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ISSN 1514-3465

 

A transversalidade na Educação Física escolar. Uma relação necessária?

The Cross-Cutting in School Physical Education. A Necessary Relationship?

La transversalidad en la Educación Física escolar. ¿Una relación necesaria?

 

Leonardo Paula Fraga de Castro

leocastrofraga@yahoo.com.br

 

Graduação plena em Educação Física

pela Associação Brasileira de Ensino Universitário (UNIABEU)

Especializado em reabilitação cardíaca e atividades físicas

para grupos especiais pela Universidade Gama Filho (UGF)

Especializado em psicomotricidade pela Candido Mendes-AVM

(Brasil)

 

Recepção: 31/08/2020 - Aceitação: 26/06/2021

1ª Revisão: 31/12/2020 - 2ª Revisão: 24/06/2021

 

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Citação sugerida: Castro, L.P.F. de (2021). A transversalidade na Educação Física escolar. Uma relação necessária? Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(281), 167-182. https://doi.org/10.46642/efd.v26i281.2568

 

Resumo

    O presente texto correlaciona as pesquisas com foco na análise das relações entre a Educação Física Escolar e os Temas Transversais, com o objetivo de compreender a importância desta relação, buscando por um diálogo da disciplina com a realidade da comunidade escolar de forma significativa no processo de desenvolvimento crítico dos educandos. Foram selecionados quatro trabalhos de pesquisa de campo que relacionavam a educação física escolar aos temas transversais, além de documentos oficiais como a Lei de Diretrizes e bases da Educação, Parâmetros curriculares Nacionais e a Base Nacional Comum Curricular para compor o plano de fundo das argumentações deste trabalho. Diante das discussões apresentadas conclui-se que a Educação Física deve emergir para a sociedade como disciplina curricular que trata o corpo em suas diversas manifestações e não apenas no seu trato procedimental esportivo. Para isso a adesão dos Temas Transversais inseridos ao currículo para contextualiza-lo e problematiza-lo, pode ser um passo importante para a disciplina sair das amarras de uma prática esportivizante alienante.

    Unitermos: Educação Física. Escola. Temas transversais.

 

Abstract

    This text correlates the researches focused on the analysis of the relationship between Physical Education in School and Cross-cutting Themes, with the aim of understanding the importance of this relationship, seeking a dialogue between the discipline and the reality of the school community in a significant way in the process of critical development of students. Four field research papers that related school physical education to cross-cutting themes were selected, as well as official documents such as the Law of Guidelines and bases of Education, National Curriculum Parameters and the Common National Curriculum Base to compose the background of the arguments of this work. In view of the discussions presented, it is concluded that Physical Education must emerge for society as a curricular discipline that deals with the body in its various manifestations and not only in its sporting procedural approach. For this the adherence of the Cross-cutting Themes inserted into the curriculum to contextualize it and problematizes it, it can be an important step for the discipline to get out of the bonds of an alienating sportive practice.

    Keywords: Physical Education. School. Cross-cutting themes.

 

Resumen

    Este texto correlaciona las investigaciones centradas en el análisis de la relación entre la Educación Física escolar y los Temas Transversales, con el objetivo de comprender la importancia de esta relación, buscando un diálogo entre la disciplina y la realidad de la comunidad escolar de manera significativa. en el proceso de desarrollo crítico de los estudiantes. Se seleccionaron cuatro trabajos de investigación de campo que relacionaban la Educación Física escolar con temas transversales, así como documentos oficiales como la Ley de Lineamientos y Bases de la Educación, Parámetros Curriculares Nacionales y la Base Curricular Nacional Común para componer el trasfondo de los argumentos de este trabajo. A la vista de las discusiones presentadas, se concluye que la Educación Física debe emerger para la sociedad como una disciplina curricular que se ocupa del cuerpo en sus diversas manifestaciones y no solo en su enfoque procedimental deportivo. Para ello la adhesión a los Temas Transversales insertados en el currículo para contextualizarlo y problematizarlo, puede ser un paso importante para que la disciplina se libere de la redes de una práctica deportiva alienante.

    Palabras clave: Educación Física. Escuela. Temas transversales.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 281, Oct. (2021)


 

Introdução 

 

    Parece haver um consenso, tendo em vista as produções acadêmicas, da década de 1990 (Betti, 1991; Coletivo de autores, 1992), dentre outros, sobre a discussão do conteúdo e do seu tratamento para uma Educação Física Escolar progressista (Betti et al., 2015, p. 155). Contudo trabalhos mais recentes (Ruy, e Ramos, 2007; Ulasowicz, e Peixoto, 2004; De Matos, 2019; Knuth, Azevedo, e Rigo, 2007) vêm mostrando que a Educação Física Escolar ainda é tratada em sua forma mais tradicional, atrelando seu conteúdo ao mecanicismo técnico esportivo. O esporte nas aulas de Educação Física Escolar parece predominar um tratamento próximo ao apresentado pelas mídias (técnico, competitivo e de alto rendimento); desse modo, além de ser apresentado ao aluno sem trazer nenhuma reflexão sobre sua prática (Ruy, e Ramos, 2007, p. 1), assim, ignorando suas dimensões conceituais e atitudinais, privilegia os alunos mais habilidosos causando uma ruptura no acesso democrático ao conhecimento diante daqueles considerados "não habilidosos" que são inibidos e desencorajados a participar das aulas. (Zabala, 1998, como citado em Ruy, e Ramos, 2007, p. 9)

