ISSN 1514-3465

 

A percepção dos professores de Educação Física sobre o conteúdo lutas em suas aulas

The Perception of Physical Education Teachers about the Content Fights in Their Classes

La percepción de profesores de Educación Física sobre el contenido luchas en sus clases

 

Dágila Holanda Dias*

dagilahdias@gmail.com

Dionisio Leonel de Alencar**

dionisioalencar@bol.com.br

Luciano Uchôa Nunes Filho*

uchoaluciano97@gmail.com

 

*Licenciada/o em Educação Física

Centro Universitário Estácio do Ceará

*Graduação em Educação Física pela Universidade de Fortaleza - CE

Especialização em Ciências do Treinamento Desportivo pela Universidade Gama Filho

Especialização em Esporte Escolar pela Universidade de Brasília - DF

Mestrado em Educação e Gestão Desportiva pela Universidade Americana - PY

Doutorando em Ciências do Desporto

pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - PT

Professor do Centro Universitário Estácio do Ceará

(Brasil)

 

Recepção: 07/03/2020 - Aceitação: 13/05/2020

1ª Revisão: 08/05/2020 - 2ª Revisão: 11/05/2020

 

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Dias, D.H., Alencar, D.L., y Nunes Filho, L.U. (2020). A percepção dos professores de Educação Física sobre o conteúdo lutas em suas aulas. Lecturas: Educación Física y Deportes, 25(265), 17-28. Recuperado de: https://doi.org/10.46642/efd.v25i265.2039

 

Resumo

    É objetivo desse estudo conhecer a percepção dos professores de Educação Física sobre o conteúdo lutas nas aulas de Educação Física escolar.A abordagem do tema proposto surgiu da inquietação dos autores sobre a dinamização do conteúdo de lutas nas aulas de Educação física escolar. O referencial teórico trata da origem das lutas, caracteriza o conteúdo lutas nas aulas de Educação Física escolar, bem como a relação do professor diante desse conteúdo. Trata-se de um estudo descritivo, transversal e de natureza quantitativa. A amostra foi composta por 41 professores de Educação Física das escolas estaduais do ensino médio da cidade de Fortaleza-CE.A coleta de dados foi realizada através de uma pesquisa de campo. O instrumento de pesquisa utilizado foi um questionário com 6 perguntas fechadas e uma aberta. Como fonte secundária foi realizada uma pesquisa bibliográfica e de consulta a fontes documentais, para a construção da base teórica. Os resultados desse estudo demonstram que os professores atribuem um grau de importância elevado ao conteúdo lutas e que o utiliza em suas aulas, principalmente através de práticas recreativas/lúdicas. Constata-se também que esse conteúdo deve ser adaptado nas referidas aulas, mesmo o estudo apontando a falta de conhecimento como a dificuldade mais evidenciada em desenvolvê-lo. Verifica-se também que a disciplina de lutas na graduação é a principal vivência da maioria dos professores, e que, ao utilizar o citado conteúdo em suas aulas o professor cumpre com as orientações dos PCN’s.

    Unitermos: Professores de Educação Física. Lutas. Educação Física escolar.

 

Abstract

    This research aims to get to know the Physical Education teacher’s perception about the topic “fights” developed in physical education classes when it comes to the school environment. The approach of the subject which is here proposed has emerged from the author’s concern about the revitalization of the topic of fight in the school environment. The theoretical frame brings the origin of the fights, characterizing the subject in the school working environment, as well as the relationship between the teacher and the topic. This is a descriptive and transversal study, and presents quantitative nature. The sample was composed by 41 physical education teachers from public high schools in the city of Fortaleza, Ceara. The data collection occurred through a field research and the used tool of research was a questionnaire (presenting 7 closed questions). As a secondary data source a bibliographic research was developed, to establish a theoretical base. The results in this study show that teachers commonly attach great importance to the topic of fights, using it in their classes and developing recreational practices. It is also established that this subject must be adapted when it comes to the school environment, even though the study points out the lack of knowledge as the main cause of difficulty in accomplishing it. It is also noticed that the fights subject is the most common experience among graduation professors and the PCN’s recommendations are followed when it comes to practicing this subject.

