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ISSN 1514-3465

 

Conceitos e reflexões da avaliação da insatisfação corporal no Brasil

Concepts and Reflections on the Assessment of Body Dissatisfaction in Brazil

Conceptos y reflexiones sobre la evaluación de la insatisfacción corporal en Brasil

 

Cláudio Oliveira da Gama*

claudiodagama@hotmail.com

Gláucio Oliveira da Gama**

glaucio_gama@hotmail.com

Valéria Nascimento Lebeis Pires***

valerianlp@uol.com.br

Amparo Villa Cupolillo***

amparo@ufrrj.br

Sidnei Jorge Fonseca Junior+

sjfjunior@gmail.com

Jose Ueleres Braga++

ueleres@gmail.com

Elvira Maria Godinho de Seixas Maciel++

seixasmaciel@gmail.com

 

*Doutor em Epidemiologia em Saúde Pública

Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)

Pós-doutoramento pelo Programa de Pós-graduação em Educação Agrícola

da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPGEA/UFRRJ)

**Especialista em Radiologia e Diagnóstico por Imagem

Centro Universitário Arthur Sá Earp Neto (UNIFASE)

***Docente Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

+Docente Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

++Pesquisador Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)

(Brasil)

 

Recepção: 29/06/2021 - Aceitação: 01/02/2022

1ª Revisão: 06/11/2021 - 2ª Revisão: 19/01/2022

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Gama, C.O. da, Gama, G.O. da, Pires, V.N.L., Cupolillo, A.V., Fonseca Junior, S.J., Braga, J.U., e Maciel, E.M.G. de S. (2022). Imagem corporal e o constructo insatisfação corporal no Brasil: conceitos e evidências. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(287), 160-179. https://doi.org/10.46642/efd.v27i287.3084

 

Resumo

    O desejo de corpos perfeitos e problemas relacionados à insatisfação corporal são frequentes e representam crescente preocupação da saúde pública, constituindo temática importante para pesquisas. O presente estudo trata-se de um ensaio considerando pesquisas que envolvem a avaliação da imagem corporal. É intenção propor reflexões, contribuindo para área de conhecimento e formação de pesquisadores. O texto objetiva refletir, por meio de evidências conceituais e empíricas, conceitos, instrumentos e critérios de classificação aplicados aos estudos que avaliam insatisfação corporal em universitários no Brasil. Foram apontadas questões acerca dos termos envolvidos nos estudos de insatisfação corporal. No que diz respeito aos conceitos, foi possível observar uma variedade de termos relacionados que podem apontar confundimentos entre a imagem corporal, insatisfação corporal e suas dimensões perceptivas e atitudinais. Em relação aos instrumentos, predominam em estudos o uso das escalas de figuras e silhuetas e o Body Shape Questionnaire (BSQ). Estes, apesar do mesmo constructo(insatisfação corporal), apresentam formas de avaliação e classificação distintas. Em relação aos estudos, foram encontradas associações de insatisfação com as variáveis de sexo, estado nutricional, peso e com o público de universitários. Espera-se que pesquisadores da temática façam corretas distinções das dimensões, conceitos e instrumentos (com seus critérios de classificação) visando a uma maior padronização e comparabilidade entre os estudos. Conclui-se que esta temática tem sinalizado problemas, tamanho os desafios atribuídos às influências de padrões corporais cultuados socialmente.

    Unitermos: Imagem corporal. Insatisfação corporal. Avaliação. Universitários.

 

Abstract

    The desire for perfect bodies and problems related to body dissatisfaction are frequent and represent a growing public health concern, constituting an important topic for research. The present study is an essay considering research involving the assessment of body image. It is intended to propose reflections, contributing to the area of ​​knowledge and training of researchers. The text aims to reflect, through conceptual and empirical evidence, concepts, instruments and classification criteria applied to studies that assess body dissatisfaction in university students in Brazil. Questions were raised about the terms involved in body dissatisfaction studies. With regard to concepts, it was possible to observe a variety of related terms that may point to confusion between body image, body dissatisfaction and its perceptual and attitudinal dimensions. Regarding the instruments, the use of figure and silhouette scales and the Body Shape Questionnaire (BSQ) predominate in studies. These, despite the same construct (body dissatisfaction), present different forms of evaluation and classification. Regarding the studies, associations of dissatisfaction were found with the variables of sex, nutritional status, weight and with the public of university students. It is expected that researchers on the subject make correct distinctions between dimensions, concepts and instruments (with their classification criteria) aiming at greater standardization and comparability between studies. It is concluded that this theme has signaled problems, such as the challenges attributed to the influences of socially worshiped body patterns.

    Keywords: Body image. Body dissatisfaction. Assessment. College students.

