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ISSN 1514-3465

 

Análise da carreira esportiva das atletas contempladas 

pela Bolsa Atleta Pódio na ginástica artística feminina

Analysis of the Sports Career of the Athletes Awarded by 

the 'Bolsa Atleta Pódio' in the Woman’s Artistic Gymnastic

Análisis de la trayectoria deportiva de deportistas premiadas 

por la Beca Atleta Podio en gimnasia artística femenina

 

Maria Eloisa de Oliveira*

meo.medo2000@gmail.com

Pauline Iglesias Peixoto Vargas**

piglesiasvargas@gmail.com

André Mendes Capraro***

andrecapraro@onda.com.br

 

*Concluiu o curso de Formação de Docentes

no Colégio Estadual Benedicto João Cordeiro

Atualmente é graduanda do 8° período do curso

de Educação Física Licenciatura da Universidade Positivo

**Doutoranda em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná

Mestre em Educação Física pela mesma instituição

Pós-Graduação em Ginástica Rítmica pela Universidade do Norte do Paraná

e em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná

Licenciada em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná

***Graduação em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná

Graduação em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná

Mestrado em História pela Universidade Federal do Paraná

Doutorado em História pela Universidade Federal do Paraná

Cursou o estágio pós-doutoral na Università Ca' Foscari di Venezia

Atualmente é professor Associado da Universidade Federal do Paraná

Professor permanente do programa de Pós Graduação (mestrado/doutorado)

em Educação Física

(Brasil)

 

Recepção: 25/11/2019 - Aceitação: 22/08/2020

1ª Revisão: 29/07/2020 - 2ª Revisão: 11/08/2020

 

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Citação sugerida: Oliveira, M.E. de, Vargas, P.P.I., & Capraro, AM. (2020). Análise da carreira esportiva das atletas contempladas pela Bolsa Atleta Pódio na ginástica artística feminina. Lecturas: Educación Física y Deportes, 25(269), 60-78. Recuperado de: https://doi.org/10.46642/efd.v25i269.1822

 

Resumo

    O presente artigo buscou analisar os resultados internacionais das atletas de ginástica artística feminina contempladas pelo Programa Federal de incentivo ao esporte, o Bolsa-Atleta, especificamente categoria Pódio. Ao analisar todas as portarias do Bolsa Atleta Pódio, desde o início até o ano de 2018, foram identificadas sete atletas contempladas na modalidade esportiva. Os resultados internacionais das atletas apontam para uma oscilação, assim como a própria categoria de bolsa recebida por elas. Neste sentindo destaca-se que algumas atletas caíram de categoria de bolsa no ano seguinte ao que receberam a Bolsa Atleta Pódio. Nota-se que todas as atletas analisadas receberam outras categorias de bolsas do programa ao longo da carreira esportiva.

    Unitermos: Bolsas. Ginástica Artística. Mulheres. Governo federal. Políticas públicas.

 

Abstract

    The present article sought to analyze the international results of woman’s artistic gymnastics athletes contemplated by the Federal Program of incentive to the sport, “Bolsa-Atleta”, specifically category “Pódio”. When analyzing all the ordinances of the “Bolsa Atleta Pódio”, from the beginning to the year 2018, seven athletes contemplated in the sports modality were identified. The international results of the athletes point to an oscillation, as well as the very category of the exchange received by them. In this sense it is noted that some athletes have fallen out of stock market category the year after they received the “Bolsa Atleta Pódio”. It is noteworthy that all the athletes analyzed received other categories of scholarships of the program throughout their sports career.

    Keywords: Scholarships. Artistic Gymnastic. Women. Federal government. Public policy.

 

Resumen

    Este artículo analiza los resultados internacionales de las deportistas de gimnasia artística femenina consideradas por el Programa Federal de Incentivo al Deporte, Bolsa-Atleta, específicamente en la categoría Podio. Al analizar todas las estatutos de la Bolsa Atleta Podio, desde el inicio hasta el año 2018, se identificaron siete deportistas en la modalidad deportiva. Los resultados internacionales de los deportistas apuntan a una oscilación, así como la categoría de beca que reciben. En este sentido, es de destacar que algunos deportistas bajaron de la categoría de beca en el año siguiente al que recibió la Bolsa Atleta Podio. Se destaca que todos los deportistas analizados recibieron otras categorías de becas del programa a lo largo de su carrera deportiva.