    Keywords: Physical Education teachers. Fights. School Physical Education.

 

Resumen

    El objetivo de este estudio es conocer la percepción de los profesores de Educación Física sobre el contenido "luchas" en las clases en la escuelas. El enfoque del tema propuesto surgió de la preocupación de los autores sobre la dinamización de dicho contenido en las clases. El marco teórico aborda el origen de las luchas, caracteriza el contenido en las clases de educación física de la escuela, así como la relación del maestro con este contenido. Este es un estudio descriptivo, transversal y cuantitativo. La muestra comprendió 41 profesores de educación física de escuelas secundarias estatales en la ciudad de Fortaleza-CE. La recopilación de datos se llevó a cabo mediante investigación de campo. El instrumento de investigación utilizado fue un cuestionario con siete preguntas cerradas. Como fuente secundaria, se realizó una investigación bibliográfica y consulta de fuentes documentales para componer la base teórica. Los resultados de este estudio demuestran que los maestros atribuyen un alto grado de importancia al contenido de las luchas y que lo usan en sus clases, principalmente a través de prácticas lúdico recreativas. También se verifica que este contenido debe ser adaptado en las clases referidas, incluso el estudio que señala la falta de conocimiento como la dificultad más evidente para desarrollarlo. También se comprueba que el contenido luchas en la formación es la experiencia principal de la mayoría de los profesores, y que, al usar el contenido mencionado en sus clases, el maestro cumple con las pautas de los Parámetros Curriculares Nacionales (PCN's).

    Palabras clave: Profesores de Educación Física. Luchas. Educación Física escolar.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 265, Jun. (2020)


 

Introdução

 

    As lutas estão inseridas nos blocos de conteúdos proposto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) – Educação Física. Suas possibilidades pedagógicas são muito importantes, uma vez que, além dos próprios movimentos que a mesma produz, é um conteúdo muito rico no que diz respeito ao acervo motor, histórico e cultural. Para Rodrigues et al. (2018) as lutas são alvo de preconceito dentro do ambiente escolar e por isso são muitas vezes não é dada a importância necessária como conteúdo pedagógico.

 

    Dentro desse universo de produções da cultura corporal de movimento, algumas foram incorporadas pela Educação Física como objetos de ação e reflexão: os jogos e brincadeiras, os esportes, as danças, as ginásticas e as lutas, que têm em comum a representação corporal de diversos aspectos da cultura humana. (Brasil, 1997)

 

Lutas

 

    Para Vasques e Beltrão (2013) as lutas são práticas físicas e mentais, derivadas de técnicas de guerra, divididas em diferentes graus, com o objetivo de desenvolvimento de seus praticantes para que possam defender-se atacando, ou submeter o adversário mediante diversas técnicas. As escolas aderiram a este conteúdo pois proporciona grande aprendizado corporal, mental e ideológico. Com o decorrer do tempo essas técnicas marciais que tinham objetivos militares, passaram a ser vistas como práticas esportivas. (Gomes, 2014)

 

    Segundo Rufino e Darido (2011), o ato de lutar é tão antigo quanto à própria história da humanidade. Ao longo do tempo, estas manifestações que foram de sobrevivência e utilitárias, passaram a ser sistematizadas e regulamentadas de acordo com cada sociedade, surgindo diferentes práticas, permeadas por processos históricos repleto de rupturas e descontinuidades.

 

    Ferreira (2006) menciona que a história das diversas formas de luta de combate ou arte marcial, é difícil de ser definida, pois poucos fatos são verdadeiramente conhecidos. Algumas informações nos levam a crer que os sistemas de lutas chegaram à China e à Índia, no século V a.C., através do comércio marítimo. Na Índia e na China, surgiram os primeiros indícios de formas organizadas de combate.Muitos artistas marciais consideram a China como o berço desta cultura.

