Lecturas: Educación Física y Deportes | http://www.efdeportes.com

ISSN 1514-3465

 

Marcadores bioquímicos de lesões musculares em jogadores de futebol

Biochemical Markers of Muscle Injuries in Soccer Players

Marcadores bioquímicos de lesiones musculares en jugadores de fútbol

 

Greici Salah El Beitune*1

greicibeitune@hotmail.com

Gilson Pires Dorneles**2

gilsonpd@hotmail.com

Gisele Branchini***1

giseleb@ufcspa.edu.br

Ricardo Obalski de Mello****3

rmellofar@hotmail.com

Vasyl Custodio Saciura*****4

vasyl@terra.com.br

Bruna Pasqualotto Costa+3

brupcosta@gmail.com

Anderson Velasque Catarina++1

anderson.catarina@acad.pucrs.br

André Ferreira D’Avila+++1

andreavila@ufcspa.edu.br

Maiara Anschau Floriani++++1

mai.anschau@gmail.com

Alessandra Peres+++++5

peres@ufcspa.edu.br

Fernanda Bordignon Nunes++++++1

fernandabn@ufcspa.edu.br

 

*Graduada em Fisioterapia

pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

Especialista em fisioterapia Esportiva pelo Centro Universitário Internacional

Mestrado em Patologia pela Fundação Universidade Federal

de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)

**Doutor em Ciências da Saúde pela UFCSPA

Mestre em Biociências e Reabilitação

pelo Centro Universitário Metodista IPA

Bacharel em Educação Física (IPA)

Especialista em Fisiologia do Exercício

pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Realizou estágio de pós-doutorado

no Laboratório de Imunologia Celular e Molecular da UFCSPA

vinculado ao Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde

Pesquisador do projeto Diretrizes vinculado ao escritório

de Projetos PROADI-SUS, Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre

***Graduada em Ciências Biológicas, mestrado

e doutorado em Ciências Biológicas: Fisiologia UFRGS

Professora associada na área de Biofísica e orienta

no Programa de Pós-Graduação em Patologia da UFCSPA

****Farmacêutico Habilitado em Bioquímica Clínica

Especialista em Análises Clínicas pela UFRGS

Mestre em Biologia Celular e Molecular pela PUCRS

*****Graduado em Fisioterapia pela PUCRS

Mestrado Profissional pela Universidade de Santa Cruz.

+Biomédica graduada pela UFCSPA

com habilitações em Pesquisa Clínica (Farmacologia Clínica),

Análises Clínicas (Patologia Clínica) e Biologia Molecular

Mestre em Patologia pela UFCSPA

Doutora em Biologia Celular e Molecular pela PUCRS)

++Biólogo, mestre e doutor em Patologia (Processo Saúde e Doença) - UFCSPA

Pesquisador membro do laboratório

de Biofísica Celular, Molecular e Computacional - UFCSPA

+++Doutorando em Patologia (UFCSPA)

mestre pelo Programa de Pós-graduação

em Ciências Médicas: Hepatologia (UFCSPA)

Especialista em Ciências do Esporte e da Saúde

e Educação a Distância: Gestão e Tutoria

Graduado em Educação Física (FACOS/UNICNEC)

e Ciências Biológicas (IERGS)

Membro do Grupo de Estudos em Reabilitação (GEReab - UFCSPA)

e Grupo de Pesquisa de Biofísica Celular, Molecular

e Computacional (LBCMC - UFCSPA).

++++Bióloga, Certificada Yellow Belt em VBHC

pelo The Decision Institute Center Europe,

membro do Working Group ICHOM COVID

Doutoranda em Patologia pela UFCSPA

Coordena o Escritório de Valor da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre

+++++Graduada em Ciências Biológicas pela PUCRGS

Mestrado em Ciências Biológicas (Bioquímica) pela UFRGS

Doutora em Genética e Biologia Molecular pela UFRGS

Pós-doutorado em Geriatria e Gerontologia na PUCRGS

Professora pesquisadora da UFCSPA

++++++Graduada em Ciências Biológicas pela PUCRS

Especialista em toxicologia animal

Mestrado em Biociências pela PUCRS

Doutorado em Medicina: Ciências Médicas pela UFRGS

Professora da UFCSPA e da PUCRS

Professora orientadora no PPG em Patologia UFCSPA

Trabalha no Laboratório de Pesquisa

em Biofísica Celular (UFCSPA) e Inflamação da PUCRS

 

1. Programa de Pós-Graduação em Patologia, UFCSPA

2. Laboratório de Imunologia Celular e Molecular, UFCSPA

3. Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular, PUCRS

4. Esporte Clube São José de Porto Alegre. Porto Alegre

5. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação

e Programa de Pós-Graduação em Ciências da Nutrição, UFCSPA

(Brasil)

 

Recepção: 05/07/2022 - Aceitação: 24/02/2023

1ª Revisão: 08/01/2023 - 2ª Revisão: 22/02/2023

 

Level A conformance,
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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Beitune, GSE, Mello, RO, Dorneles, GP, Saciura, VC, Costa, BP, Catarina, AV, Floriani, MA, D'Avila, AF, Branchini, G., Peres, A., e Nunes, FB (2023). Marcadores bioquímicos de lesões musculares em jogadores de futebol. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(298), 68-82. https://doi.org/10.46642/efd.v27i298.3601

