Resenha do livro 'Psicologia e educação: o significado do aprender' por Jorge La Rosa

Review of the book 'Psychology and education: the meaning of learning' by Jorge La Rosa

Reseña del libro 'Psicología y educación: el significado del aprender' de Jorge La Rosa

 

Jorge Luiz dos Santos de Souza*

jorge.jotaluiz2003@gmail.com

Camila Chiodi Agostini**

camila.chiodi.agostini@gmail.com

 

*Graduado em Educação Física Licenciatura Plena UFSM/RS

Especialista em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde – UFSM/RS

Técnico em Assuntos Educacionais UFFS Campus Passo Fundo/RS

**Graduada em Direito pela ULBRA/Carazinho/RS

Especialista em Direito Público pela IMED/Passo Fundo/RS

Mestre em Ciências Humanas pela UFFS/Erechim/RS

Assistente em Administração UFFS Campus Passo Fundo/RS

(Brasil)

 

Recepção: 27/05/2018 - Aceitação: 01/11/2018

1ª Revisão: 08/10/2018 - 2ª Revisão: 28/10/2018

 

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Resumo

    Este trabalho trata-se de uma resenha onde foram tecidos breves comentários sobre o livro “Psicologia e Educação: O significado do aprender” da editora Edipuc, organizado pelo Doutor em Psicologia Jorge La Rosa e escrito com auxílio de mais seis estudiosos. Na obra em estudo, os escritores usaram uma dinâmica de trabalho conjunto ao longo dos onze capítulos, dissertando sobre as principais teorias de aprendizagem e seus teóricos. O trabalho também vai além pois há capítulos que tratam especificamente da motivação, da logoterapia, da sexualidade infantil e das dificuldades de aprendizagem.

    Unitermos: Psicologia. Educação. Aprendizagem.

 

Abstract

    This work it is a review where were brief comments made about the book "Psychology and Educational: meaning of learning" of Edipuc publisher, organized by Doctor of Psychology Jorge La Rosa and written with the help of six scholars. In the book under consideration, writers used a dynamic co-working over the eleven chapters, expounding on the main theories of learning and their theorists. The work also goes further because there are chapters that specifically deal with the motivation, of the logotherapy, of infantile sexuality and learning difficulties.

    Keywords: Psychology. Education. Learning.

 

Resumen

    Este trabajo se trata de una reseña donde fueron incluidos breves comentarios sobre el libro "Psicología y Educación: El significado del aprender" de la editorial Edipuc, organizado por el Doctor en Psicología Jorge La Rosa y escrito con la ayuda de otros seis estudiosos. En la obra en estudio, los escritores usaron una dinámica de trabajo conjunto a lo largo de los once capítulos, disertando sobre las principales teorías de aprendizaje y sus teóricos. El trabajo también va más allá pues hay capítulos que tratan específicamente sobre la motivación, sobre la logoterapia. sobre la sexualidad infantil y sobre las dificultades de aprendizaje.

    Palabras clave: Psicología. Educación. Aprendizaje.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 23, Núm. 246, Nov. (2018)


 

Introdução

 

    Inicialmente, chamamos atenção ao leitor desta obra para uma leitura criteriosa da introdução escrita pelo organizador Jorge La Rosa. Isso porque, o título do livro até pode dar uma noção sobre o que será tratado ao longo de suas mais de duzentas páginas todavia, é lendo as palavras iniciais de La Rosa que teremos uma visão mais clara referente a questão da aprendizagem e suas diversas situações. Da mesma forma que, é possível perceber o papel da cultura, da educação e da universidade sobre as distrações culturais e sua influência na aprendizagem.

 

    O autor, na introdução, também vai além, ao descrever o papel dos “sentidos” dos valores e do projeto de sociedade, a questão da atualização profissional, da curiosidade e do “aprender a aprender”, assuntos já bem inseridos neste tópico do livro e que norteiam habilmente o leitor para a leitura interessada da obra e, para que também possa aproveitar da melhor forma possível os assuntos que serão tratados na sequência. Por fim, o escritor finaliza o tópico, dando um breve resumo dos capítulos que seguem no livro.

 

    Ou seja, consideramos que a introdução se trata de passo fundamental para o entendimento integral da obra, situando o leitor nos assuntos que serão tratados e, por isso, sua leitura se torna indispensável e pode garantir o sucesso do entendimento de toda a obra.

