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ISSN 1514-3465

 

Jogos competitivos e jogos cooperativos: discussões 

a partir de uma prática pedagógica em Educação Física

Competitive Games and Cooperative Games: Discussions from a Pedagogical Practice in Physical Education

Juegos competitivos y juegos cooperativos: debates desde una práctica pedagógica en Educación Física

 

Vânia Maria Pessoa Rodrigues*

vaniapessoa13@hotmail.com

Thiago Costa Torres**

thiagotorress1010@gmail.com

Maria Ione da Silva***

ionesilva@uern.br

 

*Graduação em Ciências Econômicas

pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN)

Graduação em Pedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Licenciatura em Educação Física pela UERN

Especialização em Metodologia do Ensino Fundamental e Médio (UVA)

e em Mídias na Educação pela UERN

Mestrado Acadêmico em Planejamento

e Dinâmicas Territoriais no Semiárido - PLANDITES/UERN

Membro do Grupo de Pesquisa Educação Física, sociedade e saúde/UERN

**Graduado em Administração pela Faculdade Kurios - FAK

Licenciatura em Educação Física pela UERN.

Especialista em Gestão Escolar: Administração, Supervisão e Orientação

Atualmente, Professor da Rede Estadual de Ensino do Ceará - SEDUC

***Licenciada em Educação Física pela UERN

Mestre em Ciências do Desporto: Especialização em Desenvolvimento da Criança

Doutorado em Ciência da Educação pela Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro.

Professora Adjunta IV do Departamento de Educação Física

da UERN, atuando na área de Formação Profissional

Atualmente é docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Ensino (PPGE/UERN)

Participa como Pesquisadora do Grupo de Pesquisa

Educação Física, Sociedade e Saúde - GPEFSS/UERN

e do Núcleo de Estudos em Educação - NEED/UERN

(Brasil)

 

Recepção: 20/03/2021 - Aceitação: 25/02/2023

1ª Revisão: 13/02/2023 - 2ª Revisão: 22/02/2023

 

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Citação sugerida: Rodrigues, V.M.P., Costa, T.T., y Silva, M.I. da (2023). Jogos competitivos e jogos cooperativos: discussões a partir de uma prática pedagógica em Educação Física. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(298), 171-186. https://doi.org/10.46642/efd.v27i298.2926

 

Resumo

    Essa pesquisa é um relato de experiência resultante de uma prática pedagógica como componente curricular originado para a disciplina do Curso de Licenciatura em Educação Física “Metodologia dos Jogos”, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). O plano de ação foi executado em uma turma do 9º ano do ensino fundamental de uma escola localizada no município de São Miguel/RN, tendo como objetivos: a construção prática do processo de ensino e aprendizagem na conceituação dos jogos cooperativos e competitivos; e ainda, vivenciar esses jogos no desenvolvimento das aulas práticas. Para tanto, empregou-se a metodologia descritiva com abordagem qualitativa. Como resultados, apresentam-se as seguintes possibilidades interpretativas: a socialização dos frutos da pesquisa bibliográfica que resultou na confecção de cartazes e exposição de slides referentes aos jogos; a confecção de tabelas com a classificação dos jogos pesquisados; e a vivência desses jogos nas aulas práticas de Educação Física. Portanto, acredita-se que os alunos desenvolveram uma construção significativa de aprendizagem em relação a tais conceitos, ideia comprovada durante o desenvolvimento das atividades propostas pelo plano de ação. Os jogos adquiriram um caráter tanto competitivo quanto cooperativo, isso reforça o ponto de vista de que o espírito da competitividade pode estar presente em quase todos os jogos. Muitas vezes, o que diferencia nesse aspecto é o modo como um mesmo jogo é proposto e jogado.

    Unitermos: Ensino. Aprendizagem. Estudantes. Interação social.

 

Abstract

    This research is an experience report resulting from a pedagogical practice as a curricular component originated for the discipline of the Physical Education Degree Course “Methodology of Games”, at the State University of Rio Grande do Norte (UERN).The action plan was carried out in a class of the 9th year of elementary education at a school located in the municipality of São Miguel/RN, with the following objectives: the practical construction of the teaching and learning process in the conceptualization of cooperative and competitive games; and also, experience these games in the development of practical classes. For that, a descriptive methodology with a qualitative approach was used. As a result, the following interpretative possibilities are presented: the socialization of the fruits of the bibliographical research that resulted in the making of posters and exhibition of slides referring to the games; the preparation of tables with the classification of the researched games; and the experience of these games in practical Physical Education classes. Therefore, it is believed that the students developed a significant learning construction in relation to such concepts, an idea proven during the development of the activities proposed by the action plan. Games acquired both a competitive and cooperative character, which reinforces the point of view that the spirit of competitiveness can be present in almost all games. Often, what differentiates in this aspect is the way in which the same game is proposed and played.

    Keywords: Teaching. Learning. Students. Social interaction.

