Fatores de risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares entre universitárias de Santa Catarina

Risk factors for the development of eating disorders among university students in Santa Catarina

Factores de riesgo para el desarrollo de trastornos alimentarios entre universitarias de Santa Catarina

 

Juliana Vieira Almeida Silva*

julianapsy@hotmail.com.br

Bruna Mann Chitolina**

brunachitolina@gmail.com

Maria Verônica Zink***

mariaveronicazink@gmail.com

 

*Graduação em Psicologia (2001) e possui Mestrado em Administração pela Universidade do Vale do Itajaí (2006). 

Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2012) em Psicologia da Saúde, Processos Psicossociais e Desenvolvimento Psicológico. 

Psicóloga Clínica desde 2001, no seu próprio consultório, atuando com a Terapia Cognitivo-Comportamental e Terapia do Esquema. 

Professora Universitária e de Pós-Graduação

Líder do grupo de pesquisa em Neurociências do Comportamento

**Graduada em Nutrição pela Universidade do Vale do Itajaí (2018)

***Graduada em Psicologia pela Universidade do Vale do Itajaí (2018) e possui Capacitação em 

Competências da Mediação Judicial através do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.  Atualmente participa do 

projeto de pesquisa para o desenvolvimento de jogo eletrônico para o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, 

projeto financiado pelo Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC)

(Brasil)

 

Recepção: 31/05/2018 - Aceitação: 05/02/2019

1ª Revisão: 10/09/2018 - 2ª Revisão: 15/01/2019

 

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

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Resumo

    Fatores de risco para o desenvolvimento de Transtornos da Alimentação envolvem atitudes e práticas inadequadas com o alimento e o peso e podem ser avaliados com base em instrumentos validados. Os comportamentos de risco tiveram aumento de incidência e são frequentes em estudantes universitárias. Diante disto, o objetivo desta pesquisa foi analisar a presença de fatores de risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares em mulheres universitárias de uma instituição comunitária do litoral de Santa Catarina, identificando os fatores de risco mais relatados. Este é um estudo transversal onde foram analisadas 210 acadêmicas de 2 cursos, por meio de um teste de atitudes alimentares (EAT) e uma atividade complementar de imagem corporal. Avaliou-se também possíveis correlações de curso de graduação, idade e estado nutricional com os fatores de risco. Do total de avaliadas, 18,57% apresentaram risco para desenvolverem Transtornos da Alimentação, 64,10% são acadêmicas do curso de Nutrição e 35,90% de Psicologia. Em relação a imagem corporal 61,42% mostraram-se insatisfeitas com o que viam no espelho. Entre os fatores de risco mais relatados estão os itens “presto atenção a quantidade de calorias dos alimentos” e “fico apavorada com a ideia de estar engordando”. Considerando que os Transtornos da Alimentação são uma doença de baixa prevalência na população mundial, a proporção com que os fatores de risco foram encontrados na amostra estudada é preocupante. Os resultados do presente estudo podem ser utilizados para a realização de futuros programas de conscientização e promoção de saúde.

    Unitermos: Imagem corporal. Transtornos da alimentação. Fatores de risco.

 

Abstract

    Risk factors for the development of eating disorders involve attitudes and inadequate practices toward food and weight and can be evaluated based on validated instruments. Risky behavior had increased incidence of and are common in college students. Thus, the aim of this study was to analyze the presence of risk factors for the development of Eating disorders in college women of a Community institution of the coast of Santa Catarina, identifying the most reported risk factors. This cross-sectional study analyzing 210 students two courses, by means of an eating attitudes test (EAT) and a complementary activity body image. Reviewed - is also possible correlations course of graduation, age and nutritional status and risk factors. Of total assessed 18.57% presented risk of developing Eating disorders, 64.10% are students course of Nutrition and 35.90% of Psychology. In relation to body image 61,42% they are shown if dissatisfied with what they see in the mirror. Among the most reported risk factors are the items “look the amount of food calories" and "I am terrified at the idea of being fatter". Whereas Eating disorders are a disease of low prevalence in the world population, the proportion that the risk factors were found in the sample is worrying. The results of this study can be used to perform futures health promotion programs.

    Keywords: Body image. Eating disorders. Risk factors.

