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ISSN 1514-3465

 

Relação da qualidade de vida, índice de massa corporal e força muscular em idosos

Relationship Quality of Life, Body Mass Index and Muscle Strength in Elderly

Relación entre calidad de vida, índice de masa corporal y fuerza muscular en personas mayores

 

Adriano Almeida Souza*

almeidaef@outlook.com

Sabrina da Silva Caires**

sah.caires-@hotmail.com

Hector Luiz Rodrigues Munaro***

hlrmunaro@uesb.edu.br

Claudio Bispo de Almeida+

cbalmeida@uneb.br

Cezar Augusto Casotti++

cacasotti@uesb.edu.br

 

*Graduado em Educação Física

pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Bacharel em Educação Física e Pós graduado em Treinamento Desportivo

pelo Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Jequié, Bahia

**Graduanda em Fisioterapia. Departamento de Saúde I

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Jequié, Bahia
***Professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

Departamento de Saúde I. Jequié, Bahia

Doutor em Educação Física pelo programa de Pós-graduação

da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

+Professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB)

Departamento de Educação. Guanambi, Bahia

Doutorando pelo Programa Pós-graduação em Enfermagem e Saúde

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Jequié, Bahia

++Professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

Departamento de Saúde I, e Docente do Programa Pós-graduação

em Enfermagem e Saúde, Jequié, Bahia

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Jequié, Bahia

(Brasil)

 

Recepção: 13/04/2020 - Aceitação: 31/07/2021

1ª Revisão: 24/06/2021 - 2ª Revisão: 26/06/2021

 

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Citação sugerida: Souza, A.A., Caire, S. da S., Munaro, H.L.R., Almeida, C.B. de, e Casotti, C.A. (2021). Relação da qualidade de vida, índice de massa corporal e força muscular em idosos. Lecturas: Educación Física y Deportes, 26(283), 133-145. https://doi.org/10.46642/efd.v26i283.2150

 

Resumo

    Durante o processo de envelhecimento humano acontecem mudanças que podem interferir na qualidade de vida das pessoas. Algumas destas alterações podem ser identificadas pelo índice de massa corporal e pela força de preensão manual, e podem estar relacionadas à qualidade de vida. Neste sentido, objetivou-se discriminar, através de curvas de sensibilidade e especificidade, os pontos de corte do índice de massa corporal e da força de preensão manual como preditores de qualidade de vida em idosos residentes na zona urbana de um município de pequeno porte. Estudo epidemiológico e transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Os dados foram analisados por receiver-operating characteristic curves no Statistical Package for Social Sciences, e pontos de corte discriminados pelo método de Youden. Os dados sobre qualidade de vida foram coletados por meio de questionário, o índice de massa corporal por medidas antropométricas, e a força de preensão manual foi avaliada por um dinamômetro. Identificou-se 264 idosos, estes com médias de idade e de força de preensão manual de 71,85 anos (DP±7.73) e 9,99 kgf (DP±13,01), respectivamente. Os pontos de cortes preditores do desfecho, para homens e mulheres, foram <22,8 kg/m² (IC: 95%= 0,37- 0,72) para o índice de massa corporal, e <13 kgf 0,379 (IC: 95%=0,32- 0,43) para força de preensão manual. Conclui-se que os pontos de corte possuem boa capacidade para predizer elevada qualidade de vida para os idosos avaliados, entre os quais o índice de massa corporal teve maior capacidade preditiva.

    Unitermos: Curva ROC. Antropometria. Estado nutricional. Idosos.