 

Iniciando a leitura do livro

 

    Após uma leitura atenta da introdução e absorção dos conceitos lá indicados, os quais, como dito, consideramos fundamentais para o entendimento completo da obra, no capítulo “Aprendizagem: uma introdução”, escrito por Liane Zanella é feito um apanhado geral sobre a aprendizagem, chamando a atenção que muitas vezes esta é confundida com aquisição/acumulação de conhecimento (pág. 24), passando por diversos conceitos e mostrando a memória como um elemento da aprendizagem, assim como o ambiente e a interação. A autora ainda discorre sobre o significado da aprendizagem na vida humana e mostra que é por meio desta aprendizagem que o conhecimento é possível (pág. 30). Da mesma forma que, destaca os processos e condições de aprendizagem, que vão desde o ambiente até as condições sociais e finaliza com as três linhas teóricas de interpretação da aprendizagem (condicionamento, cognitivo e social) dando base para as leituras dos próximos capítulos que tratam destas teorias.

 

Imagem 1. A capa do livro

 

    Os capítulos dois e três são dedicados a teoria de condicionamento, diferenciando pelo tipo e seus teóricos. O capítulo dois, em específico, é dedicado ao condicionamento respondente, onde o autor Bruno Edgar Reis faz um breve histórico de Pavlov antes de entrar a fio em sua teoria, que pode ser caracterizada pelo estímulo e resposta, mostrando o papel da fisiologia sobre todo processo, fazendo uma breve distinção entre os comportamentos respondente e operante. Ao explicar melhor sobre o condicionamento respondente, nos deparamos com o clássico experimento do “cão de Pavlov” para, em seguida, serem mostradas as condições para formação de um reflexo condicionado. Nas páginas quarenta e oito e quarenta e nove, são apresentados os conceitos na descrição do condicionamento respondente (emparelhamento, estímulo incondicionado, neutro e condicionado) e há exemplos de cada um, novamente remetendo ao clássico experimento do cão. Por fim, o autor mostra a questão do condicionamento de Pavlov e as emoções, mostrando, por último, algumas técnicas de modificação de comportamento.

 

    Já Bruno Edgar Reis, no capítulo três - “Condicionamento Operante ou Instrumental: B. F. Skinner” - inicia com uma interessante explicação da visão de homem e mundo segundo Skinner, sendo o homem considerado um produto do meio. Esta explicação coaduna com os conceitos e princípios de aprendizagem e tem no reforço o seu conceito central, podendo este ser positivo ou negativo e, ainda, primário, secundário ou generalizado. A extinção operante é outro tópico essencial na questão do reforço e da aprendizagem. Os esquemas de reforçamento, a modelagem e a punição são partes importantes na teoria de Skinner e merece uma leitura atenta, assim como deve ser com as etapas do processo de formação de hábito (págs. 68 e 69). As contribuições de Skinner para o ensino e terapia finalizam o capítulo.

 

    O autor da introdução, Jorge La Rosa, retorna a obra e nos apresenta no capítulo quatro, a teoria da aprendizagem Social de Albert Brandura e começa fazendo uma breve comparação entre Freud e Skinner. Diferentemente dos capítulos anteriores, a teoria de Brandura mostra a importância da observação na aprendizagem e supõe que o ser humano seja um agente intencional e reflexivo, mostrando o papel da agressividade para a construção da teoria de Brandura, bem como dos processos vicários. A interação entre ambiente, fatores pessoais e comportamento são aspectos importantes para Brandura, bem como a modelação o que, todavia, enseja padrões criativos e inovadores, estes separados em modelos vivos, representativos e simbólicos, mostrando como o conflito de modelos pode nos influenciar.

 

    Os processos envolvidos na aprendizagem social são dissertados a partir da página oitenta e dois e merecem atenção os processos de reprodução motora, bem como processos de motivação e reforço, autorregulação e auto reforço do comportamento. Como a observação tem papel importante nesta teoria, o item “fatores que impedem a aprendizagem por observação” deve ter uma criteriosa leitura, assim como na parte final sobre os efeitos da modelação no observador, tudo para um bom entendimento do leitor sobre os conceitos dessa etapa da obra.

 

    Jean Piaget e sua teoria cognitivista são tratados no quinto capítulo, também escrito por Bruno Edgar Reis, onde ele ressalta que Piaget acredita na influência do desenvolvimento biológico, ou melhor, do desenvolvimento cognitivo e não propriamente dos processos de aprendizagem. Mais uma vez, é importante verificar a visão de homem, mundo e sociedade descritas no capítulo, já que a teoria de Piaget pode ser também classificada como interacionista, o que é bem mostrado no item “O problema do conhecimento”. Outro ponto de interesse são as implicações educacionais de sua teoria, sendo colocado que o verdadeiro conhecimento não é transmitido pela escola, mas construído pelo sujeito através das interações com o objeto (pág. 114), ai se destacando o papel dos jogos e dos trabalhos em grupos.

