A participação da família na educação escolar da criança: uma experiência clínica

Family participation in school education of the child: an experience clinical

La participación de la familia en la educación escolar del niño: una experiencia clínica

 

Graziela Fernanda Nardy Barijan*

graziela@jsnardy.com.br

Helena Brandão Viana**

hbviana2@gmail.com

Evodite Gonçalves Amorim Carvalho***

evoditea@hotmail.com

Magda Jaciara Andrade de Barros****

magda.andrade3@hotmail.com

Alexandro Landim*****

alex.a.landim@gmail.com

 

*Psicopedagoga pela Faculdade Adventista de Hortolândia (FAH)

**Doutora em Educação Física pela UNICAMP

Docente nos cursos de Graduação e Pós-Graduação da FAH

***Mestre em Psicopedagogia e Coordenadora do Curso de Psicopedagogia da FAH

****Mestre pela Faculdade de Medicina de Jundiaí

Docente nos cursos de graduação da FAH

*****Doutor em Educação e Coordenador dos Cursos de MBA da FAH

(Brasil)

 

Recepção: 06/06/2017 - Aceitação: 26/05/2018

1ª Revisão: 25/05/2018 - 2ª Revisão: 25/05/2018

Resumo

    O presente artigo teve como objetivo apontar os aspectos relevantes da relação da família com a criança para o êxito escolar, bem como discutir a visão psicopedagógica sobre a importância da participação da família no cotidiano escolar. Assim neste artigo, resgatamos o significado de família, sua evolução e importância para o desenvolvimento de uma criança. Ao deparar com uma dificuldade de aprendizagem, nasce mais um conflito familiar, então o encaminhamento para um diagnóstico psicopedagógico faz-se necessário. Neste processo encontramos razões que nos levam a entender a dificuldade de aprendizagem gerada por uma criança e destacada pela escola como um problema a ser superado. Isto foi detectado nas sessões diagnósticas realizadas e relatadas neste trabalho. Futuramente a indicação de uma intervenção psicopedagógica buscará propiciar a harmonia entre a família e a escola, almejando uma aprendizagem plena e satisfatória da criança.

    Unitermos: Família. Escola. Criança.

 

Abstract

    This article aims to point out the important aspects of family relationship with the child for academic achievement as well as discuss the psycho-pedagogical view on the importance of family participation in school life. Thus this article, we rescued the meaning family, its evolution and importance for the development of a child. When faced with a learning disability, is born another family conflict, then referral to a psycho diagnosis is necessary. In this process we find reasons that lead us to understand the difficulty of learning generated by a child and highlighted by the school as a problem to be overcome. This is detected in diagnostic sessions conducted and reported in this paper. Future indication of a pedagogical intervention seek to foster harmony between family and school, aiming for a full and satisfying learning of the child.

    Keywords: Family. School. Child.

 

Resumen

    El presente artículo tuvo como objetivo apuntar los aspectos relevantes de la relación de la familia con el niño para el éxito escolar, así como discutir la visión psicopedagógica sobre la importancia de la participación de la familia en el cotidiano escolar. Así en este artículo, rescatamos el significado de familia, su evolución e importancia para el desarrollo de un niño. Al encontrarse con una dificultad de aprendizaje, nace otro conflicto familiar, entonces el encaminamiento hacia un diagnóstico psicopedagógico se hace necesario. En este proceso encontramos razones que nos llevan a entender la dificultad de aprendizaje generada por un niño y destacada por la escuela como un problema a ser superado. Esto fue detectado en las sesiones diagnósticas realizadas y relatadas en este trabajo. En el futuro, la indicación de una intervención psicopedagógica buscará propiciar la armonía entre la familia y la escuela, anhelando un aprendizaje pleno y satisfactorio del niño.

    Palabras clave: Familia. Escuela. Niño.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 22, Núm. 237, Feb. (2018)


 

Introdução

 

    O conceito de família se dá como uma unidade de pessoas em interação com uma história natural composta por vários estágios, que compartilham sentimentos, valores, afetividade, solidariedade e reciprocidade (Brito & Soares, 2014).