 

Resumo

    Introdução: O futebol exige dos atletas um grande rendimento físico, implicando uma possível elevação de lesões e microtraumas musculares. Objetivo: Avaliar marcadores bioquímicos, imunológicos e hematológicos para predizer lesões musculares em atletas quando submetidos a um jogo de futebol. Métodos: Foram incluídos no estudo atletas do Esporte Clube São José de Porto Alegre, que disputaram 70 minutos de uma partida de futebol, com idade de15 e 20 anos. Foram coletadas amostras de sangue para análise dos marcadores em cinco momentos: Pré-temporada (PT), Pré-jogo (PJ), 24 horas pós-jogo (P24H), 48 horas pós-jogo (P48H) e 72 horas pós-jogo (P72H). Foram avaliados o hemograma, citocinas inflamatórias (IL-1β, IL-6, CXCL-8 e TNF-α), marcadores bioquímicos creatina quinase (CK), lactato desidrogenase (LDH), eletrólitos sanguíneos, cálcio, magnésio, sódio e potássio. Resultados: Os atletas apresentaram significância estatística (p <0,05) nos níveis de CK, LDH, níveis de eletrólitos, IL-6, IL-8, TNF-α e na análise hematológica. Conclusões: Foram observados micro traumas musculares nestes jogadores, sugerindo que os marcadores de CK, LDH e IL-6 podem oferecer um melo de diagnóstico para lesões induzidas pelo alto rendimento esportivo.

    Unitermos: Futebol. Lesão muscular. Creatina quinase. Lactato. Hemograma. Citosinas.

 

Abstract

    Introduction: Soccer demands great physical performance from athletes, implying a possible increase in injuries and muscle microtraumas. The present study evaluated biochemical, immunological and hematological markers to predict muscle injuries in athletes when submitted to a soccer game. Methods: Athletes from Esporte Clube São José de Porto Alegre, who played 70 minutes of a soccer match, aged between 15 and 20 years, were included in the study. Blood samples were collected for evaluation of markers in five moments: Pre-season (PT), Pre-game (PJ), 24 hours post-game (P24H), 48 hours post-game (P48H) and 72 hours post-game (P72H). Blood count, inflammatory cytokines (IL-1β, IL-6, CXCL-8 and TNF-α), biochemical markers creatine kinase (CK), lactate dehydrogenase (LDH), blood electrolytes, calcium, magnesium, sodium and potassium were evaluated. Results: The athletes showed statistical significance (p <0.05) in the levels of CK, LDH, levels of electrolytes, IL-6, IL-8, TNF-α and in the hematological analysis. Conclusions: Muscle microtraumas were observed in these players, suggesting that CK, LDH and IL-6 markers may offer a diagnostic tool for injuries induced by high performance sports.

    Keywords: Soccer. Muscle injury. Creatine kinase. Lactate. Blood count. Cytosines.

 

Resumen

    Introducción: El fútbol exige un gran rendimiento físico de los deportistas, lo que implica un posible aumento de lesiones y microtraumatismos musculares. Objetivo: Evaluar marcadores bioquímicos, inmunológicos y hematológicos para predecir lesiones musculares en deportistas cuando se someten a un partido de fútbol. Métodos: Fueron incluidos en el estudio jugadores del Esporte Clube São José de Porto Alegre, con edades entre 15 y 20 años, que disputaron 70 minutos de un partido de fútbol. Se recolectaron muestras de sangre para el análisis de los marcadores en cinco momentos: Pretemporada (PT), Pre-partido (PJ), 24 horas post-partido (P24H), 48 horas post-partido (P48H) y 72 horas post-partido (P72H). Se evaluaron hemograma, citosinas inflamatorias (IL-1β, IL-6, CXCL-8 y TNF-α), marcadores bioquímicos creatina quinasa (CK), lactato deshidrogenasa (LDH), electrolitos sanguíneos, calcio, magnesio, sodio y potasio. Resultados: Los atletas mostraron niveles estadísticamente significativos (p<0,05) de CK, LDH, niveles de electrolitos, IL-6, IL-8, TNF-α y análisis hematológico. Conclusiones: Se observaron microtraumatismos musculares en estos jugadores, lo que sugiere que los marcadores CK, LDH e IL-6 pueden ofrecer una herramienta diagnóstica para las lesiones inducidas por el alto rendimiento deportivo.

