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ISSN 1514-3465

 

Associação entre a aptidão motora de equilíbrio e risco de quedas em idosos ativos

Association between Balance Motor Fitness and Risk of Falls in Active Elderly

Relación entre aptitud motora de equilibrio y riesgo de caídas en personas mayores activos

 

Denise Bolzan Berlese*

deniseberlese@feevale.br

Mônica Faber**

monica.faber34@gmail.com

Diego Matheus Schaab+

diego_schaab.sss@hotmail.com

Gustavo Roese Sanfelice++

sanfeliceg@feevale.br

 

*Professora do Curso de Educação Física da Universidade Feevale

Doutora em Diversidade Cultural e Inclusão Social pela Universidade Feevale

Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana da UFSM

**Graduada em Educação Física pela Universidade Feevale

e ensino-medio-segundo-grau pelo Instituto Estadual de Educação Sapiranga

+Licenciado em Educação Física pela Universidade Feevale

Mestre e doutorando em Diversidade Cultural e Inclusão Social pela mesma instituição

++Graduado em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Maria

Mestrado em Ciência do Movimento Humano pela UFSM

Doutorado em Ciências da Comunicação pela Unisinos

Atualmente é professor Titular da Universidade Feevale, como professor

do quadro permanente do o Programa de Pós-Graduação

em Diversidade Cultural e Inclusão Social

(Brasil)

 

Recepção: 09/06/2021 - Aceitação: 18/06/2022

1ª Revisão: 12/06/2022 - 2ª Revisão: 15/06/2022

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Berlese, D.B., Faber, M., Schaab, D.M., e Sanfelice, G.R. (2022). Associação entre a aptidão motora de equilíbrio e risco de quedas em idosos ativos. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(291) 115-127. https://doi.org/10.46642/efd.v27i291.3062

 

Resumo

    A presente pesquisa descritiva, quantitativa e transversal objetivou verificar a associação da aptidão motora de equilíbrio com o risco de queda em idosos ativos. Nesse sentido, foram investigados 21 idosos (4 homens e 17 mulheres) que praticam exercício físico três vezes na semana por no mínimo 50 minutos ou que praticam semanalmente 150 minutos de exercícios físicos. Como instrumentos, foram utilizados o Questionário de Saúde e Quedas, o teste de equilíbrio da Escala Motora para a Terceira Idade – EMTI e o teste Timed Up & Go. Evidenciou-se, nos resultados, que a aptidão motora de equilíbrio dos investigados apresenta classificação geral normal médio e, baixo risco de queda. Houve associação entre o risco de quedas e a aptidão motora de equilíbrio dos idosos investigados. Pode-se concluir, portanto, que há associação entre o risco de queda e a aptidão motora de equilíbrio dos idosos investigados, pois, quanto mais livres e independentes, melhor a classificação da aptidão motora de equilíbrio.

    Unitermos: Risco de queda. Idosos. Equilíbrio.

 

Abstract

    The present descriptive, quantitative and cross-sectional research aimed to verify the association of balance motor fitness with the risk of falling in active elderly people. In this sense, 21 elderly subjects were investigated (4 men and 17 women) who exercise three times a week for at least 50 minutes or who practice 150 minutes of physical exercises a week. As instruments, were used the Health and Falls Questionnaire, the Balance test of the Motor Scale for the Elderly - EMTI, and the Timed Up & Go test. It was evident in the results that the balance motor aptitude of the investigated subjects presents an average normal classification and a low risk of falling. There was an association between the risk of falls and the balance motor aptitude of the investigated elderly. It can be concluded, therefore, that there is an association between the risk of falling and the balance motor fitness of the investigated elderly, because the freer and more independent they are, the better the balance motor fitness classification.

    Keywords: Risk of falling. Elderly. Balance.

