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ISSN 1514-3465

 

Religiosidade, disposição para perdoar e saúde 

referida em universitários: estudo comparativo

Religiosity, Willingness to Forgive and Referred Health in University Students: Comparative Study

Religiosidad, voluntad de perdonar y salud autoinformada en estudiantes universitarios: un estudio comparativo

 

Elisa dos Santos*

elisa_santos_01@outlook.com

Bárbara Alves Pereira*

babis.adv@gmail.com

Ruthyelle Ribeiro Rodrigues Pimentel**

ruthyelle10@hotmail.com

Gina Andrade Abdala+

ginabdala@gmail.com

Maria Dyrce Dias Meira++

dyrcem@yahoo.com.br

 

*Graduanda em Enfermagem

Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP-SP)

**Enfermeira. Pós-graduanda em residência em enfermagem UNASP-SP)

+Enfermeira. Mestre em Saúde Coletiva, Doutora em Ciências (USP)

Aposentada do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP-SP)

++Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Doutora em Ciências (USP)

Docente do Curso de Mestrado em Promoção da Saúde

no Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP-SP)

(Brasil)

 

Recepção: 17/10/2022 - Aceitação: 31/03/2023

1ª Revisão: 22/12/2022 - 2ª Revisão: 28/03/2023

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Santos, E. dos, Pereira, B.A., Pimentel, R.R.R., Abdala, G.A., e Meira, M.D.D. (2023). Religiosidade, disposição para perdoar e saúde referida em universitários: estudo comparativo. Lecturas: Educación Física y Deportes, 28(299), 119-136. https://doi.org/10.46642/efd.v28i299.3700

 

Resumo

    Introdução: O perdão é considerado o ato de desculpar um erro, podendo ter o potencial de aliviar as vítimas do peso da mágoa, da ruminação e do ressentimento. Objetivo: Comparar o perfil da religiosidade, da disposição para perdoar e saúde referida de formandos dos cursos de enfermagem e psicologia de uma instituição confessional em relação aos índices apresentados no início dos cursos. Método: Estudo de corte transversal, quantitativo, desenvolvido em continuidade a uma etapa anterior, com alunos ingressantes no primeiro semestre de 2018 nos cursos de enfermagem e psicologia em uma universidade privada em São Paulo-SP. Na etapa atual foram incluídos os estudantes formandos que participaram da primeira fase da pesquisa e outros que optaram por participar, totalizando 65 alunos. Foram coletados os dados sociodemográficos, Índice de Religiosidade (DUKE-DUREL) e Escala de Disposição para Perdoar (EDP). Para análise dos dados foi aplicada estatística descritiva e teste de comparação de médias, por meio do t de Student. Resultados: Ao se comparar com os dados coletados no início de ambos os cursos, observou-se uma diminuição nos índices de religiosidade, disposição para perdoar e saúde autorreferida dos entrevistados. O que mais chamou a atenção foi que a EDP apresentou uma diminuição de 42,59 (±15,6) para 40,19 (±13,14) no curso de enfermagem e de 50,06 (±11,88) para 37,35 (±14,86) no curso de psicologia, com maior baixa para a psicologia (p<0,05). Conclusão: É necessário que, questões espirituais e religiosas, se façam presentes na formação profissional de enfermeiros, psicólogos e demais profissionais da área da saúde.

    Unitermos: Religião. Perdão. Espiritualidade. Estudantes.

 

Abstract

    Introduction: Forgiveness is considered the act of excusing a mistake, and it can have the potential to relieve victims of the weight of hurt, rumination and resentment. Objective: To compare the profile of religiosity, willingness to forgive and self-reported health of graduates of nursing and psychology courses at a confessional institution in relation to the indices presented at the beginning of the courses. Method: Cross-sectional, quantitative study, developed in continuity with a previous stage, with students entering the first semester of 2018 in undergraduate courses in nursing and psychology at a private university in São Paulo-SP. In the current stage, graduating students who participated in the first stage of the research and others who chose to participate were included, totaling 65 students. Sociodemographic data, Religiosity Index (DUKE-DUREL) and Disposition to Forgive Scale (EDP) were collected. For data analysis, descriptive statistics, and the comparison of means test were applied, using Student's t test. Results: When comparing with the data collected at the beginning of both courses, there was a decrease in the rates of religiosity, willingness to forgive and self-reported health of respondents. What most drew attention was that the EDP showed a decrease from 42.59 (±15.6) to 40.19 (±13.14) in the nursing course and from 50.06 (±11.88) to 37.35 (±14.86) in the psychology course, with the highest drop for psychology (p<0.05).Conclusion: It is necessary that, spiritual and religious questions are present in the professional training of nurses, psychologists and other professionals in the health area.

    Keywords: Religion. Forgiveness. Spirituality. Students.

