Implicações da polifarmácia entre idosos e a contribuição da atenção farmacêutica

Implications of polypharmacy in the elderly and the pharmaceutical care contribution

Implicancias de la polifarmacia en personas mayores y la contribución de la atención farmacéutica

 

Michelle Silva Dantas*

michelledantas.bastos@gmail.com

Vanessa Cruz Santos**

vanessacrus@hotmail.com

 

*Especialista em Atenção Farmacêutica e Farmacoterapia Clínica

Instituto de Pós Graduação (IPOG). Salvador, Bahia

**Doutoranda em Saúde Pública Instituto de Saúde Coletiva
da Universidade Federal da Bahia (ISC-UFBA)
Salvador, Bahia

(Brasil)

 

Recepção: 16/04/2017 - Aceitação: 12/05/2018

1ª Revisão: 10/05/2018 - 2ª Revisão: 10/05/2018

 

Resumo

    Este estudo objetiva analisar o que abordam as produções científicas sobre as implicações da polifarmácia entre idosos e a contribuição da atenção farmacêutica. Trata-se de uma revisão de literatura, realizada por meio de coleta de dados nas bases de dados da Lilacs, SciELO e Web of Science, no período de 2010 até agosto de 2015. A busca foi conduzida pelos descritores atenção farmacêutica,uso de medicamentos, polimedicação e idoso. Os resultados indicaram que,entre as implicações do uso da polifarmácia entre os idosos,estão:a redução da adesão ao tratamento farmacológico e o aumento de eventos adversos e da morbimortalidade. Conclui-se que, apesar das produções científicas abordarem que a polifarmácia é elevada na população idosa e que provoca diversos impactos negativos, poucos foram os estudos que fizeram menção à importância da atenção farmacêutica como estratégia capaz de contribuir na redução destes impactos.

    Unitermos: Atenção Farmacêutica. Uso de medicamentos. Polimedicação. Idoso.

 

Abstract

    This study aimed to analyze what the scientific production addresses about the implications of polypharmacy in the elderly and the pharmaceutical care contribution. This is a literature review conducted by collecting data in the databases Lilacs, SciELO and Web of Science, from 2010 to August 2015. The search was conducted by the descriptors: pharmaceutical care, use drugs, polypharmacy and elderly. The results indicated that, among the implications of the use of polypharmacy among the elderly, there are: the reduction of pharmacological treatment and the increase in adverse events and mortality. One concludes that, despite the scientific productions addressing that polypharmacy is high in the elderly population and that it causes many negative impacts, there were few studies that discussed the importance of pharmaceutical care as a strategy to contribute to reduce those impacts.

    Keywords: Pharmaceutical attention. Use of medications. Polypharmacy. Elderly.

 

Resumen

    Este estudio tiene como objetivo analizar las producciones científicas que abordan las implicaciones de la polifarmacia en personas mayores y la contribución de la atención farmacéutica. Se trata de una revisión de la literatura llevada a cabo mediante la recopilación de datos en las bases de datos Lilacs, SciELO y Web of Science, en el período de 2010 a agosto de 2015. La búsqueda se llevó a cabo mediante descriptores de atención farmacéutica, el uso de medicamentos, polifarmacia y personas mayores. Los resultados indicaron que, entre las implicaciones del uso de polifarmacia en adultos mayores, incluyen: la reducción del tratamiento farmacológico y el aumento de los eventos adversos y la mortalidad. Se concluye que, a pesar de las producciones científicas trataren de que la polifarmacia es elevada en la población de edad avanzada y que causa muchos efectos negativos, pocos estudios que mencionan la importancia de la atención farmacéutica como estrategia para contribuir a la reducción de estos impactos.

    Palabras clave: Atención farmacéutica. Uso de medicamentos. Polifarmacia. Persona mayor.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 23, Núm. 240, May. (2018)


 

Introdução

 

    No Brasil, conforme o Programa de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa e Envelhecimento, as pessoas idosas são todas aquelas que têm 60 anos ou mais de idade (Brasil, 2010a). Atualmente, 10,8% da população brasileira é idosa. Isto se deve à elevação da expectativa de vida média que, enquanto na década de 1960, era de 50 anos de idade,no ano de 2008,foi para 72,8 anos e, mais recentemente, apresenta projeção de 81,3 anos para o ano de 2050, nivelando-se a países desenvolvidos (IBGE, 2011).

