Lecturas: Educación Física y Deportes | http://www.efdeportes.com

ISSN 1514-3465

 

Influência do contexto de prática no desempenho do arremesso por cima do ombro

Influence in the Practice Context on the Over Arm Throw Performance

Influencia del contexto de la práctica en el rendimiento del lanzamiento sobre el hombro

 

Vitor Antonio Cerignoni Coelho*

v7coelho@yahoo.com.br

Samuel Bento da Silva**

samuelbento.silva@outlook.com

Idico Luiz Pellegrinotti***

idico.pellegrinotti@unimep.br

Rute Estanislava Tolocka****

nupemlab@gmail.com

 

*Professor Adjunto da Universidade Federal do Tocantins (UFT)

Graduado e Mestre em Educação Física

Doutor em Ciências do Movimento Humano

pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP)

**Graduado e Mestrado em Educação Física

pela Universidade Metodista de Piracicaba

Especialização em Biomecânica pela UNICAMP

Especializado em Fisiologia, Bioquímica, Nutrição

e Treinamento Desportivo pela UNICAMP

***Graduado em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba

Mestre em Biologia Patologia Buco Dental pela UNICAMP

Doutor em Ciências Biológicas (Anatomia) pela UNESP

Professor Associado MS-5 aposentado

da Faculdade de Educação Física da Unicamp

Professor da Universidade Metodista de Piracicaba de 2002 a 2019

no Curso de Pós-graduação

em Ciências do Movimento Humano, Graduação, Mestrado

e Doutorado em Educação Física.

****Graduada em Educação Física pela USP

Doutora em Educação Motora pela UNICAMP

onde estudou Educação Física Adaptada

Posteriormente, no Centro Internacional de Treinamento, em Haifa, Israel

estudou Educação Infantil e crianças com necessidades especiais

Professora da UNIMEP, no curso de mestrado e doutorado

em Ciências do Movimento Humano

onde coordena Núcleo de Pesquisa em Desenvolvimento Humano

(Brasil)

 

Recepção: 30/10/2020 - Aceitação: 12/02/2022

1ª Revisão: 08/10/2021 - 2ª Revisão: 05/02/2022

 

Level A conformance,
            W3C WAI Web Content Accessibility Guidelines 2.0
Documento acessível. Lei N° 26.653. WCAG 2.0

 

Creative Commons

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Coelho, V.A.C., Silva, S.B. da, Pellegrinotti, I.L. e Tolocka, R.E. (2022). Influência do contexto de prática no desempenho do arremesso por cima do ombro. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(288), 123-138. https://doi.org/10.46642/efd.v27i288.2668

 

Resumo

    O presente estudo teve como objetivo verificar o nível da habilidade motora básica de arremessar por cima do ombro em três contextos diferentes (teste formal [T], festival de arremessos [F] e um jogo de arremessar [J]) e se os contextos podem influenciar o nível habilidoso. Nas três situações, 45 crianças entre sete e oito anos de idade executaram três tentativas. A maioria não atingiu os níveis esperados para faixa etária. O teste de Friedman foi utilizado para comparação dos resultados obtidos nos diferentes contextos. O nível de habilidade motora variou significativamente quando comparados os resultados da situação de jogo em relação as outras duas. As diferenças entre os contextos foram estatisticamente significantes nos seguintes componentes do arremesso: oscilação preparatória entre os contextos de T e J; J e F em todas as tentativas. Na ação do antebraço a variabilidade apareceu entre F e J. Na ação do úmero a variância foi entre o F e J. Em relação aos níveis motores intragrupos, houve diferença estatisticamente significante na situação T apenas na oscilação preparatória, na F a variabilidade ocorreu nos membros inferiores, tronco e oscilação preparatória e no jogo apenas nos membros inferiores. A maioria das crianças não atingiram os níveis esperados da habilidade motora. Verificou-se a relação entre esses contextos, as restrições da tarefa e os níveis de habilidade. Há evidências de que demandas do ambiente podem influenciar o nível de habilidade motora demonstrado.

    Unitermos: Habilidade motora. Meio ambiente. Criança.