    Palabras clave: Becas. Gimnasia artística. Mujeres. Gobierno federal. Políticas públicas.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 269, Oct. (2020)


 

Introdução 

 

    Reconhecido por ser o maior programa de incentivo ao desenvolvimento do esporte de rendimento do mundo, o Programa Federal Bolsa-Atleta, oferecido pelo Ministério do Esporte, por meio da Lei n°10.891 de 9 de julho de 2004 (Brasil, 2004), vem apoiando esportistas desde aqueles que encontram-se na fase estudantil aos de alto rendimento, contemplando modalidades olímpicas e paraolímpicas (Mezzadri et al., 2015; Moraes e Silva et al., 2015; Teixeira et al., 2017). Não obstante, criada em 2013 com o objetivo de patrocinar atletas com reais chances de medalha olímpica, surge a mais alta categoria do programa, a Bolsa Atleta Pódio, podendo chegar a 15 mil reais.

 

    Oliveira, & Bortoleto (2012) afirmam que tal programa é fundamental para o desenvolvimento do esporte brasileiro, em especial a ginástica artística1, um esporte individual com diferentes aparelhos para homens e mulheres. O programa feminino é composto por quatro aparelhos: solo, trave, paralelas assimétricas e salto. Em competições regulamentadas pela Federação Internacional de Ginástica (FIG), o atleta pode competir em apenas um dos aparelhos, ou seja, se especializar, ou disputar a prova individual geral – prova que premia o/a atleta com maior soma de notas em todos os aparelhos (Brochado, & Brochado, 2016). Há ainda, a disputa por equipe, na qual são consideradas as três melhores notas por aparelho. No entanto, para fins de análise desta pesquisa, não foram considerados tais resultados.

 

    A avaliação das atletas é realizada por duas bancas de árbitros, sendo elas: dificuldade e execução. A primeira banca avalia o grau dos elementos corporais realizado pelo atleta, sendo consideradas as oito dificuldades de maior valor. A segunda banca de arbitragem avalia a técnica de execução por dedução, saindo do total de 10,00 (FIG, 2017). No entanto, por tratar-se de uma avaliação subjetiva, torna-se injusto comparar a nota de um campeonato com o outro, afinal a banca de arbitragem pode ser composta por árbitros com perfil de avaliação diferente.

 

    Anualmente a FIG promove o FIG Artistic Gymnastics World Championships (Campeonato Mundial de Ginástica Artística), exceto em anos nos quais ocorrem os Jogos Olímpicos, além de várias etapas2 da FIG World Challenge Cup (Copa do Mundo). No entanto, vale ressaltar que, para fins de obtenção da Bolsa Atleta Pódio, os resultados relevantes3 são os conquistados em Campeonatos Mundiais e Jogos Olímpicos, pois, é requisito fundamental que o atleta esteja entre os 20 melhores no ranking mundial da sua modalidade.

 

    O objetivo do presente estudo4 esteou-se em analisar o caminho percorrido pelas atletas na modalidade de ginástica artística feminina até serem beneficiadas pela Bolsa-Atleta categoria Pódio, e identificar quais foram os resultados encontrados na carreira esportiva destas atletas. Torna-se fundamental essa verificação para compreender como funciona uma das maiores políticas públicas para o esporte no Brasil e se de fato ela beneficia o atleta em relação ao seu desempenho.

 

Metodologia 

 

    Para atingir o objetivo exposto foi realizada uma pesquisa documental, de cunho exploratório (Santos, 2004). A fonte primária se deu a partir da consulta das Portarias emitidas pela Secretaria Especial do Esporte (subordinada ao Ministério da Cidadania brasileiro) para que se pudesse, em primeiro lugar, desvelar as ginastas brasileiras contempladas pela Bolsa Atleta Pódio. A partir da busca eletrônica, na página oficial da referida Secretaria investigou todas as Portarias que contemplaram atletas na Bolsa Atleta Pódio, até o mês de dezembro de 2018, a saber: Portaria nº 237, de 9 de Setembro de 2013; Portaria nº 130, de 4 de Junho de 2014; Portaria nº 281, de 21 de Novembro de 2014; Portaria nº 268, de 21 de Setembro de 2015; Portaria nº 56, de 4 de Março de 2016; Portaria nº 157, de 25 de Maio de 2017; Portaria nº01 de 03 de abril de 2018; Portaria nº 250, de 9 de Agosto de 2018; Portaria nº 380 de 28 de dezembro de 2018. Tal busca identificou sete ginastas, as quais foram apresentadas na Tabela 1.

 

    Depois de identificadas as ginastas contempladas, foi realizada a busca por outras categorias de bolsa recebidas por elas, tais dados foram coletados a partir do banco de dados do Projeto Inteligência Esportiva5. A busca foi realizada pelo nome de cada atleta e o banco de dados forneceu o histórico de bolsas recebidas, ano, categoria e valor pago.