 

Resumen

    Esta investigación es un relato de experiencia resultante de una práctica pedagógica como componente curricular originado para la disciplina de la Licenciatura en Educación Física “Metodología de los Juegos”, en la Universidad Estatal de Rio Grande do Norte (UERN). El plan de acción se realizó en una clase del 9º año de la enseñanza fundamental de una escuela ubicada en el municipio de São Miguel/RN, con los siguientes objetivos: la construcción práctica del proceso de enseñanza y aprendizaje en la conceptualización de la cooperación y la competitividad juegos; y también, experimentar estos juegos en el desarrollo de las clases prácticas. Para ello se utilizó una metodología descriptiva con enfoque cualitativo. Como resultado, se presentan las siguientes posibilidades interpretativas: la socialización de los frutos de la investigación bibliográfica que resultó en la elaboración de carteles y exhibición de diapositivas referentes a los juegos; la elaboración de tablas con la clasificación de los juegos investigados; y la experiencia de estos juegos en las clases prácticas de Educación Física. Por lo tanto, se cree que los estudiantes desarrollaron una construcción de aprendizaje significativa en relación a tales conceptos, idea comprobada durante el desarrollo de las actividades propuestas por el plan de acción. Los juegos adquirieron un carácter tanto competitivo como cooperativo, lo que refuerza el punto de vista de que el espíritu de competitividad puede estar presente en casi todos los juegos. A menudo, lo que diferencia en este aspecto es la forma en que se propone y juega un mismo juego.

    Palabras clave: Enseñanza. Aprendizaje. Estudiantes. Interacción social.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 298, Mar. (2023)


 

Introdução 

 

    Esta pesquisa apresenta um relato de experiência originado na disciplina da grade curricular do Curso de Licenciatura em Educação Física “Metodologia dos Jogos”, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, resultante do desenvolvimento de uma prática pedagógica como componente curricular deste curso. Portanto, ao tratar-se de jogos, considera-se que o mesmo tem o poder de transformar aulas comuns em momentos de ensino eficiente, criativo e prazeroso, além de proporcionar o aprendizado de determinados conteúdos à atividade lúdica, despertando interesse dos alunos pelo assunto abordado em diferentes áreas do conhecimento.

 

    Sob esse olhar, as pesquisas de Orlick (1989) e sua contribuição cientifica foram pioneiras em relação a utilização dos jogos cooperativos no campo da intervenção pedagógica. “Os jogos são importantes instrumentos de desenvolvimento de crianças e jovens. Longe de servirem apenas como fonte de diversão, o que já seria importante, eles propiciam situações que podem ser exploradas de diversas maneiras educativas”. (Vieira, 2013, p. 01)

 

    Partindo dessa discussão, é importante desmistificar a visão competitiva que circunda o universo da Educação Física, tomando como elemento norteador a proposta dos jogos cooperativos. Para Correia (2006, p. 150), essa é uma “proposta que vem se revelando como a mais nova e mais adequada tendência ou concepção da Educação Física Escolar na busca por projetos educacionais não competitivos”.

 

Imagem 1. Os jogos cooperativos têm a finalidade de mostrar que a 

colaboração é uma alternativa possível e saudável no campo das relações sociais

Fonte: Pexels.com - Foto: Rodnae Productions

 

    Também, é indiscutível que os jogos na escola podem adquirir um caráter de pedagogização, com objetivo de construção da aprendizagem ou de mudanças de comportamentos humanos, no processo de formação do sujeito. Além disso, não podemos esquecer a condição recreativa que os jogos adquirem nos festivais, comemorações, confraternizações, gincanas ou no próprio cotidiano como atividades de diversão ou passatempo. Esse valor atribuído vai depender dos objetivos do professor com a aula, da metodologia empregada e da própria concepção do docente em relação ao seu conceito sobre jogos.

 

    Pode-se afirmar que o lúdico poderá contribuir no processo de ensino-aprendizagem dos discentes, proporcionando momentos prazerosos, descontraídos e satisfatórios, caracterizando uma prática facilitadora que servirá de base às experiências pedagógicas e, consequentemente, de construção de aprendizagem.

 

    Nessa discussão, se assume uma postura com base na concepção de Brotto (2001, p. 55) de que “os jogos cooperativos devem influenciar na formação do indivíduo de modo que ele possa assumir essa identidade dentro e fora do contexto escolar”. A construção de atitudes que mesmo diante de uma situação competitiva, o aluno perceba que é necessário da ajuda do outro para vencer, ou seja, deve jogar com o outro e não contra os outros.

 

    Nesse contexto, “as turmas expostas aos jogos cooperativos, cooperaram tanto durante os jogos como em outros momentos fora do horário de aula” (Lovisolo, Borges, e Muniz, 2013, p. 133), ou seja, na vida em sociedade. Enquanto, os jogos competitivos, Brotto (2001) aponta que a competição proporciona situações capazes de eliminar a diversão e a alegria de jogar. No entanto, ou autores apresentam ideias semelhantes ao tratar dos jogos como elementos constitutivos de aprendizagem, de saberes, de formação pessoal, de caráter e de cidadania.