 

Abstract

    The present study aimed to verify the level of the basic motor skill of throwing over the shoulder in three different contexts (formal test [T], throwing festival [F] and a throwing game [J]) and whether the contexts can influence the skill level. In the three situations, 45 children between seven and eight years old made three attempts. Most did not reach the expected levels for the age group. The Friedman test was used to compare the results obtained in different contexts. The level of motor skill varied significantly when comparing the results of the game situation in relation to the other two. The differences between the contexts were statistically significant in the following components of the pitch: preparatory oscillation between the contexts of T and J; J and F in all attempts. In the action of the forearm, the variability appeared between F and J. In the action of the humerus, the variance was between the F and J. Regarding the intragroup motor levels, there was a statistically significant difference in situation T only in the preparatory oscillation, in F the variability occurred in lower limbs, trunk and preparatory oscillation and in the game only on lower limbs. Most children did not reach the expected levels of motor skills. The relationship between these contexts, the task restrictions and the skill levels was verified. There is evidence that demands from the environment can influence the level of demonstrated motor skill.

    Keywords: Motor skills. Environment. Child.

 

Resumen

    El presente estudio tuvo como objetivo verificar el nivel de habilidad motora básica de lanzamiento sobre el hombro en tres contextos diferentes (prueba formal [T], festival de lanzamiento [F] y juego de lanzamiento [J]) y si los contextos pueden influir en el nivel de habilidad. En las tres situaciones, 45 niñas y niños entre siete y ocho años realizaron tres intentos. La mayoría no alcanzó los niveles esperados para su grupo de edad. Se utilizó la prueba de Friedman para comparar los resultados obtenidos en diferentes contextos. El nivel de habilidad motriz varió significativamente al comparar los resultados de la situación de juego en relación a las otras. Las diferencias entre contextos fueron estadísticamente significativas en los siguientes componentes de lanzamiento: oscilación preparatoria entre contextos T y J; J y F en todos los intentos. En la acción del antebrazo, la variabilidad se presentó entre F y J. En la acción del húmero, la varianza fue entre la F y la J. En cuanto a los niveles motores intragrupo, hubo diferencia estadísticamente significativa en la situación T solo en la oscilación preparatoria, en F la variabilidad se presentó en los miembros inferiores, tronco y balanceo preparatorio y en el juego solo en los miembros inferiores. La mayoría de los participantes no alcanzó los niveles esperados de habilidad motora. Se verificó la relación entre estos contextos, las restricciones de tareas y los niveles de habilidad. Existe evidencia de que las demandas ambientales pueden influir en el nivel de habilidad motora demostrada.

    Palabras clave: Habilidad motora. Medio ambiente. Niña y niño.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 288, May. (2022)


 

Introdução 

 

    Estudos sobre o desenvolvimento da habilidade de arremessar por cima do ombro tem sido realizado com diferentes premissas. Roberton (1977) mostrou que ações segmentares não se desenvolviam na mesma velocidade de ações de componentes motores. Assim a análise do arremesso foi dividida em ação do úmero, antebraço, pernas, pés e tronco. (Roberton, e Halverson, 1984)

 

    Em outro trabalho os autores propuseram a divisão em diferentes segmentos corporais, verificando o movimento realizado por membros superiores, inferiores e tronco (Wickstron, 1983; Ulrich, 1985). Outros estudos com essa habilidade verificaram alterações relacionadas ao tamanho do implemento, tipo de tarefa e diferença de gênero (Roberton, e Halverson, 1984; Roberton, e Konczak, 2001; Cross, 2004; Jackson, 2006; Robinson et al., 2007); variáveis cinemáticas (Stodden, e Langendorfer, 2006; Hirashima et al., 2007, Bento da Silva, et al., 2009); efeitos das mudanças ambientais no arremesso (Marques, 1996; Barela, e Barela 1997; Oliveira, e Manoel 1997; Marta, 2016); a relação com as capacidades físicas (Katic et al., 2008) e a influência da instrução para aprendizagem do arremesso. (Lorson, 2006; Mitchell et al., 2013)

 

    O que se nota, é que na maioria desses estudos os pesquisadores avaliaram a habilidade motora de arremessar por cima do ombro a partir de modelos e testes formais, sem relacionar a ação motora em seu ambiente natural, no entanto o contexto onde a habilidade é vivenciada influencia na execução da mesma e vice-versa.

 

    Por exemplo, Tillaar, e Ettema (2007) investigaram a contribuição da ação do tronco no arremesso por cima do ombro durante um jogo de handebol. Os autores encontraram uma correlação significante entre o tempo em que a pélvis fica na sua máxima extensão com a velocidade da bola, indicando que os melhores arremessadores iniciam a rotação da pélvis bem antes de arremessar a bola.