 

Resumen

    Este estudio descriptivo, cuantitativo y transversal tuvo como objetivo verificar la relación de la aptitud motora del equilibrio con el riesgo de caída en personas mayores activos. En este sentido, se investigaron 21 personas mayores (4 hombres y 17 mujeres) que practican ejercicio físico tres veces por semana durante al menos 50 minutos o que practican 150 minutos de ejercicio físico semanal. Se utilizaron como instrumentos el Cuestionario de Salud y Caídas, el Test de equilibrio de la Escala Motora para Personas mayores y el test Timed Up & Go. Se evidenció, en los resultados, que la aptitud motora del equilibrio de los y las sujetos investigados presenta una clasificación normal media y de bajo riesgo de caídas. Hubo relación entre el riesgo de caídas y la aptitud motora del equilibrio de las personas mayores investigadas. Se puede concluir, por lo tanto, que existe relación entre el riesgo de caídas y la aptitud motora del equilibrio de las personas mayores investigadas, ya que cuanto más autónomos e independientes, mejor clasificación de la aptitud motora del equilibrio.

    Palabras clave: Riesgo de caídas. Personas mayores. Equilibrio.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 291, Ago. (2022)


 

Introdução 

 

    O envelhecimento populacional é um fenômeno universal e também pode ser observado no Brasil (WHO, 2007). De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2018), o número de idosos no ano de 2017 era de 30,2 milhões, sendo que as mulheres são maioria nesse grupo, correspondendo a 56% do grupo com 16,9 milhões de idosas, enquanto os homens são 44% do grupo, com 13,3 milhões de idosos. Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG (2018), as projeções até o ano de 2025 são crescentes e estima-se que, no Brasil, haverá 34 milhões de pessoas com mais de 60 anos, idade essa definida como marco de entrada na terceira idade no país.

 

    Essa tendência de envelhecimento da população tanto decorre do aumento da expectativa de vida em consequência da ciência e suas descobertas, do novo estilo de vida dessa faixa etária, que possibilita melhorar as condições de saúde, quanto pela questão da taxa de fecundidade que está diminuindo consideravelmente. (SBGG, 2018; Ramos, 2013)

 

    Nesse sentido, compreender a habilidade motora de equilíbrio, é fundamental para subsidiar a compreensão de um envelhecimento saudável, uma vez que o envelhecimento é uma característica fisiológica do ser humano, podendo ser compreendido como um processo natural e irreversível. (Monteiro, e Coutinho, 2020)

 

Imagem 1. O exercício físico contribui na redução do número de quedas e indivíduos 

ativos podem apresentar um melhor equilíbrio comparados a indivíduos não ativos

Imagem 1. O exercício físico contribui na redução do número de quedas e indivíduos ativos podem apresentar um melhor equilíbrio comparados a indivíduos não ativos

Fonte: Pixabay.com - Foto: Dife88

 

    Uma das características do envelhecimento é a sarcopenia, uma síndrome caracterizada por três fatores: perda progressiva de massa muscular, de força muscular e de desempenho físico, tornando-se predominante e gradual com o passar da idade (Moura et al., 2020). Ela é causada pela redução da área de secção transversa das fibras musculares e perda da quantidade e qualidade de proteínas das unidades contráteis, o que torna a força muscular menor que a normal, associada ao envelhecimento; debilidade do sistema muscular; redução da flexibilidade; força; resistência; elasticidade; estabilidade e mobilidade articular. (Pereira, Oliveira, e Marques, 2019)

    

    A referida patologia impacta e limita a coordenação motora e o equilíbrio do corpo, estático e dinâmico, pois há uma diminuição da função do sistema neuromuscular, isto é, há uma redução da força e da qualidade muscular, afetando a capacidade do músculo por unidade de massa muscular. Nesse sentido, a sarcopenia acomete a capacidade funcional do idoso, dificultando a realização de atividades do cotidiano e sua independência. Quando o idoso não consegue realizar suas atividades diárias, há uma diminuição da autoestima e da percepção de competência que acaba interferindo na qualidade de vida e bem-estar, o que potencializa a vulnerabilidade e dependência. (Pereira, Oliveira, e Marques, 2019)

 

    Outra questão apontada pelos idosos – e foco deste artigo - é abordada por Guimarães et al. (2004) e refere-se às quedas, que acabam se tornando um dos principais problemas clínicos e de saúde pública devido à sua alta incidência e às consequentes complicações para a saúde.

