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ISSN 1514-3465

 

Avaliação da saúde bucal de atletas futebolistas 

profissionais. Índice de CPOD e índice de placa

Evaluation of the Oral Health of Professional Soccer Players. DMFT Index and Plaque Index

Evaluación de la salud bucal de jugadores profesionales de fútbol. Índice CPOD e índice de placa

 

Victor Paes Dias Gonçalves*

victor.dias.paes@gmail.com

Hugo Leonardo Matias Nahmias**

hugonahmiasph@gmail.com

Samuel Gomes da Silva Teles**

samuel.gomes100@hotmail.com

Felipe Cesar Martareli***

felipe.martareli@hotmail.com

Marcus Menezes Alves Azevedo****

menezesazevedo@hotmail.com

 

*Mestrando em Implantodontia (Sl-Mandic)

Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (Sl-Mandic)

Membro da Academia Brasileira de Odontologia do Esporte

**Graduação em Odontologia pelo Centro Universitário Fluminense (UNIFLU)

***Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial

Faculdade São Leopoldo Mandic (Sl-Mandic)

****Mestre em Prótese Dentária (Sl-Mandic)

Professor de PoliClínica e Clínica Odontológica Integrada

do Curso de Odontologia da UNIFLU

(Brasil)

 

Recepção: 03/06/2021 - Aceitação: 19/02/2022

1ª Revisão: 12/11/2021 - 2ª Revisão: 14/02/2022

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Gonçalves, V.P.D., Nahmias, H.L.M., Teles, S.G. da S., Martareli, F.C., e Azevedo, M.M.A. (2022). Avaliação da saúde bucal de atletas futebolistas profissionais. Índice de CPOD e índice de placa. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(287), 47-60. https://doi.org/10.46642/efd.v27i287.3053

 

Resumo

    A execução de um atendimento odontológico de excelência para jogadores de futebol de alto nível é uma tarefa desafiadora diante das inúmeras competições que não permitem um planejamento adequado nas decisões médicas. O artigo tem como objetivo geral avaliar a saúde bucal de atletas de futebol profissional através do Índice de CPO-D e Índice de Placa, sendo delimitados 3 (três) clubes da cidade de Campos dos Goytacazes que são filiados à Federação de Futebol do Rio de Janeiro (FERJ). A pesquisa foi realizada através de uma avaliação clínica com atletas de futebol profissional. Concluiu-se nesse trabalho que a saúde bucal dos atletas é ineficiente devido aos dados obtidos na pesquisa, apresentando CPO-D médio de 4,77 (moderado) e índice de placa numa média de 28,92 (insatisfatório).

    Unitermos: Índice CPO. Saúde bucal. Cárie dentária. Futebol.

 

Abstract

    The provision of excellent dental care for high-level football players is a challenging task in view of the countless competitions that do not allow adequate planning in medical decisions. The article has as general objective to evaluate the oral health of professional soccer athletes through the DMF-T Index and Plaque Index, being delimited 3 (three) clubs in the city of Campos dos Goytacazes that are affiliated to the Rio de Janeiro Soccer Federation (FERJ). The research was carried out through a clinical evaluation with professional soccer athletes. It was concluded in this work that the oral health of the athletes is inefficient due to the data obtained in the research, presenting an average DMF-T of 4.77 (moderate) and a plaque index of an average of 28.92 (unsatisfactory).

    Keywords: DMFT index. Oral health. Tooth decay. Soccer.

 

Resumen

    La intervención de una excelente atención odontológica para futbolistas de alto rendimiento es una tarea desafiante ante numerosas competencias que impiden una adecuada planificación en las decisiones médicas. El artículo tiene como objetivo general evaluar la salud bucal de jugadores profesionales de fútbol a través del Índice CPO-D y el Índice de Placa, delimitado a 3 (tres) clubes de la ciudad de Campos dos Goytacazes que están afiliados a la Federación de Fútbol de Río de Janeiro (FERJ). La investigación se llevó a cabo a través de una evaluación clínica con deportistas profesionales de fútbol. Se concluyó en este trabajo que la salud bucal de los deportistas es ineficiente debido a los datos obtenidos en la investigación, presentando un CPO-D promedio de 4,77 (moderado) y un índice de placa de un promedio de 28,92 (insatisfactorio).