 

    Katic et al. (2008), observaram a performance em provas do atletismo e as correlacionou com nove componentes de capacidades físicas. Os autores concluíram que o desenvolvimento motor geral e as habilidades motoras específicas do atletismo estão intimamente relacionados.

 

    Estudos recentes como de Gromeier, Koester, e Schack (2017) realizaram a avaliação quantitativa e qualitativa do arremesso de 96 crianças e jovens alemãs e verificaram que no teste quantitativo, o avançar da idade melhorou o desempenho, os meninos obtiveram melhores níveis habilidosos do que as meninas e houve diferença nos componentes de ação na avaliação qualitativa.

 

    Costa et al. (2018) avaliaram a habilidade fundamental de arremessar por cima do ombro de 46 crianças brasileiras para verificar o desempenho de uma habilidade especializada. Os autores comprovaram a importância dessa habilidade básica para proficiência de habilidades esportivas. E Rosales Torres, Peña Espinosa, e Hechavarria Tamayo (2020) investigaram a necessidade de as crianças cubanas da educação infantil desenvolverem a habilidade de arremesso.

 

    Os estudos anteriores mostram o quanto o arremesso é uma habilidade fundamental para o avanço do comportamento motor, as investigações mostram as diferenças qualitativas, quantitativas, gênero, proficiência, componentes de ação motora, mas poucas foram as pesquisas que analisaram a execução do arremesso em contexto natural.

 

    Assim, o objetivo do estudo foi verificar o nível da habilidade motora básica de arremesso por cima do ombro em diferentes contextos: situação de teste formal, situação de festival de arremessos e em um jogo infantil, e se os contextos podem influenciar o nível de habilidade.

 

Método 

    

    Estudo caracterizado como pesquisa exploratória segundo Severino (2007) ela delimita um campo de trabalho para mapear situações e condições do objeto de estudo. Participaram da pesquisa 45 crianças (22 meninos e 23 meninas), com idade entre sete e oito anos, da primeira etapa do ensino fundamental, em uma escola pública de uma cidade do interior do Estado de São Paulo. Todos os responsáveis assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e o estudo foi aprovado pelo comitê de ética da Universidade Metodista de Piracicaba/SP com o parecer número 82/04.

 

    Para observação das relações entre o nível de habilidade de arremessar por cima do ombro e o contexto da tarefa, foram realizadas três coletas de dados, sendo a primeira em situação de teste formal, a segunda durante um festival de arremessos e a última durante a realização de um jogo infantil de arremessar. As coletas foram realizadas em três dias diferentes com intervalo de uma semana entre eles. Nas três situações o comando dado no momento do arremesso era para que a criança arremessasse o mais distante possível. No contexto de teste e festival foram realizadas três tentativas com intervalo entre os arremessos.

 

    Para avaliar o nível de desenvolvimento da habilidade motora de arremessar por cima do ombro, de cada aluno, em cada tentativa de cada contexto de arremessar, foi utilizado o editor de vídeo Pinacle Studio selecionando uma sequência de frames representativa dos momentos do movimento e posteriormente o padrão motor foi analisado conforme protocolo de Roberton, e Halverson (1984), complementados por Roberton, e Konczak (2001) que observam os seguintes componentes: Oscilação preparatória, Ação do úmero, Ação do antebraço, Ação do tronco, Ação dos pés, e Comprimento da passada, conforme o Quadro 1.

 

Quadro 1. Estágios do desenvolvimento motor - Habilidade de arremessar

Componentes

Estágios

Estágio 1

Estágio 2

Estágio 3

Estágio 4

Oscilação preparatória

Não há oscilação

Há uma pequena oscilação e flexão de úmero e cotovelo

Balanço circular para trás e para cima

Balanço circular para trás e para baixo

Ação do úmero

O úmero permanece obliquo em relação ao tronco

O úmero ainda está fora da linha do corpo, mas já faz um movimento independente e melhor angulação

do tronco

O úmero se alinha em relação ao tronco e a bola

 

Ação do antebraço

Se move conforme a bola, acompanha o movimento do objeto na mão

O antebraço e a bola parecem estar parados atrás da criança

Nesse momento aparece o atraso do antebraço em

relação ao úmero

 

Ação do tronco

Sem ação do tronco

Tem uma rotação da parte superior mantendo a pélvis bloqueada

A pélvis faz um movimento mais rápido que a coluna assim essa chega atrasada para aumentar a velocidade

 

Ação dos pés

Sem ação dos pés

O pé que se move para frente é o que esta do mesmo lado do braço de arremesso

O pé de apoio se move para frente mas ainda é pouco e as vezes se move para lateral