 

    Embora o processo de envelhecimento seja natural, ocasionando alterações no sistema biológico do corpo humano, uma das estratégias de combate a esse fenômeno é a prática de exercícios físicos. Segundo Oliveira et al. (2019), essa prática vem apresentando melhoras expressivas na funcionalidade do corpo, inclusive em aspectos da qualidade de vida de idosos. Oliveira et al. (2019) acrescentam que o exercício físico tem se mostrado uma importante ferramenta na prevenção da sarcopenia, relatando, também, que o sedentarismo poderia antecipar esse mesmo processo.

 

    Rego et al. (2016) ressaltam que o exercício está relacionado à redução de perda óssea e diminuição no processo de atrofia muscular, minimizando, assim, a incidência e prevalência de quedas decorrentes da sarcopenia. Menezes et al. (2020), em revisão bibliográfica nessa mesma linha, apontam, inclusive, que o exercício físico tem efeitos benéficos sobre a qualidade de vida dos idosos em aspectos físicos, sociais e emocionais, com melhora na postura e no equilíbrio, aumento da força nos membros, redução de dores musculares, diminuição do isolamento social, manutenção da autonomia e presença de bem-estar.

 

    Assim, ao avaliar a aptidão motora de equilíbrio em idosos ativos e associar com o risco de quedas, este trabalho contribuirá para a pesquisa brasileira, pois poderá servir de referência para outros estudos e trará subsídios para que estratégias preventivas sejam criadas a fim de minimizar as possíveis dificuldades decorrentes do envelhecimento, potencializando um futuro com mais qualidade de vida e bem-estar para os idosos. Nesse sentido, a presente pesquisa tem como objetivo verificar a associação da aptidão motora de equilíbrio com o risco de queda em idosos ativos.

 

Método 

 

    O presente estudo caracteriza-se como: descritivo, quantitativo e transversal. Foram selecionados por conveniência 21 sujeitos acima de 60 anos, de ambos os sexos participantes de um grupo de idosos da Cidade de Sapiranga -RS. Como critérios de inclusão, adotou-se: idosos que consentiram em participar do estudo, após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e que praticam exercício físico três vezes na semana por no mínimo 50 minutos, ou que praticam semanalmente 150 minutos de exercícios físicos. Não foram incluídos idosos que apresentaram alterações musculoesqueléticas e neurológicas que pudessem comprometer a avaliação da aptidão motora e aqueles que não consentiram em participar. Todas as avaliações foram realizadas após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com as determinações da Resolução 466, de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde.

 

    A fim de realizar uma anamnese referente ao nível de exercício físico e o risco de queda, utilizou-se o Questionário de Saúde e Quedas - QSQ, proposto por Valente (2012), adaptado às necessidades da pesquisa. Para avaliar a aptidão motora de equilíbrio, foi utilizado o teste de equilíbrio da Escala Motora para a Terceira Idade – EMTI - proposto por Rosa Neto (2009). Os resultados das pontuações obtidos na avaliação permitem a classificação dos parâmetros motores em níveis, a saber: muito superior (130 ou mais), superior (120-129), normal alto (110-119), normal médio (90-109), normal baixo (80-89), inferior (70-79) e muito inferior (<70) (Rosa Neto et al., 2008). O tempo de aplicação dura em média 40 minutos, variando entre os indivíduos devido às diferenças individuais.

 

    Para avaliar a aptidão motora de equilíbrio, foi utilizado o teste Timed Up & Go, proposto por Podsiadlo, e Richardson (1991). O teste é importante uma vez que relaciona o equilíbrio, a velocidade da marcha e a capacidade funcional, ou seja, tudo o que está relacionado diretamente com a propensão para as quedas. Portanto, o tempo gasto para a realização do teste esteve diretamente associado ao nível da mobilidade funcional. Tempos reduzidos na realização do teste indicaram idosos independentes quanto à mobilidade. Já os idosos que o realizam em um tempo superior aos 20 segundos tendem a ser mais dependentes nas suas tarefas diárias. (Silva et al., 2008)

 

    Para a análise dos dados, utilizou-se estatística descritiva por meio de média, desvio padrão, frequência e percentual. Para a associação dos dados, foi utilizado o teste Chi-Square e considerou-se significativo valores de p≤0,05. Os dados primários foram tabulados em planilha do software SPSS 26.0.