    Palabras clave: Fútbol. Lesión muscular. Creatina quinasa. Lactato. Hemograma. Citosinas.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 298, Mar. (2023)


 

Introdução 

 

    O futebol tem sofrido alterações nos níveis de competição, proporcional ao esporte de alto rendimento, influenciado pelo volume de treinamento, número de jogos e múltiplos torneios, impondo cada vez mais aos atletas um aumento da carga competitiva, desempenho físico e técnico (Fenley et al., 2018). O desenvolvimento pedagógico ou competitivo do futebol envolve longos períodos de sustentação de cargas (peso corporal) em atividades de deslocamento (com intensidades variadas), gestos técnicos explosivos (fundamentos do chute, passe e dribles), bem como atividades pliométricas (Raya-González et al., 2018). Deste modo, ocorrem contrações concêntricas e excêntricas, conforme a necessidade e demanda competitiva. A literatura apresenta que as contrações excêntricas são mais lesivas ao tecido muscular, se comparadas com as concêntricas, resultando maiores concentrações de creatina quinase (CK), além de implicar na redução funcional das unidades motoras em atividades de alto estímulo de contração na fase inicial de um movimento. (Barbosa et al., 2015)

 

    Como existe uma alta probabilidade de ações de desequilíbrio, alteração de trajeto de modo repentino em um sprint e saltos com aterrissagens interrompidas durante os treinos e competições, as lesões musculares são comuns e muitas vezes desestimulam os atletas a praticar esportes, o que obviamente é um transtorno para o atleta. (Hader et al., 2019)

 

    O treinamento excessivo e prolongado, combinado com um tempo e de recuperação inadequada, pode promover inúmeras lesões, fraqueza muscular e alterações hematológicas. Marcadores bioquímicos, imunológicos e de estresse oxidativo podem fornecer informações relevantes para um diagnóstico preciso e confiável (Molina López et al., 2022). A creatina quinase (CK) plasmática pode ser utilizada como marcador bioquímico de lesão tecidual após o exercício, e parece ser um dos melhores indicadores indiretos para a detecção do estresse imposto ao músculo esquelético devido à atividade física (Djaoui et al., 2017; Palacios et al., 2015). Também pode ser utilizada como um sinalizador para o treinamento, alterando-se as intensidades e volumes, conforme os níveis de CK dos atletas. Os níveis séricos de CK aumentam em situações de lesão de células musculares, sendo proporcional ao número de microtraumas, que podem estar indiretamente relacionados à intensidade, volume e duração dos exercícios, seja no treinamento ou nos jogos (Silva et al., 2018). A enzima lactato desidrogenase (LDH) está relacionada ao desgaste e lesões musculares, uma vez que é uma enzima intracelular e não atravessa a membrana celular, de modo que o aumento dos níveis sanguíneos de LDH ocorre em situações de lesão muscular. (Goulart et al., 2022; Palacios et al., 2015)

 

    Após o exercício, pode-se observar mudanças nas células inflamatórias circulantes. Inicialmente, neutrófilos, depois monócitos e linfócitos são recrutados para o local da inflamação, onde produzem espécies reativas de oxigênio (ERO) e enzimas proteolíticas para reparar o tecido danificado. A infiltração de neutrófilos é estimulada por fatores quimiotáticos, incluindo prostaglandinas, fator de necrose tumoral-α (TNF-α), interleucina-1 (IL-1) e interleucina-6 (IL-6). Sugere-se que a inflamação aguda local pode ser induzida por uma resposta ao estresse excessivo do músculo esquelético associado a períodos insuficientes de descanso e recuperação. (Silva et al., 2021)

 

    A priori, a utilização de marcadores bioquímicos pode ser vista como possível ferramenta para avaliar possíveis lesões nos tecidos muscular. Portanto, o presente estudo avaliou marcadores bioquímicos e imunológicos em atletas de futebol antes da temporada de jogos e após uma partida de futebol, na busca de marcadores que possam prever lesões musculares e monitorar e classificar a condição muscular esquelética de cada atleta.

 

Métodos 

 

Participantes 

 

    Participaram do estudo vinte e sete atletas do sexo masculino da categoria de base do Esporte Clube São José de Porto Alegre nos anos de 2017 e 2018, que disputaram ao menos 70 minutos da primeira partida subsequente a pré-temporada. Todos os atletas possuíam idade de15 a 20 anos. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) (documento número 1.894.936), conforme Resolução 466/12. Todos os voluntários assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ou Termo de Consentimento. Para o delineamento do estudo, os atletas foram divididos conforme sua função no jogo, definidos como jogadores de ataque ou jogadores de defesa.

 

Coleta de sangue 

 

    Foram coletadas amostras de sangue por punção venosa periférica em cinco momentos distintos no primeiro semestre de 2017, sendo elas executadas no dia da apresentação dos atletas para a temporada de jogos (pré-temporada - PT), antes da primeira partida da temporada (PJ), 24 horas após a partida (P24H), 48 horas após a partida (P48H) e 72 horas após a partida (P72H).

 

Análise bioquímica, eletrolítica, hematológica e de interleucinas 

 

    Os níveis de creatina quinase, lactato desidrogenase, cálcio, magnésio, sódio e potássio foram avaliados usando kits Wiener® em instrumento automatizado BT 3000 Plus®. As análises hematológicas foram realizadas com kits Horiba® em aparelho automatizado Pentra 80®. Os níveis de interleucinas (IL-1β, IL-6, CXCL-8) e fator de necrose tumoral-α (TNF-α) foram medidos por imunoensaio enzimático (R&D Systems, Inc. MN, EUA), e as leituras foram realizadas em um leitor óptico automático Spectramax (OD540).

 

Análise estatística 

 

    Os dados dos marcadores bioquímicos foram apresentados como média ± desvio padrão. A diferença entre os grupos foi avaliada por Análise via Modelos de Equações de Estimações Generalizadas (GEE) com distribuição gama, função identidade de ligação, matriz de correlação não estruturada e teste de Sidak para as comparações múltiplas.A significância estatística adotada foi p<0,05. As análises foram realizadas no software SPSS® 20.0 (SPSS Inc. Ohio, EUA).