 

Resumen

    El deseo de cuerpos perfectos y los problemas relacionados con la insatisfacción corporal son frecuentes y representan una creciente preocupación de salud pública, constituyendo un importante tema de investigación. El presente estudio es un ensayo que considera investigaciones que involucran la evaluación de la imagen corporal. Se pretende proponer reflexiones, contribuyendo al área de conocimiento y formación de investigadores. El texto tiene como objetivo reflexionar, a través de evidencias conceptuales y empíricas, conceptos, instrumentos y criterios de clasificación aplicados a estudios que evalúan la insatisfacción corporal en estudiantes universitarios en Brasil. Surgieron preguntas sobre los términos involucrados en los estudios de insatisfacción corporal. Con respecto a los conceptos, fue posible observar una variedad de términos relacionados que pueden apuntar a la confusión entre la imagen corporal, la insatisfacción corporal y sus dimensiones perceptivas y actitudinales. En cuanto a los instrumentos, predominan en los estudios el uso de escalas de figura y silueta y el Body Shape Questionnaire (BSQ). Estos, a pesar del mismo constructo (insatisfacción corporal), presentan diferentes formas de evaluación y clasificación. En cuanto a los estudios se encontraron asociaciones de insatisfacción con las variables sexo, estado nutricional, peso y con la vida cotidiana de los estudiantes universitarios. Se espera que los investigadores en el tema hagan distinciones correctas entre dimensiones, conceptos e instrumentos (con sus criterios de clasificación) buscando una mayor estandarización y posibilidad de comparación entre estudios. Se concluye que este tema ha señalado problemas, como los desafíos atribuidos a las influencias de patrones corporales socialmente exaltados.

    Palabras clave: Imagen corporal. Insatisfacción corporal. Evaluación. Estudiantes universitarios.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 287, Abr. (2022)


 

Introdução 

 

    O desejo por corpos perfeitos e os problemas relacionados à insatisfação corporal são frequentes no meio cultural do ocidente. Com efeito, representam preocupação para o campo da saúde pública, constituindo temática importante do campo científico. Em vários países, a cultura do corpo perfeito é disseminada, principalmente entre a população jovem, e pode-se dizer que a construção da identidade cultural no ocidente está relacionada à constituição de uma imagem corporal (IC) satisfatória, de uma forma física valorizada socialmente. Nas últimas décadas, o ideal passou a ser magro, esguio e atlético, com a adoção de um padrão de beleza que desconsidera as diferentes constituições físicas da população, o que vem acarretando, muitas vezes, uma IC negativa, indicada por altos níveis de insatisfação. Neste cenário, a aparência parece ser continuamente influenciada pela aprovação de outros. Os ideais de felicidade, por exemplo, estão cada vez mais relacionados ao culto da beleza, tornando-se prioridade nas relações sociais. Neste regime, inúmeros fatores (físicos, sociais e psicológicos) têm sido associados à insatisfação com a IC, o que tem estimulado o desenvolvimento de estudos na tentativa de melhor compreendê-los.

 

    No Brasil, trabalhos conexos à IC tiveram início na década de 90. Embora a quantidade de pesquisas tenha aumentado, persistem lacunas com relação a características populacionais e ao componente ou dimensão avaliada (Conti, 2008; Laus et al., 2014). Cooper et al. (1987), na década de 80, atribuía a escassez de pesquisas sistemáticas sobre a temática à inexistência de métodos adequados de aferição. Atualmente, persistem os estudos que objetivam conhecer e descrever traços de grupos populacionais específicos, buscando resposta para questões relacionadas e fatores associados a esta constante e cada vez maior insatisfação corpórea. Alguns fenômenos, como os de distorção da IC, já são de conhecimento científico e têm no meio sociocultural, com frequência, determinantes do seu desenvolvimento. (Kakeshita, e Almeida, 2006)

 

Imagem 1. A imagem corporal é um constructo multifatorial, 

mutável e passível de se desenvolver de formas positivas e nocivas

Imagem 1. A imagem corporal é um constructo multifatorial, mutável e passível de se desenvolver de formas positivas e nocivas

Fuente: Pexels.com - Foto: Andres Ayrton

 

    O constructo da insatisfação corporal, para ser discutido e avaliado à luz de estudos empíricos, precisa, antes, ser contextualizado e amparado sob conceitos da IC, que tem como referências principais as dimensões perceptivas e atitudinais. Entende-se que tais dimensões auxiliam na estruturação dos estudos, propiciando uma classificação correta dos instrumentos que avaliam a IC. Entender como se apresentam estas dimensões, bem como suas subdivisões, instrumentos, características e aspectos de avaliação, permitem ao pesquisador, interessado na temática, ao propor trabalhos, selecionar quais delas serão avaliadas conforme seus objetivos, seja ele o de avaliar a magnitude da insatisfação corporal ou algum critério em particular (Campana, e Tavares, 2009; Laus et al., 2014). Ao compreender a IC como uma questão vinculada ao campo da saúde, deve-se abordar um espaço que envolva diversos aspectos, como os perceptuais, cognitivo-afetivos e comportamentais (Rodríguez, 2015). Ressalta-se que o presente estudo não tem intenção de julgar terminologias bem como interpretações. As controvérsias existentes se devem a diferenças indicadas na literatura ao considerar instrumentos, contextos, classificações e elementos similares notadamente utilizados nas classificações das dimensões da IC. Em particular, interessam as questões supracitadas relacionadas à insatisfação corporal. Sobre estas definições, propõem-se reflexões e busca-se entendimento no que diz respeito às avaliações perceptivas e atitudinais.

 

    Assim, esta temática permanece relevante na atualidade, mesmo reconhecendo a IC como um constructo multifatorial, mutável e passível de se desenvolver de formas positivas, em alguns momentos pode se desenvolver e manifestar-se de formas nocivas. À luz destes pontos implicados a aspectos relacionados à IC, e da necessidade de reflexões acerca de conceitos e termos empregados, propõe-se este trabalho.