 

Abstract

    During the human aging process, changes occur that can interfere with people's quality of life. Some of these changes can be identified by body mass index and handgrip strength, and can be related to quality of life. In this sense, the objective was to discriminate, through sensitivity and specificity curves, the cutoff points of the body mass index and handgrip strength as predictors of quality of life in elderly people living in the urban area of a small municipality. Epidemiological and cross-sectional study, approved by the Research Ethics Committee of the State University of Southwest Bahia. The data were analyzed by receiver-operating characteristic curves in the statistical package for social sciences, and cut-off points discriminated by the Youden method. Data on quality of life were collected through questionnaire, body mass index by anthropometric measurements, and grip strength was evaluated by a dynamometer. 264 elderly people were identified, with mean age and handgrip strength of 71.85 years (SD±7.73) and 9.99 kgf, (SD±13.01), respectively. The cut-off points predictive of the outcome, for men and women, were <22.8 kg/m² (CI: 95%=0.37- 0.72) for the body mass index, and <13 kgf 0.379 (CI: 95%=0.32-0.43) for handgrip strength. It is concluded that the cutoff points have a good ability to predict high quality of life for the elderly evaluated, among which the body mass index had greater predictive capacity.

    Keywords: ROC curve. Anthropometry. Nutritional status. Elderly.

 

Resumen

    Durante el proceso de envejecimiento humano, ocurren cambios que pueden interferir con la calidad de vida de las personas. Algunos de estos cambios pueden identificarse por el índice de masa corporal y la fuerza de prensión manual, y pueden estar relacionados con la calidad de vida. En este sentido, el objetivo fue discriminar, a través de curvas de sensibilidad y especificidad, los puntos de corte del índice de masa corporal y la fuerza de prensión como predictores de calidad de vida en personas mayores. Estudio epidemiológico y transversal, aprobado por el Comité de Ética en Investigación de la Universidad Estatal del Sudoeste de Bahía. Los datos se analizaron mediante receiver-operating characteristic curves en el SPSS y los puntos de corte discriminados por el método de Youden. Los datos sobre calidad de vida se recogieron mediante un cuestionario, el índice de masa corporal mediante medidas antropométricas y la fuerza de prensión se evaluó con dinamómetro. Se identificaron 264 personas mayores, con un promedio de edad y fuerza de prensión de 71,85 años (DE±7,73) y 9,99 kgf (DE±13,01), respectivamente. Los puntos de corte que predicen el resultado, para hombres y mujeres, fueron <22,8 kg/m² (IC: 95%=0,37-0,72) para el índice de masa corporal, y <13 kgf 0,379 (IC: 95%=0,32-0,43) para la fuerza de prensión. Se concluye que los puntos de corte tienen una buena capacidad para predecir una alta calidad de vida de los ancianos evaluados, entre los que el índice de masa corporal tuvo una mayor capacidad predictiva.

    Palabras clave: Curva ROC. Antropometría. Estado nutricional. Personas mayores.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 283, Dic. (2021)


 

Introdução 

 

    Envelhecer causa alterações progressivas no organismo que atenuam a quantidade e qualidade muscular (Lenardt et al., 2016; Gadelha et al., 2017) que, atreladas aos equívocos dos atuais modelos de atenção à saúde (Veras, 2012; Veras, e Oliveira, 2018), têm interferências negativas no estado de saúde e qualidade de vida (QV) de idosos (Sousa et al., 2018). Esses fatores mostram a demanda de serviços específicos para esta população (Silva, Soares, Santos, e Silva, 2014), que necessitam de maior cuidado e avaliação que previna doenças. (Santos, Vilela, Santos, Lessa, e Rocha, 2018)

 

    Para avaliação da saúde de idosos, sugere-se identificar a QV (Silva et al., 2014), compreendida como um estado emocional e subjetivo do indivíduo que relaciona-se com o meio político, sociocultural, econômico e de saúde. (Fleck et al., 2000; Silva et al., 2014; Nóbrega, Dos Anjos, e de Medeiros, 2017)

 

