Respostas fisiológicas em atletas praticantes de atletismo através do teste de potência aeróbica

Answers physiological practitioners in athletes of athletics through power test aerobic

Respuestas fisiológicas en atletas practicantes de atletismo a través del test de potencia aeróbica

 

Gislei da Silva Pimentel*

gislei45@hotmail.com

Fábio Santana**

fsantanapersonal@gmail.com

 

*Graduado em Educação Física

Licenciatura pelo Centro Universitário de Anápolis - UniEvangélica

Pós Graduado em: Fisiologia do Exercício Aplicada ao Treinamento Esportivo

pelo Centro Universitário de Anápolis - UniEvangélica

É professor de Educação Física e Treinador da Equipe do Projeto de Atletismo Zatopek

**Mestre em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília - UCB

Pós Graduado em Fisiologia do Exercício e Pós Graduado em Obesidade

e Emagrecimento pela Universidade Veiga de Almeida - UVA

Graduado em Educação Física - Licenciatura Plena

pelo Centro Universitário de Anápolis - UniEvangélica

(Brasil)

 

Recepção: 13/01/2018 - Aceitação: 15/03/2018

1ª Revisão: 13/03/2018 - 2ª Revisão: 14/03/2018

Resumo

    O treinamento sistematizado provoca nos indivíduos diversas adaptações, entre elas, as respostas fisiológicas que aqui são representadas pela frequência cardíaca, pressão arterial sistólica, diastólica e média, duplo produto e saturação de oxigênio. Uma outra variável de grande importância para o atleta praticante de atletismo, se refere à potência aeróbica, pela qual pode ser estimada através de métodos diretos ou indiretos na identificação do VO2Max. Diante do exposto, o objetivo geral desta pesquisa foi de identificar as respostas fisiológicas em atletas praticantes de atletismo através de um teste de potência aeróbica. Foram adotados (n = 27) atletas praticantes de atletismo, sendo eles, meio fundistas e velocistas de ambos os sexos. Estes foram submetidos à um teste de potência aeróbica e tiveram avaliadas as respostas fisiológicas em repouso e ao final do protocolo de teste que foi aplicado pelo Teste de Léger, pré e pós intervenção com um período de 12 meses. Ao comparar as respostas fisiológicas, a FC, PAD, PAM inicial e SO2, não apresentaram diferenças significativas. Já as variáveis PAM final, DP inicial e final, PAS inicial e final, apresentaram significância com valor de p ≤ 0,05. Em relação à potência aeróbica, ambos os grupos atingiram significância com aumento do VO2Max através das intervenções realizadas. Diante dos achados, concluímos que a prática de atletismo favorece um maior desempenho em relação à potência aeróbica, bem como, adaptações agudas e crônicas entre as respostas fisiológicas avaliadas.

    Unitermos: Variáveis fisiológicas. Potência aeróbica. VO2Max. Treinamento.

 

Abstract

    The systemized training causes individuals in various adaptations, among them, the physiological responses that are here represented by the heart rate, systolic blood pressure, diastolic and mean, double product and oxygen saturation. Another variable of great importance for practicing athletic track, refers to aerobic power, by which can be estimated by direct or indirect methods for the identification of VO2Max. Given the above, the general objective of this research was to identify the physiological responses in athletes practicing athletics through an aerobic power test. Were adopted (n = 27) athletes practicing athletics, namely, middle distance runners and sprinters of both sexes. These were subjected to an aerobic power test, and the physiological responses measured at rest and the end of the testing protocol was applied by Léger Test pre and post intervention for a period of 12 months. When comparing physiological responses, HR, DBP, and MAP initial SO2, showed no significant differences. The variables PAM end, starting and ending DP, initial and final SBP showed significance with value p ≤ 0.05. Regarding the aerobic power, both groups reached significance with increased VO2Max through interventions. Given the findings, we conclude that the practice of athletics favors higher performance compared to aerobic power, as well as acute and chronic adaptations among the evaluated physiological responses.

    Keywords: Physiologic Variables. Aerobics Power. VO2Max. Training.

