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ISSN 1514-3465

 

Contribuições dos jogos cooperativos na 

Educação Física escolar. Uma revisão integrativa

Contributions of Cooperative Games in School Physical Education. An Integrative Review

Aportaciones de los juegos cooperativos en la Educación Física escolar. Una revisión integradora

 

Aylla Alexa Oliveira*

alex.oliver.2017@hotmail.com

Taysa de Souza Ferreira**

taysataysa3@gmail.com

Gildiney Penaves de Alencar***

gildiney.gpa@gmail.com

 

*Faculdades Integradas de Cassilândia/Instituto de Educação

e Pesquisa Alfredo Torres (FIC/IEPAT)

Pós-Graduação em Educação Física Escolar e Inclusiva. Campo Grande

**Faculdades Integradas de Cassilândia/Instituto de Educação

e Pesquisa Alfredo Torres (FIC/IEPAT)

Pós-Graduação em Educação Física Escolar e Inclusiva. Campo Grande

***Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Centro de Estudos e Pesquisas em Atividade Física e Saúde (CEPAFS)

Faculdades Integradas de Cassilândia/Instituto de Educação

e Pesquisa Alfredo Torres (FIC/IEPAT)

Docente do curso de Pós-Graduação em Educação Física Escolar

e Inclusiva. Campo Grande, MS

(Brasil)

 

Recepção: 19/01/2021 - Aceitação: 29/05/2022

1ª Revisão: 20/05/2022 - 2ª Revisão: 23/05/2022

 

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Oliveira, A.A., Ferreira, T. de S., e Alencar, G.P. de (2022). Contribuições dos jogos cooperativos na Educação Física escolar. Uma revisão integrativa. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(290), 146-157. https://doi.org/10.46642/efd.v27i290.2801

 

Resumo

    Os jogos cooperativos possibilitam ao aluno a sua inclusão social, a sua motivação e o seu aprendizado aos elementos básicos de formação do indivíduo. Neste sentido, o objetivo deste estudo foi descrever as contribuições dos jogos cooperativos na Educação Física escolar. Utilizou-se como metodologia um estudo de revisão integrativa em artigos publicados nas bases de dados Lilacs, SciELO, DOAJ e Dialnet no período de 2006 a 2020, disponíveis em meio online no idioma português e espanhol através das combinações dos descritores exatos e sinônimos pelos termos “jogos cooperativos” e “educação física”. Foram encontrados 20 artigos e, após a aplicação dos filtros e os critérios de inclusão/exclusão foram selecionados oito artigos para a amostra final. Verificou-se que a aplicação dos jogos cooperativos nas ações didático-pedagógicas dos docentes possui diversas vantagens, como diminuir a evasão dos alunos nas aulas de educação física, reduzir a falta de interesse na participação, bem como a inclusão dos alunos com os demais colegas. Apesar dos jogos cooperativos serem aplicados nas aulas de Educação Física, salienta-se a importância de agregar este conteúdo na grade curricular do componente para que os valores como a solidariedade, o respeito mútuo e o trabalho em equipe sejam constantemente reforçados durante as aulas e possam ser transferidos para a vida social, o que denota sua contribuição no comportamento individual e coletivo dos alunos.

    Unitermos: Jogos cooperativos. Educação Física. Inclusão escolar.

 

Abstract

    Cooperative games allow the student to be socially included, motivate and learn the basic elements of the individual's formation. In this sense, the objective of this study was to describe the contributions of cooperative games in school Physical Education. An integrative review study was used as a methodology in articles published in the Lilacs, SciELO, DOAJ and Dialnet databases from 2006 to 2020, available online in Portuguese and Spanish through combinations of exact descriptors and synonyms for the terms “cooperative games” and “physical education”. Twenty articles were found and, after applying the filters and the inclusion/exclusion criteria, eight articles were selected for the final sample. It was verified that the application of cooperative games in the didactic-pedagogical actions of the teachers has several advantages, such as reducing the dropout of students in physical education classes, reducing the lack of interest in participation, as well as the inclusion of students with other colleagues. Although cooperative games are applied in Physical Education classes, it is important to add this content to the component's curriculum so that values ​​such as solidarity, mutual respect and teamwork are constantly reinforced during classes and can be transferred to social life, which denotes their contribution to the individual and collective behavior of students.