 

    Na atualidade, existem inúmeros sistemas de luta, as chamadas artes orientais: Kung Fu, Tai-Chi-Chuan, Caratê, Judô, Jiu-jitsu, Aikido, Tae-Kwon-Do, Jet-Kune-Do, Kendo, entre outras. Também existem aquelas consideradas ocidentais como: o Boxe, a Esgrima, o Kick-Boxe, etc. (Ferreira, 2006, p. 39)

 

Lutas na Educação Física Escolar

 

    As lutas são disputas corporais, nas quais os participantes empregam técnicas, táticas e estratégias específicas para imobilizar, desequilibrar, atingir ou excluir o oponente de um determinado espaço, combinando ações de ataque e defesa dirigidas ao corpo do adversário. (Brasil, 2017)

 

    Daolio (2004 apud Ferreira, 2006, p. 37) sustenta a ideia de que a cultura é o principal conceito para a Educação Física, “porque todas as manifestações corporais humanas são geradas na dinâmica cultural, desde os primórdios da evolução até hoje”. O autor menciona ainda que o profissional de Educação Física não atua sobre o corpo ou com o movimento em si, não trabalha com o esporte em si, não lida com a ginástica em si. Ele trata do ser humano nas suas manifestações culturais relacionadas ao corpo e ao movimento humano, historicamente definidas como jogo, esporte, dança, luta e ginástica.

 

    Nesta perspectiva cultural, Ferreira (2006) afirma que as lutas devem servir como instrumento de auxílio pedagógico ao profissional de Educação Física: o ato de lutar deve ser incluído dentro do contexto histórico-sócio-cultural das pessoas, já que o ser humano luta, desde a pré-história, pela sua sobrevivência.

 

    Os PCN's apontam que as lutas e as ginásticas pertencem ao mesmo bloco de conteúdos dos esportes e jogos, mas essa descrição tem por objetivo acrescentar o que deve ser ressaltado como específico dessas práticas, somando-se a tudo que foi tratado anteriormente. (Brasil, 1998)

 

    Mesmo fazendo parte dos blocos de conteúdos proposto nos PCN ‘s, o conteúdo lutas é pouco utilizado na Educação Física escolar, possivelmente em decorrência do preconceito que algumas pessoas associam a violência e a marginalidade, bem como pela própria formação acadêmica do profissional de Educação Física, onde esse conteúdo é ministrado por muitas vezes de forma muito superficial.

 

    A imprevisibilidade da luta, é algo positivo e que agrega grande aprendizado ao aluno. Rufino e Darido (2012) afirmam que há possibilidades que vão sendo criadas devido ao fator de imprevisibilidade, já que o adversário nunca ficará inerte e responderá às reações de forma inesperada.

 

    Conforme Carreiro (2005 apud Rufino e Darido, 2011, p. 1) as lutas ainda estão afastadas do ambiente escolar e, mesmo sendo defendida por inúmeros autores e propostas curriculares, não são aplicadas de maneira contínua e sistematizada.

 

    O autor afirma que dentre os conteúdos que podem ser apresentados na Educação Física escolar, as lutas são um dos que encontram maior resistência por parte dos professores, com argumentos como: falta de espaço, falta de material, falta de vestimentas adequadas e associação intrínseca às questões de violência. (Carreiro, 2005 apud Rufino e Darido, 2011, p 02)

 

O professor de Educação Física em relação ao conteúdo de lutas

 

    O processo de ensino e aprendizagem do conteúdo lutas nas aulas de Educação Física escolar é motivo de intensas discussões, principalmente pela falta de conhecimentos técnicos e metodológicos por parte dos professores. Rufino e Darido (2015, p. 6) afirmam que a insegurança no ato de ensinar as lutas na escola origina-se de maneira bastante enfática na falta de domínio desse conteúdo, resultando em uma forma insuficiente de abordagem das lutas na escola ou ainda na superficialidade do seu trato pedagógico.

