these professionals indicates an area that needs attention and improvement, highlighting challenges, especially in terms of funding and resources. It can be concluded that, despite this being a field of activity undergoing increasing development and recognition of its importance, according to professionals working in the sector, there is still a long way to go to achieve ideal conditions.

    Keywords: Sports Psychology. Human development. Evolution of the profession.

 

Resumen

    La Psicología del Deporte es un campo interdisciplinario que abarca la aplicación de principios psicológicos al contexto deportivo, con el objetivo de mejorar el rendimiento deportivo, bienestar y desarrollo personal de los atletas. En Brasil, la formación y el ejercicio profesional de los psicólogos del deporte se han consolidado en las últimas décadas, acompañando el crecimiento y la profesionalización del deporte. Este estudio tuvo como objetivo investigar la trayectoria de formación académica, principales áreas de práctica y desafíos que enfrentan los psicólogos del deporte en Brasil. Para ello, participaron 230 profesionales de la Educación Física y psicólogos especializados en Psicología del Deporte que trabajan en el campo. Se utilizaron entrevistas semiestructuradas y un cuestionario estructurado como instrumentos, y se empleó estadística descriptiva para los datos cuantitativos y análisis de contenido mediante la codificación de datos cualitativos. La investigación reveló que, si bien la formación académica de los profesionales de la Psicología del Deporte en Brasil es sólida, con muchos profesionales con títulos de posgrado, persisten importantes desafíos en el reconocimiento e integración interdisciplinaria de la profesión. La percepción de una apreciación moderada o baja por parte de muchos de estos profesionales indica un área que requiere atención y mejora, lo que pone de relieve desafíos, especialmente en financiación y recursos. Se puede concluir que, a pesar de ser un campo de actividad en creciente desarrollo y reconocimiento de su importancia, según los profesionales que trabajan en el sector, aún queda un largo camino por recorrer para alcanzar las condiciones ideales.

    Palabras clave: Psicología del Deporte. Desarrollo humano. Evolución de la profesión.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 327, Ago. (2025)

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Introdução 

 

    A Psicologia do Esporte é um campo interdisciplinar que abrange a aplicação dos princípios psicológicos ao contexto esportivo, visando melhorar o desempenho atlético, bem-estar e desenvolvimento pessoal dos atletas (Tertuliano, e Machado, 2019). No Brasil, a formação e a atuação do psicólogo do esporte têm se consolidado ao longo das últimas décadas, acompanhando o crescimento e a profissionalização do esporte no país. Este artigo explora a trajetória da formação acadêmica, as principais áreas de atuação e os desafios enfrentados pelos psicólogos do esporte no Brasil.

 

    Sendo uma área que combina os princípios da psicologia com o contexto esportivo, busca muito mais que melhorar apenas o desempenho esportivo, mas também inclui o bem-estar e o desenvolvimento dos atletas, através da atuação em processos de educação motora esportiva, recuperação de lesões esportivas e fortalecimento dos processos de tomadas de decisão, quando a questão em vigor seja a prática esportiva. (Pinheiro, Mello, Santos, Fiorese, e Costa, 2021)

 

    No Brasil, a formação e a atuação do psicólogo do esporte têm se desenvolvido significativamente, refletindo a crescente importância do esporte na sociedade brasileira. A disciplina é lecionada, majoritariamente, em cursos de Educação Física e de Psicologia, imprimindo em ambas formações sua especificidade e interdisciplinaridade, cada uma delas com particularidades de seu campo de atuação. (Pinheiro et al., 2021)

 

    Nesse sentido se apresenta um desafio significativo que é a integração interdisciplinar: a colaboração eficaz entre os profissionais da Psicologia do Esporte, treinadores, médicos e fisioterapeutas é essencial para o sucesso das intervenções. No entanto, a falta de comunicação e o trabalho em círculos fechados podem limitar a eficácia dessas colaborações. (Piggott, Müller, Chivers, Papaluca, e Hoyne, 2019; Rollo et al., 2021)

 

    A pesquisa em Psicologia do Esporte também enfrenta desafios, especialmente em termos de financiamento e recursos. A necessidade de desenvolver práticas baseadas em evidências é crítica, e isso requer um investimento contínuo em pesquisa e desenvolvimento. (Rohmert, 2021)

 

    Deste modo, esta pesquisa teve como objetivo explorar a formação, atuação e desafios enfrentados por profissionais da Psicologia do Esporte no Brasil. Fatores como formação acadêmica, áreas de atuação, dificuldades na prática profissional e percepções sobre a valorização da Psicologia do Esporte foram examinados. A pesquisa visou fornecer um panorama abrangente do campo, identificando áreas de melhoria e propondo estratégias para o avanço da profissão.