 

Resumen

    Introducción: El perdón se considera el acto de excusar un error y puede potencialmente aliviar a víctimas del peso del dolor, rumiación y resentimiento. Objetivo: Comparar el perfil de religiosidad, voluntad de perdonar y autoinforme de salud de egresados ​​de cursos de enfermería y psicología de una institución confesional en relación a los índices presentados al inicio de los cursos. Método: Estudio transversal, cuantitativo, desarrollado en continuidad a una etapa anterior, con estudiantes del primer semestre de 2018, en una universidad privada de São Paulo-SP. En la etapa actual, se incluyeron estudiantes de graduación que participaron de la primera fase de la investigación y otros que optaron por participar, totalizando 65 estudiantes. Se recogieron datos sociodemográficos, Índice de Religiosidad (DUKE-DUREL) y Escala de Disposición al Perdón (EDP). Para el análisis de los datos, se aplicó la estadística descriptiva y la prueba de comparación de medias mediante la prueba t de Student. Resultados: Al comparar con los datos recolectados al inicio de ambos cursos, se observó una disminución en los índices de religiosidad, disposición a perdonar y autopercepción de salud de los entrevistados. Lo que más llamó la atención fue que la EDP mostró una disminución de 42,59 (±15,6) a 40,19 (±13,14) en la carrera de enfermería y de 50,06 (±11,88) a 37,35 (±14,86) en la carrera de psicología, con la mayor caída para psicología (p<0,05). Conclusión: Es necesario que las cuestiones espirituales y religiosas estén presentes en la formación profesional de enfermeros, psicólogos y otros profesionales de la salud.

    Palabras clave: Religión. Perdón. Espiritualidad. Estudiantes.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 299, Abr. (2023)


 

Introdução 

 

    O perdão, é o ato de desculpar um erro, pode ser conhecido como remissão de culpas. É considerado uma atitude moral que contribui para o bem-estar físico e mental tanto de quem transmite o perdão, como de quem o recebe. É uma mudança pró-social no que se refere ao ofensor. Um esforço em vê-lo com compaixão e benevolência, não negando o sentimento, mas superando o afeto negativo causado (Moura et al., 2020). Ele tem o potencial de aliviar as vítimas do peso da mágoa, da ruminação e do ressentimento. É capaz de causar a redução de motivações de vingança e raiva, podendo estar acompanhado por um aumento de pensamentos, sentimentos e motivos positivos, em relação à pessoa ofensora. (Wade et al., 2014)

 

    O perdão e a vingança, de certa forma, acabam se relacionando. Ambos, são estratégias para lidar com eventos estressantes. Em muitos casos, são considerados inversos, justamente pelo fato de que é transmitido o perdão, quando se reduz a motivação de vingança. Pessoas vingativas, acabam perdoando menos e ruminando mais. Estas mantêm o desejo de se vingar por mais tempo do que as que perdoam com frequência (Moura et al., 2020).

 

    Existem muitos motivos para os indivíduos agirem favoráveis ao intuito de perdoar. Um artigo de autoria de Gabriels, e Strelan (2017), citou quatro destes. O primeiro é que o perdão restaura laços relacionais. E como os seres humanos costumam ser contra o fim dos relacionamentos, este acaba sendo uma opção para se manter a harmonia social. O segundo é que em relacionamentos próximos, o perdão, geralmente, é automático. O estudo relata que, o terceiro motivo, é que o não perdoar pequenas transgressões, pode ser visto como um comportamento ruim, o que pode levar a consequências piores, como novos conflitos. E o último é que, muitas vezes, as vítimas perdoam pensando em evitar os efeitos negativos que o estado de imperdoabilidade pode trazer para sua saúde física e bem-estar. Assim, mesmo que, perdoar o transgressor seja um problema, a retenção deste perdão também acaba não sendo livre de riscos.

 

    O principal teste do perdão é o imperdoável. Ele é considerado um ato de reconhecimento mútuo, algo que a própria dinâmica da ofensa nega quando o transgressor a comete. É a restituição à vítima do privilégio de conceder o perdão, recuperando sua capacidade de deliberar quanto ao seu destino (Silveira, 2021). Diferente da raiva e do ressentimento, o perdão não é entendido como uma resposta natural. É motivado pela compaixão e implica no desenvolvimento moral e social do indivíduo. (Rique, e Camino, 2010)

 

    Existem dois tipos de perdão, aquele em que se perdoa, pensando no transgressor e o focado em si mesmo. Há uma grande diferença entre eles. No primeiro, as pessoas acabam não focando no seu estado emocional e sim em como preservar o relacionamento. E o segundo, envolve o bem-estar próprio. A decisão de perdoar por causa de si mesmo acaba gerando menos angústia e emoções negativas do que a decisão de perdoar por causa da relação. (Gabriels, e Strelan, 2017)

 