Pé de apoio faz

oposição ao braço de arremesso

Comprimento

da passada

Sem passada

Afastamento intermediário

Afastamento longo

 

Fonte: Roberton, e Halverson (1984), e Roberton, e Konczak (2001)

 

    A situação de teste foi filmada em uma quadra poliesportiva e a zona de arremesso foi delimitada em uma área 4 m2. Para gravação das imagens de movimento foram utilizadas duas filmadoras digitais, fixas em tripés e dispostas da seguinte forma: uma na lateral do setor em que as crianças realizaram os movimentos, numa distância de quatro metros e quarenta centímetros, outra atrás do executante, numa distância de cinco metros e noventa centímetros, para a captura da imagem posterior do mesmo.

 

    Para a segunda coleta, os dados foram obtidos durante um festival de Arremesso de Pelota, em uma pista de atletismo. O festival foi caracterizado como uma competição de arremessos entre as crianças participantes da pesquisa. As crianças foram posicionadas no setor de Lançamento de Dardo e a zona de arremesso foi delimitada dentro da linha que forma o ângulo para o lançamento. Como na situação de teste o comando dado foi para que o arremesso fosse o mais distante possível. Foram utilizadas duas filmadoras digitais fixas em tripés (uma na lateral a cinco metros do setor e outra a dois metros atrás da zona de arremesso).

 

    A terceira coleta de dados foi realizada em uma situação de jogo, a tarefa principal era arremessar o mais distante possível. Para essa coleta foram utilizadas duas filmadoras digitais fixas em tripés (uma na posição lateral, a cinco metros da zona de arremesso e outra a seis metros numa visão posterior do movimento).

 

    Neste jogo as crianças foram agrupadas em duplas dentro de área de arremesso que consistia em uma área retangular com seis metros de comprimento por quatro de largura (dentro dessa área ficavam três duplas). O objetivo era que um dos integrantes da dupla arremessasse o mais longe possível, depois os parceiros deveriam correr até o local onde a bola tocou o chão e com um giz na mão fazer um “X” onde a bola tocou o solo, retornando para o local que estavam no momento do arremesso. Depois de três arremessos não consecutivos as funções da dupla eram invertidas.

 

    A análise estatística contou com o software BioEstat 5.0, utilização de gráficos box-plot, teste de Friedman, para dados não paramétrico mensurados a nível ordinal, abrangendo três ou mais amostras (Field, 2009), o nível de significância dos testes foi de p<0,05. Esse teste também foi usado por Barela, e Barela (1997) para comparar os resultados em diferentes contextos.

 

Resultados 

 

    A maioria dos sujeitos não atingiu o estágio mais avançado em todos os segmentos.

 

    Na situação de teste formal a ação de oscilação preparatória apresentou 5,2% das crianças no nível um; 40,7% nível nos dois e 54,1% no nível quatro. Na ação do úmero 5,2% dos alunos estavam no nível um; 61,5% no nível dois e 33,3% no nível três. Para ação do antebraço 5,2% das crianças estavam no nível um; 61,5% nível nos dois e 33,3% no nível três. Na ação do tronco 3,7% das crianças apresentaram nível um; 51,1% nível dois e 45,2% nível três. Nos membros inferiores a ação dos pés indicou 5,9% das crianças no nível um; 53,3% no nível dois e 40,7% no nível quatro. No comprimento da passada 5,9% apresentaram nível um; 53,3% nível dois e 40,7% nível três, conforme pode ser visto no Gráfico 1.

 

Gráfico 1. Distribuição dos níveis de habilidade motora das crianças nas ações avaliadas na situação de teste

Gráfico 1. Distribuição dos níveis de habilidade motora das crianças nas ações avaliadas na situação de teste

Fonte: Elaboração própria

 

    Na situação de festival a ação de oscilação preparatória apresentou 2,2% das crianças no nível um; 31,1% no nível dois; 17,8% no nível três e 48,9% no nível quatro. Na ação do úmero 2,2% dos alunos estavam no nível um; 48,9% no nível dois e 48,9% no nível três. Para a ação do antebraço 2,2% no nível um, 48,9% no nível dois e 48,9% no nível três. A ação do tronco apresentou 1,5% das crianças no nível um; 45,2% no nível dois e 53,3% no nível três. Nos membros inferiores a ação dos pés indicou 2,2% das crianças no nível um; 33,3% no nível dois e 64,4 % no nível quatro. E no comprimento da passada 2,2% no nível um; 33,3% no nível dois e 64,4 % no nível três, como pode ser visto no Gráfico 2.