    Keywords: Cooperative games. Physical Education. School inclusion.

 

Resumen

    Los juegos cooperativos posibilitan la inclusión social del alumno, su motivación y el aprendizaje de los elementos básicos de la formación del individuo. En este sentido, el objetivo de este estudio fue describir las contribuciones de los juegos cooperativos en la Educación Física escolar. Se utilizó como metodología un estudio de revisión integradora de artículos publicados en las bases de datos Lilacs, SciELO, DOAJ y Dialnet de 2006 a 2020, disponibles en línea en portugués y español mediante combinaciones de descriptores exactos y sinónimos para los términos “juegos cooperativos” y “educación física”. Se encontraron veinte artículos y, después de aplicar los filtros y los criterios de inclusión/exclusión, se seleccionaron ocho artículos para la muestra final. Se verificó que la aplicación de juegos cooperativos en las acciones didáctico-pedagógicas de los docentes tiene varias ventajas, como reducir la deserción de los estudiantes en las clases de Educación Física, reducir el desinterés por la participación, así como la inclusión de los estudiantes con otros compañeros. Si bien los juegos cooperativos se aplican en las clases de Educación Física, es importante incorporar este contenido a todos los componentes del currículo para que valores como la solidaridad, el respeto mutuo y el trabajo en equipo sean constantemente reforzados durante las clases y puedan ser transpuestos a la vida social, lo que denota su contribución al comportamiento individual y colectivo de los estudiantes.

    Palabras clave: Juegos cooperativos. Educación Física. Inclusión escolar.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 290, Jul. (2022)


 

Introdução 

 

    O processo de inclusão dos alunos nas aulas de Educação Física é um assunto que tem preocupado os docentes das mais diversas áreas do conhecimento, dentre elas a Educação Física (Lopes, Oliveira, e Alencar, 2021; Santos, Silva, e Alencar, 2021). Grande parte dessa preocupação está relacionada com a falta de motivação dos educandos para os estudos e participação de forma geral. (Güntzel, e Lemos, 2014)

 

    Uma das ferramentas utilizadas para promover a inclusão nas aulas de Educação Física é a aplicação de jogos, estratégia em que o aluno aprende, internaliza novos comportamentos, verbaliza, entra em comunicação com os demais e, consequentemente, se desenvolve (Negrine, 1995; Franchi, 2013; Souza, Ferreira, Sinésio, Pissurno, e Alencar, 2022). Dentre esses jogos, os cooperativos se mostram como uma forma de diminuir as manifestações agressivas nos jogos, de maneira que sejam promovidas atitudes de sensibilidade, cooperação, comunicação, alegria e solidariedade (Amaral, 2007; Brotto, 2013), além de promover o estímulo à corporeidade. (Alencar, Pereira, Pereira, Oliveira, Morais, e Ota, 2019a)

 

    Vieira (2013, p. 2) afirma que através dos jogos cooperativos os alunos podem “experimentar e vivenciar novas maneiras de jogar, sem a preocupação de ganhar ou perder, mas sim de cooperar e ajudar”, conceitos e valores que podem ser utilizados pelo indivíduo para toda a sua vida social e não somente no âmbito escolar. (Silva, 2018)

 

    Para Campassi Junior (2009) os jogos cooperativos possibilitam ao aluno a sua inclusão social, a sua motivação e o seu aprendizado aos elementos básicos de formação do indivíduo, entre eles solidariedade, respeito e convivência. Além disso, promove a superação do “individualismo, egoísmo, segregação e valorização exacerbada da competição”, fato relevante que possibilita a “socialização na sala de aula”. (Campassi Junior, 2009, p. 21)

 

