Comportamento da qualidade de vida em pacientes internados com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica

Behavior of quality of life in hospitalized patients with Chronic Obstructive Pulmonary Disease

Comportamiento de la calidad de vida en pacientes internados con Enfermedad Pulmonar Obstructiva Crónica

 

Felipe Hübner*

felipe_hubner@hotmail.com

Camila Tres Dal Puppo***

camiladalpuppo@hotmail.com.br

Débora D'Agostini Jorge Lisboa***

debydj@yahoo.com.br

 

*Fisioterapeuta. Graduada pela Universidade de Passo Fundo (UPF)

Fisioterapeuta da Clínica Reabilitare, Passo Fundo – RS

**Fisioterapeuta. Graduada pela Universidade de Passo Fundo (UPF)

Curso Pilates básico

***Fisioterapeuta. Graduada pela Universidade de Passo Fundo (UPF)

Especialista em Fisioterapia com ênfase em Terapia Intensiva

pelo Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre - RS. Mestre

em Envelhecimento Humano pela Universidade de Passo Fundo (UPF)

Atua como Fisioterapeuta no Hospital da Cidade (HC), Passo Fundo - RS

Coordenadora e Preceptora do Programa de Residência Multiprofissional

Integrada em Cardiologia no Hospital da Cidade (HC), Passo Fundo - RS

Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo (UPF)

Passo Fundo - RS

(Brasil)

 

Recepção: 07/07/2018 - Aceitação: 17/03/2019

1ª Revisão: 05/03/2019 - 2ª Revisão: 07/03/2019

 

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

 

Resumo

    Introdução: a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) tem como característica o comprometimento do fluxo aéreo na árvore brônquica, desenvolvendo sintomas variáveis, tais como expectoração, dispneia e tosse. Tais sintomas da DPOC comprometem a funcionalidade e a vida social dos indivíduos, limitando suas atividades da vida diária podendo assim afetar sua qualidade de vida. Objetivo: Avaliar o comportamento da qualidade de vida desses pacientes hospitalizados. Metodologia: Este foi um estudo transversal e analítico composto por 18 indivíduos com DPOC, de ambos os sexos e com idade superior a 30 anos. Foram utilizados um questionário específico (SGRQ) e um questionário geral (SF-36), para determinação da qualidade de vida dos indivíduos com DPOC. Resultados: Dos 18 indivíduos, n=9 (50%) eram do sexo feminino. Os valores de média e desvio padrão, do questionário SF-36, envolvendo todos os indivíduos, apresentaram os seguintes valores: 37,50 ± 31,30 capacidade funcional; 15,28 ± 22,91 limitação por aspectos físicos; 47,00 ± 24,88 dor; 52,83 ± 26,60 estado geral de saúde; 50,28 ± 20,68 vitalidade; 50,69 ± 27,27 aspectos sociais; 42,59 ± 40,91 limitação por aspectos emocionais, 64,94 ± 29,12 saúde mental. Ao comparar os gêneros, foi observado diferença estatisticamente significativa na qualidade de vida dos indivíduos do gênero feminino, especialmente nos domínios de capacidade funcional (p < 0,005), estado geral de saúde (p < 0,029) e saúde mental (p < 0,033). Conclusão: Conclui-se com o presente estudo que a DPOC causa impacto negativo na qualidade de vida relacionada à saúde de indivíduos de ambos os gêneros, porém as mulheres sofrem um impacto maior nos domínios de capacidade funcional, estado geral de saúde e saúde mental.

    Unitermos: Qualidade de vida. DPOC. Questionário.

 

Abstract

    Introduction: Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD) is characterized by airflow compromise in the bronchial tree, developing variable symptoms, such as sputum, dyspnea and cough. Such symptoms of COPD compromise the functionality and social life of individuals, limiting their activities of daily living and thus affecting their quality of life. Objective: The objective is to evaluate the behavior of the quality of life in these hospitalized patients. Methodology: This was a cross sectional and analytical study composed of 18 individuals with COPD, of both genders over 30 years of age. A specific questionnaire (SGRQ) and a general questionnaire (SF-36) were used to determine the quality of life of COPD individuals. Results: Of the 18 individuals, n = 9 (50%) were female gender. The mean and standard deviation of the SF-36 questionnaire, involving all subjects, presented the following values: 37.50 ± 31.30 physical functioning, 15.28 ± 22.91 role limitations due to physical health, 47.00 ± 24.88 pain, 52.83 ± 26.60 general health, 50.28 ± 20.68 energy, 50.69 ± 27.27 social functioning, 42.59 ± 40.91 role limitations due to emotional problems, 64, 94 ± 29.12 emotional well-being. When comparing genders, a statistically significant difference was observed in the quality of life of female subjects, especially in the scale of physical functioning (p < 0,005), general health (p < 0,029) and emotional well-being (p < 0,033). Conclusion: It was concluded with the present study that COPD has a negative impact on the health-related quality of life of individuals of both genders, but women have a greater impact in the scale of physical functioning, general health and emotional well-being.

