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ISSN 1514-3465

 

Escola, idosos e Educação Física. O que a produção científica revela?

School, Older Adults, and Physical Education. What Does the Scientific Literature Reveal?

Escuela, personas mayores y Educación Física. ¿Qué revela la producción científica?

 

Rafael dos Santos Ignácio*

rafaignacio609@gmail.com

Rosecler Vendruscolo**

roven@ufpr.br

 

*Licenciado Universidade Federal do Paraná (UFPR)

e Bacharel Unicesumar em Educação Física

Pós-graduado em Personal Trainer pela Universidade Unicesumar

**Doutora em Educação Física pela UFPR

Professora do Departamento de Educação Física da (UFPR)

(Brasil)

 

Recepción: 08/10/2023 - Aceptación: 03/04/2025

1ª Revisión: 17/03/2025 - 2ª Revisión: 31/03/2025

 

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Cita sugerida: Ignácio, R. dos S., y Vendruscolo, R. (2025). Escola, Idosos e Educação Física: o que a produção científica revela? Lecturas: Educación Física y Deportes, 30(330), 216-229. https://doi.org/10.46642/efd.v30i330.7264

 

Resumo

    Este trabalho teve como objetivo identificar estudos que retratam a abordagem do tema do envelhecimento e da velhice no âmbito escolar e na Educação Física escolar. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizado no Portal de Periódicos CAPES/MEC e Google Acadêmico, utilizando os seguintes descritores: escola, idosos, Educação Física e intergeracionalidade. Foram selecionados 8 estudos publicados entre os anos de 2013 e 2022, evidenciando uma produção recente e ainda incipiente sobre a temática. Os trabalhos apresentam caráter interdisciplinar, com maior incidência nas áreas da Saúde -sobretudo Gerontologia, Enfermagem e Psicologia- e contribuições da Pedagogia, Sociologia e Antropologia. Entre os principais eixos temáticos investigados destacam-se: atitude, crenças, representações e práticas sociais sobre a velhice e a pessoa idosa; formação docente e elaboração de materiais pedagógicos; e práticas intergeracionais. Os estudos analisados apontam a persistência de preconceitos em relação à velhice e a necessidade de incluir a educação gerontológica nos currículos escolares, de forma transversal, para promover uma cultura de respeito, valorização e convivência entre gerações. Constatou-se, ainda, a ausência de produções específicas no campo da Educação Física, apesar do potencial da área para articular práticas corporais e reflexões críticas sobre o envelhecimento. Essa lacuna reforça a necessidade de ampliar investigações e aprofundar a discussão a partir do olhar dos professores de Educação Física, contribuindo para uma escola mais inclusiva e consciente diante do envelhecimento populacional.

    Unitermos: Escola. Professor. Educação Física. Pessoa idosa. Intergeracionalidade.

 

Abstract

    This study aimed to identify research addressing the theme of aging and old age within the school context and in Physical Education. It is an integrative literature review conducted through the CAPES/MEC Journals Portal and Google Scholar, using the following descriptors: school, elderly, Physical Education, and intergenerationality. Eight studies published between 2013 and 2022 were selected, highlighting a recent and still incipient body of work on the subject. The studies present an interdisciplinary character, with greater incidence in the fields of Health -especially Gerontology, Nursing, and Psychology- and contributions from Pedagogy, Sociology, and Anthropology. Among the main thematic axes investigated are: attitudes, beliefs, representations, and social practices regarding old age and the elderly; teacher education and the development of pedagogical materials; and intergenerational practices. The analyzed studies point to the persistence of prejudice against old age and the need to include gerontological education in school curricula, in a transversal way, in order to promote a culture of respect, appreciation, and coexistence between generations. It was also observed that there are no specific productions in the field of Physical Education, despite the area’s potential to articulate bodily practices and critical reflections on aging. This gap reinforces the need to expand research and deepen the discussion from the perspective of Physical Education teachers, contributing to a more inclusive and aware school in the face of population aging.

    Keywords: School. Teachers. Physical Education. Old person. Intergenerationality.