    A remissão de culpas tem uma dimensão pessoal, social, política, espiritual e cultural, assim gerando transformações profundas na lógica dos conflitos. A vida coletiva, provavelmente, não existiria sem o perdão. Esta ação corriqueira, não é algo que venha do além ou que seja extraordinário. É considerado puramente humano (Gomez, 2016). Ao se perdoar verdadeiramente, surge um sentimento de alívio emocional, este pode evitar mágoas e rancor. (Lopes et al., 2016)

 

    O perdão não deve ser considerado um dever, um mandato religioso, não pode ser forçado ou instruído e muito menos considerado um bordão para a paz, pois dessa forma, a “ferida” não é fechada e é provável que esta venha à tona anos depois, como forma de vingança ou como descarga em pessoas mais fracas. Cada um deve passar pelo ato de perdoar, respeitando seus ritmos subjetivos. Este deve ser uma ação livre, legítima e pessoal. E quando concedido, deve ser respeitado, acolhido e valorizado. (Gomez, 2016)

 

    Em certas religiões, o perdão é uma expressão do amor de Deus e uma resposta ao apelo de alguém que está arrependido por ter cometido uma iniquidade (Stanislaw, 2019). No conceito cristão, quando o indivíduo se arrepende, a injustiça é como um fardo que está dentro dele próprio que a cometeu, envenenando seu organismo inteiro. E este só pode ser aliviado através da graça e do perdão. (Correia, 2020)

 

    Certas escolas e universidades confessionais acabam se vinculando a organizações religiosas. O Decreto 119-A, de 7/1/1890, fundou o entendimento que regulamentou a separação entre Estado e Igreja e cultivou a liberdade de culto (Azevedo, 2006). Assim dizendo, a religiosidade pode ser levada aos alunos de tais instituições, os convencendo a ter uma maior aceitação do perdão em seu estilo de vida. Dessa forma, proporcionando melhorias em sua saúde (Dauber, 2016), principalmente pelo perdão ser considerado tanto como um comportamento ligado ao bem-estar psicológico, como para a saúde integral do ser humano. (Stanislaw, 2019; Pimentel et al., 2021; Borges et al., 2021)

 

    Assim, esse estudo teve como objetivo comparar o perfil da religiosidade, da disposição para perdoar e da saúde autorreferida de formandos dos cursos de enfermagem e psicologia de uma instituição confessional em relação aos índices apresentados no início dos cursos.

 

Método 

 

    Estudo de corte transversal com abordagem quantitativa, realizado em duas etapas. Na primeira, realizada no ano de 2018, foram avaliados os perfis de alunos ingressantes dos cursos de enfermagem e psicologia de uma instituição de ensino confessional na Zona Sul de São Paulo (Pimentel et al. 2021). A segunda etapa foi realizada com os mesmos alunos, agora formandos. Esta instituição baseia seus princípios, objetivos e forma de atuação em uma denominação cristã. É uma universidade da rede privada que atende alunos do ensino básico ao mestrado. A amostra, da segunda etapa, foi composta por 65 alunos, que aceitaram participar da pesquisa (26 da enfermagem e 39 da psicologia). A primeira coleta foi realizada no mês de outubro de 2018 e, a segunda, no mês de março de 2022, ambas durante as aulas de alguns professores que autorizaram a aplicação dos questionários, cujos dados foram coletados pelas próprias pesquisadoras.

 

    Foram coletados dados sociodemográficos e de saúde (sexo, idade, escolaridade, saúde física e mental autorreferidas) e utilizados o Índice de Religiosidade (DUKE-DUREL), validado no Brasil por Taunay et al. (2012) e a Escala de Disposição para Perdoar (EDP), validada no Brasil por Gouveia et al. (2015).

 

    O Índice de Religiosidade (DUKE-DUREL) é um instrumento que possui cinco itens que captam três das dimensões de religiosidade que mais se relacionam com desfechos em saúde: Religiosidade Organizacional (RO), Religiosidade Não Organizacional (RNO) e Religiosidade Intrínseca (RI). (Taunay et al., 2012)

 

    A RO mede a frequência à igreja, algo praticado coletivamente, a RNO significa a prática particular da religião como ler a Bíblia ou um livro religioso ou mesmo assistir programas religiosos. Já a RI avalia o quanto a pessoa considera importante essa espiritualidade para a tomada de decisões importantes na sua vida e para sua saúde. (Taunay et al., 2012)

 

    A Escala de Disposição para Perdoar (EDP) foi elaborada por DeShea em 2003 (DeShea, 2003), com o nome original de “A Willingness to Forgive” (WIF), composta inicialmente por 38 perguntas, reduzidas posteriormente para 19 e atualmente é composta por 12 perguntas redigidas em forma de cenários, simulando situações de transgressões, envolvendo pessoas próximas ao indivíduo. Após ler cada cenário, o respondente deve focar no ato principal da transgressão e responder, em escala de Likert (zero a seis pontos), o quão disposto estaria a perdoá-lo, variando de 0 (Nada disposto a perdoar) a 6 (Totalmente disposto para perdoar). Essas perguntas representam maneiras de pensar, sentir ou comportar-se no dia a dia. Portanto, a amplitude desta escala varia de 0-72 pontos, indicando que, quanto maior, melhor a disposição para perdoar. Esta escala foi validada no Brasil com o seu nome atual de “Escala de Disposição para Perdoar”, por Gouveia et al. (2015). Os dados referentes à saúde física e mental foram avaliados a partir de respostas autorreferidas e classificados entre “muito boa” (1) a “muito ruim” (5).