 

    O progresso do envelhecimento no Brasil ocorreu por vários motivos, como a redução da mortalidade e fatores positivos como a expansão de políticas e ações públicas bem-sucedidas, minimização da mortalidade infantil, desenvolvimento de novas tecnologias diagnósticas e para o tratamento (Brasil, 2010b). Entretanto, o envelhecimento populacional pode apresentar consequências negativas, como o aumento da prevalência de determinadas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), que são responsáveis por mudanças epidemiológicas e nos setores de saúde (Brasil, 2010a).

 

    O uso de medicamentos tem sido uma das principais escolhas de tratamento para o controle e prevenção das DCNT entre os idosos, em especial doenças mais prevalentes, como a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS). Porém, cerca de 40% das admissões hospitalares de pacientes idosos estão relacionadas a implicações decorrentes do uso de medicamentos, incluindo efeitos tóxicos advindos do seu uso (Meneses; Sá, 2010).

 

    Diante das complicações que podem ocorrer com as pessoas idosas que fazem uso de medicamentos, em especial, à polifarmácia, Silveira (2014) suscita que estudos que abordem sobre o uso de polifarmácia neste segmento populacional e seus impactos são fundamentais, pois sinalizam reflexões sobre a necessidade de reorientação da atenção farmacêutica e da adoção de tratamentos não farmacológicos (quando possível) entre indivíduos da população idosa.

 

    Isto porque parte das pessoas idosas necessita de intervenções medicamentosas para minimizar dores e desconfortos musculares, por exemplo. No entanto, vários idosos fazem uso da polifarmácias em as orientações necessárias, o que poderá prejudicar o resultado dos tratamentos e acarretar danos sua saúde. Além do que, ainda é incipiente a abordagem sobre a contribuição farmacêutica na redução da polifarmácia e suas implicações em estudos brasileiros, justificando assim, a realização de ampliar esta discussão.

 

    Para tanto, esta pesquisa tem como objetivo analisar o que abordam as produções científicas sobre a polifarmácia entre idosos, relacionando-as com a contribuição da atenção farmacêutica.

 

Metodologia

 

    Estudo de revisão de literatura, com coleta de dados nas bases de dados da Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) e Web of Science, conduzida pelos descritores:polimedicação, uso de medicamentos,atenção farmacêutica e idoso.

 

    Utilizou-se como critérios de inclusão: artigos científicos publicados em periódicos da área da saúde, completos, em português ou inglês,de acesso gratuito, com resumos disponíveis nas bases de dados selecionadas e que no título fosse mencionado o uso de medicamento por idosos. Além destes critérios, foram pesquisados artigos atuais, publicados nos últimos cinco anos (2010 a 2015).

 

    Primeiramente, foi realizada uma pré-leitura de artigos para levantamento bibliográfico. Depois, foram selecionadas as referências para análise e sintetização das informações que respondessem ao objetivo proposto neste estudo. Foram encontrados 39 artigos para a leitura inicial dos títulos, objetivos e resumos.

 

    A seguir, excluíram-se oito artigos que se repetiam em mais de uma das bases, restando26 artigos. Para o refinamento dos artigos a serem inclusos neste estudo, foram lidos na íntegra todos os artigos, adotando os critérios de inclusão estabelecidos, o que resultou em 14 artigos que foram lidos exaustivamente e analisados de maneira criteriosa e sistemática.

 

    Para organizar os resultados encontrados na revisão de literatura, elaborou-se uma figura sinóptica para caracterizar as informações dos artigos. E para a discussão, foram construídas duas categorias: Implicações da polifarmácia entre idosos em diferentes contextos e A importância da atenção farmacêutica para idosos em uso de medicamentos, com ênfase no uso de polifarmácia.

 

Resultados

 

    Os 14 artigos analisados neste estudo estavam distribuídos respectivamente nas bases de dados Scielo, 8 (50,00%), Web of Science, 3 (18,75%) e Lilacs, 3 (18,75%). O ano de2010 teve a maior quantidade de publicações, seis (37,50%); já para os anos de 2011 e 2015, não foram encontradas publicações que se inserissem nos critérios estabelecidos para este estudo.