 

    Desse modo, a pesquisa se justifica no campo social, como objetivo de resgatar nos discentes o gosto pelo lúdico, o respeito, a valorização pelo o outro e o bem-estar. Também visa a formação de conceitos e atitudes sociais que incluem o respeito mútuo, a relação social e a cooperação de forma fundamental para a convivência em sociedade. Destaca-se a contribuição acadêmica, com a utilização dos jogos na prática pedagógica para a promoção do processo de ensino e aprendizagem de modo significativo. Em contrapartida, como profissional da Educação Física ressalta-se a importância no desenvolvimento deste plano de ação, como prática educativa de componente curricular que agrega saberes teórico-práticos.

 

    Neste pensamento, o plano de ação teve como objeto de estudo trabalhar a construção de conceitos sobre jogos cooperativos e competitivos em uma turma de 9º ano do ensino fundamental, de uma escola localizada no município de São Miguel/RN, interior do Nordeste. Para isso, buscou-se como objetivos: a construção prática do processo de ensino e aprendizagem na conceituação dos jogos cooperativos e competitivos; e ainda, vivenciar esses jogos no desenvolvimento das aulas práticas de Educação Física.

 

Jogos cooperativos versus jogos competitivos: conceitos, características e desafios 

 

    O jogo é uma necessidade básica do ser humano, é divertimento, catarse, recreio ou passatempo, liberação de emoções ou tensões reprimidas, envolve a ideia de ludicidade, a partir do caráter lúdico desenvolve-se regras pré-estabelecidas, o uso da ação corporal imaginária provoca tensão devido a liberdade limitada pelas próprias regras de conduta, ou seja, é a saída do mundo real e a entrada no mundo imaginário. (Huizinga, 2007)

 

    Assim, o lúdico que tem origem na palavra latina “ludus” quer dizer “jogo”, tem influência de forma significativa no desenvolvimento da criança como um todo. Na atualidade o lúdico pode ser considerado como capacidade de absorver o indivíduo de forma intensa e total, proporcionando entusiasmo emocional, tornando as atividades motivadas, gerando vibração e euforia. (Huizinga, 2007)

 

    Desse modo, Huizinga (2007, p. 3) posiciona-se no intuito de que “[...] o lúdico é uma manifestação cultural e é através da ludicidade que a criança irá expressar sua bagagem cultural e construir novas culturas”. Aumentando assim, a capacidade criativa e crítica, além de desenvolver o cognitivo, as emoções e o lado social juntamente com o grupo no qual está inserido.

 

    Para João Batista Freire, em seu livro Educação de Corpo Inteiro (2009), trata da apropriação do jogo para o ensino da Educação Física, o uso dos movimentos para trabalhar o desenvolvimento motor através de esquemas para desenvolver uma ação. Segundo Freire (2009), não acredita na existência de padrões de movimento, a manifestação de esquemas motores é a organização de movimentos construídos pelos sujeitos, em cada situação, construções essas que dependem, tanto dos recursos biológicos e psicológicos de cada pessoa, quanto das condições do meio ambiente em que ela vive.

 

    Assim, percebe-se que jogo é um fenômeno que vem sendo objeto de estudo de vários autores que se preocupam em traçar conceitos, características e significados. Autores como Huizinga (2007), Brotto (2001), Orlick (1989), e Barreto (2000), entre outros, vem investigando o jogo nos mais variados contextos, como por exemplo, no educacional, no esportivo, no cultural, no recreativo e no desenvolvimento pessoal e na formação do cidadão. De acordo com Alencar et al. (2019), foi identificado que os jogos em si refletem os valores que a própria sociedade vivencia, sendo que por meio dos jogos a pessoa mostra como age no seu cotidiano.

 

    Enquanto, as contribuições de Brotto (2001) apontam para o jogo com um veículo de desenvolvimento integral do ser humano, capaz de envolvê-lo em suas dimensões física, mental emocional e espiritual. A perspectiva de Brotto (2001, p. 14) aponta ainda para a visão do jogo não apenas como uma atividade lúdica, mas como uma representação da nossa forma de viver, segundo o autor: “como uma das expressões da consciência humana no dia a dia”.

 

    Para tanto, no campo da Educação Física Escolar, as práticas pedagógicas da educação brasileira são alicerçadas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento norteador de ensino que tematiza as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social. Para isso, descreve o jogo como sendo “atividades voluntárias” exercidas dentro de determinados limites de tempo e espaço, caracterizadas pela criação e alteração de regras, pela obediência ao que foi combinado coletivamente”. (Brasil, 2017, p. 215)

 

    Nessa perspectiva, com tantos estudos e informações sobre a importância dos jogos nas aulas de Educação Física, aqui o conteúdo jogos cooperativos versus jogos competitivos foi trabalhado com o objetivo de construção de conceitos, e não, como instrumento de mudança de atitudes ou de comportamentos. Antes de aprofundar essa pesquisa é importante entender o que são jogos competitivos e jogos cooperativos.