 

Resultados 

 

Marcadores bioquímicos 

 

    Os níveis de creatina quinase (CK) e lactato desidrogenase (LDH) em quatro momentos são apresentados na Figura 1. Os níveis de CK e LDH aumentaram significativamente em todos os momentos em relação aos níveis de pré-jogo. Observa-se que os níveis de CK dos jogadores de defesa são os mais elevados em todos os momentos pré e pós-jogo. Os níveis de LDH seguem a mesma projeção, com exceção do momento pós 72 horas, conforme a Figura 1.

 

Figura 1. Níveis séricos de CK e LDH

Figura 1. Níveis séricos de CK e LDH

Fonte: Resultados da pesquisa

 

    Os níveis séricos de CK apresentaram diferença estatisticamente significativa (p<0,05) entre os momentos Pré Jogo, P24H, P48H e P72H. Os níveis de LDH apresentaram diferença estatisticamente significativa (p<0,05) nos momentos Pré Jogo, P24H, P48H e P72H. Os níveis de LDH também apresentaram diferença estatisticamente significativa (p < 0,05) na posição x momento. Os dados apresentados foram gerados com o teste de Análise via Modelos de Equações de Estimações Generalizadas (GEE) com distribuição gama, função identidade de ligação, matriz de correlação não estruturada e teste de Sidak para as comparações múltiplas (média, desvio padrão e IC95%). Letras diferentes (A, B, C, D) indicam estatisticamente significativa entre momentos (Pré Jogo, P24H, P48H e P72H). Letras maiúsculas e minúsculas (Aa) indicam estatisticamente significativa entre posição (ataque e defesa).

 

Análise de eletrólitos 

 

    Os níveis séricos de eletrólitos são apresentados na Tabela 1. Os níveis de cálcio, sódio, magnésio e potássio apresentaram diferenças significativas entre os momentos de avaliação. Em relação à interação posição e momento, se evidencia que apenas os níveis de cálcio mostraram-se diferentes entre os atletas, sendo mais elevados nos atletas de defesa, em diferentes tempos.

 

Análise hematológica 

 

    A Tabela 2 descreve os resultados do hemograma nos cinco momentos de análise. Quando analisados pelo momento, todos os exames apresentaram diferenças significativas. Apenas o teste de contagem leucocitária apresentou significância estatística relacionada à posição dos jogadores. Observam-se nas análises de RBC, HGB, HCT e PLT que os níveis médios P72h são maiores que os níveis P48h, em ambas as posições. Apenas a análise de WBC apresentou valores P72h inferiores ao P48h.

 

Análise de interleucinas 

 

    Os níveis de interleucinas 1β, 6 e 8 e de fator de necrose tumoral α são mostrados na Tabela 3. Os níveis de IL-1β não foram diferentes nos momentos 24h, P48h e P72h. Os níveis de IL-6 dos jogadores de ataque apresentam progressão clínica e significância estatística entre PJ e P72h, enquanto os jogadores de defesa apresentaram esta progressão apenas entre PJ e P48h. A IL-8 demonstrou ondulações em seus níveis, apresentando significância estatística conforme a posição e momento analisado. Os valores de TNF-α apresentam em ambas as posições seu valor mais elevado no P24h, com diferença significativa entre as posições para o momento analisado.

 

    Os níveis séricos de IL-8 (Tabela 3) apresentam uma resposta oscilatória conforme o momento e posição analisada. As posições de ataque apresentam os valores de P24h>PJ, P48h<PJ e P72h com o valor mais elevado entre todos os momentos. As posições defensivas apresentam níveis de P24h>PJ, P48h e P72h inferiores ao P24h, nesta ordem.

 

Tabela 1. Análise de eletrólitos

 

Momento

Ataque

Defesa

Momento

p-valor

(P)

p-valor (M)

p-valor (P*M)

Média

EP

IC95%

Média

EP

IC95%

Média

EP

IC95%

Cálcio

PJ

10.4B b

0,08

10,2

10,5

10.7A a

0,09

10,5

10,9

10,5

0,06

10,4

10,7

0,074

0,001

0,002

P24h

10.7A a

0,11

10,5

10,9

10.7A a

0,08

10,5

10,8

10,7

0,07

10,5

10,8

 

P48h

10.4B a

0,09

10,2

10,6

10.6A a

0,09

10,4

10,8

10,5

0,06

10,4

10,6

P72h

10.5AB a

0,11

10,3

10,7

10.7A a

0,07

10,6

10,9

10,6

0,06

10,5

10,8

Posição

10,54

0,08

10,39

10,68

10,72

0,07

10,58

10,86

 

 

 

 

Sódio

PJ

138,2

1,0

136,2

140,1

137,1

0,6

135,7

138,4

137.6AB

0,61

136,4

138,8

0,704

0,043

0,566

P24h

138,1

0,7

136,6

139,6

138,1

0,7

136,7

139,6

138.1A

0,54

137,1

139,2

 