 

Resumen

    Los factores de riesgo para el desarrollo de trastornos de la alimentación implican actitudes y prácticas inadecuadas con el alimento y el peso y pueden evaluarse sobre la base de instrumentos validados. Los comportamientos de riesgo tuvieron un aumento de incidencia y son frecuentes en estudiantes universitarios. En este sentido, el objetivo de esta investigación fue analizar la presencia de factores de riesgo para el desarrollo de trastornos alimentarios en mujeres universitarias de una institución comunitaria del litoral de Santa Catarina, identificando los factores de riesgo más relatados. Este es un estudio transversal donde fueron analizadas 210 estudiantes de 2 cursos, por medio de una prueba de actitudes alimenticias (EAT) y una actividad complementaria de imagen corporal. Se evaluaron también posibles correlaciones de curso de graduación, edad y estado nutricional con los factores de riesgo. Del total de evaluadas, 18,57% presentaron riesgo para desarrollar trastornos de la alimentación, el 64,10% son estudiantes del curso de Nutrición y el 35,90% de Psicología. En relación a la imagen corporal 61,42% se mostraron insatisfechas con lo que veían en el espejo. Entre los factores de riesgo más relatados están los ítems "presto atención a la cantidad de calorías de los alimentos" y "me asusta la idea de estar engordando". Considerando que los trastornos de la alimentación son una enfermedad de baja prevalencia en la población mundial, la proporción con que los factores de riesgo se han encontrado en la muestra estudiada es preocupante. Los resultados del presente estudio pueden ser utilizados para la realización de futuros programas de concientización y promoción de salud.

    Palabras clave: Imagen corporal. Trastornos de la alimentación. Factores de riesgo.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 23, Núm. 249, Feb. (2019)


 

Introdução

 

    O ato de alimentar-se é uma questão de sobrevivência e quando realizado de maneira balanceada e equilibrada, pode prevenir deficiências nutricionais, auxiliando no bom funcionamento do organismo. Para a grande maioria, a alimentação é considerada além de uma necessidade, também um prazer, enquanto em outros casos, não tão raros, pode se tornar uma questão de pânico. Hábitos alimentares são considerados patológicos quando interferem na saúde física e mental (APA, 2014).

 

    Define–se os Transtornos da Alimentação como a incapacidade de ter controle sobre os comportamentos alimentares. Esses Transtornos não concernem apenas à Anorexia ou Bulimia, englobam seleções alimentares extremas, estratégias aceleradas de rejeição e eliminação (vômitos provocados, usos de laxantes, lavagem, diurese forçada, etc.) (Charbonneau & Moreira, 2013). Além disso, na Anorexia, na Bulimia e no Transtorno da Alimentação Sem Outra Especificação, os indivíduos apresentam similarmente, uma percepção distorcida da imagem corporal (Tomaz & Zanini, 2009).

 

    A influência da mídia nos Transtornos da Alimentação, fortalecida pela globalização e pela sociedade é descrita como a contradição entre o apelo ao estilo de vida saudável, ao mesmo tempo em que se enaltece o ideal de magreza e se incentiva o consumo de alimentos calóricos (Gonçalves, Moreira, Trindade & Fiates, 2013). Estudos indicam que a ocorrência dos Transtornos da Alimentação é mais elevada em mulheres, consequência da elevada cobrança social pela busca do corpo perfeito no sexo feminino (Alves, Santana, Silva, Pinto & Assis, 2012). Os Transtornos da Alimentação que compreendem a Anorexia e a Bulimia atingem sobretudo mulheres jovens e adolescentes, as quais representam 90% dos casos (Perini et al., 2009).

 

    Os comportamentos de risco tiveram aumento de incidência e são frequentes em estudantes universitárias (Alvarenga, Scagliusi & Philippi, 2011). Os hábitos alimentares dos universitários são fortemente influenciados por fatores como o ingresso na universidade, pois para alguns este novo estilo de vida implica em deixar a casa dos pais e passar a viver em moradias estudantis (Silva & Soar, 2011). Conforme Mendes e cols. (2017), em universitários é muito comum, ocorrer a diminuição de prática de exercício físico, redução de ingestão de vegetais e frutas, optando por fast food, bem como consumo inadequado de água e excesso de bebida alcoólica.