    O estado de saúde, situação financeira, escolaridade, moradia, companhia, estilo de vida, idade, uso de medicamentos e capacidade funcional são componentes que influenciam na percepção de QV do idoso (Nóbrega et al., 2017). Além disso, uma pesquisa mostrou que a percepção de QV geral é menor em idosos (Adami, Feil, e Dal Bosco, 2015), e em outro estudo identificou que essa baixa percepção está relacionada as alterações de peso (Garcia, Moretto, e Guariento, 2016). Baixa QV também é identificada em idosos que referem dificuldades para realizar as atividades da vida diária (Sousa et al., 2018) e com baixas medidas de força de preensão manual (FPM) e elevados valores de Índice de Massa Corporal (IMC). (Garcia et al., 2016)

 

    A FPM e IMC variam conforme o sexo, visto que homens possuem maior FPM se comparado as mulheres (Lenardt et al., 2016), enquanto que em outro estudo o sexo feminino apresentaram maiores valores de IMC (Garcia et al., 2016). Nesse sentido, identificou-se que a FPM e o IMC são medidas que avaliam o estado de saúde de homens e mulheres idosas (Sampaio, Carneiro, Coqueiro, e Fernandes, 2017) por discriminar doenças que os expõem à menor QV, como a hipertensão arterial sistêmica (HAS) (Diniz, Rocha, e Oliveira, 2017), sarcopenia (Confortin et al., 2017), fragilidade (Sampaio et al., 2017) e depressão. (Resende et al., 2017)

 

    Por outro lado, maior percepção de QV indica melhor capacidade para relacionar, interagir, expressar sentimentos, dores, incapacidades funcionais, angústia ou satisfação com a vida (Oliveira et al., 2017). Por isso, após ser identificada elevada QV no idoso (Silva et al., 2014) o profissional se assegura que as informações referidas podem ser as que melhor o auxilie no rastreamento e diagnóstico de incapacidades (Sousa et al., 2018) e doenças (Santos et al., 2018) que, muitas vezes, são silenciosas e dependem de uma investigação mais apurada (Silva et al., 2014; Oliveira et al., 2017). Logo, a avaliação da QV oferece ao profissional de saúde uma visão ampliada de seu paciente. (Oliveira et al., 2017)

 

    Embora ainda existam profissionais que não reconheçam a contribuição dessa avaliação específica em seus serviços de saúde e devido à complexidade da aplicação do WHOQOL-bref (Fleck et al., 2000). Assim, observa-se a necessidade de avanços tecnológicos e científicos que permitam aos profissionais avaliar seus pacientes de forma simples e rápida. (Veras, e Oliveira, 2018)

 

    Pesquisas recomendam o uso da FPM e do IMC para triagem de saúde em pequenos (Santos et al., 2018) e grandes grupos populacionais (Confortin et al., 2017) por serem ferramentas simples, de baixo custo e fácil acesso para os serviços de saúde pública (Sampaio et al., 2017; Sousa et al., 2018; Santos et al., 2018). Entretanto, até então esses estudos não verificaram se o IMC e a FPM são capazes de indicar especificamente a QV. Neste sentido, objetivou-se discriminar, através de curvas de sensibilidade e especificidade, os pontos de corte do índice de massa corporal e da força de preensão manual como preditores de qualidade de vida em idosos residentes na zona urbana de um município de pequeno porte.

 

Metodologia 

 

    Trata-se de um estudo epidemiológico, de corte transversal, analítico de base domiciliar, com dados coletados no mês de janeiro de 2015 dos idosos residentes em Aiquara-BA. A pesquisa teve o consentimento da Secretaria Municipal de Saúde do município e a partir disso procedeu-se a listagem da única Estratégia de Saúde da Família (ESF), que cobre 100% dos indivíduos, responsável por identificar 379 idosos.

 

    Nesta pesquisa foram incluídos os idosos com idade igual ou superior a 60 anos, residentes da zona urbana e de ambos os sexos. Foram excluídos idosos da zona rural (7) e aqueles da zona urbana que não estavam em sua residência, mesmo após três tentativas em turnos diferente (34); que apresentaram problemas cognitivos ou auditivos graves (53), avaliados pelo instrumento mini exame do estado mental (MEEM), previamente validado (Bertolucci, Brucki, Campacci, e Juliano, 1994); e os que se recusaram (20).