 

    Posteriormente, os dados das atletas foram catalogados em planilha do programa Excel e cruzados com as outras bolsas que estas receberam ao longo da carreira esportiva.

 

    Para realizar a análise pregressa dos resultados obtidos pelas atletas da modalidade foi realizada a busca das melhores colocações nas principais competições (Campeonato Mundial, Jogos Olímpicos e Copas do Mundo) disponibilizados pela FIG, a qual apresenta os dados individuais em seu web site6. Tal busca ocorreu durante o mês de novembro de 2019.

 

    Para a Bolsa Atleta Pódio os resultados relevantes são os conquistados em Campeonatos Mundiais e Jogos Olímpicos (quadrienal). Pois, de acordo com a Portaria nº 76 de 15 de março de 2017, eventos equivalentes a Campeonatos Mundiais e Jogos Olímpicos, somente serão considerados em caso de não acontecer nenhum destes no referido ano (Brasil, 2017). Portanto, na análise foram considerados apenas os resultados em Campeonatos Mundiais e Jogos Olímpicos.

 

    Por fim, houve o cruzamento dos dados. Portanto, foram observados a categoria de bolsa recebida pela atleta e o melhor resultado individual em cada ano, desde a sua primeira participação no Programa Bolsa-Atleta.

 

Resultados 

 

    No período entre os anos de 2014 e 2018, sete atletas da ginástica artística feminina foram contempladas pela Bolsa Atleta Pódio, conforme a Tabela 1.

 

Tabela 1. Atletas da ginástica artística feminina contemplados pela Bolsa Atleta Pódio

Nome da atleta

Valor

Portaria Bolsa-Atleta Pódio

Carolyne Mercer Winche Pedro

R$ 8.000,00

Portaria n° 157, de 25 de maio de 2017

Daniele Matias Hypolito

R$ 11.000,00

Portaria nº 280, de 5 de outubro de 2017

Flavia Lopes Saraiva

R$ 11.000,00

R$ 15.000,00

R$ 11.000,00

Portaria nº 56, de 4 de março de 2016

Portaria nº 157, de 25 de maio de 2017

Portaria nº 250, de 9 de agosto 2018

Letícia Stephanie Lima da Costa

R$ 11.000,00

Portaria nº 56, de 4 de março de 2016

Lorrane dos Santos Oliveira

R$ 11.000,00

R$ 8.000,00

Portaria nº 56, de 4 de março de 2016

Portaria nº 157, de 25 de maio de 2017

Rebeca Rodrigues de Andrade

R$ 15.000,00

R$ 15.000,00

R$ 15.000,00

Portaria nº 56, de 4 de março de 2016

Portaria nº 157, de 25 de maio de 2017

Portaria nº 250, de 9 de agosto 2018

Thais Fidelis dos Santos

R$ 15.000,00

Portaria nº 345, de 19 de dezembro 2017

Fonte: Os autores

 

    Seguindo na perspectiva de avaliar a evolução dos contemplados dentro da Bolsa Atleta Pódio, é possível observar que todas que receberam posteriormente a categoria Pódio, também foram contempladas em outras categorias, conforme a Tabela 2.

 

Tabela 2. Outras Bolsas recebidas

Nome da Atleta

Ano e categoria de Bolsa

Carolyne Mercer Winche Pedro

2015 Bolsa-Atleta Nacional

2016 Bolsa-Atleta Internacional

2017 Bolsa-Atleta Pódio

2018 Bolsa-Atleta Internacional

Daniele Matias Hypolito

2011 Bolsa-Atleta Olímpica

2012 Bolsa-Atleta Olímpica

2013 Bolsa-Atleta Olímpica

2014 Bolsa-Atleta Olímpica

2015 Bolsa-Atleta Olímpica

2017 Bolsa-Atleta Pódio

2018 Bolsa-Atleta Olímpica

Flavia Lopes Saraiva

2013 Bolsa-Atleta Internacional

2014 Bolsa-Atleta Internacional

2015 Bolsa-Atleta Internacional

2016 Bolsa-Atleta Pódio

2017 Bolsa-Atleta Pódio

2018 Bolsa-Atleta Pódio

Letícia Stephanie Lima da Costa

2012 Bolsa-Atleta Nacional

2013 Bolsa-Atleta Internacional

2014 Bolsa-Atleta Internacional

2015 Bolsa-Atleta Internacional

2017 Bolsa-Atleta Internacional

2016 Bolsa-Atleta Pódio

2018 Bolsa-Atleta Nacional

Lorrane dos Santos Oliveira

2014 Bolsa-Atleta Internacional

2015 Bolsa-Atleta Internacional

2016 Bolsa-Atleta Pódio

2017 Bolsa-Atleta Pódio

2018 Bolsa-Atleta Olímpica

Rebeca Rodrigues de Andrade

2012 Bolsa-Atleta Internacional

2013 Bolsa-Atleta Internacional

2014 Bolsa-Atleta Internacional

2015 Bolsa-Atleta Internacional

2016 Bolsa-Atleta Pódio

2017 Bolsa-Atleta Pódio

2018 Bolsa-Atleta Pódio

Thais Fidelis dos Santos

2016 Bolsa-Atleta Nacional

2017 Bolsa-Atleta Pódio

2018 Bolsa-Atleta Olímpica

Fonte: Os autores

 