    Palabras clave: Índice CPO. Salud bucal. Carie dental. Fútbol.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 287, Abr. (2022)


 

Introdução 

 

    A Odontologia do Esporte teve início em 1890, tendo como precursor o inglês cirurgião-dentista Woolf Krause, de Londres, que fez o uso de um protetor bucal confeccionado de guta-percha para proteção de dentes anteriores de um boxeador. Em 1913, seu filho, Phillip Krause, seguindo seus passos, aprimorou a ideia de um protetor bucal, o confeccionando como um utensílio reutilizável que promovia a proteção dos tecidos orais durante a prática de esportes. (Padilha, 2012)

 

    No Brasil, o pioneiro desse tipo de atendimento focado na saúde dos atletas foi o cirurgião-dentista Mário Trigo, que participou como comissão técnica das Seleções Brasileiras de Futebol nos anos de 1958, 1962 e 1966 durante o torneio mundial e em sua prática, observou que jogadores que evoluíam com maior lentidão de seus enfermos apresentavam lesões dentárias infecciosas, e que sua eliminação proporcionava a aceleração de sua recuperação. Dentre os anos atuando na Seleção Brasileira de Futebol, em 1958, realizou 118 extrações em 33 jogadores atuantes. (Costa et al., 2015)

 

    Em outubro de 2014, a Odontologia Desportiva foi considerada uma especialidade regulamentada pelo Conselho Federal de Odontologia, visando qualificar cirurgiões-dentistas para que aprendam a propriedade de cada esporte, buscando melhorar o desempenho dos atletas em seus times, mostrando que não se resume apenas ao uso do protetor bucal, mas sim de tratamento e prevenção dos traumas e doenças orais provenientes da prática esportiva. (Conselho Federal de Odontologia, 2015)

 

    Muitos fatores, incluindo o nível de concorrência, exigência e exposição resultam em grandes variações na incidência de lesões de futebol e, com isso, faz-se necessária a análise comparativa através dos levantamentos epidemiológicos (Hägglund et al., 2003). A Odontologia Desportiva é responsável pela saúde humana, atuando em prevenção, diagnóstico e tratamentos das doenças orais em atletas. (Ashley et al., 2015)

 

    Os processos infecciosos podem ter origens distintas, tais como: a cárie dentária com envolvimento pulpar, disfunção temporomandibular, traumatismos dentários e a doença periodontal avançada, o que diminui a resistência do organismo, e esses agravos podem ser considerados como um dos principais problemas de saúde pública, já que em pacientes em geral isso ocorre dessa forma. No atleta, a incidência desses problemas pode afetar o seu principal ativo: o desempenho físico. (Ashley et al., 2015)

 

    Durante os Jogos Olímpicos de Londres em 2012, Needleman et al. (2013) realizaram uma pesquisa com objetivo de avaliar níveis de má saúde bucal entre os atletas. Ao todo, foram abordados 278 atletas de 25 esportes diferentes. A partir dos resultados, observou-se que a erosão dentária foi diagnosticada em 45% dos atletas. Posteriormente, Needleman et al. (2016) avaliaram 8 equipes do Reino Unido, das quais 5 equipes eram da Premier League, 2 da Championship e 1 da League One. O levantamento concluiu que a saúde bucal era deficiente, sendo que, dos participantes, 37% tiveram cárie dentária ativa e 53% erosão dentária.

 

    Pastore et al. (2017) destacam que os traumas dentários nas práticas esportivas são os pontos essenciais de confluência entre os esportes e a odontologia. A relação funcional entre os músculos da postura corporal e os do sistema estomatognático estão correlacionados e, portanto, a função do cirurgião-dentista (CD) na equipe multidisciplinar de uma entidade esportiva é principalmente proporcionar aos atletas que em qualquer intervenção de promoção de saúde, preventiva ou terapêutica, possa minimizar o trânsito de microrganismos para outras áreas do organismo.

