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ISSN 1514-3465

 

Relação da memória, atenção e riscos cardiovasculares em atletas de basquetebol

Relationship of Memory, Attention and Cardiovascular Risks in Basketball Players

Relación de la memoria, atención y riesgos cardiovasculares en jugadores de baloncesto

 

Patrícia Espíndola Mota Venâncio*

venanciopatricia@hotmail.com

Pablo Yan Batista**

pabloyansb@hotmail.com

Thiago Pedro Bento de Castro**

thp11@hotmail.com

Cristina Gomes Oliveira Teixeira***

cristinagomesteixeira1@hotmail.com

Jairo Teixeira Junior****

jairojuniorteixeira@hotmail.com

Viviane Soares*****

ftviviane@gmail.com

 

*Doutora em Educação Física

Professora do Programa de Pós-Graduação Profissional em Ensino

para a Educação Básica do Instituto Federal Goiano - Campus Urutaí, GO

Professora da Universidade Evangélica de Goiás

**Graduado em Educação Física

pela Universidade Unievangélica de Goiás

***Professora de Educação Física do Instituto Federal de Educação, Ciência

e Tecnologia de Goiás - Campus Anápolis. Goiás

****Doutor em Educação Física

Escola Superior de Educação Física do Estado de Goiás (Eseffego)

*****Doutora em Ciências da Saúde

Profª. do Programa de Pós-Graduação em Movimento Humano e Reabilitação

Universidade Unievangélica de Goiás

(Brasil)

 

Recepção: 04/11/2020 - Aceitação: 24/06/2021

1ª Revisão: 03/06/2021 - 2ª Revisão: 23/06/2021

 

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Citação sugerida: Venâncio, P.E.M., Batista, P.Y., Castro, T.P.B. de, Teixeira, C.G.O., Teixeira Junior, J., e Soares, V. (2021). Relação da memória, atenção e riscos cardiovasculares em atletas de basquetebol. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(280), 147-160. https://doi.org/10.46642/efd.v26i280.2678

 

Resumo

    O objetivo desta pesquisa é correlacionar a memória, a atenção e os riscos cardiovasculares de adolescentes atletas e atletas profissionais praticantes de basquetebol e comparar as variáveis analisadas entre categorias. Este foi um estudo transversal, com caráter quantitativo e descritivo. A população deste estudo foram os praticantes de basquetebol do Anápolis Basquete e da Associação Desportiva Vultures Anápolis, com total de 22 praticantes da modalidade, sendo 10 adolescentes da categoria sub-19 e 12 atletas profissionais. Foram analisados os riscos cardiovasculares a partir do peso, altura, circunferência da cintura, pressão arterial e cortisol. Para avaliar a memória e a atenção, foram utilizados três instrumentos: o Memo, que avaliou a memória recente, a atenção e a concentração; o Velotest, avaliou a atenção, a agilidade e a coordenação motora fina; o Stroop eletrônico que avaliou a atenção seletiva. Os resultados, comparando-se os dois grupos, apresentaram diferença significativa na idade e na atenção. Os adolescentes da sub-19 obtiveram maior média na atenção (18,92±1,08); porém, ao se comparar a idade com a atenção, obteve-se uma correlação negativa (r=-0,461). Concluiu-se que, ao correlacionar memória e atenção e comparar suas variáveis, os adolescentes atletas mais novos tiveram médias maiores em relação aos atletas profissionais. Quanto aos riscos cardiovasculares, os atletas profissionais tiveram níveis de cortisol menor que os adolescentes, ou seja, à medida que os adolescentes atletas ficam mais velhos ou mudam de categoria, eles aumentam o peso, a altura e o circunferência da cintura com uma diminuição na memória, atenção e no cortisol.

    Unitermos: Memória. Atenção. Cardiopatias. Basquetebol.