 

Fundamentação teórica 

 

    A formação do psicólogo do esporte no Brasil começa com a graduação em psicologia, que é regulamentada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), ou em Educação Física, após as quais podem cursar uma das várias especializações encontradas nas faculdades brasileiras. Os habilitados em Educação Física encontram algumas restrições em suas atuações, sem a possibilidade de algumas intervenções psicológicas específicas ou aplicação de testes psicológicos, ações estas restritas ao profissional da psicologia. Desta forma, após a graduação, o profissional deve buscar especializações que lhes forneçam conhecimentos específicos sobre a Psicologia do Esporte que possam prepara-lo para a atuação. (Frades et al., 2020; Isler, e Fabris, 2020)

 

    Instituições como a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), a Universidade Estadual Paulista (UNESP), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) oferecem em sua grade a disciplina de Psicologia do Esporte e, em alguns casos, programas de pós-graduação em Psicologia do Esporte, que incluem conteúdos como teorias que fundamentam e auxiliam na compreensão do fenômeno, técnicas de treinamento psicológico, dinâmica de grupo em equipes esportivas e intervenções psicológicas em contextos esportivos, dentre outros conhecimentos igualmente significativos para a atuação profissional e crescimento da área enquanto campo de estudo e pesquisas. (Tertuliano, e Machado, 2019)

 

    De acordo com Vieira et al. (2010), a formação contínua é crucial, pois o campo é dinâmico e está em constante evolução. Workshops, seminários e congressos, como o Congresso Brasileiro de Psicologia do Esporte, são oportunidades para os profissionais se atualizarem sobre as novas pesquisas e práticas no campo.

 

    Na mesma linha, a Associação Brasileira de Estudos em Psicologia do Esporte e Exercício (ABEPEEX) estuda continuamente e investe na preparação psicológica para competições, oferece profissionais preparados para fornecer apoio em reabilitação de lesões esportivas, preocupa-se com o desenvolvimento e transição de carreira de atletas e possibilita intervenções em contextos de equipes esportivas, imprimindo um ritmo de intensa dinâmica entre seus membros. (Bagni, Morão, Verzani, e Machado, 2020; Lisboa et al., 2021; Moura, Moura, Moura, e Brandão, 2021; Pinheiro, Mello, Santos, Fiorese, e Costa, 2021; Souza, Miranda, Correa, Junior, e Brandão, 2021)

 

    Os profissionais da Psicologia do Esporte, no Brasil, atuam em diversas áreas, refletindo a diversidade do contexto esportivo no país. Entre as principais áreas de atuação, destacam-se a preparação psicológica para a competição ou aprendizagem esportiva, as dinâmicas de grupo e apoio em reabilitações de lesões, o desenvolvimento e transição de carreiras, entre outras. Desta maneira, tais profissionais ajudam os atletas a desenvolverem habilidades como controle emocional, concentração, motivação e resiliência, utilizando-se de técnicas como visualização, relaxamento e estabelecimento de metas, que são frequentemente utilizadas para melhorar o desempenho competitivo. (Raupp et al, 2023)

 

    Assumindo protagonismo na interdisciplinaridade, a reabilitação psicológica de lesões é uma área crucial, pois as lesões não afetam apenas o corpo, mas também pensamento dos atletas. O profissional da Psicologia do Esporte trabalha para ajudar os atletas a lidarem com o estresse, a ansiedade e a depressão decorrentes de lesões, facilitando o processo de recuperação. (Rollo et al., 2021)

 

    Numa outra perspectiva, estes profissionais da Psicologia do Esporte oferecem suporte em momentos de transição, como a passagem do esporte juvenil para o profissional ou a aposentadoria. Esse apoio é fundamental para garantir que os atletas desenvolvam uma identidade sólida fora do esporte e se adaptem bem às novas fases de suas vidas. Profissionais da Psicologia do Esporte ajudam atletas em transições de carreira, como a passagem do esporte amador para o profissional ou a retirada do momento esportivo que são ações desafiadoras e o suporte psicológico é fundamental para garantir o bem-estar dos atletas durante essas fases, independentemente de suas idades. (Stambulova, e Samuel, 2020)

 