 

    Segundo De Rose Júnior (2002, p. 71), “competir é um fato normal, pois desde o nascimento o ser humano compete pela vida em todas as suas dimensões”. Porém, a competição, quando trabalhada em excesso, diminui a autoestima e aumenta o medo de falhar, reduzindo a expressão das capacidades pessoais e o desenvolvimento da criança.

 

    Brotto (2001, p. 27) acredita que “a competição é um processo onde os objetivos são mutuamente exclusivos, as ações são individualistas e somente alguns se beneficiam dos resultados”. Assim, para que alguns indivíduos alcancem seus objetivos, outros serão impedidos de alcançar os seus. Na competição, utiliza-se máscaras e nunca somos nós mesmos, pois mostrando nossas deficiências nunca somos aceitos, pois o que mais importa são os pontos que conseguimos marcar. O jogo é um caminho em que o indivíduo pode demonstrar o seu caráter e personalidade.

 

    De um lado, no desenvolvimento dos jogos cooperativos percebe-se que a interação e a graça estão presentes e que todos sentem prazer jogando, assim, não é correto afirmar que é a competição que dá graça ao jogo. Pelo contrário, a competição, na maioria das vezes, retira a diversão do jogo, pois as pessoas que jogam estão tão preocupadas com o resultado final que não se divertem. A competição gera desafio, também faz o jogador se sentir estressado, angustiado e preocupado, essa tensão só termina com o fim do jogo. Sendo assim, tudo que o jogo tem de bonito, não é apreciado, pois a ênfase está no resultado final. (Barreto, 2000)

 

    Por outro lado, ao estabelecer um paralelo em situações competitivas, os jogos permitem também que os educandos aprendam a lidar com frustrações, incertezas, desafios e conquistas. (Mendes, Paiano, e Filgueiras, 2009)

 

    A seguir o Quadro 1 proposto por Brotto (2001), apresenta algumas diferenças entre os jogos competitivos e os jogos cooperativos.

 

Quadro 1. Diferença entre jogos cooperativos e competitivos

Jogos competitivos

Jogos cooperativos

São divertidos para alguns.

São divertidos para todos.

Alguns jogadores têm o sentimento de derrota.

Todos os jogadores têm um sentimento de vitória.

Aprende-se ser desconfiado, egoísta ou se sentirem melindrados com os outros.

Aprende-se a compartilhar e a confiar.

Os perdedores ficam de fora dos jogos e simplesmente se tornam observadores.

Os jogadores estão envolvidos nos jogos por período maior, tendo mais tempo para desenvolver suas capacidades.

Os jogadores não se solidarizam e ficam felizes quando alguma coisa de “ruim” acontece aos outros.

Aprende-se a solidarizar com os sentimentos dos outros, desejando também o seu sucesso.

Os jogadores são desunidos.

Os jogadores aprendem a ter um senso de unidade.

Os jogadores perdem a confiança em si mesmo quando eles são rejeitados ou quando perdem.

Desenvolvem a autoconfiança porque todos são bem aceitos.

Pouca tolerância à derrota desenvolve em alguns jogadores em sentimento de desistência face a dificuldade.

A habilidade de perseverar face as dificuldades são fortalecidas.

Poucos de tornam bem-sucedido.

Todos encontram um caminho para crescer e desenvolver.

Fonte: Brotto (2001, p. 56)

 

    Assim, as características dos jogos competitivos apresentam comportamentos individualistas, um ato em que o indivíduo se empenha para alcançar seu objetivo, sem se preocupar com os outros; rivalidade; a competição aumenta a ansiedade. Porém, Brotto (2005) propõe algumas ideias para diminuir a competição, como por exemplo, valorizar mais o processo e menos o resultado final; fugir de jogos individuais, valorizar os jogos em grupo; propor jogos competitivos e cooperativos para que o grupo possa perceber em qual deles se sente melhor; permitir que a liderança circule pelo grupo; abrir espaço para que a intercomunicação de ideias aconteça, com a modificação das regras do jogo, emprego da criatividade, entre outras.

 

    Contudo, nos últimos anos, os jogos cooperativos vêm sendo utilizados como estratégia nos mais variados contextos, entre eles: o escolar, o organizacional, o esportivo, o recreativo e o comunitário. O desenvolvimento da cooperação como um exercício da corresponsabilidade para o aprimoramento e convivência nas relações humanas. O ser humano é socializado e socializa os seus semelhantes para a cooperação e para a competição por meio da educação, da cultura, do esporte e da informação, tornando-os sociedade solidário-cooperativa ou sociedade-competitiva. (Brotto, 2005)

 

    Esse pensamento também é descrito por Alencar et al. (2019), quando descreve que os jogos cooperativos se mostram como uma alternativa eficaz para que seja estimulado o trabalho em equipe e a participação dos alunos pensando no outro, na socialização e compartilhamento de cuidado e de responsabilidades, de modo com que todos possam ter as mesmas condições de realizar as atividades e se sentirem incluídos, sendo uma boa oportunidade para estabelecer conceitos e aprendizagens na Educação Física Escolar.

