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ISSN 1514-3465

 

Grupo de crianças e pais: práticas da psicologia na atenção primária à saúde

Group of Children and of Parents: Psychology Practices in Primary Health Care

Grupo de niños y padres: prácticas de psicología en atención primaria de salud

 

Carlos Alberto Severo Garcia Júnior*

carlosgarciajunior@hotmail.com

Liana Cristina Dalla Vecchia Pereira**

lianadvp@gmail.com

 

*Pós-Doutor em Saúde Coletiva

Professor Adjunto do curso de Medicina

da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Campus Araranguá

**Doutora em Ciências Humanas

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Psicóloga da Secretaria Municipal de Saúde (SMS)

Florianópolis, Santa Catarina

(Brasil)

 

Recepción: 01/03/2023 - Aceptación: 20/05/2023

1ª Revisión: 08/05/2023 - 2ª Revisión: 15/05/2023

 

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Cita sugerida: Garcia Júnior, C.A.S., e Pereira, L.D.V. (2023). Educação em saúde na escola: reflexões a partir de documentos escolares. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(301), 164-179. https://doi.org/10.46642/efd.v28i301.3893

 

Resumo

    Esse artigo apresenta o relato de experiência do grupo psicoterapêutico de crianças realizado de modo concomitante ao grupo de familiares e tem como objetivo refletir, a partir da proposta de grupos paralelos e simultâneos de crianças e pais/cuidadores, a necessidade de escuta das famílias na atenção primária à saúde. Trata-se de uma intervenção desenvolvida por profissionais da psicologia em um centro de saúde em Porto Alegre, Brasil. O grupo de crianças é realizado desde 2006 a partir da demanda das famílias, escolas e profissionais da saúde. Ao entender a relevância da participação das famílias no processo psicoterapêutico das crianças e ao apostar nas potencialidades do dispositivo grupal, a equipe da psicologia propôs o grupo de pais/cuidadores em horário concomitante. Antes desta modalidade, a abordagem com as famílias era realizada individualmente. A realização dos grupos concomitantes contribuiu para o maior envolvimento das famílias, pois o espaço coletivo potencializou reflexões sobre questões familiares e transgeracionais que repercutem significativamente no processo terapêutico das crianças. A intervenção fomentou cuidados de saúde para além do indivíduo, possibilitando a ampliação da rede de apoio e melhor compreensão da dinâmica familiar e escolar, viabilizando a promoção da saúde mental em uma perspectiva integral.

    Unitermos: Psicologia. Grupos concomitantes. Crianças. Pais/Cuidadores. Família.

 

Abstract

    This article presents the psychotherapeutic group of children carried out concomitantly with the group of parents/caregivers and aims to reflect, based on the proposal of parallel and simultaneous groups of children and parents/caregivers, the need for listening to families in primary care the health. It is an intervention developed by psychology professionals in a health centre in Porto Alegre, Brasil. The group of children has been held since 2006 based on the demand of families, schools and health professionals. By understanding the relevance of family participation in the children's psychotherapeutic process and on the potential of the group device, the psychology team proposed the group of parents/caregivers simultaneously. Before this modality, the approach with the families was carried out individually. The concurrent groups approach contributed to the greater involvement of families, as the collective space enhanced reflections on family and transgenerational issues that have a significant impact on the therapeutic process of children. The intervention promoted health care beyond the individual, enabling the expansion of the support network and a better understanding of family and school dynamics, enabling the promotion of mental health in an integral perspective.

    Keywords: Psychology. Concurrent groups. Children. Parents/Caregivers. Family.

 

Resumen

    Este artículo presenta el relato de experiencia del grupo psicoterapéutico de niños realizado concurrentemente con el grupo de familiares y pretende reflexionar, a partir de la propuesta de grupos paralelos y simultáneos de niños y padres/cuidadores, la necesidad de que las familias sean escuchadas en atención primaria a la salud. Es una intervención desarrollada por profesionales de la psicología en un centro de salud en Porto Alegre, Brasil. El grupo infantil se realiza desde 2006 en base a la demanda de familias, escuelas y profesionales de la salud. Al comprender la relevancia de la participación de las familias en el proceso psicoterapéutico de los niños y al apostar por el potencial del dispositivo grupal, el equipo de psicología propuso al mismo tiempo el grupo de padres/cuidadores. Antes de esta modalidad, el acercamiento con las familias se realizaba de forma individual. La realización de grupos concurrentes contribuyó a una mayor participación de las familias, ya que el espacio colectivo potenció las reflexiones sobre cuestiones familiares y transgeneracionales que inciden significativamente en el proceso terapéutico de los niños. La intervención fomentó el cuidado de la salud más allá del individuo, posibilitando la ampliación de la red de apoyo y una mejor comprensión de las dinámicas familiares y escolares, posibilitando la promoción de la salud mental en una perspectiva integral.