    Já, no contexto de esportes coletivos, os psicólogos trabalham com dinâmicas de grupo, coesão de equipe e liderança. Eles facilitam a comunicação entre os membros da equipe e ajudam a resolver conflitos, promovendo um ambiente de colaboração e desempenho coletivo. Tais ações ajudam a melhorar a comunicação entre os membros da equipe e a resolver conflitos, promovendo um ambiente positivo e colaborativo (López-Gajardo, García-Calvo, González-Ponce, Díaz-García, e Leo, 2022). O mesmo vale para as modalidades individuais, que também podem encontrar desafios com relação a liderança, comunicação e dinâmicas de grupo. (Oliveira, Guerrini, Morão, e Machado, 2022)

 

    Ressalta-se que, de acordo com Raupp et al. (2023), a formação em Psicologia do Esporte no Brasil exige não apenas conhecimento teórico, mas também experiência prática, valorizando assim os cursos que exigem estágios supervisionados, aonde os estudantes podem aplicar os conceitos aprendidos em contextos reais do esporte, independente da área de formação. Ambas associações brasileiras de Psicologia do Esporte oferecem cursos de curta duração e certificações que são valiosas para a formação contínua dos profissionais. Essas oportunidades de educação continuada são essenciais para que os profissionais se mantenham atualizados, com as últimas pesquisas e práticas na área. (Tertuliano, e Machado, 2019)

 

    Percebe-se que os profissionais da Psicologia do Esporte no Brasil atuam em uma variedade de contextos, refletindo a diversidade do cenário esportivo nacional. Entre as principais áreas de atuação, destacam-se as pesquisas científicas, que são realizadas em faculdades e/ou universidades através dos cursos de mestrado e doutorado e a partir disso são desenvolvidos conhecimentos e encontradas aplicações desta ciência que compõe o conjunto de saberes da Ciência do Esporte. (Gómes-Acosta, 2020; Dovgan, 2023)

 

    Apesar dos avanços, a atuação do profissional da Psicologia do Esporte no Brasil ainda enfrenta diversos desafios, sendo um dos principais deles a valorização da profissão. Muitas vezes, a importância do suporte psicológico no esporte é subestimada por atletas, treinadores e dirigentes. Isso pode levar a uma menor contratação de psicólogos em equipes e a um investimento insuficiente em programas de preparação psicológica (Bagni et al, 2020). A atuação do profissional de Psicologia do Esporte em escolas de esportes ou em aulas de Educação Física seria uma das melhores propostas de divulgação e conhecimento da área.

 

    Estudos apontam que, quando familiarizados com as intervenções junto aos alunos, docentes, técnicos e pais dos alunos/atletas que estão em etapas anteriores ao esporte competitivo contribuem para o desenvolvimento psicológico do praticante e, futuramente, tendem a ter outro tipo de manifestação quando no esporte de alto nível ou outra atuação na vida adulta (Isler, e Fabris, 2020). Entender as diferentes propostas de atividades físicas e suas aplicações passa pela eficiência de um trabalho de Psicologia do Esporte aplicada.

 

Metodologia 

 

    A pesquisa foi delineada como um estudo exploratório, com caráter descritivo. Foram incluídos nesse estudo 230 psicólogos do esporte atuantes no Brasil. Como critério de inclusão foi definida a necessidade de o profissional possuir experiência prévia na área de no mínimo dois anos. Todos os participantes forneceram o consentimento em participar da pesquisa.

 

    Foram utilizados dois instrumentos nessa pesquisa: um questionário estruturado e uma entrevista semiestruturada. O questionário estruturado possuía 10 questões e foi desenvolvido para obter dados demográficos, formação acadêmica, áreas de atuação, desafios enfrentados e percepções sobre a profissão. A entrevista semiestruturada possuía 12 questões e foi conduzida com um subgrupo de 50 psicólogos para aprofundar a compreensão das experiências relatadas no questionário. A aplicação do questionário ocorreu de forma online, sendo o conteúdo enviado via e-mail ou redes sociais profissionais. Com relação à condução das entrevistas, as mesmas foram realizadas individualmente, de forma presencial ou via chamada de vídeo na plataforma Google Meet, sendo ambas gravadas com permissão do participante para posterior análise.

 

    Para análise dos dados quantitativos utilizou-se o software IBM SPSS 25.0 (Statistical Package for the Social Sciences) para calcular as estatísticas descritivas que representam a distribuição das variáveis demográficas e as frequências das respostas dos questionários. Para analisar os dados qualitativos das entrevistas foi, inicialmente, codificado o conteúdo transcrito das entrevistas para identificar temas recorrentes e agrupar as semelhantes em subgrupos para serem melhor analisadas. A partir disso foi realizada uma análise de conteúdo, aonde foram comparados os temas emergentes com as respostas dos questionários para triangulação dos dados. Para esse processo foi utilizado o software NVivo, que colaborou na gestão e análise de dados qualitativos.