 

    Os dados foram obtidos durante visitas domiciliares aos idosos por profissionais treinados. Os idosos que se dispuseram participar voluntariamente assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Inicialmente aplicou-se um questionário sociodemográfico para obter as variáveis idade (por faixa etária), sexo (feminino e masculino) e escolaridade. Para categorizar esta última, considerou-se sem escolaridade aqueles que nunca foram à escola e com escolaridade qualquer nível de ensino (ensino fundamental I, II, ensino médio, ensino superior, completo e incompleto).

 

    Nesta pesquisa utilizou-se o (WHOQOL-bref), um questionário validado e específico para idosos (Fleck et al., 2000) cujos escores podem classificá-los com baixa e elevada QV de acordo sua percepção (Silva et al., 2014). O questionário possui 26 questões, as respostas representam valores que, somados, identificam o índice geral de QV (Fleck et al., 2000). Nesta pesquisa, utilizou-se o ponto de corte >60 sugerido em outro estudo para discriminar elevada QV em idosos (Silva et al., 2014). Como apenas um idoso apresentou baixo escore de QV (<60), este foi excluído, o que totaliza 264 idosos participantes do estudo. Desta forma, o presente estudou optou por incluir apenas os idosos com elevada QV.

 

    Em outra etapa da coleta procedeu-se as medidas antropométricas e o teste de desempenho motor. Mediou-se o peso corporal (PC) e a estatura (E) a partir de procedimentos propostos pela International Society for Advancement of Kinanthropometry (Ross, 1991) e adotou-se erro de medida intra-medidor de 1,0 cm. Ao realizar medidas repetidas por um mesmo avaliador, identificou-se uma variação não aceitável (>1,5 cm intermédio), foi obtida uma terceira medida e empregou-se a média das tentativas.

 

    Avaliou-se a FPM por meio de um dinamômetro hidráulico Electronic Hand (E. Clear – Model: EH101), de acordo a metodologia da American Society of Hand Therapists (Fess, 1995), que teve sua aplicação padronizada por um avaliador que manteve estímulo aos participantes com intervalo de descanso de um minuto por execução.

 

    Os dados foram tabulados no software Excel® 2007, e realizou-se dupla digitação a fim de reduzir possíveis erros. Com o mesmo software obteve-se o IMC através do cálculo do PC dividido pela E ao quadrado [IMC = PC (kg) / E² (m)] e utilizou-se os seguintes pontos de corte para classificar idosos com: baixo peso <22 kg/m²; peso adequado 22,0 ≤ IMC ≤ 27 kg/m²; e sobrepeso >27 kg/m². (American Academy of Family Physicians, 2002)

 

    As receiver-operating characteristic curves (curvas ROC) foram construídas através do Statistical Package for Social Sciences, versão 22.0. Adotou-se a área e o nível da curva de sensibilidade que representou a maior chance de diagnóstico e especificidade de menor probabilidade (Margotto, 2010). Para selecionar o melhor ponto de corte do IMC e da FPM que fosse capaz de diagnosticar a elevada QV, utilizou-se o método de Youden (Ruopp, Perkins, Whitcomb, e Schisterman, 2008) componente do programa easyROC, no qual padronizou-se a utilização da vírgula decimal nas análises.

 

    O presente estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (CEP-UESB) desde o ano de 2012 sob o protocolo n° 171.464, CAAE n° 10786212.3.0000.0055, e está vinculado a um projeto maior, intitulado “Condições de saúde e estilo de vida de idosos residentes em município de pequeno porte: Coorte Aiquara”.

 

Resultados 

 

    No presente estudo identificou-se 264 idosos elegíveis para o estudo, com médias de idade e de FPM de 71,85 anos (DP±7.73) e 9,99 kgf (DP±13,01), respectivamente. Entre os idosos, todos apresentaram elevada QV (n=264), ou seja, com valores ≥60, conforme determinado nos métodos.