 

Resumen

    El entrenamiento sistematizado provoca en los individuos diversas adaptaciones, entre ellas, las respuestas fisiológicas que aquí están representadas por la frecuencia cardíaca, la presión arterial sistólica, diastólica y media, doble producto y saturación de oxígeno. Otra variable de gran importancia para el atleta practicante de atletismo, se refiere a la potencia aeróbica, la cual puede ser estimada a través de métodos directos o indirectos en la identificación del VO2Max. Ante lo expuesto, el objetivo general de esta investigación fue identificar las respuestas fisiológicas en atletas practicantes de atletismo a través de una prueba de potencia aeróbica. Se estudiaron (n = 27) atletas practicantes de atletismo, siendo ellos, medio fondistas y velocistas de ambos sexos. Estos fueron sometidos a una prueba de potencia aeróbica y se evaluaron las respuestas fisiológicas en reposo y al final del protocolo de prueba que fue aplicado por el Test de Léger, pre y post intervención con un período de 12 meses. Al comparar las respuestas fisiológicas, la FC, PAD, PAM inicial y SO2, no presentaron diferencias significativas. Las variables PAM final, DP inicial y final, PAS inicial y final, presentaron significancia con valor de p ≤ 0,05. En cuanto a la potencia aeróbica, ambos grupos alcanzaron significancia con aumento del VO2Max a través de las intervenciones realizadas. Ante los hallazgos, concluimos que la práctica de atletismo favorece un mejor rendimiento en relación a la potencia aeróbica, así como adaptaciones agudas y crónicas entre las respuestas fisiológicas evaluadas.

    Palabras clave: Variables fisiológicas. Potencia aeróbica. VO2Max. Entrenamiento.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 22, Núm. 238, Mar. (2018)


 

Introdução

 

    O atletismo é uma modalidade esportiva cujo seus movimentos e sua história se confundem com a vida do ser humano desde o seu surgimento, pois seus movimentos são classificados como motrizes básicos, como por exemplo: correr, saltar, lançar e arremessar (Sant, 2005).

 

    E o sucesso que o atleta poderá ter dentro desta modalidade dependerá diretamente dos métodos de treinamento que é a forma de planejar e aplicar durante as sessões de treino. Esta periodização significa dividir o tempo em períodos, para que se possa trabalhar de forma específica as qualidades que o corredor necessita (Guiselini, 2007; Fuziki, 2012).

 

    Dentre os vários métodos de treinamento Ide, Lopes e Sarraipa (2010), destacam o método contínuo que é subdividido em uniforme extensivo e intensivo, ou contínuo variado. Outro método que os autores citam, se refere ao método fracionado ou intervalado, que é subdividido em intervalado extensivo longo e médio e intensivo curto e médio, por último, o método competitivo, também denominado de controle. Os métodos contínuos utilizam de forma predominante o sistema de energia aeróbico, o que faz do ser humano, diferenciado entre os demais seres corredores (Fuziki, 2012).

 

    Já o método intervalado, consiste em exercícios exaustivos realizado com intervalos para recuperação, podendo utilizar uma via de energia intermitente (McArdle, Katch e Katch, 2011). Este intervalo de recuperação depende da intensidade do treino, podendo durar alguns segundos ou até mesmo minutos, onde pode ser dividido em ativo ou passivo, pois, se busca aprimorar a capacidade de diferentes sistemas de transferência de energia, conclui Bompa (2002) e que são dependentes de diferentes adaptações fisiológicas.

 

    E essas sessões de treinamento gera resposta fisiológicas que são divididas em agudas, que são os efeitos que ocorrem durante e após as sessões de treinamento, pelo qual pode ser observado alterações, tais como: na frequência cardíaca, ventilação pulmonar, pressão arterial sistêmica, além da sudorese. Já os efeitos sub agudos, são aqueles que aparecem geralmente nas primeiras 24 horas após o treinamento, ou seja, ocorrem entre as sessões de treino, como por exemplo, as dores ou desconfortos musculares tardios, já os efeitos ou adaptações crônicas, se referem às alterações morfofuncionais, maior efetividade das vias de energia e consequentemente, aumento do consumo máximo de oxigênio (Arquivo Brasileiro de Cardiologia, 1997).

 

    O sistema cardiovascular reflete a frequência cardíaca que é responsável pelo aumento do fluxo sanguíneo durante o treinamento, a fim de conseguir levar os nutrientes necessários ao sistema músculo esquelético (Polito e Farinatti, 2003).