 

    Nesta perspectiva, Del Vecchio e Franchini (2006 apud Rufino e Darido 2015, p. 2) consideram que a dificuldade em tratar os conteúdos lutas na escola deve-se, em parte, à formação profissional em Educação Física.

 

    Segundo Forquin (1993 apud Rufino e Darido, 2015, p. 6) o professor ensina de modo significativo apenas aspectos advindos da cultura que ele conhece, que lhe é familiar, que faz parte de sua compreensão e visão de mundo, aquilo que ele tem domínio.

 

    O objetivo desta pesquisa é conhecer qual a percepção dos professores de Educação Física sobre o conteúdo lutas nas aulas de Educação Física escolar.

 

    A abordagem do tema proposto surgiu da inquietação dos autores sobre a dinamização do conteúdo de lutas nas aulas de Educação física escolar. Surgindo assim as seguintes indagações: Os professores de Educação Física utilizam o conteúdo lutas em suas aulas como é proposto pelos PCN’s e pela BNCC? Qual a metodologia desenvolvida? A formação acadêmica lhe deu subsídio suficiente para desenvolver o conteúdo?

 

Metodologia

 

    Trata-se de um estudo de campo, de natureza quantitativa, descritiva e transversal desenvolvido em 29 escolas estaduais de ensino médio da cidade de Fortaleza-CE no período de 14 de setembro a 02 de outubro de 2017 selecionadas de forma aleatória. Foram incluídos 41 professores, presentes no local e período determinado para a pesquisa e que aceitaram participar do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - T.C.L.E. Foram excluídos professores que não se enquadraram no perfil proposto, bem como os que não se encontravam nos locais no período da aplicação do questionário ou se negaram assinar o T.C.L.E.

 

    A coleta de dados foi realizada através de uma pesquisa de campo. O instrumento de pesquisa utilizado foi um questionário com 7 perguntas fechadas (Questionário). Como fontes primárias foram entrevistados 41 professores de Educação Física escolar. As fontes secundárias foram obtidas por meio de pesquisa de campo, para construção da base teórica e da consulta a fontes documentais visando o desenvolvimento de informações sobre o objeto e ambiente da pesquisa.

 

Questionário

*Marque apenas uma opção.

1. Qual a sua principal vivência com o conteúdo Lutas?

() na disciplina “Lutas” na graduação em Educação Física;

() em um curso de pós-graduação, onde foi enfatizado as lutas como um dos conteúdos da Educação Física escolar;

() em um curso de pós-graduação em “Lutas ou semelhante”;

() em um curso de capacitação;

() sou atleta atuante em lutas;

() sou ex-atleta em lutas;

() sou ex-atleta e professor de lutas;

() sou atleta e professor de lutas;

() não tive contato com o conteúdo “Lutas”.

() outra(s) vivência(s). Cite-a(s): ______________________________________

2. Você acredita que sua formação acadêmica na graduação lhe ofereceu subsídios suficientes para desenvolver o conteúdo “Lutas” em suas aulas de Educação Física?

() sim; () não.

3. Qual o grau de importância que você atribui na utilização do conteúdo lutas nas aulas de Educação Física escolar?

() muito importante;

() mais ou menos importante;

() sem muita importância;

() irrelevante.

