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ISSN 1514-3465

 

Corpo, identidade e imagem corporal: uma revisão narrativa

Body, Identity and Body Image: a Narrative Review

Cuerpo, identidad e imagen corporal: una revisión narrativa

 

Cláudio Oliveira da Gama*

claudiodagama@hotmail.com

Gláucio Oliveira da Gama**

glaucio_gama@hotmail.com

Valéria Nascimento Lebeis Pires***

valerianlp@uol.com.br

Elvira Maria Godinho de Seixas Maciel****

seixasmaciel@gmail.com

 

*Doutorando em Epidemiologia em Saúde Pública ENSP-FIOCRUZ

**Especialista em Radiologia e Diagnóstico por Imagem UNIFASE

***Docente UFRRJ

****Orientador. Pesquisadora FIOCRUZ

(Brasil)

 

Recepção: 31/12/2020 - Aceitação: 15/04/2021

1ª Revisão: 06/02/2021 - 2ª Revisão: 23/03/2021

 

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Citação sugerida: Gama, C.O. da, Gama, G.O. da, Pires, V.N.L., e Maciel, E.M.G. de S. (2021). Corpo, identidade e imagem corporal: uma revisão narrativa. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(278), 159-171. https://doi.org/10.46642/efd.v26i278.2771

 

Resumo

    No decorrer de sua gênese, o corpo passa por mutações que são influenciadas muitas vezes por fatores externos a sua vontade. Desta maneira o sujeito, sob várias influências, constrói sua identidade corporal baseada na vivência de suas sensações, sentidos e tomada de consciência. Com a atual busca por saúde enquanto ideal estético há modificações no modo de viver que atribui felicidade e completude a determinados padrões corporais. O objetivo do texto é propor reflexões acerca da valorização do culto ao corpo na construção da identidade, assim como da imagem corporal. Trata-se de uma revisão narrativa em forma de ensaio que estabelece relações com a atualidade, com temáticas recorrentes e novas perspectivas, contribuindo para o conhecimento e formação de profissionais envolvidos com a temática.A busca por imagens corporais de sucesso desperta desejos nos indivíduos que, por seguirem tendências socioculturais, acreditam carecer de modificações constantes nos corpos, neste caminho notável pela aprovação da beleza a figura do corpo modelo é superexplorada. Por imagem corporal entende-se a figura do próprio corpo formada pelo sujeito, podendo ser produzida de forma positiva ou negativa. Sua forma positiva apresenta resultantes de melhorias na saúde global, as negativas podem culminar em insatisfações e alterações na percepção do corpo acarretando transtornos prejudiciais à saúde. O trabalho reforça medidas de promoção de saúde e prevenção de transtornos à medida que há crescente insatisfações com a imagem, principalmente em grupos jovens de sexo feminino, muitas vezes criado pelo consumismo que incita necessidades de constantes transformações e adaptações corporais.

    Unitermos: Corpo. Beleza. Identidade. Imagem corporal.

 

Abstract

    During its genesis, the body undergoes mutations that suggest being influenced by factors external to its will. In this way, the subject builds his bodily identity starting from the experience of sensations, senses and awareness. The current search for health as an aesthetic ideal produces changes in the way of living that attribute happiness and fullness to certain bodily models. The objective of the text is to propose reflections on the valorization of the cult of the body in the construction of identity, and of body image. It is a narrative review in the form of an essay that establishes relationships with the present, with recurrent themes and new perspectives, contributing to the knowledge and training of the professionals involved. The search for successful bodily images awakens desires in individuals who, as they follow sociocultural tendencies, believe that they lack constant changes in their bodies, on this path marked by the approval of beauty, the figure of the perfect body is overexploited. By body image is understood the figure of the body that forms the subject, which can be produced in a positive or negative way. Its positive form is the result of improvements in global health, the negative ones produce dissatisfaction and changes in body perception, causing damage in health. The work strengthens health promotion and disease prevention measures in the face of growing dissatisfaction with the image, especially in groups of young women, often created by consumerism that encourages the need for constant body changes and adaptations.

    Keywords: Body. Beauty. Identity. Body image.