 

Resumen

    Este estudio tuvo como objetivo identificar investigaciones que abordan el tema del envejecimiento y la vejez en las escuelas y en la Educación Física. Se trata de una revisión bibliográfica integradora realizada en el Portal de Revistas CAPES/MEC y Google Académico, utilizando los siguientes descriptores: escuela, personas mayores, Educación Física e intergeneracionalidad. Se seleccionaron ocho estudios publicados entre 2013 y 2022, destacando la producción reciente y aún incipiente sobre el tema. Los estudios son de naturaleza interdisciplinaria, con un mayor enfoque en los campos de la Salud, especialmente Gerontología, Enfermería y Psicología, y contribuciones de Pedagogía, Sociología y Antropología. Las principales áreas temáticas investigadas incluyen: actitudes, creencias, representaciones y prácticas sociales sobre la vejez y los adultos mayores; formación docente y desarrollo de materiales didácticos; y prácticas intergeneracionales. Los estudios analizados destacan la persistencia de prejuicios sobre la vejez y la necesidad de incluir la educación gerontológica en los currículos escolares de forma transversal, para promover una cultura de respeto, valoración y convivencia intergeneracional. Además, se observó una falta de investigación específica en el campo de la Educación Física, a pesar del potencial del área para articular prácticas físicas y reflexiones críticas sobre el envejecimiento. Esta brecha refuerza la necesidad de ampliar la investigación y profundizar el debate desde la perspectiva del profesorado de Educación Física, contribuyendo a una escuela más inclusiva y consciente ante el envejecimiento de la población.

    Palabras clave: Escuela. Profesorado. Educación Física. Adultos mayores. Intergeneracionalidad.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 330, Nov. (2025)


 

Introdução 

 

    A preocupação em discutir sobre questões pertinentes ao envelhecimento humano, à velhice e à pessoa idosa no ambiente escolar ainda se encontra em estágios iniciais. A exploração desses temas com alunos de diferentes níveis da educação formal pode promover a reflexão sobre as implicações do envelhecimento, tanto socioculturais quanto biomédicas, na vida de pessoas idosas e de alunos de todas as idades. (Portelada et al., 2016)

 

    A escola é um campo potencial para ajudar a mudar estereótipos em relação as pessoas idosas e a velhice, destacando a importância do resgate de experiências passadas, da memória, a aquisição de conhecimento sobre o envelhecimento e o reconhecimento dos direitos dos mais velhos (Portelada et al., 2016; Whitaker, 2010). Ela tem a responsabilidade de abordar questões relacionadas ao preconceito etário, definido como idadismo (OPAS, 2022), e desempenhar um papel importante no entendimento e nas relações intergeracionais, contribuindo para uma melhor convivência entre as gerações (intergeracionalidade).

 

    Duas políticas públicas que tratam dos direitos desse segmento social no Brasil, a Política Nacional do Idoso (Brasil, 1994) e o Estatuto da Pessoa Idosa (Brasil, 2003; 2022), definem como idosas as pessoas com 60 anos ou mais. Essa idade cronológica também é garantida na Argentina pela Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos das Pessoas Idosas (Lei Nacional de Proteção Integral as Pessoas Idosas, nº 27.360) (Argentina, 2017). Essas legislações refletem uma crescente atenção social às necessidades desse grupo em diversas áreas. Uma área de interesse nessas leis é o papel que o sistema educacional formal pode desempenhar na disseminação de conhecimentos sobre o processo de envelhecimento, na redução de preconceitos etários e no estímulo às interações entre gerações, especialmente entre crianças, jovens e pessoas idosas.

 

    Além disso, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) também aborda essa questão, sugerindo a inclusão nos currículos escolares de temas contemporâneos que afetam a vida humana em diferentes níveis. Um desses temas é o envelhecimento humano e o respeito as pessoas idosas, que deve ser tratado de forma transversal e integradora nas escolas. (Brasil, 2018)

 

    Nesse contexto, surge a pergunta problema deste estudo: o que as escolas têm feito para atender às questões legais e sociais relacionadas as pessoas idosas? Especificamente em relação aos professores de Educação Física, a preocupação está voltada para sua formação para lidar com temas relevantes nas aulas, como o envelhecimento, a velhice e sua relação com as práticas corporais relacionadas à saúde, bem-estar e lazer. O objetivo desta pesquisa é identificar estudos que retratam a abordagem do tema do envelhecimento e da velhice no âmbito escolar e na Educação Física Escolar.

