Lecturas: Educación Física y Deportes | http://www.efdeportes.com

ISSN 1514-3465

 

Consumo de álcool e tabaco: estudantes de 

11 a 16 anos em Cáceres-Espanha e Paranavaí-Brasil

Alcohol and Tobacco Consumption: Students Aged 11 to 16 in Cáceres-Spain and Paranavaí-Brazil

Consumo de alcohol y tabaco: estudiantes de 11 a 16 años en Cáceres-España y Paranavaí-Brasil

 

Silvia Bandeira da Silva-Lima*

silviabslima@uenp.edu.br

Flávia Évelin Bandeira Lima**

flavia.lima@uenp.edu.br

Fellipe Bandeira Lima***

lima_fisioterapia@hotmail.com

Carlos Alexandre Molena Fernandes+

molena126@hotmail.com

Juan Pedro Fuentes García++

jpfuent@unex.es

Walcir Ferreira Lima+++

walcirflima@uenp.edu.br

 

*Doutora em Atividade Física e Saúde

pela Universidade de Extremadura, Cáceres, Espanha

Professora colaboradora do curso de Educação Física

da Universidade Estadual do Norte do Paraná, Jacarezinho, PR

**Doutora em Ciência do Movimento Humano

pela Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba, SP

Professora efetiva do curso de Educação Física

da Universidade Estadual do Norte do Paraná, Jacarezinho, PR

***Doutor em Fisioterapia

pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

Professor colaborador do curso de Educação Física

no Centro Universitário OPET (UniOPET), Curitiba, PR

Professor da Pós-Graduação em Fisioterapia Neurofuncional

pela Unifamma, Maringá, PR

+Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação – UNESPAR

Docente Adjunto B da UNESPAR/FAFIPA

Professor permanente no programa

de pós-graduação Stricto Sensu (Mestrado em Enfermagem)

da Universidade Estadual de Maringá - UEM

++Licenciado en Ciencias del Deporte por el INEF de Madrid

Doctor en Ciencias del Deporte por la Universidad de Extremadura

Profesor colaborador del Área de Docencia e Investigación

de la Real Federación Española de Tenis

Profesor de la Universidad de Extremadura, España

+++Doutor em Atividade Física e Saúde

pela Universidade de Extremadura, Cáceres, Espanha

Professor colaborador do curso de Educação Física

da Universidade Estadual do Norte do Paraná, Jacarezinho, PR

(Brasil)

 

Recepção: 30/05/2022 - Aceitação: 05/11/2022

1ª Revisão: 31/10/2022 - 2ª Revisão: 04/11/2022

 

Level A conformance,
            W3C WAI Web Content Accessibility Guidelines 2.0
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

 

Creative Commons

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Silva-Lima, SB, Lima, FEB, Lima, FB, Fernandes, CAM, Fuentes García, JP, e Lima, WF (2023). Consumo de álcool e tabaco: estudantes de 11 a 16 anos em Cáceres-Espanha e Paranavaí-Brasil. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(296), 80-100. https://doi.org/10.46642/efd.v27i296.3503

 

Resumo

    A adolescência é uma fase em que se passa por mudanças geradoras de estresse, o que se torna um fator de risco para a experimentação de substâncias psicoativas, que pode perdurar até a idade adulta, causando danos à saúde, comprometer os relacionamentos familiares, sociais e até profissionais. Com isso, o objetivo deste estudo foi verificar os níveis de consumo de bebidas alcoólicas e tabaco, em estudantes de Paranavaí-Brasil e Cáceres-Espanha. Foi realizado um estudo transversal com estudantes de 11 a 16 anos das cidades de Cáceres, Espanha, em 2015, e Paranavaí, Brasil, em 2013, os quais responderam ao questionário preconizado pela Universidade Federal de Pelotas sobre o consumo de álcool e tabaco, e ao IPAQ, além de passarem por avaliações de IMC, perímetro de cintura e níveis pressóricos. Os dados coletados foram tratados por meio do pacote computadorizado Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 26.0. Os resultados apontam que os estudantes brasileiros se apresentaram mais propensos à obesidade e à experimentação das drogas lícitas mais cedo, assim como mais consumidores de álcool, em relação aos espanhóis, que consomem mais tabaco. Adolescentes com pais que bebem apresentam duas vezes mais chances de consumir bebidas alcoólicas e os que fumam também têm mais chances de consumir tabaco. Desta maneira, é notável o início precoce da experimentação das drogas em ambos os grupos. O grupo brasileiro apresentou-se mais propenso ao consumo de álcool, enquanto os espanhóis são mais propensos a consumir tabaco.

    Unitermos: Consumo de bebidas alcoólicas. Uso de tabaco. Estudantes.

 

Abstract

    Adolescence is a phase in which there is a period of stress-generating changes, which becomes a risk factor for the experimentation of psychoactive substances, which can last until adulthood, causing damage to health, compromising family, social and even professional relationships. Thus, the aim of this study was to verify the levels of alcohol and tobacco consumption in students from Paranavaí-Brazil and Cáceres-Spain. A cross-sectional study was conducted with students aged 11 to 16 from the cities of Cáceres, Spain, in 2015, and Paranavaí, Brazil, in 2013, who answered the questionnaire recommended by the Federal University of Pelotas on alcohol and tobacco consumption, and IPAQ, in addition to undergoing assessments of BMI, waist circumference and blood pressure levels. The collected data were processed using the computerized package Statistical Package for the Social Science (SPSS), version 26.0. The results indicate that Brazilian students were more prone to obesity and experimentation with licit drugs earlier, as well as more alcohol users than the Spanish, who consume more tobacco. Adolescents with parents who drink are twice as likely to consume alcoholic beverages and those who smoke are also more likely to consume tobacco. Thus, it is remarkable the early onset of drug experimentation in both groups. The Brazilian group was more prone to alcohol consumption, while Spaniards are more likely to consume tobacco.

    Keywords: Alcohol drinking. Tobacco use. Students.

 

Resumen

    La adolescencia es una fase en la que se produce un periodo de cambios generadores de estrés, que se convierte en un factor de riesgo para la experimentación de sustancias psicoactivas, que pueden durar hasta la edad adulta, causando daños a la salud, comprometiendo las relaciones familiares, sociales e incluso profesionales. Así, el objetivo de este estudio fue verificar los niveles de consumo de alcohol y tabaco en estudiantes de Paranavaí-Brasil y Cáceres-España. Se realizó un estudio transversal con estudiantes de 11 a 16 años de las ciudades de Cáceres, España, en 2015, y Paranavaí, Brasil, en 2013, quienes respondieron al cuestionario recomendado por la Universidad Federal de Pelotas sobre consumo de alcohol y tabaco, e IPAQ, además de someterse a evaluaciones de IMC, circunferencia de cintura y niveles de presión arterial. Los datos recolectados fueron procesados utilizando el paquete computarizado Statistical Package for the Social Science (SPSS), versión 26.0. Los resultados indican que los estudiantes brasileños eran más propensos a la obesidad y la experimentación con drogas lícitas antes, así como más consumidores de alcohol que los españoles, que consumen más tabaco. Los adolescentes con padres que beben tienen el doble de probabilidades de consumir bebidas alcohólicas y los que fuman también tienen más probabilidades de consumir tabaco. Por lo tanto, es notable el inicio temprano de la experimentación con drogas en ambos grupos. El grupo brasileño era más propenso al consumo de alcohol, mientras que los españoles son más propensos a consumir tabaco.