 

    Esta frequência cardíaca e o volume de ejeção sistólico proveniente desta adaptação, resulta em um produto final denominado de débito cardíaco, ou seja, quantidade máxima de sangue bombeado a cada minuto pelo coração. Este débito cardíaco é um fator determinante da capacidade de resistência cardiorrespiratória de um indivíduo, que reflete sua condição aeróbica (Guiselini, 2007; Fuziki, 2012).

 

    Em relação à pressão arterial sistêmica, esta é definida pela força exercida pelo sangue por unidade de superfície da parede vascular, refletindo a interação do débito cardíaco com a resistência periférica sistêmica (Polito e Farinatti, 2003).

 

    Quanto à Pressão Arterial Sistólica - PAS, McArdle, Katch e Katch (2011) relatam que durante a fase de relaxamento do coração, as válvulas aórticas se fecham, promovendo o recuo elástico natural do sistema arterial, este fato proporciona um fluxo constante de sangue para a região periférica, gerando uma força que o sangue exerce contra as paredes arteriais, atingindo um valor médio de normalidade entre 120 a 130 mmHg. Já a Pressão Arterial Diastólica - PAD, os autores complementam que é o resultado do sangue que passa das arteríolas para o interior dos capilares, onde esta passagem encontra uma alta resistência fazendo com que a fase de relaxamento do ciclo cardíaco fique entre 70 a 80 mmHg, estes valores classificam o indivíduo como normotensos.

 

    Outra resposta fisiológica é a Pressão Arterial Média- PAM que Guyton (2011) relata que esta variável é derivada da PAS e PAD e reflete a força exercida pelo sistema cardiovascular para empurrar o sangue pelos vasos sanguíneos, ela faz referência a um valor médio e não a média entre as pressões sistólica e diastólica, outro fator de destaque é que a PAM tende a ficar menos tempo perto de valores sistólicos, permanecendo assim, por períodos de tempos maior próximo dos valores diastólicos, ou seja, em relação ao fluxo sanguíneo, a PAM é de suma importância, pois, determina a intensidade média que o sangue consegue passar pelos vasos sanguíneos.

 

    Como variável fisiológica, se destaca o Duplo Produto - DP, que se refere à eficiência cardíaca do indivíduo, ou seja, a utilização de oxigênio pelo miocárdio. Já em relação ao oxigênio, Marieb e Hoehn (2009) destacam que o processo de saturação acontece quando a primeira molécula de O2 se liga ao ferro-porfirino, onde a Hemoglobina muda a sua forma, fato este, que faz a mesma ligar mais rápido a outras duas moléculas que acelera ainda mais rápido a quarta ligação, portanto, quando a hemoglobina está ligada a quatro moléculas de O2, ela está totalmente saturada, sendo denominada de Saturação de Oxigênio - SO2, e que tem relação direta com a capacidade de oxigênio do indivíduo.

 

    O termo "capacidade", dependendo da linguagem tem vários significados, mas no sentido de treinamento, tem uma conotação de "quantidade" que pode ser expressa como unidade de medida, que em relação à condição de treinabilidade, é expressa em L/Min (Zílio, 2005).

 

    O VO2Max é definido como a capacidade que um indivíduo possui de captar o oxigênio através do sistema respiratório, transportar o oxigênio internamente pelo sistema cardiovascular e utilizar este oxigênio pelo sistema muscular em nível periférico, para oxidar os micronutrientes durante o exercício (Raso, Greve e Polito, 2013).

 

    O valor da potência aeróbica pode ser obtido através de duas formas: direta ou indireta. A obtenção do VO2Max pelo método direto é realizado através da análise de gases, que é mais fidedigno, porém, apresenta dificuldade de ser aplicado devido a necessidade de usar equipamentos sofisticados e que demandam alto custo operacional e local adequado para instalações dos equipamentos, além da exigência de alta qualificação dos profissionais que aplicam estes testes. A outra forma para estimativa do VO2Max é a indireta, realizada de acordo com modelos matemáticos que são bem complexos e que são desenvolvidos e validados para uma população específica. Entretanto, estas limitações estão sendo quebradas com a criação de equipamentos portáteis que também podem ser utilizados em campo.

 

    Diante do exposto, o objetivo geral desta pesquisa foi de identificar as respostas fisiológicas em atletas praticantes de atletismo através de um teste de potência aeróbica. E como objetivos específicos, identificar as variáveis antropométricas para caracterização da amostra e comparar os resultados fisiológicos e de potência aeróbica pré e pós intervenção.

