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ISSN 1514-3465

 

Qualidade de vida de idosos praticantes de exercícios físicos: um estudo comparativo

Quality of Life of Elderly Practicing Physical Exercises: A Comparative Study

Calidad de vida de personas mayores practicantes de ejercicios físicos: un estudio comparativo

 

Jéverton Brizolla Vargas*

jevertonbvargas@gmail.com

Denise Bolzan Berlese**

deniseberlese@feevale.br

 

*Graduado em Educação Física Bacharelado

pela Universidade Feevale, Novo Hamburgo

**Professora do Curso de Educação Física

da Universidade Feevale

Doutora em Diversidade Cultural e Inclusão Social

pela Universidade Feevale

Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana

da Universidade Federal de Santa Maria

(Brasil)

 

Recepção: 25/04/2020 - Aceitação: 12/10/2021

1ª Revisão: 02/11/2020 - 2ª Revisão: 05/10/2021

 

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Citação sugerida: Vargas, J.B., e Berlese, D.B. (2022). Qualidade de vida de idosos praticantes de exercícios físicos: um estudo comparativo. Lecturas: Educación Física y Deportes, 27(291), 128-137. https://doi.org/10.46642/efd.v27i291.2201

 

Resumo

    O presente estudo transversal, teve por objetivo comparar a qualidade de vida de idosos praticantes de exercício físico de acordo com o sexo, bairro de moradia e faixa de idade. Foram pesquisados 79 idosos, de ambos os sexos. Como instrumento para coleta de dados utilizou-se o protocolo EUROHIS-QOL que avalia a qualidade de vida. A análise dos dados foi realizada por meio da estatística descritiva, verificando-se médias, desvio padrão, por meio do programa SPSS 22.0. Para comparação dos dados utilizou-se o teste t de Student e adotou-se como significativo p≤0,05. Como resultado, quando comparados por faixa de idade, evidenciou-se uma média de escore da qualidade de vida inferior nos idosos acima de 70 anos (p=0,009). Quando comparados por bairros, observou-se diferença estatística significativa para as seguintes questões. Q1: como avalia a sua qualidade de vida (p=0,02); Q2: satisfação com a saúde (p=0,01); Q3: energia suficiente para a sua vida diária (p=0,001); satisfação com a sua capacidade para desempenhar as atividades do seu dia-a-dia (p=0,04); satisfação com as suas relações pessoais (p=0,004) e satisfação com as condições do lugar em que vive (p=0,01). Em relação a faixa de idade, evidenciou-se diferença para as questões referente a satisfação com a saúde (p=0,02), capacidade de desempenhar atividades do dia-a-dia e energia suficiente para o dia-a-dia (p=0,04). O número maior de variáveis que apresentou diferença significativa foi nas questões relacionadas ao bairro onde reside. Identificou-se também que no contexto geral, os idosos da pesquisa apresentaram uma percepção positiva a qualidade de vida.

    Unitermos: Exercício físico. Idosos. Qualidade de vida.

 

Abstract

    The present study quantitative, comparative and cross-sectional aimed to compare the quality of life of elderly people who practice physical activity according to sex, neighborhood and age range. 79 elderly people were surveyed for convenience, of both sexes were surveyed. The EUROHIS-QOL protocol, that assesses quality of life, was used as an instrument for data collection. Data analysis was performed using descriptive statistics, verifying means, standard deviation, using the SPSS 22.0 program. For data comparison, Student's t test was used and p≤0.05 was adopted as significant. As a result, when compared by age group, an average score of lower quality of life in the elderly over 70 years old was found (p=0.009). When compared by neighborhood, there was a statistically significant difference for the next questions. Q1: how do you assess your quality of life (p=0.02); Q2: health satisfaction (p=0.01); Q3: enough energy for your daily life (p=0.001); satisfaction with their ability to perform their day-to-day activities (p=0.04); satisfaction with their personal relationships (p=0.004) and satisfaction with the conditions of the place where they live (p=0.01). Regarding the age range, there was a difference for questions regarding health satisfaction (p=0.02), ability to perform day-to-day activities and sufficient energy for day-to-day life (p=0.04). The largest number of variables that showed a significant difference was in the questions related to the neighborhood where he lives. It was also identified that in the general context, the elderly in the research had a positive perception of quality of life.

    Keywords: Physical exercise. Elderly. Quality of life.