 

    A família é a primeira instituição educacional do ser humano, é ela que norteia a localização na estrutura social, bem como é responsável pela forma com que o sujeito se relaciona com o mundo (Oliveira & Araújo, 2010).

 

    No início as sociedades deram origem à constituição de famílias nucleares, compostas por pai, mãe e filhos, que com o decorrer do tempo sofreram inúmeras transformações.

 

    Na Idade Média as famílias não tinham nenhuma intimidade familiar, até o século XVII a vida era vivida em público, as casas eram abertas, crianças e adultos se misturavam. Nesta concepção de família e sociedade não havia espaço para a instituição escolar, a educação se dava pela aprendizagem direita, ou seja, era passada de uma geração para outra (Varani & Silva, 2010).

 

    Neste mesmo período a educação era iniciada em casa, a aprendizagem era confundida com afazeres domésticos. Quando as crianças completavam sete anos de idade eram mandadas para casa de estranhos a fim de aprenderem serviços domésticos, noções de etiquetas e como se portarem na posição de serviçais. Nesta forma o papel da família e a sua responsabilidade com a educação de seus filhos se resumia a noções básicas para uma convivência em sociedade (Vieira, 2012).

 

    A infância não era vista como uma etapa a ser vivida pelo indivíduo. A criança não vivenciava a infância, era vista como um pequeno adulto. As experiências vivenciadas advinham do trabalho doméstico (Brito & Soares, 2014).

 

    Na Idade Moderna, a partir da segunda metade do século XVII, a educação tradicional de aprendizagem direta, deu lugar a uma instituição educacional familiar. Transformação esta que se deu devido a modificação das relações internas com a criança e a mudança da concepção de família com relação à educação (Varani & Silva, 2010).

 

    Com o passar do tempo e com a evolução da sociedade, as crianças deixaram de serem vistas como miniadultos e passaram a ser vistas realmente como crianças. O conceito de educação também foi mudado, passando a ser algo alem de ensinar serviços domésticos. Porém ainda a criança encontrava-se no seio do núcleo familiar (Vieira, 2012).

 

    Assim, estas transformações sociais, culturais, econômicas e políticas da Idade Moderna mudam o âmbito familiar. A família visa garantir a sobrevivência e a educação da criança. A criança antes pormenorizada passa agora a receber de seus pais sentimentos como afeto, carinho e preocupação. A sociedade percebe neste momento que a criança na família possui significado por representar a sucessão parental, por assegurar a continuidade da família (Brito & Soares, 2014).

 

    Nas últimas décadas, na Idade Contemporânea, a concepção de família sofreu uma grande mudança devido ao processo de industrialização imposto pela sociedade, bem como a economia agrária e industrial da época. A clássica família de pai provedor e mãe rainha do lar cuidando de seus filhos foi modificada, a família passa neste momento para a nova sociedade imposta, onde todos saem de casa para o trabalho. Estas mudanças acarretaram em efeitos no meio familiar. As mulheres saem de casa para o trabalho, tem-se então a necessidade do auxilio para com os filhos (Varani & Silva, 2010).

 

    Nos últimos vinte anos, devido a globalização e a economia capitalista, várias mudanças aconteceram quanto a dinâmica e a estrutura familiar, assim alterando o padrão tradicional de organização (Soares, 2010).

 

    As famílias, que não mais se caracterizam somente por família nuclear, composta por pai, mãe e filhos, se caracterizam por diferentes formas tendo em vista a diversidade de organizações familiares, compostas por um adulto e uma criança ou adolescente (Oliveira & Araújo, 2010).

 

    Família é um grupo de pessoas diretamente unidas e cujos membros adultos possuem a responsabilidade pelo cuidado da criança, tendo como principais funções a socialização pela qual a criança aprende as normas culturais da sociedade em que vive. E independentemente do tipo de família, esta deve ter a responsabilidade de educar e orientar para a vida social com cidadania, direitos e deveres (Almeida & Arantes, 2014).