P48h

137,5

0,7

136,1

139,0

137,3

0,6

136,1

138,5

137.4AB

0,49

136,5

138,4

P72h

137,0

0,8

135,3

138,6

136,9

0,5

135,7

138,0

136.9B

0,51

135,9

137,9

Posição

137,7

0,7

136,2

139,2

137,3

0,5

136,2

138,4

 

 

 

 

Magnésio

PJ

2,01

0,05

1,91

2,10

2,13

0,04

2,06

2,2

2.07C

0,03

2,01

2,13

0,051

0,000

0,134

P24h

2,08

0,04

2,01

2,15

2,21

0,03

2,16

2,2

2.15B

0,02

2,10

2,19

 

P48h

2,21

0,05

2,10

2,32

2,27

0,03

2,21

2,3

2.24A

0,03

2,18

2,30

P72h

2,13

0,03

2,07

2,18

2,20

0,03

2,14

2,2

2.16B

0,02

2,12

2,20

Posição

2,11

0,04

2,03

2,18

2,20

0,03

2,15

2,2

 

 

 

 

Potássio

PJ

4,11

0,08

3,94

4,27

4,13

0,06

4,02

4,24

4.12A

0,05

4,02

4,22

0,701

0,002

0,196

P24h

3,98

0,07

3,85

4,11

4,09

0,05

3,99

4,19

4.04B

0,04

3,96

4,12

 

P48h

3,98

0,06

3,86

4,11

3,93

0,06

3,82

4,04

3.96B

0,04

3,87

4,04

P72h

4,16

0,05

4,05

4,27

4,19

0,07

4,06

4,31

4.17A

0,04

4,09

4,26

Posição

4,06

0,05

3,97

4,15

4,08

0,04

4,00

4,17

 

 

 

 

Notas: PJ, pré-jogo; P24h, pós 24 horas; P48h, pós 48 horas; P72h, pós 72 horas; p-valor (P), p-valor vinculado a posição dos jogadores; p-valor (M), p-valor vinculado ao momento da coleta de sangue dos jogadores; p-valor (P*M), p-valor vinculado a relação entre a posição e os momentos analisado. Médias de momentos com letras maiúsculas diferentes diferem entre si; médias de posições com letras minúsculas diferentes diferem entre si; teste de Sidak para comparações múltiplas p<0,05.

 

Tabela 2. Análise hematológica

 

Momento

Ataque

Defesa

Momento

p-valor (P)

p-valor (M)

p-valor (P*M)

Média

EP

IC95%

Média

EP

IC95%

Média

EP

IC95%

RBC

PT

4,77

0,11

4,55

4,98

4,95

0,11

4,74

5,17

4.86AB

0,08

4,71

5,01

0,246

0,000

0,738

PJ

4,84

0,09

4,66

5,02

5,02

0,11

4,81

5,24

4.93A

0,07

4,79

5,07

 

P24h

4,72

0,10

4,53

4,91

4,87

0,11

4,66

5,09

4.80C

0,07

4,65

4,94

P48h

4,70

0,09

4,52

4,89

4,84

0,12

4,61

5,08

4.77BC

0,08

4,62

4,92

P72h

4,72

0,10

4,53

4,92

4,89

0,11

4,68

5,10

4.81BC

0,07

4,66

4,95

Posição

4,75

0,09

4,57

4,93

4,92

0,11

4,70

5,13

 

 

 

 

HGB

PT

14,09

0,30

13,51

14,67

14,49

0,35

13,80

15,18

14.29AB

0,23

13,84

14,74

0,591

0,000

0,439

PJ

14,51

0,28

13,95

15,07

14,66

0,34

14,00

15,32

14.58A

0,22

14,15

15,02

 

P24h

14,13

0,26

13,63

14,63

14,33

0,36

13,63

15,02

14.23B

0,22

13,80

14,66

P48h

14,06

0,29

13,49

14,62

14,19

0,36

13,48

14,91

14.13B

0,23

13,67

14,58

P72h

14,13

0,27

13,60

14,67

14,42

0,35

13,73

15,11

14.28AB

0,22

13,84

14,71

Posição

14,19

0,26

13,68

14,69

14,42

0,34

13,74

15,09

 

 

 

 

HCT

PT

42,41

0,87

40,70

44,12

43,76

0,91

41,98

45,54

43.08AB

0,63

41,85

44,32

0,259

0,000

0,800

PJ

43,05

0,75

41,58

44,52

44,47

0,78

42,95

45,99

43.76A

0,54

42,71

44,82

 

P24h

42,03

0,81

40,44

43,61

43,14

0,86

41,45

44,83

42.58C

0,59

41,42

43,74

P48h

41,90

0,74

40,45

43,35

43,07

0,94

41,24

44,91

42.49BC

0,60

41,32

43,66

P72h

42,03

0,81

40,44

43,61

43,33

0,89

41,59

45,07

42.68ABC

0,60

41,50

43,85

Posição

42,28

0,73

40,85

43,72

43,55

0,86

41,88

45,23

 

 

 

 

PLT

PT

201,83

9,66

182,91

220,76

194,87

9,69

175,87

213,86

198.35B

6,84

184,94

211,76

0,596

0,016

0,741

PJ

211,83

10,43

191,38

232,28

208,13

11,55

185,50

230,77

209.98A

7,78

194,73

225,23

 