    Palabras clave: Psicología. Grupos simultáneos. Niños/Niñas. Padres/Cuidadores. Familia.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 301, Jun. (2023)


 

Introdução 

 

    A criança começa e continua sua vida dentro de grupos, tais como a família e demais pessoas que assumem seus cuidados e que a inserem em outros contextos sociais e culturais. Seu desenvolvimento psicossocial é mediado pelas relações interpessoais, experiências e aprendizados, com importância significativa das referências de cuidado na infância. As questões transgeracionais também permeiam os modos de subjetivação, nos quais mães, pais, demais familiares e cuidadores/as têm em sua mente a própria família interna, vivenciada a partir de sua experiência que reverbera de alguma forma ao exercer funções de cuidado. Estes fatores contribuem na configuração da família, considerando-a numa perspectiva ampliada, a partir da qual a criança toma como referência para construir sua realidade interna, influenciando a forma como se relaciona nos diferentes grupos ao longo de sua vida. (Beà, 1996)

 

    As intervenções em saúde mental com crianças incluem outros indivíduos, como sua família e cuidadores/as, já que são estes/as que viabilizam o atendimento, mesmo que a necessidade seja identificada e/ou encaminhada por outras instituições, tais como as escolas, centros de saúde, entre outras.

 

Imagem 1. O grupo de pais em simultâneo com o grupo 

de crianças promove o bom andamento da psicoterapia

Imagem 1. O grupo de pais em simultâneo com o grupo de crianças promove o bom andamento da psicoterapia

Fonte: Criador de imagens de Bing

 

    A psicoterapia com crianças depende, portanto, de muitos fatores, como a relação estabelecida entre terapeuta e família/cuidadores/as, além de considerar a capacidade destes/as superarem as ansiedades que dificultam a conscientização dos possíveis conflitos e desafios, entre outros aspectos do processo de aprendizagem e socialização nos demais contextos. Kupfer (1994) pressupõe que na psicoterapia de crianças, familiares e cuidadores/as surgem com todo o vigor da realidade e, por isso, devem ser considerados tanto em sua dimensão simbólica como imaginária. A autora evidencia a existência de uma amarração discursiva, onde mães, pais, cuidadores/as e criança são subjetivadas/os em um campo simbólico que contribui na relação entre a construção do sintoma de uma criança e o modo como as famílias/cuidadores se envolvem na função parental. Tais formulações colaboram para identificar a necessidade de escuta das famílias, no sentido de propiciar espaço que viabilize a compreensão e transformação dos aspectos que engendram sofrimento. Diante da alta prevalência de problemas de saúde mental em crianças atendidas na rede de Atenção Primária à Saúde (APS), torna-se necessário investir na qualificação de profissionais para o acompanhamento de saúde mental na infância e aumentar os atendimentos em serviços especializados, o que possibilitaria a identificação e oferta de tratamento adequado para melhorar o curso e prognóstico do sofrimento psíquico na infância (Fatori et al., 2018). Esse artigo tem como objetivo apresentar o relato de experiência do grupo psicoterapêutico de crianças realizado de modo concomitante ao grupo de familiares para abordar reflexões sobre o processo terapêutico e a importância de escuta e envolvimento das famílias.

 

Trabalhar com o sistema familiar em grupos 

 

    Para Dessen, e Braz (2000) o sistema familiar deve ser visto como uma complexidade composta de vários subsistemas em constante interação entre si. Serapioni (2005) compreende o grupo familiar como um espaço de mútua interação entre gêneros e gerações, cultura e natureza, público e privado. Entre as principais atribuições da família, Schenker, e Minayo (2003) destacam a capacidade de autorregulação, a responsabilidade de cuidar e atender às necessidades físicas e psicológicas, fazer a mediação das normas e comportamentos sociais e proporcionar um ambiente de socialização primária que pode fomentar relações construtivas e o desenvolvimento das potencialidades. Ackerman (1986) conceitua família como um sistema aberto, dotado de uma membrana permeável que permite constantes trocas com o mundo. É nesta permeabilidade que ocorre o desenvolvimento humano viabilizado por meio das interações e aprendizados nas diferentes fases da vida. Nesse sentido, Vasconcelos (2001) entende o conflito como uma oportunidade de crescimento nos processos de troca caso sejam compreendidos e experienciados de modo construtivo; caso contrário, tendem a ser omitidos tendo como consequência a cristalização e rigidez dos papéis assumidos nos diversos grupos sociais.