 

    O presente texto trata-se de um ensaio considerando autores do campo teórico (descritivo) e prático (analítico) de pesquisas que se debruçam sobre a temática, mais especificamente na avaliação da IC de universitários no Brasil. A busca, seleção, leitura e reflexão crítica dos textos que embasaram este trabalho subsidiaram o referencial teórico de uma tese de doutoramento que avaliou, no seu desfecho principal, a prevalência de insatisfação corporal de um público constituído, predominantemente, de adultos jovens, universitários. O ensaio consistiu em exposição reflexiva sobre a temática a partir de buscas em bases de dados, portais de periódicos, livrarias eletrônicas, buscadores de cunho acadêmico e de obras de autores brasileiros com expertise na temática. Não houve restrições quanto ao ano de publicação dos artigos.

 

    O texto objetiva refletir, por meio de evidências conceituais e empíricas, conceitos, instrumentos e critérios de classificação aplicados aos estudos que avaliam insatisfação corporal em universitários no Brasil.

 

Dimensões e avaliação da imagem corporal 

 

    Segundo Campana, e Tavares (2009), principais autoras brasileiras de estudos de avaliação da IC, pesquisadores concordam que os distúrbios acontecem em duas dimensões: percepção e atitude.

Thompson (1996, como citado em Cordás, 2004), acrescenta um terceiro componente, o comportamental, que se junta aos dois primeiros, ou seja, à percepção e subjetividade. Observa-se que os autores mencionam complementariedade na interpretação dos termos para referir-se ao fenômeno. Desta maneira, são termos relacionados às dimensões da IC: o perceptual, o atitudinal/subjetivo/cognitivo-afetivo e o comportamental (sendo o último referente à combinação dos anteriores).

 

    Neste sentido, considera-se complexa a noção de distúrbio da IC, podendo ser considerada como englobando dois aspectos distintos, porém conceitualmente relacionados, a preocupação com a forma e a estimação inadequada do tamanho corporal (Garner, e Garfinkel, 1981; Cooper et al., 1987). No tocante ao desfecho de insatisfação corporal, são comumente mencionados em estudos brasileiros os termos “alteração perceptiva”, “insatisfação”, “distorção” e “distúrbios da IC”, dificultando uma análise padronizada e fidedigna do constructo. Sobre esta lacuna, Laus et al. (2014) expõem que a ausência de padronização é um erro comum cometido por pesquisadores, devendo estes reconhecerem a multidimensionalidade do constructo.

 

Avaliação perceptiva 

 

    O componente perceptivo refere-se à estimativa do tamanho e forma do corpo. É considerada a maneira como se percebe, imagina, sente e comporta a respeito do corpo, podendo ser mensurada por métodos que possibilitam a avaliação da distorção da imagem do sujeito, mediante alteração do tamanho e suas dimensões. (Rosen, 1995; Campana, e Tavares, 2009, Neagu, 2015)

 

    Neste sentido, reconhecendo que o componente perceptivo não é estático, mas sim variável, há uma série de interferências do tipo ambiental (que independem do sujeito) e subjetivo, consideradas influenciadoras que merecem atenção no momento de se conduzir pesquisas (Campana, e Tavares, 2009). Interferências do tipo ambiental podem distorcer os resultados dos testes e variam em função do tipo de protocolo utilizado, seja por influência de fatores afetivos e cognitivos, pela iluminação da sala, vestimentas e presença de marcas na face. As do tipo subjetivo se relacionam ao período menstrual, atividade física (maior acurácia da estimação do corpo), Índice de Massa Corporal (IMC), estado de humor e valor cultural segundo o ideal de beleza. (Campana, e Tavares, 2009; Tavares et al., 2010)

 

    Corroborando com aspectos perceptivos, Grogan (2008) chama atenção para o fato de estes apresentar flexibilidade, conhecida como “elasticidade da IC”, que se desenvolve por efeito das interações sociais nas sensações e percepções da forma física. Sobre a última, em particular, o autor considera passível de mudanças a partir do comportamento e ideal corporal culturalmente difundido. Em suma, estudos perceptivos foram, no decorrer de pesquisas, questionados em relação à validade dos instrumentos, interferências de fatores e a motivos conceituais (os distúrbios não eram fortemente correlacionados à alteração perceptiva da IC) e financeiros (Campana, e Tavares, 2009). Somados aos apontamentos, o desinteresse por estudos se deu pelo interesse de pesquisas na avaliação subjetiva da satisfação corporal (Grogan, 2008), entretanto, estudos nacionais recentes ainda se debruçam ao aspecto perceptivo da IC. (Kakeshita, e Almeida, 2006; Pires, 2017)

 

    Usualmente, para avaliar alterações perceptivas, pede-se aos participantes que indiquem qual das figuras/silhuetas se assemelha a sua forma “atual” e, em seguida, compara-se com o tamanho “real” do avaliado. Quanto maior a diferença entre as estimativas, maior a alteração perceptual.

 

    A respeito das duas dimensões, Garner, e Garfinkel (1981) afirmam que alterações na percepção envolvem a distorção perceptiva e a alteração cognitivo-afetiva, sendo a distorção considerada uma sobrestimação do corpo ou partes dele, uma preocupação exagerada com algum defeito real ou imaginário da aparência. Em relação à alteração cognitivo-afetiva, esta é considerada elemento da dimensão atitudinal/insatisfação corporal, que leva a sentimentos de desvalorização da aparência, como verifica-se a seguir.