 

Resultados 

 

Tabela 1. Média da aptidão motora de equilíbrio do risco de quedas e classificação geral das variáveis investigadas.

Variáveis

Média ± EPM

Aptidão motora de equilibrio (Pontos)

92,3 ± 4

Risco de queda (Tempo em segundos)

9,5 ± 0,6

Onde EPM= Erro padrão da média. Fonte: Elaborado pelos autores

 

    Na Tabela 1, evidencia-se que a média da aptidão motora de equilíbrio dos idosos investigados foi de 92,3, o que corresponde a uma classificação geral normal médio.

 

    Em relação ao risco de quedas, evidencia-se que a média em segundos dos idosos investigados corresponde a 9,5, o que indica que eles possuem baixo risco de quedas, uma vez que até 10, segundo o protocolo Timed Up & Go (TUG), classifica os idosos como livres e independentes, com baixo risco de quedas; de 11 a 19 segundos são independentes ou têm esporádicas ou poucas restrições de movimento para atividades básicas, instrumentais da vida diária e moderado risco de quedas. Acima de 20 segundos, classificam-se na zona cinzenta, ou seja, apresentam dificuldades de realizar tarefas diárias e alto risco de quedas.

 

Tabela 2. Distribuição dos idosos investigados, presença de quedas, risco de quedas e aptidão motora de equilíbrio

Variáveis

N (%)

21 (100)

Risco de quedas

Sim

7 (34)

Não

14 (66)

Livre e independiente

15 (72)

Independente razoável para o equilíbrio

6 (28)

Dificuldade para realizar tarefas diárias

0

Totalmente dependente

0

Aptidão motora de equilibrio

Superior

3(14,3)

Normal médio

8 (38)

Normal baixo

4 (19,1)

Inferior

3 (14,3)

Muito inferior

3 (14,3)

Fonte: Elaborado pelos autores

 

    Na Tabela 2, observa-se que 66% dos idosos não sofreram quedas, 72% classificam-se como livres e independentes e 38% apresentam aptidão motora de equilíbrio normal médio.

 

Tabela 3. Associação entre risco de quedas e aptidão motora de equilíbrio dos idosos investigados

Variáveis

Risco de queda

Livre e independente

Independente razoável

para equilíbrio

p≤0,05

0,001*

Superior

3 (14,3%)

0

 

Normal médio

8 (38,1%)

0

 

Normal baixo

4 (19%)

0

 

Inferior

0

3 (14,3%)

 

Muito inferior

0

3 (14,3%)

 

Total

15 (71,4%)

6 (28,6%)

 

*Teste Chi-Square. Fonte: Elaborado pelos autores

 

    Na Tabela 3, observa-se que 15 (71,4%) dos idosos livres e independentes apresentam classificação superior, normal média e normal baixa na aptidão motora de equilíbrio, por sua vez 6 (28,6%) foram classificados como independente razoável para o risco de quedas e apresentaram aptidão motora inferior e muito inferior com diferença significativa entre as variáveis. Nesse sentido, entende-se que há associação entre o risco de quedas e a aptidão motora de equilíbrio dos idosos investigados, pois, quanto mais livres e independentes, melhor a classificação da aptidão motora de equilíbrio.

 

Discussão 

 

    Corroborando com os resultados apresentados na Tabela 1, Virtuoso et al. (2014) e Silva, Duarte, e Arantes (2011), ao investigar o risco de quedas em idosos ativos, observam que eles obtiveram um tempo médio de 8 a 9 segundos no teste TUG, o que corresponde a um baixo risco de quedas. Nesse sentido, os autores salientam que o exercício físico é um componente importante para diminuir o risco de quedas, mas, por ser um evento de causa multifatorial e estar associado a diversos fatores, tanto intrínsecos quanto extrínsecos, a previsão desse fato deve ser analisada de forma ampla.