 

Método 

 

    Este estudo se caracteriza por ser uma revisão integrativa da literatura (Souza, Silva, e Carvalho, 2010). Para estabelecer o contexto para abordar o problema em questão, foi realizado um mapeamento da produção científica em duas bases de dados. A plataforma Portal de Periódicos CAPES/MEC foi escolhida devido à sua vasta coleção de periódicos, bases de dados e outros recursos acadêmicos. Além disso, o Google Acadêmico foi utilizado para abranger publicações que podem não estar presentes em bases indexadas pelo Portal de Periódicos da CAPES/MEC.

 

    A busca foi realizada utilizando combinações de palavras-chave, como "escola", "idoso*", "Educação Física" e "intergeracionalidade", empregando o operador booleano "AND". Para atender às diretrizes da Lei nº 14.423, de 22 de julho de 2022, que substitui a expressão "idoso" por "pessoa idosa", novas buscas foram feitas com essa terminologia. Em espanhol, as palavras-chave foram “escuela”, “persona mayor” e “Educación Fisica”. O mapeamento dos artigos foi realizado entre os dias 19 e 20 de outubro de 2022.

 

    Os critérios de inclusão dos estudos foram: artigos publicados entre 2013 e 2022, visando incorporar pesquisas recentes. Cabe esclarecer que, no Portal de Periódicos da Capes, a busca se restringiu ao período de 2013 a 2022. Artigos que não estavam alinhados com as palavras-chave e aqueles duplicados foram excluídos, assim como monografias, dissertações, teses e trabalhos apresentados em eventos. A seleção dos artigos foi realizada por meio da análise de títulos e resumos, conduzida por dois revisores.

 

    Devido à escassez de artigos sobre a interseção entre Educação Física, envelhecimento e ou velhice, optou-se por incluir estudos de outras áreas que abordam esses temas no contexto escolar. Acredita-se que esses estudos possam fornecer insights úteis aos professores de Educação Física para abordar o assunto na escola.

 

    Os artigos selecionados foram organizados para destacar as áreas de conhecimento e os temas de interesse. A leitura atenta e completa dos artigos selecionados permitiu identificar categorias temáticas relevantes que foram analisadas descritivamente.

 

Resultados 

 

    Após a aplicação dos critérios de exclusão, dos 2.406 estudos inicialmente encontrados nas duas bases de dados, foram selecionados 8 para análise nesta investigação. A seguir apresenta-se a distribuição dos achados dos estudos em cada uma das bases por palavras-chave e o número final de artigos selecionados.

 

Quadro 1. Processo de identificação e seleção dos estudos

Plataforma de busca

Combinação das palavras-chave

Artigos mapeados

Artigos selecionados

%

Portal de

Periódicos

da

CAPES

“Escola AND Idoso* AND Educação Física”

65

1

12,5

“Escola AND Idoso* AND Educação Física”

11

0

0

“Idoso* AND Intergeracionalidade”

30

1

12,5

“Pessoa Idosa* AND Intergeracionalidade”

11

0

0

“Escuela AND Persona Mayor AND Educación Física”

0

0

0

Google

Acaêmico

“Escola AND Pessoa Idosa* AND Educação Física”

992

0

0

“Pessoa Idosa* AND Intergeracionalidade”

190

1

12,5

“Pessoa Idosa* AND Intergeracionalidade AND Escola AND Educação Física”

110

0

0

“Idoso* AND Intergeracionalidade AND Escola AND Educação Física”

997

5

62,5

“Escuela AND Persona Mayor AND Educación Física”

0

0

0

Fonte: Elaboração própria

 

    O Quadro 2 evidência os autores, anos de publicação, títulos e áreas de conhecimento dos 8 artigos selecionados para este estudo. Para definir as áreas de conhecimento foram analisadas as bibliografias de cada um dos autores conforme citadas nos próprios trabalhos, e quando necessário, foram realizadas buscas no currículo dos autores dos artigos.

 

Quadro 2. Número do trabalho, autor(es), ano de publicação, título e área(s) dos estudos

Autor (es)

Ano

Título

Área de conhecimento

01

Albuquerque et al.

2013

Pensando a Gerontologia no Ensino Fundamental

Gerontologia, Farmacologia e Psicologia

02

Freitas et al.

2013

Velhice e pessoa idosa: representações sociais de adolescentes escolares.

Enfermagem e Gerontologia

03

Ferreira et al.

2015

A visão do envelhecimento, da velhice e do idoso veiculada por livros infanto-juvenis.