    Palabras clave: Consumo de bebidas alcohólicas. Consumo de tabaco. Estudiantes.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 296, Ene. (2023)


 

Introdução 

 

    A experimentação e o uso de álcool e tabaco são comportamentos de risco que se iniciam cada vez mais precocemente, geralmente na adolescência, quando esses indivíduos encontram dificuldades na construção de sua identidade e buscam nesses hábitos o alívio de tensões e estresse, tornando-os uma válvula de escape para seus problemas (Teixeira, Guimarães, e Echer, 2017). Essa fase da vida é considerada de maior vulnerabilidade e exposição ao uso/abuso das substâncias psicoativas (SPA's), podendo se estender por toda a vida (Bezerra et al., 2015) e comprometer os relacionamentos familiares, sociais e até profissionais. (Donoghue et al., 2017)

 

    A cada ano ocorrem 3 milhões de mortes associadas ao consumo de bebidas alcoólicas em todo o mundo (OPAS, 2020). A proporção correspondente aos jovens representa o terceiro lugar entre os principais fatores de risco de morte prematura e incapacidades na população, além do sexto lugar entre jovens de 10 a 24 anos (Malta et al., 2014; Nazir et al., 2019). No Brasil, a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos é proibida por lei, mesmo assim o álcool é a droga mais utilizada entre a população jovem (Martins et al., 2019). O álcool pode estar associado a outros comportamentos de riscos, como relações sexuais desprotegidas ou envolvimento em acidentes de trânsito. (Guimarães, Aquino, Prado, e Rodrigues, 2019)

 

    Com relação ao tabaco, estima-se que 1,3 bilhão de pessoas em todo o mundo façam uso e destes, mais de 24 milhões de crianças entre 13 e 15 anos fumam cigarros (Nida, 2021; WHO, 2019). Desse modo, a adoção desses comportamentos de risco está associada com doenças cardiovasculares, respiratórias, câncer de pulmão e hepáticas (Bezerra et al., 2015), além de também produzir manifestações agudas indesejadas como exaustão física, distúrbios no sono, cefaleia e redução no nível de atenção, maior número de faltas e evasão escolar, distúrbios alimentares que repercutem negativamente sobre o desenvolvimento cognitivo e o ajustamento social dos jovens (Bezerra et al., 2015). Almeida, Abreu, Andrade, e Lana (2021) alerta sobre o aumento do nível de dopamina no cérebro dos jovens principalmente no córtex pré-frontal, desempenhando um papel importante no sistema de recompensa.

 

    Além disso, o ambiente social e familiar também deve ser considerado. A exposição de comportamentos prejudiciais à saúde, além de ser influenciada e compartilhada no meio social em que frequenta e convive, pode também receber a influência e o exemplo da família. A literatura mostra que os fatores de risco dos pais (uso de bebidas, tabaco e drogas) têm forte associação com o aumento do uso dessas substâncias pelos jovens. (Mutumba, e Schulenberg, 2019; Teixeira et al., 2017)

 

    Assim, a exposição de jovens a comportamentos de risco modificáveis, como consumo de bebidas alcoólicas e tabaco, em idades cada vez mais precoces é preocupante e merece maior atenção. Ainda há necessidade de investigações sobre esse tema, para instauração de medidas preventivas, de acordo com o estilo de vida adotado pelos jovens em diferentes contextos geográficos, socioculturais e econômicos e evitar problemas de saúde, sociais e familiares em idades mais avançadas.

 

    A análise dos dados levantamentos sobre o comportamento dos jovens de cidades de dois diferentes países, pode levantar questionamentos acerca das suas razões. Observações importantes surgem quando dados de dois povos diferentes são comparados: as influências que a cultura de determinado local pode ter sobre os dados, quais os resultados que podem ser influenciados por questões sociais, econômicas e geopolíticas, condizentes com cada grupo avaliado, entre inúmeros outros fatores provenientes desse encontro de culturas.

 

    Há de se buscar, portanto, discussões que elucidem a existência de possíveis diferenças entre dados que são coletados em dois grupos de diferentes cenários, diferentes realidades e, principalmente, diferentes culturas. Certamente um país não se diferencia do outro apenas no âmbito geográfico e/ou econômico. Muito pode ser encontrado nas respostas que esse estudo (e outros) traz acerca dos grupos avaliados. Com isso, o objetivo deste estudo foi verificar os níveis de consumo de bebidas alcoólicas e tabaco, em estudantes de Paranavaí-Brasil e Cáceres-Espanha.

 

Métodos 

 

    Foi realizado estudo de corte transversal e observacional em escolas das cidades de Cáceres-Extremadura-Espanha (G-ESP), em 2015, e Paranavaí-Paraná-Brasil (G-BRA), em 2013, com estudantes de 11 a 16 anos de idade.

 

    Foi conduzida amostragem aleatória em quatro etapas: 1) sorteio de uma escola de cada região da cidade; 2) sorteio das turmas em cada escola; 3) convite a todos os estudantes das turmas sorteadas, e explicações sobre o estudo; 4) entrega do Termo de Assentimento Livre e Esclarecido – TALE para anuência do participante da pesquisa e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para assinatura dos pais ou responsáveis pelo menor de idade.

 

    Na Espanha, a amostra foi composta por estudantes do 1º ao 3º ano do Ensino Secundário Obrigatório, matriculados em quatro escolas públicas e duas escolas privadas. As informações utilizadas para o cálculo amostral foram obtidas no Ministério de Educação, Cultura e Esporte da Espanha (Fatos e Números - Ano escolar 2014/2015) e, considerada a população total de estudantes em Cáceres (N=5,817).

 

    No Brasil, a amostra foi composta por estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental ao 1º ano do Ensino Médio matriculados em quatro escolas públicas e duas escolas privadas. As informações utilizadas para o cálculo amostral foram obtidas no Núcleo Regional de Educação de Paranavaí – 2013 e considerada a população total de estudantes em Paranavaí (N=4,540).