 

    Portanto, a família é o lugar indispensável para a sobrevivência e a proteção dos filhos e demais membros, independente do arranjo familiar na sociedade (Soares, 2010).

 

    Desse modo, apesar das várias transformações acorridas em torno da família, esta tem um papel muito importante em torno do desenvolvimento, da sociabilidade, da afetividade e da educação da criança.

 

    O desenvolvimento potencial da criança ocorre na interação com uma pessoa mais experiente. No entanto, para que isso aconteça é necessário o contato com pessoas adultas que lhes forneçam experiências para a criação de suas competências e aptidões. Assim, com base nessa perspectiva, acredita-se que a aprendizagem da criança não ocorre apenas pela experiência individual, mas pela interação social construída com a família e a sociedade (Brito & Soares, 2014).

 

    Desse modo, a aprendizagem se dá na relação do sujeito com o objeto, e através da relação familiar estabelecida com o sujeito proporciona a criança evolução das funções da personalidade humana (Brito & Soares, 2014).

 

    Nessa perspectiva, a família além de responsável pela qualidade de vida de seus filhos, é também responsável pelas influências psíquicas que nascem no seio família com relação entre os membros que despertam os sentimentos que norteiam a relação familiar (Brito & Soares, 2014).

 

    É na família que se proporciona e estabelece processos sadios ou destrutivos para o desenvolvimento cognitivo da criança.

 

    Várias dificuldades podem ser encontradas na educação familiar, devido os reflexos da sociedade. A própria sociedade deseduca devido aos estímulos e apelos. No entanto dependerá da forma com que a família participará deste contexto. Assim há pais com características autoritárias, permissivas e democráticas (Soares, 2010).

 

    Pais autoritários são aqueles que têm dificuldade de se comunicar com os seus filhos, demonstram pouco afeto, são rígidos, controladores e restritivos quanto ao nível de exigência. Pais permissivos são afetuosos, dialogam com os filhos, mas possuem dificuldades quanto a limites, pois são tolerantes. Os pais democráticos são equilibrados no controle das ações de independência, respeito, capacidades e sentimentos, são afetivos, estabelecem regras e limites (Soares, 2010).

 

    A família desempenha um papel decisivo na educação formal e informal da criança. É preciso ajudar a criança a encontrar significado no aprendizado, e proporcionar para ela uma abertura para a vida. Pais democráticos conseguem estabelecer ações educacionais com seus filhos (Soares, 2010).

 

    Isso implica em dizer que as famílias devem estar inseridas no processo educacional e que o bom relacionamento e desenvolvimento familiar é um fator importante para desenvolvimento escolar da criança (Almeida & Arantes, 2014).

 

    A Família é vista como a impulsionadora da produtividade escolar, bem como a distanciadora da vida estudantil de seus filhos, promovendo desinteresses e desvalorizando a educação (Varani & Silva, 2010).

 

    Quando a criança chega na instituição escolar, é necessário que a escola conheça a sua história de vida, seu desenvolvimento cognitivo e sócio afetivo, para ampliar as ações que se iniciaram na família (Varani & Silva, 2010).

 

    Na educação, tanto familiar como educacional, é preciso ajudar a criança a encontrar significado no aprendizado. A responsabilidade de educar começa na família e se estende para a escola, assim constatando que a participação entre a escola e a família são fatores predominantes no desenvolvimento educacional e comportamental da criança (Soares, 2010).

 

    Assim, a família tem aspectos fundamentais na formação moral, social e educacional da criança. Aspectos estes relevantes para o êxito escolar de seus filhos.

 

    Desta perspectiva este artigo tem o objetivo de apontar os aspectos relevantes da relação da família com a criança para o êxito escolar. E, discutir a visão psicopedagógica sobre a importância da participação da família no cotidiano escolar.

 

Experiência clínica

 

    Este trabalho foi realizado através da análise dos atendimentos clínicos em psicopedagogia, iniciados no dia 30 de setembro de 2014, com um paciente de seis anos de idade, estudante de uma escola da rede particular de ensino, ingressado no primeiro ano do ensino fundamental.