 

Metodologia

 

    Esta pesquisa caracterizou-se como quantitativa e delineamento longitudinal de forma descritiva e quase experimental. A amostra da presente pesquisa foi extraída de uma população de atletas praticantes de atletismo do Projeto Zatopek na cidade de Anápolis-Go, sendo composta por (n = 27) atletas de ambos os sexos, com faixa etária média de 15,475 ± 2,21 anos, sendo divididas em 16 meninas que compuseram o grupo G1 e 11 meninos para formar o grupo G2, sendo eles, corredores meio fundistas e velocistas. A escolha desses atletas ocorreu devido serem os únicos remanescentes do período pré teste ao longo de um período de 12 meses de intervenção através do treinamento com predominância dos métodos contínuos e intervalado, além da utilização do fartlek.

 

    Como critérios de inclusão, todos os atletas deveriam estar inseridos no Projeto de Atletismo Zatopek a mais de um ano, serem assíduos nos treinamentos, passarem por todos os procedimentos avaliativos pré e pós intervenção e serem autorizados a fazerem parte da pesquisa, apresentando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE, além de não apresentarem algum tipo de lesão osteomioarticular ou muscular que pudesse interferir nos treinamentos por um período superior a 30 dias, bem como, nos protocolos de testes. Este estudo buscou seguir todos os padrões éticos de acordo com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde de 2012.

 

    Em relação aos riscos para a amostra, os atletas foram alertados que poderiam haver algum desconforto muscular tardio, geração de sobrecarga nas articulações devido a aplicação do teste ser em uma pista de atletismo de asfalto. Entretanto, com as orientações repassadas pelos pesquisadores, aplicação de aquecimento para o teste e pela adaptação dos atletas nesta pista, estes riscos foram minimizados. E como benefícios, a identificação das respostas fisiológicas e da potência aeróbica, para melhor entendimento de cada atleta em relação a seu nível de condicionamento e adaptações fisiológicas, favorecendo desta forma, uma intervenção mais específica na busca de melhorar a performance dos atletas.

 

    Como instrumentos e procedimentos, o primeiro passo foi conseguir autorização junto à coordenação do Projeto de Atletismo Zatopek, com posterior contato aos atletas para sua participação e encaminhamento do TCLE aos pais e responsáveis pelos menores, autorizando a respectiva participação na pesquisa.

 

    Em relação às variáveis antropométricas, foi utilizada uma Balança da marca Personal Filizola® com capacidade máxima de 180 kg e mínima de 2 kg com escala de graduação a cada 100gr, para identificar a Massa Corporal em kg dos atletas e um Estadiômetro acoplado à balança que foi utilizado para coletar a Estatura em metros, com escala de graduação a cada 1cm. Com posse destes dados, foi calculado o Índice de Massa Corporal - IMC para caracterização do grupo, através da fórmula: Peso Corporal - kg / Estatura² obtendo desta forma o Índice de Massa Corporal - IMC em kg/m². Nesta etapa, todos os atletas utilizavam apenas o short e a camiseta de treinamento, padronizando desta forma, os procedimentos para realização das coletas.

 

    Para coleta das variáveis fisiológicas que envolvem a Pressão Arterial Sistólica - PAS e a Pressão Arterial Diastólica - PAD, foi utilizado um Aparelho de Pressão Arterial Automático de marca Microlife® e modelo BP-3BTO-A, através da obtenção destes dados pressóricos, foi realizado o cálculo da Pressão Arterial Média - PAM utilizando a seguinte fórmula: PAM = PAD + {(PAS - PAD)/3)} (McArdle, Katch e Katch, 2011). Para Frequência Cardíaca - FC, foi utilizado o Monitor Cardíaco da marca Oregon® modelo HR102 e posterior cálculo do Duplo Produto - DP através dos valores entre FC e PAS pela seguinte fórmula: DP = FC x PAS; e Saturação de Oxigênio - SO2 coletado através do Oxímetro - Dedo, marca Rossmax® modelo SB100.