P24h

213,92

10,81

192,74

235,10

205,73

10,85

184,47

227,00

209.83AB

7,66

194,82

224,83

P48h

212,17

10,57

191,46

232,88

201,40

11,61

178,65

224,15

206.78AB

7,85

191,40

222,17

P72h

215,00

10,85

193,74

236,26

205,80

11,06

184,12

227,48

210.40AB

7,75

195,22

225,58

Posição

210,95

10,02

191,32

230,58

203,19

10,68

182,25

224,12

 

 

 

 

WBC

PT

6,48

0,38

5,75

7,22

8,04

0,32

7,41

8,67

7.26A

0,25

6,78

7,75

0,000

0,000

0,161

PJ

5,59

0,32

4,97

6,21

8,11

0,44

7,24

8,98

6.85ABC

0,27

6,31

7,38

 

 

P24h

5,91

0,31

5,31

6,51

8,05

0,28

7,50

8,61

6.98AB

0,21

6,57

7,39

P48h

5,56

0,34

4,88

6,23

7,91

0,38

7,16

8,65

6.73B

0,26

6,23

7,23

P72h

5,41

0,32

4,79

6,03

7,31

0,43

6,48

8,15

6.36C

0,27

5,84

6,88

Posição

5.79b

0,3

5,2

6,38

7.88a

0,33

7,25

8,52

 

 

 

 

Notas: RBC, contagem de hemácias. HGB, hemoglobina glicada; HCT, hematócrito; PLT, contagem de plaquetas; WBC, contagem leucocitária; PT, pré-temporada; PJ, pré-jogo; P24h, pós 24 horas; P48h, pós 48 horas; P72h, pós 72 horas; p-valor (P), p-valor vinculado a posição dos jogadores; p-valor (M), p-valor vinculado ao momento da coleta de sangue dos jogadores; p-valor (P*M), p-valor vinculado a relação entre a posição e o momento analisado. Médias de momentos com letras maiúsculas diferentes diferem entre si; médias de posições com letras minúsculas diferentes diferem entre si; teste de Sidak para comparações múltiplas p<0,05.

 

Tabela 3. Análise de interleucinas

Momento

Ataque

Defesa

Momento

p-valor (P)

p-valor (M)

p-valor (P*M)

Média

EP

IC95%

Média

EP

IC95%

Média

EP

IC95%

IL-1β

PJ

9,27

2,65

4,07

14,47

4,72

0,85

3,06

6,38

6,99

1,39

4,27

9,72

0,125

0,746

0,460

P24h

9,18

2,15

4,96

13,40

5,82

1,13

3,61

8,04

7,50

1,22

5,12

9,88

P48h

9,52

2,75

4,14

14,90

5,25

0,89

3,51

6,99

7,38

1,44

4,56

10,21

P72h

8,97

2,47

4,13

13,81

5,21

0,95

3,35

7,07

7,09

1,32

4,50

9,68

Posição

9,23

2,45

4,43

14,04

5,25

0,87

3,54

6,96

IL-6

PJ

6,94

0,79

5,38

8,50

6,05

0,31

5,44

6,66

6.49B

0,43

5,66

7,33

0,051

0,000

0,344

P24h

8,50

0,81

6,91

10,08

7,71

0,57

6,59

8,82

8.10A

0,49

7,13

9,07

P48h

9,05

1,17

6,75

11,34

7,73

0,59

6,58

8,87

8.39A

0,65

7,11

9,67

P72h

10,32

1,21

7,94

12,69

6,89

0,34

6,21

7,56

8.60A

0,63

7,37

9,83

Posição

8,70

0,75

7,23

10,17

7,09

0,34

6,43

7,76

IL-8

PJ

8.16A a

0,80

6,58

9,73

6.35B a

0,53

5,31

7,39

7,25

0,48

6,31

8,20

0,911

0,012

0,039

P24h

9.36A a

1,04

7,32

11,39

11.38A a

2,05

7,38

15,39

10,37

1,15

8,12

12,62

P48h

7.41A a

0,85

5,75

9,07

10.86A a

1,83

7,28

14,44

9,14

1,01

7,16

11,11

P72h

11.62A a

2,64

6,44

16,79

8.54AB a

1,15

6,28

10,80

10,08

1,44

7,26

12,90

Posição

9,14

0,76

7,64

10,63

9,28

1,09

7,15

11,42

TNFα

PJ

7,22

0,71

5,83

8,60

8,19

0,53

7,16

9,23

7.71 B

0,44

6,84

8,57

0,591

0,014

0,892

P24h

9,29

0,89

7,55

11,04

10,03

0,89

8,28

11,77

9.66A

0,63

8,43

10,89

P48h

9,16

1,31

6,58

11,73

9,09

0,60

7,91

10,27

9.12 AB

0,72

7,71

10,54

P72h

8,53

0,90

6,76

10,30

8,93

0,50

7,95

9,91

8.73 AB

0,52

7,72

9,74

Posição

8,55

0,78

7,02

10,08

9,06

0,55

7,99

10,13

Notas: IL-1β, interleucina 1 beta; IL-6, interleucina 6. IL-8, interleucina 8. TNFα, fator de necrose tumoral α; PJ, pré-jogo; P24h, pós 24 horas; P48h, pós 48 horas; P72h, pós 72 horas; p-valor (P), p-valor vinculado a posição dos jogadores; p-valor (M), p-valor vinculado ao momento da coleta de sangue dos jogadores; p-valor (P*M), p-valor vinculado a relação entre a posição e o momento analisado. Médias de momentos com letras maiúsculas diferentes diferem entre si; médias de posições com letras minúsculas diferentes diferem entre si; teste de Sidak para comparações múltiplas p<0,05.