 

Abstract

    The objective of this research is to correlate the memory, attention and cardiovascular risks of adolescent athletes and professional basketball players and to compare the variables analyzed between categories. This was transverse, with a quantitative and descriptive character. The population of this study were basketball practitioners from Anápolis Basquete and Associação Desportiva Vultures Anápolis, with a total of 22 practitioners of the modality, being 10 adolescents from the under-19 category and 12 professional players. Cardiovascular risks were analyzed from weight, height, waist circumference, blood pressure and cortisol. To assess memory and attention, three instruments were used: Memo, which assessed recent memory, attention and concentration; Velotest, evaluated attention, agility and fine motor coordination; the electronic Stroop that evaluated selective attention. The results, comparing the two groups, showed a significant difference in age and attention. Under-19 adolescents obtained a higher average in attention (18.92±1.08); however, when comparing age with attention, a negative correlation was obtained (r=-0.461). It was concluded that, when correlating memory and attention and comparing its variables, younger adolescent athletes had higher averages than professional athletes. As for cardiovascular risks, professional athletes had lower cortisol levels than adolescents, that is, as adolescent athletes get older or change categories, they increase weight, height and waist circumference with a decrease in memory, attention and cortisol.

    Keywords: Memory. Attention. Heart diseases. Basketball.

 

Resumen

    El objetivo de esta investigación es correlacionar la memoria, la atención y los riesgos cardiovasculares de deportistas adolescentes y deportistas profesionales de baloncesto y comparar las variables analizadas entre categorías. Estudio transversal, de carácter cuantitativo y descriptivo; la población se conformó con jugadores de baloncesto de Anápolis Basquete y de Associação Desportiva Vultures Anápolis, con un total de 22 practicantes, 10 adolescentes menores de 19 años y 12 jugadores profesionales. Los riesgos cardiovasculares se analizaron en función del peso, altura, la circunferencia de cintura, presión arterial y cortisol. Para evaluar la memoria y la atención se utilizaron tres instrumentos: el Memo, evaluó la memoria de corto plazo, la atención y la concentración; Velotest, para evaluación de atención, agilidad y coordinación motora fina; Stroop electrónico evaluó la atención selectiva. Los resultados, al comparar ambos grupos, mostraron una diferencia significativa en edad y atención. Los adolescentes menores de 19 años tuvieron el mayor promedio de atención (18,92±1,08); sin embargo, al comparar la edad con la atención se obtuvo una correlación negativa (r=-0,461). Se concluyó que, al correlacionar memoria y atención y comparar sus variables, los deportistas adolescentes más jóvenes tenían promedios más altos en comparación con los deportistas profesionales. En cuanto a los riesgos cardiovasculares, los deportistas profesionales tenían niveles de cortisol más bajos que los adolescentes, es decir, a medida que los deportistas adolescentes envejecen o cambian de categoría, aumentan el peso, la altura y la circunferencia de la cintura con una disminución de la memoria, la atención y el cortisol.

    Palabras clave: Memoria. Atención. Enfermedades cardíacas. Baloncesto.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 280, Sep. (2021)


 

Introdução 

 

    Define-se memória por guardar e conservar informações ou experiências vivenciadas que se associam diretamente às lembranças, mesmo que os motivos dessas não estejam presentes, como data de aniversário, fato histórico, um acidente, entre outros. (Matos, Silva, e Lopes, 2005)

 

    Existem diversos tipos de memória, destacando-se as de longo prazo e as de curto prazo. As memórias de longo prazo são divididas em explícitas e implícitas que, por sua vez, são capazes de serem verbalizadas ou não e estão diretamente associadas a eventos, fatos, habilidades motoras, fatos emocionais, automatização de aprendizagens motoras. Já as memórias de curto prazo, ou memória de trabalho, são aquelas de pouca duração que levam de poucos segundos a horas para serem esquecidas, entretanto são capazes de controlar a atenção e manipular informações durante uma tarefa. (González-Guirval et al., 2020; Morente-Oria, 2019)

 

    Há estudos que afirmam ocorrer uma melhora nas funções cognitivas quando estão sujeitas ao exercício físico. Isso acontece devido ao aumento de oxigênio no cérebro e pelo fato de que o cérebro consegue dividir as funções no processo de informações em aprendizagem, memória e atenção. (Costa et al., 2020)

 

    A atenção é um elemento importante no que se refere a uma boa qualidade cognitiva, pois ela é o resultado de esforços conscientes e não-conscientes das atividades perceptivas, cognitivas e motoras, sendo de suma importância para a aprendizagem (Matos, Silva, e Lopes, 2005). Existem ideias distintas sobre o conceito de atenção, porém, sabe-se que os fatores internos e externos são determinantes para a atenção. Ela se divide em vários tipos; atenção seletiva, voluntária, distribuída, concentrada e atenção sustentada. (Fernandes, e Rueda, 2007).