 

Resumen

    Durante su génesis, el cuerpo sufre mutaciones que suelen estar influenciadas por factores externos a su voluntad. De esta manera, el sujeto, construye su identidad corporal partiendo de la experiencia de sensaciones, sentidos y conciencia. La búsqueda actual la salud como ideal estético, produce cambios en la forma de vivir que atribuyen felicidad y plenitud a determinados modelos corporales. El objetivo del texto es proponer reflexiones sobre la valorización del culto al cuerpo en la construcción de la identidad, y de la imagen corporal. Trata sobre una revisión narrativa en forma de ensayo que establece relaciones con el presente, con temas recurrentes y nuevas perspectivas, contribuyendo al conocimiento y formación de los profesionales implicados. La búsqueda de imágenes corporales exitosas despierta deseos en individuos que, como siguen las tendencias socioculturales, creen que carecen de constantes cambios en sus cuerpos, en este camino marcado por la aprobación de la belleza, se sobreexplota la figura del cuerpo perfecto. Por imagen corporal se entiende la figura del cuerpo que forma el sujeto, que puede producirse de forma positiva o negativa. Su forma positiva es el resultado de mejoras en la salud global, las negativas producen insatisfacción y cambios en la percepción del cuerpo, provocando daños en la salud. El trabajo refuerza las medidas de promoción de la salud y prevención de enfermedades ante la creciente insatisfacción con la imagen, especialmente en los grupos de mujeres jóvenes, muchas veces creado por el consumismo que incita a la necesidad de constantes cambios y adaptaciones corporales.

    Palabras clave: Cuerpo. Belleza. Identidad. Imagen corporal.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 278, Jul. (2021)


 

Introdução 

 

    A existência humana constitui um complexo axiológico que, no decorrer de sua gênese, engloba história, cultura e sociedade, compreendendo em seu contexto a produção, o desenvolvimento, bem como a formação de identidades. Nessa complexidade, o corpo passa por mutações que são por vezes influenciadas por fatores externos a sua vontade. Podemos considerar que a modificação dos sentidos do que era o corpo até o que se tornou indica uma intensa metamorfose conceitual, cultural e política (Gama, 2016). Desta maneira o sujeito sob diversas influências constrói sua identidade corporal, sendo esta totalmente baseada na vivência de suas sensações. A identidade se caracteriza por ser um processo com múltiplas facetas, ou seja, é delineada por relações e vivências que o sujeito estabelece ao longo de sua existência. (Rocha, 2019)

 

A identidade corporal sob a ótica do consumo 

 

    Para Tavares (2003), nosso corpo responde muitas vezes diferentemente do que seria considerado adequado em relação à demanda social e até mesmo disforme em relação às potencialidades orgânicas, essa diferença que outrora poderia significar certa autonomia, apresenta efeitos contrários, podendo acarretar até mesmo em distúrbios de sua psique. No passado, qualidades relacionadas à honra, honestidade, ética, moralidade e religiosidade personificavam fortemente o papel do ser humano nas sociedades e eram imputadas à ideia de alma. Atualmente o corpo, antes em um lugar secundário, galga um espaço privilegiado, representando o protagonismo das relações sociais. Encontramos cada vez mais evidente, até mesmo no senso comum, a busca pela ascensão e aceitação social relacionada ao corpo, que sob a justificativa de saúde passa a corresponder a desejos e angústias nas sociedades. Disseminam-se inúmeros rituais para a aquisição ou manutenção de um corpo belo ou ideal. Dietas, exercícios físicos, procedimentos estéticos, roupas, acessórios, uma série de recursos submetem os indivíduos ao desejo de possuírem a beleza corporal correspondente ao sucesso. Por meio deste cenário orquestrado pelo consumismo, beleza corporal passou a borrar os significados de saúde. Essa busca incessante de saúde enquanto um ideal estético vem causando modificações no modo de viver dos indivíduos, que passam a atribuir felicidade e completude a determinados padrões de imagem corporal (IC).