Discussão 

    O futebol é caracterizado por rotas metabólicas alternadas, apresentando visivelmente que em determinados momentos ocorrem estímulos bioenergéticos conforme a intensidade e duração da ação, sendo classificado como um exercício intervalado (Guimarães, 2015). Essas alternações ocorrem independentemente da posição dos jogadores, definidas neste estudo como jogadores de ataque ou jogadores de defesa.

 

    Um estudo com jogadores de futebol da seleção iraniana, submetidos a um teste intervalado de sprint, denominado Rast, constatou incrementos significantes na IL-6 e nenhuma alteração no TNF-α, expressando que uma síntese facilitada de glicogênio fosforilase tende a melhorar a captação da glicose sanguínea pelo tecido muscular, promovendo efeitos anti-inflamatórios durante a fase aguda dos exercícios intervalados (Guimarães, 2015). Talvez este seja o motivo para os dados de IL-6 e TNF-α serem distintos conforme a posição dos jogadores do neste estudo.

 

    De acordo com a literatura, os níveis de CK pós exercício podem variar até 400 U/L em atletas, sendo possível utilizá-lo como um indicador do estado de treinamento e recuperação do atleta (Rivera-Cisneros et al., 2021). Foi observado o pico máximo de CK às 24 horas após a partida, com níveis decrescentes às 48 horas e 72 horas após a partida. Russell et al. (2016) também verificaram um pico de CK em 24 horas após uma partida de futebol profissional, com níveis permanecendo acima dos valores basais em 48 horas após a partida.

 

    Souglis et al. (2015) avaliaram indicadores da exigência física resultante de um jogo de futebol, verificando alterações nos níveis de CK, que aumentaram gradativamente, atingindo o pico deste estudo por volta de 13 horas pós jogo, e um aumento significativo da LDH após a partida de futebol. Neste estudo, foi observado um aumento de CK, LDH da posição de ataque e LDH da posição de defesa no P24h (Figura 1) em relação ao PJ, apresentando um incremento de 129,6%, 19,7% e 24,2%, respectivamente; e uma média descendente nos P48h e P72 para CK e LDH. Assim, uma análise aguda de amostras biológicas pode vir a contribuir significativamente para o diagnóstico de modificações bioquímicas induzidas pelo esporte.

 

    Uma das respostas ao volume de treinamento ou intensidade de um jogo é o desequilíbrio hídrico do atleta, devido à manutenção da temperatura corporal executada por meio da transpiração. Esta perda de água e sais afeta diretamente o desempenho esportivo, resultando em câimbras, exaustão, lesões musculares e até mesmo óbito, sendo essencial a reposição de água e manutenção do equilíbrio eletrolítico. Os níveis de eletrólitos apresentam alterações em resposta ao exercício, e são estudados há muito tempo. Está bem estabelecido que a otimização do desempenho muscular está relacionada à melhor contratilidade dos miócitos e isso depende da sinalização intracelular e da homeostase do cálcio. Portanto, o treinamento físico proporciona adaptações nos músculos esqueléticos, que dependem do tipo de trabalho que o músculo realiza. (Mantilla et al., 2017; McArdle et al., 2016)

 

    Durante os exercícios aeróbicos, o magnésio é necessário para o metabolismo oxidativo dos ácidos graxos, por meio de estímulos beta-adrenérgicos que aumentam a quantidade de AMP cíclico. Nessas condições, a concentração sérica de minerais pode diminuir como resultado das perdas pelo suor, mas tende a se recuperar em 24 horas. (McArdle et al., 2016)

 

    Embora seja esperado observar uma diminuição dos níveis de magnésio, devido ao suor e à perda urinária, alguns estudos não confirmaram essa hipótese. Chycki et al. (2018) relatam em seu estudo o aumento nos níveis de magnésio, corroborando com os dados encontrados nesta pesquisa, onde foi observado um aumento nos níveis de magnésio após a partida, na comparação PJ e P24h.

 

    O hemograma é um exame e ferramenta indispensável para mensurar o desempenho e avaliar clinicamente se o atleta precisa reduzir ou pode aumentar a intensidade de suas atividades. Ao avaliar os eritrócitos, pode-se verificar a quantidade de transportadores de oxigênio do atleta, no caso a hemoglobina, caso este valor não esteja regulado, pode haver uma indicação de falha renal devido aos valores reduzidos de eritropoetina. A globina também ajuda na regulação ácido-base dos líquidos corporais como sistema de tamponamento, neutralizando os excessos de metabólitos ácidos formados durante os exercícios físicos de alta intensidade. (McArdle et al., 2016)

 

    Em relação ao eritrograma, que inclui contagem de eritrócitos, dosagem de hemoglobina e hematócrito (Guyton et al., 2017), não foi verificada nenhuma alteração significativa nos valores de PJ, P24h, P48h e P72h. Os dados encontrados neste estudo corroboram com os dados apresentados por Owen et al. (2018), onde não se observaram diferenças no número de eritrócitos ao analisar dezessete jogadores de futebol, nem antes, nem durante e após a temporada.