 

    De encontro aos resultados, Rosa Neto et al. (2008), ao investigar 19 (dezenove) instituições asilares e analisar os parâmetros motores, observaram que idosos não ativos, nos testes de aptidão motora de equilíbrio, possuem uma média de 50,1, que corresponde a uma classificação geral muito inferior, concluindo que a diminuição da sensibilidade da manutenção postural, as deformidades dos membros inferiores, principalmente nos pés, e o sedentarismo são os principais agentes degenerativos do equilíbrio em idosos institucionalizados ou não.

 

    Em no presente estudo, evidenciou-se que os idosos ativos investigados possuem baixo risco de quedas. Nessa perspectiva, Silva, Duarte, e Arantes (2011), em estudo transversal observacional exploratório, ao investigar os fatores de risco para quedas em idosos com diferentes níveis de atividade física, por meio do teste TUG, relataram que idosos sedentários obtiveram média de 11,47 segundos, indicando moderado risco de quedas. Por sua vez, os idosos moderadamente ativos e superativos apresentaram média de 9,98 segundos e 8,45 segundos respectivamente, indicando baixo risco de quedas. Sendo assim, os autores concluíram que idosos com níveis de atividade física moderadamente ativos e ativos apresentam menor risco de quedas, comparado a idosos sedentários.

 

    Bretan et al. (2013), em estudo descritivo transversal com idosos não praticantes de exercício físico, porém com boa saúde, apontaram que 70% dos indivíduos apresentaram escore entre 11 e 19 segundos, mostrando independência, mas algumas restrições de movimento para atividades básicas da vida diária e moderado risco de quedas. Também é possível verificar que 30% dos investigados realizaram a avaliação com um tempo de 20 segundos ou mais, o que os classifica em uma zona cinzenta, de restrição máxima de movimento, isto é, com dependência e alto risco de quedas. Sendo assim, evidencia-se que a prática regular de exercício físico contribui para melhor aptidão motora de equilíbrio e menor risco de quedas.

 

    Ao analisar a distribuição dos idosos investigados na Tabela 2, Ribeiro et al. (2008) e Perracini, e Ramos (2002) corroboram com nossos resultados, pois apresentam, respectivamente, um percentual de 30% e 29,1% de idosas caidoras. Segundo Perracini, e Ramos (2002), há uma maior chance de quedas para o sexo feminino, no entanto, as possíveis causas para explicar esse fenômeno permanecem ainda pouco esclarecidas e controversas. Sugerem como causas a maior fragilidade das mulheres em relação aos homens, assim como maior prevalência de doenças crônicas. Suspeita-se, ainda, que o fato pode estar relacionado a uma maior exposição a atividades domésticas e a um comportamento de maior risco, embora não haja evidências claras para provar esta afirmação.

 

    Abdala et al. (2017), apresentou incidência de 22% de quedas em idosas ativas e 58% em idosas sedentárias. Esse achado corrobora os descritos na meta-análise de Silva, Eslick, e Duque (2013) que mostraram que ser ativo possui um efeito preventivo na ocorrência de quedas.

 

    Em relação à aptidão motora de equilíbrio, observa-se, na Tabela 2, que os investigados encontram classificação da aptidão motora normal média (38%), seguido da classificação normal baixo (19,1%). Por sua vez, Rosa Neto, Liposcki, e Teixeira (2006) observaram que 67,6% de idosos apresentavam classificação dentro da normalidade. Na amostragem de 150 idosos de Rosa Neto (2001; 2014), 79,4% ficaram dentro da normalidade.

 

    Pavanate et al. (2018), em estudo com 130 idosas praticantes de exercícios físicos, classificaram 100% delas como livres e independentes e independentes razoáveis para equilíbrio. Dessa forma, concluíram que há risco de queda superior em idosas não praticantes de exercícios físicos. Portanto quanto menor a idade da idosa praticante de exercício, melhor o seu desempenho nos testes de equilíbrio.