 

    A Figura 1 apresenta, de maneira resumida, as características dos artigos incluídos nesta revisão, organizados em formato de quadro sinóptico: nome dos autores, ano de publicação, título do artigo, base de dados, periódico, objetivos, principais resultados e conclusão. Outros resultados analisados encontram-se na forma discursiva desta revisão.

 

Figura 1. Produções científicas utilizadas no estudo, de acordo autor, ano, título, base de dados, periódico, objetivo(os), principais resultados e conclusões

Títulos

Base de dados

Periódicos

Objetivo(os)

 

Principais resultados

Conclusões

 

Uso de Medicamentos Inadequados e Polifarmácia entre Idosos do Programa Saúde da Família.

 

Lilacs

 

Lat. Am. J. Pharm

Descrever o perfil de utilização de medicamentos e estimar a prevalência e fatores associados à polifarmácia e ao uso de medicamentos inadequados entre idosos do Programa Saúde da Família de um Centro de Saúde de Belo Horizonte.

Os fatores associados à polifarmácia foram: cinco ou mais problemas de saúde, uso de medicamentos inadequados e gasto com medicamentos no último mês.

A implementação de medidas voltadas para a otimização do tratamento farmacoterapêutico é fundamental.

Polifarmácia entre idosos do Município de São Paulo – Estudo 68 SABE.

 

Scielo

 

Rev Bras Epidemiol

Foi avaliado o uso de cinco ou mais medicamentos

(polifarmácia) e seus fatores associados por idosos do município de São Paulo.

 A prevalência de polifarmácia foi de 36%.Idade igual ou superior a 75 anos, maior renda, estar trabalhando, auto avaliação de saúde regular ou ruim, hipertensão, diabetes, doença reumática e problemas cardíacos apresentaram associação positiva com polifarmácia.

O conhecimento dos fatores associados a polifarmácia, como os identificados nesse estudo, pode ser útil para alertar os profissionais da saúde quanto à importância de identificar e monitorar os grupos de idosos mais vulneráveis a polifarmácia

Estudo de utilização de medicamentos em idosos residentes em uma cidade do sul de Santa Catarina (Brasil): um olhar sobre a polimedicação.

 

Scielo

 

Ciênc. Saúde coletiva

Avaliar o uso de medicamentos em idosos residentes em uma cidade do sul de Santa Catarina.

Observou-se que 51,9% dos idosos foram classificados como polimedicação menor, e 28,8% classificaram-se como polimedicação maior. 16,5% dos idosos apresentam risco de possuir problemas relacionados com medicamentos.

Ser do sexo feminino, possuir baixo grau de escolaridade e o número alto de procura por serviços de saúde no último ano são fatores de significância quando se avalia a polimedicação em idosos.

Quanto às doenças que mais contribuem para a polimedicação, pode-se destacar hipertensão, problemas cardiovasculares, problemas endócrinos e relacionados ao sistema nervoso central, sendo que as classes de medicamentos que mais contribuíram foram os anti-hipertensivos, antidiabéticos, psicotrópicos e antitrombóticos.

Perfil Farmacoterapêutico de um Grupo de Idosos assistidos por um programa de Atenção Farmacêutica na Farmácia Popular do Brasil no município de Aracaju – SE.

 

Web of Science

 

Ver Ciênc Farm Básica Apl,

Compreender o perfil de uso dos medicamentos em idosos assistidos por um programa de Atenção Farmacêutica na Farmácia Popular do Brasil no município de Aracaju- SE.

 

 

 

O consumo total de medicamentos foi de 383 com média de 5,63, a polifarmácia esteve presente em 63,2% dos pacientes. Os medicamentos mais consumidos pertenciam ao grupo anatômico que age no sistema cardiovascular e no trato alimentar. No estudo foram observadas 152 interações em 53 pacientes (77,95%), 19 casos de medicamentos inadequados (4,9%), e 35 (9,5%) interações fármaco- alimento.