 

    Segundo Nogueira et al. (2019), a saúde autorreferida (saúde física e mental) é preditora de morbimortalidade. Uma saúde precária autorreferida (ruim e muito ruim) está intimamente ligada aos fatores inerentes da doença em si. Está também relacionada ao aumento do número de hospitalizações. Em seu estudo com 59.655 adultos, eles puderam estimar uma prevalência de Insuficiência Cardíaca com a saúde autorreferida precária.

 

    Quanto à análise de dados do presente estudo, foi realizada uma análise estatística descritiva dos perfis de religiosidade, disposição para perdoar e saúde física e mental autorreferida encontrados entre os alunos dos cursos de enfermagem e psicologia, no ano em que ingressaram e no último ano da graduação. Foram realizados testes de comparação de médias, entre os escores das variáveis quantitativas, por meio do teste t de Student.

 

    Realizou-se o teste de Alpha de Cronbach da sub-escala de Religiosidade Intrínseca do instrumento de Religiosidade de DUKE-DUREL e também da escala EDP, relatados nos resultados mais a frente.

 

    As duas etapas da pesquisa foram autorizadas pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Adventista de São Paulo (CEP/UNASP), CAAE 91699818.0.0000.5377, a primeira sob parecer 2.857.138. E a segunda, sob parecer 5.054.414.

 

    Os dados dos participantes foram mantidos anônimos e utilizados, unicamente, para fins acadêmicos-científicos, observando as regras da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais,Lei n. 13.709/2018. (Brasil, 2022)

 

Resultados 

 

    A idade média de todos os participantes foi de 22,64 (dp=6,14), com mínimo de idade de 18 anos e máximo de 53 anos. A religião predominante destes alunos, nas duas etapas juntas, foi de 66,9% (n=87) de adventistas, 10,8% de evangélicos (n=14), 6,9% cristãos (n=9), 6,2% de católicos (n=8) e 3,8% não tinham religião (n=5). O tempo de pertencimento aos cultos religiosos referidos por eles foi de 15,01 anos (dp=8,23).

 

    Quanto ao sexo dos participantes, da etapa atual, a maioria é do sexo feminino em ambos os cursos (Tabela 1).

 

Tabela 1. Distribuição dos participantes segundo o sexo e o curso estudado. São Paulo, 2022

Sexo

Cursos

Ingressantes enfermagem

Formandos enfermagem

Ingressantes

psicologia

Formandos psicologia

n

%

n

%

N

%

n

%

Feminino

39

88,6

23

88,5

17

94,4

37

94,9

Masculino

5

11,4

3

11,5

1

5,6

2

5,1

Total

44

100,0

26

100,0

18

100,0

39

100,0

Fonte: Elaboração própria

 

    A pesquisa (Tabela 2) apontou que dentre as três dimensões de religiosidade, a que apresentou maiores resultados, entre os alunos formandos, foi a RO. E, mesmo assim, em todas as categorias, os iniciantes manifestaram melhor desempenho. Ao dicotomizar as categorias de religiosidade para melhor visualização dos resultados, percebeu-se uma diminuição do envolvimento religioso ao longo dos anos de graduação desses universitários de ambos os cursos (Tabela 2).

 

Tabela 2. Distribuição dos participantes segundo a religiosidade e as séries

 iniciais e finais dos cursos de Enfermagem e Psicologia. São Paulo, 2022

Alunos

Ingressantes

Enfermagem

Formandos

Enfermagem

Ingressantes

Psicología

Formandos

Psicología

Religiosidade

N

%

N

%

N

%

N

%

RO

De “2 a 3x/semana a mais 1 x/semana” (1+2+3)

42

91,3

20

76,9

19

100

28

71,8

De “nunca a algumas x/ ano” (4+5+6)

4

8,7

6

23,1

0

0,0

11

28,2

RNO

De “diariamente a mais de 1 x/ dia” (1+2)

32

69,6

15

57,7

11

57,9

21

53,8

De “raramente ou nunca a 2 ou mais x/semana (3+4+5+6)

14

30,4

11

42,3

8

42,1

18

46,2

RI 1 +

RI 2 +

RI 3

De “em geral é verdade a totalmente verdade” (1+2)

36

78,3

20

76,9

16

84,2

25

65,8

De “não é verdade a não estou certo” (3+4+5)