 

    Os jovens oriundos de famílias estruturadas podem sentir dificuldades em prover sua própria alimentação sem a orientação da autoridade parental, pois são influenciados por diversos fatores como novas relações sociais, estresse, instabilidade psicossocial, modismo dietético, omissão de refeições, consumo de fast foods, consumo de álcool e cigarros (Monteiro, Andrade, Zanirati, & Silva, 2009), corroborando com o estudo de Mendes e cols. (2017). Sendo estes alguns dos indícios que podem levar ao desenvolvimento de Transtornos da Alimentação.

 

    A gravidade das consequências dos Transtornos da Alimentação indica a pertinência de identificar precocemente os fatores que contribuem para a ocorrência de tais eventos, contribuindo para a adoção de medidas eficazes para assistência, controle e prevenção (Alves, Santana, Silva, Pinto & Assis, 2012).

 

    Frente a essa questão, este estudo objetivou analisar a presença de fatores de risco para o desenvolvimento de Transtornos da Alimentação em universitárias de uma instituição comunitária do litoral de Santa Catarina. Verificando comportamento alimentar, imagem corporal, estado nutricional e identificando os fatores de risco mais relatados questionou-se, também, se futuras nutricionistas, por estarem constantemente preocupadas com o sobrepeso e com a alimentação, poderiam ser mais suscetíveis ao desenvolvimento de Transtornos da Alimentação. Sendo assim, avaliou – se a proporção com que os fatores de risco se encontraram no curso de Nutrição e Psicologia.

 

Metodologia

 

    Estudo transversal de caráter descritivo, de abordagem quantitativa, realizado com universitárias de 2 cursos de graduação pré-selecionados, sendo estes: Nutrição e Psicologia, escolhidos por apresentarem possível fator de risco maior do que os demais cursos. O primeiro por estar diretamente ligado ao estudo da alimentação e o segundo ao estudo das emoções, e sendo o fundo emocional um grande desencadeador para o desenvolvimento de diversos tipos de transtornos acreditou-se que essa população por estar constantemente estudando o assunto pudesse ter maior susceptibilidade. Ambos os cursos estudados são de uma única Universidade comunitária localizada no litoral de Santa Catarina. Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética da Universidade do Vale do Itajaí e aprovado sob parecer 1.043.970.

 

    Foram avaliadas por meio de uma amostra não probabilística composta por 91 acadêmicas do curso de Nutrição e 119 do curso de Psicologia. Dados de ambos os cursos foram calculados por amostragem aleatória simples. Obteve - se assim uma amostra total de 210 acadêmicas de diversos períodos de cada curso, tendo como pré-requisito ser do sexo feminino e ter de 20 a 65 anos, excluindo participantes do sexo masculino devido à baixa prevalência para Transtornos da Alimentação apresentadas em outros estudos, excluiu - se também gestantes e mulheres menores de 20 anos e maiores de 65 anos a fim de obter - se uma amostra de participantes adultas. As participantes que aceitaram participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Em seguida responderam a um questionário de autopreenchimento sem identificação pessoal, envolvendo 26 questões de comportamento alimentar e figuras de imagem corporal. Foram também coletados dados de idade, peso e altura que foram auto referidos pelas participantes para verificação de estado nutricional.

 

Instrumentos

 

    Fatores de risco para o desenvolvimento de Transtornos da Alimentação envolvem atitudes inadequadas com o alimento e o peso e podem ser avaliados com base em instrumentos validados.

 

Teste de atitudes alimentares (EAT)

 

    Desenvolvido por Garner & Garfinkel (Garner, Olmsted, Bohr & Garfinkel, 1982) inicialmente como um teste para diagnosticar Anorexia nervosa, rapidamente tornou-se o teste mais aplicado às disfunções alimentares em geral. Os resultados obtidos mostraram não ser possível fazer o diagnóstico com o teste, mas foi verificado que ele detectava casos clínicos em populações de risco e identificava indivíduos com preocupações anormais com relação à alimentação e peso. As respostas devem ser assinaladas entre sempre muitas vezes, às vezes, poucas vezes, quase nunca ou nunca. Cada uma com determinada pontuação; 3 para sempre, 2 para muitas vezes, 1 para poucas vezes, e 0 para as demais opções. O ponto de corte é 20.