 

Gráfico 2. Distribuição dos níveis de habilidade motora das crianças nas ações avaliadas na situação de festival

Gráfico 2. Distribuição dos níveis de habilidade motora das crianças nas ações avaliadas na situação de festival

Fonte: Elaboração própria

 

    No jogo, a ação de oscilação preparatória apresentou 58,5% dos alunos no nível três e 41,5% no nível quatro. Na ação do úmero 58,5% dos alunos estavam no nível três e 41,5% no nível três. Para ação do antebraço 58,5% das crianças apresentaram nível três e 41,5% nível três. A ação do tronco mostrou 47,7% dos alunos no nível dois e 52,6% no nível quatro. Nos membros inferiores a ação dos pés indicou 1,5% dos alunos no nível um; 37% no nível dois e 61,5% no nível quatro. No comprimento da passada 1,5% no nível um; 37% no nível dois e 61,5% no nível três, conforme o Gráfico 3.

 

Gráfico 3. Distribuição dos níveis de habilidade motora das crianças nas ações avaliadas na situação de jogo

Gráfico 3. Distribuição dos níveis de habilidade motora das crianças nas ações avaliadas na situação de jogo

Fonte: Elaboração própria

 

    As médias gerais dos scores referentes ao nível de habilidade relativas aos três diferentes contextos demonstram que as crianças apresentaram um nível habilidoso maior na situação de festival e jogo. Os resultados foram: Situação de teste 16,5; Situação de festival 17,5; e Situação de jogo 17.

 

    As diferenças entre os contextos foram estatisticamente significantes nos seguintes componentes do arremesso: oscilação preparatória entre os contextos de teste e jogo; jogo e festival em todas as tentativas. Na ação do antebraço a variabilidade apareceu entre festival e jogo. Na ação do úmero a variância foi entre o festival e jogo, conforme Tabela 1.

 

Tabela 1. Valores de variância do teste Friedman para as ações analisadas nos três contextos em todas as tentativas

Componentes

Média da Variabilidade do Valor Modal (entre grupos)

Festival

Jogos

Teste

p valor

OP

0,82e

0,99e f

0,79f

< 0,01

AU

0,93c

0,99c

0,97

0,011

AA

0,98a

0,91a

0,96

0,019

AT

0,94

0,98

0,91

0,050

AP

0,93

0,90

0,90

0,568

CP

0,93

0,90

0,90

0,568

Legenda: OP – Oscilação Preparatória / AU – Ação do Úmero / AA – Ação do Ante-Braço / AT – Ação do Tronco / 

AP – Ação dos Pés / CP – Comprimento das Passadas. Médias seguidas da mesma letra são diferentes estatisticamente. 

Fonte: Elaboração própria.

 

    Para entender as diferenças entre os contextos estabeleceu-se que a “pontuação” máxima seria de 20 pontos (soma do resultado máximo de todos os componentes observados), essa técnica foi adaptada de Bigotti, e Tolocka (2005), dessa forma pode-se observar o desenvolvimento global de cada aluno nos diferentes contextos, conforme Figura 1.

 

Figura 1. Distribuição dos resultados dos níveis globais do desenvolvimento dos três contextos

Figura 1. Distribuição dos resultados dos níveis globais do desenvolvimento dos três contextos

Fonte: Elaboração própria

 

Discussão 

 

    Os resultados do presente estudo, no qual a maioria das crianças não atingiu o nível motor esperado para faixa etária, são semelhantes aos encontrados por Marques (1996), Barela, e Barela (1997), Basso et al. (2005), Marques, e Catenassi (2005), Barreto, e Tremea (2006), Rocha et al. (2006), Bento da Silva et al. (2009), e Darko (2016) que também apresentaram níveis motores abaixo do esperado. Ressalta-se que, mesmo em diferentes contextos, o desempenho abaixo do esperado para a idade se mantém.

 

    Porém, as crianças demostraram diferentes possibilidades de ação do arremesso nos diferentes contextos. Essa diferença aponta para possíveis indicativos de que as variáveis relacionadas ao meio ambiente podem interferir na execução da habilidade, como proposto por Krebs et al. (2008) e Krebs (2009), gerando a necessidade de uma melhor investigação do fenômeno.