    É importante citar que os jogos cooperativos não devem prevalecer diante dos outros conteúdos na grade curricular de ensino, mas sugere-se que eles façam parte da estruturação dos demais, trazendo uma nova perspectiva para a participação dos alunos nas aulas. (Alencar, Pereira, Pereira, Oliveira, Morais, e Ota, 2019b)

 

Imagem 1. Os jogos cooperativos se mostram como uma forma de diminuir as manifestações agressivas

Imagem 1. Os jogos cooperativos se mostram como uma forma de diminuir as manifestações agressivas

Fonte: Pexels.com - Foto: Cottonbro

 

    A evasão dos alunos nas aulas de Educação Física (Maffei, Reis, e Verardi, 2021), a constante falta de interesse na participação mais assertiva nas atividades práticas e teóricas (Badan et al., 2021), o baixo aproveitamento dos alunos menos aptos e com menores habilidades motoras nas aulas (Silva, Reis, Carneiro, Bruzi, e Silva, 2021) se apresentam como fatores desafiadores para o professor.

 

    Diante deste contexto, este estudo teve como objetivo descrever o objetivo deste estudo foi descrever as contribuições dos jogos cooperativos na Educação Física escolar.

 

Metodologia 

 

    Trata-se de um estudo de revisão integrativa, um tipo de metodologia com o objetivo de sintetizar os resultados de um determinado tema. O percurso para a realização desta pesquisa seguiu as recomendações de Whittemore, e Knafl (2005), que apresentam cinco passos para a revisão integrativa:

 

    1º passo – Identificação do problema: O problema de pesquisa foi estabelecido por fatores de interesse que envolvem a questão norteadora: Quais são as contribuições dos jogos cooperativos na Educação Física escolar?

 

    2º passo – Busca na literatura: As buscas nas bases de dados se fizeram através das combinações dos descritores exatos e sinônimos pelos seguintes termos “jogos cooperativos” AND “educação física”, sendo utilizadas as bases de dados Lilacs, SciELO, DOAJ e Dialnet.

Foram incluídos artigos com texto completo disponível em meio online no idioma português e espanhol, no período de 2006 a 2020, e que respondesse à questão norteadora deste estudo. Foram excluídos os estudos que não possuíam o texto completo disponível em meio online, os escritos em outras línguas que não o português e o espanhol, os artigos de revisão e aqueles estudos publicados fora do período estipulado.

Dos artigos encontrados foi realizada a leitura do título, resumo e palavras-chave para a pré-seleção dos estudos. Os pré-selecionados foram lidos na íntegra e aqueles que respondiam à questão norteadora compuseram a amostra final deste estudo.

 

    3º passo – Avaliação dos dados: Para esta etapa foi elaborado um instrumento com as principais informações dos artigos selecionados para compor a amostra com os seguintes elementos: a) base de dados; b) autor(es) e ano de publicação; c) país e/ou cidade e público-alvo; d) objetivo; e) principais resultados.

 

    4º passo – Análise dos dados: Nesta etapa foram realizadas categorizações para melhor expor os resultados da revisão e a discussão dos dados, sendo elas: a) caracterização da amostra; b) avaliação dos artigos; c)aplicação dos jogos cooperativos na Educação Física escolar; d) jogos cooperativos como ferramenta de inclusão.

 

    5º passo – Apresentação dos resultados: Procedeu a realização deste estudo que mostra de forma concisa as etapas da revisão integrativa e sintetiza as informações referentes às contribuições dos jogos cooperativos na Educação Física escolar.

 

Resultados 

 

Caracterização da amostra 

 

    A busca nas bases de dados pesquisadas resultou em 20 artigos, sendo: Lilacs (5 artigos), SciELO (1 artigo), DOAJ (3 artigos) e Dialnet (11 artigos).

 

    Após a aplicação dos filtros nas bases de dados, critérios de inclusão e exclusão, leitura dos títulos, resumos, palavras-chave, foi realizada a leitura completa dos 20 artigos encontrados, sendo excluídos 12 artigos, pois 10 artigos não abordavam a temática específica deste estudo e dois estavam repetidos nas bases eletrônicas. A amostra final foi composta por oito artigos, oriundos das bases Lilacs (n=1), SciELO (n=1), DOAJ (n=3) e Dialnet (n=3) (Figura 1).