 

    Para o controle da atenção em determinadas tarefas, outra variável se faz importante: a concentração que, por sua vez, é um processo psíquico centralizador de toda a atenção em um estímulo único. (Bernabéu, 2017)

 

    Para boas funcionalidades cognitivas, o exercício físico é um elemento importante, pois promove as várias alterações fisiológicas que proporciona melhorias, por exemplo, o aumento no volume respiratório cuja consequência aumenta a oxigenação no cérebro. (Tembra, 2018)

 

    Existem outros fatores nos quais o exercício físico pode agregar de forma positiva ao indivíduo, não somente no aspecto cognitivo, mas principalmente nos riscos cardiovasculares, ou seja, doenças que afetam o coração e os vasos sanguíneos. Há diferentes tipos de doenças cardiovasculares que são as principais causas de mortalidade no mundo, fato esse que preocupa bastante os estudiosos das áreas envolvidas e faz que pesquisas sejam desenvolvidas para o controle dessas doenças (Lopes, e Lopes, 2020). Dentro dos riscos cardiovasculares, os aspectos considerados maiores causadores para tais doenças são o IMC, a circunferência de cintura, a pressão arterial e o cortisol elevado, no entanto, o exercício físico é uma das maneiras mais eficazes para prevenir doenças associadas aos riscos cardiovasculares, pois faz o indivíduo gastar energia durante e pós exercício físico. (Lima et al., 2017)

 

    Um exemplo de exercício físico bastante praticado, que possui todos os fatores fisiológicos apresentados, é o basquetebol, uma modalidade esportiva que prioriza algumas equivalências físicas, uma alta demanda na taxa metabólica, um alto consumo de oxigênio, além de utilizar muito da potência muscular resultante em fadigas musculares (Cardoso et al., 2019). O estudo de Foschini et al. (2008) concluiu que atletas praticantes de basquetebol, em situação de jogo, promove aumento, de forma significativa, nos hormônios e nas variáveis imunológicas, mostrando respostas orgânicas e adaptativas agudas dos atletas. O basquete é um esporte que necessita bastante da memória e atenção de seus praticantes para tomada de decisão e realização de jogadas, e é nesse sentido que se justifica este estudo, pois procura saber os resultados das correlações entre memória, atenção e riscos cardiovasculares em atletas, desde a fase de iniciação do esporte até ao alto rendimento.

 

    O objetivo desta pesquisa é correlacionar a memória, a atenção e os riscos cardiovasculares de adolescentes atletas e atletas profissionais praticantes de basquetebol e comparar as variáveis analisadas entre categorias.

 

Método 

 

    Trata-se de um estudo clínico randomizado, com caráter quantitativo e descritivo. A população do estudo foram os praticantes de basquetebol do Anápolis Basquete e da Associação Desportiva Vultures Anápolis, com um total de 22 praticantes da modalidade, em que 10 adolescentes eram atletas da categoria Sub-19 e 12 atletas profissionais. O estudo foi aprovado pelo Comitê da UniEvangélica com o nº 0001.403/2011.

 

    Para as coletas de dados foram definidos alguns critérios de inclusão como estar matriculado há pelo menos seis meses na Associação Desportiva Vultures Anápolis, no que se refere à categoria de base; enquanto no profissional, os atletas deveriam ter contrato comprovando serem atletas profissionais do Anápolis Basquete, com, no mínimo, 75% de frequência nos treinos, além de assinar o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE).

 

    Em primeiro lugar, foi entregue um termo de compromisso para os participantes assinarem e para os pais dos atletas menores de idade para que autorizassem a participação desses. Também foi aplicado um teste de anamnese com os dados gerais do indivíduo e histórico de doenças do grupo familiar.

 

    A avaliação dos riscos cardiovasculares deu-se da seguinte forma: para os parâmetros hemodinâmicos, como método de avaliação, foram utilizadas conforme Malachias et al. (2016), nas quais se basearam todos os dados, os resultados, entre outros. Para mensuração da pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD), foi utilizado aparelho semiautomático OMRON (modelo HEM 705CP, Kyoto, Japão), realizando-se duas medidas com os participantes sentados, em repouso de cinco minutos, e com o braço direito na posição supina.