 

Avaliação atitudinal 

 

    Esta dimensão considera crenças, afetos e comportamentos tratando especificamente das avaliações cognitivas e afetivas de uma pessoa sobre seu corpo (inteiro e partes), em função de características, como tamanho, forma, peso, massa muscular, dentre outros (Grogan, 2008). O componente atitudinal tem sido abordado em duas perspectivas: uma que avalia a IC relativa à (in)satisfação corporal e crenças, e outra relativa à importância cognitiva, comportamental e emocional que se atribui ao corpo (Laus et al., 2014). Assim, a dimensão atitudinal está dividida nos componentes: afetivo, cognitivo, comportamental e insatisfação geral subjetiva (Campana, e Tavares, 2009). Apesar do seu viés positivo, associado a bem-estar, saúde e melhora na autoestima, apontam-se, dentro do contexto da temática, os aspectos negativos, comumente associados à insatisfação.

 

    O componente “afetivo” refere-se às emoções relacionadas à aparência física, incluindo ansiedade, disforia e desconforto, compreendendo a preocupação com peso, forma corporal e afeto negativo; o “cognitivo” a investimentos na aparência, a pensamentos distorcidos e crenças sobre o corpo, aos seus atributos físicos de peso, forma e tamanho, bem como a sua aparência e significado atribuído; o “comportamental” a situações de exposição do corpo e à adoção de comportamentos de checagem corporal (como pesar repetidamente ou verificação de espelho). Estas situações são utilizadas como recursos em busca de correções, como evitação de situações de desconforto e angústia, que se dão com recursos de controle de peso, uso de roupas folgadas ou isolamento social; por fim, a “insatisfação geral subjetiva”, que refere-se ao nível de satisfação que uma pessoa pode ter em relação à aparência como um todo, estando relacionada ao peso, aspectos do corpo e aparência. (Campana, e Tavares, 2009; Neagu, 2015)

 

    Muitos autores consideram os componentes “afetivos” e “cognitivos” como centrais da dimensão atitudinal (Grogan, 2008), com a “insatisfação geral subjetiva” compreendendo conjuntamente estes dois componentes e o “comportamental” considerado aspecto de consequência oriunda das distorções “afetivas” e “cognitivas”. Sobre o componente “comportamental”, as autoras Campana, e Tavares (2009, p. 109) afirmam que este expressa “conflitos e angústias que não podem ser medidos diretamente ou ditos com palavras”, ratificando a importância de considerar práticas e hábitos na avaliação desta dimensão. Com base no referencial teórico supracitado, apresenta-se no Quadro 1 uma síntese das dimensões e aspectos que compreendem esta avaliação.

 

Quadro 1. Dimensões e aspectos de avaliação da imagem corporal

Dimensões

Perceptiva

Tamanho e forma corporal

Atitudinal/subjetivo/cognitivo-afetivo

Afetivo, cognitivo

Comportamental

Percepção e subjetividade

Fonte: Os autores

 

A insatisfação corporal 

 

    Como visto, a insatisfação corporal é um componente constituído pelos aspectos afetivo e cognitivo, elementos centrais da dimensão atitudinal, compreendida como uma avaliação subjetiva negativa que o sujeito faz em relação à sua aparência física (Garner, e Garfinkel, 1981; Grogan, 2008; Miranda, 2011). Nessa perspectiva, Grogan (2008) ressalta que essa avaliação inclui julgamentos sobre tamanho, forma e tônus muscular, geralmente envolvendo discrepâncias entre o tipo físico “real” e o tipo físico "ideal", podendo acometer indivíduos aparentemente saudáveis ou considerados normais do ponto de vista físico e psicológico.

 

    Nas últimas décadas, as investigações sobre a insatisfação corporal teriam se intensificado dada a relação observada com distúrbios alimentares, comportamentais, transtornos mentais e suicídio (Pires, 2017). Segundo a autora, a busca pela aceitação em determinados meios (ligados ao trabalho, ao lazer etc.) leva os indivíduos a esforçarem-se para atender aos requisitos considerados desejáveis.

 

    No que diz respeito a este ideal de forma física e beleza, este parece ser fruto da internalização de uma norma social, cuja comparação com o padrão de corpo aparece como um mecanismo capaz de salientar essas diferenças, levando a autoavaliações piores (Hirata, 2009). Em decorrência da comparação de suas aparências, há instintivamente um autojulgamento do indivíduo com suas formas e imagens em detrimento aos demais, que rotula, adequa, impõe necessidades, rotinas e hábitos que vão culminar numa sentença de insatisfação constante com o corpo.

 

    Ainda que tendo um enfoque predominantemente atitudinal, comumente, a insatisfação tem sido operacionalizada considerando a percepção do corpo atual (real) e ideal, podendo, neste caso em particular, ser avaliada também com instrumentos da dimensão perceptiva, que consideram discrepâncias entre o corpo visto (percebido) e o modelo de referência vislumbrado (ideal). Devido à diversidade de instrumentos utilizados para mensurar a insatisfação corporal, a comparação entre estudos torna-se difícil e, em alguns casos, inviável. De acordo com Pires (2017), este tem sido um grande desafio para o melhor entendimento do constructo, pois há incoerências conceituais do termo que impactam diretamente na análise e interpretação deste fenômeno.

