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ISSN 1514-3465

 

Karatê na escola: reflexões sobre possibilidades de ensino

Karate at School: Reflections on Teaching Possibilities

Karate en la escuela: reflexiones sobre las posibilidades de enseñanza

 

Heraldo Simões Ferreira*

heraldo.simoes@uece.br

George Almeida Lima**

george_almeida.lima@hotmail.com

 

*Pós doutor pelo Programa de Pós-Graduação

em Desenvolvimento Humano e Tecnologias,

área de Educação Física Escolar

Doutor em Saúde Coletiva. Mestre em Educação em Saúde

Especialista em Psicomotricidade. Professor de Educação Física

Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará

Professor permanente do Programa de Pós Graduação

em Educação da UECE - PPGE (Mestrado e Doutorado em Educação)

Professor permanente e vice coordenador

do Curso de Mestrado Profissional Ensino da Saúde (CMEPES/UECE)

Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa

em Educação Física Escolar (GEPEFE/UECE)

Coordenador do Curso de Graduação

em Educação Física à Distância (UECE/UAB)

Coordenador da Especialização em Artes Marciais,

Esportes de Combate e Lutas (UECE)

Coordenador do Projeto de Extensão - Núcleo de Danças

e Lutas da UECE (NUDAL)

Faixa Preta de Karate 6º Grau (CBK/FCK)

Deca campeão cearense, tri campeão norte-nordeste

Tri campeão brasileiro de Karate - CBK e medalhista sul americano

Ex integrante da seleção brasileira de Karate

**Mestrando em Educação Física

pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF)

Professor de Educação Física da Secretaria de Educação do Ceará (SEDUC/CE)

Membro do Grupo de Estudos

sobre Educação e Práticas Corporais (GEEPRACOR/UNIVASF)

Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa

em Educação Física escolar (GEPEFE/UECE)

Membro do Grupo de Estudos

em Sociologia do Esporte (GESOE/ULBRA)

Membro do Grupo de Estudos Sociais

em Educação Física, Esporte e Lazer (UFRGS)

(Brasil)

 

Recepção: 20/10/2023 - Aceitação: 31/01/2024

1ª Revisão: 22/11/2023 - 2ª Revisão: 29/01/2024

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Ferreira, H.S., e Lima, G.A. (2024). O ensino do karatê no ambiente escolar. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(309), 80-98. https://doi.org/10.46642/efd.v28i309.7282

 

Resumo

    Este ensaio tem como objetivo refletir sobre as possibilidades de ensino do karatê na escola, considerando a aula de Educação Física Escolar, a atividade extracurricular esportiva e a seleção escolar. Salientamos que essas três possibilidades de ensino possuem dinâmicas específicas. O(a) professor(a) de Educação Física Escolar não deve se preocupar exclusivamente com o ensino dos movimentos específicos do karatê, mas fazer com que os(as) alunos(as) construam conhecimentos e reflexões críticas sobre os elementos políticos, sociais, culturais e econômicos que atravessam o karatê. Nesta etapa, os professores e professoras devem possuir graduação em Educação Física. Na atividade extracurricular esportiva, os(as) professores(as) devem considerar a inserção inicial dos(as) alunos(as) no contexto esportivo, fazendo-se necessário o ensino de fundamentos específicos. Nesse caso, a lei em vigor não lhes cobra a graduação em Educação Física, mas a experiência na prática e ensino do karatê. Na seleção escolar, os(as) professores(as) devem trabalhar, de maneira mais aprofundada, os elementos pautados na competição. Nessa etapa, também não se exige a graduação em Educação Física, mas experiência no ensino do karatê. Embora na atividade extracurricular esportiva e na seleção escolar os(as) professores(as) não precisem de graduação em Educação Física, pois essas modalidades de ensino tratam-se de atividades extracurriculares, defendemos, neste ensaio, que esses(as) professores(as) possuam graduação em Educação Física, uma vez que estão lidando, de maneira direta, com alunos(as) em situações complexas desencadeadas pela competição. Nesse sentido, os(as) professores(as) precisam construir saberes que envolvam aspectos psicológicos, fisiológicos, culturais e sociais, a fim de potencializar o desenvolvimento desses(as) alunos(as).

    Unitermos: Karatê. Educação Física. Escola. Ensino. Esporte. Formação.

 

Abstract

    This essay aims to reflect on the possibilities of teaching karate at school, considering the School Physical Education class, the extracurricular sports activity and the school selection. We emphasize that these three teaching possibilities have specific dynamics. The School Physical Education teacher should not be exclusively concerned with teaching specific karate movements, but rather ensure that students build knowledge and critical reflections on political, social, cultural and economic aspects that permeate karate. At this stage, teachers must have a degree in Physical Education. In extracurricular sports activities, teachers must consider the initial insertion of students into the sports context, making it necessary to teach specific fundamentals. In this case, the law in force does not require them to have a degree in Physical Education, but rather experience in practicing and teaching karate. In school selection, teachers must work, in more depth, on the elements guided by the competition. At this stage, a degree in Physical Education is also not required, but experience in teaching karate. Although in extracurricular sports activities and school selection, teachers do not need a degree in Physical Education, as these teaching modalities are extracurricular activities, it is argued in this essay that these teachers have a degree in Physical Education, since they are dealing directly with students in complex situations triggered by competition. In this sense, teachers need to build knowledge that involves psychological, physiological, cultural and social aspects, in order to enhance the development of these students.