 

    Pichón-Rivière (1998) salienta que o grupo familiar pode se desequilibrar diante de um conflito mal compreendido e não resolvido, mas como este tende a se autorregular, é possível que um membro adoeça tornando-se o porta-voz da problemática. Dessa maneira, o membro identificado assume este papel perpetuando as relações sem o necessário processo de mudança frente ao conflito. É importante compreender o funcionamento familiar quando um de seus membros apresenta um sintoma ou situação problemática a fim de visibilizar os possíveis conflitos ocultados por meio do/a porta-voz. Envolver a família e o entorno relacional torna-se um elemento fundamental no acompanhamento de crianças. Lancetti (1995) propõe a realização de grupos de mães e pais coordenados por outros terapeutas no mesmo horário no qual se reúnem as crianças, sendo necessárias reuniões sistemáticas das equipes que coordenam os dois grupos para conhecer as confluências e dissonâncias que permitem acompanhar as fantasias de doença e cura para operar sobre o campo relacional.

 

    Beà (1996) identifica que a realização do grupo de pais simultaneamente ao grupo de crianças potencializa o bom andamento da psicoterapia. A autora aposta no trabalho em grupo como dispositivo para estimular a capacidade das famílias de observar e melhorar sua forma de entender o motivo da consulta dos/as filhos/as e de se envolver no processo terapêutico. Nesse sentido, pode-se pensar na importância de ampliar o olhar do individual para o contexto social, como a família que tende a constituir o ambiente primário de socialização.

 

    Vasconcelos, e Souza (2022) destacam a importância da ludoterapia no grupo com crianças, pois propicia maior abertura e proximidade entre os participantes, o que fomenta o processo de significar as diferenças e respeitar a alteridade. A ludoterapia se baseia no pressuposto de que a criança se expressa por meio do lúdico. Assim, o jogo e o brincar viabilizam a expressão e elaboração dos sentimentos e emoções para as crianças. Uma revisão da literatura realizada entre os anos de 2015 e 2018 sobre intervenções em grupo de crianças e adolescentes com problemas emocionais identificou diversos benefícios clínicos para os/as participantes e suas famílias (Ninan, Hirisave, e Girimaji, 2019). No estudo as autoras destacam as vantagens encontradas em termos de custo, tempo e eficiência da intervenção grupal, além dos benefícios dos processos terapêuticos e do aprendizado que adquirem nas trocas com outras crianças e adolescentes com dificuldades semelhantes.

 

    As intervenções grupais com famílias demonstram a eficácia da abordagem coletivas na formação de vínculo terapêutico com a equipe de saúde e entre familiares, o que contribui para o enfrentamento das situações de saúde mental vivenciadas na dinâmica familiar, além de facilitar a construção de uma rede de apoio entre as famílias (Moraes et al., 2022). Há evidências consistentes da efetividade dos grupos de apoio em saúde mental, incluindo tanto intervenções com as pessoas em sofrimento psíquico, como grupos de familiares ou de cuidadores/as (Worrall et al., 2018). Outra abordagem que está ganhando destaque nos últimos anos no âmbito da saúde mental são os grupos multifamiliares pela potencialidade de promover apoio emocional e psicoeducação (Maone, 2021). Esta intervenção inclui a participação dos/as pacientes e suas famílias, junto com a equipe de saúde, o que facilita a interação e o diálogo de aspectos desafiadores para lidar com o sofrimento psíquico na dinâmica familiar.

 

    A abordagem de grupos concomitantes ainda é pouco divulgada no meio científico, onde foi possível encontrar o livro publicado por Beà (1996) sobre a experiência na Argentina, um capítulo de livro de Lancetti (1995) sobre essa prática no contexto brasileiro e um artigo com o relato do trabalho na clínica-escola de uma universidade particular no sul do Brasil com a criação de uma oficina lúdica que acontece paralela e simultaneamente ao grupo de pais (Levandowski et al., 2016). Nestes relatos, as abordagens demonstraram fomentar o desenvolvimento psicossocial construtivo frente às conflitivas parentais existentes e maior envolvimento no processo terapêutico com intervenções integrativas que ampliam as perspectivas da dinâmica familiar. A prática psicoterápica dos grupos concomitantes busca propiciar espaço interativo e dinâmico no qual a família e filhos/as possam se reinventar nessa relação.

 

    Na maioria dos estudos sobre a abordagem psicoterápica grupal com crianças e famílias foram realizados apenas um dos grupos ou a modalidade multifamiliar. Houve maior prevalência de relatos sobre grupo de crianças (Terzis, 2005; Sei, e Pereira, 2005; Guimarães, Malaquias, e Pedroza, 2013), além de artigos sobre grupo de pais, principalmente na perspectiva de orientação e treinamento (Bolsoni-Silva, 2007; Coelho, e Murta, 2007; Pardo, e Carvalho, 2012) e alguns situando a intervenção grupal multifamiliar (Costa et al., 2009; Ponciano, Cavalcanti, e Féres-Carneiro, 2010). Assim, a proposta dos grupos paralelos e simultâneos de crianças e familiares/cuidadores aporta a possibilidade inovadora para a prática psicológica, ainda pouco divulgada e debatida, o que justifica a relevância do presente artigo.