 

    O encaminhamento a psicopedagogia se deu pelo núcleo acadêmico, através do corpo docente, com o relato do aluno apresentar dificuldade em organizar as ideias, em assimilar o conteúdo proposto, apresentando ansiedade, inquietação e insegurança, como também dificuldades ortográficas.

 

    Cabe ao Psicopedagogo realizar uma avaliação por meio do diagnóstico Psicopedagogico, através de atendimentos que aconteceram por dez sessões, sendo sete com o paciente, duas com os pais compostas pela anamnese e pela devolutiva, se findando com uma visita à escola.

 

    Delineando o processo diagnóstico, acontece uma entrevista inicial com os pais, para que possamos encontrar o campo focal, o motivo da conduta, com a finalidade de detectar sintomas e formular hipóteses sobre as causas através da óptica dos pais, onde neste caso compareceram as duas figuras: pai e mãe.

 

    A escuta psicopedagógica iniciou com o relato da mãe em que o filho tem uma baixa estima, precisa de vários comandos para a execução de uma tarefa. É filho único, os pais são casados, mora na mesma área dos avós maternos, porém em casas separadas. O pai não se demonstrou estar à vontade, apresentando expressão rancorosa com a fala da mãe, dizendo que o filho não precisa de ajuda. O casal apresentou conflito das informações e a mãe começou a relatar informações que aparentemente encomendam muito o pai.

 

    Ela relatou que não tem paciência com o filho, é fruto de um casamento e uma gravidez não planejada, e teve depressão pós-parto, necessitando muito do auxilio dos avós maternos da criança. Ainda disse que tem problemas com o marido quanto a regras, drogas e mentiras, onde na vida conjugal já aconteceram duas separações. Indicou que todos estes problemas estão prejudicando o filho. O pai ignorou todos os relatos da mãe e não participou mais da entrevista. Demonstrando claro conflito familiar.

 

    A atuação do psicopedagogo limita-se neste momento à escutar – olhar, deter-se nas fraturas do discurso, descobrir o esquema de auto significação, buscar o esquema sintomático, investigar o envolvimento dos familiares com a problemática da criança e não fazendo explanações.

 

    Iniciando o atendimento com a criança, para a realização das sessões de psicopedagogia são necessários instrumentos, assim foram utilizados testes projetivos, diálogos dirigidos e livres, sondagens da escrita e leitura, interpretação da escrita, sondagem o raciocínio lógico matemático, da organização, classificação, sequênciação e seriação, sondagem da criatividade através de jogos, sondagem da coordenação motora, sondagem das capacidades memória visual e análise do comportamento por meio de observação.

 

    O diagnóstico psicopedagógico tem por objetivo penetrar na dinâmica familiar, mas mantendo o foco no paciente e em sua queixa, para tanto as sessões se dão em cinquenta minutos, sendo vinte minutos para o lúdico, e os demais divididos entre um desenho e uma Atividade Pedagógica.

 

    A avaliação psicopedagógica é a investigação do processo de aprendizagem do indivíduo, visando entender a origem da dificuldade.

 

    A seguir serão relatadas as dez sessões, onde findarmos com as recomendações e aspectos a serem trabalhados, apresentando o modelo de aprendizagem do paciente e de sua família, seus aspectos saudáveis e suas dificuldades, bem como as possibilidades de mudança para a eficiência da aprendizagem.

 

Primeira Sessão

Segunda Sessão

Terceira Sessão

Quarta Sessão

    Nesta sessão a avaliação psicopedagógica com o paciente deu lugar a anamnese com o objetivo de colher dados significativos do paciente para uma integração do passado, presente com o futuro, sendo um ponto crucial para um bom diagnóstico. É a visão familiar da história de vida do seu filho, demonstrando normas, expectativa, preconceitos, afetos, além do histórico familiar que se relaciona com o paciente.