 

    Apresentada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), as dimensões dos conteúdos: conceituais, procedimentais e atitudinais é sintetizada por Zabala (1998), da seguinte forma. Dimensão conceitual: corresponde ao conceito e a história por traz do conteúdo trabalhado, conhecer a maneira mais eficiente energeticamente de executar determinada tarefa; dimensão procedimental: relaciona-se com a vivência das práticas corporais, como jogos e brincadeiras, danças, lutas e ginástica; e dimensão atitudinal: participar das atividades e estudos buscando um posicionamento ético de respeito aos outros participantes e as regras, entendendo que o melhor caminho para se conquistar um objetivo passa pelo respeito à ética e a valorização da democracia.

 

    É destacado em Ruy, e Ramos (2007) que o ensino da Educação Física está voltado apenas para sua dimensão procedimental. O aluno desde o primeiro momento que adentra o universo escolar, a disciplina Educação Física lhe é apresentada em caráter esportivo, exaltando o “como fazer”, da execução técnica de movimento, não levando em consideração os significados do movimento corporal para os alunos. (Santiago, 2005, como citado em Ruy, e Ramos, 2007, p. 13)

 

    Para Ulasowicz, e Peixoto (2004, p. 64) mesmo com discussões de outros modelos de Educação Física Escolar no plano acadêmico, persiste no ambiente escolar um modelo que enfatiza a habilidade esportiva, que resulta na exclusão dos menos habilidosos, desta forma fica claro para os autores, que tais discussões acadêmicas não alcançam os professores nas escolas.

 

    Este tipo de atuação da disciplina curricular faz da mesma uma ferramenta de alienação, ou seja, que afasta os indivíduos de questões importantes para a sua atuação democrática na sociedade, já que não traz o aluno para a reflexão crítica dos conteúdos da cultura corporal de movimento (Betti, 1994). É notória nos PCNs a preocupação de combate às desigualdades e injustiças sociais e que devem ser trabalhadas através da cultura corporal de movimento, pois o documento deixa claro suas preocupações sociais quando explicita que:

    A sociedade brasileira carrega uma marca autoritária: já foi uma sociedade escravocrata, além de ter uma larga tradição de relações políticas paternalistas e clientelistas, com longos períodos de governos não democráticos. Até hoje é uma sociedade marcada por relações sociais hierarquizadas e por privilégios que reproduzem um altíssimo nível de desigualdade, injustiça e exclusão social. (Brasil, 1998, p. 20)

    Betti (1991) evidencia que na década de 1970 a Educação Física, influenciada pelos poderes vigentes tinha um objetivo claro, o de formar uma juventude forte e saudável e, para isso, estreitaram-se os vínculos entre as práticas esportivas e o sentimento nacionalista. Este fenômeno solidificou o conteúdo esportivo no ambiente escolar. (Darido, 2012)

 

    Diante da historicidade da Educação Física Escolar, construiu-se uma visão progressista, perante do declínio da ditadura militar em 1970 que possibilitou novas concepções no campo político e educacional (Martineli, e Mileski, 2012). Junto a isso, a inserção de professores de educação física nos cursos strictu-senso levou ao questionamento dos currículos e métodos técnico esportivos e militaristas, aproximando os fundamentos da educação física aos das ciências sociais (Mileski et al., 2007, como citado em Martineli, e Mileski, 2012, p. 2), que se firmou na década de 1980, que nos mostra a busca da disciplina por legitimar-se no meio escolar através da contextualização dos seus conteúdos com as necessidades históricas e sociais de nosso país. Os PCNs trouxeram uma proposta de interdisciplinaridade, relacionando-se aos conteúdos curriculares e aos problemas sociais que afligem mediante um debate com os Temas Transversais, que são categorizados em: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo e Pluralidade Cultural.

 

    Os Temas Transversais foram idealizados a partir dos problemas sociais que o Brasil, de forma emergencial, precisa superar. A escola como órgão formador, necessita se doar como campo de discussão dos temas, objetivando a formação de cidadãos conscientes e transformadores de sua realidade. (Brasil, 1997)

 

    De acordo com González, e Fensterseifer (2010) a Educação Física Escolar, em uma tentativa de se legitimar no ambiente escolar, como disciplina curricular, vem abandonando suas práticas mais tradicionais, como o foco esportivizante e biomecânico do movimento pelo movimento, descontextualizado com a vida dos alunos, assim sendo, não gerando uma reflexão sobre sua prática, porém de acordo com os autores ainda encontra-se muitas dificuldades.