 

Resumen

    Este estudio transversal tuvo como objetivo comparar la calidad de vida de personas mayores practicantes de ejercicio físico según sexo, barrio de residencia y grupo etario. Se encuestó en total 79 personas mayores de ambos sexos. Como instrumento de recolección de datos se utilizó el protocolo EUROHIS-QOL, que evalúa la calidad de vida. El análisis de los datos se realizó mediante estadística descriptiva, verificando promedios, desviación estándar, utilizando el programa SPSS 22.0. Para comparar datos se utilizó la prueba t de Student y se adoptó como significativo p≤0,05. Como resultado, cuando se comparó por grupo de edad, se observó un menor puntaje promedio de calidad de vida en las personas mayores de 70 años (p=0,009). Al comparar por barrios, hubo diferencia estadísticamente significativa para las siguientes preguntas. Q1: cómo califica su calidad de vida (p=0,02); Q2: satisfacción con la salud (p=0,01); Q3: energía suficiente para su vida diaria (p=0,001); satisfacción con su capacidad para realizar sus actividades cotidianas (p=0,04); satisfacción con sus relaciones personales (p=0,004) y satisfacción con las condiciones del lugar donde vive (p=0,01). En cuanto al grupo de edad, hubo diferencia para las preguntas relacionadas con la satisfacción con la salud (p=0,02), capacidad para realizar las actividades cotidianas y energía suficiente para el día a día (p=0,04). El mayor número de variables que mostraron una diferencia significativa fue en las preguntas relacionadas con el barrio donde viven. También se identificó que en el contexto general, las personas investigadas presentaron una percepción positiva de la calidad de vida.

    Palabras clave: Ejercicio físico. Personas mayores. Calidad de vida.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 291, Ago. (2022)


 

Introdução 

 

    Avaliar a qualidade de vida em idosos é importante para poder entender as condições de vida de um sujeito ou grupo (Mondelli, e Souza, 2012). A expressão “qualidade de vida” tem várias vertentes, estando relacionada a sentimentos e emoções, relações pessoais, eventos profissionais, política, sistemas de saúde, atividades de apoio social, dentre outros. Porém Pires et al. (2018) apontam para um conceito de qualidade de vida subjetivo, multidimensional com elementos positivos e negativos onde dizem que qualidade de vida é a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura, valores nos quais vive, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Desta forma qualidade de vida é um conceito amplo e complexo, que contempla o estado psicológico, a saúde física, as relações sociais, as crenças pessoais, o nível de independência e a relação com as características do meio ambiente. (Pereira et al., 2006)

 

Imagem 1. Os idosos que residem bairros mais desenvolvidos, com 

melhor infraestrutura proporcionam possibilidades de prevenção da saúde

Imagem 1. Os idosos que residem bairros mais desenvolvidos, com melhor infraestrutura proporcionam possibilidades de prevenção da saúde

Fonte: Freepik. Foto: Master1305

 

    Com o rápido crescimento da população idosa, aumenta também os casos de doenças crônicas não transmissíveis, e a prática regular de exercício físico tem sido de grande relevância para a melhoria das condições de saúde do idoso, junto com uma adoção de uma dieta saudável, pois reduz a ocorrência destes tipos de doenças, como também quedas e limitações funcionais e, consequentemente, leva ao aumento da expectativa de vida e melhoria da qualidade de vida desse grupo. (Peixoto et al., 2018)

 

    Pellegrinotti (1998) entende que os exercícios estimulam a saúde em diversos aspectos e com isso ajudam para o alcance de uma melhor qualidade de vida.

 

    Camões et al. (2016) em um estudo buscavam descrever a percepção da qualidade de vida em indivíduos acima dos 70 anos, praticantes e não praticante de exercício físico regular, apontaram que os idosos que praticavam exercício físico, mesmo em contexto de ambientes pouco controlados, apresentaram melhores indicadores de qualidade de vida quando comparados com os idosos que não têm exercício físico regular.

 

    Nesse sentido, entende-se que a prática de exercício físico regular promove uma melhora na qualidade de vida do idoso, tendo em vista que seus benefícios não atingem apenas a área físico-funcional e mental dos indivíduos, melhorando também o desempenho funcional, social, mantendo e promovendo uma independência e uma autonomia durante o envelhecimento (Fidelis, Patrizzi, e Walsh, 2013). Considerando o referido acima o presente estudo teve por objetivo comparar a qualidade de vida de idosos praticantes de exercício físico de acordo com sexo, bairro de moradia e faixa de idade.