    Keywords: Quality of life. COPD. Questionnaire.

 

Resumen

    Introducción: La Enfermedad Pulmonar Obstructiva Crónica (EPOC) tiene como característica el compromiso del flujo aéreo en el árbol bronquial, desarrollando síntomas variables, tales como expectoración, disnea y tos. Tales síntomas de la EPOC comprometen la funcionalidad y la vida social de los individuos, limitando sus actividades de la vida diaria pudiendo así afectar su calidad de vida. Objetivo: Evaluar el comportamiento de la calidad de vida de estos pacientes hospitalizados. Metodología: Este fue un estudio transversal y analítico compuesto por 18 individuos con EPOC, de ambos sexos y con edad superior a 30 años. Se utilizó un cuestionario específico (SGRQ) y un cuestionario general (SF-36), para determinar la calidad de vida de los individuos con EPOC. Resultados: De los 18 individuos, n = 9 (50%) eran del sexo femenino. Los valores de media y desviación estándar, del cuestionario SF-36, involucrando a todos los individuos, presentaron los siguientes valores: 37,50 ± 31,30 capacidad funcional; 15,28 ± 22,91 limitación por aspectos físicos; 47,00 ± 24,88 dolor; 52,83 ± 26,60 estado general de salud; 50,28 ± 20,68 vitalidad; 50,69 ± 27,27 aspectos sociales; 42,59 ± 40,91 limitación por aspectos emocionales, 64,94 ± 29,12 salud mental. Al comparar los géneros, se observó una diferencia estadísticamente significativa en la calidad de vida de los individuos del género femenino, especialmente en los ámbitos de capacidad funcional (p <0,005), estado general de salud (p <0,029) y salud mental (p <0,033). Conclusión: Se concluye con el presente estudio que la EPOC causa un impacto negativo en la calidad de vida relacionada con la salud de individuos de ambos géneros, pero las mujeres sufren un mayor impacto en los ámbitos de capacidad funcional, estado general de salud y salud mental.

    Palabras clave: Calidad de vida. EPOC. Cuestionario.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 251, Abr. (2019)


 

Introdução

 

    A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma doença que tem como característica a limitação do fluxo aéreo e a inflamação das vias aéreas. A limitação do fluxo aéreo é na maioria das vezes progressiva, geralmente associada à resposta inflamatória pela inalação de substâncias tóxicas e gases nocivos que acabam comprometendo os pulmões. Essa doença é típica da fase adulta, e geralmente acomete indivíduos com histórico de consumo de tabaco por longos períodos. Vagarosamente a exposição aos agentes nocivos causam sintomas frequentes associados à doença como dispneia, tosse, produção de escarro, intolerância ao exercício, que se associam a depressão e ansiedade (Buss, 2009; Camelier, 2006). Segundo Rufino e Costa (2013) o tabagismo é a principal causa de DPOC.

 

    As alterações fisiológicas pulmonares decorrentes da doença geram impacto na qualidade de vida e no bem-estar dos indivíduos, e limitação da realização das atividades de vida diária (Camelier, 2006; Erzinger, 2012). A descrição do conceito qualidade de vida não tem sua definição concreta, através de um estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) onde reuniram especialistas de várias partes do mundo para definir o conceito qualidade de vida, chegando a um consenso de que “é a percepção do indivíduo sobre sua posição na vida, em relação à cultura que ele vive os valores que ele prega e em relações aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações sobre a vida”. Portanto, pode-se entender que o nível de qualidade de vida varia de acordo com as necessidades existentes (WHOQOL GROUP, 1994).

 

    De certa forma nenhuma medida pode descrever precisamente quais são os impactos e a gravidade da DPOC na vida dos indivíduos, no entanto atualmente avaliar a qualidade de vida se tornou um componente essencial para medir o impacto da doença nos domínios físico e mental, sendo útil na elaboração e eficácia do tratamento (Buss, 2009; Ståhl, 2005).