 

    Para os parâmetros laboratoriais, os atletas foram submetidos a exames de sangue no período matutino, no Laboratório Diagnóstico, na cidade de Anápolis. O sangue foi coletado em apenas um momento e o volume de 20 mL para serem distribuídos nas dosagens do lipidograma (coleta 5 mL para análise de 1mL de soro), glicemia de jejum (coleta 4 mL para análise de 1mL de plasma), proteína C-reativa ultra-sensível (coleta 5 mL para análise de 1mL de soro) e cortisol (coleta 5 mL para análise de 1mL de soro).

 

    Na composição corporal, foram coletados os valores da massa corporal (MC), mensurada por meio de uma balança mecânica de plataforma, da marca Filizola, com capacidade máxima para 150 kg e precisão de 0,1 gr, bem como a estatura (m) de cada voluntário que foi mensurada com estadiômetro Compacto Wiso, cuja capacidade é de 220 cm, estando os avaliados eretos e com calcanhares, panturrilhas, nádegas, coluna torácica e cabeça em contato com a parede, e ainda, com os olhos fixos num eixo horizontal paralelo ao chão (i.e. Linha de Frankfurt). Os dados coletados referentes a MC e a estatura foram utilizados para calcular o Índice de Massa Corporal (IMC). Tanto a massa corporal quanto à estatura foi medida em duplicata, e caso se encontrasse valores diferentes (i.e. >0,05 kg para a MC; > 0,1 cm para a estatura), uma terceira medida deveria ser realizada e a média das três medidas deveria ser considerada. A classificação foi conforme a World Organization Health (Who, 1995). Os parâmetros indicados pelo Ministério da Saúde para avaliação do estado nutricional são o Índice de Massa Corporal (IMC) e o perímetro da cintura ou circunferência da cintura (CC).

 

    A perimétrica da cintura (CC) foi mensurada com uma fita antropométrica inextensível (Teklife, modelo TL200, São Paulo, Brasil) posicionada no ponto médio entre a crista ilíaca superior e o último arco costal ao final de expiração em repouso. Para medir a circunferência abdominal, aproveitou-se a medida da região abdominal, aferindo-se a concentração de tecido adiposo, sendo que se este resultado para homens fosse maior que 94 centímetros e para mulheres maior que 80, seriam considerados como fator do risco para doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, resistência à insulina e a diabetes, favorecendo a ocorrência de eventos cardiovasculares, particularmente os coronarianos. (ABESO, 2016)

 

    Logo após, os atletas foram direcionados a uma sala reservada para a aplicação dos testes de memória e atenção, construídos pela Empresa Mentronik. A realização de todos esses testes levou aproximadamente vinte minutos de duração, com a utilização de alguns instrumentos para a testagem.

 

    Um desses instrumentos foi o Memo, um equipamento destinado à estimulação de memória recente, atenção e concentração. Esse gera uma sequência aleatória de estímulos sonoros e luminosos (quatro teclas de cores diferente: amarelo, verde, vermelho e azul) e o participante deve repeti-las pressionando o botão correspondente à cor e ao som. O aparelho possui oito níveis de dificuldade, de 1 a 32, para a sequência de memória (Figura 1 a e b).

 

Figura 1 a e b. Memo

Figura 1 a e b. Memo

Fonte: https://mentronik.com.br/produto/memo/

 

    Também foi utilizado o Veloteste, dispositivo projetado para avaliar a atenção, agilidade e coordenação motora fina. O objetivo desse teste é alcançar o maior número de pontos pressionando rapidamente os botões coloridos que se acendem aleatoriamente (Figura 2). A velocidade em que os botões coloridos são apresentados acontece de forma gradativa e, quanto maior o número de pontos adquiridos, mais rápido será a apresentação dos botões coloridos. Dessa forma, ser quantificados o número de pontos fornecido pelo dispositivo no final do teste e o tempo total de execução do teste, mensurado com o auxílio de um cronômetro digital, com precisão de centésimos de segundo.