4. Você utiliza o conteúdo “Lutas” em suas aulas de Educação Física escolar?

Sim

() através de práticas recreativas/lúdicas;

() através da ajuda de um especialista colaborador;

() através de vídeos;

() através de aulas de campo;

() através de apresentações em seminários;

() outra(s) alternativa(s). Cite-a(s): _____________________________________

Não

() não tenho conhecimentos adequados para ministrar aulas sobre as lutas;

() a escola não tem condições físicas para dinamização desse conteúdo;

() não temos um especialista colaborador para desenvolver esse tema;

() acho este conteúdo inadequado para a escola;

() é um conteúdo que não traz motivação para os alunos;

() o tempo das aulas não é suficiente para o aprendizado do esporte;

() pode gerar violência;

() outra(s) alternativa(s). Cite-a(s): _____________________________________

5. Você concorda que a inclusão das lutas nas aulas de Educação Física escolar pode gerar violência?

() concordo plenamente;

() concordo em grande parte;

() discordo em grande parte;

() discordo completamente.

6. Qual o seu maior objetivo, ao dinamizar o conteúdo “Lutas” em suas aulas de Educação Física?

() melhorar as relações entre os alunos;

() desenvolver as habilidades dos alunos;

() melhorar a saúde dos alunos;

() cumprir com as orientações dos PCN’s;

() diminuir os casos de violência na escola;

() colaborar na formação de cidadãos críticos e reflexivos;

() outro(s). Cite-o(s): ________________________________________________

7. Quanto às metodologias utilizadas no processo de ensino-aprendizagem das lutas, você concorda que as mesmas deveriam ser adaptadas no sentido de proporcionar a inclusão de todos os alunos nas aulas de Educação Física escolar ou essas metodologias deveriam ser as mesmas utilizadas nos treinamentos?

() concordo que deveriam ser adaptadas;

() discordo, pois devem ser as mesmas utilizadas nos treinamentos;

() outra opinião: __________________________________________________.

    Aos entrevistados foi apresentado o T.C.L.E., de acordo com a resolução vigente, informando sobre o objetivo do estudo, a preservação dos aspectos éticos, a garantia da confidencialidade das informações e anonimato, evitando riscos morais. Os pesquisados ficaram cientes, também, de que a qualquer momento poderiam interromper a pesquisa. Aqueles que aceitaram participar da pesquisa assinaram o referido T.C.L.E.

 

    Os dados obtidos no questionário foram organizados no Excel For Windows 2007, analisados e representados graficamente. Depois foi feito a discussão dos resultados da pesquisa com base na análise e interpretação dos dados.

 

Resultados e discussão

 

Gráfico 1. Principal vivência com o conteúdo Lutas

Fonte: Pesquisa direta

 

    O Gráfico 1 trata da principal vivência dos professores entrevistados com o conteúdo lutas. Diante dos resultados percebe-se que um significante percentual de respondentes aponta que tiveram como principal vivência com esse conteúdo na disciplina de “Lutas” na graduação, seguido dos ex-atletas em lutas e os que participaram de curso de capacitação. Resultados semelhantes foram encontrados por Nunes Filho, Moura e Alencar (2019) quando concluíram que a maior vivência dos professores de Educação Física com o conteúdo Capoeira foi durante a disciplina de “lutas” na graduação.Convém destacar que 17% dos entrevistados responderam que nunca tiveram contato com o conteúdo lutas.

 

    Sobre o assunto em questão a resolução do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Superior nº 7 de 31 de março de 2004, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Educação Física, menciona que a Educação Física é uma área de conhecimento e de intervenção acadêmico-profissional que tem como objeto de estudo e de aplicação o movimento humano, com foco nas diferentes formas e modalidades do exercício físico, da ginástica, do jogo, do esporte, da luta/arte marcial e da dança. (Brasil, 2004)

 

Gráfico 2. Subsídios oferecidos na formação acadêmica para desenvolver o conteúdo lutas

Fonte: Pesquisa direta

 

    Percebe-se através do Gráfico 2, que a maioria dos professores entrevistados, não tiveram subsídios suficientes para desenvolver o conteúdo “lutas” em suas aulas de educação física escolar. Silva (2019) em seus resultados, constatou que 42% dos seus pesquisados não utilizam o conteúdo lutas durante suas aulas por se considerarem pouco instruídos e que 33% afirmaram que “a escola não tinha condições físicas”. Neste sentido Nóbrega, Nóbrega e Alves (2017) afirmam que a falta de infraestrutura e de apoio da direção escolar pode ser um fato que contribui para a manutenção deste quadro.