Enfermagem e Ciências da saúde

04

Mendes et al.

2017

Práticas intergeracionais e interdisciplinares na Educação. Um exemplo prático no Ensino Básico.

Pedagogia, Motricidade humana, Sociologia

05

Minó et al.

2017

Estigmas ao idoso: notas de uma pesquisa de campo em uma escola pública de Viçosa/Minas Gerais/Brasil.

Pedagogia e Antropologia

06

Yamashiro et al.

2020

Crianças e Velhice: Intergeracionalidade e Abordagem do Tema no Ensino Fundamental.

Terapia Ocupacional

07

Oliveira et al.

2022

A percepção de adolescentes sobre o envelhecimento, a velhice e o ser idoso.

Enfermagem

08

Santos et al.

2022

Treinamento em educação para o envelhecimento de professores da educação básica: um protocolo de revisão de escopo.

Psicologia e gerontologia

Fonte: Elaboração própria

 

    Os 2 primeiros trabalhos mapeados foram publicados no ano de 2013, representando 25% do total. Após um intervalo de 2 anos, foi publicado um novo estudo em 2015 (25%). Em 2017, observa-se um pequeno aumento na produção, com mais 2 estudos publicados (25%). Já em 2020, houve apenas uma publicação (12,5%), seguida por dois estudos em 2022 (25%), o que indica uma retomada do interesse pelo tema. Esses dados sugerem uma produção intermitente, com intervalos de tempo sem publicações, o que evidencia a necessidade de maior produção de forma a refletir o tema.

 

    Os trabalhos na sua maioria envolveram diferentes áreas de conhecimento, articulando três grandes eixos: saúde (Enfermagem, Terapia Ocupacional, Farmacologia e Gerontologia), a Pedagogia e as Ciências Humanas (Psicologia, Sociologia e Antropologia).

 

    O quadro evidencia que o tema envelhecimento, da velhice e da pessoa idosa, quando vinculado ao contexto escolar do ensino formal, é abordado de predominantemente de forma interdisciplinar. O maior número de produções encontra-se nas áreas de Gerontologia, Enfermagem e Psicologia (Albuquerque, e Cachioni, 2013; Freitas, e Ferreira, 2013; Ferreira et al., 2015; Oliveira et al., 2022; Santos, Faustin, e Cachioni, 2022), seja de maneira articulada ou isolada, ressaltando preocupações relacionadas à saúde, à percepção social de estudantes e à formação docente. Já áreas como Pedagogia, Sociologia e Antropologia (Mendes, Leandro, e Lopes, 2017; Minó, e Farias, 2017) contribuem para refletir sobre a formação/capacitação de professores e os aspectos socioculturais e de estigma. A Terapia Ocupacional (Yamashiro, Trindade, e Matsukura, 2020) e a Motricidade Humana (Mendes, Leandro, e Lopes, 2017) surgem em reflexões pautadas em práticas de intervenção voltadas ao contato entre crianças e idosos. A Farmacologia aparece em um estudo (Albuquerque, e Cachioni, 2013), centrado na capacitação de professores para o desenvolvimento da temática no ambiente escolar.

 

    Na sequência, apresenta-se um resumo de cada um dos artigos que compõem este estudo. Eles foram organizados conforme a convergência temática e a proximidade metodológica: 6 estudos abordam atitudes, crenças e representações acerca do envelhecimento, da velhice e do ser idoso (Freitas, e Ferreira, 2013; Ferreira et al., 2015; Minó, e Farias, 2017; Mendes, Leandro, e Lopes, 2017; Yamashiro, Trindade, e Matsukura, 2020; Oliveira et al., 2022) e 2 estudos tratam da formação/capacitação de professores. (Albuquerque, e Cachioni, 2013; Santos, Faustin, e Cachioni, 2022)

 