 

    Todos os atletas ao chegarem no local do treinamento, foram direcionados para um ambiente calmo - uma sala do Laboratório de Fisiologia do Exercício - LAFE, para as respectivas coletas, ficando em repouso por um período de 10' minutos, sentados com a palma da mão voltada para cima e o cotovelo ligeiramente fletido, para que se aferisse a pressão arterial no braço esquerdo. No entanto, foi colocado o oxímetro no dedo indicador da mão direita e no casos das meninas, estas removeram o esmalte da unha para não dar interferência na coleta. O procedimento seguinte foi a aplicação do teste de Léger para estimativa do VO2Max e posterior classificação da potência aeróbica. Ao final deste protocolo, os atletas foram encaminhados novamente para as coletas das variáveis fisiológicas ao final do teste, a fim de identificar as respostas agudas provenientes do protocolo aplicado.

 

    Para identificação desta potência aeróbica foi utilizado o Beep Teste, denominado de Teste de Léger e Lambert (1982), realizado como um teste de multi-estágio, na qual envolve a execução contínua em um percurso com distância de 20 metros. O teste foi executado da seguinte forma: os atletas foram posicionados atrás da primeira linha e de frente para a segunda linha a 20 metros a frente, ao comando que era instruído pelo beep através de um pen drive acoplado a uma caixa de som, o atleta iniciava a corrida em uma velocidade de 8,5 km/h e a cada estágio, um aumento progressivo de 0,5 km/h. O teste só foi encerrado quando os atletas não conseguiam atingir a distância de 20m antes do próximo beep por duas vezes consecutivas. Ao final, foi anotado o estágio em que o atleta parou para se fazer os cálculos do VO2Max, além do registro da frequência cardíaca na última volta de cada estágio, seguindo a padronização do protocolo.

 

    Para as análises estatísticas, os dados foram tabulados em uma planilha do software Excel for Windows e posteriormente transferidos para o software IBM SPSS Statistics versão 20.0 for Windows para as seguintes análises: Análise Descritiva por Percentual e Frequência para descrição dos dados, um teste “t” de Student para comparação dos dados pré e pós testes e uma ANOVA para medidas repetidas entre os grupos, sendo adotado como significância um valor de p ≤ 0,05.

 

Resultados

 

    Abaixo apresentamos nossos resultados em forma de tabelas e gráfico, a fim de atender a proposta da pesquisa e responder aos objetivos.

 

Tabela 1.Variáveis antropométricas para caracterização dos grupos avaliados

Grupos

Variáveis

Fase

G1 - Feminino

(n = 16)

G2 – Masculino

(n = 11)

Sig

(p ≤ 0,05)

Idade – anos

Pré

Pós

14,06 ± 1,06

15,07 ± 1,05

14,82 ± 1,08

15,83 ± 1,07

-

-

Peso Corporal – kg

Pré

Pós

45,98 ± 4,84*

46,32 ± 5,72*

65,75 ± 11,75*

66,55 ± 13,16*

0,034

0,035

Estatura – cm

Pré

Pós

1,53 ± 0,07

1,56 ± 0,08

1,69 ± 0,08

1,72 ± 0,09

-

-

IMC - kg/m²

Pré

Pós

19,71 ± 1,37*

19,03 ± 1,23*

22,92 ± 3,24*

22,35 ± 3,54*

0,021

0,023

IMC = Índice de Massa Corporal. * Nível de Significância (p ≤ 0,05)

 

    Em relação ao IMC, os principais valores encontrados são: no grupo G1 identificam 25% da amostra com "Baixo Peso", enquanto que no G2, 10% da amostra obteve classificação de "Sobrepeso". Os demais se classificaram como "Normal - Eutrófico" de acordo com as tabelas de referência da World Health Organization (WHO, 2007).

 

    A Tabela 2 detalha os resultados referentes às variáveis fisiológicas entre os grupos nos períodos pré e pós intervenção. Em relação à FC, os dois grupos não apresentaram diferença significativa entre as fases. Porém, vale destacar que houve uma redução na FC inicial - repouso, dentro do grupo quando analisado os valores pré e pós intervenção, Na FC final, o grupo G1 apresentou um aumento neste resultado, o que pode estar associado ao maior empenho em atingir um resultado satisfatório no protocolo utilizado. Nas demais variáveis fisiológicas, PAD inicial e final, PAM, SO2 inicial e final, mesmo com as diferenças apresentadas, não houve significância. Porém, vale ressaltar as alterações agudas que ocorrem provenientes do estímulo gerado através do protocolo de teste aplicado. Em relação à PAS inicial, encontrou-se diferença significativa nas fases pré e pós intervenção entre os grupos avaliados com valor de p = 0,039 e p = 0,021 respectivamente, onde os valores mais elevados se referem ao grupo G2, porém, ambos dentro dos padrões de normalidades classificados como "Normotensos". Na PAS final, a diferença significativa foi de p = 0,035 na fase pré intervenção e o valor de p = 0,042 na fase pós intervenção, mantendo os valores superiores para o grupo G2. De acordo com os valores obtidos na PAM inicial, foi encontrada diferença significativa somente na fase pós intervenção com valor de p = 0,049. Na PAM final, a diferença foi de p = 0,047 e p = 0,042 nas fases pré e pós intervenção respectivamente quando comparado os dois grupos.