 

    Através destas tendências acentuadas que atravessam o limiar das noções de saúde e doença, há, por um lado, padrões estéticos que invadem a lógica de definição do que seria saudável. E, por outro, exageros no cumprimento da exigência destes padrões que conduzem a distúrbios de IC como vigorexia, anorexia, bulimia e outros, que ferem as noções de saúde veiculadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A referida organização definiu saúde como um completo estado de bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença (WHO, 1946; WHO, 1948). Sob o lema de mais saúde, bem-estar, longevidade e boa forma, indivíduos tornam-se reféns do consumismo desenfreado estimulado em uma dinâmica que envolve inúmeros elementos, desde a formação de especialidades científicas, abrangendo indústria, mídia e publicidade. E ainda, todas as esferas da vida cotidiana -práticas alimentares, sexualidade, hábitos de vida, uso de medicamentos e suplementos, acessórios e vestimentas- são também progressivamente envolvidas. Isso corrobora para o entendimento de que investir nos corpos se tornou um grande negócio, afinal sacrifícios valeriam à pena se o resultado culmina no aspecto de aparência desejada, a qual Tavares (2003, p. 18), em seu texto, já nos aponta que de “surpreendente ‘ser original’ aceitamos a merecida recompensa de ‘sermos adaptados’”. Para Santos et al. (2019) a publicidade é um dos alicerces que dão sustentação à sociedade de consumo, sendo um processo incessante de produção, seleção e reelaboração de imagens colocadas ou impostas de um mundo irreal, as vezes inatingível, como se fossem o mundo real. Brown, e Knight (2015) realizaram um estudo de análise de conteúdo de anúncios de beleza de revistas avaliando mudanças nas imagens veiculadas sobre aparência e status social das mulheres. Como conclusão encontraram que a mídia veicula mensagens poderosas para divulgar e modificar crenças culturais.

 

    Notadamente o corpo desejado, disseminado pela publicidade e aceito socialmente se baseia não somente numa idealização própria, mas sim numa necessária e constante aprovação do outro. A imagem que agrada aos olhos deve se basear na semelhança das aparências, numa espécie de tipo que define e redefine o belo, e que, atualmente, culmina no corpo ideal (Ghiraldelli Jr., 2008). O risco maior deste desejo obsessivo reside no fato de que este corpo modelo se baseia em uma construção fabricada com apoio de ferramentas tecnológicas, procedimentos estéticos, fármacos e até de manipulação gráfica de computadores. Esse corpo desejado, utopia da perfeição, contido no imaginário e presente nas mais variadas mídias encontra-se numa crescente e inacabada busca, modificando hábitos e comportamentos dos indivíduos com possíveis alterações e fragilidades na saúde individual e coletiva (Moraes, 2014). Esta produção de modelos de IC do sucesso desperta desejo ilimitado e angustiante nos indivíduos que, por seguirem tendências socioculturais contemporâneas, acreditam carecer de modificações constantes em seus corpos, nessa espetacularização de imagens o indivíduo percebe e assume o dever moral da beleza. (Lopes, e Mendonça, 2016)

 

    Configuram-se então dois tipos de imagens corporais: a ideal e a real. A imagem ideal seria aquela presente, por exemplo, nos outdoors das grandes cidades e em campanhas publicitárias, apresentando componentes de hipertrofismo muscular, magreza e jovialidade. Já a real é a que a maioria da população apresenta, com índice de massa corporal (IMC) diferente do idealizado, tamanhos e formas corporais, que não correspondem ao padrão disseminado vigente. Desse modo, o “eu” real anseia satisfazer sua autoimagem na transformação da sua aparência por meio das experiências com o modelo ideal (Sueitti, e Sueitti, 2015). A cultura moderna oferece diversos métodos para projetar o corpo desejado e nesse contexto, o corpo real é considerado a base para outras mudanças, que podem ser alcançadas praticando esportes, seguindo dietas especiais, usando cosméticos e cirurgia. Ao mesmo tempo, existem tendências prevalecentes que definem certos parâmetros para design corporal entre homens e mulheres. Diferentes sociedades e culturas formam sua própria IC ideal adotando um modelo socialmente aprovado.