 

    De acordo a Tabela 1, prevaleceram idosos do sexo feminino, do grupo etários de 70 a 79 anos, com escolaridade e sobrepeso.

 

Tabela 1. Características sociodemográficas da população de idosos 

residentes na área urbana do município de Aiquara, Bahia, Brasil, 2015

Variável

n

%

Sexo (n=264)

 

 

Feminino

148

56,1

Masculino

116

43,9

Faixa etária (n=264)

 

 

60-69

106

40,2

70-79

108

40,9

80

50

18,9

Escolaridade (n-264)

 

 

Com escolaridade

260

98,5

Sem escolaridade

4

1,5

Indice de Massa corporal (IMC) (n=232)

 

 

Baixo peso

70

30,2

Adequado

68

29,3

Sobrepeso

94

40,5

Fonte: Resultados de pesquisa

 

    A Figura 1 apresenta os resultados das curvas ROC para a triagem da QV pela FPM e IMC. Ao se analisar as Curvas ROC para a triagem de QV pela antropometria e o teste motor, os melhores pontos de corte selecionados pelo teste de Youden, no geral, para triar o elevado desfecho, foram <22.8 kg/m² com área de 0,552 (IC 95%= 0,37-0,72), com erro de 0,091 para o IMC e <13 kgf, com área de 0,379 (IC: 95%= 0,32- 0,43), erro de 0,30 para FPM. Entre as variáveis, o IMC foi o que apresentou maior capacidade de predição, com sensibilidade de 62,9% e especificidade 100%.

 

Figura 1. Características das Curvas Receiver-Operating Characteristic (ROC) da amostra, Aiquara-BA, 2015

Figura 1. Características das Curvas Receiver-Operating Characteristic (ROC) da amostra, Aiquara-BA, 2015

Fonte: Resultados de pesquisa

 

    Conforme observado na Figura 1 as Curvas ROC para a triagem de QV pela antropometria e o teste motor, os melhores pontos de corte selecionados pelo teste de Youden, no geral, para triar o elevado desfecho, foram <22.8 kg/m² com área de 0,552 (IC 95%= 0,37-0,72), com erro de 0,091 para o IMC e <13 kgf, com área de 0,379 (IC: 95%= 0,32- 0,43), erro de 0,30 para FPM. Entre as variáveis, o IMC foi o que apresentou maior capacidade de predição, com sensibilidade de 62,9% e especificidade 100%.

 

Discussão 

 

    A amostra de idosos de Aiquara-BA apresentou elevada QV e foi identificado que a FPM e o IMC possuem boas curvas de sensibilidade, ou seja, são instrumentos capazes de diagnosticar o desfecho. Achado similar ao desta pesquisa foi identificado em um grupo de 156 idosos residentes em Forquetinha-RS, no qual os autores evidenciaram elevada QV em idosos de ambos os sexos, com média do domínio físico da QV, maior entre os homens. (Adami et al., 2015)

 

    Quanto maior os escores de QV dos idosos melhor será sua autonomia, o bem estar físico e psicológico, redução ou ausência de incapacidade e doenças, além de menor risco de mortalidade, o que representa bom estado de saúde (Nóbrega et al., 2017). Estudos epidemiológicos conduzidos com intuito de analisar fatores intervenientes no estado de saúde identificaram no IMC e na FPM um potencial de diagnosticar doenças e incapacidades (Diniz et al., 2017; Confortin et al., 2017), todavia essas pesquisas não verificaram o potencial dessas variáveis especificamente na avaliação da QV.

 

    Nos idosos residentes em Aiquara-BA, entre os instrumentos utilizados na avaliação de sua condição de saúde, o IMC foi o que apresentou maior capacidade de triagem da elevada QV. Os idosos que possuíam maiores escores de QV foram os que tiveram IMC igual ou inferior a 22.8 kg/m², considerados com peso adequado e baixo peso, respectivamente.