 

    É interessante notar que no presente estudo, as crianças não apresentaram comportamento maduro em todas as ações em nenhum dos diferentes ambientes observados. Ao observar-se as ações separadamente, nota-se que na situação de teste, todas as ações obtiveram uma maior frequência no nível dois, nas três tentativas, enquanto que na situação de festival a maior frequência foi no nível dois nas duas primeiras tentativas,pois não houve diferença estatisticamente significante nos níveis desenvolvimentais entre estes dois contextos. Isto pode indicar que o comportamento do grupo de crianças não variou nos contextos de festival e teste.

 

    Resultado semelhante foi encontrado por Barela, e Barela (1997) que ao modificarem apenas a distância do alvo onde a criança deveria arremessar, também não encontraram diferenças significativas entre os resultados obtidos nas duas situações. Em ambos os casos as mudanças ambientais foram pequenas.

 

    Nesse estudo, entre teste e festival, o que mudou foi o local de execução do arremesso (o teste foi feito na quadra e o festival na pista de atletismo), mas o objetivo ou a meta continuaram os mesmos,ou seja, em situações semelhantes, mantidas as metas, a variância dos grupos em relação aos níveis motores não foi significativa.

 

    Porém, quando se observa o contexto de jogo, houve maior frequência de crianças no nível dois durante as duas primeiras tentativas, sendo que na última houve um maior número de crianças no nível três. Esses resultados se repetiram para todas as ações analisadas. De acordo com Ginsburg (2007) há um indicativo de que a situação lúdica agiu como fator motivador para as crianças, pois elas melhoraram os resultados.

 

    Bader, e Krebs (2002) ao realizar um estudo sobre as atividades preferidas por crianças de 7 a 10 anos de idade, observaram que as lúdico-desportivas eram as principais; desta forma, a situação lúdica do presente estudo estaria entre as atividades preferidas das crianças, o que poderia explicar as melhoras observadas.

 

    A motivação com que as crianças realizam suas tarefas preferidas é diferente da motivação que elas possuem para realizar um teste. Assim, seria necessário um estudo que avaliasse o nível de motivação das crianças nas diferentes situações de avaliação, para verificar tal relação.

 

    Destaca-se que a tarefa analisada nos três contextos apresentava o mesmo objetivo: arremessar o mais longe possível, e a diferença entre o último contexto (jogo) foi significativa em relação aos outros, com isso pode-se inferir que, as demandas do ambiente relacionadas a outras ações envolvidas na tarefa também influenciaram o resultado.

 

    Embora tenha sido analisado apenas o momento em que a criança estava arremessando o mais longe possível, outras demandas estavam sendo exigidas das crianças: no jogo, ela não estava realizando a tarefa sozinha, ela se relacionava tanto com seu parceiro, quanto com as outras duplas que realizaram a tarefa simultaneamente. Na situação de jogo ela se envolvia com o movimento dos outros e estabelecia uma competição e ainda precisavam lidar com suas emoções, que aparentemente estavam mais estimuladas.

 

    Os resultados apresentados demonstraram que o padrão motor não se manteve quando o ambiente foi modificado. As crianças quando avaliadas nos contextos de jogo e festival, obtiveram níveis desenvolvimentais mais maduros e escores superiores em relação ao contexto de teste.

 

    Ao analisar a variabilidade do nível motor em relação aos contextos de testes e festival, essa não foi significativa, talvez devido a semelhança de execução entre os dois contextos, diferentemente no jogo, onde os arremessos eram com outras crianças, isto pode explicar, em parte, a variabilidade da tarefa quando analisada em situação de jogo.

 

    As restrições ambientais estão relacionadas ao ambiente onde o sujeito realiza a tarefa. No jogo, o contexto da tarefa foi modificado, a presença do outro e a possibilidade lúdica desta interação estavam presentes, alterando o ambiente de execução.

 

    A situação de jogo mostrou-se como o ambiente mais instável, devido ao grande número de influências externas, segundo Oliveira, e Manoel (1997) o padrão de movimento pode ser modificado se o ambiente for instável, a relação contexto e indivíduo exerce maior influência sobre o executante.

 

Conclusões 

 

    A maioria das crianças do presente estudo não atingiu os níveis de habilidade motora de arremessar por cima do ombro previstos pela literatura em nenhum dos três contextos em que movimento foi executado, embora a tarefa fosse semelhante nas três situações.