 

Resultados 

 

    A amostra de 230 psicólogos do esporte incluiu uma variedade de formações acadêmicas e regiões de atuação, portanto optou-se por separar essas informações e agrupar os que mais se assemelham, a fim de facilitar a visualização desses dados. A distribuição demográfica e de gênero foi detalhada na Tabela 1 a seguir.

 

Categoria		%
Sexo	Homens	40%
	Mulheres	60%
Região	Sudeste	45%
	Sul	25%
	Nordeste	15%
	Centro Oeste	10%
	Norte	5%

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Com relação à formação acadêmica, os profissionais da Psicologia do Esporte que participaram da pesquisa apresentam um perfil acadêmico bastante diverso e por isso foram classificados de acordo com os níveis de formação. Contudo, algumas das classificações podem se sobrepor, isto é, um menos participante pode se encaixar em mais de uma delas. Todos estes dados estão representados na Tabela 2.

 

Nível de formação	%
Graduação em Psicologia	45%
Graduação em Educação Física	55%
Dupla formação (Psico + EF)	49%
Pós-Graduação (Lato Sensu)	100%
Mestrado	65%
Doutorado	35%

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Referente às Áreas de Atuação, os profissionais da Psicologia do Esporte atuam em diversas áreas, portanto se agrupam as mesmas em categorias mais gerais a fim de representar as áreas mais predominantes citadas pelos participantes, o que nos é mostrado na Tabela 3:

 

Área de atuação	%
Treinamento Mental	60%
Reabilitação Psicológica	20%
Desenvolvimento de Carreira	10%
Trabalho com Equipes	10%

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Analisando os principais desafios na prática profissional enfrentados por estes profissionais e os mesmos relataram diversas situações. De forma semelhante às áreas de atuação, se agrupam tais situações em três categorias principais e a frequência de aparecimento desses itens está representada na Tabela 4.

 

Desafios	%
Valorização da Profissão	50%
Integração Interdisciplinar	30%
Financiamento de Pesquisa	20%

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Em atenção à percepção dos profissionais da Psicologia do Esporte sobre a valorização da sua profissão, se classifica esse item a partir de uma questão fechada que possuía três opções: baixa, moderada e alta. A percepção dos participantes acerca deste tema está ilustrada na Tabela 5.

 

Percepção sobre a valorização	%
Baixa	40%
Moderada	40%
Alta	20%

Fonte: Dados da pesquisa

 

    Os resultados qualitativos nos remetem a alguns temas emergentes, tais como falta de reconhecimento, desafios na integração interdisciplinar e necessidade de políticas de valorização. Muitos profissionais da Psicologia do Esporte relataram sentir que a importância do seu trabalho não é plenamente reconhecida pelos colegas de outras áreas e pelos próprios atletas. Um entrevistado afirmou: "Apesar de contribuirmos significativamente para o desempenho dos atletas, ainda somos vistos como acessórios opcionais", ao responder à pergunta: “como você vê o reconhecimento do trabalho dos psicólogos do esporte no meio esportivo atual”.

 

    A Valorização da Profissão foi levantada quando se questionou o lugar da Psicologia do Esporte nas comissões técnicas atuais e como os clubes ou treinadores enxergam o trabalho do psicólogo do esporte. Quando questionados sobre o porquê da Psicologia do Esporte ainda encontrar resistência em muitos contextos esportivos, o entendimento se volta para a Integração Interdisciplinar, que não avança com igualdade nas Ciências dos Esportes e consultados sobre Financiamento de Pesquisa, por meio da pregunta "Como os clubes ou treinadores enxergam o trabalho do psicólogo esportivo?”, percebe-se que tanto no ambiente académico como no profissional, tal espaço carece de mais credibilidade.

 

    A integração com outras áreas, como a fisioterapia e a medicina esportiva, foi destacada como um campo que necessita de melhorias, visto que ainda existe uma reticência considerável em colaborar com profissionais de outras áreas e, portanto, a comunicação e a colaboração entre as diferentes áreas são dificultadas e a aplicação dos conhecimentos dessas áreas em prol do bem-estar dos pacientes frequentemente se torna insuficiente.