 

    A correção do corpo que não adéqua aos formatos socialmente impostos se torna necessária e rotineira à medida que “a ‘imperfeição’ física dos indivíduos comuns defronta-se, a cada instante, com imagens de ‘corpos perfeitos’ em telas de cinema, TVs, computadores e outdoors” (Sabino, 2002, p. 144). Assim, quanto mais o corpo real estiver distante do imaginário ideal maior será a possibilidade do comprometimento da autoestima o que, concomitantemente, poderá vir a culminar numa distorção de IC. Neste caminho notável e angustiante na busca pela aprovação do outro a figura do corpo modelo é superexplorada. Com o corpo passando a agregar valor social, busca-se uma aceitação fomentada pelos mecanismos de poder capazes de atuar de forma sutil (passando a estimular condutas que se vinculam a saúde) e forçada (por criar uma necessidade de visual corporal ideal e padronizado). Aos que conseguem conquistar um belo corpo, há sentimentos de admiração e idolatria (com sua veiculação nas mais variadas mídias) com consequente obtenção de uma IC “positiva”, referenciada como modelo de sucesso a ser seguido. Mas afinal, o que vem a ser IC? E o que vem a ser uma IC de sucesso?

 

    Este texto trata-se de uma revisão narrativa em forma de ensaio/pesquisa de opinião considerando autores de estudos anteriores em favor de estabelecer relações com a atualidade, temáticas recorrentes com novas perspectivas, contribuindo para área de conhecimento e formação de profissionais envolvidos com a temática. As reflexões foram produzidas buscando subsidiar o referencial teórico de uma tese de doutoramento que avalia no seu desfecho principal à insatisfação corporal de um público constituído, predominantemente, de adultos jovens. O objetivo do texto é propor reflexões acerca da valorização do culto ao corpo na construção da identidade, assim como da imagem corporal.

 

Conceituando a imagem corporal 

 

    O termo IC tem diversas implicações e definições que mostram a magnitude e as diversas opiniões do conceito (Neagu, 2015), cuja etapa ou época da história teve seus próprios critérios de avaliação da beleza, em que cada cultura, cada sociedade desenvolve seus próprios julgamentos e conceitos da beleza e da IC, que são influenciadas ou limitadas pelo aspecto biológico, sociocultural e ambiental (Vaquero, 2013). Segundo Ribeiro et al. (2012) os primeiros pesquisadores da IC foram os neurologistas, com destaque para Henry Head e Paul Schilder, que começaram a investigar o tema em meados do século XX. Os conceitos de IC foram ancorados por Paul Schilder (1886-1940), médico psiquiatra, filósofo e pesquisador. Este dedicou sua vida aos estudos da formação da IC, através de saberes do campo da fenomenologia, psicologia e psicanálise, tendo como objetivo principal de seus estudos o tratamento de transtornos mentais. Sua principal contribuição para o pensamento psicológico e médico foi o conceito de IC a partir de diversas linhas do conhecimento e ainda, considerando o corpo de forma integrada. Schilder (1999) definiu IC como a figuração de nosso corpo formada em nossa mente, relacionando estes fenômenos à organização cerebral do esquema corporal, à influência do meio na produção da IC e às pulsões, emoções e fantasias. Para o autor, a IC é um conceito capaz de operar com as três estruturas corporais: fisiológica, libidinal e sociológica. A estrutura fisiológica seria aquela responsável pelas organizações anatomofisiológicas do corpo; a estrutura libidinal englobaria um conjunto que compreende as experiências emocionais vividas nos relacionamentos humanos e, por fim, a estrutura sociológica que seria baseada nas relações pessoais e na aprendizagem de valores culturais e sociais. Secchi et al. (2009) sugerem ainda que a experiência com a imagem do próprio corpo relaciona-se à experiência de terceiros com seus corpos. O que é ratificado por Schilder (1999), que considera a IC e sua beleza como entidades não rígidas, para o autor, construímos e reconstruímos nossa própria IC, assim como a dos outros. Nestes processos intercambiamos partes de nossas imagens com as imagens de outros, ou em outras palavras, há uma socialização contínua de IC. Neagu (2015) afirma que a IC não reflete simplesmente a dotação biológica do indivíduo ou do feedback recebido de outras pessoas. Embora esses fatores possam de fato influenciar o nível de satisfação corporal, o que é decisivo seria a forma como o corpo é vivenciado e avaliado pelo sujeito a si mesmo. O resultado depende de fatores pessoais (personalidade, autoestima), fatores interpessoais (família, colegas e mídia), fatores biológicos (características genéticas, aumento do IMC, patologias) e fatores culturais (valores e normas sociais).