Esses resultados sugerem o aprimoramento das prescrições e avaliação constante da qualidade da farmacoterapia de modo a promover o uso racional de medicamentos nesta faixa etária.

Fatores associados à polifarmácia em idosos institucionalizados.

Scielo

 

Ver Bras Geriatr Gerontol,.

Avaliar os fatores associados ao uso de psicofármacos em pacientes idosos institucionalizados.

 O uso de psicofármacos em geral esteve fortemente associado com depressão, presença de demência e presença de doenças psiquiátricas. Não houve associação com as variáveis sexo, funcionalidade e idade.

Há alto consumo de psicofármacos em ILPI. A associação destes com polifarmácia e depressão é significativa, e os portadores de demência foram os que mais fizeram uso dos neurolépticos.

.

Intervenção interdisciplinar enquanto estratégia para o uso racional de medicamentos em idosos.

 

Scielo

 

Ciênc Saúde Coletiva

Avaliou a efetividade de intervenções interdisciplinares, envolvendo médicos, farmacêuticos e nutricionistas, destinadas à promoção do Uso Racional dos Medicamentos.

Após a intervenção, houve uma redução média no consumo de medicamentos em relação às consultas da pré-intervenção. Os medicamentos utilizados na terapêutica cardiovascular foram os mais consumidos, o que se encontra em consonância com as doenças auto referidas pelas idosas

Foi possível verificar que a intervenção interdisciplinar em idosas pôde contribuir para melhoria dos indicadores de Uso Racional dos Medicamentos, em especial os de prescrição.

Atenção farmacêutica ao idoso: fundamentos e propostas.

 

Scielo

 

Ver Geriatria Gerontol.

Apresentar estratégias facilitadoras para implantar o serviço de Aten Far, em farmácia comunitária, capaz

de realizar cuidados e ações educativas, tanto em nível individual quanto coletivo, aos idosos usuários de medicamentos.

É possível oferecer atendimento diferenciado ao idoso com a implantação da atenção farmacêutica e demais serviços em farmácias comunitárias, tendo como adicional atividades de promoção à saúde,possibilitando a ele compreender a dinâmica do uso adequado de medicamento, como também promover a saúde dessa população usuária.

 

Estratégias para a implantação do serviço de atenção farmacêutica nas farmácias comunitárias são de suma importância para suprir a carência de informação, no tocante a medicamentos,em especial, da população com faixa etária avançada.

Polypharmacy and Combination Therapy in the Management of Hypertension in Elderly Patients with Co-Morbid Diabetes Mellitus

 

Web of Science

 

Drugs Aging

Não evidente de forma clara no artigo.

Os riscos de polifarmácia e o potencial para uma terapia inadequada devem ser considerados e balanceados contra os possíveis benefícios de tratamentos com várias drogas.

Formulações com um único comprimido podem simplificar o regime de medicação. A terapia de combinação racional de medicamentos pode maximizar o controle da pressão arterial, juntamente com o controle glicêmico e ajudar a maximizar os benefícios da polifarmácia nos resultados em pacientes idosos com hipertensão e diabetes co-mórbida.

Epidemiologia do uso de medicamentos entre idosos em área urbana do Nordeste do Brasil.

 

Web of Science

 

Rev Saúde Pública

Analisar o uso de medicamentos entre idosos e os fatores associados.

A prevalência de uso de medicamentos foi de 85,5%. A polifarmácia ocorreu em 11% dos casos.O uso de polifarmácia associou-se à escolaridade, à saúde autoreferida, à doença crônica autoreferida e ao número de consultas médicas ao ano.

.

A proporção de uso de medicamentos é elevada entre idosos, inclusive daqueles considerados inadequados, e há desigualdades entre grupos de idosos quando se considera escolaridade, quantidade de consultas médicas e saúde autoreferida.

Perfil dos medicamentos prescritos para idosos em uma Unidade Básica de Saúde do município de Ijuí-RS.

 

Scielo

 

 

Rev. bras. geriatr. gerontol

 

Identificar os medicamentos utilizados pelos idosos atendidos numa Unidade

Básica de Saúde do município de Ijuí-RS e entre estes, os medicamentos potencialmente inapropriados para esta faixa etária, além de verificar as potenciais interações envolvendo

esses medicamentos.