 

Situando o propósito dos grupos concomitantes 

 

    No trabalho desenvolvido pela psicologia em um centro de saúde no âmbito da Atenção Primária no Sistema Único de Saúde (SUS) em Porto Alegre, Brasil, depara-se com a grande demanda de atendimento psicológico para crianças e adolescentes. A existência de demanda reprimida em saúde mental, sobretudo de atendimento familiar e da psicologia, por meio do elevado percentual de usuários a procura de acompanhamento nos serviços de atenção primária é um grande desafio no SUS. Às vezes, são situações que requerem intervenções imediatas, na medida em que podem evitar a utilização de recursos assistenciais mais complexos desnecessariamente. De tal modo, a identificação e o acompanhamento dessas situações, incorporados às atividades que os profissionais das equipes desenvolvem são passos fundamentais para a superação do modelo psiquiátrico medicalizante e hospitalar de cuidados em saúde mental. (Dimenstein et al., 2005)

 

    A avaliação inicial de cada situação aponta os potenciais para escolher a abordagem grupal ou individual. A realização do grupo de crianças concomitante ao grupo de familiares/cuidadores teve como objetivo ampliar o olhar sobre os problemas apresentados, buscando compreender a demanda no âmbito familiar e social. Ao abrir um espaço de escuta e troca de experiências entre pares é possível refletir e ressignificar as relações e os modos de expressão. A intervenção grupal também fomenta uma perspectiva de cuidado integral e intersetorial no diálogo com as escolas.

 

    O grupo de crianças é realizado desde 2006 no Centro de Saúde com o intuito de proporcionar um espaço de socialização que estimule a produção de novos sentidos, onde possam aprender a lidar com as diferenças e limites, ampliando as enzimas psíquicas para lidar com situações adversas da vida a fim de elaborá-las e utilizá-las como fonte de mudança. A expressão enzima psíquica é utilizada por Naffah Neto (2010) como analogia ao processo de digestão no âmbito do psiquismo. O autor entende como uma chave afetivo-simbólica necessária para decodificar, digerir e decompor (o que é tóxico e desnecessário), bem como para elaborar experiências psíquicas. A ausência dessas enzimas geraria indigestão, paralisia, repetição. Trata-se, portanto, de um espaço de troca entre pares, aprendizagem interpessoal, ampliação da rede de apoio e promoção da saúde. A coordenação do grupo de crianças é realizada pela psicóloga do centro de saúde e o grupo de familiares/cuidadores é coordenado pela psicóloga-residente, contando com a participação das estagiárias de psicologia em ambos os grupos.

 

    O grupo de familiares/cuidadores foi proposto em 2010 com o objetivo de criar um espaço de escuta e diálogo para compartilhar experiências e refletir sobre as relações e dinâmicas familiares, visibilizar os ciclos transgeracionais, além de fomentar o vínculo e envolvimento no processo psicoterapêutico, aspectos que possibilitam questionar e fomentar mudanças nas formas cristalizadas de se relacionar e se expressar.

 

    Neste centro de saúde o acolhimento em saúde mental inicia por meio da escuta individual das famílias com o intuito de compreender a demanda da busca por atendimento psicológico. Após a realização de alguns encontros com a família, tanto na escuta individual da criança como das famílias/cuidadores, propõe-se a elaboração de um projeto terapêutico singular em conjunto. Uma das possibilidades ofertadas são os grupos concomitantes, caso haja interesse e se avalie como benéfico.

 

    Os grupos foram realizados semanalmente e de modo concomitante, tendo a duração de uma hora e meia. Configuram-se como semiabertos, pois há a possibilidade de ingresso de novos/as participantes mediante avaliação e comunicação prévia. Pode ocorrer a saída de alguma criança ao longo do ano, como acontece por mudança do turno escolar, dificuldades familiares, alta ou outros motivos. Notou-se que na entrada ou saída de uma criança há um movimento de reestruturação no grupo devido às mudanças e adaptações nas dinâmicas. O grupo acolhe crianças de diferentes faixa-etárias e com demandas variadas. A intervenção dos grupos concomitantes tem como propósito ampliar o olhar ao proporcionar um lugar para compreender a demanda familiar em seu contexto social.