 

    A odontologia deve participar desde o início da carreira do atleta, das bases até o atleta profissional de alto rendimento. A inserção do cirurgião-dentista no universo do esporte, não existe em Brasil e, por isso, quanto a importância de uma boa saúde bucal deve ser mais discutida entre treinadores, dirigentes, atletas e outros profissionais da saúde. É preciso construir esta política de saúde bucal no esporte com a inclusão da odontologia e maior integração (multidisciplinaridade) entre as áreas de saúde do esporte de alto rendimento, como também, nos exercícios físicos como um todo.

 

    Isto posto, esse artigo tem como objetivo geral avaliar a saúde bucal de atletas de futebol profissional através do Índice de CPO-D e Índice de Placa, sendo delimitado 3 (três) clubes da cidade de Campos dos Goytacazes que são filiados à Federação de Futebol do Rio de Janeiro (FERJ). Com os dados obtidos, poderão ser traçados ações de prevenção desde as categorias de base, permitindo uma formação do atleta consciente com este panorama e impedindo que o atleta desfalque seu time ao alcançar as categorias profissionais. O atual cenário presente na literatura mostra que há escassez nos levantamentos sobre a saúde bucal dos jogadores de futebol profissional. Desta forma, é necessário aumentá-lo para um maior conhecimento e ampliação da rede de dados.

 

Método 

    

    A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CAEE: 42516221.6.0000.5524 / Parecer: 4.633.269) que reconheceu sua validade técnica e científica.

 

Design da pesquisa e responsabilidades dos avaliadores 

 

    Para realização da pesquisa foi realizado um cálculo amostral com levantamento com dados disponibilizados pelos 3 clubes da cidade de Campos dos Goytacazes/RJ com número total jogadores no elenco de cada. O cálculo forneceu um valor de 83 atletas necessários para um nível de confiança de 95% e com margem de erro de 5% (0,05) por meio do OpenEpi 20061.

 

    O estudo seguiu a metodologia preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a realização de estudos epidemiológicos, utilizando os índices CPO-D e Índice de Placa (Agnelli, 2015). Estes dados que necessitam de contagem de dentes, os terceiros molares superiores e inferiores foram excluídos de todos os exames realizados.

 

    Com objetivo de gerar uma sequência aleatória o avaliador 1 adicionou a um aplicativo de sorteio os nomes de cada atleta de todos os clubes com um número para determinar quais atletas iriam participar da pesquisa. As avaliações foram realizadas em dois dias por clube com objetivo de não atrapalhar rotinas de treinamento. Desta forma, a pesquisa se dividiu em um período de 6 dias.

 

    No dia da avaliação, com objetivo de gerar uma ocultação de alocação o avaliador 1 através do telefone ligou informando ao avaliador 2 quais atletas iriam participar da pesquisa e quais seriam os atletas avaliados.

 

    Com objetivo de realizar cegamento dos avaliadores, um avaliador 3 foi calibrado para realizar avaliação.

 

    Por ser uma pesquisa avaliada diretamente entre avaliador e avaliado, não é possível fazer um cegamento completo, porém foram realizados alguns métodos com objetivo de não comprometer a confiabilidade da pesquisa.

 

    A avaliação teve como método de pesquisa os dados registrados por apenas um observador capacitado (avaliador 3), a fim de minimizar a variabilidade inter-examinador, durante a avaliação não foi realizada nenhuma pergunta do avaliador 3 ao participante com intuito de não ter viés na avaliação. Para os atletas foi apenas relatado que passariam por uma avaliação clínica odontológica, não sendo informado especificadamente as variáveis escolhidas.

    

    Após a avaliação os dados foram repassados para o avaliador 4 e as respostas expressas nos questionários foram armazenadas em um banco de dados ocultando o nome/clube dos atletas. Após, foi enviado ao avaliador 5 para que fizesse a análise estatística através do programa SPSS (versão 17.0)2. Os grupos foram comparados em relação às variáveis de interesse, utilizando os testes Shapiro-Wilk e Qui-Quadrado, quando apropriado. Os resultados foram considerados significativos com a probabilidade inferior a 5% (p < 0,05).