 

    Ressalta-se que a insatisfação corporal e as alterações perceptivas são condições que dão base a constructos distintos e podem não ocorrer concomitantemente. Ainda que os instrumentos de avaliação captem e avaliem a IC, teremos uma visualização parcial do constructo, pois a IC tem tanto elementos conscientes quanto inconscientes e se refere a um processo inacabado, em constante (re)construção. (Campana, e Tavares, 2009)

 

    Embora exista uma infinidade de ferramentas para a avaliação da IC, os pesquisadores que se interessam por essa área de estudo no Brasil têm enfrentado dificuldades devido ao número limitado de instrumentos disponíveis no país (Laus et al., 2014). Inerente a escalas de figuras, a avaliação da dimensão perceptiva baseada na diferença percebida entre discrepâncias que envolvem “corpo percebido”, “atual” (real) e “ideal” tem sido operacionalizada de modos distintos pelas pesquisas (Hirata, 2009). Nessa perspectiva, torna-se fundamental destacar:

  1. Escalas de figuras e silhuetas são utilizadas, em grande quantidade de trabalhos, para avaliações de alterações perceptivas, avaliando discrepâncias entre “corpo percebido” e “corpo atual” (real). Esta forma de avaliação também é citada em artigos como “acurácia da IC” (Volpe et al., 2019), “precisão da estimação do tamanho corporal” (Lima et al., 2020), e “percepção subjetiva da IC” (Lôbo et al., 2020);

  2. Testes perceptivos podem ser utilizados para avaliar a insatisfação com o corpo, utilizando escalas de figuras por meio da discrepância entre a “figura real” (como se percebe o próprio corpo) e a “figura ideal” (corpo que se gostaria de ter). Tais figuras se apresentam dispostas em ordem crescente levando em consideração gordura, magreza e massa muscular. (Campana, e Tavares, 2009)

    Deste modo destaca-se que escalas de figuras e silhuetas podem ser utilizadas tanto para o enfoque perceptual (quando se compara com o atual/real), quanto para o atitudinal (insatisfação corporal, quando se compara com o ideal). Adicionalmente, a avaliação pela escala permite avaliar o que é considerado “ideal” de beleza e a insatisfação em relação ao corpo do sexo oposto, e ainda, o que é considerada uma silhueta “saudável”.

 

    Em contrapartida, questionários e/ou entrevistas estruturadas têm sido utilizados para descrever medidas atitudinais (Campana, e Tavares, 2009; Neves et al., 2015), como descreve-se a seguir.

 

Instrumentos de avaliação da imagem corporal 

 

    Os instrumentos que se destacam para mensurar as dimensões, tanto perceptivas como as atitudinais, da IC são as escalas de figuras e silhuetas, os questionários autoaplicáveis e as entrevistas. Segundo Kakeshita (2008), a escala de silhuetas constitui um instrumento importante, sendo de baixo custo e de fácil e rápido manuseio. Pode ser utilizada para rastrear indivíduos e populações em risco de desenvolverem transtornos do comportamento alimentar, atitudes e comportamentos nocivos à saúde. A escala é composta por um conjunto de silhuetas representando figuras humanas, numeradas para ambos os sexos, que correspondem desde a magreza até a obesidade severa, com cada uma das figuras relacionadas com o IMC. O questionário é uma técnica usualmente utilizada para avaliação da IC, uma vez que é fácil de usar e de gerenciar, e permite a inclusão de grandes amostras. Essa técnica geralmente avalia insatisfação corporal, aparência e ansiedade em relação ao corpo.

 

    Sem a intenção de esgotar o assunto, uma vez que existem no Brasil livros que tratam de forma detalhada sobre instrumentos e diretrizes para pesquisas, também em diferentes populações, no presente estudo, apontam-se, resumidamente, no Quadro 2, as principais características dos instrumentos que apresentam medidas de prevalência da insatisfação corporal, considerando o público de jovens universitários no Brasil.

 

Quadro 2. Instrumentos que avaliam a prevalência de insatisfação com a imagem corporal

Instrumento de avaliação

Autor (ano)

Escala de silhueta de Stunkard

Stunkard, Sorensene, e Schulsinger (1983)

Scagliusi et al. (2006)

Escala de silhueta de Thompson e Gray

Thompson, e Gray (1995)

Conti, e Latorre (2009)

Escala de silhueta de Kakeshita

Kakeshita (2008)

Body Shape Questionnaire (BSQ)

Cooper et al. (1987)

Di Pietro, e Silveira (2001, 2009)

Fonte: Os autores

 

Escala de silhuetas de Stunkard et al. (1983) 

 

    Considerada a principal escala utilizada no Brasil, a escala de Stunkard é composta por um conjunto de nove silhuetas representando figuras humanas, numeradas de 1 a 9, para ambos os sexos, que representam desde a magreza até a obesidade severa. A escala avalia a percepção do tamanho e formas corporais em relação à figura mental de corpo “atual” em detrimento ao que considera o “ideal” de tamanho e formas corporais.

 

    Na versão em português, incluiu-se o questionamento de que figura o indivíduo considerava saudável para avaliar a diferença entre a “figura eu” (silhueta atual) e a “figura saudável” (considerada saudável), assim como a diferença entre a “figura saudável” e “figura ideal”. Stunkard et al. (1983), no desenvolvimento da escala, encontraram boa validade geral. Scagliusi et al. (2006) examinaram a validade da versão adaptada para o português e sinalizou altas correlações entre o IMC e o tamanho corporal atual ou pontuação de discrepância ideal. Os resultados indicaram que a escala é uma medida válida quando utilizada no Brasil. (Campana, e Tavares, 2009)

 

Escala de silhuetas de Thompson e Gray (Thompson, e Gray, 1995) 

 

    Embora pouco utilizada em estudos no Brasil, emprega-se esta escala para aferição da insatisfação com o tamanho do corpo. No geral, aumentam-se as silhuetas gradualmente em suas dimensões com intervalo de IMC de 2,5 kg/m² em cada imagem e IMC entre 17,5-37,5 kg/m². A escala é composta por nove silhuetas de forma esquemática, tratando-se de um instrumento validado para diversas etnias (Thompson, e Gray, 1995). Conti, e Latorre (2009) realizaram análises de validação e reprodutibilidade da escala no Brasil. A escala demonstrou boas evidências quanto à validade e reprodutibilidade, apresentando bons valores de compreensão e curto intervalo de tempo para finalização. Em suma, a escala comprovou capacidade de avaliar o aspecto atitudinal.