    Keywords: Karate. Physical Education. School. Teaching. Sport. Training.

 

Resumen

    Este ensayo tiene como objetivo reflexionar sobre las posibilidades de enseñanza del karate en la escuela, considerando la clase de Educación Física Escolar, la actividad deportiva extraescolar y la selección escolar. Estas tres posibilidades de enseñanza tienen dinámicas específicas. El profesor de Educación Física Escolar no debe preocuparse exclusivamente de enseñar movimientos específicos de karate, sino procurar que los estudiantes construyan conocimientos y reflexiones críticas sobre aspectos políticos, sociales, culturales y económicos que permean el karate. En esta etapa, los docentes deben ser licenciados en Educación Física. En actividades deportivas extraescolares, los docentes deben considerar la inserción inicial de los estudiantes al contexto deportivo, siendo necesario enseñar fundamentos específicos. En este caso, la ley vigente no exige tener la titulación en Educación Física, sino experiencia en la práctica y enseñanza del karate. En la selección en escuelas, los docentes deben trabajar, con mayor profundidad, los elementos orientados por la competencia. En esta etapa tampoco se requiere título en Educación Física, pero sí experiencia en enseñanza de karate. Si bien en actividades deportivas extracurriculares y en selección de escuelas los docentes no necesitan ser titulados en Educación Física, al ser estas modalidades de enseñanza actividades extraescolares, se argumenta, en este ensayo, que estos docentes ) tienen un título en Educación Física, ya que se ocupan directamente con estudiantes en situaciones complejas provocadas por la competencia. En este sentido, los docentes necesitan construir conocimientos que involucren aspectos psicológicos, fisiológicos, culturales y sociales, con el fin de potenciar el desarrollo de estos estudiantes.

    Palabras clave: Karate. Educación Física. Escuela. Enseñanza. Deporte. Capacitación.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 309, Feb. (2024)


 

Introdução 

 

    As lutas, artes marciais e esportes de combate configuram-se como elementos socioculturais desenvolvidos de maneira concomitante à sociedade, em que suas estruturas epistemológicas foram desenvolvidas a partir da percepção de grupos específicos. Nesse sentido, essas atividades possuem significações que consideram aspectos sociais, políticos e econômicos. (Antunes, e Iwanaga, 2014; Lima, e Maia, 2021; Paiva, 2015; Rufino; 2012)

 

    Desse modo, essas práticas corporais possuem aspectos multidisciplinares, podendo ser desenvolvidas em ambientes específicos a partir de processos pautados no lazer, educação, competição, saúde, estética, defesa pessoal, etc. (Antunes, e Iwanaga, 2014)

 

Imagem 1. O karatê é uma prática corporal que nas aulas de Educação Física

oferece possibilidades para o desenvolvendo integral dos alunos e alunas

Imagem 1. O karatê é uma prática corporal que nas aulas de Educação Física oferece possibilidades para o desenvolvendo integral dos alunos e alunas

Fonte: Gerador de imagens de Designer

 

    No campo escolar, o ensino das lutas é alvo de debates e tensionamentos que acompanham o desenvolvimento da Educação Física na escola. Os documentos norteadores da educação brasileira como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), apresentam as lutas como uma temática a ser desenvolvida nas aulas de Educação Física. Nos PCN’s, as lutas devem ser compreendidas como: “disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s), mediante técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa” (Brasil, 1997, p. 37). Na BNCC, as lutas são disputas “nas quais os participantes empregam técnicas, táticas e estratégias específicas para imobilizar, desequilibrar, atingir ou excluir o oponente de um determinado espaço, combinando ações de ataque e defesa dirigidas ao corpo do adversário” (Brasil, 2017, p. 218). Na BNCC, as lutas também são citadas dentro da unidade temática esporte, sendo tratadas, nesse eixo, como uma categoria pautada nos esportes de combate.