 

    Os grupos foram comparados em relação às variáveis de interesse, utilizando os testes Shapiro-Wilk e Qui-Quadrado, quando apropriado. Os resultados foram considerados significativos com a probabilidade inferior a 5% (p<0,05).

 

Critério de inclusão e exclusão 

 

    No critério de inclusão estavam os atletas de futebol dos clubes profissionais da cidade de Campos dos Goytacazes - Rio de Janeiro que fossem filiados à Federação de Futebol do Rio de Janeiro (FERJ) e que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. E no critério de exclusão, estavam os que não quiserem fazer parte da pesquisa e que não assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

 

Índice CPO-D 

 

    O estudo seguiu a metodologia preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a realização de estudos epidemiológicos, utilizando os índices CPO-D e índice de saúde dental com base no número de dentes acometidos pela cárie, onde “C” é o número de dentes cariados, “P” são os perdidos e “O” são os dentes obturados ou restaurados para dentes permanentes. (Agnelli, 2015)

 

    A avaliação da cárie teve como diagnóstico clínico através do exame visual, sob condição de luz natural, sem exigência de ambiente clínico, mediante uso de Abaixador de Língua de Madeira. Tempo do procedimento foi de 5 minutos. Para eliminação de viés científico, foi obtido por apenas um inter-examinador calibrado e com treinamento de repetibilidade. Os critérios de diagnóstico foram:

  • Cariado (1), quando uma lesão em fóssula, fissura ou em superfície lisa apresentar uma cavidade inquestionável, com amolecimento detectável ou quando tínhamos dentes com restaurações e cáries recidivantes visíveis a olho nu.

  • Restaurado (2), no caso em que o dente estava restaurado com material restaurador definitivo.

  • Extraído (3), quando o dente permanente havia sido extraído.

  • Obs.: Um dente que estiver ao mesmo tempo restaurado e cariado será classificado como cariado.

Índice de Placa 

 

    O estudo seguiu a metodologia pelo Índice de O’Leary modificado, onde foi aplicada uma solução evidenciadora (Eviplac - Fucsina Básica - Biodinâmica) em todas as superfícies dentárias supra gengivais. Após o paciente ter enxaguado a boca, cada superfície dentária (exceto as superfícies oclusais) foi inspecionada, para verificar a presença ou ausência de depósitos corados na junção dento-gengival, quatro superfícies para cada dente. Se presentes era registrada colorindo-se a face apropriada em um diagrama. Após os dentes serem marcados, o índice era calculado dividindo-se o número de superfícies com a placa pelo número total de dentes multiplicado por 4, e por fim multiplica-se por 100 para chegar à porcentagem das superfícies com a presença de placa. (Ribeiro et al., 2006)

 

Resultados 

 

    Desta forma, avaliou-se a saúde bucal de atletas de futebol profissional da cidade de Campos dos Goytacazes (RJ), através do Índice CPO-D e Índice de Placa. O trajeto de estudos no esporte de elite é difícil devido às pressões competitivas por tempo, sobre os atletas e suas equipes de apoio. Porém o estudo possui um significante nível de 83 participantes, com idade média de 25,6 (DP±7,19) e a integridade da metodologia aplicada. Foram selecionados 30 atletas, no segundo clube foram selecionados 28 atletas, no terceiro clube foram avaliados 25 atletas.

 

Tabela 1. Média de dentes CPO, desvio-padrão e intervalos de confiança de 95%

Número da amostra

Média

DP

LI

LS

C

P

O

83

4,77

4,32

0,45

9,09

1,45

1,02

2,3

Legenda: DP (Desvio Padrão); LI (Limite Inferior); LS (Limite Superior); C (Cariado); P (Perdido); O (Obturado). Fonte: Elaboração própria

 

    Na Tabela 1 e 2 pode-se observar que a média do índice obtido foi de 4,77 (DP: 4,32). E seus componentes: 1,45 (30,40%) cariado; 1,02 perdido (21,39%) e 2,3 obturado (48,21%). De forma geral podemos ver que a média de resultados é moderada. Porém de forma detalhada pode-se analisar que a maior parte dos atletas ficou com CPO-D na faixa baixa (38,56%); em seguida moderada (19,28%); muito baixa (16,87%); muito alta (15,66%) e alta (9,63%).