 

    Diante deste arcabouço conceitual, entendemos que a IC diz respeito a todas as formas pelas quais uma pessoa experiência, concebe, percebe e conceitua seu próprio corpo. É vivência individual e dinâmica que legitima a existência singular e original do ser humano no mundo, é a maneira pela qual nosso corpo aparece para nós mesmos, é a representação mental do nosso próprio corpo (Campana, e Tavares, 2009; Pereira et al., 2013; Slade, 1994; Tavares, 2003). Segundo Cordás (2004) o conceito de IC apresenta três componentes: o percetivo, relacionado à perceção do corpo, como por exemplo a uma estimativa do tamanho e peso corporal; o subjetivo, referente à (in)satisfação com a aparência, o que pode implicar em ansiedade e/ou preocupação; e o comportamental, que consiste em atitudes e hábitos relativos aos dois primeiros, ou seja, à perceção e subjetividade relacionadas à aparência corporal. Sendo sua construção influenciada por parâmetros culturais, emocionais e de interação com outros indivíduos, que se introduzem na IC do sujeito (Tavares, 2003). Corroborando com essa perspectiva conceitual, autores consideram a formação da IC como um fenômeno multidimensional e complexo em que há a interação de aspectos sociais, fisiológicos e emocionais/psicológicos (Palma et al., 2014; Schilder, 1999). Schilder (1999) endossa o conceito, adicionando-o como um fenômeno dinâmico, inerente a toda e qualquer experiência corporal vivenciada pelo indivíduo. Formação esta que se modifica continuamente de acordo com estímulos que ocorrem na experiência vivida, mediada por sensações e emoções (Fortes et al., 2013). O conceito de IC intimamente relacionado com aparência, mostra que os indivíduos estão em constante luta pela concretização de modelos impostos pela sociedade, relegando-se a uma dinâmica que tem a ver com a adequação e mensuração do corpo diante das regulamentações (Rodríguez, 2015). Nesse sentido, a IC se desenvolve desde o nascimento até a morte, dentro de uma estrutura complexa e subjetiva, sofrendo modificações que implicam na construção contínua e reconstrução incessante, resultante do processamento de estímulos. (Mataruna, 2004)

 

    No decorrer do desenvolvimento da IC há uma íntima ligação desta com a estruturação de identidade, estando ambas enraizadas no seio de um grupo social (Tavares, 2003), que por sua vez contribuem na formação de outras identidades pelo produto resultante de ações e reações do meio, já que pessoas que cercam o indivíduo interferem de modo fundamental e constante na elaboração da IC e da identidade desse indivíduo, uma vez que sua maneira de enxergar forma e tamanho corporal são influenciadas por vários fatores. (Slade, 1994)

 

Imagem corporal e seus determinantes contemporâneos 

 

    Entendemos que a insatisfação da IC e a constante preocupação com as questões ligadas ao corpo, influenciadas por fatores socioculturais, seriam um dos principais motores para a busca de um tipo físico ideal cada vez mais difundido pela cultura ocidental. Segundo Santos et al. (2019), a sociedade se especializa em criar uma massa de consumidores, que podem ser manipulados e influenciados por eficientes técnicas de marketing. O advento da publicidade cria outro mercado poderoso, que se encarrega de reforçar a criação de falsas necessidades, embaladas e vendidas em campanhas publicitárias, na qual a propaganda é considerada a “alma do negócio” sem alma. Desta maneira, há os que se apresentam fora dos padrões corporais objetivos, legitimados socialmente, e isto, a depender da forma que julga seu corpo e como lida com isso, pode inferir em uma formação positiva da IC. Porém, independentemente de estar ou não objetivamente dentro destes padrões, há os que em seu próprio campo cognitivo, apresentam uma autoimagem desconfigurada. Em ambas as possibilidades existem os riscos de desencadeamento de transtornos. Desse modo, é imprescindível considerar que a IC se constitui nas experiências de troca, nas relações que o sujeito tem com o mundo, com outros indivíduos. (Palma et al., 2014)

 

    Por ser, a IC, à representação mental do indivíduo sobre seu corpo, esta é capaz de inspirar outras representações e ao mesmo tempo ser influenciada por percepções, impulsos, atitudes e comportamentos sua produção relaciona-se com o desenvolvimento da identidade e é influenciada também por aspectos orgânicos, psíquicos e sociais (Tavares, 2003). Na construção e concomitante reprodução da própria IC “cada indivíduo torna-se, então, o gestor de seu próprio corpo” (Courtine, 1995, p. 86). Ele é responsável por discipliná-lo, moldá-lo e, quando foge às normas, também corrigi-lo. Portanto, há um sentimento de autoculpabilidade pelo não enquadramento corporal, o que aumenta a possibilidade de desenvolver transtornos advindos de uma IC negativa.