 

    Verificou-se que as demandas do ambiente influenciaram o nível motor dos participantes. Nos contextos de teste formal e festival de arremessos, onde as demandas eram semelhantes, modificando-se apenas o local da realização da tarefa (quadra ou pista) a diferença não foi significativa, mas quando comparadas com a situação de jogo, a diferença foi significativa, tanto entre jogo e festival quanto entre jogo e teste, elevando o nível de habilidade motora utilizado.

 

    Isto pode ter ocorrido porque a situação de jogo requer maior complexidade da ação e em consequência,exige ações mais acuradas que resultam em melhores resultados. Novos estudos são necessários para verificar os fatores motivacionais e a relação do nível de complexidade da tarefa com o nível de desenvolvimento da habilidade.

 

Referências 

 

Basso, L., Marques, I., e Manoel, E.J. (2005). Collective behaviour of components in overarm throwing pattern. Journal of Human Movement Studies, 48(1), 1-14. https://www.researchgate.net/publication/236335829

 

Bader, L.G., e Krebs, R.J. (2002). Atividades preferidas e praticadas, em espaços de lazer, no tempo livre, por crianças de 7 a 10 anos, de Balneário Camboriú - SC. Cinergis, 3(2), 157-173.

 

Barela, A.M.F., e Barela, J.A. (1997). Restrições ambientais no arremesso de ombro. Motriz, 3(2), 1-9. https://doi.org/10.5016/6557

 

Barreto, L., e Tremea, V.S. (2006). Análise dos padrões fundamentais de movimento de crianças de 6 e 7 anos de idade e as contribuições das aulas de educação física. In: Anais do XI Congresso Ciências do Desporto e Educação Física dos países de língua portuguesa, 1(1), 10-11.

 

Bento da Silva, S., Vilela Junior, G.B., e Tolocka, R.E. (2009). Arremessar por cima do ombro e a distância percorrida pelo implemento. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, 23(4), 309-18. https://doi.org/10.1590/S1807-55092009000400001

 

Bigotti, S., e Tolocka, R.E. (2005). Desenvolvimento motor, gênero e medidas antropométricas em crianças na infância avançada. Temas sobre desenvolvimento, 14(84), 49-56.

 

Cross, R. (2004). Physics of overarm throwing. American Journal of Physics, 72(3), 305-312. http://dx.doi.org/10.1119/1.1634964

 

Costa, C.L.A., Benda, R.N., Matos, C.O., Bandeira, P.F.R., Lage, G.M., e Ugrinowitsch, H. (2018). Efeito do nível de desenvolvimento em habilidades motoras fundamentais no desempenho de uma habilidade especializada. Motricidade, 14(S1), 31-39. https://www.researchgate.net/publication/328253251

 

Darko, R.A. (2016). Assessing the developmental level of overarm throwing skill performance of kindergarten (KG) two pupils at Esau Ofori KG in the Akuapemnorth district, Ghana. International Journal of Physical Education, Sports and Health, 3(2), 300-302. https://www.kheljournal.com/archives/?year=2016&vol=3&issue=2&part=F&ArticleId=374

 

Field, A. (2009). Descobrindo a estatística usando SPSS (2ª ed.). Artmed Editora.

 

Ginsburg, K. (2007). The Importance of play in promoting healthy child development and maintaining strong parent-child bonds. Journal Pediatrics, 119, 182-191. https://doi.org/10.1542/peds.2006-2697

 

Gromeier, M., Koester, D., e Schack, T. (2017). Gender Differences in Motor Skills of the Overarm Throw. Front Psychol., 8, 212. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2017.00212

 

Hirashima, M., Kudo, K.,Watari, K., e Ohtsuki, T. (2007). Control of 3D Limb Dynamics in Unconstrained Overarm Throws of Different Speeds Performed by Skilled Baseball Players. Journal Neurophysiolgy, 97, 680-691. https://doi.org/10.1152/jn.00348.2006.

 

Jackson, S.L. (2006). Effects of Speed on Overarm Throing: A Dynamic Systems Perspective. In: AAHPERD National Convention and Exposition. Salt Lake City. UT.