10

21,7

6

23,1

3

15,8

13

34,2

Legenda: RO (Religiosidade Organizacional; frequência aos cultos religiosos); RNO (Religiosidade Não Organizacional; prática particular da religiosidade – orar, rezar, ler um livro religioso, assistir um canal TV religioso etc.); RI1 (Religiosidade Intrínseca 1: “Sinto a presença de Deus ou do Espírito Santo); RI2 (Religiosidade Intrínseca 2: “As minhas crenças estão por trás da maneira de viver”) e RI3 (Religiosidade Intrínseca 3: “Eu me esforço para viver a religião”). Fonte. Elaboração própria  

 

    Notou-se que o questionário “Índice de Religiosidade de Duke (DUKE-DUREL)” apresentou um Alpha de Cronbach total de 0,76 e para a subescala de RI um Alpha de Cronbach de 0,77 considerados adequados para os padrões de confiabilidade. (Strelhow, e Sarriera, 2018)

 

    Ao analisar os dados de saúde coletados, observou-se que os índices de saúde mental, referida pelos alunos do curso de enfermagem, obtiveram uma relevante diminuição em relação aos valores verificados no primeiro ano do curso. Quanto a saúde física a diminuição não foi tão acentuada. Nos alunos que pertencem ao curso de psicologia, os resultados foram inversos, a saúde mental sofreu menor redução dos valores que a saúde física (somando-se as categorias “Muito boa” e “Boa”) (Figura 1).

 

Figura 1. Distribuição dos alunos iniciantes e formandos em enfermagem e psicologia, segundo a

saúde física e mental referida (Somando-se as categorias “Muito boa” e “Boa”). São Paulo, 2022

Figura 1. Distribuição dos alunos iniciantes e formandos em enfermagem e psicologia, segundo a saúde física e mental referida (Somando-se as categorias “Muito boa” e “Boa”). São Paulo, 2022

Fonte: Elaboração própria

 

    O Alpha de Cronbach da EDP no presente estudo foi de 0,89 indicando boa confiabilidade interna do instrumento. Nesta escala “EDP”, houve uma diminuição da disposição para perdoar ao longo dos anos, com diferença estatística somente no curso de psicologia. Ou seja, os alunos não estão aumentando sua disposição para perdoar, mas sim diminuindo (Tabela 3).

 

Tabela 3. Média e desvio padrão da variável “EDP (Escala de Disposição 

para Perdoar)” e o valor de p para o Teste t de Student. São Paulo, 2022

 

Cursos

Iniciantes enfermagem (n=42)

Formandos enfermagem (n=26)

 

Iniciantes psicologia (n=16)

Formandos psicologia (n=38)

 

Média e DP

Média e DP

Valor de p

Média e DP

Média e DP

Valor de p

EDP

42,59 (15,6)

40,19 (13,14)

0,511

50,06 (11,88)

37,35 (14,86)

0,001

Fonte: Elaboração própria

 

    Ao correlacionar as variáveis de RO, RNO e RI (três perguntas juntas) com a EDP, observou-se que a todas as dimensões da religiosidade estão associadas com a EDP, ou seja, quanto maior o envolvimento religioso, melhor é a disposição para perdoar, com maior carga para a frequência à igreja (-0,369; p = 0,001). Ao correlacionar a saúde física e saúde mental com a EDP, encontrou-se que somente a saúde mental está associada à disposição para perdoar, ou seja, estar bem mentalmente ajuda na disposição para perdoar (-0,272; p = 0,002). São correlações fracas, mas significantes (Tabela 4).

 

Tabela 4. Correlação de Pearson entre Religiosidade e EDP; Saúde Física e Mental e EDP

Religiosidade, Saúde Física e Saúde Mental

EDP (Escala de Disposição para Perdoar)

Coeficiente Correlação Pearson

Valor de p

RO

-0,369

0,001

RNO

-0,194

0,027

RI (RI1, RI2, RI3)

-0,248

0,005

Saúde Física

-0,158

0,074

Saúde Mental

-0,272

0,002

Legenda: RO (Religiosidade Organizacional; frequência aos cultos religiosos); RNO (Religiosidade Não Organizacional; prática particular da religiosidade – orar, rezar, ler um livro religioso, assistir um canal TV religioso etc.); RI1 (Religiosidade Intrínseca 1: “Sinto a presença de Deus ou do Espírito Santo); RI2 (Religiosidade Intrínseca 2: “As minhas crenças estão por trás da maneira de viver”) e RI3 (Religiosidade Intrínseca 3: “Eu me esforço para viver a religião”). Fonte: Elaboração própria

 

Discussão 

 

A partir dos dados encontrados em relação ao sexo dos participantes, pode-se verificar o predomínio de estudantes do sexo feminino. Um artigo publicado por Souza et al. (2013), apresentou o desfecho de uma pesquisa, na qual foram aplicados questionários para 97 ingressantes do curso de enfermagem, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O resultado foi que 91,75% dos participantes, que corresponde a 89 estudantes, eram mulheres.