 

    Algumas atitudes se dão em formatos “positivos”, usualmente associados a comportamentos saudáveis, como prática de exercícios, cuidados com o corpo, relação social estável e autoestima. Já outras, “negativas”, estão comumente associadas a quadros clínicos como depressão e obesidade (Gonçalves et al., 2012). É notória a grande importância assumida pela IC no cenário contemporâneo, mesmo sendo um elemento reconhecidamente mutável e passível de se desenvolver de formas positivas, apresentam traços vulneráveis associados a traumas e doenças muitas vezes vinculados a padrões impostos e estereótipos sociais. Segundo Pires (2017), comumente a insatisfação com o corpo está associada a fatores sociais e culturais, nas percepções e preocupações, e ainda, nas pressões e padrões veiculados a cultura e meios de comunicação, neste contexto a preocupação com a IC está presente e pode revelar situações que causam transtornos alimentares e problemas de saúde pública. (Ceballos-Gurrola et al., 2020)

 

    Diversos outros problemas estão relacionados a distorções da IC, tais como: ansiedade, desordem alimentar, fobias e uso de drogas. Por seus intermédios surgem distúrbios, tais como vigorexia, anorexia, bulimia e ortorexia. Estes transtornos se desencadeiam notadamente pelo forte poder social da moda e da indústria do consumo. O fato de querer parecer igual a um modelo não é um fenômeno propriamente novo, contudo, o corpo entra como peça importante, de destaque, ao ter nas formas de modelagem corporal um caráter de perfeccionismo que só pode ser alcançado através da busca incessante por exercícios físicos, como mostra Goldenberg, e Ramos (2002, p. 30): “a gordura surge como inimiga número um da ‘boa forma’, quase uma doença, especialmente para aqueles que buscam ostentar um corpo ‘sarado’, ícone da ‘cultura da malhação’”.

 

    No cenário contemporâneo o corpo tem representado simbolicamente características como personalidade, caráter e sucesso, deixando poucas saídas para um futuro autônomo que o difere de um instrumento de valioso valor social. Cotidianamente há um bombardeio de informações do tipo: “exercite-se”, “sem dor, sem ganho” (no pain, no gain), “seja fitness”, “tenha a pele sempre bronzeada, com a cor do verão” e outras supostas frases de incentivo, que na realidade funcionam como “ordens sutis” ao público consumidor que constantemente se vê instigado a não ficar de fora de/da forma/moda. Essa realidade vai ao encontro das ideias de Goldenberg, e Ramos quando afirmam que “para atingir a forma ideal e expor o corpo sem constrangimentos, é necessário investir na força de vontade e na autodisciplina” (2002, p. 27). Sob prerrogativas de mais saúde e mais qualidade de vida os indivíduos vão justamente ao encontro das ideologias disseminadas pelas indústrias do consumo. Tais argumentos vão ao encontro da análise feita por Figueiredo et al. (2017) que fizeram uma investigação acerca das representações do corpo feminino em revistas femininas brasileiras, em relação aos novos modelos de corporeidade e identidade. Segundo os autores, o foco visual nos atributos físicos das modelos, em combinação com as chamadas das revistas nomeando esses atributos e/ou avaliando os produtos anunciados, constroem o vínculo entre o discurso do culto ao corpo e o discurso da comodificação. Concluem que a aquisição de produtos e serviços se torna uma prerrogativa inescapável na vida de mulheres brasileiras que buscam individualmente a promessa de saúde, beleza e sucesso, de acordo com suas capacidades de compra.