 

Teste de atitudes alimentares

Por favor, responda as seguintes questões

Sempre

Quase sempre

As vezes

Poucas vezes

Quase nunca

Nunca

1. Fico apavorada com a idéia de estar engordando.

 

 

 

 

 

 

2. Evito comer quando estou com fome.

 

 

 

 

 

 

3. Sinto-me preocupada com os alimentos.

 

 

 

 

 

 

4. Continuar a comer em exagero faz com que eu sinta que não sou capaz de parar.

 

 

 

 

 

 

5. Corto os meus alimentos em pequenos pedaços.

 

 

 

 

 

 

6. Presto atenção à quantidade de calorias dos alimentos que eu como.

 

 

 

 

 

 

7. Evito, particularmente, os alimentos ricos em carboidratos (Ex. pão, arroz, batatas, etc.).

 

 

 

 

 

 

8. Sinto que outros gostariam que eu comesse mais.

 

 

 

 

 

 

9. Vomito propositalmente algumas vezes depois de comer.

 

 

 

 

 

 

10. Sinto-me extremamente culpada depois de comer.

 

 

 

 

 

 

11. Preocupo-me com o desejo de ser mais magra.

 

 

 

 

 

 

12. Penso em queimar calorias a mais quando me exercito.

 

 

 

 

 

 

13. As pessoas me acham muito magra.

 

 

 

 

 

 

14. Preocupo-me com a idéia de haver gordura em meu corpo.

 

 

 

 

 

 

15. Demoro mais tempo para fazer minhas refeições do que as outras pessoas.

 

 

 

 

 

 

16. Evito comer alimentos que contenham açúcar.

 

 

 

 

 

 

17. Costumo comer alimentos dietéticos.

 

 

 

 

 

 

18. Sinto que os alimentos controlam minha vida.

 

 

 

 

 

 

19. Demonstro auto-controle diante dos alimentos.

 

 

 

 

 

 

20. Sinto que os outros me pressionam para comer.

 

 

 

 

 

 

21. Passo muito tempo pensando em comer.

 

 

 

 

 

 

22. Sinto desconforto após comer doce.

 

 

 

 

 

 

23. Faço regime para emagrecer.

 

 

 

 

 

 

24. Gosto de sentir meu estômago vazio.

 

 

 

 

 

 

25. Gosto de experimentar novos alimentos ricos em calorias.

 

 

 

 

 

 

26. Sinto vontade de vomitar após as refeições.

 

 

 

 

 

 

 

Atividade de Imagem Corporal contendo um conjunto de silhuetas proposta por Stunkard

 

    São apresentadas ao indivíduo várias figuras esquemáticas, que vão desde um corpo magro ao corpo obeso. É solicitada a escolha de uma dentre várias figuras, ou seja, aquela que se parece mais com o seu corpo; em seguida, solicita-se que assinale a figura do corpo que gostaria de ter. A discrepância entre as duas figuras é o índice do nível de insatisfação corporal. O teste de imagem corporal utilizado nesta pesquisa é composto de nove figuras esquemáticas (Stunkdart, 2000).

 

Figura 1. Conjunto de silhuetas proposto por Stunkard et al., Sorenson e Schlusinger para avaliação da imagem corporal

 

Classificação dos dados

 

    Após a análise de dados os resultados do EAT foram classificados em: “Apresenta risco para o desenvolvimento de Transtornos da Alimentação” para as participantes que tiveram o resultado do questionário maior que 20 e “não apresenta risco para o desenvolvimento de Transtornos da Alimentação para as participantes com resultado menor que 20”. Quanto a atividade de imagem corporal os resultados foram classificados em: “Insatisfação”, para as participantes que assinalaram opções diferentes entre o corpo que possui e o que gostaria de ter, e “satisfação” quando foi assinalada a mesma opção para as duas perguntas. A verificação do estado nutricional foi realizada através do cálculo de IMC e as participantes foram classificadas em: Baixo peso quando o resultado foi menor que 18.5, eutrofia quando o resultado ficou entre 18.5 á 24.9, sobrepeso quando resultado estava entre 25 á 29.9 e obesidade quando o resultado foi maior que 30.

 

    Os dados coletados na pesquisa foram tabulados com auxílio dos programas Microsoft Excel® e EPI info®.