    Freitas, e Ferreira (2013) buscaram entender as representações sociais de alunos do ensino médio, de uma escola pública da cidade de Fortaleza, sobre a pessoa idosa e a velhice. A técnica utilizada foi a evocação livre de palavras, com os termos indutores “velhice” e “pessoa idosa”. As representações de 172 alunos, de 10 a 19 anos, caracterizaram a velhice e a pessoa idosa com aspectos positivos e negativos, baseado em fatores físicos, psicológicos e sociais. Também, Minó, e Farias (2017) exploraram as representações de crianças e adolescentes sobre o envelhecimento e estigmas ligados à velhice. A pesquisa foi realizada em uma escola pública de Viçosa/MG, por meio de grupos focais com alunos do 4º ao 9º ano. As percepções dos alunos são predominantemente negativas sobre a velhice (dependência, ociosidade e incapacidade), com qualificações positivas associadas à experiência de vida, sabedoria e capacidade para dar bons conselhos, assim como a uma longevidade ativa e com relações intergeracionais. A pesquisa revelou que a temática não é trabalhada na escola. Ainda, Oliveira et al. (2022) visaram conhecer a percepção de adolescentes de uma escola de Ensino Fundamental em um município do Rio Grande do Sul sobre envelhecimento, velhice e o ser idoso. Foi realizada entrevista individual com 18 adolescentes, de 10 a 13 anos. Os achados mostraram que o envelhecimento é visto com características positivas (amadurecimento e experiência) e negativas (dependência física e emocional). A velhice é entendida como a fase final da vida, e o idoso é projetado com uma visão estereotipada.

 

    O estudo de Ferreira et al. (2015), analisou a visão do envelhecimento e da velhice veiculada por livros infanto-juvenis que incluam cenários de pessoas idosas. Os livros abordam questões reais próprias da velhice, como conhecimento e a experiência de vida, intergeracionalidade e a autorrealização, mas também perpetuam aspectos negativos, como isolamento social e estereótipos (velhinho(a) bonzinho(a) ou mal-humorado(a) e rabugento(a)).

 

    Já Mendes, Leandro, e Lopes (2017), analisaram os efeitos de uma intervenção educativa intergeracional e interdisciplinar no desempenho escolar dos alunos e em suas atitudes perante a pessoa idosa. Foram desenvolvidas práticas intergeracionais e integradas com 20 alunos e 8 pessoas idosas. Os resultados evidenciaram melhorias nas notas dos alunos e atitudes mais positivos em relação à pessoa idosa e à velhice, ao promover a sua compreensão e respeito sobre as dificuldades e potencialidades especificas das pessoas idosas. Para as pessoas idosas o estudo mostrou melhoras no seu suporte emocional e na sua convivialidade. No seu estudo, Yamashiro, Trindade, e Matsukura (2020) objetivaram compreender sobre a convivência e os relacionamentos intergeracionais entre crianças do ensino fundamental e pessoas idosas, identificando possíveis práticas escolares voltadas ao tema. Um questionário foi realizado com 20 alunos, de 7 a 11 anos, em uma escola do município de São Paulo. As crianças convivem principalmente com os avós ou pessoas idosas do próprio grupo familiar. As crianças mais velhas relataram dificuldades no convívio e relacionamento com pessoas idosas.

 

    Apresenta-se na sequência a síntese dos 2 estudos veiculados a capacitação de professores para trabalhar com o assunto. O objetivo do estudo de Albuquerque, e Cachioni (2013) foi identificar e sugerir conteúdos para desenvolver a temática do envelhecimento nas escolas. As entrevistas com coordenadoras de cursos de graduação e pós-graduação em Gerontologia, do Estado de São Paulo, possibilitaram identificar os conteúdos, sendo alguns sugeridos: velhice dentro do ciclo da vida: reflexão sobre crenças e estereótipos; processo de envelhecimento: características biológicas e suas implicações; interação intergeracional: o que os alunos podem ensinar às pessoas idosas e vice-versa; qualidade de vida na velhice: reflexões sobre alimentação, exercícios físicos e o convívio social. Os programas de treinamento de educação para o envelhecimento podem oferecer suporte aos professores na abordagem dos conteúdos, promovendo uma visão mais respeitosa sobre a velhice. O estudo de Santos, Flaustin, e Cachioni (2022) objetivou estabelecer um protocolo de revisão de escopo para mapear evidências de treinamento em educação para o envelhecimento destinado a professores da educação básica. Para as autoras a escola é um local estratégico para trabalhar a educação para o envelhecimento, preparando alunos e professores para respeitar e valorizar as pessoas idosas, evitando negligências nos ambientes de saúde, social e familiar. O estudo ainda não foi realizado, e os resultados serão apresentados em um futuro relatório da pesquisa.