 

    Segundo Darido (2012) quando se opta por trabalhar os Temas Transversais, a Educação Física ganha novos significados, rompendo suas características tradicionais, objetivando a construção de uma percepção crítica e reflexiva dos alunos em todos os segmentos da sua vida. Portanto, a escola tem o dever de formar agentes sociais capazes de interagir de forma ativa no contexto social, gerindo suas vidas baseadas em princípios de bem-estar pessoal e comum objetivando o desenvolvimento social.

 

    Para Betti et al. (2015), o aluno é mais que um receptor de informação, ele mobiliza e produz saberes, sendo assim a escola também é mais que um local de ensino e deve propor ao aluno aprendizagens entendendo-o como agente central do processo educativo. Desta forma, as utilizações dos Temas Transversais poderiam ser o caminho para que a Educação Física Escolar venha a galgar novos horizontes que vão além das dimensões procedimentais, do “jogo pelo jogo” ou das atividades exclusivamente motoras. (Ruy, e Ramos, 2007)

 

    Deste modo, o presente estudo objetiva compreender a importância da relação entre a Educação Física Escolar e os Temas Transversais, buscando por um diálogo da disciplina com a realidade da comunidade escolar de forma significativa no processo de desenvolvimento crítico dos educandos.

 

Método 

 

    A metodologia consistiu em uma pesquisa exploratória e descritiva, objetivando traçar um comparativo nos documentos e na bibliografia levantada e sua práxis no contexto da Educação física escolar, bem como o seu impacto na vida dos educandos, através de análise bibliográfica de forma qualitativa. Para a realização deste trabalho foi feita uma coleta de dados bibliográficos e documentais, onde se utilizou como base de dados o Google Acadêmico, que compõe artigos de diversos outros bancos de dados como o Scielo, o Wile e o Altametric, no período de 3 de junho de 2020 a 28 de dezembro de 2020. Como critério de seleção de artigos, partindo de uma analise do discurso, foram selecionados trabalhos que apresentavam uma metodologia de campo onde continham uma preocupação em analisar a relação entre os Temas Transversais e a Educação Física Escolar, Com isso foram selecionados quatro trabalhos: Betti et al. (2015), Ruy, e Ramos (2007), Knuth, Azevedo, e Rigo (2007), e De Matos (2019). O trabalho de Betti et al. (2015), apesar de não abordar a temática da transversalidade, se mostrou relevante à discussão, pois apresenta a predominância dos conteúdos da Educação Física pela percepção dos alunos entrevistados. Foram excluídos os trabalhos inferiores ao ano de 2005 e que não mantinham uma preocupação com os temas transversais ou com a análise dos conteúdos tradicionalmente abordados na disciplina como: esportes, danças, lutas e ginástica.

 

    Foram selecionados também: documentos oficiais como a Lei de Diretrizes e bases da Educação, Parâmetros Curriculares Nacionais e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para compor o plano de fundo das argumentações deste trabalho.

 

Resultados e discussão 

 

A transversalidade dos PCNs na escola 

 

    Incorporados ao currículo escolar, sem com isso se tornarem novas disciplinas e nem tão pouco cercearem a autonomia pedagógica dos profissionais da educação, os Temas Transversais se apresentam como grandes questões de urgência social, entrando na escola de forma transversal, interagindo com todas as disciplinas, conectando as discussões dos temas sociais mais urgentes (e necessários) com os programas escolares, assuntos outrora delicados, verdadeiros tabus de uma sociedade conservadora, com o conteúdo de um sistema educacional mais atento à realidade de nossa sociedade heterogênea e consciente do respeito às particularidades de cada individuo, preocupada com temáticas que contemplem a Ética, a Pluralidade Cultural, o Meio Ambiente, a Saúde e a Orientação Sexual.

 

    O documento deixa bem claro quando expõe que:

    Os Parâmetros Curriculares Nacionais configuram uma proposta aberta e flexível, a ser concretizada nas decisões regionais e locais sobre currículos e sobre programas de transformação da realidade educacional empreendidos pelas autoridades governamentais, pelas escolas e pelos professores. Não configuram, portanto, um modelo curricular homogêneo e impositivo, que se sobreporia à competência dos estados e municípios, à diversidade política e cultural das múltiplas regiões do país ou à autonomia de professores e equipes pedagógicas. (Brasil, 1998, p. 50)

    Cada tema possui um capítulo que orientada o trabalho pedagógico do professor e da escola, expondo questões, orientações didático-pedagógicas, critérios de avaliação e conteúdos, para que a escola crie um planejamento eficiente e coerente com as questões que envolvam o meio escolar e a região onde a escola se situa, dando assim um norte as práticas educativas. Apoiado no artigo 3º da Constituição Federal (Brasil, 1988, art. 3º) os Temas Transversais apresentam-se como um avanço para a escola e a formação dos alunos através da tematização dos conteúdos das disciplinas. Os Temas Transversais se apresentam da seguinte maneira:

 