 

Resultados

 

    A população do estudo foi composta por 210 sujeitos, todos do sexo feminino, das quais 91 (43.33%) eram do curso de Nutrição e 119 (56.67%) do curso de Psicologia. A média de idade das acadêmicas correspondeu a 23 anos, onde a de menor idade tinha 20 anos e a de maior 49 anos.

 

    Em relação ao estado nutricional das avaliadas, conforme mostra a figura 1, a média de peso foi de 59,63 kg, sendo o mais baixo peso relatado de 43 kg e o mais alto 112 kg, enquanto a média de estatura ficou em 1.64 metros, onde a de menor estatura possuía 1.50 metros e a de maior, 1.79 metros.

 

Figura 1. Gráfico de resultados dos cálculos de IMC do total de avaliadas. 2015

 

    Quando avaliado o teste de atitudes alimentares (EAT) observou-se que 39 (18,57%) acadêmicas apresentaram resultado de risco para desenvolverem Transtornos da alimentação, sendo 25 (64.10%) do curso de Nutrição e 14 (35.90%) do curso de Psicologia (Tabela 1).

 

    A média de idade das acadêmicas que apresentaram resultado de risco no EAT foi de 21,6 anos.

 

    Na análise da atividade de imagem corporal observou-se que das 210 participantes, 129 (61,42%) estão insatisfeitas com sua imagem corporal. Sendo destas, 57 (44,19%) do curso de Nutrição e 72 (55,81%) do curso de Psicologia (Tabela 1). Das participantes que relataram insatisfação 108 (83,72%) são eutróficas, 18 (13,95%) estão com sobrepeso e 3 (2,33%) são obesas.

 

    Das 91 acadêmicas do curso de Nutrição, 7 (6,37%) estão abaixo do peso, 77 (70,07%) são eutróficas, 6 (5,46%) estão com sobrepeso e 1 (1,09%) é obesa. Do total de avaliadas, 25 (27.47%) apresentaram resultado de risco para desenvolverem Transtornos da Alimentação, onde 19 (76%) são eutróficas, 3 (12%) estão abaixo do peso e 3 (12%) apresentaram sobrepeso. Das 25 participantes com EAT positivo, 14 (56%) apresentaram insatisfação com a imagem corporal, conforme tabela 1.

 

    Das 119 acadêmicas do curso de Psicologia, 7 (5,88%) estão abaixo do peso, 98 (82,35%) são eutróficas, 12 (10,08%) estão com sobrepeso e 2 (1,68%) estão obesas. Do total de avaliadas, 14 (11,76%) apresentaram resultado de risco para desenvolverem Transtornos da Alimentação, onde 11 (9,24%) são eutróficas e 3 (2,52) estão abaixo do peso. Das 14 participantes com EAT positivo, 8 (57,00%) apresentaram insatisfação com a imagem corporal, ou seja, relataram que gostariam de ter um corpo diferente do que possuem.

 

Tabela 1. Resultados do teste de atitudes alimentares e atividade de imagem corporal por curso isolado, 2015

Escalas Nutrição Psicologia

Teste de atitudes alimentares

Total

210 (100%) 91 (43,33%) 119 (56,67%)

 Apresenta risco

39 (18,57%) 25 (27,47%) 14 (11,76%)

 Não apresenta risco

171 (81,43%) 66 (72,53%) 105 (88,24%)

Atividade de imagem corporal

 Total
210 (100%) 91 (43,33%) 119 (56,67%)

 Satisfação com a imagem corporal

81 (38,58%) 34 (48,13%) 47 (39,50%)

 Insatisfação com a imagem corporal

129 (61,42%) 57 (51,87%) 72 (60,50%)

 

    Entre os fatores de risco mais relatados nos questionários, mais de 50% das entrevistadas que apresentaram resultado de risco classificaram como “sempre” ou “quase sempre” as opções: “Presto atenção à quantidade de calorias dos alimentos que eu como; costumo comer alimentos dietéticos; fico apavorada com a ideia de estar engordando; faço regimes para emagrecer; evito comer alimentos que contenham açúcar”.

 

    O nível de discrepância na atividade da imagem corporal variou de 0 a 8 a média de discrepância foi de 2 níveis, sempre para baixo do corpo relatado ter, o que demonstra que a parte das avaliadas insatisfeitas com sua imagem corporal, gostariam de ter um corpo mais magro.