 

Escala de silhuetas de Kakeshita (2008) 

 

    Kakeshita validou a escala de silhuetas de Gardner (1999) para o Brasil, sugerindo que a escala pode ser utilizada em pesquisas para aplicação em crianças e adultos, uma vez que apresentaram, em ambos os públicos, boa qualidade psicométrica. A escala de adultos, de ambos os sexos, é formada por 15 silhuetas, variando de muito magras a muito gordas, com cada uma das extremidades relacionadas com o IMC médio de 12,5 a 47,5 kg/cm², com intervalo de 2,5 kg/m² entre cada figura. Considerou-se 1,72 metros a altura média do homem brasileiro e 1,65 metros a altura média da mulher brasileira. A escala apresentou boa correlação entre o IMC do sujeito e a silhueta apontada como representativa do corpo real (r = 0,93). Na escala feminina, os coeficientes de fidedignidade variaram entre 0,66 e 0,93 e, na masculina, entre 0,53 e 0,93 para a seleção da silhueta ideal, real para os outros do mesmo sexo e ideal para o sexo oposto.

 

Body Shape Questionnaire - BSQ (Cooper et al., 1987) 

 

    O Questionário de imagem corporal (BSQ) é considerado um instrumento autoaplicável capaz de avaliar insatisfação/satisfação subjetiva global. Foi elaborado originalmente por Cooper et al. (1987), sendo aplicado em um grupo controle de mulheres inglesas e uma população de mulheres com bulimia nervosa. Apresenta 34 perguntas relativas ao estado do entrevistado nas últimas quatro semanas. (Conti et al., 2009)

 

    O BSQ foi traduzido para o Brasil por Cordás, e Neves (1999), porém, foi validado, na língua portuguesa, por meio de um estudo transversal, pelos autores Di Pietro, e Silveira (2001, 2009) mantendo as características da escala original.

 

    Conti et al. (2009) avaliaram a versão brasileira do BSQ e seus relatos apontam bons resultados, confirmando variáveis ​​de validade e confiabilidade, credenciando-o como excelente ferramenta (preenchimento rápido e fácil entendimento). Ratificando sua relevância para o campo das pesquisas no Brasil, no estudo de revisão integrativa sobre IC, com a população de acadêmicos, realizado por Souza, e Alvarenga (2016), dentre todos os questionários utilizados nos estudos incluídos na revisão, destacou-se o uso do BSQ.

 

    Segundo Carvalho (2014), e ratificado por Campana, e Tavares (2009), o BSQ avalia o componente afetivo, uma vez que fornece parâmetros do desconforto que a pessoa pode ter com a aparência.Contudo, o autor afirma que a escala tem um constructo central (satisfação) com alguns de seus itens verificando também o componente cognitivo da dimensão atitudinal.

 

    Os questionamentos do BSQ referem-se ao grau de preocupação com a forma do corpo e peso, autodepreciação relacionada à aparência e modificações comportamentais. As faixas de pontuação indicativa de preocupação em relação à IC também foram mantidas, tal como da versão original. O escore é dado pela soma dos pontos e cada faixa dos pontos pode ser associada a níveis de preocupação a respeito do corpo, podendo o escore variar de 34 a 204 pontos; quanto maior a pontuação, maior o grau de insatisfação. Numa escala de Likert, o avaliado aponta com que frequência vivenciou os eventos propostos pelas alternativas, com opções de respostas com pontuações variando de um a seis, de acordo com as opções de nunca (1), raramente (2), às vezes (3), frequentemente (4), muito frequentemente (5) e sempre (6). (Campana, e Tavares, 2009)

 

Considerações adicionais 

 

    Mediante o exposto, existem lacunas de ordem conceitual e instrumental que precisam ser esclarecidas visando nortear estudos que propõem analisar a prevalência de insatisfação corporal. Como o constructo guarda noções de várias teorias, sua complexidade demanda frequentemente estudos buscando melhor compreensão de questões referentes aos aspectos do corpo (Pires, 2017). Na tentativa de apontar tais fragilidades, os dois instrumentos (escala de figuras e questionário) são essenciais, uma vez que, ainda medindo o mesmo constructo, apresentam critérios, aplicação e classificações distintas.

 

    Analisando o BSQ, as perguntas estão direcionadas notoriamente ao sexo feminino e intimamente relacionadas ao sentimento de insatisfação por “excesso de peso”, excluindo insatisfações por “magreza”. Tal fragilidade parece impactar diretamente nos resultados de insatisfação global ou quando analisados em subgrupos de sexo.

 

    Sobre a escala de silhuetas, este instrumento contempla, em sua avaliação, tanto “magreza” quanto “excesso de peso”, considerando qualquer tipo de silhueta diferente da “atual” (do respondente) como insatisfação corporal, incidindo duplamente nos resultados dos testes, justificando, em alguns trabalhos que mensuram prevalência, elevado nível de insatisfação quando comparado ao BSQ.