 

    A enfermagem é uma profissão que, desde o seu surgimento até os dias atuais, apresenta predomínio do gênero feminino. Este conceito pode estar associado à imagem de cuidar e proteger atrelada às mulheres através da história. E que, por extensão, por serem tarefas similares, o cuidado com os doentes passou a ser também responsabilidade dessa categoria. (Souza et al., 2013)

 

    Referente ao curso de psicologia, um artigo publicado por Figuerêdo (2017), reforça a ideia de que na sociedade brasileira, determinadas profissões foram construídas culturalmente ligadas ao cuidado. Dentre estas, além da enfermagem, está também a psicologia, como se tais práticas fossem atribuídas exclusivamente às mulheres.

 

    Após a análise obtida através das informações coletadas, foi possível observar que houve uma diminuição do envolvimento religioso ao longo dos anos entre os universitários pesquisados. Um artigo publicado por Swatowiski et al. (2018), apresenta os resultados de um questionário aplicado em alunos dos cursos de ciências sociais e psicologia, na Universidade Federal de Uberlândia. Colocando como foco os estudantes da área da psicologia, dentre uma amostra de 100 alunos, 46% (46 alunos) declararam não pertencer a uma religião. Destes 46 entrevistados, 87,23% afirmaram que haviam pertencido a uma religião, mas que se desvincularam de uma identidade religiosa ao longo do curso.

 

    Durante o tempo de graduação, os universitários desta pesquisa, além de enfrentarem os entraves do curso, ainda passaram pela aflição do isolamento, devido a pandemia do coronavírus (CoV). O CoV foi conhecido em 2002 e 2003 por causar uma síndrome respiratória aguda grave no ser humano denominado SARS. No entanto, foi rapidamente controlado. Dezoito anos após os primeiros casos, a doença voltou a aparecer, levando como nome SARS-CoV-2. A disseminação geográfica do vírus, tanto em nível nacional como internacional, foi rápida, o que levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a declarar o estado de contaminação como pandemia (Brito et al., 2020). Entre as estratégias utilizadas para evitar a proliferação do vírus, estava o isolamento social.

 

    Nas correlações apresentadas neste artigo, encontrou-se associações fracas, porém significantes entre todas as dimensões da religiosidade e disposição para perdoar. A religião acaba desempenhando um papel importante na vida das pessoas que a seguem. Muitos estudos comprovam seu efeito sobre a saúde física, mental e social dos fiéis, estando presente em sua formação cultural, influenciando tanto em suas decisões diárias, como também em atitudes relacionadas à saúde (Borges et al., 2021). Alguns de seus efeitos, que podem influenciar no bem-estar dos indivíduos, envolvem a autoconsciência, enfrentamento e adaptação eficaz ao estresse, melhora nos relacionamentos e interconexão com os outros, maior confiança e um viver com significado e esperança (Tarakeshwar et al., 2006). O perdão é um assunto muito tratado dentro do âmbito religioso e, contudo, acaba sendo um tema de grande relevância na vida dos adeptos.

 

    Um estudo, realizado por Nascimento et al. (2016), com 17 enfermeiros de um hospital estadual localizado no interior do Estado de São Paulo, relatou que dez dos entrevistados mencionaram ter recebido, de maneira pontual e pouco abrangente, orientação quanto a dimensão religiosa durante a graduação. Referiram que a maior dificuldade para realizar o cuidado espiritual é à falta de conhecimento para efetuar essa abordagem. Quando o profissional não observa o paciente como um todo e busca apenas cuidar de sua patologia, ignorando o que pode ocasioná-la, este acaba não lhe ofertando um cuidado integral. (Jesus, 2020)

 

    Silva Filho et al. (2022) realizaram uma entrevista com quatro enfermeiras com pós-graduação em saúde mental, que trabalham em Centros de Atenção Psico-social (CAPS) da região metropolitana do Cariri, no estado do Ceará. Dentre estas, uma se destacou por afirmar ter participado, de forma superficial, de disciplinas que tratavam de conteúdos religiosos no cuidado em saúde mental, diferente das demais, que afirmaram não recordar da abordagem do tema em sala de aula. Para as participantes, a religião e a espiritualidade são essenciais ao ser humano e a questão de ter uma visão holística no cuidar, é necessária. No ponto de vista das entrevistadas, a assistência de enfermagem no atendimento psicossocial vai além da questão da doença, abrange todos os aspectos do indivíduo. Relataram que a dimensão religiosa solidifica na pessoa o desejo de se recuperar e enfrentar a patologia.