 

    Outrossim, embora esses documentos norteadores citem as lutas como uma temática a ser evidenciada na Educação Física Escolar, a tematização dessa prática corporal na escola perpassa dificuldades singulares como: (i) ausência de materiais específicos, (ii) déficits na formação inicial, (iii) ausência de programas de formação continuada, (iv) associação entre lutas e violência, (v) falta de apoio da comunidade escolar e (vi) apropriações equivocadas sobre os conceitos que envolvem as lutas. (Ferreira, 2006; Lima, 2021; Moura et al., 2019; Nunes, 2015; Nascimento, e Almeida, 2007; Rufino, e Darido, 2015; Rufino, 2012)

 

    No mesmo sentido, Lima, e Pereira (2023) destacam que a ausência de conhecimentos sobre as dinâmicas socioculturais, políticas e econômicas que envolvem o campo das lutas produz visões periféricas sobre essa temática, o que contribui para interpretações equivocadas sobre essa prática, como sua associação à violência. Lima, Macêdo, e Millen Neto (2023) também apontam que visões periféricas sobre as lutas produz a reprodução e manutenção de estereótipos como exclusão de gênero, entendendo-se essa prática como um campo exclusivamente masculino.

 

    Na esteira dessa discussão, Lima, e Maia (2021), destacam que as lutas estão envoltas por processos multiculturais que atravessam a reprodução de movimentos específicos, engendrando-se a processos filosóficos, morais e éticos, e quando os(as) praticantes apropriam-se dessa dinâmica, podem modificar seu comportamento de maneira positiva, como a redução da agressividade e melhoria no comportamento social.

 

    Lima, e Pereira (2023) também apresentam que a prática das lutas apresenta benefícios que perpassam os aspectos motores, como o desenvolvimento de atitudes como respeito, cooperação, autonomia e disciplina, contribuindo para o desenvolvimento dos alunos e alunas. Os autores reforçam que a sistematização das lutas deve considerar as percepções dos alunos e alunas, a fim de ampliar sua familiarização com a temática proposta.

 

    Em vista disso, defendemos que os alunos e alunas devem apropriar-se, de maneira crítica, de todas as produções de conhecimentos produzidas pela humanidade, inclusive das lutas. A literatura encontrada não apresentou discussões sobre as possibilidades de ensino do karatê na escola, fazendo-nos questionar: quais as possibilidades de ensino do karatê na escola? Quais saberes os professores e professoras devem possuir para a tematização desta prática? Nessa perspectiva, considerando a diversidade de práticas corporais de combate, e a importância desse campo para o desenvolvimento do ser humano, este ensaio toma como lócus, o ensino do karatê na escola.

 

    Ferreira et al. (2022) destacam que a prática das artes marciais orientais na escola, como o karatê, acarreta o desenvolvimento de capacidades físicas como força, agilidade, flexibilidade, equilíbrio e etc., além de valores sociais como ética, respeito e disciplina. Esse fato é possível devido aos elementos filosóficos que constituíram a base epistemológica das artes marciais orientais. Desse modo, a partir da interlocução entre os aspectos físicos, mentais, e sociais, emergem possibilidades para o desenvolvendo integral dos alunos e alunas.

 

    Pereira et al. (2023) defendem que o karatê é uma prática corporal que deve ser tematizada nas aulas de Educação Física, uma vez que apresenta a possibilidade de discussões sobre diversos elementos socioculturais intrínsecos à sua construção, como aspectos místicos, técnicos e filosóficos.

 

    Pavlova, Bodnar, e Vitos (2018) realizaram um estudo com o objetivo de examinar os impactos da aplicação das artes marciais orientais na preparação física e psicofísica de meninos pré-escolares. 71 alunos e alunas foram divididos em dois grupos, um grupo realizou um programa específico de karatê, e outro grupo realizou as atividades do currículo básico. Os resultados evidenciaram que os alunos que participaram do programa de karatê tiveram melhores índices no que concerne à disciplina, maior capacidade mental e menor fadiga muscular. Concluiu-se que as aulas cujo karatê é temática central, podem promover a plena prontidão das crianças para a vivência social.

 

    Nunes, e Franzoi (2010) também destacam a importância da prática do karatê na escola. Os autores destacam que o senso de responsabilidade emanado da prática do karatê contribui para que os alunos e alunas possam executar as tarefas do dia-a-dia da melhor maneira possível, buscando sempre fazer as melhores ações possíveis, renegando o sentimento de desistência. Nesse sentido, os autores defendem que deve haver formas diversificadas de tematizar o karatê na escola, considerando aspectos lúdicos e as singularidades socioculturais e econômicas dos alunos e alunas.

 

    A partir do exposto, podemos questionar sobre a formação específica do(a) professor(a) que tematiza o karatê na escola, como também as dinâmicas que envolvem o ensino do karatê nos distintos campos escolares. Nesse sentido, o presente ensaio tem como objetivo refletir sobre as possibilidades de ensino do karatê na escola, considerando a aula de Educação Física Escolar, a atividade extracurricular esportiva e a seleção escolar.

 

Karatê na aula de Educação Física 

 

    A publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, em 1996, situou a Educação Física como “componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos” (Brasil, 1996). Evidenciá-la como ‘componente curricular’, entretanto, não foi suficiente para garantir sua obrigatoriedade nas instituições. Nesse sentido, em 2001, houve uma alteração no texto da Lei, que incluiu o termo ‘obrigatório’, refutando qualquer interpretação quanto a sua exigência no ambiente escolar.