 

    O tamanho da amostra alvo consistiu em pelo menos 80 indivíduos, estimado a priori pelo software G*Power, versão 3.1.9.2 (Faul, Erdfelder, Lang, e Buchner, 2007), com nível alfa definido em 0,05 e poder estatístico de 95%.

 

Figura 1. Características da amostra

Figura 1. Características da amostra

Fonte: Elaboração própria

 

    O consumo de bebida alcoólica e de tabaco foi mensurado com o questionário preconizado pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel, 1993). Na Espanha, o instrumento foi traduzido para o espanhol, em seguida, de volta para o português, e aplicado em uma turma de 20 alunos que não participaram da amostra, a fim de garantir a clareza e o significado da informação. Os estudantes foram questionados sobre a frequência de consumo de bebidas alcoólicas (cerveja, vodka, vinho, uísque, cachaça etc.) e tabaco (cigarros, cigarrilhas e charutos), durante uma semana habitual, com perguntas como, por exemplo:

    “Alguma vez você já ingeriu bebida alcoólica? Quantos anos você tinha quando consumiu bebida alcoólica pela primeira vez? No último mês, quantos dias você consumiu bebida alcoólica? Seu pai e/ou sua mãe (os dois) bebem ou bebiam? Alguma vez você experimentou cigarros, mesmo uma ou duas fumadas? Quantos anos você tinha quando fumou seu primeiro cigarro? No último mês, quantos dias você fumou? Seu pai e/ou sua mãe e/ou os dois fumam ou fumavam?”

    Foram considerados tabagistas e etilistas os estudantes que referiram fumar e consumir bebida alcoólica, um ou mais dias, nos últimos 30 dias, independentemente da quantidade.

 

    A avaliação antropométrica, foi realizada no Brasil com a medida da estatura em pé com um estadiômetro de parede (Wisoâ, Brasil) com resolução de 0,1 cm e a massa corporal em balança digital (G-Tech) com capacidade de 150 kg e resolução de 100 g. Na Espanha foi realizada com um estadiômetro Soehnle® profissional 5002.01.001. e uma balança Tefal® PP1027 A9. O índice de massa corporal (IMC) foi calculado considerando-se a razão entre a massa corporal em quilogramas e o quadrado da estatura em metros (kg/m²), de acordo com pontos de corte ajustados para idade e sexo. (Cole, Bellizzi, Flegal, e Dietz, 2000)

 

    O perímetro da cintura (PC) foi medido nos dois países por meio de fita métrica inextensível (WCS®, Modelo Gulick, Brasil). Foi considerado o ponto médio entre a crista ilíaca e a última costela. Todas as medidas foram feitas em duplicatas e considerado o valor médio das medições. Os estudantes foram classificados em não obesos e obesos, de acordo com pontos de corte ajustados para sexo e idade. (Taylor, Jones, Williams, e Goulding, 2000)

 

    O nível de atividade física (NAF) foi avaliado por intermédio do Questionário Internacional de Atividade Física (International Physical Activity Questionnaire – IPAQ-A) modificado para adolescentes (Arvidsson, Slinde, e Hulthen, 2005), tendo como referência a última semana (insuficientemente ativo <300 min/sem). (Strong et al., 2005)

 

    Os níveis de pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD) foram mensurados no braço direito de cada indivíduo, após cinco minutos de repouso, sentados, protocolo validado para estudantes (Christofaro et al., 2009). As medidas foram aferidas nos dois países por meio de um aparelho oscilométrico eletrônico e digital com inflação e deflação automática do ar (OMRON®, modelo HEM-742, Brasil). Os indivíduos que apresentaram valores da PAS e/ou PAD no percentil ≥95 (Barroso et al., 2021), para sexo e idade, ajustadas para o percentil da altura (Kuczmarski, 2000), foram diagnosticados com pressão arterial elevada.

 

    A normalidade dos dados foi checada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. Para análise das variáveis numéricas recorreu-se aos procedimentos da estatística descritiva (frequência absoluta e relativa, média e desvio-padrão, mediana e valores mínimos e máximos). Para identificação de eventuais diferenças entre os sexos, foi utilizado o teste não paramétrico U de Mann-Whitney.

 

    Foram consideradas variáveis de exposição sexo (feminino / masculino), idade (11 a 13 e 14 a 16 anos), dependência administrativa da escola (particular / pública), excesso de peso (sobrepeso e obesidade) / normal (IMC), obesidade abdominal / normal (PC), nível de atividade física (insuficientemente ativo / ativo) (NAF) e nível de PAS e PAD. Em seguida, as variáveis categóricas (proporção de frequência de acordo com os pontos de corte considerados) foram analisadas mediante tabelas cruzadas, envolvendo testes de Qui-quadrado (X²), V de Cramer e Phi, para identificação de diferenças estatísticas entre os grupos (comparações múltiplas ajustadas pelo método Bonferroni). Estimativas de Odds ratio (OR), com intervalo de confiança de 95%, foram realizadas para analisar as associações entre as variáveis, um valor de p≤0,05 foi considerado estatisticamente significativo para todas as análises. Os dados coletados foram tratados por meio do pacote computadorizado Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 26.0.

 

    Os protocolos de intervenção no estudo foram autorizados no Brasil pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual de Maringá, registro nº 353.552, e na Espanha pela Comisión de Bioética y Bioseguridad de La Universidad de Extremadura, registro nº 53/2015.

 

    Este estudo faz parte do projeto de pesquisa “Comportamientos de riesgo en los adolescentes: prevalencia y factores asociados” (Silva-Lima, 2017), o qual já foram publicadas as pesquisas: Sleep hours: risk behavior in adolescents from different countries (Silva-Lima et al., 2020); Fatores de risco cardiovascular em estudantes de 11 a 16 anos em Paranavaí (Brasil) e Cáceres (España). (Ferreira-Lima et al., 2020)

 

Resultados 

 

    A amostra foi composta por 165 estudantes no G-ESP, com maior participação na categoria de 14 a 16 anos (71,0%), a maioria do sexo masculino (53,6%), de escolas públicas (53,6%). No G-BRA, a amostra foi composta por 237 estudantes, com maior participação na categoria de 14 a 16 anos (53,2%), a maioria do sexo feminino (54,3%), de escolas públicas (63,7%). A Tabela 1 apresenta as características descritivas da amostra espanhola e brasileira referentes às variáveis analisadas e ao primeiro consumo de álcool e tabaco. Houve diferenças significativas entre os países para as variáveis analisadas, exceto para PAS (U=28709,0; p=0,133) e idade que fumou pela primeira vez (U=98,0; p=0,130).