 

    Para auxiliar na melhora da compressão das QVRS foram elaborados questionários para estimar as alterações de saúde aferidas pelo ponto de vista dos indivíduos. Esses questionários retratam uma tentativa de tentar compreender o impacto da patologia na vida desses sujeitos. O questionário mais aplicado para avaliar a qualidade de vida é o Medical Outcomes Study 36 - item Short Form Health Survey (SF-36). O SF-36 tem sua versão validada e traduzida para o português brasileiro (Jardim, 2000).

 

    Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo avaliar o comportamento da qualidade de vida desses pacientes hospitalizados.

 

Método

 

    O delineamento do estudo foi transversal e descritivo. A população do estudo foi composta por 31 indivíduos, de ambos os sexos, internados no Hospital de Clínicas de Passo Fundo, localizado no município de Passo Fundo (RS), com diagnóstico médico de DPOC, durante o período de agosto a setembro de 2017. A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade de Passo Fundo do Conselho Nacional de saúde 466/12. e pelo Ensino sob o parecer n° 2.186.945 e pelo setor de ensino e pesquisa do Hospital de Clínicas de Passo Fundo.

 

    Os critérios de inclusão do estudo foram: indivíduos com diagnóstico médico de DPOC, de ambos os sexos, com idade acima de 30 anos, capazes de compreender e assinar o termo de consentimento livre esclarecido (TCLE) e que aceitaram participar do estudo. Como critérios de exclusão adotaram-se indivíduos traqueostomizados, com sequelas neurológicas, oncológicos graves, e que não estivessem lúcidos ou orientados impossibilitando-os de responder os questionários.

 

    Após aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de Passo Fundo e da instituição, os indivíduos foram esclarecidos sobre os procedimentos do estudo e assinaram o TCLE informado a respeito da pesquisa.

 

    Durante os meses do estudo, foram avaliados 31 indivíduos com diagnóstico médico de DPOC. Deste, 13 indivíduos foram excluídos da amostra por entrarem nos critérios de exclusão da pesquisa.Fizeram parte do estudo 18 sujeitos todos com DPOC e ambos os sexos, alguns indivíduos nesta internação estavam internados por outros motivos. Os 13 indivíduos que não participaram da pesquisa foram excluídos por não enquadrar-se nos critérios de inclusão.

 

    Todos os indivíduos passaram por uma entrevista individual, realizada por dois entrevistadores para coleta de dados sociodemográficos e clínicos que compreendiam a idade, sexo e os seguintes dados clínicos: tempo de internação, presença de comorbidade, duração da doença em anos, tempo de tabagismo em anos, tabagista ou ex-tabagista.Em seguida no mesmo dia foi aplicado os questionários de qualidade de vida SF-36, traduzido e validado para uso no Brasil, estes foram aplicados no mesmo dia pelos mesmos dois entrevistadores.

 

    O questionário SF-36 é composto por 36 questões, ambas com valores diferentes e subdividas em 8 domínios, sendo eles: capacidade funcional, limitação por aspectos físicos, dor, estado geral da saúde, vitalidade, aspectos sociais, limitações por aspectos emocionais e saúde mental. Esses domínios podem ser divididos em dois grandes grupos: componente físico e o componente mental. O valor de cada questão é calculado e vária de 0 a 100, os valores mais altos compreendem a uma melhor QVRS, e os menores valor próximo a ZERO corresponde a um pior estado de saúde. (Jardim, 2000; Britto, 2002)

 

    Os testes realizados para chegar aos presentes resultados foram, estatística descritiva para descrever a amostra, teste t de amostra independentes para comparar os grupos.

 

Resultados

 

    Entre os 18 indivíduos entrevistados, n=9 (50%) eram do gênero feminino. Desses 18 indivíduos n=3 (16,7%) tinham a idade entre 56 a 59 anos, n=6 (33,3%) entre 60 a 69 anos, n=9 (50%) acima de 70 anos. Essas e as demais informações a respeito das características clínicas dos indivíduos são mostrados na Tabela 1.