    Saúde: Neste tema apresenta-se uma preocupação com os alunos, partindo do posicionamento da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 1948: “Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”. (Brasil, 1998)

 

    O documento refere-se a este posicionamento quando se alinha a concepção Canadense da década de 80 de “cidade saudável”, que explicita as seguintes características (Brasil, 1998, p. 254):

    Uma comunidade forte, solidária e constituída sobre bases de justiça social, na qual ocorre alto grau de participação da população nas decisões do poder público;

 

    Ambiente favorável à qualidade de vida e à saúde, limpo e seguro; satisfação das necessidades básicas dos cidadãos, incluídos a alimentação, a moradia, o trabalho, o acesso a serviços de qualidade em saúde, educação e assistência social;

 

    Vida cultural ativa, sendo promovidos o contato com a herança cultural e a participação numa grande variedade de experiências;

 

    Economia forte, diversificada e inovadora.

    Entendendo a saúde como direito universal, o documento justifica sua entrada como Tema Transversal no ambiente escolar, com a proposta de conscientização de ações que melhorem os padrões de saúde, interferindo nas mudanças de hábitos do dia-a-dia dos cidadãos. Contudo, sem se sobrepor as instituições de saúde, mas de forma complementar, a educação escolar possui um espaço privilegiado para a promoção da saúde, com isso, fica claro que a escola não é e não será a principal instituição de promoção a saúde, mas sim uma rica contribuidora para o processo de conscientização da importância deste tema. (Brasil, 1998)

 

    Meio ambiente: com uma proposta de conscientização, o documento apresenta preocupações com os hábitos destrutivos ao meio ambiente, que partem da ação de jogar papel no chão às queimadas, explicitando a relação de bem-estar da humanidade e a conservação do meio ambiente. Deste modo, propõe ações pedagógicas de conscientização para a urgência do tema, justificando-o assim para compor os Temas Transversais. O documento salienta uma preocupação com o consumo inconsciente.

    A demanda global dos recursos naturais deriva de uma formação econômica cuja base é a produção e o consumo em larga escala. A lógica, associada a essa formação, que rege o processo de exploração da natureza hoje, é responsável por boa parte da destruição dos recursos naturais e é criadora de necessidades que exigem, para a sua própria manutenção, um crescimento sem fim das demandas quantitativas e qualitativas desses recursos. (Brasil, 1998, p.173)

    O documento não deixa dúvidas quanto à influência da escola nas questões ambientais, preocupando-se com a formação de cidadãos conscientes e críticos, como também proativos com as questões socioambientais.

 

    Ética: neste tema é enfatizada a necessidade de formar indivíduos conscientes de seus direitos e deveres como também questionadores dos padrões e comportamentos sociais, buscando a formação de indivíduos éticos diante de conflitos que envolvam o bem-estar comum. Sendo assim a escola configura-se como um dos principais campos que possibilitam a reflexão sobre as ações e escolhas humanas.

    Como o objetivo deste trabalho é o de propor atividades que levem o aluno a pensar sobre sua conduta e a dos outros a partir de princípios, e não de receitas prontas, batizou-se o tema de Ética, embora freqüentemente se assuma, aqui, a sinonímia entre as palavras ética e moral e se empregue a expressão clássica na área de educação de “educação moral”. Parte-se do pressuposto que é preciso possuir critérios, valores, e, mais ainda, estabelecer relações e hierarquias entre esses valores para nortear as ações em sociedade. Situações dilemáticas da vida colocam claramente essa necessidade. (Brasil, 1998, p. 49)

    De modo geral os temas elencados para compor os Temas Transversais estão intimamente atrelados aos indivíduos no seu cotidiano, e para os jovens, a escola é parte significativa da sua vida, onde ocorrem diversas relações de afeto, conflitos e dilemas. A ética, sendo um Tema Transversal, não foge a essas características, e a escola deve propor ao aluno o questionamento contínuo do das ações humanas. Sendo assim, dentro de uma sociedade em constante mudança, as questões éticas também mudaram, acompanhando a evolução social e cultural, ainda mais dentro de um país marcado por 300 anos de escravidão que culminou em diferenças sociais extremas.

 

    O documento deixa claro que as concepções de ética estão intimamente ligadas aos valores vigentes em uma sociedade. Se em algum momento era ético um ser humano possuir outro como um patrimônio (objeto), na atualidade isso é eticamente impensável, e se ainda nos deparamos com racismo, xenofobia, homofobia e com outras questões que ainda não superamos como sociedade, a escola parece ser um lugar que oportuniza o processo de reflexão sobre a sociedade.

 

    Trabalho e consumo: este tema adentra as relações de organização social do trabalho e as construções do ideal dentro da necessidade de consumo. Diante de uma perspectiva de não naturalização das organizações econômicas sociais este tema abre um leque de oportunidades em questionamentos das condições de trabalho e da relação do consumo com as necessidades individuais e coletivas, salientando possíveis criticas e transformações destas condições através de uma relação consciente dos valores sociais empregados no trabalho, nos produtos e serviços.