 

Tabela 2. Variáveis fisiológicas pré e pós intervenção entre dos grupos e fases avaliadas

Grupos

Variáveis

Fase

G1 - Feminino

(N = 14)

G2 – Masculino

(N = 11)

Sig

(P ≤ 0,05)

FC Inicial

Pré

Pós

67,63 ± 6,45

62,94 ± 6,28

68,36 ± 9,54

63,27 ± 11,2

-

-

FC Final

Pré

Pós

171,31 ± 39,76

179,94 ± 29,30

177,09 ± 31,57

162,64 ± 47,20

-

-

PAS Inicial

Pré

Pós

105,81 ± 21,80*

102,06 ± 12,44*

120,64 ± 11,01*

128,18 ± 20,42*

0,039

0,021

PAS Final

Pré

Pós

142,88 ± 17,56*

143,13 ± 19,57*

167,00 ± 23,85*

164,55 ± 16,95*

0,035

0,042

PAD Inicial

 

Pré

Pós

68,06 ± 21,65

67,88 ± 10,97

72,00 ± 5,57

70,64 ± 6,95

-

-

PAD Final

Pré

Pós

75,00 ± 8,73

63,94 ± 10,96

75,73 ± 11,17

69,55 ± 9,61

-

-

PAM Inicial

Pré

Pós

80,65 ± 21,31

79,27 ± 10,42*

88,21 ± 8,50

89,82 ± 10,27*

-

0,049

PAM Final

Pré

Pós

97,63 ± 9,20*

90,33 ± 10,18*

106,15 ± 11,76*

101,21 ± 8,60*

0,047

0,042

DP Inicial

Pré

Pós

7115,9 ± 1320,8*

6432,9 ± 1086,7*

8241,0 ± 1336,2*

8034,9 ± 1510,6*

0,049

0,037

DP Final

Pré

Pós

24343,2 ± 6112,9*

25861,2 ± 5954,4*

29786,9 ± 7078,8*

27030,2 ± 8850,8*

0,039

0,049

SO2 Inicial

Pré

Pós

95,94 ± 2,89

96,50 ± 2,42

97,55 ± 1,44

95,55 ± 2,25

-

-

SO2 Final

Pré

Pós

96,13 ± 1,96

95,63 ± 2,03

95,09 ± 2,34

96,54 ± 1,86

-

-

FC = Frequência Cardíaca. PAS = Pressão Arterial Sistólica. PAD = Pressão Arterial Diastólica.

PAM = Pressão Arterial Média. DP = Duplo Produto. SO2 = Saturação de Oxigênio.* Nível de Significância (p ≤ 0,05).

 

    Para os resultados do DP, ao analisarmos os valores iniciais entre os grupos, foi identificado uma diferença significativa no valor de p = 0,049 no período pré intervenção e no pós intervenção, o valor de p = 0,037, onde o G1 obteve valores mais baixos em relação ao G2. Já nos resultados do DP final, os valores de significância encontrados foram de p = 0,039 e p = 0,049 nas fases pré e pós intervenção respectivamente.

 

    Conforme observamos no Gráfico 1, os valores da potência aeróbica através da estimativa do VO2Max obtido pelo grupo G1 - Feminino na fase pré intervenção foi de 41,78 (ml/kg/min), estando classificados como "Excelente", já o valor atingido na fase pós intervenção foi de 44,96 (ml/kg/min) sendo classificado como "Superior", resultado este, que promoveu uma melhora significativa com valor de p = 0,05 entre as fases pré e pós intervenção.

 

Gráfico 1. Valores do VO2Max (ml/kg/min) entre os grupos pré e pós intervenção.