 

Estratégias e metodologia da intervenção grupal 

 

    Utilizou-se como referencial metodológico as contribuições de Pichon-Rivière (2000) que propõe a noção de grupo operativo como um conjunto de pessoas que compartilham tempo e espaço a partir de uma tarefa implícita ou explícita e se relacionam a partir de um complexo mecanismo de suposição, atribuindo papéis a partir das representações internas de cada participante. Assim, entende-se que as situações grupais estão estruturadas a partir de subjetivações institucionais e sociais. O objetivo do grupo operativo consiste em reduzir os medos básicos, tornar visíveis as dificuldades, os conflitos, papéis cristalizados e as potencialidades dos/as participantes para lidar com situações adversas. A possibilidade de tomar conhecimento de naturalizações cria condições para mobilizar e romper com estruturas estereotipadas (Zimerman, 1997). A realização de grupos operativos na atenção primária à saúde possibilita práticas efetivas na promoção de saúde e prevenção do adoecimento e de seus agravos. (Menezes, e Avelino, 2016)

 

    O desenvolvimento do processo grupal implica falar e estar disposto a ouvir, reconhecer-se, compartilhar experiências, expressar o que se pensa, identificar singularidades, reconhecer a diversidade sem julgar, respeitar o/a outro/a e o tempo de cada pessoa. Nesse sentido, a coordenação tem um papel importante de dinamizar o diálogo ao utilizar técnicas que fomentem reflexões, valorizando o conhecimento e a experiência dos/as participantes.

 

    Uma das técnicas utilizadas em ambos os grupos foi o psicodrama (Moreno, 1999), que consiste em um método terapêutico para promover, canalizar e desenvolver o crescimento pessoal. Trata-se de uma abordagem que busca tornar visível os papéis familiares e culturais como meio de refletir sobre os aspectos relacionais cristalizados. É uma técnica que integra corpo, emoções e pensamento com ênfase na expressão de aspectos conscientes ou inconscientes das relações. Possibilita conectar com a imaginação ao falar e expressar corporalmente o lugar e o tempo em que foi vivida a situação de conflito, tornando visíveis as conservas culturais e os estereótipos sociais, o que contribui para viabilizar novos modos de se expressar e se relacionar ao abrir espaço para analisar e ressignificar as amarras identificadas. Na abordagem do psicodrama o grupo participa como um todo e não apenas quem representa a cena. Com crianças e adolescentes, além da encenação é possível utilizar outros mecanismos de expressão como desenhos, poesias, canções e o próprio brincar.

 

    No que se refere ao ambiente terapêutico no grupo de crianças, Levisky (1997) salienta a importância de um espaço adequado proporcional ao tamanho do grupo, onde sejam proporcionados jogos lúdicos variados. Na experiência, foi organizada uma sala grupal com uma ampla gama de materiais que permitissem tanto a brincadeira coletiva quanto individual, uma vez que a comunicação e expressão dos sentidos para as crianças se dá por meio dos jogos escolhidos, os personagens criados e papéis assumidos. Dessa forma, torna-se possível visibilizar e nomear o que emerge no brincar e nas relações estabelecidas no grupo, fomentando um espaço de reflexão sobre as experiências e o modo como lidam com as emoções, desafios, conflitos e sentimentos expressos, gerando trocas entre os pares. Rodulfo (1990) considera que o brincar é uma prática significativa, indicando que não há atividade no desenvolvimento da simbolização e estruturação da criança que não passe pelo brincar. Pavlovsky (1995) afirma que em toda a atividade lúdica existem dois níveis com as crianças. O primeiro seria a brincadeira como caminho para a elaboração de situações traumáticas que costumam acontecer através das repetições na tentativa de compreender algo ainda obscuro para a criança. O segundo nível seria o brincar criativo como forma de expressar a potência de criação, sendo considerada pelo autor como a via facilitadora do crescimento, podendo ser uma forma de comunicação em psicoterapia. (Pavlovsky, 1995)

 

Grupo de familiares/cuidadores 

 

    O grupo de familiares/cuidadores foi proposto a partir da necessidade de envolver as famílias no acompanhamento psicoterápico das crianças, pois em muitas situações havia a identificação da queixa-sintoma relacionada aos/às filhos/as, desconsiderando as implicações do contexto social, familiar e escolar. Dessa forma, o grupo de familiares/cuidadores foi proposto como uma maneira de refletir sobre as possíveis relações existentes com a finalidade ouvir as famílias/cuidadores para fomentar reflexões da dinâmica relacional e a troca de experiência quanto aos cuidados, por exemplo. Beà (1996) propõe como objetivo auxiliar as famílias a analisar sua relação com os/as filhos/as no que tange às expectativas, possibilidades e frustrações que lhe suscitam. A autora situa a importância de que as famílias/cuidadores conheçam as potencialidades, as necessidades e as dificuldades dos/as filhos/as, além de atentar aos círculos transgeracionais que tendem a se repetir nas relações.

 

    O grupo de familiares/cuidadores contou com a participação, em média, de seis participantes, sendo quatro mães, uma tia e um pai, alguns por adoção. Destes, quatro pessoas participavam com maior frequência. Trata-se de um grupo semiaberto no qual participam familiares das crianças do grupo. A baixa frequência de participação das famílias pode ser tomada com um fenômeno grupal de resistência, pois todos/as levam e buscam os/as filhos/as e alguns optavam por não permanecer no espaço que lhes foi proposto, por vezes nem atravessavam a rua, outros/as justificavam ter atividades, embora o horário tenha sido definido de acordo com suas disponibilidades.