 

Tabela 1. Caracterização da amostra: dados demográficos, 

antropométricos, hemodinâmicos e comportamentais, G-ESP e G-BRA

 

G-ESP (n=165)

G-BRA (n=237)

Teste “U”

p-valor

Média ± dp

Mediana

(min-máx)

Média ± dp

Mediana

(min-máx)

Idade (anos)

14,2 ± 1,1

14,3 (11,3-16,4)

13,6 ± 1,7

13,8 (10,6-16,4)

25313,0

<0,001*

IMC (Kg/m2)

20,9 ± 3,3

20,3 (13,5-33,2)

20,4 ± 3,7

19,8 (12,3-36,4)

27375,5

0,020

PC (cm)

68,2 ± 8,0

66,5 (52,0-105,0)

73,7 ± 10,6

72,0 (41,0-109,0)

41860,0

<0,001*

NAF (min/sem)

423,0 ± 400,5

270,0

(20,0-2310,0)

350,3 ± 309,4

240,0

(15,0-1470,0)

27807,5

0,037

PAS (mmHg)

112,6 ± 13,9

111,5 (75,0-151,5)

110,5 ± 14,9

110,0 (68,0-152,0)

28709,0

0,133

PAD (mmHg)

64,4 ± 8,9

63,5 (46,0-102,3)

67,2 ± 12,0

67,0 (40,0-103,0)

36099,0

0,002

Tabaco

13,6 ± 1,2

14,0 (11,0-15,0)

12,9 ± 1,4

13,0 (10,0-14,0)

98,0

0,130

Álcool

13,2 ± 0,9

13,0 (10,0-14,0)

11,8 ± 2,1

12,0 (9,0-15,0)

233,0

0,047

Legenda: G-ESP: estudantes de Cáceres-Extremadura-Espanha; G-BRA: estudantes de Paranavaí-Paraná-Brasil; dp: desvio padrão; min: mínimo; máx: máximo; IMC: Índice de massa corporal; NAF: Nível de atividade física; PAS: Pressão arterial sistólica; PAD: Pressão arterial diastólica; Tabaco: Idade que fumou pela 1ª vez; Álcool: Idade que bebeu pela 1ª vez. Fonte: Elaboração própria

 

    Os resultados apresentados na Figura 2, demonstraram que as proporções não são diferentes para IMC, NAF e PA entre os dois grupos. Os estudantes brasileiros eram mais jovens e apresentaram significativamente maior proporção de obesidade abdominal segundo o PC (29,9% vs. 8,5%; p<0,001), em relação aos espanhóis.

 

Figura 2. Distribuição dos participantes (%) segundos dados demográficos, 

antropométricos, hemodinâmicos e comportamentais, G-ESP e G-BRA

Figura 2. Distribuição dos participantes (%) segundos dados demográficos, antropométricos, hemodinâmicos e comportamentais, G-ESP e G-BRA

Fonte: Dados da pesquisa

 

    A Tabela 2 apresenta os indicadores relativos ao consumo de álcool nos últimos 30 dias. Foi observado que 29,5% dos estudantes espanhóis e 52,5% dos estudantes brasileiros já haviam consumido bebida alcoólica (p<0,001). A amostra espanhola apresentou proporções significativamente menores de consumo de álcool ao longo dos dias do mês e quantidade de copos em relação a amostra brasileira (p=0,007). Além disso, os espanhóis apresentaram maior proporção para ambos os pais que consomem bebidas alcoólicas (p<0,001).

 

Tabela 2. Proporções do consumo de bebidas alcoólicas, G-ESP e G-BRA

 

G-ESP (n=165)

G-BRA (n=237)

Teste X2

p-valor

f (%)

f (%)

Já bebeu?

Sim

49 (29,5)

124 (52,5)

27,024

<0,001*

Não

116 (70,5)

113 (47,5)

Quantos dias?

Nenhum

116 (70,5)

112 (47,5)

26,205

<0,001*

1 a 9 dias

48 (29,0)

123 (51,8)

10 a 19 dias

1 (0,4)

1 (0,4)

20 ou mais dias

-

1 (0,4)

Quantos copos?

Nenhum

116 (70,5)

112 (47,5)

7,177

0,007

1 a 3 copos

37 (22,3)

125 (52,5)

4 a 7 copos

9 (5,4)

-

8 ou mais copos

3 (1,8)

-

Seus pais bebem?

Não

60 (36,2)

74 (31,3)

4,969

<0,001*

Sim, os dois

71 (43,3)

71 (29,9)

Apenas meu pai

22 (13,4)

89 (37,4)

Apenas minha mãe

12 (7,1)

3 (1,4)

Legenda: G-ESP: estudantes de Cáceres-Extremadura-Espanha; G-BRA: estudantes de Paranavaí-Paraná-Brasil. 

Fonte: Elaboração própria

 

    A Tabela 3 apresenta os indicadores relativos ao consumo de tabaco nos últimos 30 dias. Foi observado que 10,7% dos estudantes espanhóis e 5,4% dos estudantes brasileiros já haviam fumado alguma vez na vida (p=0,027). A amostra espanhola apresentou proporções significativamente maiores de uso de tabaco ao longo dos dias do mês e quantidade de cigarros por dia em relação a amostra brasileira (p=0,005). Além disso, os espanhóis apresentaram maior proporção para ambos os pais que fumavam (p<0,001).

 

Tabela 3. Proporções do consumo de tabaco, G-ESP e G-BRA

 

G-ESP (n=165)

G-BRA (n=237)

Teste X2

p-valor

f (%)

f (%)

Já fumou?

Sim

200 (89,3)

224 (94,6)

4,897

0,027

Não

24 (10,7)

13 (5,4)

Quantos dias?

Nenhum

204 (91,1)

232 (97,8)

7,873

0,005*

1 a 9 dias

19 (8,5)

3 (1,4)

10 ou mais dias

1 (0,4)

2 (0,7)

Quantos cigarros / dia?

Nenhum

200 (89,3)

224 (94,6)

4,360

0,037

1 a 3 cigarros

23 (10,3)

12 (5,0)

4 ou mais cigarros

1 (0,4)

1 (0,4)

Seus pais fumam?

Não

84 (37,5)

181 (76,3)

43,177

<0,001*

Sim, os dois

69 (30,8)

11 (4,7)

Apenas meu pai

42 (18,8)

34 (14,4)

Apenas minha mãe

29 (12,9)

11 (4,7)

Legenda: G-ESP: estudantes de Cáceres-Extremadura-Espanha; G-BRA: estudantes de Paranavaí-Paraná-Brasil.

Fonte: Elaboração própria

 

    A chance de usar álcool no grupo espanhol é aproximadamente 5 vezes maior entre os estudantes de 14-16 anos (Tabela 4). Os estudantes de escolas públicas apresentaram 2 vezes mais chances de apresentar este comportamento em relação aos de escolas particulares. Em ambos os grupos, foi encontrado que estudantes espanhóis e brasileiros que bebem possuem 24 e 14 vezes mais chances de consumirem tabaco, respectivamente. Em relação aos estudantes que relataram possuir pais que bebem, G-ESP e G-BRA apresentaram aproximadamente 2 vezes mais chances de beberem.