 

    Existem evidências, a respeito da importância de apresentar uma noção interdisciplinar para compreender a complexidade dos indivíduos, o que inclui a dimensão espiritual (Inoue, e Vecina, 2017). Certas pesquisas demonstram a relação entre o bem-estar religioso e o processo de promoção da saúde, relacionando o impacto da religião sobre o aparecimento de enfermidades, resultado dos tratamentos e sobre a qualidade de vida do enfermo. (Da Silva Conde et al., 2019)

 

    Lucchetti et al. (2013) realizaram uma pesquisa com graduandos de medicina de 12 escolas médicas brasileiras. De um total de 3.630 estudantes participantes, 71,2% destes relataram que acreditam na influência da espiritualidade na saúde dos pacientes. Uma porcentagem de 58%, disseram desejar abordar essas questões, mas 48,7% destes afirmaram não estar preparados para fazê-lo. Os motivos mais comuns para não abortarem o tema, envolvem o medo de impor crenças religiosas (47,5%), o medo de ofender os pacientes (35,8%) e o desconhecimento do tema (34,7%). Se os alunos desenvolvem aptidão para lidar com questões religiosas desde o ingresso no nível superior, estes podem apresentar uma maior motivação e preparação para contemplar a religiosidade e a espiritualidade com seus pacientes. (Costa et al., 2019)

 

    A atual pesquisa, marcada predominantemente pela religião adventista, foi realizada em uma instituição particular de ensino confessional na Zona Sul de São Paulo que apresenta tanto um ensino onde os alunos residem fora do campus (externos), como de residentes dentro do campus (internos). O último, geralmente, é destinado a alunos que vieram de lugares distantes com o objetivo de terem uma formação. Este, possibilita aos graduandos, a facilidade de morar dentro da instituição onde estudam. É importante citar essa informação, pelo fato de boa parte dos participantes do estudo terem ingressado na faculdade através deste regime, principalmente os do curso de enfermagem.

 

    Outra consequência analisada na presente pesquisa, envolve a diminuição dos índices de saúde física e mental autorreferida, nos formandos de psicologia e mais ainda nos formandos de enfermagem. Outra vez, o que pode ter influenciado nestes resultados, é a presença da pandemia do coronavírus (COVID-19) durante os anos de graduação dos estudantes pesquisados.

 

    Um artigo, produzido por Teixeira et al.(2021), publicado no Jornal Brasileiro de Psiquiatria, aplicou questionários e avaliou 656 graduandos de medicina durante a pandemia. Os resultados mostraram que 62,8% dos participantes apresentaram algum sofrimento psíquico.

 

    Durante o isolamento social, causado pelo vírus pandêmico, um estudo com centenas de universitários de Bangladesh, relatou que 82,4% destes apresentavam sintomas depressivos e 87,7% sintomas de ansiedade. Com isso, é possível notar que durante este período, ficou cada vez mais comum a prevalência de emoções e vivências negativas (Marin et al., 2020). É importante citar que além de se preocuparem com a própria saúde, tiveram que lidar com a ruptura da rotina pessoal e com as inseguranças. Com isso, pode-se dizer que estes fatores podem ter acarretado o aumento dos sentimentos de solidão, desesperança, medo, frustração que podem ter desencadeado consequências psicológicas, que vão desde ansiedade, depressão e abuso de substâncias, até mudanças comportamentais, como dificuldade para dormir e alterações alimentares (Silva, e Rosa, 2021). Tais fatores podem estar ligados tanto aos baixos índices de saúde mental, como aos de saúde física autorreferida.

 

    Quanto aos resultados sobre o perdão, os alunos formandos apresentaram uma diminuição na disposição para perdoar em relação ao início da graduação. Um estudo com portadores de hipertensão arterial sistêmica, realizado por Souza et al. (2021), também utilizou a EDP e observou que os indivíduos que moram sozinhos (com média de 52,9 e mediana de 64) são mais propensos a perdoar do que os que moram com quatro pessoas ou mais (média de 37,1 e mediana de 34). Em comparação com o estudo presente, os entrevistados conviveram diariamente com muitas pessoas durante o tempo que permaneceram no residencial dos estudantes. E mesmo que alguns tenham mudado para o externato, antes mesmo de terem terminado a graduação, é possível supor que essa informação tenha influenciado o resultado da pesquisa. Contudo, sugere-se a realização de estudos futuros que possam dar suporte aos dados encontrados.

 

    O perdão é considerado uma atitude moral, que contribui para o bem-estar físico e emocional das vítimas e ofensores. É uma construção psicológica, que diz respeito à mudança de atitude em relação à pessoa que causou o dano, que se manifesta nos pensamentos, sentimentos e comportamentos (Stanislaw, 2019). É importante que seja oferecido para a continuidade das relações sociais e a manutenção dos vínculos afetivos entre membros de uma família, amigos, colegas em ambientes de trabalho e até mesmo entre grupos sociais com história de violência e preconceitos. (Alencar, e Abreu, 2019)

 

    O mesmo estudo realizado de Alencar, e Abreu (2019), comenta a importância de ampliar os conhecimentos quanto as atitudes para receber o perdão e para perdoar a si mesmo, ao se cometer uma agressão. Em relação ao primeiro, citaram que os ofensores deveriam reconhecer a injustiça cometida, sentir remorso pelo comportamento injusto e respeitar a vítima.