 

    A disciplina de Educação Física é regida pela Base Nacional Curricular Comum – BNCC (Brasil, 2017), que apresenta seis unidades a serem tematizadas nas práticas corporais em todo ensino fundamental, (i) brincadeiras e jogos; (ii) esportes; (iii) ginásticas; (iv) danças; (v) lutas e (vi) práticas corporais de aventuras.

 

    As referidas práticas corporais deverão propiciar aos alunos e alunas habilidades que se desenvolvem a partir da realização de um trabalho pedagógico que privilegie as seguintes dimensões de conhecimento: (i) experimentação; (ii) uso e apropriação; (iii) fruição; (iv) reflexão sobre a ação; (v) construção de valores; (vi) análise; (vii) compreensão e protagonismo comunitário (Brasil, 2017). Dentre as unidades temáticas apresentadas pela BNCC, tomaremos como lócus as lutas, especificamente o karatê. O quadro 01 apresenta a distribuição das lutas nos anos iniciais do ensino fundamental.

 

Quadro 1. Distribuição das lutas nos anos iniciais do ensino fundamental

Unidade Temática

Objetos de conhecimento

1° e 2° anos

3° ao 5° ano

Lutas

Não são contempladas

Lutas do contexto comunitário e regional; Lutas de matriz indígena e africana

Fonte: Adaptado da BNCC (2017)

 

    Podemos perceber que a BNCC não apresenta práticas relacionadas as lutas no 1° e 2° ano. A ausência de vivências significativas sobre essa prática corporal contribui para a manutenção de estigmas relacionados as lutas, como sua associação à violência. Desse modo, o próprio documento silencia as lutas ao não direcionar essa prática nesse nível de ensino.

 

    Fabiani, Scaglia, e Almeida (2016) salientam que o ensino das lutas deve acontecer desde a educação infantil, considerando a ressignificação dessas práticas a partir de elementos pautados na ludicidade, como imaginação, criação e fantasia. Esse recurso possibilita o desenvolvimento da autoconfiança das crianças e a interação entre os pares, contribuindo para a construção do conhecimento. Outrossim, destacamos que os alunos e alunas devem construir conhecimentos amplos sobre as diversas práticas corporais, a fim de usufruí-las de maneira crítica e reflexiva.

 

    Em relação as práticas corporais tematizadas nos anos iniciais do ensino fundamental, a BNCC apresenta a proposição dos esportes de marca1 e precisão2 nessa etapa, atribuindo maior valorização e visibilidade a unidade temática esportes. No que concerne aos objetos de conhecimento do 3° ao 5° ano, apresenta-se as lutas do contexto comunitário e regional e lutas de matriz indígena e africana. Embora possamos compreender essa proposição como positiva, uma vez que a unidade temática lutas está sendo tematizada, percebemos que o karatê, por não possuir origens na cultura dos povos indígenas ou africanos, não se inclui nesta etapa de ensino.

 

    A partir do exposto, consideramos que o ensino das lutas deve permear todas as etapas de ensino, pautando-se na construção sistemática de conhecimentos relacionados a essa prática corporal. O Quadro 2 apresenta a distribuição das lutas nos anos finais do ensino fundamental.

 

Quadro 2. Distribuição das lutas nos anos iniciais do ensino fundamental

Unidade Temática

Objetos de conhecimento

6° e 7° anos

8° ao 9° ano

Lutas

Lutas do Brasil

Lutas do mundo

Fonte: Adaptado da BNCC (2017)

 

    Ao analisarmos o Quadro 2, percebemos que as lutas do Brasil são contempladas no 6° e 7° anos, como se fosse uma continuação dos temas elencados do 3° ao 5° ano dos anos iniciais do ensino fundamental. Todavia, as lutas do mundo são apresentadas apenas no 8° e 9° ano. Esse processo pode desencadear lacunas no que concerne o desenvolvimento desta prática no campo educacional, uma vez que não há um direcionamento específico de quais modalidades ou tipologias de lutas apresentar aos alunos e alunas.

 

    Podemos inferir que, quando a BNCC apresenta lutas do mundo, o karatê está incluído neste eixo, todavia, os professores e professoras poderão desenvolver quaisquer “lutas do mundo”, ficando a cargo deles e delas a seleção dos temas que irão compor as unidades curriculares.

 

    Rufino (2022) destaca que a BNCC toma o esporte como base, contribuindo para desigualdades na tematização dos conteúdos a serem vivenciados na Educação Física. Ao analisar a BNCC, o autor assevera que o documento confere dez parágrafos iniciais sobre a unidade temática esporte, enquanto destina apenas um parágrafo para a unidade temática de lutas. Em síntese, ao apresentar tão poucas propostas para a abordagem das lutas, o referido documento acaba contribuindo para o silenciamento dessas práticas no currículo escolar.