 

Tabela 1. Caracterização da amostra

Variáveis

N

%

Sexo

 

 

Masculino

09

50,0

Feminino

09

50,0

Faixas etárias

 

 

50-59 anos

03

16,7

60-69 anos

06

33,3

70 anos ou mais

09

50,0

Tempo de diagnóstico de DPOC

 

 

Menos de 1 ano

4

22,2

2-6 anos

4

22,2

7-15anos

3

16,7

+16 anos

7

38,9

Tempo de internação

 

 

Menos de 6 dias

9

50,0

7-14 dias

5

27,8

15-30 dias

4

22,2

Fonte: elaborado pelos autores; Legenda: N = valor absoluto; % valor relativo

 

    Através da entrevista feita pelo questionário SF-36 a amostra apresentou os seguintes resultados, capacidade funcional 37,50 ± 31,30; limitação por aspectos físicos 15,28 ± 22,91; dor 47,00 ± 24,88; estado geral de saúde 52,83 ± 26,60; vitalidade 50,28 ± 20,68; aspectos sociais 50,69 ± 27,27; limitação por aspectos emocionais 42,59 ± 40,91; saúde mental 64,94 ± 29,12; demonstrando que ambos os sexos apresentam impacto negativo na qualidade de vida, os resultados que mais chamam a atenção são principalmente nos domínios de limitação por aspecto físico e capacidade funcional, como demonstra a Tabela 2.

 

Tabela 2. Qualidade de vida

Domínio

Representação

Capacidade funcional

37,50 ± 31,30

Limitação por aspectos físicos

15,28 ± 22,91

Dor

47,00 ± 24,88

Estado geral de saúde

52,83 ± 26,60

Vitalidade

50,28 ± 20,68

Aspectos sociais

50,69 ± 27,27

Limitação por aspectos emocionais

42,59 ± 40,91

Saúde mental

64,94 ± 29,12

Fonte: elaborado pelos autores; Legenda: média ± desvio padrão

 

    Apesar de ambos os gêneros apresentarem valores baixos na QVRS, através do questionário SF-36, podemos observar na Tabela 3 valores estatisticamente significativo na qualidade de vida no gênero feminino nos domínios de capacidade funcional (p < 0,005), estado geral de saúde (p < 0,029) e saúde mental (p < 0,033).

 

Tabela 3. Comparação dos domínios da qualidade de vida em relação ao sexo

Domínio

Homens

Mulheres

Valor de p

Capacidade funcional

57,22 ± 30,83

17,78 ± 16,02

0,005*

Limitação por aspectos físicos

22,22 ± 29,16

8,33 ± 12,50

0,216

Dor

56,56 ± 29,93

37,44 ± 14,62

0,112

Estado geral de saúde

66,22 ± 19,34

39,44 ± 26,95

0,029*

Vitalidade

55,00 ± 17,32

45,56 ± 23,64

0,349

Aspectos sociais

59,72 ± 32,94

41,66 ± 17,67

0,167

Limitação por aspectos emocionais

55,55 ± 44,09

29,63 ± 35,13

0,187

Saúde mental

79,22 ± 19,29

50,67 ± 31,17

0,033*

Fonte: elaborado pelos autores; Legenda: média ± desvio padrão; * = diferença estatística

 

Discussão

 

    Tanto a literatura nacional, como internacional concorda que o DPOC tem impacto negativo na qualidade de vida relacionada à saúde na maioria dos indivíduos. Porém a forma de avaliação e os fatores que influenciam a doença, ainda geram controvérsias (Erzinger, 2012; Esteves, 2010; Barros et al., 2014; Torres, 2005; Pereira, 2009).

 

    A maioria dos artigos científicos relata que o gênero masculino é mais acometido pela doença pulmonar obstrutiva crônica, mesmo o número de acometimentos sendo maior em homens, a mortalidade em mulheres tem aumentado aceleradamente, da mesma forma que a tabagismo vem se tornando mais frente em mulheres em grande parte do mundo. Neste estudo não houve predominância de gênero, sendo que a amostra estudada foi composta com 50% de indivíduos de ambos os sexos, discordando dos estudos de Esteves (2010), Barros et al. (2014), e Pagani (2008) onde houve predominância do sexo masculino (Esteves, 2010; Barros et al., 2014; Mangueira, 2009; Pagani, 2008).

 

    Em relação a idade dos indivíduos, observou-se nesta amostra predomínio de indivíduos com mais de 70 anos, corroborando com o estudo de Esteves (2010) e Cordeiro et al., (2012). Segundo a literatura o impacto negativo na qualidade de vida pode ser maior com o aumento da idade, devido a progressão da doença e outros fatores limitantes do processo de envelhecimento e devido ao aumento da população idosa no mundo o DPOC pode vir a se tornar umas das principais causas de óbito (Esteves, 2010; Ståhl, 2005).