 

Discussão

 

    Alvarenga, Scagliusi e Philippi (2011) ao avaliarem comportamento de risco para Transtornos da Alimentação em universitárias brasileiras das cinco regiões do país, por meio do teste de atitudes alimentares (EAT), constataram que a frequência de comportamento de risco entre 2.483 universitárias, chegou a 30,1%. No presente estudo, em que a amostra foi significativamente menor, o número de avaliadas que apresentaram fatores de risco foi de18,57%.

 

    A média de idade entre as universitárias com fatores de risco para desenvolverem Transtornos da Alimentação neste estudo foi de 21,6 anos, o que vem ao encontro da literatura que cita que os Transtornos da alimentação são mais comuns entre mulheres jovens. Perini, Vieira, Vigário e Oliveira (2009) afirmam que os Transtornos da Alimentação que compreendem a Anorexia e a Bulimia atingem sobretudo mulheres jovens e adolescentes, as quais representam 90% dos casos.

 

    Souza, Martins e Monteiro (2002) e Kirsten, Fratton e Porta (2009) obtiveram em suas amostras respectivamente, 82% e 85,5% de eutrofia, dados que se assemelham a este estudo onde 83,33% da amostra apresentou eutrofia. Acredita-se que o motivo da grande maioria das avaliadas com resultado de risco no presente estudo serem eutróficas, se dá pelo fato da prevalência de eutrofia no total da amostra.

 

    Em um estudo populacional realizado em Minas Gerais, foram avaliadas 169 alunas do 1º ao 7º período do curso de Nutrição através do EAT e constatou – se que 29,59% das alunas apresentavam resultado positivo para o desenvolvimento de Transtorno da Alimentação (Stracieri & Oliveira, 2008). Em outro estudo, Penz, Bosco e Vieira (2008) encontraram 35% de EAT positivo em uma amostra de 203 acadêmicas de Nutrição, o que vem ao encontro do presente estudo, sendo no curso de Nutrição isoladamente, 27,47% das avaliadas apresentou o mesmo resultado dos demais estudos citados.

 

    Caram e Lazarine (2013), ao realizarem um estudo com 119 acadêmicos de ambos os gêneros, de 3 diferentes cursos de uma universidade privada do Paraná, incluíram em sua pesquisa o curso de Psicologia, o qual representava 42 acadêmicos da amostra total e obtiveram que 12 (28,6%) dos avaliados apresentaram risco para o desenvolvimento de Transtornos da Alimentação, o que se assemelha a este estudo, no qual do curso de Psicologia, 14 (11,76%) das acadêmicas apresentaram resultado de risco. No entanto, no presente estudo o total de avaliadas que cursavam Psicologia, foi quase três vezes maior do que o total de avaliadas que cursavam psicologia no estudo citado.

 

    Ao comparar resultados do teste de atitudes alimentares (EAT) dos dois cursos, este estudo vem ao encontro da literatura, que cita a maior preocupação entre estudantes do curso de Nutrição. Como colocam Kirsten, Fratton e Porta (2009) ao dizerem que os estudantes de Nutrição estão em contato constante com o alimento e acham que a boa aparência pode ser uma importante medida de valor pessoal rumo à profissão de sucesso, além disso, possuem conhecimentos quantitativos a respeito dos alimentos que podem usar para se manter de acordo com os rígidos padrões estéticos vigentes. Esses fatores sugerem que futuras Nutricionistas se inserem em um ambiente favorável ao desenvolvimento de Transtornos da Alimentação.

 

    Para Fiattes e Salles (2001) em um estudo na Universidade Federal de Santa Catarina, onde 22,17% das avaliadas com resultado positivo para o desenvolvimento de Transtornos da Alimentação, observou que o desejo de ser mais magra e uso de produtos dietéticos foram os fatores de risco mais relatados, corroborando com este estudo em que entre os fatores de risco mais relatados, estavam os itens “costumo comer alimentos dietéticos e faço regimes para emagrecer”, entre outros.