 

    Dessa forma, na medida em que as lutas acabam sendo marginalizadas, há poucas oportunidades de tematizá-las, reduzindo possibilidades de discussões e reflexões sobre as dinâmicas que envolvem as lutas, como processos de esportivização, defesa pessoal, qualidade de vida, busca pelo autoconhecimento etc.

 

    A partir do exposto, são perceptíveis as lacunas inerentes ao documento. Todavia, a literatura tem apresentado discussões sobre recursos metodológicos que evidenciam o ensino das lutas na Educação Física escolar. Embora nosso escopo seja o karatê, poucos estudos evidenciam pressupostos para o ensino específico desta prática. As discussões mais fortes estão circunscritas por processos que envolvem o ensino das lutas a partir de sua lógica interna. (Gomes et al. 2010; Schmidt, e Oliveira, 2020)

 

    Com reforço, Lima (2021) ressalta que para ensinar lutas na escola, os professores e professoras não precisam ser especialistas em uma prática de luta específica, pois o objetivo da Educação Física Escolar não é formar atletas nem trabalhar movimentos técnico-táticos centrados em competições. Faz-se necessário vivenciar os movimentos relacionados ao karatê de forma crítica e reflexiva, compreendendo as dinâmicas que envolvem essa prática, como os aspectos socioculturais, políticos, econômicos, de raça e de gênero.

    

    Desta feita, salienta-se que quem deve ministrar o conteúdo de karatê na aula de Educação Física Escolar, é o(a) próprio(a) professor(a) da disciplina, que não precisa necessariamente ser um praticante ou um especialista na área (o que não exclui aquele que já é praticante). Todavia, esse professor ou professora terá que buscar saberes específicos para tematizar essa prática de forma sistematizada. (Ferreira, 2012)

 

    Destarte, mesmo não sendo um especialista nesta prática corporal, o professor ou a professora terá que tematizar este conteúdo. Em síntese, pode-se questionar: como um professor ou professora que não é faixa preta, ou até mesmo praticante, vai ensinar a modalidade de karatê?

 

    Na esteira desta discussão, Gomes et al. (2010) salientam que as lutas podem ser tematizadas a partir dos grupos situacionais, que consideram sua lógica interna. Nesse sentido, emergem-se três categorias de lutas. (i) Lutas de curta distância, que propiciam situações como desequilíbrios, projeções, exclusão de espaços e quedas. (ii) Lutas de média distância, que apresentam elementos relacionados aos toques e golpes de contusão. (iii) Lutas de longa distância, que apresentam o toque a partir da manipulação de implementos específicos, como espadas. Desse modo, os professores e professoras poderão tematizar as lutas a partir destes princípios. No caso do karatê, essa modalidade inclina-se às lutas de média distância.

 

    Ao buscarem identificar as estratégias de ensino das lutas na Educação Física escolar, Pereira et al. (2021) realizaram um estudo que contou com a participação de 77 professores e professoras de escolas estaduais da região da grande Florianópolis/SC, Brasil. Destaca-se que apenas 18 professores e professoras tematizam as lutas nas escolas desta região. O Quadro 3 apresenta as estratégias utilizadas para o ensino das lutas.

 

Quadro 3. Estratégias de ensino das lutas

Quantidade de professores

e professoras

Estratégia de ensino

Dois

Ensino de uma modalidade específica: capoeira

Dois

Ensino de exercícios físicos pautados nas lutas

Seis

Ensino de modalidades específicas: judô, jiu-jitsu, karatê e capoeira

Dois

Reprodução de gestos técnicos

Seis

Jogos de oposição

Fonte: Adaptado de Pereira et al. (2021)

 

    Destacamos que seis professores e professoras desenvolvem os jogos de oposição, que são baseados nos princípios condicionais das lutas. Também podemos perceber que modalidades específicas são tematizadas na escola. Com reforço, Del Vecchio, e Franchini (2006) destacam que os professores e professoras geralmente tematizam as práticas que eles e elas têm maior familiaridade, trabalhando as lutas de maneira específica e restringindo discussões mais amplas.

 

    No que concerne às estratégias de ensino das lutas na escola, há uma discussão estabelecida na literatura que considera as dimensões do conteúdo como recurso metodológico (Alencar et al., 2015; Gomes et al., 2013; Lima, e Fabiani, 2023; Maldonado, e Bocchini, 2013; Sobrinho, 2018). Por conseguinte, o ensino das lutas deve considerar dimensões do conteúdo, que pondera o desenvolvimento de conhecimentos procedimentais, que estão associados com a vivência prática das lutas. Conhecimentos conceituais, que se refere aos conhecimentos relacionados à origem, desenvolvimento, regras, discussões relacionadas aos aspectos econômicos, sociais, gênero, raça, etc. Conhecimentos atitudinais, que aborda os comportamentos expressos a partir das situações vivenciadas em determinada atividade. O Quadro 4 apresenta possibilidades para o ensino do karatê considerando as dimensões do conteúdo e sua lógica interna, considerando elementos que envolvem o contato corporal entre os(as) participantes.