 

Figura 2. Veloteste

Figura 2. Veloteste

Fonte: https://mentronik.com.br/produto/veloteste/

 

    Foi utilizado, ainda, o Stroop Eletrônico, cujo objetivo é avaliar a atenção seletiva. Esse aparelho possui três teclas coloridas (vermelha, verde e laranja) e acima de cada tecla há um indicador (LED) tricolor que reproduz as três cores (vermelho, verde e laranja) aleatoriamente (Figura 3). O LED irá acender aleatoriamente com uma das três cores. O participante deve pressionar a tecla da cor correspondente a do LED aceso. Quanto maior o número de vezes pressionadas corretamente, maior será a pontuação e o resultado será mostrado no visor do aparelho. Se o número de acertos for menor que 9, a pontuação será mostrada uma única vez, no entanto, se a pontuação for maior que 9, ela será mostrada três vezes, um número de cada vez. Por exemplo, se fizer 15 pontos, o visor irá mostrar primeiro o número um, depois o cinco, por três vezes. Ao final da aplicação do teste, serão quantificados o número de pontos fornecido pelo dispositivo e o tempo total de execução, mensurado com o auxílio de um cronômetro digital com precisão de centésimos de segundo.

 

Figura 3. Stroop Eletrônico

Figura 3. Stroop Eletrônico

Fonte: https://mentronik.com.br/produto/stroop-eletronico/

 

    A normalidade dos dados foi verificada com o teste Shapiro-Wilk. Os resultados foram expressos como média, desvio-padrão. A diferença entre as medidas foi analisada pelo teste “t” de Student e uma correlação de Spearman entre memória, atenção e riscos cardiovasculares. O valor de “p” considerado foi <0,05. Os dados foram analisados na Software Statistical Package for Social Science (SPSS).

 

Resultados 

 

    Na Tabela 1, consta a caracterização da amostra, possuindo as médias das variáveis e comparações dos grupos, nas quais houve diferença significativa somente na altura e na atenção dos atletas de p=0,001. Os atletas profissionais obtiveram valores maiores na altura em relação aos adolescentes da sub-19, atingindo 1,93 cm e 1.84 cm, respectivamente. Entretanto, a categoria sub-19 obteve resultados melhores no Stroop, que avalia a atenção seletiva e a habilidade motora, comparando-se aos atletas profissionais com scores de 18,92 e 16,83 respectivamente.

 

Tabela 1. Caracterização da amostra do estudo, Anápolis-Brasil, 2020

Variáveis

Atleta

Sub-19

∑/dp

Mínimo

Máximo

∑/dp

Mínimo

Máximo

Idade

23,33±2,80

19

28

16,58±1,24

15

19

Peso

88,11±12,20

70

110,3

76,36±16,5

53,90

111,80

Altura

1,93±0,07*

1,80

2,07

1,84±0,08

1,74

2,01

Cc

83,25±5,09

76

91

77,73±8,61

64

96

Fc

63,41±9,77

40

76

70,41±11,9

5

97

Pas

128,66±12,5

115

160

128,91±9,9

116

146

Pad

73,58±8,42

57

88

71,08±8,08

59

85

Velotest

60,17±8,67

49

74

62,67±4,03

58

69

Stroop

16,83±1,58

14

20

18,92±1,08*

17

21

Memo

11,42±1,44

10

14

12,67±3,36

10

20

Legenda: Circunferência da cintura (Cc); Frequência cardíaca (Fc); Pressão arterial sistólica (Pas);

Pressão arterial diastólica (Pad); *p=0,001. Fonte: Elaboração própria (2020)

 

    Na Tabela 2, mostra-se a correlação entre as variáveis estudadas, em que a pesquisa identificou uma correlação positiva para o risco cardiovascular devido à circunferência da cintura; na qual, quanto maior a circunferência de cintura, maior foi o peso, a estatura e a idade. Para o cortisol, obteve-se correlação com a atenção, mostrando que há um aumento nos níveis de cortisol em conjunto com os valores de atenção. Todavia, o cortisol correlacionou, de forma negativa, a idade, a estatura e o peso dos participantes, ou seja, quanto mais velhos, mais altos e mais pesados, menores foram os níveis de cortisol. Também a memória dos participantes apareceu ligada negativamente à circunferência de cintura, altura e peso; mostrando que, quanto menor for a CC, estatura e peso, melhor é a memória, além de, quanto maior idade, maior é atenção seletiva desses participantes.