    As relações que os seres humanos estabelecem entre si e com a natureza, de caráter econômico, político, cultural, produzem modos de ser e de viver e definem, a cada momento, o que será considerado imprescindível ao bem viver: um conjunto de bens e serviços, produzidos por toda a sociedade, que poderão ser usufruídos. Materializado nos objetos de consumo, nos produtos e bens materiais ou simbólicos e nos serviços, encontra-se o trabalho humano, realizado sob determinadas relações e condições. (Brasil, 1998, p. 343)

    O documento explicita que a relação de trabalho e consumo tem uma ligação intima com as diferentes classes sociais, e a partir disto nega o discurso falacioso de que somos todos iguais em condições tanto para o trabalho quanto para o consumo.

 

    Por fim, o documento se justifica no meio escolar por se alinhar com a função da escola de promover nos alunos, a capacidade de atuar no mercado de trabalho e nas questões político-sociais de forma ativa.

 

    Pluralismo cultural: O Brasil é um país com influências culturais de diversos países, que se manifestam na culinária, religião, nos esportes, no idioma, na moda... Portanto, o ambiente escolar deve ser construído a partir de bom convívio, onde o respeito prevaleça e as diversas manifestações preconceituosas sejam combatidas. “Para viver democraticamente em uma sociedade plural é preciso respeitar os diferentes grupos e culturas que a constituem”. (Brasil, 1998)

    A escola deve ser local de aprendizagem de que as regras do espaço público permitem a coexistência, em igualdade, dos diferentes. O trabalho com Pluralidade Cultural se dá a cada instante, exige que a escola alimente uma “Cultura da Paz”, baseada na tolerância, no respeito aos direitos humanos e na noção de cidadania compartilhada por todos os brasileiros. O aprendizado não ocorrerá por discursos, e sim num cotidiano em que uns não sejam “mais diferentes” do que os outros. (Brasil, 1998, p.117)

    Utilizando como base as diversidades sócias e econômicas para promover as discussões sobre as diferenças étnicas e culturais, o documento explicita que este tema decorre sobre as relações de poder em nossa sociedade, sendo assim como toda relação de poder culmina em exclusão social e conflito de interesses, e a escola tem o papel de inserir este tema gerador em seu currículo para que seus alunos tomem posse de conhecimentos e conceitos históricos, estatísticos, geográficos, culturais... Que possibilite uma percepção mais próxima da realidade.

 

    Orientação sexual: O documento apresenta grande preocupação com a disseminação de doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez na adolescência, permeia assuntos como o sexismo e padrões de comportamento. Mesmo exaltando o não preconceito e a quebra de tabus não se aprofunda em assuntos como a homofobia, contudo ainda assim se justifica no meio escolar como forma a esclarecer e desmistificar padrões e preconceitos.

 

    O tema apresenta as questões de sexualidade como natural ao ser humano, portanto a escola deve ultrapassar seus moldes biológicos, que discute a sexualidade apenas em seu âmbito anatômico e fisiológico, porém a abordagem ao assunto deve adentrar nos fatores socioculturais do corpo e nas questões de saúde e prazer.

    Os alunos também já trazem questões mais polêmicas em sexualidade, já apresentam necessidade e melhores condições de refletir sobre temáticas como aborto, virgindade, homossexualidade, pornografia, prostituição e outras. Se antes os alunos se informavam sobre o aborto, nessas séries surge a discussão sobre as complexas questões que ele envolve. Se antes os alunos recebiam mensagens sobre os valores associados à sexualidade, agora vão discutir, questionar e configurar mais claramente seus próprios valores. É importante que a escola possa oferecer um espaço específico dentro da rotina escolar para essa finalidade. (Brasil, 1998, p. 88)

    Apesar do documento não tratar sobre a pedofilia, caberiam algumas adaptações e ênfases em problemas mais latentes a nossa sociedade, porém sem duvidas ainda é um tema de grande importância a ser discutido pedagogicamente no ambiente escolar para melhor formação dos alunos.

 

Educação Física Escolar e os Temas Transversais 

 

    A sociedade necessita de mudanças que nos levem ao caminho do equilíbrio social e da igualdade de condições. O sistema de formação escolar não deve apenas reproduzir a sociedade, pois se assim for, ela se torna ferramenta de manutenção das desigualdades. A escola deve formar indivíduos conscientes, que busquem sua emancipação. (Saviani, 2018)

 

    Ademais, não há sentido de uma educação que não dialogue com as questões sociais, esta ideia se confirma em Betti et al. (2015), quando afirma que: “Se somos seres sociais e singulares, aprender faz sentido por referência à história do sujeito, o que inclui: suas expectativas, referências, concepções de vida, relações com os outros, a imagem de si mesmo e para os outros”. (Betti et al., 2015, p. 157)

 

    Ainda em Betti et al. (2015) para uma aula ser interessante ela precisa estabelecer conexões com o mundo do aluno, em que ele possa estabelecer conexões com os outros e consigo mesmo,dando significado a sua aprendizagem e sentido ao ambiente escolar como ambiente de aprendizagem. Os Temas Transversais vêm ao encontro do enriquecimento dos conteúdos das disciplinas escolares e torna significativa a interferência da escola na formação do aluno/cidadão, dos indivíduos/gestores da sociedade.