 

Discussão 

 

    A análise da distribuição temporal dos 8 estudos publicados entre 2013 e 2022 revela um interesse relativamente recente e ainda esparso sobre o tema do envelhecimento e da velhice no contexto escolar. Considerando que, em um período de 10 anos, foram identificados apenas 8 trabalhos voltados a essa temática, é possível inferir que a produção de pesquisas sobre o assunto permanece reduzida, indicando uma lacuna na abordagem do envelhecimento a partir do viés da educação escolar. Nesse mesmo sentido, Varoto, Silva, e Semensato (2024) também identificaram um número restrito de produções sobre o envelhecimento, a educação básica e estudantes.

 

    No que se refere às áreas de conhecimento, observa-se que a produção científica sobre envelhecimento e velhice no contexto escolar apresenta caráter predominantemente interdisciplinar. Destacam-se as áreas da Saúde -especialmente Gerontologia, Enfermagem e Psicologia, pelo maior volume de estudos-, às quais se somam, de forma pontual, Terapia Ocupacional, Motricidade Humana e Farmacologia. Também contribuem as áreas da Pedagogia, Sociologia e Antropologia, que problematizam a importância das práticas intergeracionais no ambiente escolar, discutindo estigmas e estratégias de capacitação docente. Os principais eixos investigados concentram-se em: (1) atitudes, crenças, representações e práticas sociais sobre a velhice e a pessoa idosa, analisando como alunos, professores e a comunidade escolar percebem e se relacionam com o envelhecimento, inclusive em obras literárias; e (2) formação/capacitação de professores da Educação Básica e elaboração de materiais pedagógicos, com ênfase na necessidade de preparar melhor os educadores para trabalhar a temática em sala de aula.

 

    Essas produções dialogam diretamente com os marcos legais que reconhecem a relevância de incluir o tema no ambiente escolar. A Política Nacional do Idoso (Brasil, 1994), em seu Art. 10, estabelece que currículos, metodologias e materiais didáticos sejam adaptados aos programas educacionais voltados à população idosa e recomenda a inserção de conteúdos relacionados ao envelhecimento nos currículos escolares, com o objetivo de combater preconceitos e ampliar o conhecimento sobre a temática. O Estatuto da Pessoa Idosa (Brasil, 2003) e a Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2018) reforçam a necessidade, ao prever a inclusão de conteúdos sobre envelhecimento, respeito e valorização da pessoa idosa, visando eliminar estereótipos e promover mudanças nas atitudes negativas em relação à velhice. Muito antes desses marcos, a Constituição Federal de 1988, em Art. 230, já assegurava a proteção e valorização do idoso, o que evidencia que o tema está amparado por dispositivos legais, mas ainda pouco se materializa em práticas escolares. (Chiarelli, e Batistoni, 2022)

 

    Os achados reforçam a importância da educação gerontológica, entendida como um processo de empoderamento e de desconstrução de estigmas (Albuquerque, e Cachioni, 2013). Nessa perspectiva, o contato precoce com a temática pode favorecer reflexões críticas dos estudantes sobre o próprio envelhecimento e sobre a convivência com o outro (Portelada et al, 2016). Na mesma direção, Alves, e Viana (2010) defendem que políticas públicas voltadas à educação gerontológica priorizem relações intergeracionais por meio de ações contínuas e integradas às disciplinas escolares, tratadas como temas transversais e articuladas à vida cultural da sociedade.

 

    A análise dos artigos revela uma preocupação comum com preconceitos e estereótipos associados à velhice, sugerindo que esses preconceitos podem ser desconstruídos mediante práticas educativas. Contudo, verificou-se a escassez de ações concretas sobre o tema nas escolas e um distanciamento entre as pessoas idosas e a comunidade escolar. Diante disso, corrobora-se com as sugestões dos autores quanto à necessidade de: 1) incluir a educação gerontológica nos currículos escolares, incorporando conteúdos relacionados ao envelhecimento como temas transversais em todas as disciplinas, promovendo uma compreensão mais ampla e empática; 2) oferecer cursos e treinamentos específicos para professores, capacitando-os a abordar o tema do envelhecimento de modo sensível e eficaz. Professores bem preparados podem ajudar a combater estereótipos e promover uma visão mais realista da velhice; 3) desenvolver políticas públicas que incentivem a educação gerontológica e a elaboração de materiais didáticos específicos; 4) promover relações intergeracionais no ambiente escolar, valorizando as contribuições de cada geração; 5) estimular reflexões sobre qualidade de vida e envelhecimento saudável, contemplando aspectos como alimentação, atividade física e convivência social. Tais medidas não apenas ampliam a percepção dos estudantes sobre o envelhecimento, mas também preparam as novas gerações para uma convivência mais respeitosa e enriquecedora com as pessoas idosas, contribuindo para uma sociedade mais inclusiva e consciente.