 

    Nos primeiros encontros percebeu-se certa dificuldade das famílias em falar sobre suas questões, enfatizando reclamações dos/as filhos/as e a expectativa de saber o que acontecia no grupo de crianças. Assim, levou um tempo até que as/os familiares conseguissem se envolver no processo como figuras parentais para refletir sobre o que permeia esse papel subjetivamente. Com o passar dos meses, notou-se maior implicação no processo grupal, na medida em que conheciam as/os demais participantes e se sentiam à vontade para compartilhar suas experiências, sentimentos, medos e angústias, abrindo-se para questionar suas vivências relacionais e refletir sobre a forma como se posicionam com os/as filhos/as. A dinâmica grupal com adultos pode apresentar certa resistência no início devido aos desafios de compartilhar sofrimentos e angústias. Por meio das técnicas utilizadas, foi possível nomear os papéis cristalizados evidenciados pelas/os próprias/os participantes, fomentando processos de mudanças que reverberaram no processo psicoterápico das crianças.

 

    Compartilhar experiências entre pares é bastante significativo, pois gera a sensação de se sentir compreendido ou mesmo de analisar uma situação sob outras perspectivas. O processo grupal apresenta potencial para mudanças, como a utilização do espaço para falar de si, refletir sobre a forma como educam e cuidam dos/as filhos/as, as dificuldades que encontram, analisar experiências pessoais com as mães, pais e cuidadores/as, entre outras questões. Os/as cuidadores/as-participantes do grupo conseguiram reconhecer os aspectos positivos na forma de cuidar, que funciona como um feedback e incentivo dadas as dificuldades encontradas por cada um/a ao assumir tal papel. Com o passar dos meses, observou-se a mudança da postura de queixa para reconhecer as potencialidades dos/as filhos/as, bem como os aspectos positivos das funções parentais, além de ampliarem as estratégias para lidar com os desafios na dinâmica familiar.

 

Fragmentos e análise do grupo de crianças 

 

    O presente relato de experiência foi elaborado no período em que estavam participando oito crianças no grupo, com faixa-etária entre oito e doze anos, sendo encaminhadas para atendimento psicológico em função das seguintes demandas: fragilidade dos laços afetivos com a vivência de abandono e adoção, dificuldades escolares, hiperatividade, agressividade, problemas familiares e restrição do convívio social. O grupo foi composto por crianças com experiências diversas, o que Lancetti (1995) destaca como importante para fomentar o surgimento de singularidades que ampliam as perspectivas. Essa mistura contribuiu para a variedade de ideias, comportamentos, posicionamentos, reações e pensamentos, enriquecendo as reflexões do grupo e de cada integrante, além de facilitar o contraste e a diferenciação entre eles/as, com a primazia do respeito às singularidades. A partir da ideia da heterogeneidade grupal, é importante ressaltar a função da/o terapeuta no grupo, pois cabe a esta/e facilitar e coordenar a socialização e a comunicação.

 

    Para ilustrar o funcionamento do grupo de crianças, situa-se algumas situações experienciadas. A primeira consiste no encontro realizado em um piquenique de confraternização no final do semestre, conforme proposto pelas crianças. No meio de uma conversa Tiago (os nomes tratados neste artigo são todos fictícios) verbaliza "é a minha vão", expressão que utiliza várias vezes, sendo que sua avó é falecida. A psicóloga que coordena o grupo e acompanha o menino e sua família há mais tempo pergunta se ele gostaria de falar sobre sua avó. Tiago hesita e logo conta ao grupo que sua avó morreu ao engolir um chiclete dado por ele. As outras crianças compartilham que já engoliram chiclete e que não se morre por um chiclete, expressam que provavelmente a morte tenha sido por outro motivo. O menino guardava no imaginário o sentimento de culpa pela morte da avó, aspecto que foi questionado dentro do grupo. Tiago ficou reflexivo e se sentiu acolhido ao perceber que algo importante para ele tinha espaço no grupo.

 

    Enquanto brincavam no dia da confraternização, Pedro expressa: "Minha mãe me jogou fora" e refere que sua mãe adotiva "pegou ele". As demais crianças ficaram bastante mobilizadas com o relato. Felipe compartilha que também foi adotado. Bárbara conta que sua mãe foi adotada e fala sobre as diferentes formas de amor, tanto pela disposição das famílias adotivas em assumir os cuidados, como das famílias biológicas em reconhecer seus limites. Pedro demonstra um alívio ao compartilhar essa importante questão, sentindo-se compreendido pelo grupo que amplia a perspectiva da experiência. Rodrigo também utiliza esse espaço para contar ao grupo que seus pais estão se divorciando; ele demonstra tristeza e afirma não querer padrasto ou madrasta. Paula acolhe e compartilha sua experiência com o padrasto; ela expressa que ele é "legal", conta que no começo foi estranho, mas que depois melhorou e hoje eles brincam e se divertem, além de perceber que sua mãe está mais feliz assim.