 

    Por fim, os profissionais da Psicologia do Esporte ressaltaram a necessidade de políticas que promovam a valorização e o reconhecimento da profissão como forma de mitigar os problemas destacados anteriormente. Sugestões incluíram a criação de programas de educação continuada e maior apoio para a pesquisa na área, além de iniciativas de cooperação multiprofissionais para estimular a colaboração entre diferentes áreas.

 

Discussão 

 

    A pesquisa revelou que, embora a formação acadêmica dos profissionais da Psicologia do Esporte no Brasil seja robusta, com muitos profissionais possuindo pós-graduação, ainda há desafios significativos na valorização e na integração interdisciplinar da profissão, sendo esse um fator previamente destacado nas pesquisas de Frades, Oliveira, Varoli, e Carneiro (2020), e Tertuliano, e Machado (2019). A percepção de valorização moderada ou baixa por parte de muitos destes profissionais indica uma área que necessita de atenção e melhorias, ainda que alguns estudos indiquem uma crescente melhoria nesse quesito. (Garin, 2019; Gómez-Acosta et al., 2020)

 

    A atuação diversificada dos profissionais da Psicologia do Esporte, abrangendo desde o treinamento mental até o trabalho com equipes, demonstra a importância da Psicologia do Esporte em diferentes contextos (Tertuliano, e Machado, 2019). No entanto, a falta de reconhecimento e os desafios na integração com outras disciplinas limitam a eficácia e o impacto dessas intervenções.

 

    Outro desafio significativo é a integração interdisciplinar. A atuação do profissional da Psicologia do Esporte deve ser alinhada com outros profissionais, como médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e treinadores e a importância dessa colaboração já foi destacada por Dovgan (2023), Piggott et al. (2019), Rollo et al. (2021) como sendo um fator essencial para proporcionar vivências que se aproximem mais da complexidade do ser humano. A falta de comunicação e colaboração eficaz entre essas áreas pode limitar a eficácia das intervenções psicológicas.

 

    Além disso, há o desafio da pesquisa e desenvolvimento de práticas baseadas em evidências. Embora a Psicologia do Esporte tenha avançado consideravelmente, é necessário continuar investindo em pesquisa para validar e aperfeiçoar as técnicas utilizadas (Frades, Oliveira, Varoli, e Carneiro, 2020). Programas de pós-graduação e centros de pesquisa têm um papel crucial nesse processo quando fornecem a base científica para práticas mais eficazes, contribuindo assim para equilibrar as formações de profissionais provenientes da psicologia e da educação física.

 

    Apesar do crescimento e reconhecimento da Psicologia do Esporte no Brasil, os profissionais da área ainda enfrentam diversos desafios, sendo um dos principais a valorização e o reconhecimento da atuação/ profissão. Muitas vezes, a importância do suporte psicológico é subestimada por treinadores, dirigentes e até pelos próprios atletas, resultando em uma menor demanda por esses serviços. (Raupp et al., 2023)

 

    Questões éticas não permitem citar casos específicos, mas pontualmente, há situações onde a Psicologia do Esporte colhe resultados positivos em sua aplicação, como comprovam diariamente os noticiários esportivos de equipes profissionais e, até, amadoras, quando os atletas comentam sobre suas relações com seus psicólogos do esporte e explicam suas transformações.

 

    Portanto, partindo da discussão, destacam-se 6 sugestões de estratégias que podem contribuir para mitigar essas questões:

1. Políticas de Valorização: Implementar políticas que promovam o reconhecimento e a valorização dos profissionais da Psicologia do Esporte, incluindo programas de educação continuada e apoio à pesquisa.

2. Integração Interdisciplinar: Melhorar a comunicação e a colaboração entre profissionais da Psicologia do Esporte e outros profissionais da saúde e do esporte, promovendo uma abordagem mais integrada.

3. Divulgação da Importância: Realizar campanhas de sensibilização sobre a importância da Psicologia do Esporte para atletas, treinadores e gestores esportivos, destacando os benefícios das intervenções psicológicas para o desempenho e o bem-estar dos atletas.

4. A formação básica deve atender ao estudo sistemático de temas e protocolos e propostas de intervenções adequadas à cada área de formação (Psicologia e/ou Educação Física), sem diminuir a importância de cada uma das áreas e com contínua atualização dos conhecimentos, na mesma velocidade em que as Ciências do Esportes estão avançando.

5. Além de perceber a extensão e ampliação das áreas de atuação, é preciso atenção às áreas emergentes, que cobram conhecimentos atuais e provocativos como: mídias e esporte; eSports, torcidas e jogadores; o bullying no esporte; sexo e gênero no esporte.