 

    No entanto, no estudo realizado com 316 idosos residentes em Lafaiete Coutinho-BA, os autores identificaram que valores de IMC abaixo de 23,4 kg/m² indicam maior propensão a fatores que influenciam na baixa QV, como por exemplo, a associação dessa medida antropométrica inversamente proporcional a síndrome da fragilidade. (Sampaio et al., 2017)

 

    Essa associação pode ser responsável pela baixa percepção de QV, de acordo os principais resultados encontrados no estudo realizado com 203 idosos residentes em Curitiba-PR, no qual os motivos identificados foram a incapacidade funcional, limitações funcionais e dor referida. (Lenardt et al., 2016)

 

    De acordo a pesquisa realizada com 275 idosos residentes em Cambé-PR, o PC e a E podem auxiliar na identificação da ocorrência de quedas (Freitas et al., 2016), que é outro fator que influencia negativamente na QV (Nóbrega et al., 2017). Foi identificado que E=1,66 cm para os homens e PC=52,2 kg para mulheres são valores que apresentam boa sensibilidade e capacidade preditiva de quedas. (Freitas et al., 2016)

 

    Esse evento ocorre devido a redução dos componentes essenciais para estabilidade e equilíbrio, a exemplo da sarcopenia, que resulta em perda de força e massa magra, além de aumento de massa gorda (Freitas et al., 2016). Esses processos são acentuados com o envelhecimento, por isso idosos têm mais chance de caírem. (Confortin et al., 2017)

 

    Entre os idosos de Aiquara-BA, verificou-se que 40,5% (n=94) apresentam sobrepeso (IMC > 27 kg/m²) e isso indica maior vulnerabilidade ao quadro de hipertensão arterial sistêmica (HAS) (Massaroli, Santos, Carvalho, Carneiro, e Rezende, 2018). Outro estudo evidenciou que o IMC elevado é a principal condição para desenvolver problemas cardiovasculares, inclusive em idosos. (Massaroli et al., 2018)

 

    Como os problemas cardiovasculares podem ter origem genética e/ou comportamental, a não adoção de um estilo de vida ativo e uma alimentação saudável durante todas as fases da vida expõe os indivíduos a apresentarem medidas corporais que favorecem HAS (Diniz et al., 2017; Resende et al., 2017; Massaroli et al., 2018) e suas repercussões negativas à saúde. (Garcia et al., 2016; Diniz et al., 2017; Massaroli et al., 2018)

 

    Em idosos, IMC de 26,79 kg/m² apresenta boa sensibilidade e ótima capacidade para predizer HAS (Diniz et al., 2017). Entre os idosos de Aiquara-BA, aqueles que se encontraram acima do peso não relataram percepção negativa de QV, entretanto o sobrepeso pode e deve ser avaliado e utilizado como parâmetro no planejamento preventivo e de cuidado pelos profissionais de saúde (Da Silva, de Paula Rodrigues, e de Oliveira Almeida, 2019). Isso por que tanto o sobrepeso (Freitas et al., 2016; Diniz et al., 2017; Massaroli et al., 2018) como o baixo peso (Confortin et al., 2017; Sampaio et al., 2017; Santos et al., 2018) podem ser fatores agravantes ao estado de saúde e de QV do idoso. (Garcia et al., 2016)

 

    Outro fator responsável por predizer a elevada QV nesta população foi a FPM, com valor de corte de 13 kgf para homens e mulheres, no qual encontrou-se o valor de 9,99 kgf (DP ±13,01). Esse instrumento tem o potencial de representar a força muscular total de idosos (Confortin et al., 2017) e possui associação diretamente proporcional com o desfecho, o que significa que quanto maior valor de FPM, melhor será a QV. (Gadelha et al., 2017)

 

    Valores elevados de FPM em idosos indicam boa capacidade para executar as tarefas do dia a dia (Sousa et al., 2018) com independência e autonomia (Nóbrega et al., 2017), como varrer a casa, passar a roupa, comer, se higienizar, ir ao mercado e entre outras atividades (Freitas et al., 2016). Idosos que possuem uma vida ativa diminuem a chance de desenvolver sarcopenia (Confortin et al., 2017; Da Silva et al., 2019) e ampliam sua relação com o meio político, sociocultural e econômico. (Fleck et al., 2000; Da Silva et al., 2019)