 

    Evidencia-se alguns fenômenos grupais, como a função de espelho entendida como o resultado de um intenso jogo de identificações projetivas e introjetivas; a ressonância, compreendida como um fenômeno comunicacional, onde a fala trazida por um/a participante do grupo ressoa em outro/a transmitindo um significado afetivo equivalente, e assim sucessivamente (Zimerman, 1997). Esses processos apresentam uma grande repercussão terapêutica, pois possibilita a cada integrante se perceber e refletir com as situações expressas no grupo, podendo reconhecer na fala dos/as outros/as os aspectos próprios que são negados. A experiência grupal possibilita ressignificar as experiências relacionais e comunicacionais no processo em que cada membro aporta elementos terapêuticos para os/as demais e recebe do conjunto.

 

    Há uma constante contribuição das crianças diante das histórias relatadas, aspectos que refletem, ressoam e provoca identificações, repercutindo na necessidade que os membros do grupo sentem em compartilhar sobre sua própria experiência para ajudar as/os demais. Observou-se a efetividade das trocas entre pares, pois as crianças estavam atentas às falas e atitudes dos/as participantes, o que possibilitou a ressignificação de suas próprias vivências. Neste sentido, pode-se pensar no aspecto qualitativo do grupo referente às diferentes incidências dos comentários e intervenções do/a terapeuta e dos/as integrantes. O/a terapeuta tende a ser valorizado/a, mas também pode ser tomado/a como figura parental e no processo de buscar a autonomia as crianças podem responder de modo contrariado. Tal aspecto propicia maior abertura em escutar os pares, colocando-os/as em processo de identificação, empatia e solidariedade. Para tal, é importante que o/a terapeuta facilite a comunicação e trocas entre participantes do grupo. (Beà, 1996)

 

    Uma situação frequente foi a dificuldade de algumas crianças em aceitar as regras dos jogos ou as estabelecidas pelo grupo. Nesses momentos, percebia-se a irritabilidade ou mesmo a preferência pelo isolamento do que jogar com os/as demais e enfrentar a possibilidade de “perder” no jogo. No intuito de facilitar a expressão, foram destacadas algumas questões a partir das indagações às/aos participantes acerca do que estaria acontecendo, oportunizando que todos/as verbalizassem como percebiam as situações, principalmente em relação às tensões e conflitos.

 

    Em um determinado dia, Pedro ficou quieto no grupo depois de contar que sua professora havia entrado em contato para conversar com a equipe de psicologia do centro de saúde. Diante disso, foi proposto o diálogo para compreender o que ele pensava a respeito do assunto. Ele responde que “não estava acontecendo nada” e durante o grupo ele demonstrou maior irritabilidade e dificuldade em seguir as regras estabelecidas, preferindo brincar sozinho, embora continuasse atento aos/as demais. As crianças expressaram que o notaram muito irritado naquele dia, convidando-o para brincar. Ao longo do encontro, ele contou que brigou com um amigo na escola, e logo com a professora e com a mãe, e expressa que ficou irritado com ele mesmo. Naquele momento, as terapeutas propuseram uma dinâmica do psicodrama convidando Pedro para representar o que aconteceu e as demais crianças se disponibilizam a participar do processo. A situação foi encenada de maneiras distintas, nas quais o grupo contribuiu para buscar maneiras alternativas para lidar com a raiva e impulso sentidos por Pedro. Cada personagem foi convidado/a a expressar como se sentiu. O grupo demonstrou maturidade interna e empatia, respeitando o processo singular dos/as participantes. Pedro demonstrou sentir-se acolhido pelo grupo, conseguiu expressar os sentimentos buscando entender o que a situação despertava nas/os demais participantes em cena. O encontro foi finalizado com uma rodada de reflexão sobre modos de lidar e expressar as emoções. Foi dado retorno quanto ao contato da professora e Pedro demonstrou compreender depois de comunicar seu incômodo. No grupo foi pactuado conversar primeiro com as crianças antes de ir à escola para não gerar segredos ou quebrar a confiança construída.

 

    Ao final de um ano de participação no grupo, as crianças demonstraram maior sensibilidade para expressar suas emoções e para enfrentar os desafios nas relações. Em dada situação, uma das crianças deu um feedback para Bárbara ao expressar que ela se posicionava de modo muito justo os/as demais, mas não consigo mesma. Os/as participantes contribuíram ao sinalizar cada situação que esse aspecto voltava a acontecer, reiterando a importância de Bárbara posicionar a sua vontade, parabenizando-a quando identificaram mudanças na sua atitude.