 

Tabela 2. CPO-D detalhado

Muito Baixo (0,0 a 1,1)

14

16,87%

Baixo (1,2 a 2,6)

32

38,56%

Moderado (2,7 a 4,4)

16

19,28%

Alto (4,5 a 6,5)

8

9,63%

Muito alto (6,6 e mais)

13

15,66%

Fonte: Elaboração própria

 

    A análise estatística mostrou um resultado significativo ao comparar o resultado do Índice de CPO-D com os resultados da literatura (p<0,05)3 e apresentou uma correlação positiva entre CPOD e IP (p>0,05)4.

 

    Na Tabela 3 observa-se que o índice de placa obtido teve uma média insatisfatória de (28,92%), onde 51 atletas obtiveram (61,45%) como amostra satisfatória, 19 atletas com amostra (23,13%) insatisfatória e 13 atletas com amostra irregular de (15,42%).

 

Tabela 3. Índice de placa

Média da amostra

28,92%

Insatisfatória

Satisfatório

61,45%

51

Insatisfatório

23,13%

19

Irregular

15,42%

13

Fonte: Elaboração própria

 

Tabela 4. CPOD Detalhado pela idade

Idade

C

P

O

Total

18-24

0,6

0,09

0,4

2,71

25-31

0,55

0,12

0,7

0,44

32-38

0,3

0,81

1,2

1,62

Total

1,45

1,02

2,3

4,77

Fonte: Elaboração própria

 

Discussão 

 

    Ashley et al. (2015) descrevem que o vínculo entre esporte e saúde bucal tem sido amplamente investigados através de estudos focados no risco de trauma à saúde bucal. A má qualidade oral poderia afetar o desempenho dos atletas. A saúde bucal dos atletas é uma área que talvez tenha sido negligenciada, pois é altamente plausível que a saúde bucal possa afetar o desempenho, tendo em vista os efeitos bem reconhecidos da qualidade de vida relacionada à saúde (Teles et al., 2020). Mecanismos poderiam incluir dor, efeitos sobre a alimentação, impactos psicológicos e aumento da carga inflamatória sistêmica. Desempenho reduzido devido a problemas de saúde bucal é inaceitável e evitável.

 

    Olesov et al. (2021) com o objetivo de comparar o estado dentário e psicológico de atletas de equipes olímpicas e da população de Moscou, demonstrou-se que os atletas apresentaram menor qualidade de tratamento prévio da cárie e suas complicações, nível insuficiente de higiene oral, detecção mais frequente de periodontite crônica, doenças da mucosa oral, deformidades secundárias da dentição, patologia da articulação temporomandibular e disfunção da mastigação, ou seja, Os padrões revelados são capazes de provocar hipertonicidade muscular e disfunção músculo-articular da região maxilofacial, o que deve ser levado em consideração na reabilitação odontológica de atletas.

 

    A importância dos levantamentos gera a possibilidade de obtenção de dados que irão apontar uma deficiência dos jogadores dos times de futebol que foram avaliados, o que poderá colaborar em maior controle da manutenção da saúde oral desses atletas e no desenvolvimento de ferramentas para estudo através de amostras que comprovem a relação entre saúde e desempenho esportivo, análise de dados clínicos, incidência e prevalência de patologias bucais entre outros. (Correa et al., 2010)

 

    Uma meta-análise com o objetivo de calcular uma prevalência global e agrupada de cárie dentária em atletas demonstrou que a prevalência estimada de cárie dentária em atletas, e principalmente em atletas de países em desenvolvimento, é considerada alta, e que as estimativas de prevalência combinadas têm implicações importantes em relação a medidas preventivas e planejamento de pesquisa em todo o mundo. (Azeredo et al., 2020)

 