 

    De um lado, os jogos cooperativos são dinâmicas de grupo que têm o intuito de despertar a consciência de cooperação, isto é, mostrar que a colaboração é uma alternativa possível e saudável no campo das relações sociais. Por outro lado, visa promover efetivamente a participação entre as pessoas, portanto, na exata medida em que esse tipo de jogos exigem diversas experiências cooperativas. (Barreto, 2000)

 

    Nessa visão, os jogos proporcionam uma gama de alternativas que contribuem de forma significativa na construção do conhecimento sobre o conceito de jogos cooperativos e competitivos, de forma agradável e interessante para a criança. Propor jogos novos, com ideias novas, provocando um novo olhar, implementado no espaço escolar com métodos, recurso e técnicas pedagógicas inovadoras com objetivo de aprender e ensinar de forma prazerosa, cativante, que instigue no aluno a participação e compreensão entre competitivo e cooperativo, os jogos coletivos com um tipo de jogo em que há interação entre os integrantes do grupo, como senso de responsabilidade, a iniciativa individual e em grupo, bem como ao próprio desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo. (Barreto, 2000)

 

Metodologia 

 

    Trata-se de um relato de experiência de caráter descritivo com abordagem qualitativa. Para Minayo (2016), esse tipo de trabalho não se preocupa com a representatividade numérica, mas sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc. Nessa modalidade de estudo, a ação do pesquisador está intrinsecamente ligada à cultura dos sujeitos investigados, não podendo fugir das suas próprias concepções do homem e do mundo. Triviños (1987, p. 112) afirma que, “os estudos descritivos podem ser criticados porque pode existir uma descrição exata dos fenômenos e dos fatos”. Ele está relacionado com o fato de identificar as variáveis específicas, entendidas como aquelas que apresentam diferenças, alterações, inconstância, que sejam importantes para explicar as características de um problema de comportamento.

 

    O local da experiência foi a Escola Municipal Avelino Pinheiro, pública, localizada na cidade de São Miguel/RN, interior do Nordeste. Ocorreu em uma turma de 9º ano do ensino fundamental, composta por vinte e oito (28) alunos, com faixa etária de quatorze a dezoito anos de idade, sendo dezesseis (16) do gênero masculino e doze (12) do feminino. O motivo de escolha dessa escola e da turma se deu em virtude de ser o local de trabalho onde exerço a função de professora. As aulas de Educação Física nesta instituição são duas semanais, com cinquenta minutos de duração cada, foram utilizadas oito (08) aulas mensais no desenvolvimento do plano que obedeceram a seguinte descrição acerca do campo de pesquisa, ou seja, das aulas conforme Quadro 2 a seguir.

 

Quadro 2. Descrição das atividades do Plano de Ação

Descrição das aulas

Atividades propostas

 

Primeira aula

Roda de conversa; exposição verbal sobre os jogos cooperativos e jogos competitivos; levantamento dos conhecimentos prévios; realização da atividade “jogo do contrário”.

 

Segunda aula

Pesquisa bibliográfica em grupos abordando os temas: conceito de jogos cooperativos e jogos competitivos; as características; os princípios; e atividades práticas.

 

Terceira aula

Pesquisa individual, através de um questionário com três perguntas abertas: quais os jogos praticados pelos alunos? Os jogos praticados pelos pais e/ou responsáveis? Os jogos observados na rua? Confecção de um quadro, onde realizou-se a classificação dos jogos pesquisados em cooperativos ou competitivos.

Quarta aula

Vivência prática na quadra da escola a partir dos resultados da investigação de grupo e individual.

Fonte: Elaborado pelos autores

 

    Na primeira aula, realizamos um bate-papo com diversos questionamentos, como por exemplo, a atividade “jogo do contrário” pode ser considerada como um jogo? O que você entende por jogo? Quem gosta de jogar? Quais os jogos que vocês conhecem? Qual seu tipo de jogo preferido? Onde o jogo acontece (espaço)? Os jogos têm regras? Os jogos geram competição? As regras podem ser modificadas? A partir dessas indagações, os alunos expressaram sua visão acerca do que conhecem sobre jogos e expuseram alguns exemplos. Na segunda, foi proposto a realização de uma pesquisa bibliográfica em grupos e de algumas atividades práticas que seriam executados na quadra poliesportiva da escola.

 

    Na terceira aula, procurou-se identificar o conteúdo jogos cooperativos versus jogos competitivos na vivência social dos alunos, por meio de um questionário individual que foi respondido por eles. Após a análise em conjunto, os resultados foram colocados em um quadro. O quarto momento compreendeu as aulas práticas realizadas na quadra da respectiva escola. A vivência dos jogos envolveu os pesquisados pelos alunos, tanto na pesquisa grupal como na individual, visando o aprimoramento do conceito de jogos cooperativos e competitivos, das características e da modificação das regras. Também a discussão com levantamentos de questionamentos na prática dos jogos, as diferenças entre jogos competitivos e cooperativos, os objetivos impregnados em cada proposta de atividade. Desse modo, sempre que era feito alguma atividade encerrava-se com uma roda de conversa afim de identificar as aprendizagens construídas.