 

    Darido (2012, p. 77) menciona que “A nomenclatura específica ‘Temas Transversais‘ aparece pela primeira vez no Brasil nos parâmetros curriculares nacionais” (Brasil, 1997) e relata que os Temas Transversais, apresentados pelos PCNs, foram inspirados no modelo de reforma curricular espanhol, porém fica evidente em seu trabalho que já havia uma grande preocupação dos autores da educação e Educação Física quanto à relação do conteúdo escolar e a realidade do aluno caminharem de forma unificada, onde o conteúdo fosse contextualizado com a realidade do aluno.

 

    Parece haver um consenso entre os autores pesquisados Ruy, e Ramos (2007), Darido (2012), Betti et al. (2015), Busquets (1998), Cardoso (2009), De Matos (2019), Knuth, Azevedo, e Rigo (2007), Metzner et al. (2009), Ulasowicz (2004), quanto ao formato atual de atuação da Educação Física no ambiente escolar, de forma procedimental e pouco ou nada crítica e reflexiva diante das mazelas sociais e quanto à urgência de superar essas características historicamente atreladas à disciplina, portanto a adesão dos Temas Transversais ao currículo escolar traria uma nova perspectiva sobre a missão de formação de indivíduos, sem, com isso os Temas Transversais anularem ou se sobreporem ao conteúdo curricular.

 

    George et al. (2009) deixam claro que os Temas Transversais não substituirão os conteúdos curriculares, mas sim vinculados às disciplinas e aproximando os conteúdos curriculares a temas de caráter social de grande importância, que devem fazer parte das discussões e reflexão do ambiente escolar.

 

    O Brasil é um país que possui um território de dimensões continentais e isso lhe traz uma enorme diversidade cultural, portanto os Temas Transversais devem ser tratados de forma flexível, respeitando as características da comunidade escolar e do projeto político pedagógico da escola. Sua flexibilidade é o que o torna adaptável ao currículo escolar, porém alguns autores Ruy, e Ramos (2007), Knuth, Azevedo, e Rigo (2007), De Matos (2019) e Betti et al. (2015), em suas pesquisas encontraram dificuldades por parte dos professores pesquisados, para a execução dessa proposta. Em sua pesquisa, Betti et al. (2015) aplicam um questionário a 455 alunos de nove escolas públicas de São Paulo, onde um dos questionamentos era sobre o que o professor mais ensina e o que os alunos gostariam de aprender; o resultado aponta que o conteúdo mais abordado pelo professor foi a prática esportiva e que os alunos gostariam de aprender apenas o conteúdo esportivo. “Nota-se a maior presença da categoria 'esportes', tanto em relação ao que os alunos declaram ser mais ensinado nas aulas de educação física, como em relação ao que gostariam de aprender” (Betti et al., 2015. p, 159). A conclusão que o autor chega é que se trata de um círculo vicioso, onde o aluno conhece a Educação Física restritamente como prática e esportiva, portanto ele só espera desta disciplina o mesmo.

 

    Em Ruy, e Ramos (2007) o estudo se propôs a investigar se os professores de Educação Física Escolar de uma escola pública que atende ao 3º e 4º ciclos do ensino fundamental do município de São Carlos/SP utilizavam os Temas Transversais em suas aulas. Constatou-se que apesar dos dois professores investigados reconhecerem a importância dos Temas Transversais para o desenvolvimento dos alunos, tinham dificuldades de executá-lo. As queixas se baseavam na falta de um cronograma de ações, de uma orientação específica de como fazer uma aula de Educação Física atrelada a um tema transversal, de um modelo a ser seguido e com isso os mesmos não se viam como responsáveis em transformar suas aulas utilizando os Temas Transversais como eixo problematizador.

 

    Outro ponto significativo dos achados foi à aversão dos alunos às aulas teóricas, as entendendo como exclusivamente em sala. Isso nos mostra que ainda existe uma grande deficiência nos conhecimentos dos professores quanto suas incumbências e autonomia pedagógica do planejamento de suas aulas, como também a falta de entendimento do aluno quanto ao processo em que está inserido. Esses aspectos podem ser identificados nas falas dos professores e dos alunos em que “afirmam em grande número gostar das aulas de educação física, pelo fato de as mesmas serem realizadas fora da sala de aula e não terem 'matéria'”. (Ruy, e Ramos, 2007, p. 8)

 

    Segundo Daolio (1986) citado em Ruy, e Ramos (2007), esta percepção da disciplina vem das suas características diferenciadas diante do molde educacional tradicional das outras disciplinas curriculares que, de forma geral, aprisionam os corpos em salas e posturas hipocinéticas, por outro lado o aluno tem a possibilidade de se “libertar” de todas as exigências comportamentais de uma sala de aula.