Verificou-se polifarmácia em 47,20% dos idosos. Do total de especialidades farmacêuticas, 16,09% foram considerados medicamentos potencialmente inapropriados, de acordo com os critérios de Beers, que foram prescritos a 21,68% idosos. Estão expostos a interações medicamentosas 56,34% dos idosos que receberam medicamentos potencialmente inapropriados.

Sugere-se o uso dos critérios de Beers na avaliação da farmacoterapia em idosos, destacando-se ainda a necessidade de incorporar o uso de terapias não farmacológicas, a fim de favorecer a redução no consumo de medicamentos.

Polifarmácia: interações e reações adversas no uso de medicamentos por idosos.

 

Lilacs

 

Rev Bras Enferm

 

Refletir sobre a polifarmácia em idosos com ênfase nas reações adversas e nas interações medicamentosas.

A vulnerabilidade dos idosos aos problemas decorrentes do uso de medicamentos é bastante alta, o que se deve a complexidade dos problemas clínicos, à necessidade de múltiplos agentes terapêuticos e às alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas inerentes ao envelhecimento.

 

Racionalizar o uso de medicamentos e evitar os agravos advindos da polifarmácia serão, sem dúvida, um dos grandes desafios da saúde pública desse século.

Utilização de medicamentos por idosos brasileiros, de acordo com a faixa etária: um inquérito postal.

 

Web of Science

 

Cad. Saúde Pública

 

Avaliar fatores associados ao uso de medicamentos por idosos.

Os medicamentos mais utilizados pertenciam ao sistema cardiovascular. Idade de 70 ou mais anos, sexo feminino,pior percepção de saúde, interrupção de atividades habituais, mais de seis consultas médicas no último ano, filiação a plano de saúde e relato de quatro ou mais doenças estavam associados ao uso de medicamentos entre os participantes.

A partir do conhecimento dos fatores que se mostraram associados ao uso de medicamentos, espera-se contribuir para a elaboração de políticas públicas direcionadas ao bem-estar desse subgrupo populacional, que visem à adequação da assistência farmacêutica às suas reais necessidades, promovendo desta forma a racionalização do uso de medicamentos.

Uso de medicamentos contínuos e fatores associados em idosos de Quixadá, Ceará.

 

Scielo

 

Rev. bras. epidemiol

Analisar a polifarmácia (uso diário de dois ou mais) de medicamentos contínuos e seus fatores associados em idosos.

Constatou-se uma prevalência de

70,6% de polifarmácia em idosos. Os fatores associados positivamente ao uso de dois ou mais medicamentos contínuos foram: renda familiar acima de um salário mínimo; duas ou mais condições crônicas auto-referidas e auto percepção da qualidade de vida regular e ruim.

Uma prática de polifarmácia de medicamentos contínuos em idosos remete a questões relativas aos aspectos social, cultural, econômico e de saúde

Polifarmácia, doenças crônicas e marcadores nutricionais em idosos.

 

Scielo

 

Rev. bras. epidemiol

Estimar a prevalência de polifarmácia e sua associação com marcadores nutricionais, doenças crônicas, variáveis sociodemográficas e de saúde.

A prevalência de polifarmácia foi de 28%. Observando-se associação significativa com sexo feminino, faixa etária 75 - 79 anos, estado nutricional eutrófico e obeso, uso de dieta, percepção de saúde péssima, presença de duas, três ou mais doenças crônicas

A elevada prevalência de polifarmácia e sua associação com marcadores nutricionais e doenças crônicas demonstra a necessidade de vigilância e monitoramento nutricional em idosos.

Fonte: elaboração própria

 

Discussão

 

Implicações da polifarmácia entre idosos em diferentes contextos

 

    O perfil dos idosos brasileiros aponta que esta população apresenta vários problemas de saúde, em especial as DCNT, como as cardiovasculares, uma das mais prevalentes entre os idosos (Luchetti, 2010). Essas doenças, na maioria das vezes, fazem-nos necessitar de medicamentos de uso contínuo (Luchetti, 2010).