 

Tabela 2. Correlação das variáveis estudadas do estudo, Anápolis-Brasil, 2020

Variáveis analisadas

r

p

Circunferência de cintura x Idade

0,568*

0,004

Circunferência de cintura x Peso

0,903*

0,000

Circunferência de cintura x Altura

0,639*

0,001

Cortisol x Idade

-0,442*

0,031

Cortisol x Altura

-0,429*

0,031

Cortisol x Peso

-0,403*

0,051

Cortisol x Atenção

0,430*

0,036

Idade x Atenção seletiva

-0,461*

0,023

Memo x Circunferência de cintura

-0,466*

0,022

Memo x Altura

-0,526*

0,008

Memo x Peso

-0,451*

0,027

Fonte: Elaboração própria (2019)

 

Discussão 

 

    Ao analisar as variáveis antropométricas de idade, peso e altura, constatou uma correlação positiva em que os atletas mais velhos, além da idade, foram também os mais altos e os mais pesados, dados esses corroboraram com o estudo de Bodas et al. (2006) e Escobar et al. (2019) no qual também se constatou que, à medida que houve um aumento de idade, de modo conjunto ocorreu um aumento no ganho de peso e na altura dos avaliados.

 

    Comodo (2017), com o objetivo de verificar a relação entre o potencial de resiliência e a expressão do nível de cortisol em adolescentes, utilizando como métodos a coleta de saliva, constatou que não houve diferença significativa dos níveis de cortisol entre os adolescentes com maior e menor potencial de resiliência. No entanto, o autor afirma que o cortisol é fundamental para traçar medidas de intervenção e prevenção de saúde, resultados esses que podem ser reforçados com o presente estudo ao correlacionar cortisol com a idade dos participantes em que quanto mais novos os pesquisados, maior o nível de cortisol.

 

    Barbosa et al. (2017) cujo objetivo foi comparar a atenção de atletas e de não atletas de futebol, verificando os efeitos da idade em indivíduos masculino na faixa etária entre os 10 e os 17 anos, constatou que tanto o desempenho do atleta como o desempenho desportivo estão relacionados com um elevado nível de atenção ao jogo e de habilidade motora, resultados estes que diferenciam do presente estudo, no qual se mostrou que os adolescentes da Sub-19 obtiveram maiores resultados na atenção que os atletas profissionais, mais velhos.

 

    Entretanto Rocha (2018) ao investigar as contribuições da Psicologia no esporte, mais precisamente, verificou que o medo e a ansiedade são emoções presentes e necessárias no ser humano; entretanto, para o contexto esportivo, essas emoções tendem a prejudicar o desempenho do atleta, como maior tensão muscular, o ritmo respiratório e a sudorese, diminuindo assim a sua capacidade de concentração, sua confiança no seu treinamento e na sua técnica. Esses resultados podem ser visto no presente estudo, uma vez que, os atletas mais velhos com maior responsabilidade obtiveram maior índice de cortisol e nível de ansiedade e depressão.

 

    Paína (2018), com objetivo de construir tabelas de referência de atenção através do tempo e precisão de resposta para atletas de futebol das diferentes categorias de base e compará-las, concluiu que os níveis de atenção das categorias sub-14, sub-15 e sub17 são parecidos; no entanto, os atletas da categoria sub-20 podem ser considerados mais atentos quando comparados às demais categorias, pois conseguem ser mais precisos nas respostas aos estímulos, atingindo o mesmo tempo de resposta. Diferente de Paína, que também comparou os resultados da variável de atenção e, nesse quesito, foram os adolescentes da Sub-19 que obtiveram resultados melhores em relação aos atletas profissionais, identificando que a idade é desproporcional à atenção, ou seja, quanto maior a idade, menor foi o nível de atenção dos avaliados no presente estudo.