 

    Em Knuth, Azevedo, e Rigo (2007) foi feito a inserção do tema transversal “saúde” nas aulas de Educação Física com uma turma do terceiro ano do ensino médio de uma escola pública, na cidade de Pelotas/RS com uma turma de 20 alunas em três meses de aula, sendo uma vez por semana. Concluíram que o debate como ferramenta metodológica de trabalho dos Temas Transversais se mostra adequado ao desenvolvimento da temática saúde e mostrou que é possível envolver nos alunos uma concepção mais profunda sobre temas antes trabalhados de forma superficial e sem contextualização com a realidade vivida pelos mesmos, o estudo salienta que utilizou de diversos recursos didáticos e estratégias, como: aulas expositivas em dias de chuva, atividades extraclasses, oficinas, teatro, apresentação de telejornal, mimetização de tribunal, jornais e filmes, como também a associação do tema saúde com os conteúdos mais clássicos da Educação Física; esportes, ginásticas, danças, jogos, para envolver os alunos no tema, de forma que eles se sentissem capazes de (re)significar os conceitos de saúde, construindo uma nova concepção e conceito sobre a temática. Segundo Metzner, e Da Silva:

    Se as aulas de educação física não fossem baseadas apenas nas práticas esportivas, e sim, associassem conteúdos do interesse dos adolescentes e temas atuais que estão em sua rotina diária como: saúde, alimentação, bem estar, meio ambiente, sociedade, atualidades, consciência sobre seu corpo e suas necessidades, provavelmente, haveria uma maior participação e interesse dos mesmos pelas atividades ministradas. (Metzner, e Da Silva, 2009, p. 2)

    As aulas de Educação Física Escolar precisam ser reformuladas para atender os anseios de uma nova geração, não se prendendo a um formato arcaico e inadequado à atual realidade de um país que anseia por desenvolvimento social através de um sistema democrático, que necessita de indivíduos cada vez mais aptos a decidirem em prol das suas necessidades e da nação. A Educação Física trabalha não apenas com um corpo físico, mas sim simbólico social, histórico e afetivo. (Martineli, e Mileski, 2012)

    Corpo é a forma que o individuo tem para se comunicar, expressar-se, aprender, receber informações e transmitir ideias e opiniões. A função do professor é estimular o aluno a utilizar seu corpo racionalmente, estuda-lo, explora-lo, enfim, a se conhecer e a gostar de si mesmo, para que o aluno saiba a importância do corpo para a sua vida dentro da sociedade. (Brasil, 1999 como citado em Metzner et al., 2009, p. 2)

    Nos achados de De Matos (2019), que se propôs a investigar a relação dos Temas Transversais e a Educação Física Escolar, fizeram uma pesquisa de campo com alunos do ensino fundamental- anos finais, sendo três turmas do 8º ano e duas do 9º ano, totalizando 169 alunos de uma escola de Manaus.

 

    A partir de uma intervenção de grupos focais foi identificado que os Temas Transversais não eram trabalhados na escola. Os alunos foram então expostos a aulas de Educação Física com uma abordagem teórica e prática envolvendo os Temas Transversais. A cada tema transversal, foram aplicadas duas atividades práticas e uma teórica, sendo trabalhadas as três dimensões: conceitual, procedimental e atitudinal.

 

    Ainda em De Matos (2019), mesmo os alunos já acostumados em aulas práticas de dimensões exclusivamente procedimentais, ainda assim, houve uma ruptura do que estavam acostumados a fazer “o famoso rola bola” ou apenas o “ensino dos esportes”. O autor ainda identifica que esta abordagem se mostrou mais significativa para o aluno, que conseguiram entender de forma mais profunda as questões abordadas.

 

    Constata-se com tudo até aqui que há uma dificuldade na seleção e implementação de conteúdos significativos dentro do ambiente escolar, que precisa ser investigado e analisado mais profundamente suas causas.

 

    Em Bastos (2010), vemos uma viabilidade de trabalhar os Temas Transversais através dos jogos ou jogos transversais, como exposto no trabalho do autor:

    Diante do estudo feito sobre a viabilidade de se desenvolver jogos para abordagem dos temas transversais, foram encontrados muitos argumentos favoráveis a essa utilização, pois a aplicabilidade de “jogos”, no campo educacional, vem sendo cada vez mais reconhecida, ampliada e valorizada. (Bastos, 2010, p. 1)

    Mossa et al. (2017) deixa claro que é incumbência do professor de Educação Física oferecer em suas aulas, atividades que ultrapassem a dimensão procedimental, oportunizando ao aluno a possibilidade de refletir e questionar sobre os padrões impostos pela sociedade, construindo uma visão crítica, emancipatória e libertadora.

 

    Em Darido (2012, p. 78), essa ideia é reforçada quando é mencionado que “ensinar Educação Física não significa tratar apenas de técnicas e táticas, mais do que isso, significa oferecer uma formação ampla voltada à formação do cidadão crítico”.