 

    Em seguida, apresenta-se uma visão geral da execução do plano de ação sobre os jogos cooperativos e competitivos de acordo com o planejamento, onde procurou-se evidenciar o conteúdo jogos no contexto da Educação Física Escolar, reconhecendo a sua importância, legitimidade, criatividade e o contexto social em que os estudantes estão inseridos.

 

Relato de experiência curricular 

 

    Essa pesquisa permitiu realizar a coleta de dados em dois momentos distintos. Primeiro, fruto do resultado da pesquisa bibliográfica grupal proposta pelo professor aos discentes, conforme descrito no plano de ação. Segundo momento, uma investigação individual com os alunos e pais/ou responsáveis sobre os jogos cooperativos e competitivos.

 

    Na primeira etapa foram socializados os resultados da pesquisa de grupos colhida pelos alunos, como: conceitos, características, princípios e alguns jogos cooperativos e competitivos que foram vivenciados nas aulas práticas. O produto resultou na confecção de cartazes e slides que foram coletivizados e expostos na sala de aula atendendo ao objetivo da atividade proposta.

 

    A Educação Física Escolar, influenciada pelo esporte de rendimento, incorpora facilmente a ideia da competição, sendo este um fenômeno cultural e humano tão presente no contexto da escola. A questão da competição, em nossa cultura dita civilizada, não é apenas estabelecer e reforçar uma relação de dominação entre ganhadores e perdedores, mas a tentativa de justificar e fazer acreditar que essa condição pode ser revertida nos jogos (Correia, 2006). É o caso dos jogos competitivos que podem ter as suas regras modificadas e serem transformados em jogos cooperativos. Isso vai depender do olhar do docente em relação a esse conteúdo, porque "na atuação profissional em campo de trabalho que ora se expandem e ora se contraem de acordo com a irracionalidade do capital". (Taffarel, 2018, p. 24-25)

 

    Em relação à pesquisa dos alunos sobre conceito e características um grupo descreveu o seguinte: jogos competitivos tem como principal finalidade a competição entre os participantes. Porém, é importante criar uma face educativa, para ensinar crianças e adolescentes que perder ou ganhar não é o que importa, mas sim, fazer com que todos trabalhem por um objetivo em equipe. Os participantes dos jogos competitivos consideram os outros jogadores adversários, enquanto as pessoas envolvidas em jogos cooperativos relacionam os outros jogadores como parceiros. (Brotto, 2001)

 

    Assim, a investigação dos discentes é uma discussão apresentada por Brotto (2001) ao afirmar que nos jogos, os valores, princípios e crenças presentes, podem ensinar a solidariedade e a integração ou o individualismo e a exclusão. Isso significa que esses jovens e crianças precisarão de uma educação e de uma formação com valores diferentes da competição, da segregação e da discriminação. A Educação Física Escolar, apoiada nos referenciais dos jogos cooperativos, pode e deve assumir esse compromisso.

 

    De um lado, Darido (2001, p. 8) apresenta os jogos cooperativos como uma nova tendência na Educação Física e afirma que eles “se constituem numa proposta diferente das demais”, ao valorizar a cooperação em lugar da competição. Sugere um aprofundamento nas análises filosóficas e sociológicas e dos efeitos do capitalismo sobre a competição e cooperação na sociedade contemporânea em relação ao jogo. Sobre isso, os alunos apresentaram as características de cada jogo a seguir.

 

    Por outro lado, a pesquisa dos alunos sobre os jogos competitivos apresentou o pensamento de Orlick (1989), ao relatar que têm como essência estimular a competição entre os participantes, porém, é importante criar uma face educativa, para ensinar crianças e adolescentes que perder ou ganhar não é o que importa, e sim, fazer com que todos trabalhem por um objetivo comum. Jogos cooperativos são jogos que facilitam a aproximação e a aceitação, onde a ajuda entre os membros torna-se essencial para se alcançar o objetivo final.

 

    Assim, ao estabelecer um paralelo entre as características desses jogos, resgatando as brincadeiras dos alunos e adaptá-las à proposta dos jogos cooperativos, observamos um método e uma oportunidade para conceber um diálogo mais próximo com os discentes. Ao permitir a participação deles na construção de conceitos, na classificação e nas vivencias, o docente coloca-se em condição de igualdade e estabelece um exemplo efetivo de como abrir caminho para cooperação, o diálogo, o aprendizado recíproco e a busca de convergências.

 

    Nesse sentido a educação, como processo singular, intencional e desafiador, tem suas fronteiras desenhadas pelos fios das relações. Esses “fios preciosos” nos convidam a deixar de olhar em perspectiva, para uma única direção, e olhar também com os olhos da experiência do outro, que provocam e aumentam nosso campo de visão - para olhar, atentar, ver melhor, mais longe e com mais profundidade. (Venâncio, 2014, p. 20-21)

 

    Esse é um pensamento de que o processo de ensino e de aprendizagem ocorre em mão dupla, ou seja, durante o processo tanto aluno com professor está em constante aprendizagem. A cooperação refere-se ao envolvimento e à participação dos estudantes nos jogos, mostrando aumento da colaboração, da solidariedade, da amizade e do respeito mútuo. Os jogos cooperativos, ao permitir aos alunos uma nova forma de jogar, melhoram a interação social, levando-os a perceber a possibilidade de haver divertimento sem a competição a que estão acostumados. Pode-se identificar essas características nas atividades pesquisadas, como por exemplo, nas experimentadas pelos alunos.