 

    Neste contexto vive-se uma era impaciente, com informações diversas, confusas, rápidas e globalizadas. Valores atrelados a conquistas profissionais e pessoais emergem como filosofias de vida, sendo o corpo, nesse cenário, importante veículo facilitador de conquistas. Um corpo belo, jovial e atlético, muitas vezes possui chaves de acesso, passando neste século a ser motivo de cobiça por muitos, que guiados por “astros e estrelas”, sujeitos revelados pela mídia, passam a corresponder todos aos seus chamados de beleza. Nessa cartilha da beleza “o justo é o saudável; o correto é o que se adapta ao programa da vida bem-sucedida” (Costa, 2005, p. 191). São comuns as diversas expressões ideológicas disseminadas pelo consumismo na superação de limites: “para ter um corpo perfeito, basta ter força de vontade” (Malysse, 2002, p. 102), frases como estas funcionam como um chamado, demonstrando constantemente que todos tem potencialidades de conquistar o corpo desejado, desde que não desistam e continuem a seguir as receitas do sucesso. De utilitários da moda, passando por vestimentas, acessórios (cintas), suplementos alimentares, fármacos, chegando até procedimentos estéticos, tudo pode ser usado a favor, no investimento ao ideário corporal. O uso disciplinado do corpo passa a ser o ponto forte e, ao mesmo tempo, a sua fraqueza, já que carrega consigo fobias e frustrações da não adequação corporal.

 

    O termo disciplina em se tratando do corpo representa um vocativo. Ter disciplina com o corpo passa a ser uma qualidade contemporânea almejada por muitos e o incentivo para essa adequação no comportamento chega ao extremo de criar subsídios de disfarce em uma imagem que não agrada aos modelos uniformes do sucesso. E é na busca insana que ganham forma os inúmeros procedimentos mencionados, que prometem eliminar ou camuflar características corporais indesejáveis. Como o sacrifício em busca do corpo belo requer muitos atributos, os que não conseguem caem na desgraça da inadequação corporal e conhecem o lado nocivo do preconceito pelo não enquadramento. Para Costa (2005), este lado nocivo aparece como estigma aos que se desviam da norma somática ideal, na proliferação dos transtornos da IC e na submissão compulsiva a moda publicitária. Corroborando com esta reflexão, o trabalho de Garcia (2017) fez uma análise de imagens veiculadas por revistas de moda e seus impactos na concepção de corpo. Em seus achados, relata que o corpo mostrado repetidamente em uma padronização de imagens representa uma lógica de dominação oculta, baseada em saberes historicamente construídos sobre o corpo.

 

    Em síntese, entende-se que fazer parte de um grupo, ter uma identidade aceita socialmente, encontrar autorrealização através de critérios de beleza como ser magro, “ter curvas” (no caso das mulheres), viver refém dos regimes e dos exercícios físicos de modelagem do corpo e com isso obtendo uma IC do sucesso vem se tornando parte constituinte da natureza dos indivíduos, tornando o fenômeno de culto ao corpo um tema de expressiva relevância, tamanho impacto na saúde e na sociedade contemporânea.

 

Conclusões 

 

    O corpo ao passar por suas dinâmicas mutações sofre influências de várias vertentes que vão integrar sua IC e constituir sua identidade. Por IC entende-se a figura do próprio corpo formada pelo sujeito que pode ser produzida de forma positiva ou negativa. A forma positiva apresenta resultantes benéficas que criam melhorias na saúde global do indivíduo, enquanto a negativa pode criar transtornos e prejuízos a saúde. Os determinantes contemporâneos que impactam na formação da identidade corporal apontam uma busca obsessiva pela IC positiva, que, aliada as tecnologias e ao dinamismo dos modelos corporais do sucesso, coloca a imagem “positiva do sucesso” em uma busca utópica e arriscada, sob prerrogativas de saúde. Medidas de promoção de saúde e prevenção de tais transtornos são necessárias à medida que há uma crescente de insatisfação com a própria IC, principalmente no público jovem e do sexo feminino, muitas vezes fabricado pela própria indústria do consumo, que cria constantes rearranjos corporais que invocam necessárias transformações, adaptações e modelagens através de diferentes hábitos, estilos e práticas corporais. Urge a necessidade dos cuidados da saúde com um olhar para/sobre o corpo, que respeite as diferenças e que valorize o indivíduo na coletividade, encontrando o poder nas diferentes formas de ser/estar no mundo.

 

Agradecimento 

 

    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES).

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 278, Jul. (2021)