 

Quadro 4. Proposição de aulas

Atividade

Objetivo

Aspecto procedimental

Aspecto

conceitual

Aspecto atitudinal

Luta de pregadores

Retirar os pregadores da roupa do(a) adversário(a)

Vivenciar movimentos que estão ligados ao karatê, como deslocamentos, ataque e defesa.

Apresentar a importância da adaptação das regras para a realidade escolar, contribuindo para o desenvolvimento de percepções que valorizem a Educação Física enquanto elemento fundamental para o desenvolvimento dos alunos e alunas.

Discutir sobre a importância de controlar a força dos movimentos para não machucar os(as) colegas.

Lutar tentando tocar o ombro do colega

Tocar o ombro do colega

Vivenciar movimentos que estão ligados ao karatê, como deslocamentos, ataque e defesa.

Desenvolver discussões voltadas para a evolução dos movimentos do karatê e sua inserção nos jogos olímpicos de Tóquio 2020.

Discutir aspectos relacionados ao respeito entre os(as) adversários(as)

Realizar movimentos de fundamentos (vistos na internet, em figuras ou com a ajuda de um(a) convidado(a)

Tocar o(a) colega com um macarrão de piscina.

Vivenciar os movimentos específicos do karatê.

Discutir aspectos relacionados à importância da prática do karatê para a saúde e a defesa pessoal.

Apresentar o significado da simbologia OSS e os elementos filosóficos do karatê, relacionando-os com a vida cotidiana.

Fonte: Elaboração dos autores (2023)

 

    Zabala (1998) aponta que as dimensões do conteúdo devem ser trabalhadas de maneira sistematizada, havendo uma interlocução entre elas. A fragmentação destas dimensões pode contribuir para déficits na aprendizagem dos alunos e alunas. Dessa forma, os professores e professoras devem possuir amplos conhecimentos sobre a temática abordada, para que possam sistematizar os conhecimentos a partir da convergência entre as dimensões.

 

    Outras estratégias a serem utilizadas, segundo Ferreira (2006) é o convite a colegas ou alunos praticantes para realizar palestras e demonstrações. Levar os alunos e alunas para que possam assistir aulas em academias e assistir competições específicas, assim como realizar pesquisas em livros e ambientes virtuais, também podem ser formas para apresentar o karatê aos(as) estudantes.

 

O Karatê como atividade extracurricular esportiva 

 

    A atividade extracurricular esportiva, é, em muitos casos, a iniciação esportiva da maioria das crianças no Brasil. Seu objetivo é inserir os alunos e alunas em uma modalidade específica, de forma lúdica e sem pressões relacionadas à performance esportiva, mas, paulatinamente, ir revelando e aprofundando os fundamentos, características e estimulando os(as) praticantes a participarem de festivais e competições escolares internas, para que possam ir se apropriando das dinâmicas que envolvem a competição.

 

    Com reforço, destacamos que na atividade extracurricular esportiva, o docente deve ser especialista na modalidade, nesse sentido, no ensino do karatê. Mas uma pergunta se torna imperiosa aqui: o que vem a ser especialista no ensino do karatê?

 

    Não existe um curso de graduação ou pós-graduação em ensino do karatê. Os(as) professores(as) aprendem a ministrar aulas inicialmente por observação e vivência prática dos movimentos e elementos tradicionais que constituem o cerne das artes marciais. Essa formação também pode ser ampliada a partir da utilização de cursos realizados, vídeos estudados e outras formações autodidatas. Em muitos casos, as federações realizam cursos preparatórios de faixa preta, em que assuntos pedagógicos são tratados.

 

    Jucá, Lima, e Melo (2022) asseveram que o ensino das práticas corporais não deve estar pautado exclusivamente na reprodução de movimentos específicos, mas considerar as percepções dos alunos e alunas. No mesmo sentido, Machado, Galatti, e Paes (2015) destacam que o ensino das práticas desportivas deve considerar referenciais teóricos específicos, como: (i) técnico-táticos, que se referem às estratégias de luta, elementos táticos, capacidades físicas e habilidades motoras. (ii) Socioeducativo, que discute sobre aspectos relacionados ao comportamento, princípios relacionados à inclusão, coeducação, relações intra e interpessoais, estabelecendo relações entre esporte e sociedade. (iii) Histórico-cultural, que apresenta a evolução das modalidades esportivas, regras, fundamentos, elementos sociais, políticos e econômicos que atravessam essas práticas.