 

    Os resultados acima estão em consonância com os achados dos autores Rufino e Darido (2015), onde os mesmos apontam, na pesquisa intitulada “O ensino das lutas nas aulas de Educação Física: análise da pratica pedagógica à luz de especialistas” que 52% dos especialistas entrevistados consideram à formação acadêmica deficiente, sendo considerada precária no que se refere ao ensino das lutas na escola.

 

Gráfico 3. Grau de importância na utilização do conteúdo “lutas” nas aulas de Educação Física escolar

Fonte: Pesquisa direta

 

    De acordo com Ferreira (2006), a prática das lutas pode trazer inúmeros benefícios ao usuário, destacando-se o desenvolvimento motor, o cognitivo e o afetivo-social.

 

    Os resultados do Gráfico 3 corroboram com a afirmação do autor acima citado, visto que 63% dos entrevistados respondeu que é muito importante a utilização desse conteúdo nas aulas de Educação Física escolar.

 

Gráfico 4. Utilização do conteúdo “lutas” nas aulas de Educação Física escolar

Fonte: Pesquisa direta

 

    Verifica-se no Gráfico 4 que a maioria dos entrevistados, representados por um percentual de 78% da amostra pesquisada, utiliza o conteúdo lutas nas aulas de Educação Física. Dentre essa população que respondeu positivamente, 53% utilizam de práticas recreativas/lúdicas, seguidos por 22% dos entrevistados que utilizam de seminários para contemplar esse conteúdo em suas aulas.

 

    Os resultados vão ao encontro dos achados por Silva (2019) quando afirmou que 65% dos professores pesquisados utilizam lutas e consideram o conteúdo ideal para ser aplicado nas suas aulas e que a maioria dos professores utilizam práticas lúdicas/recreativas, vídeos e a ajuda de um especialista na área para trabalhar o tema.

 

    Em contrapartida, os resultados da pesquisa de Ferreira (2006), intitulada “As lutas na educação física escolar”, encontrou que apenas 32% dos entrevistados utiliza as práticas das lutas em suas aulas e 50% dos que oferece respostas positivas aponta que ministra suas aulas com o conteúdo lutas através de vídeos, sendo que apenas 12,5% recorre a práticas recreativas/lúdicas ao ministrar o referido conteúdo.

 

Gráfico 5. Utilização do conteúdo “lutas” nas aulas de Educação Física escolar

Fonte: Pesquisa direta

 

    Diante dos resultados revelados no Gráfico 5, percebe-se que 22% dos respondentes não utilizam o conteúdo lutas nas suas aulas de Educação Física. Dentre a amostra que respondeu negativamente, 89% alega que o principal motivo é não ter conhecimento adequado para ministrar aulas sobre lutas.

 

    Esses resultados divergem dos achados de Ferreira (2006), uma vez que 68% dos entrevistados não utiliza as lutas em suas aulas. Dentre os entrevistados que responderam negativamente a essa pergunta, 41,17% afirma que o principal motivo de não utilizar as práticas das lutas foi a falta de conhecimentos adequados para ministras aulas sobre lutas.

 

    Através dos resultados dos gráficos 4 e 5 desse estudo e os resultados revelados no estudo de Ferreira (2006) e Silva (2019) constata-se uma evolução muito significativa no que concerne a utilização do conteúdo lutas nas aulas de Educação Física escolar no ensino médio.