 

O presente estudo teve como principal objetivo avaliar a qualidade de vida de indivíduos com DPOC e comparar com os gêneros, através do questionário Medical Outcomes Study 36- item Short Form Health Survey (SF-36).

 

    Num estudo realizado por (Pagani, 2008), no qual também fui utilizado o SF-36 para avaliar a qualidade de vida em indivíduos com DPOC, com a amostra composta por 21 indivíduos, sendo oito mulheres, e idade variando entre 48 a 86 anos, apresentaram resultados semelhantes ao presente estudo em relação ao resultado no questionário SF-36, em ambos os estudos os piores resultados estavam presentes nos domínios de limitação por aspecto físico e capacidade funcional.

 

    Outro estudo encontrado na literatura, que foi realizado por (Esteves, 2010), também teve o objetivo de avaliar a qualidade de vida na DPOC, esse estudo apresentava uma amostra de 17 homens e 3 mulheres, com idade de 71,45 ± 7,21. O mesmo autor utilizou o questionário SF-36 e outras ferramentas para avaliar as QVRS, apesar de o estudo ter obtido resultados diferentes do atual estudo, ainda sim, foi possível observar declínio na qualidade de vida, e com considerável diminuição da capacidade funcional, porém no estudo de Esteves a capacidade funcional foi o terceiro domínio com pior resultado, atrás apenas dos domínios de estado geral da saúde e vitalidade. Ressaltando mais uma vez que o questionário depende da própria percepção do indivíduo sobre sua saúde.

 

    Em relação aos gêneros, observamos na Tabela 3, uma diferença estatística significativa na qualidade de vida das mulheres nos domínios de capacidade funcional, estado geral de saúde e saúde mental. Outros estudos foram realizados a fim de comparar o gênero com a qualidade de vida de indivíduos DPOC, entretanto até o presente momento não foi possível encontrar na literatura estudo que tenho usado o questionário SF-36 com o objetivo de avaliar a qualidade de vida e comparar com o gênero, porém alguns estudos fizeram uso do questionário específico para doença pulmonar, o Saint George's Respiratory Questionnaire (SGRQ), e observaram em ambas pesquisas que as mulheres apresentaram uma piora da QVRS, porém ainda é necessário mais estudos, para confirmação destes resultados (Torres, 2005; Barros et al., 2014).

 

    O estudo de Barros et al. (2014), teve como objetivo relacionar a qualidade de vida em indivíduos com DPOC em relação ao gênero, além de envolver outros fatores físicos, funcionais, psicológicos e civis. No estudo participaram 45 homens (69,2%) e 20 mulheres (30,8%), totalizando 65 indivíduos com medias de idades 67 ± 10,2 anos. O estudo utilizou o questionário SGRQ, no qual os homens apresentaram 51,2 (20,8%) no domínio sintomas, 47,2 (24,8%) em domínio atividade, 31,5 (24,3%) em impacto e 39,8 (21,5%) em total, as mulheres apresentaram os seguintes resultados 56,9 (17,7%) nos sintomas, 63,7 (18,5 %) em atividade, 45,3 (21,5%) no impacto, e total de 53 (16,5%). As mulheres demonstraram uma diferença estatística significativa quando comparada aos homens, apresentando uma pior QVRS, lembrando que quanto maior o resultado do questionário SGRQ, pior é qualidade de vida.

 

    Com base nos estudos citados acima, é possível justificar os baixos resultados das mulheres, nos domínios de capacidade física e limitações por aspectos físicos, do questionário SF-36. Devido as mulheres serem mais propensas do que os homens a desenvolver depressão, sendo possível ter influência no resultado do domínio saúde mental, e segundo a literatura, tal distúrbio psicológico pode influenciar no aspecto funcional do indivíduo (Torres, 2005; Barros, 2014; Barbosa, 2011). No estudo de Torres et al. (2018) observaram que entre os homens, houve a diminuição do risco por morte por DPOC em Porto Alegre e Rio de Janeiro, enquanto para as mulheres houve aumento do risco no Rio de Janeiro.

 

Conclusão

 

    Através do presente estudo podemos concluir que a doença pulmonar obstrutiva crônica tem impacto negativo na qualidade de vida, principalmente no gênero feminino, nos domínios de saúde mental, capacidade funcional e estado geral da saúde.