 

    No capítulo seis, Bettina Steren dos Santos, lembra de Lev Vygotski e sua teoria histórico-cultural. Ela inicia contando um pouco da história deste Russo contemporâneo de Piaget e nos apresenta algumas perspectivas teóricas em que Vygotski busca encontrar “um novo estágio” para a psicologia da época, colocando a cultura, origem social dos processos mentais, instrumentos e signos como destaque em seus estudos. Seguindo, a autora desenvolve as questões das “origens sociais das funções psicológicas” e sobre os “processos de mediação: instrumentos e signos”. Interessante perceber que, além do desenvolvimento maturacional, Vygotski coloca os meios de pensamento e comportamento cultual como importantes itens de sua teoria.

 

    Após tais explicações, é descrito o processo de internalização e o desenvolvimento e aprendizagem e, neste último, é feito um comparativo entre algumas correntes teóricas e terminando com considerações de Vygotski sobre a aprendizagem. Indo para o fim, são citadas as “zonas de desenvolvimento” já bem conhecidas pelo público de educação, e segue-se para algo de suma importância, que é o papel da linguagem no desenvolvimento e a concepção genética dos seus estudos. Concluindo, é apontado a contribuição à educação de sua teoria, chamando atenção para relação entre a proposta teórica e a prática pedagógica e, que o indivíduo não possui de forma endógena os instrumentos para alcançar o desenvolvimento (pág. 149).

 

    A aprendizagem na perspectiva humanista de Carl R. Rogers por Berta Weil Ferreira é o objeto de estudo do capítulo sete. Esta teoria é mostrada como não-diretiva ou centrada no cliente. Na visão de homem e sociedade, é mostrado um interessante quadro comparativo entre a psicanálise, o behaviorismo e o humanismo, para em seguida tecer algumas definições onde mostra que as ideias de Rogers são aplicadas a família, educação, aprendizagem e para conflitos e organização de grupos (pág. 151). Nas implicações pedagógicas, a principal questão é que o aluno passa a ser o centro do ensino e não o professor e, apresenta nove itens nas condições de aprendizagem.

 

    Ainda sobre aprendizagem na teoria humanista, é mostrado o princípio central de que não se ensina ninguém e sim se facilita a aprendizagem, sendo o professor este facilitador. Para esclarecer as “qualidades facilitadoras” da aprendizagem é exposto sobre a autenticidade do facilitador, o apreço, aceitação, confiança e empatia. Também é mostrado estratégias para “promover a liberdade”, espaço em que a orientação para pesquisa tem seu papel. Na página 165, são expostos os princípios psicológicos centrados no aluno e, os autores concluem que a pedagogia de Rogers valoriza mais o significado que os procedimentos metodológicos.

 

    A questão da motivação e aprendizagem surgem no capítulo oitavo, escrito por Jorge La Rosa, que nos apresenta a teoria associacionista baseada no modelo animal e mostra a proposta de aprendizagem baseada em ensaio e erro de Edward Lee Thorndike, em que se evita a dor e se busca a satisfação. Apresenta, também, Clark L. Hull, que troca a satisfação por redução de necessidade e Skinner, se enquadrando como associacionista com seus conceitos de privação e reforçamento. No enfoque cognitivista, há uma concordância em relação as necessidades fisiológicas e comportamento dos associacionistas, apresentando os quatro motivos básicos e intrínsecos de Jerome S. Bruner, quais sejam: curiosidade, busca de competência, de identificação e reciprocidade. Piaget coloca dois aspectos, o cognitivo e o afetivo, sendo a motivação o elemento afetivo, suas predições e interesses.

 

    Exploração crítica, interações sociais e conhecimento social, interesses espontâneos, surpresa e desenvolvimento cognitivo são questões que merecem atenção dos educadores. A perspectiva psicanalítica tem Freud e a energia psíquica, o impulso e a redução da tensão causada por uma necessidade, o que são pontos chaves da referida perspectiva. Maslow faz parte dos teóricos humanistas e para ele a motivação gera-se em torno das necessidades humanas. Por fim, é colocado para além das teorias apresentadas algumas estratégias de motivação em sala de aula, culminando no papel da criatividade dos professores.