 

    Nesse sentido, os professores e professoras de karatê inseridos na atividade extracurricular esportiva devem possuir conhecimentos amplos sobre os elementos que constituem as práticas desportivas, exigindo uma formação que possibilite o desenvolvimento de recursos metodológicos de ensino que potencializem as habilidades dos alunos e alunas de maneira integral.

 

    Em síntese, salienta-se que de acordo com a lei em vigor, o ensino do karatê na atividade extracurricular esportiva não exige que o(a) professor(a) seja graduado em Educação Física, pois essa dinâmica não está ligada ao ensino de um componente curricular obrigatório, mas de uma atividade extracurricular. Todavia, embora a lei vigente permita essa disposição, defendemos neste ensaio que esse(a) profissional também seja formado(a) em Educação Física, pois mesmo ministrando uma atividade extracurricular, ele(a) está inserido(a) em um ambiente de ensino que lida diretamente com alunos e alunas que possuem particularidades específicas. Desse modo, precisa desenvolver competências e habilidades específicas para lidar com as dinâmicas que envolvem o processo de ensino-aprendizagem de práticas corporais.

 

    Considerando a complexidade do processo de ensino-aprendizagem, em muitos casos, o(a) professor(a) de karatê, percebendo que necessita de conhecimentos mais específicos que o(a) levem a potencializar seu ensino, buscam inserir-se em cursos de graduação em Educação Física. Nesse sentido, ele(a) amplia seus conceitos didáticos, métodos de ensino, estratégias ativas de aprendizagem, planejamento, avaliação, psicologia da educação e utilização de tecnologias, compreendidos como temas que se apresentam em um curso de formação de professores(as) de Educação Física e se fazem necessários ao(a) professor(a) de ‘atividade extracurricular esportiva’.

 

Seleção escolar esportiva de karatê 

 

    O esporte escolar segue os princípios universais da prática desportiva formal. Para que seja considerado esporte, as regras devem ser imutáveis, tem-se uma instituição como federação ou confederação que deve delimitar suas normas, é uma atividade competitiva e os valores olímpicos devem ser respeitados (Oliveira et al., 2018). Na seleção escolar esportiva são incluídos(as) alunos e alunas que estejam matriculados(as) na educação básica e representem suas escolas em competições específicas.

 

    O karatê faz parte das competições escolares, de copas intercolegiais até aos Jogos Escolares do Brasil – JEB’s. A modalidade é aceita de forma quase que unânime. Para que se tenha uma seleção escolar de karatê em um colégio e que possa representar sua instituição nas competições escolares, se faz necessária a figura de um técnico da modalidade com experiência na mesma, sendo um praticante avançado e com vivência em competições, seja como ex-atleta, árbitro ou gestor.

 

    Todavia, o(a) profissional responsável pela seleção escolar, deve apresentar, além dos conhecimentos técnico-táticos da modalidade a ser ministrada, fundamentos conceituais e práticos relacionados ao treinamento desportivo, fisiologia do exercício, preparação física, biomecânica, anatomia e cinesiologia, dentre outros saberes docentes. Para tanto, em nossa percepção, deve possuir graduação em Educação física, pois esse recurso, possibilitaria um processo de ensino-aprendizagem mais amplo.

 

    Desse modo, faz-se necessário o domínio de um conjunto de saberes advindos da formação profissional, incumbida de saberes transmitidos pelas instituições de formação de professores(as), considerando: (i) saberes disciplinares, que se ligam a áreas específicas do conhecimento; (ii) saberes curriculares, que se ligam a programas escolares e (iii) saberes experienciais, que são oriundos da vivência prática do processo de ensino e aprendizagem. (Tardif, 2002)

 

    Considerando que a seleção escolar também apresenta objetivos educacionais, é preciso uma formação que envolva os aspectos que estejam pautados em diretrizes que envolvam valores educacionais, como respeito, cooperação e ética. Nesse sentido, dentro de nossa percepção, acreditamos que esse(a) profissional precisa ser graduado em Educação Física e especialista em karatê. Neste ínterim, o quadro 5 apresenta a percepção reflexiva e analítica dos autores deste estudo sobre exigências de formação para o ensino do karatê.

 

Quadro 5. Percepção dos autores deste estudo sobre a formação para o ensino do karatê

Karatê

Sugestão de formação

Na aula de Educação Física Escolar (dentro do ambiente escolar)

Graduação em Educação Física.

Na atividade extracurricular esportiva (dentro do ambiente escolar)

Graduação em Educação Física;

Especialidade no Karate (praticante, faixa graduada, permissão de sua federação/clube).

Seleção Escolar Esportiva (dentro do ambiente escolar)

Graduação em Educação Física;

Especialidade no Karate (praticante, faixa graduada, permissão de sua federação/clube).

Ambiente Não Formal (fora do ambiente escolar)

Não obrigatoriedade de graduação em Educação Física;

Especialidade no Karate (praticante, faixa graduada, permissão de sua federação/clube).