 

Katic, R., Edvard, R., Sanja, M., Snjecana, I., e Ines, G. (2008). Development of Motor and Specific Motor Abilities for Athletics in Elementary School Male and Female First-Graders. Collection Antropology, 32(4), 1141-1147. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19149221/

 

Krebs, R.J., Copetti, F., Serpa, S., e Araújo, D. (2008). Disposições pessoais de tenistas jovens: um estudo fundamentado na teoria Bioecológica de Bronfenbrenner. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, 2(2), 1-24. http://dx.doi.org/10.31501/rbpe.v2i2.9279

 

Krebs, R.J. (2009). Bioecological Theory of Human Development and the process of development of sports talent. International Journal of Sport Psychology, 40(1), 108-135. https://www.researchgate.net/publication/289805223

 

Lorson, K.M. (2006). Overam Throwing Velocity of High-School-Age Boys and Girls. In: AAHPERD National Convention and Exposition, Salt Lake City, UT.

 

Marta, C., Casanova, N., Fonseca T., Vila-chã C., Esteves PT, Carvalhal MIM, Marques, MC, e Marinho, DA (2016). Efeito das variáveis biológicas, socioculturais e motoras na prestação do lançamento em crianças pré-pubertárias. Motricidade. 12(1), 83-95. http://dx.doi.org/10.6063/motricidade.6294

 

Marques, I. (1996). Arremessar ao alvo e à distância: uma análise de desenvolvimento em função do objetivo da tarefa. Revista Paulista de Educação Física, 10(2), 122-138. https://doi.org/10.11606/issn.2594-5904.rpef.1996.138525

 

Marques, I., e Catenassi, F.Z. (2005). Restrições da tarefa e padrões fundamentais de movimento: uma comparação entre o chutar e arremessar. Revista da Educação Física/UEM, 16(2) 155-162. https://www.researchgate.net/publication/283529783

 

Mitchell, B., Mclennan, S., Latimer, K., Graham, D., Gilmore, J., e Rush, E. (2013). Improvement of fundamental movement skills through support and mentorship of class room teachers. Obesity Research & Clinical Practice, 7(3), 230-234. https://doi.org/10.1016/j.orcp.2011.11.002

 

Oliveira, J.A., e Manoel, E.J. (1997). Relação entre a habilidade arremessar e o objetivo da tarefa. Boletim do Laboratório de Comportamento Motor, 1(2) 1-9.

 

Roberton, M.A. (1977). Stability of stage categorization across trials: Implications for the "stage theory" of overarm throw development. Journal of Human Movement Studies, 3(1), 49-59. https://www.researchgate.net/publication/291749325

 

Roberton, M.A., e Halverson, L.E. (1984). Developing children - their changing movement: A guide for teachers. Lea & Febiger publisher.

 

Roberton, M.A., e Konczak, J. (2001). Predicting children’s overarm throw ball velocities from their developmental levels in throwing. Research Quarterly for Exercise and Sport, 72(2), 91-103. http://dx.doi.org/10.1080/02701367.2001.10608939

 

Robinson, L.E., Goodway, J.D., e Williams, E.J. (2007). Developmental Trends of Overarm Throwing Performance in Young Children. In: AAHPERD National Convention and Exposition (pp. 13-17), Salt Lake City, UT.

 

Rocha, F., Siqueira, M., Benda, M., e Ugrinowitsch, H. (2006). Análise dos padrões fundamentais de movimento em pré-escolares: praticantes e não praticantes de educação física escolar. In: Anais XI Congresso Ciências do Desporto e Educação Física dos países de língua portuguesa. http://citrus.uspnet.usp.br/eef/uploads/arquivo/66_Anais_p303.pdf

 

Rosales Torres, A.Y., Peña Espinosa, Y.L., Hechavarria Tamayo, E.R. (2020). Juegos pequeños recreativos para el desarrollo de las habilidades motrices lanzar y atrapar en escolares del preescolar. Revista científica Olimpia, 17, 505-519. https://revistas.udg.co.cu/index.php/olimpia/article/view/1568

 

Severino, A.J. (2007). Metodologia do Trabalho Científico (23ª ed.). Cortez Editora.

 

Stodden, D.F., Langendorfer, S.J., e Fleisig, G.S. (2006). Kinematic constraints associated with the acquisition of overarm throwing part I: step and trunk actions. Research Quarterly for Exercise and Sport, 77(4), 417-27. http://dx.doi.org/10.1080/02701367.2006.10599377

 

Tillaar, V.D.R., e Ettema, G. (2007). A three-dimensional analysis of overarm throwing in experienced handball players. Journal Appl Biomech, 23(1), 12-9. http://dx.doi.org/10.1123/jab.23.1.12

 

Ulrich, D.A. (1985). Test of gross motor development. Pro-ED Inc.

 

Wickstron, R.L. (1983). Fundamental motor patterns. Lea & Febiger publisher.


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 288, May. (2022)