    

    Estudantes de 14-16 anos dos grupos da G-ESP e do G-BRA apresentaram 11 e 6 vezes mais chances de usarem tabaco, respectivamente, quando comparados aos seus pares mais novos. A chance de usar tabaco no G-ESP é aproximadamente 3 vezes maior entre os estudantes de escolas públicas. Em ambos os grupos, foi encontrado que estudantes espanhóis e brasileiros que fumam apresentaram 24 e 14 vezes mais chances de consumirem álcool. Os estudantes que relataram possuir pais que fumam G-ESP e G-BRA apresentaram mais chances de se tornarem fumantes, em comparação aos não expostos (Tabela 4).

 

Tabela 4. Associação (Odds Ratio) entre o consumo de álcool e tabaco e varáveis independentes, G-ESP e G-BRA

 

Consumo de Álcool e Tabaco

G-ESP (n=165)

G-BRA (n=237)

OR

IC 95%

p-valor

OR

IC 95%

p-valor

Consumo de álcool

Sexo

1,153

(0,647-2,054)

0,629

0,806

(0,503-1,294)

0,373

Idade

4,889

(2,094-11,411)

0,001

1,077

(0,672-1,726)

0,759

DA

2,158

(1,185-3,930)

0,012

0,942

(0,577-1,537)

0,811

IMC

0,768

(0,386-1,530)

0,453

1,728

(0,983-3,038)

0,057

PC

1,198

(0,586-2,447)

0,621

1,503

(0,788-2,866)

0,216

NAF

0,724

(0,0407-1,290)

0,256

0,971

(0,603-1,562)

0,903

Fumar

24,111

(6,878-84,529)

0,001

13,894

(1,801-107,185)

0,012

Pais bebem

2,184

(1,145-4,167)

0,018

 

(1,316-3,710)

0,003

Consumo de tabaco

 

G-ESP (n=165)

G-BRA (n=237)

OR

IC 95%

p-valor

OR

IC 95%

p-valor

Sexo

1,711

(0,726-4,035)

0,22

1,278

(0,442-3,693)

0,065

Idade

10,824

(1,430-81,922)

0,021

6,163

(1,364-27,848)

0,018

DA

2,882

(1,099-7,563)

0,031

3,924

(0,867-17,752)

0,076

IMC

1,628

(0,656-4,041)

0,294

1,621

(0,534-4,922)

0,394

PC

2,357

(0,936-5,937)

0,069

1,279

(0,346-4,725)

0,712

NAF

1,684

(0,704-4,026)

0,251

0,639

(0,225-1,814)

0,400

Beber

24,111

(6,878-84,529)

0,001

13,894

(1,801-107,185)

0,012

Pais fumam

4,765

(1,376-16,502)

0,014

3,025

(1,053-8,688)

0,040

G-ESP: estudantes de Cáceres-Extremadura-Espanha; G-BRA: estudantes de Paranavaí-Paraná-Brasil; OR: Odds ratio; 

IC: Intervalo de confiança; DA: Dependência administrativa; IMC: Índice de massa corporal;

 PC: Perímetro da cintura; NAF: Nível de atividade física. Fonte: Elaboração própria

 

Discussão 

 

    O presente estudo se propôs a fazer um comparativo referente ao consumo de álcool e tabaco em estudantes de duas cidades distintas, uma localizada na Espanha e uma localizada no Brasil. Os estudantes espanhóis apresentaram proporções significativamente menores de consumo de álcool em relação à amostra brasileira, além de maior proporção para ambos os pais que consomem bebidas alcoólicas. Em contrapartida, no que diz respeito ao uso de tabaco, os estudantes brasileiros apresentaram proporções significativamente maiores de não fumantes em relação a amostra espanhola, além de maior proporção de pais que não fumavam. Ademais, foi encontrado que estudantes espanhóis e brasileiros que relataram o comportamento de ingerir bebidas alcoólicas ou fumar apresentaram 24 e 14 vezes mais chances de apresentar os dois comportamentos, respectivamente. E ainda, é possível observar que o hábito de beber ou fumar do pai, da mãe ou de ambos, parece influenciar no comportamento dos filhos.

 

    A amostra apresentou alto índice de obesidade geral, segundo o IMC, nos estudantes espanhóis e de obesidade abdominal, segundo o PC, nos brasileiros. Isso reforça dados sobre o aumento da incidência de obesidade geral e abdominal, a qual vem sendo uma tendência crescente (Yazdi et al., 2020). Além disso, entender a relação entre obesidade e fatores comportamentais podem ser úteis para desenvolver estratégias mais eficazes para prevenir e reduzir as complicações futuras, não apenas para garantir que a expectativa de vida continue a crescer, mas também para que melhore para as gerações futuras.

 

    Ao analisar o consumo de álcool, constatou-se que as prevalências nesta variável foram maiores para os adolescentes de Paranavaí, G-BRA, para as questões como: se já havia experimentado bebida alcoólica; para a quantidade de dias que consumiram (1 a 9 dias, 10 a 19 dias, 20 dias ou mais); como também para a quantidade consumida (1 a 3 copos) por dia. Estes resultados são similares ao de um estudo realizado na Espanha, com 410 adolescentes, de 14 a 19 anos, em que 70% apresentaram concentração de álcool no ar expirado e, a amostra completa relatou média de 3,9 episódios de embriaguês no último mês, além de apresentar média de 7,34 no teste de identificação de distúrbios por uso de álcool (Gervilla, Quigg, Duch, Juan, e Guimarães, 2020). No Brasil, uma pesquisa feita com adolescentes de 15 a 24 anos, encontrou prevalência de consumo excessivo de álcool em 21,9% da amostra estudada, com maior porcentagem para indivíduos do sexo masculino (28,6%) do que feminino (16,9%). (Guimarães et al., 2019)

 