 

    Em relação a um dos jogos vivenciados durante a execução do plano de ação, foi realizado o jogo cooperativo: dança das cadeiras, é semelhante ao tradicional, onde os participantes depois do termino da música terão que se sentar, porém, quem sai não é o participante, e sim a cadeira, ao final, todos têm que se sentar em uma única cadeira, estabelecendo o princípio colaborativo necessário para a execução da atividade.

 

    No entanto, ressalta-se que não é possível afirmar que os jogos cooperativos podem mudar sozinho a realidade competitiva de uma escola, sistema educacional e, muito menos da sociedade, no entanto admite-se a possibilidade de se plantar algumas sementes cooperativas, que podem germinar e reproduzir novos frutos. Mudanças sociais e educacionais consistentes processam-se lentamente. Os jogos cooperativos na Educação Física Escolar podem colaborar para o processo de ensino e aprendizagem, mas a escola, os professores e os sistema educacional precisam trabalhar no sentido da integração, ou seja, terão de fazer a sua parte. O grande desafio é levar a cooperação além do prazer do jogo e da aula de Educação Física. Pois, “o objetivo primordial dos jogos cooperativos é criar oportunidades para o aprendizado cooperativo e a interação cooperativa prazerosa”. (Orlick, 1989, p. 123)

 

    Em opinião de outros autores, é possível notar que os jogos cooperativos não são exclusividade da Educação Física em si. Eles devem fazer parte, inclusive, da rotina dos próprios professores, independentemente da área de atuação, não somente da parte pedagógica. No entanto, fazendo a relação com a Educação Física Escolar, o professor necessita se atentar em possibilitar as diversas manifestações de conhecimento e do movimento corporal, não apenas focar nos jogos competitivos e nas modalidades esportivas em si, mas fazer uso dos jogos cooperativos como estratégias eficazes que pode ser utilizada no processo de ensino-aprendizagem. (Alencar et al., 2019)

 

    Em consequência disso, nota-se que a Educação Física, junto com outras áreas do conhecimento, deve se manter firme na defesa do direito de todos de acessar o mais elaborado da cultura humana, para criticá-lo, entendê-lo, explicá-lo e reconstruí-lo e, pela garantia do acesso ao conteúdo e do enfrentamento das contradições, construir a seu processo de aprendizagem. (Taffarel, 2018)

 

    Desse modo, em função da pesquisa de campo individual e utilizando-se de uma adaptação da análise de conteúdo proposta por Bardin (2016, p. foi proposto a confecção de uma tabela referente ao resultado da pesquisa de campo envolvendo as três questões: os jogos que vocês têm, jogam ou conhecem; os jogos que seus pais, avós ou responsáveis conheciam ou jogavam na época deles, quando crianças ou jovens; os jogos que vocês vêem na rua em seu cotidiano.

 

    Segundo Alencar et al. (2019), a inclusão dos jogos cooperativos, no contexto escolar, é importante pelo fato de aproximar as pessoas umas das outras, compartilhar conhecimentos e fazem com que as ações sejam pensadas no bem-estar de todos. Por isso, essa investigação apresentou conhecimentos semelhantes dentre os pesquisados, conforme resultado a seguir.

 

Quadro 3. Resultado da pesquisa dos Jogos de acordo com os respondentes

Jogos dos alunos

Jogos dos pais e/ou responsáveis

Jogos observados na rua

Dança da cadeira

Jogo de bila (bola de gude)

Sete pecados

Corrida de saco

Amarelinha

Amarelinha

Passe a bola

Bandeirinha

Queimada

Jogo da velha

Queimada

Pega-pega

Dama

Pega-pega

Bandeirinha

Queimada

Baralho

Polícia e ladrão

Bandeirinha

Dominó

Jogo de bola de gude

Uno

Peteca

Trisca

Futebol de botão

Jogo de castanha

Pique Bandeira

Fonte: Elaborado pelos autores

 

    De acordo com o resultado da aplicação de questionário a alunos, pais ou responsáveis e jogos observados nas ruas, verificou-se pouca variação entre a visão dos pesquisados e os tipos de jogos cooperativos ou competitivos apontados pela investigação. Observou-se que muitos dos jogos se repetem, isso indica que eles ultrapassam as gerações e estão presentes na cultura do povo. Também é estabelecido uma confusão entre o que seja jogo e o que seja brincadeira. Porém, os autores a seguir fazem uma definição específica. Segundo Velasco (1996), a brincadeira é uma forma de divertimento típico das crianças, é uma excelente oportunidade para que elas vivam experiências que irão ajudá-las a amadurecer emocionalmente e aprender a conviver ricamente com o outro, não implica necessariamente em compromissos, planejamento e seriedade, mas, que ajuda no desenvolvimento e na socialização.