 

Gráfico 6. A inclusão das lutas nas aulas de Educação Física escolar e a violência

Fonte: Pesquisa direta

 

    A análise do Gráfico 6, revela que a maioria dos entrevistados, representados por um percentual de 75% discordam completamente que a inclusão das lutas nas aulas de educação física escolar possa gerar violência. Dados compatíveis aos achados por Lima (2018) ao aplicar um questionário subjetivo em um grupo de 10 professores onde 9 concordaram totalmente que a aplicação do conteúdo lutas nas aulas de Educação Física não gera violência entre os alunos e apenas 1 concordou parcialmente com este fato.

 

    Esses resultados vão de encontro aos resultados encontrados por Ferreira (2006) onde apenas 44% dos entrevistados discordam que a prática das lutas possa gerar violência.

 

    Analisando os resultados dos estudos acima mencionados, constata-se que ainda existe um preconceito em relação à prática das lutas nas aulas de Educação Física escolar, mesmo fazendo parte dos blocos de conteúdos propostos pelos PCN’s.

 

Gráfico 7. Maior objetivo, ao dinamizar o conteúdo “lutas” nas aulas de Educação Física

Fonte: Pesquisa direta

 

    Diante dos resultados do Gráfico 7, constata-se uma variedade de respostas no que tange ao maior objetivo dos entrevistados ao dinamizar o conteúdo “lutas” nas aulas de Educação Física.Dentre as respostas reveladas no estudo, “colaborar na formação de cidadãos críticos e reflexivos, representada por um percentual de 39%” e “cumprir com as orientações dos PCNs”, com 22% foram as mais evidenciadas.

 

    Os resultados acima estão em consonância com um dos objetivos citado pelos PCN’s, quando esse documento menciona que os alunos devem ser capazes de posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas. (Brasil, 1997)

 

Gráfico 8. Metodologias utilizadas no processo de ensino-aprendizagem das lutas

Fonte: Pesquisa direta

 

    Observa-se nos resultados do gráfico 8 que quase a totalidade dos entrevistados concordam que as lutas devem ser adaptadas no processo de ensino-aprendizagem. Porém grande parte dos professores pesquisado por Lima (2018) afirmaram não se sentir preparados para abordar este conteúdo nas suas aulas e apenas 2 consideraram-se capazes.

 

    Esses resultados vão ao encontro aos relatos de Rufino e Darido (2015) quando citam que a questão da adaptação é condição fundamental para o ensino das lutas na escola uma vez que é preciso traduzir pedagogicamente o ensino destas práticas de uma forma diferenciada daquela que é encontrada em outros contextos sociais.

 

Conclusão

 

    Diante dos resultados desse estudo constata-se um elevado grau de importância do conteúdo lutas nas aulas de Educação Física escolar e que o mesmo é bastante utilizado nas referidas aulas, principalmente através de práticas recreativas/lúdicas. Percebe-se também que, dentre as dificuldades encontradas em desenvolver esse conteúdo, a falta de conhecimento por parte dos professores é a mais evidenciada.

 

    Outro ponto de grande relevância verificado na pesquisa é que o conteúdo lutas deve ser adaptado às aulas de Educação Física escolar, fugindo por completo das metodologias utilizadas nos treinamentos e que a maioria dos professores concordam que a implementação do conteúdo lutas não gera violência.

 

    É imperativo destacar que a disciplina de lutas na graduação é a principal vivência da maioria dos professores, e que ao utilizar o citado conteúdo em suas aulas o professor cumpre com as orientações dos PCN’s e da BNCC.

 

    Mesmo chegando ao final desse estudo temos certeza que esse não é um produto final, muito menos conclusivo, cabendo assim mais estudos sobre o tema em questão.

 

Referências

 

Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. (1997). Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. 1º e 2º ciclos: Educação Física. Brasília, MEC/SEF. Recuperado de: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro07.pdf. Acesso em: 10 set. 2017.

 

Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. (1998). Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. 3º e 4º ciclos: Educação Física. Brasília, MEC/SEF, 1998. Recuperado de: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/fisica.pdf. Acesso em: 10 set. 2017.

 

Brasil. Ministério da Educação. (2017). Base Nacional Comum Curricular. Recuperado de: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 02 de abril de 2020.