* Nível de Significância (p ≤ 0,05)

 

    Ao analisar o grupo G2 - Masculino, observamos que também houve uma melhora significativa na potência aeróbica apresentado pelo valor de VO2Max que na fase pré intervenção atingiu uma média de 43,49 (ml/kg/min) estando classificados como "Bom" e de 48,62 (ml/kg/min) na fase pós intervenção sendo classificados como "Excelente", obtendo um nível de significância de p = 0,036. Resultados satisfatórios, demonstrando que os atletas estão sendo conduzidos de forma efetiva na busca de melhorar o desempenho em sua prática esportiva.

 

Discussões

 

    McArdle, Katch e Katch (2011) relatam que os exercícios realizados sem intervalo e com o aumento gradativo da carga, aumentam de forma rápida a FC do indivíduo, bem como a PAS e depois desta elevação, ela continua subindo de forma linear conforme a intensidade que foi empregada no exercício. Já em relação a PAD, os autores concluem que esta tende a se manter estável a um exercício de alta intensidade, ou mesmo, pode sofrer uma pequena queda nos valores pressóricos. Os resultados apresentados por esses autores, vem ao encontro com nossos achados em relação à PAS, que teve as médias pressóricas atingindo valores superiores ao final do exercício, quando comparados à fase inicial, já as médias encontradas para PAD, na fase pré intervenção, os resultados contradizem com a literatura, e mesmo não ocorrendo diferença significativa, os valores finais foram superiores em relação aos valores iniciais. Vale ressaltar que o controle simpático e parassimpático do sistema cardiovascular, depende da atual condição física do indivíduo e de suas respostas adaptativas, promovendo elevação da FC e PA sistêmica durante o estímulo e retornando aos níveis basais durante a recuperação.

 

    Em relação à PAM, Sanborn e Jankowski (1994), apud Prentice e Voight (2003) descrevem que o processo de eritrocitária pode ter uma relação direta com o transporte de oxigênio para os órgãos, mas em relação a valores relacionados a PAM é menor nos indivíduos do sexo feminino, esse fato acontece depois da menarca, que faz com que a meninas tenham menor volume de sangue corrente durante o exercício, podendo ter menor pressão nos vasos sanguíneos, e por consequência, menor quantidade de eritrócitos circulando, resultando em menos oxigênio transportado para os órgãos e músculos durante o exercício, através deste processo, as meninas tendem a apresentar valores mais baixos de PAM em relação aos meninos, o que pode ser observado em nossos achados. Desta forma, este estudo corrobora com nossa pesquisa, tanto no período pré, quanto no pós intervenção, onde os valores da PAM das meninas são aproximadamente 10mmHg menores em relação aos meninos.

 

    Hilário et al. (2013) avaliaram 15 atletas masculinos e 15 atletas femininos com o objetivo de identificar as principais variáveis fisiológicas e seus resultados em relação a Saturação de Oxigênio - SO2 e o Duplo Produto - DP foram semelhantes ao presente estudo, onde o grupo masculino apresentou valores significativamente superior ao grupo feminino no DP, e as médias de SO2 não apresentaram diferenças significativas entre os grupos.

 

Conclusão

 

    Concluímos que as variáveis analisadas atingiram um resultado positivo com as adaptações agudas e crônicas dentro de uma normalidade fisiológica em relação à FC, PAS, PAD, PAM, DP e SO2, provenientes do treinamento desenvolvido ao longo do ano.

 

    Observando os resultados da potência aeróbica através da estimativa do VO2Max deparamos com um aumento significativo em ambos os grupos na melhora desta variável, onde o grupo feminino saiu da classificação de "Excelente" para "Superior" e o grupo masculino de "Bom" para "Excelente”, de acordo com protocolo utilizado para a faixa etária.

 

    Porém, novos estudos são necessários para fortalecer nossos achados, utilizando outras variáveis que são necessárias para o acompanhamento e desenvolvimento da performance do atleta, e também contribuir com a comunidade acadêmica e científica, e fornecer dados de grande importância para os treinadores que atua na área.

 

Referências

 

    Arquivo Brasileiro de Cardiologia (1997). 1º consenso nacional de reabilitação cardiovascular. Vol. 69, Nº 4, (267-276).

 

    Bompa, T.O. (2002). Periodização: teoria e metodologia do treinamento (5ª ed.). Guarulhos-SP: Phorte.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 22, Núm. 238, Mar. (2018)