6. As propostas de programas de Mestrado e Doutorado necessitariam de um corpo docente menos centrado na sede do curso, tendo em vista que se trata de uma área interdisciplinar que precisa se adequar às características da Psicologia do Esporte. Importância de valorizar, inclusive, os aspectos de regionalidade, em especial porque o contexto será fonte de trabalho e funcionalidade do novo profissional.

    Deste modo, a partir de reflexões e propostas se espera contribuir para uma discussão e avanços na Psicologia do Esporte, sempre almejando o fortalecimento e consolidação da área no campo profissional.

 

Conclusão 

 

    A pesquisa com 230 psicólogos do esporte no Brasil fornece um panorama detalhado sobre a formação, atuação e os desafios enfrentados por esses profissionais. As análises quantitativas e qualitativas indicam que, apesar de uma formação acadêmica sólida, a Psicologia do Esporte enfrenta desafios significativos relacionados à valorização da profissão e à integração interdisciplinar.

 

    A formação e a atuação do psicólogo do esporte no Brasil têm evoluído de forma significativa, acompanhando as demandas de um cenário esportivo cada vez mais profissionalizado. A formação acadêmica robusta, aliada à prática contínua e à atualização profissional, é essencial para que esses profissionais possam contribuir de maneira efetiva para o desenvolvimento e bem-estar dos atletas. Apesar dos desafios, a importância da Psicologia do Esporte está sendo cada vez mais reconhecida e, com isso, as oportunidades de atuação tendem a crescer.

 

    Para garantir o avanço contínuo do campo, é fundamental promover a valorização da profissão (independentemente de sua área de formação básica), a integração interdisciplinar e o desenvolvimento de práticas baseadas em evidências. Ao pensar na formação e a atuação do psicólogo do esporte no Brasil percebe-se que, apesar dos desafios, a importância desta ciência está sendo cada vez mais reconhecida e muito disso se deve à atuação e divulgação dos trabalhos realizados por competentes profissionais e seguindo esse curso as oportunidades de atuação tendem a crescer, assim como também as duas representações de classe (ABEPEEX e ABRAPESP).

 

    Para garantir que tal avanço seja contínuo e profundo, é necessário que a valorização da profissão esteja sempre voltada à novas pesquisas e estudos aplicados, garantindo um nível de diálogo acadêmico entre os membros da equipe inter/multidisciplinar e propiciando o avanço desta ciência do esporte. Para tanto, tornam-se necessários que os investimentos e divulgações do material produzido sejam cada vez mais amplos e contínuos. Tal proposta faz menção à formação continuada e a distribuição de congressos, simpósios e eventos acadêmicos por todo o território nacional, favorecendo a disseminação do conhecimento e crescimento da Psicologia do Esporte no país.

 

Referências 

 

Bagni, G., Morão, K.G., Verzani, R.H., e Machado, A.A. (2020). Agentes estressores e enfrentamento de problemas em tenistas e mesatenistas universitários. Caderno de Educação Física e Esporte, 18(2), 39-43. http://dx.doi.org/10.36453/2318-5104.2020.v18.n2.p39

 

Dovgan, N. (2023). An Interdisciplinary Approach to Training Physical Education and Sport Specialists: Insights from Neurophysiology, Neurobiology, Sports Psychology, and Pedagogy. Neurobiology, Sports Psychology, and Pedagogy. SSRN. http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.4602847

 

Frades, L.J., Oliveira, E.S.A., Varoli, B.M., e Carneiro, C.M.C. (2020). Adoecimento psíquico em atletas de alto rendimento: a importância da psicologia do esporte. Educação, Psicologia e Interfaces, 4(3), 1-16. https://doi.org/10.37444/issn-2594-5343.v4i3.297

 

Garin, M.H. (2019). Integración de una psicóloga del deporte en un club de eSports explicado a través del modelo IPOD. Revista de Psicología Aplicada al Deporte y al Ejercicio Físico, 4(3), 1-7. https://doi.org/10.5093/rpadef2019a4

 

Gómez-Acosta, A., Sierra-Barón, W., Hernández, A.L.A., Santofimio, J.D.M., Solano, E.A., e Anturi, L.V.O. (2020). Caracterización psicosocial de deportistas y reconocimiento de la importancia del psicólogo deportivo. Pensamiento Psicológico, 18(2), 15-29. https://doi.org/10.11144/javerianacali.ppsi18-2.cpdr

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 327, Ago. (2025)