 

    Observam-se níveis mais baixos de leucócitos 72 horas após a partida de futebol. Tais resultados podem ser explicados pela intensidade do exercício, pois alguns autores acreditam que a leucocitose pode estar associada à intensidade do exercício, liberação de catecolaminas e níveis elevados de cortisol. (Neves et al., 2014)

 

    Poucos estudos relatam o comportamento das plaquetas durante o jogo de futebol. Younesian et al. (2004) observaram um aumento significativo dessa variável após a partida, corroborando com este estudo, se verifica uma diferença significativa no incremento de plaquetário entre PJ, P24h, P48h e P47h.

 

    A literatura apresenta que o treinamento físico aeróbico regular e moderado, promove adaptações morfológicas e fisiológicas a longo prazo, entre elas, o aumento de eficiência dos mecanismos imunes e citotóxicos naturais, a manutenção da efetividade das funções dos linfócitos T, que atua diretamente em infecções virais e na regulação do mecanismo imune, bem como na produção de citocinas. (McArdle et al., 2016)

 

    A interleucina-1β induz inflamação sistêmica por meio da ativação da ciclooxigenase-2, com a formação de PGE2 no hipotálamo anterior, causando febre. Ela também ativa a produção de substâncias a partir do fosfato, óxido nítrico (ativando a enzima óxido nítrico sintase) e moléculas de adesão endotelial. Possui um papel importante no desenvolvimento e manutenção da dor pós-operatória. (Oliveira et al., 2012)

 

    A interleucina-6 é uma molécula sinalizadora intercelular, tradicionalmente associada ao controle e coordenação das respostas imunes, sendo primeiramente secretada pelos macrófagos e linfócitos em resposta a lesão ou infecção (Oliveira et al., 2012). A IL-6 é uma citocina pró-inflamatória que promove a maturação e ativação de neutrófilos, maturação de macrófagos e diferenciação/manutenção de linfócitos T citotóxicos e células natural killer (NK). Quando os períodos de recuperação entre as sessões de exercício são extremamente curtos e a intensidade do trabalho é muito elevada, pode vir a ocorrer uma crise energética no músculo em contração, afetando tanto o metabolismo de carboidratos quanto de lipídios, elevando a concentração plasmática e muscular de IL-6 (Neves et al., 2014). Nesta pesquisa, os níveis séricos de IL-6 aumentaram no P24h, P48h e P72h em relação ao PJ, bem como, foi possível verificar que os níveis de IL-6 dos jogadores em posição de ataque são superiores aos jogadores defensivos.

 

    A interleucina-8 é uma potente quimiocina e um fator imunoativador, em resposta a estímulos pró-inflamatórios, como IL-1, TNF e vírus, sendo produzida por monócitos/macrófagos, células T, neutrófilos, fibroblastos, células endoteliais, queratinócitos, hepatócitos, astrócitos e condrócitos. A função desta quimiocina é atrair neutrófilos para o local da inflamação e ativá-los (Kindt et al., 2008). Os níveis de IL-8 apresentaram uma ondulação em seus níveis, conforme a posição e conforme o momento analisado. Os valores encontrados em nosso estudo apontam diferença significativa conforme a posição e momento de análise. Os valores de P72h dos jogadores de ataque é similar ao P24h dos jogadores de defesa; bem como, P72h dos jogadores de defesa, são similares ao PJ dos jogadores de ataque.

 

    O fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) é uma citocina pró-inflamatória produzida principalmente por monócitos, macrófagos e linfócitos T, abundantes no peritônio e tecido esplênico. Também está presente em neurônios e células da glia, desempenhando funções importantes tanto na hiperalgesia inflamatória quanto na neuropática (Oliveira et al., 2012). Encontram-se diferença significativa no momento de análise do TNF-α, porém, não há dados significantes em relação a posição dos jogadores. No estudo de Souglis et al. (2015), é relatado um aumento da concentração sanguínea de TNF-α após um jogo de futebol, atingindo seu pico em 13 horas após o jogo.

 

Conclusão 

 

    O futebol pode ser considerado como uma atividade intensa, podendo assim induzir dano muscular como consequência do exercício, caracterizado pelo aumento das concentrações séricas de CK, LDH (ruptura de fibra muscular) e inflamação (evidenciada pelo aumento de IL-6). Portanto, analisando os níveis de CK, LDH, IL-6, IL-8 TNF-α em diferentes momentos avaliados (PJ, P24h, P48h e P72h), verifica-se a possibilidade de utilizá-los como um modelo de diagnóstico para traumas musculares dos jogadores, podendo ser utilizados como forma de monitoramento da intensidade do treinamento e da recuperação dos atletas de futebol, auxiliando a elaboração e periodização do treinamento conforme as análises de cada jogador.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 298, Mar. (2023)