 

    Na visão de Huizinga o jogo é uma atividade ou ocupação voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotando de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana. (2007, p. 30).

 

    No entanto, o jogo e a brincadeira caminham juntos desde o momento que se tem registro e lembranças de uma criança que joga e brinca. Eles adquirem características em cada momento histórico e em cada cultura. Eles estão intrinsecamente interligados com o nosso cotidiano, muito mais do que supomos, sendo esses importantes na formação do indivíduo e no processo educacional.

Em seguida, partindo-se da análise das três questões propostas, juntamente com os alunos realizou-se a classificação dos jogos, adquirindo a divisão apresentada no Quadro 3.

 

Quadro 4. Classificação dos Jogos a partir da pesquisa individual, 

alunos do 9º ano, Escola Municipal Avelino Pinheiro, São Miguel/RN

Jogos Cooperativos

Jogos Competitivos

Trisca

Pega-pega

Polícia ladrão

Jogo de castanha

Chute às cegas

Sete pecados

Cabo de guerra

Jogo da velha

Jogo da Peteca

Bandeirinha

Dança da cadeira cooperativo

Queimada

Telefone sem fio

Dança das cadeiras

Pique ajuda

Jogo de Bila (bola de gude)

Passe a bola

Dama

Fonte: Elaborado pelos autores

 

    Assim, percebemos-se pelas respostas que muitos dos jogos adquirem um caráter tanto competitivo quanto cooperativo. Isso reforça a ideia de que o espírito da competitividade pode estar presente em quase todos os jogos. Muitas vezes o que diferencia esse aspecto é o modo como o mesmo jogo é proposto e jogado. Também, o objetivo que se tem em mente ao propor determinado jogos, isso faz a diferença.

 

    Pode-se afirmar que, em razão da execução deste plano de ação como prática pedagógica de componente curricular, a mudança desse olhar é fundamental, já que os discentes inicialmente, não costumavam ver os professores das escolas como proporcionadores da produção de saberes, geralmente os educadores são possuidores de uma cultura específica relacionada ao ensino, o que prejudica uma construção e socialização mais próxima e efetiva das aprendizagens sobre e com os jogos na Educação Física Escolar. (Souza Neto, Sarti, e Benites, 2016)

 

    Desse modo, desde que contextualizada, a proposta de ação sobre os jogos cooperativos e competitivos pode ser uma forma de educação transformadora. É preciso lembrar e afirmar que a cooperação abrange uma dimensão muito além da simples modificação e alteração dos jogos, bem como, além da mera intenção de proporcionar momentos de alegria e descontração. É preciso entender os jogos cooperativos como um exercício de oposição à competição, à dominação, às injustiças e às desigualdades nas relações sociais a que as pessoas estão submetidas na sociedade atual.

 

Conclusões 

 

    As experiências com jogos têm demonstrado que é possível seu uso na construção do processo de ensino e de aprendizagem, quer seja na elaboração de conceitos, de valores e formação de cidadania. Também é possível verificar que há muito a se apreender e a refletir sobre como desmistificar a competição e as questões de rendimento para levar a cooperação além do espaço e do momento do jogo para a vida social.

 

    A aplicação das atividades, antes e depois, produziram resultados satisfatórios. Isso se deve a diversos fatores, um deles é a abertura da escola e do docente à renovação e dinâmica diferenciada no modo de ensinar e estimular os discentes ao desenvolvimento do pensamento crítico e autonomia. Outro ponto importante foi a abordagem ao conteúdo jogos, que possibilitaram aos participantes um modo diferente de jogar e aprender com o outro, mostrando que é divertido quando todos jogam juntos. Por último, e talvez o mais importante, o relacionamento de carinho e espontaneidade dos alunos, para com o outro, para com o professor e vice-versa. Nesse sentido, acredita-se que durante as aulas criou-se um ambiente de amizade, cumplicidade, confiança e de aprendizagem significativa na constituição dos conceitos relacionados aos jogos cooperativos e competitivos por meio da práxis/vivência.

 

    Durante as aulas percebeu-se a utilidade das rodas de conversa e do método de pesquisa que a escola utilizou para ensinar aos alunos. Eles foram participativos, ativos e responsáveis. Desse modo, conclui-se que esta experiência permitiu muitas conquistas, tanto para o docente que executou o plano de ação, quanto para os discentes na construção de novos conhecimentos. Além disso, identificou-se que muitos dos jogos adquiriram um caráter tanto competitivo quanto cooperativo, ideia verificada durante a elaboração dos conceitos e na execução das atividades planejadas. Isso reforça o ponto de vista de que o espírito da competitividade pode estar presente em quase todos os jogos. Muitas vezes, o que diferencia nesse aspecto é o modo como um mesmo jogo é proposto e jogado.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 298, Mar. (2023)