 

Método 

 

    A presente pesquisa quantitativa, comparativa e transversal contou com a participação de 79 indivíduos idosos de ambos os sexos, selecionados por conveniência,. A pesquisa foi realizada no projeto de exercícios físicos para idosos na cidade de Nova Hartz no Rio Grande do Sul. O projeto existe desde o ano de 2006 com um núcleo na prefeitura. A partir do ano de 2012 o projeto foi expandido para cinco bairros do município, sendo três centrais e dois de periferia. As atividades são realizadas em centros comunitários, praças e quadras esportivas. Os exercícios caracterizam como funcionais e de mobilidade articular e são realizados duas vezes na semana.

 

    Foram incluídos todos os participantes do projeto de exercícios físico com idade igual ou superior a 60 anos, de ambos os sexos, que concordaram, por meio do termo de consentimento livre e esclarecido, em participar do estudo. Foram excluídos participantes com idade inferior a 60 anos e que não consentirem com a participação no estudo.

 

    Todas as avaliações foram realizadas após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecidas, de acordo com as determinações da Resolução 510, de 07 de abril de 2016, do Conselho Nacional de Saúde. Os participantes receberam informações referentes a seu direito de participar, de garantias de anonimatos.

 

    Como instrumento para coleta de dados utilizou-se o protocolo EUROHIS-QOL (Pires et al., 2018). O questionário EUROHIS-QOL-8 é composto por oito questões com perguntas sobre como o sujeito se sente em relação a sua qualidade de vida, saúde e outras áreas de sua vida. As perguntas tomam como referência as duas últimas semanas. O EUROHIS-QOL-8 consiste numa medida unidimensional de auto avaliação da qualidade de vida, constituída por oito questões, cada questão é respondida através de uma escala de resposta de cinco pontos, que tem uma variação entre Muito má e Muito boa ou Nada e Completamente ou, ainda, entre muito insatisfeito (a) e muito satisfeito (a). A partir do somatório das oito questões, é obtido o resultado total, sendo que a um valor mais elevado que corresponde a uma melhor percepção do indivíduo de sua qualidade de vida (Pereira et al., 2011). A coleta o foi realizada por um profissional da área da Educação Física, previamente treinado. Os idosos responderam ao questionário individualmente e o tempo destinado para a coleta foi de aproximadamente 30 minutos.

 

    A análise dos dados foi realizada por meio da estatística, verificando-se médias, desvio padrão, com tabulação dos dados primários em planilha do programa SPSS 22.0. Para testar a normalidade dos dados utilizou-se o teste Kolmogorov-Smirnov. Para comparação dos dados utilizou-se o teste t de Student e adotou-se como significativo p≤0,05.

 

Resultados e discussão 

 

    Na Tabela 1 apresenta-se a número de investigados por sexo, bairros e faixa de idade de acordo com as médias de escores da qualidade de vida.

 

Tabela 1. Médias de escores da qualidade de vida de acordo com o sexo, bairro, e faixas de idade

Escores da QV

N

Média ± DP

P≤0,05

Sexo

Feminino

71

79 ± 10

0,158

Masculino

8

73 ± 11

0,160

Bairros

Centro

59

79 ± 8

0,001*

Periferia

20

71 ± 11

0,001*

Faixas de idade

60 a 70 anos

60

79 ± 10

0,05*

Acima 70 anos

19

74 ± 13

0,009*

Onde: QV= qualidade de vida, *p≤0,05 teste T de Student. Fonte: Dados da pesquisa

 

    Observa-se na Tabela 1 que houve diferença significativa em relação à média do escore total da qualidade de vida dos idosos quando comparados por bairro e faixa de idade.

 

    Nesse sentido evidencia-seque os idosos residentes na periferia possuem percepção de qualidade de vida inferior quando comparados aos idosos que residem no centro da cidade. Tal fato é evidenciado pela condição socioeconômica dos moradores destes bairros e pela baixa infraestrutura destes locais. Corroborando com nossos resultados,Vagetti et al. (2013) ao investigarem a qualidade de vida de idosas participantes de um programa de exercício físico residentes de três bairros classificados de baixa renda de Curitiba (PR) mostrou uma percepção de qualidade de vida inferior. Segundo os autores os achados ocorreram devido as idosas avaliadas apresentarem um baixo nível de escolaridade e estarem expostas a condições socioeconômicas precárias. Ng et al. (2010) ao avaliarem a qualidade de vida de idosos praticantes de exercícios físicos na Indonésia evidenciaram-se também uma forte e direta relação entre o nível socioeconômico e uma boa percepção da qualidade de vida.