 

    Tais resultados permitem ressaltar a importância da atenção na qualidade de vida dos pacientes pneumopatas crônicos, tanto no ambiente hospitalar, clínico ou domiciliar.Para tanto, necessita mais estudos, com uma amostra mais homogêneas e novos delineamentos.

 

Referências

 

    Barros, M., Guimarães, F., e Souza, J.C. (2014). Fatores Determinantes da Qualidade de Vida Numa População de Doentes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica. Rev. Port Med Geral Fam, 30:156-66.

 

    Barbosa, F., Macedo, P.C., e Silveira, R.M.C. (2011). Depressão e o Suicídio. Rev. SBPH, 14(1), 233-243.

 

    Britto, R.R., Santos, C.F., e Bueno, F.F. (2002). Reabilitação pulmonar e qualidade de vida dos pacientes portadores de DPOC. Rev Fisioter Univ, 9(1),9-16.

 

    Buss, A.S., e Silva, L.M.C. (2009). Estudo comparativo entre dois questionários de qualidade de vida em pacientes com DPOC. J Bras Pneumol, 35(4): 318–24.

 

    Camelier, A., Rosa, F.W., Salim, C., Nascimento, O.A., Cardoso, F., e Jardim, J.R. (2006). Using the Saint George's Respiratory Questionnaire to evaluate quality of life in patients with chronic obstructive pulmonary disease: validating a new version for use in Brazil. J Bras Pneumol, 32(2):114-22.

 

    Cordeiro, G.D. et al. (2012). Avaliação da Qualidade de Vida e Intensidade de Dispneia em Pneumopatas Crônicos Participantes do Programa de Reabilitação Pulmonar. Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para graduação em Fisioterapia.

 

    Erzinger, G.S., Mastroeni, M.F., e Silva, H.E. (2012). Avaliação da qualidade de vida dos portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) associada ao desempenho físico funcional. R. Bras. Ci. e Mov, 20(4):46-53.

 

    Esteves, M. (2010). Avaliação da Qualidade de Vida Relacionada a Saúde na Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. Revista da Faculdade de Ciências da Saúde, 7,466-475.

 

    Jardim, J.R., Jones, P., e Souza, T.C. (2000). Validação do Questionário do Hospital Saint George na Doença Respiratória (SGRQ) em pacientes portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica no Brasil. J Pneumol, 26(3)119-128.

 

    Mangueira, N.M., Viega, I.L., Mangueira, M.A., Pinheiro, N.A., e Costa, M.R. (2009). Correlação Entre Parâmetros Clínicos e Qualidade de Vida Relacionada á Saúde em Mulheres com DPOC. J Bras Pneumol, 35(3):248-255.

 

    Pagani, N. (2008). Percepção Sobre Qualidade de Vida de Pacientes Portadores de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. UnB-Faculdade de Ciências da Saúde. Dissertação de Mestrado da Saúde, Brasília –DF.

 

    Pereira, E.D.B. et al. (2009). Influência dos Parâmetros Funcionais Respiratórios na Qualidade de Vida de Pacientes com DPOC. J Bras Pneumol, 35(8):730-736.

 

    Rufino, R., e Costa, C. (2013). Etiopatogenia da DPOC. Pulmão RJ, 22(2):9-14.

 

    Ståhl, E., Lindberg, A., Jansson, A.S., Rönmark, E., Svensson, K., Andersson, F. et al. (2005). Health-related quality of life is related to COPD disease severity. Health Qual Life Outcomes, 3(56):1-8.

 

    Torres, J.P., Casanova, C., Hernández, C., Abreu, J., Aguirre-Jaime, A., e Celli, B.R. (2005). Gender and COPD in Patients Attending a Pulmonar Clinic. Chest, 128(4):2012-6.

 

    Torres, K.D.P., Cunha, G.M., e Valente, J.G. (2018). Tendências de mortalidade por doença pulmonar obstrutiva crônica no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, 1980-2014. Epidemiol. Serv. Saude, 27(3):1-11.

 

    WHOQOL GROUP (1994). The development of the World Health Organization quality of life assessment instrument (the WHOQOL). In: J. Orley, & W. Kuyken (eds.). Quality of life assessment: international perspectives. Heigelberg: Springer Verlag, 41-60.


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 24, Núm. 251, Abr. (2019)