 

    Estudo realizado em uma Unidade Básica de Saúde apontou que idosos receberam elevado número de medicamentos. Este fato merece atenção, devido às alterações características do envelhecimento e aos efeitos que poderão ser desencadeados. Além do que, parcela desses idosos utiliza medicamentos potencialmente inapropriados, elevando o risco de interações medicamentosas que podem comprometer a segurança e a qualidade de vida desta população (Ribas; Oliveira, 2014).

 

    O uso concomitante de cinco ou mais medicamentos é denominado por Secoli (2010) de polifarmácia, que entre as suas implicações na população idosa brasileira, encontra-se a elevada prevalência de seu uso que varia a depender da região do país e/ou do local onde ocorreu a pesquisa. Estudos realizados no mesmo ano em zonas de cobertura dos Programas de Saúde da Família (PSFs) apresentaram prevalências semelhantes, 28,8% em Tubarão-SC (Galato, 2010), e 27,7% em Belo Horizonte-MG (Araújo; Magalhães; Chaimowicz, 2010).

 

    Mais recentemente, em São Paulo-SP, estudo de base populacional identifica prevalência de36% de polifarmácia entre idosos (Carvalho et al., 2012). Em Aracaju-SE, em programa de Atenção Farmacêutica, foi de 63,20% (Guimarães, 2012). Em Quixadá- CE, a prevalência foi a mais elevada entre os artigos analisados (70,6%). Dentre os fatores associados a este evento, estavam duas ou mais condições crônicas auto-referidas e autopercepção da qualidade de vida regular e ruim (Silva, 2012b).

 

    Em investigação realizada por Neves (2013), em área urbana do Nordeste, os fatores associados foram a menor escolaridade, a saúde autoreferida como negativa e o número de consultas médicas ao ano.Conforme Silva (2012a), o uso de maior quantidade de medicamentos pelos idosos, embora muitas vezes preciso, pode desencadear maior número de reações adversas, uso de medicamentos de forma inadequada, dificuldade de adesão ao tratamento farmacológico, além de levar ao incremento do risco de morbidades e mortalidade. Logo, a importância da atenção farmacêutica na assistência ao idoso.

 

Importância da atenção farmacêutica para idosos em uso de medicamentos, com ênfase no uso de polifarmácia

 

    O uso racional da polifarmácia por estes indivíduos pode maximizar o controle de algumas dessas doenças, como da pressão arterial e da glicemia. Porém, é essencial que prescritores e farmacêuticos monitorem o uso simultâneo de vários medicamentos, evitando os riscos que a polifarmácia pode causar (Munger, 2010).

 

    A atuação do farmacêutico na promoção do uso racional de medicamentos por idosos e sua inserção em equipes multiprofissionais otimizam a farmacoterapia dos pacientes geriátricos e amplia a qualidade e segurança do cuidado (Medeiros, 2011).

 

    Entre as estratégias e recomendações propostas à atenção farmacêutica ao idoso, estão aquelas voltadas para a formulação de políticas nacionais de medicamentos e do repensar o papel do farmacêutico no sistema da atenção à saúde, assim como a implantação do serviço de atenção farmacêutica nas farmácias comunitárias com o propósito de suprir a carência de informação sobre medicamentos, em especial, da população idosa (Meneses; Sá, 2010).

 

Conclusão

 

    A prevalência da polifarmácia entre a população idosa tem ampla variação no Brasil, sendo utilizada por quase um terço dos idosos de algumas regiões do país. Em partes, os artigos analisados investigavam a prevalência e fatores associados ao uso da polifarmácia em diferentes grupos de idosos.

 

    Apesar dos artigos apresentarem diversos impactos negativos do uso da polifarmácia por idosos, poucos mencionaram estratégias que poderiam ser utilizadas no intuito de, ao menos, minimizar estes impactos, como a atenção farmacêutica, que é essencial na avaliação das prescrições e conhecimento dos medicamentos inapropriados que o idoso faz uso. Desta forma, esta temática merece que outras produções científicas sejam realizadas com o intuito de apontar a importância dos profissionais farmacêuticos em parceria com outros profissionais da saúde na atenção aos idosos, em especial àqueles que fazem uso de medicamentos e, por vezes, da polifarmácia.