 

    No tocante à classificação, em relação a escalas de silhuetas, os estudos que fazem avaliação por meio deste instrumento apresentam categorização em relação à insatisfação corporal considerando três pontos: “satisfação corporal”, “insatisfação por excesso de gordura” e “insatisfação corporal por excesso de magreza”. A “satisfação” com a IC é classificada quando não existe discrepância entre as silhuetas (atual e ideal) e a insatisfação, por sua vez, é mensurada a partir da subtração do valor da silhueta atual pelo valor correspondente à silhueta desejada/ideal, com valores positivos classificados como “insatisfeitos por excesso de peso” e valores negativos classificados como “insatisfeitos por magreza”; por meio da junção dessas medidas é apresentada a prevalência global.

 

    Quanto a classificação do instrumento BSQ, o total do escore computado por sua medida apresenta variação entre 34 e 204 pontos. O resultado de seu preenchimento permite uma classificação através de três pontos de corte: preocupação “leve”, “moderada” ou “grave”, e ainda, “ausência de insatisfação” (quando não alcança o escore mínimo). Envolvendo estes pontos de corte do BSQ, autores que avaliam a prevalência de insatisfação corporal divergem em relação à pontuação de cada um. Trabalhos que se propõem a avaliar prevalência de insatisfação com o BSQ no Brasil geralmente consideram a medida combinada dos níveis “leve”, “moderado” e “severo” como representantes da medida de prevalência global de insatisfação corporal; outros autores optam por não abranger a classificação “leve” em suas avaliações, considerando apenas a classificação “moderada” e “grave” para representar prevalências, caracterizando a intensidade “leve” como pertencente à categoria “ausência de insatisfação”. Um outro inconveniente se faz nas pontuações que norteiam as classificações: idealizadores do instrumento apresentam os valores alcançados no preenchimento do questionário por meio dos números/ pontos de corte. Quando a somatória dos pontos atinge um limiar específico, o resultado indica que o indivíduo apresenta o quadro de insatisfação corporal.

 

    Neste sentido, trabalhos que avaliam insatisfação da IC e selecionam o BSQ como instrumento para medir o constructo apresentam divergências (quando comparados) nas suas classificações, o que tem dificultado a presença de estudos (inexistentes no Brasil, até então) que apresentem combinação de dados sobre a prevalência deste importante desfecho, não permitindo uma comparação confiável dos resultados. Em relação aos pontos de corte, estudos têm classificado a presença de insatisfação corporal quando apresentam pontos a partir de ≥70, 80 ou > 110 pontos (Cordás, e Castilho, 1994, como citado em Conti et al., 2009; Di Pietro, e Silveira, 2009; Campana, e Tavares, 2009), conforme nos revela o Quadro 3.

 

Quadro 3. Classificação de insatisfação corporal medida pelo BSQ

Body Shape Questionnaire (BSQ)

Ponto de corte

Ausência

Leve

Moderada

Grave

BSQ ≥ 70 pontos

<70 pontos

70 a 90 pontos

90 a 110 pontos

> 110 pontos

BSQ > 80 pontos

80 pontos

81 a 110 pontos

111 a 140 pontos

> 140 pontos

BSQ > 110 pontos

110 pontos

> 110 ou ≤ 138 pontos

> 138 ou ≤ 167 pontos

168 pontos

Fonte: Os autores

 

    No presente estudo, assume-se que a versão que permite uma classificação fidedigna à proposta original de Cooper et al. (1987) é citada por Di Pietro, e Silveira (2009), autores que validaram o questionário para o Brasil, e que foi ratificada por Campana, e Tavares (2009), principais autoras brasileiras no estudo de IC. Adicionalmente, alguns trabalhos apresentaram versões alternativas, considerando os escores de 70 e 80 pontos de acordo com os pontos de corte propostos por Cordás, e Castilho (1994, como citado em Conti et al., 2009) para classificar os níveis de insatisfação ou que assumiram estes pontos em função da baixa prevalência observada nas categorias “ausência” e “distorção leve” (Legnani et al., 2012) ou ainda, assinalando que visavam à dicotomização das amostras, com a intenção de facilitar a análise de seus resultados por estratégias estatísticas.

 

    Quando a somatória dos pontos é menor ou igual a 110, o resultado indica “nenhuma” preocupação com a IC; maior que 110 ou menor ou igual a 138 indica uma “leve” preocupação; maior que 138 ou menor ou igual a 167 indica “moderada” preocupação; somatória dos pontos maior ou igual a 168, o resultado indica “grave” preocupação com a IC (Di Pietro, e Silveira, 2009; Campana, e Tavares, 2009). Não obstante, as reflexões sobre os demais pontos de corte mencionados são essenciais, devido ao grande volume de publicações que os consideram. (Gama, 2021)

 

Avaliação da Imagem Corporal de universitários no Brasil: pressupostos iniciais 

 

    No Brasil, a temática da IC tem recebido atenção nas últimas três décadas, com mudanças nos contextos sociopolítico, cultural e epidemiológico (Laus et al., 2014). Diversas são as populações que os estudos avaliam, neste trabalho, em particular, enfatiza-se o de estudantes universitários. Em estudo que comparou relações entre atividade física, corpo e IC de universitários em quatro países, os brasileiros foram apontados com maiores insatisfações (sexo feminino), preocupações com peso e expressiva preocupação com atitudes relacionadas ao alcance do ideal corporal por procedimentos estéticos. (Souza, 2017)

 

    Em relação a universitários, este grupo lida, ao longo de anos de estudo na sua vida acadêmica, com exigências intrínsecas de seus cursos, onde seu desempenho acadêmico passa a ser o objetivo central de sua dedicação. Nesse sentido, inúmeros são os fatores que corroboram com seu estilo de vida, tais como horas de estudo, cobrança por notas altas, insegurança com o futuro, dentre outras. Em relação ao estilo de vida, Brito et al. (2016) afirmam ter se constituído uma constante preocupação, uma vez que baixos níveis de saúde e bem-estar podem provocar consequências negativas, especialmente entre jovens, que constituem um grupo vulnerável, pois com a entrada no ensino superior ocorrem questionamentos de valores, crenças e atitudes.