 

    Existem pessoas que ao cometerem certos delitos, acabam não entendendo o porquê de serem perdoadas, justamente por acreditar não serem capazes de merecer o perdão. Por outro lado, existem aqueles que não reconhecem seus erros e não oferecem o devido valor ao ofendido. Por este motivo, é importante que o ofensor entenda que o poder do perdoar está nas mãos de quem sofreu a transgressão. Nesse sentido, necessitam-se oficinas de intervenção sobre o perdão, auto perdão e melhoria da autoestima. Habilidades e estratégias podem ser trabalhadas para ajudar nas relações interpessoais e na resolução de conflitos. (Alencar, e Rique Neto, 2021)

 

    Quanto ao auto perdão, para que este ocorra, é fundamental que o ofensor sinta culpa pela ofensa cometida, aceite o que está errado e supere os sentimentos negativos. Este deve elaborar estratégias para não cometer erros semelhantes, assumindo um compromisso moral consigo mesmo. (Alencar, e Abreu, 2019)

 

    Quando se é ofendido, pode-se escolher permanecer remoendo o mal que lhe foi propiciado, assim pensando repetidamente sobre estas experiências que lhe causaram efeito negativo, ou seguir em frente, e perdoar o agressor. Remoer o mal pode afetar a saúde, causando tristeza e depressão. Pessoas com essa tendência, acabam sofrendo mais e de forma mais intensa com os efeitos do estado depressivo. Ao se perdoar, os pensamentos, motivações e comportamentos mudam frente a transgressão, de modo que as respostas, a essa ação, não sejam mais negativas. (Anuncibay et al., 2021)

 

    O enfermeiro é o principal responsável pelo equilíbrio emocional e bem-estar do paciente internado ou sob seus serviços. A principal missão desta profissão é cuidar, e para que estes profissionais possam fornecer um cuidado espiritual, estes devem estar preparados e abertos a apoiar os pacientes que experimentam dúvidas, medo, sofrimento ou desespero. (Pires et al., 2021)

 

    Dentro de uma graduação, existe uma grande carência teórica dos alunos com relação às intervenções sobre as necessidades espirituais dos pacientes, desta forma, é necessária uma maior discussão da temática. Aliás, esta é mais uma dimensão do estado de saúde, junto com as dimensões corporais, psíquicas e sociais (Pedrão, e Beresin, 2010). Dessa forma, haverá uma melhora na assistência aos pacientes contribuindo para manter o equilíbrio em todas as dimensões da vida. (Silva Filho et al., 2022)

 

Conclusão 

 

    As categorias avaliadas, no presente estudo, envolvem o perfil da religiosidade, disposição para perdoar e saúde autorreferida dos formandos dos cursos de enfermagem e psicologia, de uma instituição confessional na Zona Sul de São Paulo.

 

    Na avaliação da religiosidade dos entrevistados, percebeu-se uma queda do envolvimento religioso, ao longo do período acadêmico. Os universitários desta pesquisa, além de enfrentarem os entraves do curso, ainda passaram pela aflição do isolamento, devido a pandemia do coronavírus. Este, pode ter afetado no nível de religiosidade e espiritualidade dos alunos.

 

    No perdão, houve uma diminuição na disponibilidade, ou seja, os índices de remissão de culpa entre os universitários não aumentaram. O estudo apresentou o fato de que indivíduos que moram sozinhos são mais propensos a perdoar do que os que moram com quatro pessoas ou mais. A instituição pesquisada, apresenta tanto um ensino onde os alunos residem fora do campus (externos), como de residentes dentro do campus (internos). É importante citar essa informação, pelo fato de boa parte dos participantes do estudo terem ingressado na faculdade através do regime de internato. Os entrevistados conviveram diariamente com muitas pessoas durante o tempo que permaneceram no residencial dos estudantes. E mesmo que alguns tenham mudado para o externato, antes mesmo de terem terminado a graduação, é possível supor que essa informação tenha influenciado nos resultados do estudo.

 

    A pesquisa também apresentou uma redução nos níveis de saúde física e mental autorreferida dos participantes. Durante o período da pandemia, ficou cada vez mais comum a prevalência de emoções e vivências negativas. Pode-se dizer que estes fatores podem ter acarretado o aumento dos sentimentos de solidão e medo que podem ter desencadeado consequências psicológicas. Tais fatores podem estar ligados aos baixos índices de saúde.

 

    Sugere-se que, como intervenção, o tema do perdão seja abordado com mais frequência durante o período acadêmico. É necessário que, questões espirituais e religiosas, se façam presentes na formação profissional dos enfermeiros, psicólogos e demais atuantes da área da saúde.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 28, Núm. 299, Abr. (2023)