    Diante dos avanços das pesquisas científicas na área da saúde, é imprescindível não haver uma abordagem em todos os âmbitos sociais tais como eles também, o esportivo (Fernandez et al., 2012). Grandes estudos apontam a saúde geral como fator associado ao desempenho dos atletas e levantamentos da saúde bucal dos mesmos têm comprovado que a prevalência de patologias se dá devido à falta de abordagem preventiva e sua direta contribuição com enfermidades. (Soares et al., 2015)

 

    A situação específica dos atletas de alto rendimento atrai muitas discussões, já que o esporte é tido como um potencializador das performances humanas, e tem a manutenção da saúde vista como pré-requisito ao atleta de alto nível para o desempenho de sua profissão. A saúde bucal, parte importante do conjunto, não pode ser desconsiderada nesse âmbito. É imprescindível ressaltar que o trabalho do CD do esporte não se restringe ao consultório e que ele deve estar presente durante as práticas desportivas.

 

    São atípicos os estudos que investigaram o comportamento da saúde bucal em atletas de futebol profissional conforme a Tabela 5, os dados obtidos sugerem que este grupo denota uma má saúde bucal. Corroborando com as pesquisas realizadas por Sant’Anna et al. (2004), Gay-Escoda et al. (2011), Needleman et al. (2015) e Gonçalves et al. (2018). Ashley et al. (2015) realizaram uma meta análise com atletas de elite de diversas modalidades, reforçando o resultado de uma má saúde bucal independente da modalidade.

 

Tabela 5. Comportamento da saúde bucal em atletas de futebol profissional - Análise CPO-D

Autor

Ano

Amostra

CPOD

DP

C

P

O

Sant’Anna

2004

18

8

X

X

X

X

Gay-Escoda

2011

30

5,7

4,1

2,2 (38,6%)

0,6 (10%,5)

2,9 (50,9%)

Needleman

2015

187

4,6

X

X

X

X

Gonçalves

2018

30

6,7

2,5

3,8 (57%)

0,6 (8%)

2,3 (35%)

Pesquisa

2020

83

4,77

4,32

1,45

1,02

2,3

Legenda: DP (Desvio Padrão); C (Cariado); P (Perdido); O (Obturado). Fonte: Elaboração própria

 

    Analisando as pesquisas científicas, exclusivamente Gay-Escoda et al. (2011) e Gonçalves et al. (2018) que descreveram o índice detalhadamente, houve semelhança de resultados com a presente pesquisa, apesar das características geográficas e econômicas opostas. Inclusive ao analisar a metodologia utilizada por Needleman et al. (2015) e isolando o componente cariado como exceção com do presente trabalho, podemos observar respectivamente o equilíbrio de 37% e 30,40% entre os dois.

 

    Nestes artigos, cada um apresentou uma abordagem diferente para verificação da saúde periodontal, porém todos os autores obtiveram o mesmo resultado de uma saúde periodontal insatisfatória. Gay-Escoda et al. (2011) valida a correlação entre placa dental e gengivite, porque no panorama atual não relata periodontite ou níveis irregulares, por conta da juventude destes atletas.

 

    Já a doença periodontal (DP), é uma patologia de caráter crônico infeccioso produzida por bactérias gram-negativas, em grandes níveis presente no biofilme dental que se acumulam no interior dos tecidos do periodonto com sítios específicos que evolui com períodos de recesso e exacerbação dependente de uma resposta inflamatória e imune do organismo de quem a têm, com fatores de risco como: diabetes e tabagismo, que podem modificá-la aumentando sua prevalência e gravidade (De Souza et al., 2012). Botelho et al. (2021) mostraram que uma prevalência alarmante de periodontite em um estudo preliminar com jogadores de futebol e que as lesões musculares não traumáticas foram mais prevalentes em jogadores com periodontite.

 

    De Souza et al. (2012) exemplificam que a doença periodontal tem se destacado por realizar alterações na cavidade bucal, como a perda da inserção gengival, que ocorre paralela ao desenvolvimento de um problema inflamatório, podendo liberar endotoxinas (TNF-Alpha, IL-6 IL1β) na corrente sanguínea e bactérias presentes nas bolsas periodontais. Essa condição realiza um impacto nas fibras musculares, alterando suas propriedades fisiológicas de acordo com o estimulo recebido. A associação entre exercício físico e a doença periodontal exacerba os níveis linfócitos, neutrófilos e eosinófilos, sugerindo indiretamente uma maior resposta da musculatura à resposta imunológica e consequentemente diminuição da hipertrofia muscular.