 

    A imagem corporal pode ser compreendida como um constructo que engloba as percepções do indivíduo sobre si mesmo e sobre a relação que ele mantém com os outros (Frois, Moreira & Stengel, 2011). Alves, Vasconcelos, Calvo e Neves (2008) em um estudo populacional realizado com indivíduos do sexo feminino em Florianópolis – SC, constatou que 18,8% das 1.148 avaliadas mostraram insatisfação com a sua imagem corporal, o que observou-se nesta pesquisa, sendo que 61,42% das 210 participantes mostraram - se insatisfeitas com a sua imagem corporal. Havendo uma insatisfação com a imagem corporal, o indivíduo pode gerar uma imagem distorcida de si, bem como propiciar o desenvolvimento de um Transtorno da Alimentação, ou seja, esses acabam por ser analisados como síndromes que interferem no comportamento humano e caracterizam-se por grave distorção da imagem (Santos, Gonçalves & Stracieiri, 2010).

 

Conclusões

 

    Os Transtornos da Alimentação são uma doença de baixa prevalência na população mundial, sendo que a proporção com que os fatores de risco foram encontrados na amostra estudada é preocupante. No entanto, a população escolhida foi de mulheres jovens, que são comumente as mais atingidas por esses transtornos.

 

    Considera- se também, o fato de serem universitárias e as mudanças que isto implica na vida de algumas, como a saída da casa dos pais e a mudança no convívio social o que pode colaborar para o desenvolvimento de Transtornos da Alimentação. É importante ressaltar que são apenas fatores de risco, não podendo- se afirmar que as estudantes que apresentaram EAT positivo virão a desenvolver Transtornos da alimentação um dia.

 

    Uma maior proporção de resultados encontrados em acadêmicas de Nutrição, comparado as de Psicologia, pode estar relacionado ao constante contato e conhecimento qualitativo de alimentos entre as futuras Nutricionistas. Apesar dos resultados terem ficado dentro do esperado, destaca- se também, a relevante quantidade de EAT positivo entre as acadêmicas de Psicologia, possivelmente por ser uma área de estudo ligada as emoções e aos transtornos.

 

    O fato que merece destaque na pesquisa está associado a análise da imagem corporal. O anseio de ter um corpo diferente do que relataram possuir, ficou evidente em mais de 60% da amostra, constatando assim o desejo de muitas mulheres serem mais magras.

 

    Entre as limitações apresentadas pelo estudo, destaca-se a falta de tempo para incluir acadêmicos de outros cursos e também o fato dos instrumentos utilizados serem recomendados para pessoas maiores de 20 anos, uma vez que há muitas acadêmicas entre 17 e 19 anos que não puderam ser avaliadas.

 

    Este estudo vem ao encontro da literatura apresentada sobre o assunto e o tema pode ser utilizado em programas de prevenção e promoção da saúde.

 

Referências

 

    Alvarenga, M. D. S, Scagliusi, F. B, & Philippi, S. T. (2011). Comportamento de risco para transtorno alimentar em universitárias brasileiras. Rev de psiquatria clínica, 38(1), 3-7.

 

    Alves, E, Vasconcelos, F. A. G, Calvo, M. C. M, & Neves, J. (2008). Prevalência de sintomas de anorexia nervosa e insatisfação com a imagem corporal em adolescentes do sexo feminino do Município de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Caderno Saúde Pública. Rio de Janeiro, 24(3), 503-512.

 

    Alves, T. C. H. S, Santana, M. L. P, Silva, R. C. R, Pinto, E. J, & Assis, A. M. O. (2012). Fatores associados a sintomas de transtornos alimentares entre escolares da rede pública da cidade do Salvador, Bahia. Jornal Brasileiro de psiquiatria. Rio de Janeiro, 61(2).

 

    American Psychiatric Association- APA (2014). DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (5ª ed.). Trad. Maria Inês Corrêa Nascimento. Porto Alegre: Artmed.

 

    Caram, A. L. A, & Lazarine, I. F. (2013). Atitudes alimentares em universitários dos cursos de Nutrição, Psicologia e Educação Física de uma instituição privada. Health Sci Inst, 31(1),71-4.

 

    Charbonneau, G, & Moreira, V. (2013). Fenomenologia do transtorno do comportamento alimentar hiperfágico e adicções. Rev. Latinoamericana Psicopatologia fundamental. São Paulo, 16(4).

 

    Fiattes, G. M. R, & Salles, R. K. (2001). Fatores de risco para o desenvolvimento de distúrbios alimentares: um estudo em universitárias. Rev de Nutrição. Campinas, 14(1).

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 23, Núm. 249, Feb. (2019)