Fonte: Elaboração dos autores (2023)

 

    A partir do exposto, destacamos que embora a lei vigente tenha outra configuração, destacamos ser importante que o profissional de karatê também possua conhecimentos na área da Educação Física, a fim de propiciar aulas sistematizadas que considerem os aspectos motores, sociais, culturais, psicológicos e econômicos de cada aluno e aluna.

 

Conclusões 

 

    Este ensaio teve como objetivo refletir sobre as possibilidades de ensino do karatê na escola. Destacamos que as discussões apresentadas na literatura sobre princípios metodológicos para o ensino do karatê nas aulas de Educação Física são escassas. Esse fato também é perceptível a partir da análise da BNCC, que não menciona, em nenhum momento, o karatê enquanto prática corporal que deve ser tematizada na educação básica, apenas apresenta, de maneira compulsória, as “lutas do mundo”, no qual podemos inferir que o karatê está inserido neste eixo. Em síntese, a maioria das discussões postas na literatura específica apresentam formas mais gerais de ensino das lutas, como a utilização de jogos de oposição, as dimensões do conteúdo e a elaboração de aulas a partir de princípios condicionais que considerem a lógica interna das lutas.

 

    Outrossim, destaca-se que a prática do karatê possui múltiplos sentidos, sendo tematizado como componente da cultura corporal na (i) Educação Física escolar, na (ii) atividade extracurricular esportiva, considerando a inserção de alunos e alunas em competições esportivas escolares e (iii) a seleção escolar, que viabiliza a participação de alunos e alunas em competições intraescolares e extraescolares. Com reforço, destaca-se que embora o karatê possa ser vivenciado a partir de múltiplas facetas, considerando aspectos competitivos, de lazer, educacionais, estéticos e etc., de maneira geral, seu ensino deve ser fomentado a partir de uma formação crítica e emancipada, em que os alunos e alunas se apropriem desta prática como um recurso que potencializa sua formação motora, cognitiva, cultural e social.

 

    Ademais, destacamos que em cada etapa de ensino em que o karatê é tematizado, os professores e professoras precisam adquirir conhecimentos específicos para que atendam as especificidades de cada etapa apresentada. Nesse sentido, considerando a Educação Física Escolar, o(a) professor(a) não deve se preocupar exclusivamente com o ensino dos movimentos específicos do karatê, sua maior preocupação é fazer com que os(as) alunos(as) construam conhecimentos e reflexões críticas sobre os elementos políticos, sociais, culturais e econômicos que atravessam o karatê. Nesta etapa, por lei, os professores e professoras devem possuir graduação em Educação Física.

 

    Na atividade extracurricular esportiva, além de considerar os elementos socioculturais que atravessam a prática do karatê, como aspectos políticos, econômicos e sociais, os professores e professoras devem considerar a inserção inicial dos alunos e alunas no contexto esportivo, fazendo-se necessário o ensino de fundamentos específicos. Nesse sentido, a lei em vigor não lhes cobra a graduação em Educação Física, mas esse(a) profissional deve possuir experiência na prática do karatê, como faixa graduada e permissão de sua federação/clube. Na seleção escolar, os professores e professoras devem trabalhar, de maneira mais aprofundada, os elementos pautados na competição, sem desconsiderar os elementos socioculturais que se conectam ao karatê. Para a inserção dos professores e professoras nessa modalidade de ensino, também não se exige a graduação em Educação Física, mas experiência na prática do karatê, como faixa graduada e permissão de sua federação/clube.

 

    Todavia, embora na atividade extracurricular esportiva e na seleção escolar os(as) professores(as) não precisem de graduação em Educação Física, pois essas modalidades de ensino tratam-se de atividades extracurriculares, defendemos neste ensaio, que esses(as) professores(as) possuam graduação em Educação Física, uma vez que estão lidando, de maneira direta, com alunos e alunas em situações complexas que emanam do ambiente competitivo. Nesse sentido, os(as) professores(as) precisam construir saberes que envolvam aspectos psicológicos, fisiológicos, culturais e sociais, a fim de potencializar o desenvolvimento desses alunos e alunas.

 

    Por fim, destacamos que este ensaio não busca apresentar discussões com um fim em si mesmas, mas potencializar reflexões relacionadas ao processo de ensino do karatê no ambiente escolar. Nesse sentido, mais estudos devem ser desenvolvidos sobre o fenômeno em tela, como: (i) recursos metodológicos concretos para o ensino do karatê nos diversos ambientes, (ii) relações de gênero e ensino do karatê, (iii) formações docentes específicas para o ensino do karatê e (iv) relações entre a carreira escolar/universitária e a carreira esportiva (dupla carreira).

 

Notas 

  1. Práticas em que o resultado da ação motora comparado é um registro quantitativo de tempo, distância ou peso.

  2. Objetiva atingir ou se aproximar de um alvo fixo ou móvel.

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 309, Feb. (2024)