 

Figura 1. Fluxograma da etapa de seleção dos artigos

Fonte: Elaborado pelos autores

 

Avaliação dos artigos 

 

    Os oito artigos que constituíram este estudo de revisão integrativa foram avaliados de acordo com as seguintes variáveis: a) base de dados;b) autor(es) e ano de publicação; c) país e/ou cidade e público-alvo; d) objetivo; e) principais resultados (Quadro 1).

 

Quadro 1. Avaliação dos artigos selecionados de acordo com a ordem cronológica de publicação

Base

Autor(es) e ano de publicação

País e/ou cidade e público-alvo

Objetivo

Principais resultados

Dialnet

Baliulevicius et al. (2006)

- Brasil, Rio de Janeiro.

- 14 professores da Rede Municipal do Rio de janeiro, em exercício no Clube Escolar Mangueira.

- Investigar a percepção dos docentes sobre a utilização dos jogos cooperativos nas aulas de Educação Física.

- Os professores concordam no uso dos jogos cooperativos para diminuir a agressão e a criminalidade nas escolas.

- Os docentes afirmam que os jogos cooperativos se caracterizam como uma estratégia para inserir o aluno nas aulas de forma prazerosa, dentro de suas possibilidades (física, motora e cognitivas).

Dialnet

Correia (2007)

- Brasil, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

- Relato de trabalho de um docente e pesquisador em jogos cooperativos.

- Relatar a experiência de cinco anos, como docente e pesquisador interessado nos jogos cooperativos, apontando possibilidades e desafios para novos estudos e o trabalho na Educação Física escolar.

- Existe desconhecimento por parte dos professores quanto aos jogos cooperativos, necessitando de constantes reciclagens.

- A grande parte das experiências com jogos cooperativos se mostram positivas.

DOAJ

Silva et al. (2012)

- Brasil, Paraná.

- 25 alunos do 6º ano do ensino fundamental.

- Identificar a contribuição dos jogos cooperativos na escola como meio socializador entre crianças.

- As experiências com o uso dos jogos cooperativos permitiram a formação física, afetiva e social dos alunos.

DOAJ

Fonseca et al. (2013)

- Brasil, Santa Catarina, Mafra.

- 11 estudantes com idade entre 7 e 12 anos.

- Analisar as relações interpessoais dos alunos utilizando jogos cooperativos nas aulas de educação física.

- Os jogos cooperativos podem ser utilizados nas aulas para estimular o autoconhecimento, a interação e a cooperação entre os alunos.

DOAJ

Menoti et al. (2014)

- Brasil, São Paulo, Presidente Prudente.

- 26 alunos de uma escola municipal do Ensino Fundamental do 3º ano, com idade média de 8 anos.

- Estimular por meio de jogos cooperativos a formação de valores humanos.

- A aplicação de jogos cooperativos como recurso pedagógico é uma ótima estratégia no resgate dos valores dos alunos como cooperação, perseverança e solidariedade, permitindo melhoras significativas nas atitudes comportamentais.

Dialnet

Amaral et al. (2017)

- Brasil, Minas Gerais.

- 20 alunos, entre 9 e 12 anos de idade, do 4º. e 5º. do Ensino Fundamental.

- Aplicar atividades envolvendo jogos cooperativos nas aulas de Educação Física.

 

- Essa técnica fomentou a inclusão dos alunos por meio dos jogos cooperativos para a promoção da autorregulação.

LILACS

Andueza et al. (2017)

- Espanha.

- 78 alunos, entre 8 a 9 anos, do 3º. ano do ensino fundamental.

- Medir por meio de questionários antes e depois de aplicadas as dinâmicas com técnicas de jogos cooperativos para ver se ocorreram mudanças no grupo de alunos.