 

    Já Ferreira et al. (2019) em estudo com homens e mulheres com idade igual ou superior a 80 anos, corroboram com nossa pesquisa e apresentaram que 60% de idosos não são caidores. Em relação as classificações de equilíbrio corporal com o teste TUG os referidos autores evidenciaram que 58,09% não apresentam risco de quedas, sendo assim independentes e razoáveis para equilíbrio. A pesquisa concluiu, portanto, que com o aumento da idade, maior risco para quedas, medo de cair, pior desempenho da marcha e diminuição na realização de atividades físicas.

 

    Ribeiro et al. (2009), ao compararem o equilíbrio, a mobilidade funcional e a proporção de sujeitos em categorias de risco de quedas em função do desempenho nos testes de aptidão funcional entre 144 idosos treinados e não treinados, observaram que os idosos treinados apresentam melhor performance no teste de equilíbrio e mobilidade funcional e têm menor probabilidade de estarem em risco elevado de quedas, corroborando com os resultados de nosso estudo, em que se evidencia que os idosos ativos investigados apresentam melhor equilíbrio com consequente diminuição do risco de quedas, corroborando com os resultados apresentados na Tabela 3.

 

    Buranello et al. (2011), ao avaliarem se a prática regular de atividades físicas influencia ou não na manutenção do equilíbrio corporal e, consequentemente, atua na prevenção de quedas de 40 idosas da comunidade de Franca, com idades entre 68 e 78 anos, observaram associação positiva entre a prática de atividades físicas e a manutenção do equilíbrio corporal, o que resulta, consequentemente, em um menor risco de quedas entre idosas que praticam atividades físicas. Assim, a prática regular de atividades físicas tem influência positiva sobre a manutenção do equilíbrio corporal e, com isso, as chances de sofrer uma queda são menores para idosas fisicamente ativas, corroborando com os resultados apresentados na Tabela 3.

 

    Estudo semelhante, realizado por Pimentel, e Scheicher (2009), relatou resultados superiores no equilíbrio em grupo de idosos praticantes de atividades físicas quando comparados com o grupo de idosas sedentárias que apresentaram 15 vezes mais risco de quedas que o grupo ativo. Ainda, estudos utilizando TUG como instrumento de avaliação e testes de equilíbrio comprovaram a eficácia de programas de atividades físicas de diversas modalidades na melhora do equilíbrio e consequente redução do risco de quedas em idosos. (Resende, e Rassi, 2008; Alfieri, Werner, e Roschel 2009; Cunha et al., 2009; Pavanate et al., 2018)

 

    Resende, e Rassi (2008), ao estudarem os efeitos da hidroterapia na recuperação do equilíbrio e prevenção de quedas em idosas, evidenciaram resultados estatisticamente significativos, indicando a melhora do equilíbrio corporal, semelhante aos observados em nosso estudo. Com isso, entende-se que os exercícios físicos são benéficos para a manutenção do equilíbrio ao oferecerem ao idoso um ambiente seguro, sem risco de quedas. Assim, o idoso pode explorar sua mobilidade, estimulando receptores articulares, táteis, que trabalham a parte aferente do mecanismo de controle postural. (Resende, e Rassi, 2008; Bruni, Granado, e Prado, 2008)

 

    Nesse sentido, Nunes et al. (2016) afirmam que o exercício físico contribui na redução do número de quedas e indivíduos ativos podem apresentar um melhor equilíbrio comparados a indivíduos não ativos. Portanto, se faz necessária a imersão de idosos em projetos ou programas de exercícios físicos a fim de que haja melhora do equilíbrio e redução do risco de quedas.

 

Conclusão 

 

    Ao verificar a associação da aptidão motora de equilíbrio com o risco de quedas em idosos ativos, pode-se inferir que a aptidão motora de equilíbrio dos investigados apresenta classificação geral normal médio. Quanto ao risco de quedas, evidencia-se que os investigados possuem baixo risco de quedas. Outra variável investigada foi a ocorrência de quedas, verificando-se número superior de idosos com baixo risco de queda. Quando considerado o risco de quedas, a maioria dos idosos classificam-se como livres e independentes. Por fim, pode-se concluir que há associação entre o risco de queda e a aptidão motora de equilíbrio dos idosos investigados, pois, quanto mais livres e independentes, melhor a classificação da aptidão motora de equilíbrio.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 291, Ago. (2022)