 

    Nesta sessão compareceram os pais, aparentemente mais resolvidos, se comparados aos conflitos na entrevista inicial, porém mais restritivos de informações. Mãe relatou que durante a gestação teve problemas de relacionamento com o pai e nos exames de ultrassom a criança sempre apresentava muita agitação. Aos dois anos de idade criança caiu e teve uma “trinca no crânio”, a avaliação neurológica foi normal. Apresenta um desenvolvimento normal segundo os pais. Quanto à saúde e doenças não tem problema algum, só apresenta estrabismo e por isso faz uso dos óculos.

 

    As relações vinculares da família acontecem com intermédio dos avós maternos com quem a criança passa grande tempo e por quem tem afeto e demonstra respeito e admiração. Os pais passam por problemas de relacionamento conjugal, acontecendo separações. Mãe relata que muitas vezes não sabe como lidar com o filho perdendo a calma e ficando muito nervosa. Pai diz que o seu tratamento e ralação para com o filho é de lhe dar tudo de bens matérias possíveis já que fica pouco tempo por trabalhar e estudar.

 

    Com relação à aprendizagem pais relatam dependência, insegura e ansiedade em executar as atividades. O filho é uma criança carinhosa, amorosa, gosta de ajudar e tem poucos amigos. Família demonstra insatisfação com o processo escolar do filho, acreditando que a escola poderia auxiliá-lo mais.

 

Quinta Sessão

Sexta Sessão

Sétima Sessão

Oitava Sessão

Nona Sessão

    Visita à escola é o momento de coleta de dados, do máximo de informações para o auxilio da conclusão do diagnóstico. Assim o professor da sala de aula preencheu um questionário, onde nos deu informações do motivo da queixa para o encaminhamento a avaliação psicopedagógica, ser a dificuldade que o aluno apresenta em assimilar e compreender os conteúdos propostos e por estar no nível pré-silábico. Relatou-nos também que a criança possui limitações em compreender comandos e dificuldade de interpretação, se dispersa muito facilmente, é muito ansioso e inquieto. Estas informações são importantes também para a geração do vinculo da escola com o psicopedagogo para um trabalho posterior de parceria com o objetivo maior de auxiliar as limitações da criança.

 

Décima Sessão

    A devolutiva é uma comunicação feita ao final de toda avaliação, em que o terapeuta relata aos responsáveis os resultados obtidos ao longo das sessões de diagnóstico. É uma análise da problemática, no âmbito familiar e escolar, onde é necessário compreender os aspectos inconscientes e criar ações para alcançar o objetivo maior deste trabalho que é uma aprendizagem da realização para o sujeito. Assim as recomendações e aspectos a serem trabalhados e abordados pelos profissionais e pela família, destacam-se em:

Resultados

 

Área Cognitiva

 

    O paciente apresentou preservada a capacidade de percepção memória visual, organização e classificação. Na modalidade de aprendizagem, paciente revelou hiperassimilação/hiperacomodação, ou seja, não revela dificuldades no recebimento, processamento e internalização das informações diante de novos conhecimentos. O paciente demonstrou disposição e interesse nas atividades propostas, no entanto, o paciente revelou dificuldades em manter-se concentrado bem como com inquietação motora, o que pode evidenciar TDAH- Transtorno de Déficit de atenção e Hiperatividade.

 

Área Pedagógica

 

    O paciente apresentou coordenação motora ainda em desenvolvimento. Encontrou-se no nível pré-silábico em seu processo de alfabetização, assim reconheceu as letras do alfabeto, porém não correlacionou com palavras. Sua escrita deu-se com a utilização de letras aleatórias. Fez cópia de palavras, mas não fez a leitura. Fez a interpretação de figuras e histórias contadas. O paciente demonstrou interesse e frustração pela leitura e escrita.