 

Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução nº 7, de 31 de março de 2004. (2004). Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Educação Física, em nível superior de graduação plena. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 05 abr. 2004. Recuperado de: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/ces0704edfisica.pdf. Acesso em: 15 out.2017.

 

Ferreira, H. S. (2006). As lutas na educação física escolar. Revista de Educação Física, n.135, p 36-44, nov. Recuperado de: https://pt.scribd.com/document/138495344/As-Lutas-Na-Educacao-Fisica Escolar. Acesso em: 10 set. 2017.

 

Gomes, M. S. P. (2014). O ensino do saber lutar na universidade: estudo da didática clínica nas lutas e esportes de combate. Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. Recuperado de: http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/CAMP_8afb7f5ea7fc9402f813663f01041f5b. Acesso em: 02 de abril de 2020.

 

Lima, E. M. de. (2018). A abordagem das lutas nas aulas de educação física escolar:o que pensam os professores. Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ. Recuperado de: http://bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/handle/123456789/5229. Acesso em: 02 de abril de 2020.

 

Nóbrega, J., Nóbrega, A. & Alves, R. (2017). Introdução do judô no ensino escolar: a educação física escolar e o conteúdo dos desportos de combate. Seminário Desporto e Ciência. Repositório Científico Digital da universidade da Madeira. Recuperado de: https://digituma.uma.pt/handle/10400.13/2064. Acesso em: 04 de abril de 2020.

 

Nunes Filho, L. U., Moura, J. P. A. & Alencar, D. L. (2019). A capoeira como conteúdo nas aulas de Educação Física: um estudo da prática pedagógica de professores de escolas públicas. Lecturas: Educación Física y Deportes24(257), 11-21. Recuperado de: https://www.efdeportes.com/efdeportes/index.php/EFDeportes/article/view/1222. Acesso em: 04 de abril de 2020.

 

Rodrigues, V. S., Miranda, J. de. A., Mendes, J. C. L., Durães, G. M., Silva, B. M., Freitas, A. S. (2018). As lutas na educação física escolar a partir da percepção dos estudantes. RENEF. [S.l.], v. 7, n. 10, p. 2 - 9, jun. 2018. ISSN 2526-8007. Recuperado de: https://doi.org/10.35258/rn2017071000006

 

Rufino, L. G. B., & Darido, S. C. (2011). A separação dos conteúdos das “lutas” dos “esportes” na educação física escolar: Necessidade ou tradição? Goiânia: Pensar a Prática, v.14, n.3, p.117. Recuperado de: https://doi.org/10.5216/rpp.v14i3.12202

 

Rufino, L. G. B & Darido, S. C. (2012). Pedagogia do esporte e das lutas: em busca de aproximações. Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v.26, n.2, p.283-300, abr./jun. 2012. Recuperado de: http://dx.doi.org/10.1590/S1807-55092012000200011

 

Rufino, L. G. B & Darido, S. C. (2015). O ensino das lutas nas aulas de educação física: Análise da prática pedagógica à luz de especialistas. Revista Educação Física/UEM, v. 26, n. 4, p. 505-518. Recuperado de: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/view/26441/1552.Acesso em 20 set. 2017.

 

Silva, L. da S. (2019). Introdução das lutas no contexto escolar sobre o olhar do professor de educação física. Faculdade de Ciências da Educação e Saúde, Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2019. Recuperado de: https://repositorio.uniceub.br/jspui/handle/prefix/13880. Acesso em:04 de abril de 2020.

 

Vasques, D. G. & Beltrão, J. A. (2013). MMA e Educação Física Escolar: a luta vai começar. Movimento, vol. 19, núm. 4, octubre-diciembre, pp. 289-308 Escola de Educação Física Rio Grande do Sul, Brasil. Recuperado de: https://doi.org/10.22456/1982-8918.37713


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 265, Jun. (2020)