    No G-ESP a chance de consumir álcool é maior entre os estudantes mais velhos (14 a 16 anos) e de escolas públicas em relação aos seus pares. Em estudo realizado com 221 estudantes de escolas públicas, de 10 a 19 anos, constatou-se que 35,7% já usaram álcool pelo menos uma vez na vida, e 17,6% usaram álcool frequentemente nos últimos 30 dias. A idade média do primeiro uso de álcool foi 15 anos, em contrapartida, a idade média do consumo de álcool nos últimos 30 dias foi de 14 anos, sendo o último resultado associado ao fato de amigos também usarem alguma droga psicotrópica (lícita ou ilícita) (Costa, de Queiroz, Souza, Silva-Oliveira, e Oliveira-Filho, 2020). Alguns autores afirmam que o desejo pelo consumo de álcool em adolescentes pode estar relacionado não só a fatores contextuais, como hora do dia, presença de colegas, dia da semana e local, mas também a mudanças agudas no humor e níveis elevados de propensão a correr riscos (Treloar Padovano, Janssen, Emery, Carpenter, e Miranda Jr, 2019). Episódios de uso abusivo agudo de álcool não apenas influenciam a mortalidade geral, mas também contribuem para agravos à saúde, inclusive o desenvolvimento de dependência que, em adolescentes, muitas vezes está associado à insatisfação corporal, e pode desencadear comportamentos de risco e distúrbios alimentares, como a bulimia e anorexia. (Guimarães et al., 2019)

 

    O consumo de álcool por adolescentes está fortemente associado a consequências neurais e cognitivas, sendo mais evidentes naqueles que consomem doses mais altas e pesadas, embora doses moderadas também causem danos cerebrais (Lees et al., 2020). Ademais, foi observado em adolescentes que consomem álcool precocemente, um volume reduzido de hipocampo, córtex pré-frontal e branco, resultando em alterações deletérias de várias habilidades cognitivas, incluindo memória, planejamento e tarefas espaciais (Tanaree, Assanangkornchai, e Kittirattanapaiboon, 2017). Assim, início precoce do consumo de álcool é um tema cada vez mais preocupante, que merece ser vigiado e acompanhado por todos, pela razão de ser um preditor da condição de saúde prejudicada e está associado com maior risco de dependência, além de causar inúmeros acidentes de trânsito e violência associada a episódios de embriaguez. (Santana, Schuengue, e da Silva, 2017)

 

    Os estudantes que ambos os pais consomem bebida alcoólica, apresentam mais probabilidades de também consumirem álcool, um estudo transversal encontrou associação entre o uso de álcool pelos filhos cujos pais também fazem uso do mesmo (Giustino et al., 2018). Adicionalmente, foi encontrado que estudantes espanhóis e brasileiros que relataram o comportamento de ingerir bebidas alcoólicas ou fumar apresentaram mais chances de terem simultaneamente os dois comportamentos de risco. Corroborando, um estudo realizado com 3967 adolescentes na Etiópia, com idade entre 13 e 19 anos, também verificou forte relação entre o consumo de álcool e tabaco, onde 72% dos que já fumaram também experimentaram álcool, e 21% dos que já consumiram álcool também já fumaram. (Getachew, Lewis, Britton, Deressa, e Fogarty, 2019)

 

    Em relação ao consumo de tabaco, os estudantes de Cáceres, G-ESP, apresentam as maiores prevalências relacionadas ao já terem experimentado tabaco; a maior quantidade consumida tanto em relação à quantidade de dias (1 a 9 dias e + de 10 dias), quanto ao número de cigarros por dia (1 a 3 cigarros); e maiores proporções em que ambos os pais são fumantes. Do mesmo modo, pesquisa realizada com adolescentes entre 15 e 19 anos de idade, em 29 países de regiões da Europa Oriental, América Latina, Ásia e África, observou que os indivíduos da Europa Oriental apresentaram maior prevalência de uso de tabaco (>40%) (Mutumba, e Schulenberg, 2019). Estes resultados são preocupantes porque o consumo diário ou ocasional de tabaco pode resultar em diferentes padrões de dependência, além das influências ambientais, culturais, sociais e econômicas. (De Micheli et al., 2021)

 

    Quanto à proporção de ambos os pais que fumam ser evidenciada nesta pesquisa, destaca-se que a exposição deste comportamento de risco à saúde dos jovens, pressupõe que o ambiente familiar pode contribuir para que estes indivíduos façam escolhas positivas ou negativas ao imitar as atitudes de seus pais e/ou irmãos. Este achado certifica o estudo que apresenta que adolescentes tabagistas provém de famílias de dependentes de drogas lícitas e ilícitas, e ainda, famílias de dependentes químicos têm prevalência de adolescentes fumantes 79% maior que aquelas sem histórico familiar de uso de drogas. Além disso, relações familiares ruins e a constituição de famílias monoparentais, bem como morar com outro familiar como tio, avô ou namorado, também tiveram influência significativa para iniciação no tabagismo (Teixeira et al., 2017). Notavelmente, as famílias têm a responsabilidade de estar atentas ao engajamento neste e em outros comportamentos de risco, pois resultados positivos podem ser fatores de proteção para os adolescentes quando o ambiente familiar funciona de maneira consistente.

 

    Colaboração positiva é apresentada em pesquisa realizada para analisar a desigualdade em escolaridade no tabagismo e consumo abusivo de álcool nas capitais brasileiras, onde para os homens, o tabagismo diminuiu de 19,5% em 2006 para 13,2% em 2017, e para as mulheres, a mudança foi de 12,4% em 2006 para 7,5% em 2017. Para ambos os sexos, a prevalência sempre foi maior entre os menos escolarizados (Wendt, Costa, Costa, Malta, e Crochemore-Silva, 2021). Esses resultados demonstram a importância de uma política pública para regular e banir a publicidade do tabaco no Brasil, uma vez que as experiências com cigarros acontecem por curiosidade, incentivo de colegas e modelos de pais e adultos próximos.

 

    Tanto no G-ESP quanto no G-BRA, os estudantes de 14 a 16 anos apresentaram mais chances de usar tabaco comparados aos seus pares mais novos. Resultado similar é apresentado em estudo realizado com 370 estudantes, de 10 a 19 anos, onde o uso de tabaco prevalecia naqueles com idade a partir de 15 anos, demonstrando que à medida que aumenta a idade, acrescenta a probabilidade de consumir tabaco com mais frequência (Viana et al., 2018). De modo comparativo, em estudo desenvolvido com adolescentes de área rural no Brasil, foi constatado que a idade média da porcentagem que relatou ter consumido tabaco nos últimos 30 dias foi de 14 anos. (Costa et al., 2020)

 

    Diante dos dados apresentados é importante sinalizar que na Espanha, um estudo mostra que houve diminuição do uso de tabaco, sendo 3,13% durante 2009-2012 e 4,81% durante 2009-2017, dados esses justificados pela implantação da lei antifumo (García-Mayor, Moreno-Llamas, e Cruz-Sánchez, 2019). No Brasil, observou-se que a prevalência do uso de tabaco foi reduzida em quase 40% de 2006 a 2014 (de 15,2% para 9,4%) (Santos, de Oliveira Meller, Amann, e Schäfer, 2020). Esse resultado provém de diversas ações para redução desse comportamento, como a proibição de fumar em locais e meios de transportes públicos, tratamento para parar de fumar, advertências nas embalagens de cigarros, proibição de anúncios de cigarros na mídia e em pontos de venda, e imposto sobre cigarros (WHO, 2019).