 

    A execução de um atendimento odontológico de excelência para jogadores de futebol de alto nível é uma tarefa desafiadora diante das inúmeras competições que não permitem um planejamento adequado nas decisões médicas. Exames orais, antes do início da temporada, possibilitam um controle da saúde bucal dos atletas com estes em questão apresentando problemas de saúde bucal, ou antes mesmo de terem manifestação de doenças. Follow-ups periódicos pelos dentistas são necessários para prevenção e aparecimento de cáries, doença periodontal e outras patologias orais como prevenir traumas. (Gay-Escoda et al., 2011)

 

    A odontologia do esporte implica a necessidade de envolver equipes multidisciplinares afim de, em conjunto, verificar possibilidade de riscos potenciais da atuação profissional esportiva ou na própria saúde (Fernandez et al., 2012), conduzindo uma forma preventiva de abordagem através da conscientização desde os jogadores até́ os responsáveis do clube para que haja eficácia na realização de procedimentos e controle da atividade de patologias na saúde bucal. (Soares et al., 2015)

 

    Os estudos de Carneiro et al. (2014) e Gonçalves et al. (2021) mostram realidades diferentes sobre a presença do CD nos clubes, o primeiro estudo foi realizado com clubes das duas principais competições do Brasil (Brasileiro Série A e B) e o segundo estudo abordou apenas clubes das duas principais competições do estadual do Rio de Janeiro (Carioca A e B1). O primeiro estudo apontou 69,7% pela presença positiva dos CD e o segundo estudo 25,81%. Esse paralelo mostra que a Odontologia do Esporte se mostra mais presente nos principais clubes do país enquanto nos clubes de menor investimento ainda não possui uma grande prevalência.

 

    Como destacado por Gonçalves et al. (2021) é essencial a participação de CD dentro de centros esportivos, compondo a equipe de saúde. Com os dados obtidos na pesquisa é possível encontrar um denominador comum para realizar medidas preventivas e ações curativas através da equipe multidisciplinar, buscando equilíbrio entre a saúde bucal e saúde geral para promover uma diminuição na prevalência das lesões e cada vez mais aumentar a prevalência do CD nas equipes de saúde.

 

Conclusão 

 

    Concluiu-se nesse trabalho que a saúde bucal dos atletas é ineficiente devido aos dados obtidos na pesquisa, apresentando CPO-D médio de 4,77 (moderado) e índice de placa numa média de 28,92 (insatisfatório).

 

    Para evolução destes dados e decorrente melhora na saúde bucal desses profissionais é de caráter necessário a implementação de acesso aos atletas à serviços odontológicos de qualidade que promovam prevenção e tratamento de forma que os problemas constados ganhem uma curva decrescente até sua erradicação, permitindo a atuação dos mesmos em sua performance esportiva sem intercorrências proveniente de problemas bucais.

 

Notas 

  1. O OpenEpi é um programa com código aberto para estatísticas epidemiológicas. Pode ser encontrado no site: https://www.openepi.com/Menu/OE_Menu.htm

  2. SPSS Statistics é um programa de estatística com ferramentas para executar análise descritiva, preditiva, regressão, estatísticas avançadas e integração. Pode ser encontrado no site: https://www.ibm.com/

  3. Teste Qui-Quadrado.

  4. Teste Shapiro-Wilk.

Referências 

 

Agnelli, P.B. (2015). Variação do índice CPO-D do Brasil no período de 1980 a 2010. Revista Brasileira de Odontologia, 72(1/2), 10-15. http://dx.doi.org/10.18363/rbo.v72i1/2.549

 

Ashley, P., Di Iorio, A., Cole, E., Tanday, A., e Needleman, I. (2015). Oral health of elite athletes and association with performance: a systematic review. British journal of sports medicine, 49(1), 14-19. https://doi.org/10.1136/bjsports-2014-093617

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 287, Abr. (2022)