 

    Quando comparados por faixa de idade evidenciou-se, em nosso estudo, uma média de escore inferior nos idosos acima de 70 anos quando comparados com idosos na faixa de idade dos 60 aos 70 anos (p=0,009). Corroborando com esse achado, Santos (2006) apresenta resultados significativos relacionado a faixa etária com o nível de qualidade de vida de idosos, na comparação de dois grupos de sujeitos, nas dimensões de qualidade de vida: capacidade funcional, limitação por aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade e aspectos sociais e ressalta que o aspecto físico da qualidade de vida nesse grupo é mais afetado com o avançar da idade.

 

Tabela 2. Comparação das dimensões da qualidade de vida dos investigados por sexo, bairro e faixa de idade

Variáveis

Q1

Q2

Q3

Q4

Q5

Q6

Q7

Q8

Sexo

0,5

0,7

0,3

0,8

0,3

0,005*

0,5

0,5

Bairros

0,02*

0,01*

0,001*

0,04*

0,2

0,004*

0,08

0,01*

Faixa de idade

0,2

0,04*

0,02*

0,8

0,4

0,2

0,001*

0,6

*p≤0,05 teste T de Student. Fonte: Dados da pesquisa

 

    Na Tabela 2 apresenta-se a comparação das questões avaliadas referente a qualidade de vida. Quando comparados por sexo, observa-se que a única questão que apresentou diferença significativa foi a Q6 referente à satisfação com as suas relações pessoais, onde evidenciou-se que as mulheres apresentaram um escore melhor satisfação com as suas relações pessoais quando comparado com os homens (p=0,005). Uma possibilidade para esta percepção ocorrer pode estar relacionada ao fato de que as mulheres criarem um vínculo de amizade maior com a vizinhança. Albuquerque et al. (2018) em seu estudo mostram que características associadas a locais amigáveis têm demonstrado influenciar significativamente as habilidades dos idosos, o autor também aponta que não somente a residência em si, mas em seu entorno, como vizinhança, bairro e os serviços disponíveis nesses cenários observaram as repercussões na usabilidade e mobilidade de idosos e verificaram maior satisfação.

 

    Quando comparados por bairros, observou-se diferença estatística significativa para as questões referente: como avalia a sua qualidade de vida (p=0,02); satisfação com a saúde (p=0,01); energia suficiente para a sua vida diária (p=0,001); satisfação com a sua capacidade para desempenhar as atividades do seu dia-a-dia (p=0,04); satisfação com as suas relações pessoais (p=0,004) e satisfação com as condições do lugar em que vive (p=0,01). Foi então evidenciado que os moradores dos bairros centrais, mais desenvolvidos relataram uma melhor percepção de qualidade de vida. Segundo Barros et al. (2017) em uma análise comparativa entre dois bairros do Belém/PA, apontaram que a percepção de qualidade pode ser tanto positiva quanto negativa, dependendo do ambiente do qual o indivíduo faz parte. Os autores identificaram que moradores de bairros mais arborizados, com mais praças e melhor infraestrutura apresentaram uma melhor percepção de qualidade de vida, corroborando com nossos resultados.

 

    Identificou-se também que os moradores dos bairros da periferia percebem uma satisfação com a saúde inferior aos do centro, tal fato pode ocorrer devido à diferença social. Por se tratar de indivíduos de baixa renda os mesmos possuem pouco acesso a métodos de prevenção da saúde que não os oferecidos pelo poder público. Corroborando com isso, Barata (2009) aponta que as desigualdades nas condições de vida, decorrentes de diferenças sociais, tem reflexos nas situações de saúde, a posição social dos indivíduos medida por indicadores de classe social, fatores como escolaridade e profissões, ou a partir das condições de vida em determinado ambiente, é um fator determinante do estado de saúde das populações, atuando sobre o perfil de morbidade e também sobre o alcance e o uso dos serviços de saúde.