 

    Os resultados do presente estudo devem ser interpretados à luz de algumas limitações, como a utilização de questionários autorrelatados propensos a vieses, além da concepção transversal não fornecer evidências para causalidade, apenas a presença ou não de associações.

 

Conclusão 

 

    Nesse estudo foi observada uma alta prevalência de consumo de álcool entre os adolescentes brasileiros e de tabaco entre os espanhóis, bem como o início precoce de experimetação. Também foi identificado que os estudantes mais velhos são os mais expostos e, que o consumo de uma substância aumenta o risco de consumo de outra.

 

    Para alcançar metas de enfrentamento destes comportamentos de risco à saúde, é necessário avançar no acesso às políticas de promoção da saúde, prevenção e vigilância, mas principalmente promover o envolvimento da família, amigos, escola, enfatizando a responsabilidade e a importância da participação nesse processo. O sucesso das intervenções de saúde pública é maior quando são realizadas de maneira integrada e abrangente.

 

Referencias 

 

Almeida, C.S. de, Abreu, M.N.S., Andrade, S.N., e Lana, F.C.F. (2021). Factors associated to alcohol use by adolescents. Texto & Contexto-Enfermagem, 30. https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2019-0008

 

Arvidsson, D., Slinde, F., e Hulthen, L. (2005). Physical activity questionnaire for adolescents validated against doubly labelled water. European journal of clinical nutrition, 59(3), 376-383. https://doi.org/10.1038/sj.ejcn.1602084

 

Barroso, WKS, Rodrigues, CIS, Bortolotto, LA, Mota-Gomes, MA, Brandão, AA, Feitosa, ADM, Machado, CA, Poli-de-Figueiredo, CE, Amodeo, C., Mion Júnior, D., Barbosa, ECD, Nobre, F., Guimarães, ICB, Vilela-Martin, JF, Yugar-Toledo, JC, Magalhães, MEC, Neves, MFT, Jardim, PCBV, Miranda, RD,... Nadruz, W. (2021). Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial–2020. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 116(3), 516-658. https://doi.org/10.36660/abc.20201238

 

Bezerra, J., Lopes, A., Hardmam, C., Tassitano, R., Tenório, M., e de Barros, M. (2015). Consumo de bebidas alcoólicas e tabagismo: associação com inatividade física no lazer e comportamento sedentário. Revista Andaluza de Medicina del Deporte, 8(1), 1-6. http://dx.doi.org/10.1016/j.ramd.2014.08.002

 

Christofaro, DGD, Casonatto, J., Polito, MD, Cardoso, JR, Fernandes, R., Guariglia, DA, Gerage, AM, e. Oliveira, AR (2009). Evaluation of the Omron MX3 Plus monitor for blood pressure measurement in adolescents. European journal of pediatrics, 168(11), 1349-1354. https://doi.org/10.1007/s00431-009-0936-x

 

Cole, T.J., Bellizzi, M.C., Flegal, K.M., e Dietz, W.H. (2000). Establishing a standard definition for child overweight and obesity worldwide: international survey. BMJ, 320(7244), 1240. https://doi.org/10.1136/bmj.320.7244.1240

 

Costa, F.F., Queiroz, J.P.Q. de, Souza, S.B., Silva-Oliveira, G.C., e Oliveira-Filho, A.B. (2020). Uso de álcool entre adolescentes: prevalência, fatores de risco e estratégia de prevenção numa área rural do estado brasileiro do Pará. Research, Society and Development, 9(11), e58291110351-e58291110351. https://doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10351

 

De Micheli, D., Andrade, A.L.M., Reichert, R.A., Pinheiro, B.O., da Silva, E.A., e Lopes, F.M. (2021). Aspectos comportamentais, neurobiológicos e psicossociais do uso e dependência de drogas. Editora CRV.

 

Donoghue, K., Rose, H., Boniface, S., Deluca, P., Coulton, S., Alam, MF, Gilvarry, E., Kaner, E., Lynch, E., Maconochie, I., McArdle, P., McGovern, R., Newbury-Birch, D., Patton, R., Phillips, CJ, Phillips, T., Russell, I., Strang, J., e Drummond, C. (2017). Alcohol consumption, early-onset drinking, and health-related consequences in adolescents presenting at emergency departments in England. Journal of Adolescent Health, 60(4), 438-446. https://doi.org/10.1016/j.jadohealth.2016.11.017

 

Faul, F., Erdfelder, E., Lang, A.G., e Buchner, A. (2007). G* Power 3: A flexible statistical power analysis program for the social, behavioral, and biomedical sciences. Behavior research methods, 39(2), 175-191. https://doi.org/10.3758/BF03193146

 

Ferreira-Lima, W., Silva-Lima, S.B. da, Lima, F.É.B., Lima, F.B., Fernandes, C.A.M., e García, J.P.F. (2020). Fatores de risco cardiovascular em estudantes de 11 a 16 anos em Paranavaí (Brasil) e Cáceres (España). Revista Andaluza de Medicina del Deporte, 13(2), 81-86. https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/ibc-194369

 

García-Mayor, J., Moreno-Llamas, A., e Cruz-Sánchez, E.D.L. (2020). Prevalencia de tabaquismo y hábitos de vida relacionados con la salud en función del uso del tabaco tras la implantación de la Ley 42/2010: análisis de encuestas de salud en España 2009-2017. Revista Española de Salud Pública, 93, e201907042. https://www.scielosp.org/pdf/resp/2019.v93/e201907042/es

 

Gervilla, E., Quigg, Z., Duch, M., Juan, M., e Guimarães, C. (2020). Adolescents’ alcohol use in Botellon and attitudes towards alcohol use and prevention policies. International Journal of Environmental Research and Public Health, 17(11), 3885. https://doi.org/10.3390/ijerph17113885

 

Getachew, S., Lewis, S., Britton, J., Deressa, W., e Fogarty, A.W. (2019). Prevalence and risk factors for initiating tobacco and alcohol consumption in adolescents living in urban and rural Ethiopia. Public health, 174, 118-126. https://doi.org/10.1016/j.puhe.2019.05.029

 

Giustino, A., Stefanizzi, P., Ballini, A., Renzetti, D., De Salvia, M., Finelli, C., Coscia, MF, Tafuri, S., e De Vito, D. (2018). Alcohol use and abuse: a cross-sectional study among Italian adolescents. Journal of preventive medicine and hygiene, 59(2), E167-E171. https://www.researchgate.net/publication/326491081

 

Guimarães, B.E. de B., Aquino, R., Prado, N.M. de B.L., e Rodrigues, P.V.A. (2019). O consumo excessivo de álcool e a insatisfação com a imagem corporal por adolescentes e jovens de um município baiano, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 36(1). https://doi.org/10.1590/0102-311X044919

 

Kuczmarski, R.J. (2000). CDC growth charts: United States (No. 314). US Department of Health and Human Services, Centers for Disease Control and Prevention, National Center for Health Statistics.