- Os jogos cooperativos proporcionaram um aumento na escala de aceitação, especialmente em mulheres.

- Diminuição do número de alunos isolados.

- Fortalecimento da dinâmica em grupo.

SCIELO

Jordá-Espi et al. (2019)

- Espanha, província do Alicante.

- 70 estudantes com idades entre 10 e 12 anos da 5ª e 6ª série do ensino fundamental

- Identificar a percepção emocional dos estudantes em jogos cooperativos e competitivos na aula de educação física, de acordo com o sexo.

- As mulheres percebem mais os efeitos positivos que os homens, nos jogos cooperativos.

- Nos jogos competitivos os homens percebem mais os efeitos negativos que as mulheres.

Fonte: Elaborado pelos autores

 

Discussão 

 

Aplicação dos jogos cooperativos na Educação Física escolar 

 

    O uso dos jogos cooperativos nas aulas de Educação Física permite que os alunos vivenciem diversas situações em que é exigida a ação de pensar no outro, trabalhar em equipe e aprender a lidar com suas próprias emoções, de modo a respeitar o próximo (Santos, e Correia, 2020). Na pesquisa de Amaral, e Cunha (2017) realizada no Brasil, as atividades aplicadas nas aulas de Educação Física envolveram os jogos cooperativos para 20 alunos entre nove e 12 anos de idade, do 4º e 5º ano do Ensino Fundamental, onde os autores puderam constatar que essa estratégia pedagógica permitiu a promoção da autorregulação nas crianças, as quais vivenciaram momentos de afetividade, inclusão, reflexão, compreendendo os significados sobre a importância da participação em grupo.

 

    Na Espanha, Jordá-Espi et al. (2019) aplicaram os jogos cooperativos e competitivos com 70 estudantes do 5º e 6º ano do Ensino Fundamental, entre 10 a 12 anos, os quais experimentaram vários jogos como atravessar o lago, operação bancária, espiral, luta suíça, futebol sem bola, entre outros, com o objetivo de que os alunos experimentassem emoções agradáveis (afetividade) para compreenderem melhor o seu corpo e suas habilidades motoras. Como resultado, os autores verificaram que as alunas (sexo feminino) demonstraram maior capacidade de ser autoconhecer utilizando os jogos cooperativos e, por sua vez, os alunos do sexo masculino se destacaram na aplicação dos jogos competitivos, o que se torna viável a realização dois tipos de jogos durante as aulas para que ambos os gêneros tenham vivências com essas técnicas, se autoconhecendo. (Jordá-Espi et al., 2019)

 

    Esses resultados fortalecem a perspectiva de que a criança precisa experimentar emoções negativas, resultante da derrota, como os sentimentos positivos desencadeados pela vitória, além de vivenciarem os jogos cooperativos como forma de estimular a autoestima e a inclusão social.

 

    Diante das experiências do cotidiano escolar, Correia (2007) afirma que nenhuma abordagem que envolve os jogos cooperativos é incoerente ou incompatível no contexto escolar, desde que seja levado em conta as experiências sociais, políticas e culturais que os alunos vivenciam fora deste ambiente. Além disso, durante o período que ministrou cursos e oficinas no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, o autor destaca a necessidade de constantes reciclagens por parte dos professores para que consigam aplicar os jogos cooperativos em suas aulas, promovam o comportamento coletivo nos alunos, estimule a cooperação e a solidariedade para contrapor a competição exacerbada nas ações didáticas dentro da Educação Física. (Mezzaroba, Santana, Rodrigues, Lisboa, Santos, e Zoboli, 2021)

 

Jogos cooperativos como ferramenta de inclusão 

 

    Além de ser uma estratégia para unir os alunos dentro do campo escolar e promover a inclusão, os jogos cooperativos se mostram como uma forma de permitir a socialização dos educandos. (Amaral, e Cunha, 2017; Andueza, e Lavega, 2017; Baliulevicius, e Macário, 2006; Correia, 2007; Fonseca, e Silva, 2013; Jordá-Espi et al., 2019; Menoti, Lima, e Lima, 2014; Silva et al., 2012)