 

    Apesar disso, observa-se que a Educação Física ainda carece de estudos específicos que abordem o envelhecimento e a inclusão de pessoas idosas em atividades escolares, seja como alunos, seja como participantes de programas de educação intergeracional ou de promoção do um envelhecimento saudável. Trata-se de uma área em que praticamente não há produções específicas voltadas ao contexto da educação escolar formal. No entanto, o professor de Educação Física, ao articular práticas corporais e atividades físicas à educação para o envelhecimento saudável e à reflexão crítica sobre preconceitos e estereótipos relacionados à velhice, pode contribuir para sensibilizar crianças, adolescentes, colegas docentes, equipe pedagógica e gestores. Essa abordagem amplia as possibilidades de reflexão não apenas sobre o envelhecimento individual, mas também sobre problemáticas socioculturais que envolvem essa etapa da vida, especialmente no que se refere ao respeito e à valorização da pessoa idosa.

 

Conclusões 

 

    Os achados desta revisão da literatura indicam que a produção científica sobre o envelhecimento, a velhice e as pessoas idosas no contexto escolar é ainda reduzida e recente, evidenciando uma lacuna que reforça a necessidade de maior aprofundamento do tema. As pesquisas analisadas apresentam caráter predominantemente interdisciplinar, com maior presença das áreas da Saúde -sobretudo Gerontologia, Enfermagem e Psicologia-, às quais se somam, de forma pontual, Terapia Ocupacional, Motricidade Humana e Farmacologia. Os estudos concentram-se em percepções e representações sociais sobre a velhice, formação docente, produção de material pedagógico e práticas intergeracionais. Também contribuem as áreas da Pedagogia, Sociologia e Antropologia, que problematizam estigmas e destacam a importância da convivência entre gerações no espaço escolar.

 

    Particularmente, observa-se a ausência de produções específicas na Educação Física, apesar do potencial dessa área para articular práticas corporais e reflexões críticas sobre envelhecimento, respeito e valorização da pessoa idosa. Ampliar investigações nesse campo pode fortalecer a formação inicial e continuada de professores, sistematizar práticas pedagógicas e estimular estudos que articulem teoria e intervenção, contribuindo para uma cultura escolar mais inclusiva e consciente sobre o envelhecimento.

 

    Como limitação, ressalta-se que a busca bibliográfica pode não ter contemplado toda a produção disponível, uma vez que diferentes bases de dados e combinações de descritores poderiam ampliar os resultados. Recomenda-se, portanto, a realização de novas investigações que utilizem estratégias de busca mais abrangentes e diversificadas.

 

    Em síntese, os resultados reforçam a urgência de investir em estudos e práticas que fortaleçam a educação gerontológica no contexto escolar, ampliando a formação de professores e promovendo uma cultura de respeito, valorização e convivência entre gerações.

 

Referências 

 

Albuquerque, M.S., e Cachioni, M. (2013) Pensando a Gerontologia no Ensino Fundamental. Revista Kairós Gerontologia. São Paulo, 16(5), 141-163. https://doi.org/10.23925/2176-901X.2013v16i3p141-163

 

Alves, V.P., e Vianna, L.G. (2010). Políticas públicas para a educação gerontológica na perspectiva da inserção social do idoso: desafios e possibilidades. Ensaio: aval. pol. públ. Educ. Rio de Janeiro, 18(68), 489-510. https://doi.org/10.1590/S0104-40362010000300005

 

Argentina (2017). Convención Interamericana sobre Protección de los Derechos Humanos de las Personas Mayores, Ley N° 27.360. Honorable Congreso de la Nación Argentina. https://www.argentina.gob.ar/normativa/nacional/ley-27360-275347

 

Brasil (1994). Lei n. 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a política nacional do idoso, cria o conselho nacional do idoso e dá outras providências. Presidência da República. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8842.htm

 

Brasil (2003). Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o estatuto do idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 30, Núm. 330, Nov. (2025)