 

    Diversos são os estudos nacionais que se propuseram a avaliar alteração perceptiva e insatisfação corporal,destacando-se estudos que buscaram associações com algumas variáveis, tais como os de públicos de universitários, e que apresentam características distintas de insatisfação com o peso, sexo e estado nutricional (Gama, 2021). Estudos brasileiros que se debruçaram sobre o fenômeno de insatisfação corporal relataram dificuldades em encontrar pesquisas nacionais desenvolvidas para possíveis comparações e entendimentos deste problema de saúde e apontam a necessidade de mais trabalhos. (Damasceno et al., 2011; Souza et al., 2013; Silva, e Ferreira, 2013; Palma et al., 2014; Medeiros et al., 2017)

 

    Souza (2017), ratifica, em seu estudo, que o público de jovens universitários constitui um grupo vulnerável aos ideais de aparência corporal, e pode buscá-los por meio de exercícios físicos, dietas, restrições alimentares e cirurgias plásticas, com consequências adversas. Estudos também identificam associação entre mídias sociais e insatisfação corporal, apontando a dificuldade de universitários em lidar com o ideal corporal veiculado nestes meios (Alvarenga et al., 2010; Silva, 2018; Souza, e Alvarenga, 2016). Em relação a este grupo, estudos que realizaram avaliação da insatisfação buscaram associações com estado nutricional, peso e transtornos alimentares. Segundo o atlas de situação alimentar e nutricional (Brasil, 2020), 61,4% de homens e 63,2% de mulheres, adultos, em 2019, apresentam excesso de peso (IMC > 25 kg/m²), subsidiando este achado. Identifica-se quantidade expressiva de estudos relacionando estado nutricional com a insatisfação corporal, a maioria destes considerando alto percentual de gordura e IMC associados ao desfecho. No tocante a sexo, há um consenso entre pesquisadores de que o público feminino apresenta maior grau de insatisfação corporal em comparação ao masculino (Gama, 2021). Para Damasceno et al. (2011), as jovens frequentemente são levadas a utilizar métodos inapropriados para se adequar a um estereótipo corporal predeterminado, difundido por meio da tirania da mídia e da publicidade que exaltam o sucesso alcançado pelas modelos que adotam este padrão.

 

    Parte do crescimento do interesse pelo estudo da insatisfação corporal está vinculado à relação existente entre os distúrbios alimentares, como anorexia e bulimia nervosa, e à preocupação excessiva com o peso e a forma corporal (Carvalho, 2014), que comumente são transtornos que afetam particularmente jovens do sexo feminino, levando a marcantes prejuízos psicológicos, sociais e aumento de morbidade e mortalidade. Em vista disso, a proximidade ou a justaposição entre adolescência e período de ingresso na vida universitária sugere a similitude dos fatores envolvidos na produção da IC e insatisfação corporal na adolescência e na população de estudo. (Pires, 2017)

 

    Os resultados deste estudo apontam que existem lacunas tanto conceituais, quanto instrumentais acerca da insatisfação corporal. Sinaliza os principais fatores associados encontrados em estudos brasileiros que buscaram relações causais, apontando os desafios da temática.

 

Conclusão 

 

    Foram apontadas questões referentes a termos envolvidos na insatisfação corporal, o que privilegiou uma avaliação reflexiva, dialógica e contextualizada. Foi possível observar variedade de expressões relacionadas à insatisfação corporal que podem apontar confundimentos entre distúrbio, distorção, alteração perceptiva, insatisfação corporal e insatisfação com a IC. Com base no suporte teórico deste trabalho, destacam-se para a avaliação da dimensão perceptiva (peso, tamanho e forma corporal) os seguintes termos: acurácia da IC, precisão da estimação do tamanho corporal e percepção subjetiva da IC. Para estudos da dimensão atitudinal, enfatiza-se a insatisfação corporal e a alteração perceptiva da insatisfação corporal. Evidenciou-se, em relação aos instrumentos, que estudos brasileiros comumente utilizam escalas de silhuetas e o BSQ para avaliar insatisfação corporal. Estes apresentam, apesar do mesmo constructo, formas de operacionalização distintas, o que pode resultar em prevalências discrepantes.

 

    O estudo permite um acréscimo à literatura brasileira, ao fazer um panorama do que há de mais recente na temática de avaliação da insatisfação corporal, privilegiando maior entendimento e clareza sobre as escolhas metodológicas, a partir de diferentes instrumentos. Espera-se que pesquisadores da temática façam corretas distinções das dimensões, conceitos e instrumentos (com seus critérios de classificação), visando a maior padronização e comparabilidade entre os estudos da temática. Temática esta que tem sinalizado problemas, tamanhos os desafios atribuídos às influências de padrões corporais cultuados socialmente.

 

Agradecimento 

 

    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES). 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 287, Abr. (2022)