 

    Mello et al. (2005), cujo intuito foi verificar a relação entre o exercício físico e os aspectos psicobiológicos, afirma que o exercício físico provoca alterações fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, portanto, pode ser considerada uma intervenção não-medicamentosa para o tratamento de distúrbios relacionados aos aspectos psicobiológicos. E Merege Filho (2014) diz que uma única sessão de exercício físico em alta intensidade, realizada de maneira intervalada, não afetou a memória, e que até melhorou a velocidade de processamento. Moraes (2020). Concluiu que o exercício aeróbio realizado mostrou benéfico como ferramenta a ser adotada na terapia não medicamentosa no tratamento e controle da HA. No presente, que também usou a memória como mensurador dos aspectos psicológicos dos atletas, identificou-se que a atenção foi melhor nos adolescentes mais novos e que, quanto menor altura, peso e circunferência de cintura, melhores foram os valores de memória.

 

    Kuczynski (2008), que teve como objetivo verificar os efeitos do treinamento mental através da imaginação sobre os níveis de cortisol salivar em atletas de voleibol, identificou que o grupo submetido à prática do jogo de vôlei teve valores aumentados pré-teste x e pós-teste jogo. Já neste estudo, o cortisol foi feito com coleta de sangue, identificando que os atletas mais velhos obtiveram menores valores no nível de cortisol, resultados esses positivos, já que os atletas mais velhos passam por mais situações estressantes devido às pressões que lhes são colocadas, e isso os deixam mais preparados em relação aos atletas mais novos. Contudo Mengue, e Seron (2021) diz que o esporte competitivo apresenta uma variabilidade de fatores estressores que podem desestabilizar física e psiquicamente o esportista ao decorrer da competição. As respostas hormonais frente aos agentes estressores resultam na liberação de hormônios como o cortisol, um glicocorticóide que facilita a aquisição de metabólitos energéticos eficazes, contudo, com impacto psicológico negativo frente às competições. 

 

    Rosa (2010), com objetivo analisar o efeito agudo do treinamento concorrente (TC) sobre os níveis de cortisol em adultos com sobrepeso, revelou que um dos grupos submetido a uma intervenção, apresentou redução significativa nos níveis de cortisol após a sessão de treinamento concorrente, resultado que confirmou (repetição) com este estudo, em que quanto maior foi o peso, a estatura e a idade, menores foram os valores de cortisol.

 

Conclusão 

 

    Conclui-se que quanto menor a idade, peso e estatura, melhores foram os valores de memória, e quanto mais novos os pesquisados, maiores foram as médias na atenção. Para os riscos cardiovasculares, quanto maior for a circunferência da cintura, maior foi o peso, a estatura e idade. Entretanto, os maiores valores de cortisol se mostraram inverso ao peso, estatura e idade.

 

    Ao comparar os adolescentes da Sub-19 com os atletas profissionais, os adolescentes mostraram resultados melhores para a memória e a atenção, já para os riscos cardiovasculares os atletas obtiveram melhores resultados.

 

Referencias 

 

Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica - ABESO (2016). Diretrizes brasileiras de obesidade (4ª ed.). ABESO. https://abeso.org.br/wp-content/uploads/2019/12/Diretrizes-Download-Diretrizes-Brasileiras-de-Obesidade-2016.pdf

 

Barbosa, C., Montiel, J.M., Machado, A.A., e Bartholomeu, D. (2017). Comparação da atenção em jogadores de futebol e em não atletas. Psychologica, 60(2), 141-160. https://doi.org/10.14195/1647-8606_60-2_8

 

Bernabéu, E. (2017). La atención y la memoria como claves del proceso de aprendizaje. Aplicaciones para el entorno escolar. Rei Do Crea, 6(2), 16-23. http://dx.doi.org/10.30827/Digibug.47141

 

Bodas, A.R., Leite, T.K.M., Carneiro, A., e Gonalves, P.O., Silva, A.J., e Reis, V.M. (2006). Influência da idade e da composição corporal na resistência, flexibilidade e força em crianças e jovens. Fitness & performance journal, 5(3), 155-160. http://dx.doi.org/10.3900/fpj.5.3.155.p

 

Cardoso, P., Araújo, C.A.R., Maia, A.P.R., e Cardoso, F.B. (2019). Uma possível associação entre o padrão atencional e o desempenho esportivo de atletas de basquete. Ciências & Cognição, 24(3).

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 280, Sep. (2021)