 

    O capítulo seguinte é dedicado a logoterapia e suas aplicações psicopedagógicas, escrito por Elaine Wainberg Rodrigues. No início, é apresentado a vida e obra de Viktor Emil Frankl, fundador da logoterapia, sendo em seguida apresentada a questão da liberdade e responsabilidade que são fundamentais na logoterapia sendo cada um “arquiteto de sua vida” (pág.196). O significado da consciência é outro ponto de destaque e alerta que os educadores, não perdendo o foco da consciência ética, poderão incentivar o processo educativo (pág. 199). As aplicações da logoterapia desde a psicoterapia, medicina, ciências sociais são expostas, mas é na educação que nos interessa ao mostrar que o sujeito não é uma “máquina” e sim um ser humano com sentido (págs. 200 e 201) e quais as mudanças necessárias no processo de aprendizagem para que se realize uma aprendizagem sobre quem o sujeito e para onde este quer ir. O capítulo é concluído com o enfoque psicopedagógico e a visão de homem, além da contribuição do educador sobre esta visão.

 

    O penúltimo capítulo, escrito por Maria Beatriz Jacques Ramos versa sobre a questão da sexualidade infantil e a aprendizagem. A psicanálise de Freud faz a introdução deste capítulo, para em seguida ser descrita a questão da sexualidade e desenvolvimento para a aprendizagem e sexualidade, além de mostrar que o professor passa a ocupar o lugar da transferência da criança. A questão de protelar satisfações, conciliar impulsos, a identidade grupal, também são lidadas neste tópico. Ela conclui o capítulo falando sobre o meio social, o desenvolvimento libidinal, as regras e informações sociais e escolares.

 

    Por fim, o último capítulo, também escrito por Maria B. J. Ramos, nos fala das dificuldades de aprendizagem iniciando com um olhar sobre o aprender, fazendo um apanhado geral e histórico sobre aprendizagem. No item seguinte, discorre sobre as dificuldades para ler e escrever, e mostra a ideia de alguns autores sobre as dificuldades de aprendizagem e fracasso escolar. A seguir, apresenta dados levando em questão a psiquiatria e dificuldades da aprendizagem começando pelo DSM – IV – um manual auxiliar no diagnóstico de transtornos mentais em que há transtorno de leitura, de expressão escrita e matemática. Outro ponto interessante é a questão entre família e escola, local em que os laços familiares, o equilíbrio emocional e afetivo são citados, além das experiências culturais. Finaliza com as aprendizagens escolares, questionando os parâmetros “adultos”, mostrando a complexidade da leitura e escrita, falando da crise no ensino e sobre o estímulo do diálogo.

 

Conclusões

 

    Por tudo o que foi lido no decorrer da obra podemos afirmar que o livro de Jorge La Rosa é um valioso material de estudos para todos que se interessam sobre o fenômeno da aprendizagem e educação. Ele apresenta as principais teorias de modo a facilitar o entendimento de cada uma, embora em muitos momentos não se mostre como uma leitura fácil, talvez por apresentar conceitos não tão bem explorados nos cursos de graduação, como a teoria de Brandura e a logoterapia. Pelos aspectos apresentados, além das questões teóricas, como históricas, visão de homem e mundo, fazem o leitor compreender para além dos esquemas simples, podendo utilizar tais conhecimentos em uma prova acadêmica ou de concurso, além de permitir maiores e aprofundados subsídios para a atuação profissional.

 

    A partir desse livro, compreende-se melhor o que cada teoria quer da aprendizagem, sendo que esta não é centrada apenas em uma visão teórica, principalmente quando se coloca no mesmo material, questões sobre motivação e sexualidade infantil, muitas vezes um tabu para os educadores. É nessa forma de organização que vemos a seriedade, relevância e necessidade de estudo e entendimento do fenômeno da aprendizagem, que não vive só das teorias e seus fundadores.

 

    Enfim, não se trata de uma obra para se concordar ou discordar, mas sim para se ter em mãos e estudar como importante ferramenta de apoio e guia, conduzindo, assim, nossa atividade pedagógica, sem atravessamentos motivados pelo desconhecimento ou falta de compreensão sobre os fenômenos da aprendizagem.

 

Referência

 

    La Rosa, Jorge (Org.); Ferreira, Berta Weil; Santos, Bettina Steren Dos; Ries, Bruno Edegar; Rodrigues, Elaine Waignberg; Zanella, Liane; Ramos, Maria Beatriz Jacques (2003). Psicologia e educação: o significado do aprender (7ª ed.). Porto Alegre: EDIPUCRS.


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 23, Núm. 246, Nov. (2018)