 

    Os jogos cooperativos permitem tratar assuntos internos (aceitação, perseverança, confiança, autoestima), bem como valores coletivos (solidariedade e cooperação) (Menoti, Lima, e Lima, 2014). Além disso, os autores também reforçam que a aplicação dos jogos cooperativos combate a ausência (falta), o desinteresse em participar das aulas de Educação Física, a falta de respeito com os professores e os colegas, a falta de companheirismo e a agressividade física e verbal. (Menoti, Lima, e Lima, 2014)

 

    Além desses benefícios, Menoti, Lima, e Lima (2014) afirmam que os jogos cooperativos utilizados como ferramenta lúdica oportunizam a incorporação de valores humanos e mudanças comportamentais, reduzindo o desinteresse do aluno para o aprendizado, incluindo-o aos demais alunos, reduzindo a evasão na participação das aulas de Educação Física, como assegura Santos, Paula e Ferreira (2021).

 

    Em outro estudo realizado por Silva et al. (2012), os jogos cooperativos na escola são tratados como elementos socializadores entre crianças do ensino fundamental. Os autores verificaram que a aplicação dos jogos cooperativos em 25 alunos do 6º ano do ensino fundamental despertou o companheirismo, a consciência de que um ajudando o outro facilita atingir o objetivo e também permitiu a transformação de comportamentos. (Silva et al., 2012)

 

    Os jogos cooperativos podem ser trabalhados com crianças, jovens e adultos como alternativa de quebrar o paradigma de vencer ou perder, demonstrando que todos juntos podem alcançar a vitória, desde que, unidos, com respeito mútuo e valorizando as diversidades cultural, física, cognitiva e é visto como um meio eficaz na construção de uma relação pedagógica firmada numa educação em valores humanos, pautados principalmente, na solidariedade. (Silva et al., 2012)

 

    Baliulevicius, e Macário (2006) abordaram docentes da Rede Municipal do Rio de Janeiro, no Clube Escolar Mangueira, com o objetivo de investigar a percepção dos docentes sobre a utilização dos jogos cooperativos nas aulas de Educação Física. Os autores afirmam que os professores concordam no uso dos jogos cooperativos para diminuir a agressão e a criminalidade nas escolas e também reforçam que se configura como uma estratégia para inserir o aluno de forma prazerosa, dentro de suas possibilidades (física, motora e cognitivas) nas aulas. (Baliulevicius, e Macário, 2006)

 

    O aluno dentro da abordagem cooperativa não se expõe à situação de fracasso e reconhece a sua importância em contribuir com os demais integrantes do grupo, de acordo com os seus limites e virtudes. (Baliulevicius, e Macário, 2006)

 

    Desta forma, dentro do contexto da Educação Física escolar, os jogos cooperativos auxiliam não somente no processo de aprendizagem das habilidades motoras, mas fornece ao aluno uma maneira de se sentir parte do meio (Alencar, Pereira, Pereira, Oliveira, Morais, e Ota, 2019b), o que denota a vantagem em se utilizar dos jogos cooperativos como estratégia pedagógica de inclusão na Educação Física escolar.

 

Conclusões 

 

    Inúmeras são as vantagens dos jogos cooperativos como estratégia pedagógica de inclusão na Educação Física escolar, pois diminui a evasão dos alunos nas aulas de Educação Física, reduz a falta de interesse na participação, promove a inclusão e socialização dos alunos com os demais colegas, proporciona o prazer e estimula o respeito, independentemente das características físicas, motoras ou cognitivas.

 

    Apesar dos jogos cooperativos serem aplicados nas aulas de Educação Física, salienta-se a importância em agregar este conteúdo na grade curricular deste componente para que os valores como a solidariedade, o respeito mútuo e o trabalho em equipe sejam constantemente reforçados durante as aulas e possam ser transferidos para a vida social, o que denota sua contribuição no comportamento individual e coletivo dos alunos.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 290, Jul. (2022)