 

    Annes et al. (2017) apontam que a participação de idosos em grupos de atividades físicas melhora a vida social dos mesmos e contribui para que tenham uma melhor qualidade de vida, pois o fato do idoso estar inserido em grupos pode contribuir para minimizar os sintomas depressivos. Todavia essa participação acaba se tornando uma ocupação, um compromisso na vida do idoso, ampliando seus laços de amizades. Corroborando com o achado, Costa et al. (2012) abordam que quando se tem uma prática regular e adequada de exercício físico, essa prática pode auxiliar nessa readaptação do corpo e na diminuição dos efeitos “evolutivos” do processo de envelhecimento, além de ser uma ótima opção de atividade para preencher uma parte do tempo livre do idoso, ainda promove integração e participação ativa no meio social.

 

    Ferreti et al. (2015) ao analisar a qualidade de vida em 120 idosos praticantes (P) e não praticantes (NP) de exercício físico (P=60; NP=60), utilizando como instrumentos os questionários WHOQOL-bref e o WHOQOL-Old para análise da qualidade de vida evidenciaram que os idosos do grupo de praticantes (P) possuem um melhor índice de qualidade de vida (QV) do que os do não praticante (NP). Comparando os grupos em função de gênero e faixa etária, o grupo P também teve escores maiores do que o NP. Pode-se concluir que a prática regular de exercício físico é um determinante da melhor QV para idosos.

 

    Quando comparado o aspecto de energia suficiente para o dia-a-dia, identificou-se que idosos que residem na periferia da cidade tem uma percepção de qualidade de vida inferior a idosos do centro. Em um estudo Vagetti et al. (2013), encontraram resultados que sugerem que problemas em aspectos físicos (fadiga durante o dia-a-dia, problemas de sono, etc.), psicológicos (sentimentos positivos e negativos, autoestima, etc.) e ambientais (insegurança física na comunidade e no lar, baixos recursos financeiros, falta de oportunidades de lazer, etc.) são importantes preditores de uma percepção de saúde negativa e uma baixa qualidade de vida global em idosas.

 

    Em relação à faixa de idade, evidenciou-se diferença significativa para as questões Q2, Q3 e Q7 referente à satisfação com a saúde, capacidade de desempenhar atividades do dia-a-dia e dinheiro suficiente para satisfazer as suas necessidades, pois idosos com idade acima de 70 anos apresentaram uma percepção inferior para essas dimensões, quando comparados com os idosos que ainda não atingiram essa faixa etária. Nossos resultados vão ao encontro dos apresentados por Silva et al. (2012). Os autores analisaram os fatores associados à percepção negativa de saúde em idosos brasileiros e observaram que a relação da percepção de saúde se torna mais negativa com o avanço da idade. Nesse sentido, evidenciaram que sujeitos que classificaram o estado de saúde como "excelente/muito boa" ou "boa" tinham uma média de idade menor do que aqueles que tiveram uma percepção menos positiva da saúde.

 

    Quando avaliado a satisfação com a capacidade de desempenhar as atividades do dia-a-dia e dinheiro suficiente para satisfazer as suas necessidades, nossos resultados demonstram que com o avanço da idade tem um impacto na percepção negativa, tal fato também foi encontrado por Santos (2006) que evidenciou que a qualidade de vida de idosos é mais afetada com o avançar da idade, impactando nas dimensões da qualidade de vida relacionadas a capacidade funcional, limitação por aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade e aspectos sociais.

 

Conclusão 

 

    Ao comparar a qualidade de vida de idosos praticantes de exercício físico de acordo com sexo, bairro de moradia e faixa de idade, evidenciou-se que houve diferença na percepção da qualidade de vida e fatores como o sexo, bairro onde mora e idade, possivelmente podem influenciar nesta percepção. O número maior de variáveis que apresentou diferença significativa foi nas questões relacionadas ao bairro onde residem. Tal fato é um importante achado para a literatura, visto que há poucos estudos que comparam este aspecto. Através deste estudo evidenciou-se que os idosos que residem bairros mais desenvolvidos, com melhor infraestrutura proporcionam possibilidades de prevenção da saúde e que este fator tem influência direta na percepção da qualidade de vida de idosos. Identificou-se também que no contexto geral, os idosos da pesquisa apresentaram uma percepção positiva a qualidade de vida.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 27, Núm. 291, Ago. (2022)