 

Lees, B., Meredith, L.R., Kirkland, A.E., Bryant, B.E., e Squeglia, L.M. (2020). Effect of alcohol use on the adolescent brain and behavior. Pharmacology Biochemistry and Behavior, 192, 172906. https://doi.org/10.1016/j.pbb.2020.172906

 

Malta, DC, Machado, IE, Porto, DL, Silva, MMA, Freitas, PC, Costa, AWN, e Oliveira-Campos, M. (2014). Alcohol consumption among Brazilian adolescents according to the National Adolescent School-based Health Survey (PeNSE 2012). Revista Brasileira de Epidemiologia, 17, 203-214. https://doi.org/10.1590/1809-4503201400050016

 

Martins, JG, Guimarães, MO, Jorge, KO, Silva, CJP, Ferreira, RC, Pordeus, IA, Kawachi, I. e Zarzar, PMPA (2019). Binge drinking, alcohol outlet density and associated factors: a multilevel analysis among adolescents in Belo Horizonte, Minas Gerais State, Brazil. Cadernos de Saúde Pública, 36(1). https://doi.org/10.1590/0102-311X00052119

 

Mutumba, M., e Schulenberg, J.E. (2019). Tobacco and alcohol use among youth in low and middle income countries: a multi-country analysis on the influence of structural and micro-level factors. Substance use &misuse, 54(3), 396-411. https://doi.org/10.1080/10826084.2018.1497063

 

Nazir, M.A., Al-Ansari, A., Abbasi, N., e Almas, K. (2019). Global Prevalence of Tobacco Use in Adolescents and Its Adverse Oral Health Consequences. Open Access Macedonian Journal of Medical Sciences, 7(21), 3659-3666. https://doi.org/10.3889/oamjms.2019.542

 

Nida (2021, April 12). How many adolescents use tobacco? https://nida.nih.gov/publications/research-reports/tobacco-nicotine-e-cigarettes/how-many-adolescents-use-tobacco

 

OPAS (2020). Álcool. Organização Pan-Americana da Saúde.

 

Santana, B.S.B., Schuengue, C.M. de O.L., e da Silva, J.W. (2017). Alcoolismo na juventude: possíveis causas e consequências [Resumo]. In II Jornada de Iniciação Científica. III Seminário Científico da FACIG: Sociedade, Ciência e Tecnologia. https://docplayer.com.br/79838703-Alcoolismo-na-juventude-possiveis-causas-e-consequencias.html

 

Santos, L.P., de Oliveira Meller, F., Amann, V.R., e Schäfer, A.A. (2020). Temporal trends in behavioral risk and protective factors and their association with mortality rates: results from Brazil and Argentina. BMC public health, 20(1), 1-12. https://doi.org/10.1186/s12889-020-09512-9

 

Silva-Lima, S.B. da (2017). Comportamientos de riesgo en los adolescentes: Prevalencia y factores asociados [Doctoral dissertation, Universidad de Extremadura]. https://dehesa.unex.es/handle/10662/6330

 

Silva-Lima, SB., Ferreira-Lima, W., Lima, FÉB, Lima, FB, Santos, A., Fernandes, CAM, e Fuentes, JP (2020). Sleep Hours: Risk behavior in adolescents from different countries. Ciência & Saúde Coletiva, 25, 957-965. https://doi.org/10.1590/1413-81232020253.15722018

 

Strong, WB, Malina, RM, Blimkie, CJ, Daniels, SR, Dishman, RK, Gutin, B., Hergenroeder, AC, Must, A., Nixon, PA, Pivarnik, JM, Rowland, T., Trost, S., e Trudeau, F. (2005). Evidence based physical activity for school-age youth. The Journal of pediatrics, 146(6), 732-737. https://doi.org/10.1016/j.jpeds.2005.01.055

 

Tanaree, A., Assanangkornchai, S., e Kittirattanapaiboon, P. (2017). Pattern and risk of developing alcohol use disorders, illegal substance use and psychiatric disorders after early onset of alcohol use: Results of the Thai National Mental Health Survey 2013. Drug and alcohol dependence, 170, 102-111. https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2016.11.001

 

Taylor, R.W., Jones, I.E., Williams, S.M., e Goulding, A. (2000). Evaluation of waist circumference, waist-to-hip ratio, and the conicity index as screening tools for high trunk fat mass, as measured by dual-energy X-ray absorptiometry, in children aged 3–19 y. The American journal of clinical nutrition, 72(2), 490-495. https://doi.org/10.1093/ajcn/72.2.490

 

Teixeira, C. de C., Guimarães, L.S.P., e Echer, I.C. (2017). Fatores associados à iniciação tabágica em adolescentes escolares. Revista Gaúcha de Enfermagem, 38. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2017.01.69077

 

Treloar Padovano, H., Janssen, T., Emery, N.N., Carpenter, R.W., e Miranda Jr, R. (2019). Risk-taking propensity, affect, and alcohol craving in adolescents’ daily lives. Substance use & misuse, 54(13), 2218-2228. https://doi.org/10.1080/10826084.2019.1639753

 

UFPel (1993). Questionário sobre o comportamento do adolescente.

 

Viana, T.B.P., Camargo, C.L. de, Gomes, N.P., Felzemburgh, R.D.M., Mota, R.S., e Lima, C.C.O. de J. (2018). Fatores associados ao consumo do cigarro entre adolescentes de escola pública. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 52. https://doi.org/10.1590/S1980-220X2017019403320

 

Wendt, A., Costa, C.S., Costa, F.S., Malta, D.C., e Crochemore-Silva, I. (2021). Análise temporal da desigualdade em escolaridade no tabagismo e consumo abusivo de álcool nas capitais brasileiras. Cadernos de Saúde Pública, 37, e00050120. https://doi.org/10.1590/0102-311X00050120

 

World Health Organization (2019). WHO report on the global tobacco epidemic, 2019: Offer help to quit tobacco use. https://www.who.int/publications/i/item/9789241516204

 

Yazdi, M., Kelishadi, R., Schmid, V., Motlagh, M.E., Heshmat, R., e Mansourian, M. (2020). Geographic risk of general and abdominal obesity and related determinants in Iranian children and adolescents: CASPIAN-IV Study. Eastern Mediterranean Health Journal, 26(12), 1532-1538. http://dx.doi.org/10.26719/emhj.20.054


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 296, Ene. (2023)