 

Referências

 

    Araújo, C.M.C., Magalhães, S.M.S., Chaimowicz, F. (2010). Uso de Medicamentos Inadequados e Polifarmácia entre Idosos do Programa Saúde da Família. Lat. Am. J. Pharm, 29(2), 178-84.

 

    Brasil (2010a). Ministério da Saúde. Brasília. Atenção à saúde da pessoa idosa e envelhecimento.Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas.

 

    Brasil (2010b). Ministério da Saúde. Brasília. Departamento de ações programáticas e estratégicas. Atenção à saúde da pessoa idosa e envelhecimento.

 

    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2011). Orçamento e Gestão. Censo demográfico 2010: características da população e dos domicílios.

 

    Carvalho, M.F.C., Romano-Lieber, N.S., Bergsten-Mendes, G., Secoli S.R., Ribeiro, E., Lebrão, M.L. et al. (2012). Polifarmácia entre idosos do Município de São Paulo – Estudo 68 SABE. Rev Bras Epidemiol,15 (4), 817-27.

 

    Galato, D., Silva, E.S., Tiburcio, L.S. (2010). Estudo de utilização de medicamentos em idosos residentes em uma cidade do sul de Santa Catarina (Brasil): um olhar sobre a polimedicação. Ciênc. saúde coletiva, 15 (6), 2899-905.

 

    Guimarães, V.G., Brito, GC., Barbosa, LM., Aguiar, PM., Balisa-Rocha, BJ., Lyra Júnior, DP. (2012). Perfil Farmacoterapêutico de um Grupo de Idosos assistidos por um programa de Atenção Farmacêutica na Farmácia Popular do Brasil no município de Aracaju – SE. Rev Ciênc Farm Básica Apl, 33(2),307-312.

 

    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Brasília (2011). Sinopse do Senso Demográfico de 2010. Rio de Janeiro.

 

    Luchetti, G., Granero, A.L., Pires, S.L., Gorzoni, M.L. (2010). Fatores associados à polifarmácia em idosos institucionalizados. Rev Bras Geriatr Gerontol, 13(1), 51-58.

 

    Medeiros, E.F.F., Moraes, C.F., Karnikowski, M., Nóbrega, O.T., Karnikowsk, M.G.O. (2011). Intervenção interdisciplinar enquanto estratégia para o uso racional de medicamentos em idosos. Ciênc Saúde Coletiva, 16(7), p.3139-49.

 

    Meneses, A.L.L., Sá, M.L.B. (2010). Atenção farmacêutica ao idoso: fundamentos e propostas. Rev Geriatria Gerontol, 4(3),154-61.

 

    Munger, M.A. (2010). Polypharmacy and the management of hypertension in elderly patients with comorbid diabetes. Drugs Aging, 27(11), 871-83.

 

    Neves, S.J.F. (2013). Epidemiologia do uso de medicamentos entre idosos em área urbana do Nordeste do Brasil. Rev Saúde Pública,47(4),759-68.

 

    Ribas, C., de Oliveira, K.R. (2014). Perfil dos medicamentos prescritos para idosos em uma Unidade Básica de Saúde do município de Ijuí-RS. Rev. bras. geriatr. gerontol, 17(1), 99-114.

 

    Secoli, S.R. (2010). Polifarmácia: interações e reações adversas no uso de medicamentos por idosos. Rev Bras Enferm, 63(1), 136-40.

 

    Silva, A.L., Ribeiro, A.Q., Klein., C.H., Acurcio, F. A. (2012a). Utilização de medicamentos por idosos brasileiros, de acordo com a faixa etária: um inquérito postal. Cad. Saúde Pública,28(6), 1033-45.

 

    Silva, G.O.B., Gondim, APS., Monteiro, M.P., Frota, M.A., Meneses I.A.L. (2012b). Uso de medicamentos contínuos e fatores associados em idosos de Quixadá, Ceará. Rev. bras. epidemiol,15 (2), 386-95.

 

    Silveira, E.A., Dalastra, L., Pagotto, V. (2014). Polifarmácia, doenças crônicas e marcadores nutricionais em idosos. Rev. bras. epidemiol,17 (4), 818-29.


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 23, Núm. 240, May. (2018)