 

    Por outro lado, baixos valores de FPM indicam menores escores de QV (Sousa et al., 2018), visto que esse componente têm a capacidade de predizer além da capacidade funcional, a fragilidade (Sampaio et al., 2017), sarcopenia (Confortin et al., 2017) e multimorbidades (Santos et al., 2018). Em um estudo conduzido com 601 idosos residentes em Florianópolis-SC, os autores identificaram que valores da FPM menor que 26 kgf para homens e 18,5 kgf para mulheres apresentam capacidade diagnóstica de sarcopenia (Confortin et al., 2017). Pontos de corte de FPM menores que esses são apontados pela amostra de 310 idosos de Ibicuí-BA com elevada sensibilidade e baixa especificidade para predizer o risco da presença de multimorbidades, com valores de 24,8 kgf para homens e 15,35 kgf para mulheres. (Santos et al., 2018)

 

    As condições limitantes e advindas de doenças são responsáveis pelo pior estado de QV em uma pesquisa realizada com 1.691 idosos residentes de Uberaba-MG (Resende et al., 2017). Os valores de FPM sugeridos por outros estudos (Confortin et al., 2017; Sampaio et al., 2017; Santos et al., 2018) tem objetivo de discriminar desfechos diferente do estudo de Aiquara-BA. Salienta-se que utilização da FPM e do IMC, na prática clínica com idosos, auxiliam os profissionais na elaboração de estratégias que melhorem os fatores intervenientes no estado de saúde e de QV. (Sampaio et al., 2017)

 

    Para que idosos atinjam valores adequados de IMC e de FPM são necessárias orientações pautadas em prática regular de exercício físico e alimentação saudável (Da Silva, et al., 2019; Garcia et al., 2016), pois dessa maneira haverá contribuições significativas na diminuição dos fatores de risco a saúde acarretado pelo processo de envelhecimento. (Sampaio et al., 2017; Santos et al., 2018; Da Silva et al., 2019)

 

    Este estudo limitou-se por não apresentar pontos de corte específicos para os sexos ou até mesmo por faixas etárias, o que poderia favorecer a uma triagem mais apurada da elevada QV dos idosos residentes da zona urbana de um município de pequeno porte. Entretanto, ressalta-se que se trata de um estudo populacional. Outra limitação do presente estudo foi o uso de um questionário não específico para avaliar a QV em idosos, porém é um questionário amplamente aceito no meio cientifico, e possui validação para a população brasileira.

 

Conclusões 

 

    Por meio das curvas de sensibilidade e especificidade, foi possível identificar que a FPM e o IMC são instrumentos capazes de predizer a elevada QV de idosos residentes na zona urbana de um município de pequeno porte. Entre as variáveis, o IMC foi evidenciado com maior sensibilidade e especificidade de discriminação da QV elevada. 

 

    Sugere-se, portanto, que a avaliação da QV por meio dos testes de FPM e IMC, sejam utilizados para melhorar a situação de saúde dos idosos, por serem ferramentas de baixo custo e fácil acesso, capaz de fornecer informações rápidas e pertinentes para potencializar a saúde dessa população.

 

Referências 

 

Adami, F.S., Feil, C.C., e Dal Bosco, S.M. (2015). Estado nutricional relacionado à qualidade de vida em idosos. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, 12(1). https://dx.doi.org/10.5335/rbceh.v12i1.4959

 

American Academy of Family Physicians, American Dietetic Association, National Council on the Aging, e American Academy of Family Physicians, American Dietetic Association, National Council on the Aging (2002). Nutrition screening e intervention resources for healthcare professionals working with older adults. Nutrition Screening Initiative.

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 283, Dic. (2021)