 

Área Afetiva Social

 

    Na relação ensino aprendizagem, o paciente relatou dificuldades em relacionar-se com os pares e ausência de vínculo no contexto escolar. No relacionamento interpessoal, demonstrou timidez, porém facilmente se correlaciona depois de estabelecido um laço afetivo. Na psicodinâmica familiar, o paciente demonstrou afetividade e possuir orientações sócio-afetivas das figuras parentais, e dos avós maternos. Revelou não ter noção ainda do conceito de família nuclear. No aspecto emocional e percepção do “eu”, apresentou insegurança, necessitando de apoio e contextualização da realidade. Revelou ainda baixa tolerância e frustração em lidar com perdas, limites e regras.

 

Discussão

 

    Na psicodinâmica familiar podemos encontrar fatores que nos evidenciam a importância da família na formação de um individuo receptivo à sociedade. A pouca atuação dos pais nesta estrutura familiar nos mostra falta de equilíbrio nas atitudes e nas informações psíquicas desta criança o levando ao fracasso escolar presente, demandando a necessidade da atuação do psicopedagogo e demais profissionais afins.

 

    Sugere-se nestes casos acompanhamento psicopedagógico durante o tempo necessário para a superação de suas dificuldades de aprendizagem, relacionadas principalmente a alfabetização, à responsabilidade pessoal, organização, segurança e confiança própria envolvendo o núcleo familiar.

 

    Solicita-se ainda avaliação neurológica, com finalidade de elucidar a hipótese diagnostica de TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade.

 

    Ao final do diagnóstico, a visão global do paciente e a contextualização da família propiciará um modelo de aprendizagem cognitivo e afetivo-social, que dará uma direção de motivações na busca do conhecimento a das necessidades encontradas.

 

Conclusões

 

    Após os dados obtidos durante o processo da avaliação diagnóstica, verificamos a necessidade da família em seu núcleo, onde cada qual precisa exercer o seu papel de responsabilidades para que então possa ter uma organização familiar e uma harmonia das pessoas que compõe este núcleo.

 

    O paciente aqui em evidência nos mostra o seu conflito familiar em não identificar as funções de cada pessoa que compõe a sua família. Os avós representam muito mais segurança do que os pais que representam sim insegurança e conflito. Assim a dificuldade de aprendizagem pode ter seu inicio na família através de atitudes e vivencias que inibe a autonomia de raciocínio e a oportunidade de entrar em contato com situações novas de desafios.

 

    Segundo Acampora (2013) uma criança bem estimulada é mais feliz e se torna uma pessoa mais feliz. Os pais passam a ter mais orgulho de seus filhos e a repensar seus valores. Todos devemos criar condições para que os educadores, pais e mães possam desenvolver em suas crianças sua potencialidade plena.

 

    A família durante o tempo passou por grandes transformações, deixando de ser uma família nuclear para dar lugar à diversidade de famílias. Os pais têm papel essencial na formação afetiva, social e educacional de seus filhos. Este vinculo é a base para o futuro destas crianças. Assim, independentemente das diferentes formas de família o essencial é a prioridade desta formação.

 

Referências

 

    Acampora, B. (2013). Psicopedagogia clínica: o desertar das potencialidades. Rio de Janeiro: Wak.

 

    Almeida, A. C.; Arantes, A. (2014). A relação família e escola: pressupostos para o processo ensino aprendizagem. Eventos Pedagógicos, Sinop, v. 5, n. 2.

 

    Brito, R. G.; Soares, S. S. (2014). Influência da família na aprendizagem escolar da criança: ponto de reflexão. Exitus, Campina Grande, v. 4, n. 1.

 

    Oliveira, C. B. E.; Araújo, C. M. M. (2010). A relação família-escola: intersecções e desafios. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 27, n. 1.

 

    Soares, J.M. (2010). Família e escola: parceiras no processo educacional da criança. Planeta Educação, São José dos Campos.

 

    Varani, A.; Silva, D. C. (2010). A relação família-escola: implicações no desempenho escolar dos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental. Revista Brasileira de estudos Pedagógicos, Brasília, v. 1 n. 229.

 

    Vieira, A. C. O. (2012). Reflexão sobre a participação da família na escola. Brasília. Monografia (Licenciatura em Pedagogia) – Universidade de Brasília.


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 22, Núm. 237, Feb. (2018)