 

    Beà (1996) salienta a importante função do/a terapeuta em escutar e observar, buscando facilitar e coordenar a comunicação entre os participantes do grupo para estimulá-los/as a falar de suas experiências por meio do intercâmbio verbal e do lúdico com a finalidade de acolher o que o grupo expressa, compartilhar experiências e sentimentos com empatia, participar com sugestões e perguntas, oferecendo uma síntese do que se sucede e dos aspectos referentes ao potencial evolutivo da interação grupal. Do mesmo modo, a autora postula que o/a terapeuta deve comunicar verbalmente ao grupo apenas uma parte do que interpreta das situações para que possa dar tempo ao próprio grupo de desenvolver uma importante atividade de elaboração, conforme fluiu na dinâmica grupal relatada.

 

Processo de avaliação 

 

    Na dinâmica de grupo, a escuta individual foi oferecida quando necessário, como em situações que geravam níveis mais elevados de ansiedade e angústia, em experiências que despertavam grande sofrimento ou sempre que solicitado. Além disso, estabeleceu-se contato com professores/as e orientadores/as pedagógicos/as das crianças a cada seis meses ou quando solicitado pela escola, no intuito de avaliar os possíveis efeitos do acompanhamento psicoterápico grupal no contexto escolar, principalmente quando encaminhados pela instituição. Da mesma forma, a cada seis meses era realizada uma entrevista individual com cada familiar/cuidador/a para avaliar o processo terapêutico. Com as crianças a avaliação foi feita no próprio grupo com recursos lúdicos em um ritual festivo antes das férias de inverno e verão.

 

    Após cada encontro, os coordenadores dos dois grupos se reuniam para compartilhar sobre as dinâmicas ocorridas, para avaliar o processo grupal e a situação de cada família no intuito de propiciar uma perspectiva integrativa da intervenção. Os encontros grupais foram registrados semanalmente em cadernos específicos e compilados em uma síntese no prontuário de cada família a cada dois meses. Nesse espaço também eram realizadas discussões teóricas sobre técnicas grupais, além da supervisão dos psicólogos-residentes e estagiárias/os de psicologia. Era reservado um horário quinzenal para as conversas nas escolas e discussões de casos com outros/as profissionais da equipe do centro de saúde. Nesses encontros foi possível aprender com o processo de avaliação qualitativa da dinâmica grupal, familiar e escolar. Além disso, foram planejadas a realização de reuniões com as crianças e as/os responsáveis, uma vez que foram encontradas evidências sobre a eficácia de grupos e encontros multifamiliares na literatura. Entretanto, quando foi proposto as reuniões conjuntas, as crianças falaram da importância de um espaço para elas, expressando a preferência por manter encontros separados.

 

Conclusões 

 

    A realização dos grupos concomitantes se constituiu como importante dispositivo de troca entre pares, fomentando a escuta, a expressão e o conhecimento de diferentes perspectivas para as situações vivenciadas, tendo impacto significativo para elaborar as experiências e refletir sobre os modos de se relacionar. Assim, é possível pensar no aspecto qualitativo do grupo no que diz respeito à troca entre iguais, pois embora o papel da terapeuta coordenadora seja muito valorizado pelos/as participantes, eles costumam ser vistos no lugar de profissionais. Nesse sentido, a troca entre pares facilita a escuta e a compreensão das experiências dos/as demais, o que os/as coloca em um processo de identificação, empatia e solidariedade, como aconteceu em ambos os grupos. Facilitar a comunicação entre membros do grupo é um elemento primordial na dinâmica grupal.

 

    Ao longo da intervenção, percebeu-se o maior envolvimento das famílias/cuidadores no processo psicoterapêutico ao expressar suas angústias e refletir sobre as relações, questionar os papéis cristalizados abrindo-se para mudanças nos modos de agir, de se relacionar e de se expressar. O processo demonstra melhoria na saúde mental das crianças participantes que foram sensíveis às situações dos/as demais e se sentiram à vontade, ao longo dos encontros, para expressar o que sentiam e estimular as potencialidades de cada integrante do grupo, ouvindo com atenção em um processo de amadurecimento pessoal e grupal. Após o primeiro ano uma das meninas teve alta do grupo e no final do segundo ano dois meninos tiveram alta, embora um deles tenha demonstrado vontade de continuar no grupo. Quando considerada a possibilidade de alta, a questão era abordada com a família e com as crianças, buscando respeitar a singularidade e particularidades de cada situação. No caso em que a família e a criança não se sentiam preparados/as para sair do grupo, foi viabilizada a continuidade ou o retorno ao grupo. Avalia-se que a intervenção de grupos psicoterápicos concomitantes de crianças e famílias/cuidadores como construtiva e significativa, uma vez que fomenta cuidados de saúde para além do indivíduo, possibilitando a ampliação da rede de apoio e melhor compreensão da dinâmica familiar e escolar, viabilizando a promoção da saúde mental em uma perspectiva integral.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 301, Jun. (2023)