 

    Para Busquets et al. (2003, p. 38) “Sem um contexto para situá-los, para grande parte dos estudantes os conteúdos curriculares transformam-se em algo absolutamente carente de interesse ou totalmente incompreensível”.

 

    Os autores caminham a discussão para o mesmo ponto, na busca de uma concepção renovada de Educação Física Escolar, ainda tendo o corpo como a sua matéria-prima, porém quando se fala de corpo compreendemos como um corpo global, psicossocial, histórico, afetivo e principalmente, em construção, sem desatrelá-lo da realidade de uma sociedade desigual e altamente competitiva. A Educação Física vem se reformulando com o passar do tempo e é altamente influenciada pelas políticas educacionais vigentes, mas sem nunca perder sua estrutura elementar de trabalho: o corpo. Porém, ainda parece que não foi alcançada uma visão mais ampla da disciplina nas suas multiplicidades de conteúdos, onde se abrange o corpo humano de forma biológica e social e servindo aos anseios de uma sociedade com problemas em todas as áreas contempladas com os Temas Transversais. Ademais de acordo com segunda versão da Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2017) já passou da hora de superarmos essa visão histórica no entendimento popular da Educação Física escolar.

    Durante um longo período, a Educação Física foi entendida como uma atividade destituída de intenção pedagógica, marcada por uma prática meramente recreativa, nos primeiros anos da vida escolar, pelo desenvolvimento da aptidão física e desportiva, nos anos intermediários, e pela dispensa da prática no antigo segundo grau. (Brasil, 2016, p. 99)

    Desta forma, a BNCC (BRASIL, 2017) retoma a discussão sobre temas que de forma transversal devem ser trabalhados na escola por sua importância social no desenvolvimento dos alunos. Apesar de os Temas Transversais não serem uma proposta pedagógica nova, com a homologação da BNCC, nas etapas da educação infantil e ensino fundamental, em dezembro de 2017, e na etapa do ensino médio, em dezembro de 2018, ampliaram seus alcances e foram, efetivamente, assegurados na concepção dos novos currículos como Temas Contemporâneos Transversais. Mantendo o discurso da construção de uma sociedade mais justa, igualitária e ética, mas agora com um caráter obrigatório (Brasil, 2019), o mesmo documento considera estes temas como um conjunto de aprendizagens essenciais e indispensáveis a que todos os estudantes, crianças, jovens e adultos têm direito.

 

    Contudo, a BNCC ainda menciona uma ampliação dos temas a serem abordados, de seis apresentados nos PCNs para 15 apresentados na BNCC, são eles: Ciência e Tecnologia, Direitos da Criança e do Adolescente; Diversidade Cultural, Educação Alimentar e Nutricional, Educação Ambiental; Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais Brasileiras; Educação em Direitos Humanos; Educação Financeira; Educação Fiscal; Educação para o Consumo; Educação para o Trânsito; Processo de envelhecimento, respeito e valorização do Idoso; Saúde; Trabalho e Vida Familiar e Social (Brasil, 2019, p. 13). Mas o que se encontra ao ler o documento é a retirada do tema transversal: Orientação Sexual e a ramificação dos Temas Transversais: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Trabalho e Consumo e Pluralidade Cultural, o que se leva a questionar as bases ideológicas deste documento normativo de âmbito nacional.

 

Conclusão 

 

    Em vista dos argumentos apresentados, através do posicionamento dos autores citados, é notório que a Educação Física Escolar encontra-se hoje, em 2020, com os mesmos anseios e a mesma busca por legitimar-se no ambiente escolar através de uma sistematização e contextualização dos conteúdos, propiciando a formação de cidadãos mais críticos e com atitudes que coadunam com o bem comum. Para que a realidade do Brasil mude seus aspectos negativos é necessária uma educação proativa, à frente dos modelos tradicionais e tecnicistas, ultrapassando assim a dimensão procedimental e comtemplando também as dimensões atitudinal e conceitual. Nesta perspectiva, a transversalidade de temas geradores que abordem questões sociais deve ser atrelada ao conteúdo curricular, fazendo da escola não apenas uma reprodutora da sociedade, mas sim, uma instituição voltada aos avanços de um país que busca por soluções de suas mazelas sociais através do diálogo e da liberdade de ensinar e aprender garantida pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB-9394/96) em seu terceiro artigo, nos incisos:

 

    II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;

 

    III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas.

 

    A Educação Física Escolar necessita se conectar com a sociedade para atingir todo o seu potencial como disciplina curricular, não é mais aceitável diante de todos os problemas sociais que o Brasil enfrenta que ainda exista uma disciplina dentro da escola com um posicionamento de neutralidade, atuando de forma mecânica e sem reflexão sobre as relações corpo/movimento/sociedade. Portanto, as temáticas da transversalidade trazendo ao ambiente escolar, questões que afetam o dia a dia dos brasileiros são indispensáveis no enriquecimento dos conteúdos escolares, temas estes que devem ser discutidos incessantemente dentro da escola.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 281, Oct. (2021)