    Sendo assim, ao analisar as contempladas pela Bolsa Atleta Pódio, na modalidade ginástica artística feminina, pode-se afirmar que todas passaram por outras categorias do Programa de incentivo ao Esporte do Governo Federal.

 

    A seguir, foram apresentados os resultados individuais das atletas, assim como as categorias de bolsa, ao longo da carreira esportiva de cada uma delas. Concomitantemente, foram realizados alguns apontamentos em relação aos resultados, carreira dos atletas e perspectivas futuras.

 

Carolyne Mercer Winche Pedro 

 

    A atleta Carolyne Pedro, nascida em 2000 na cidade de Curitiba (PR), foi contemplada pela primeira vez pelo Programa Bolsa-Atleta em 2015 na categoria Nacional. No ano seguinte, a atleta passou para a categoria Internacional.

 

    Conforme é possível observar na Figura 1, a atleta da seleção brasileira de ginástica artística não participou de Campeonatos Mundiais e/ou Jogos Olímpicos. Ainda assim, a atleta conquistou a Bolsa Atleta Pódio em 2017. Possivelmente, Carolyne Pedro tenha requerido a bolsa com base nos bons resultados em etapas da Copa do Mundo de Ginástica Artística de 2016. A título de exemplo, na etapa de São Paulo (BRA) finalizou em terceiro lugar no solo, e na etapa de Osijek (CRO) em sexto lugar no solo e nas paralelas assimétricas (FIG, 2019). No entanto, no mesmo ano, ocorreram os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016) com participação brasileira na modalidade, sendo assim, tais resultados não deveriam ter sido utilizados para fim de requerimento da Bolsa Atleta Pódio.

 

    No ano de 2017 Carolyne Pedro participou apenas do Campeonato Pan-Americano de Lima (PER), finalizando em décimo lugar nas paralelas assimétricas, quinto lugar no solo e terceiro lugar na trave de equilíbrio. No ano seguinte (2018), a atleta foi contemplada com a categoria Internacional do Programa Bolsa-Atleta, possivelmente baseado em tais resultados.

 

    De acordo com a FIG (2019), a atleta participou de duas etapas de Copa do Mundo de Ginástica Artística no ano de 2019, obtendo os seguintes resultados: quinto lugar individual geral na etapa de Tóquio (JPN) e nono lugar na mesma prova na etapa de Birmingham (GBR). Em 2019, Carolyne Pedro ficou de fora do Campeonato Mundial em Stuttgart, na Alemanha, por causa de uma lesão no tornozelo e teve que ser substituída por Letícia Costa (Globo Esporte, 2019). Os principais resultados e as diferentes categorias de bolsa recebidas pela atleta foram apresentados na Figura 1.

 

Figura 1. Resultados e categorias de bolsa de Carolyne Pedro

Figura 1. Resultados e categorias de bolsa de Carolyne Pedro

Fonte: Os autores (2019)

 

Daniele Matias Hypolito 

 

    A veterana atleta da seleção brasileira de ginástica (2019), Daniele Hypolito, nascida em 1984 na cidade de Santo André (SP), teve sua primeira participação olímpica nos Jogos Olímpicos de Sydney (2000), finalizando em 20º lugar individual geral. No ano seguinte, a atleta conquistou a primeira medalha brasileira em Campeonatos Mundiais de Ginástica Artística Feminina – a prata no solo (Schiavon, 2009). A atleta manteve-se em disputas internacionais, a saber: 12º lugar individual geral nos Jogos Olímpicos de Atenas (2004); oitavo lugar por equipe nos Jogos Olímpicos de Pequim (2008); 13º lugar individual geral no Campeonato Mundial de Ginástica Artística (2011); 23º lugar na trave de equilíbrio nos Jogos Olímpicos de Londres (2012); 13º lugar na trave de equilíbrio no Campeonato Mundial de Ginástica Artística (2013); 31º lugar no solo no Campeonato Mundial de Ginástica Artística (2014); quinto lugar na trave de equilíbrio na Copa do Mundo de Ginástica Artística de Doha (QAT) em 2015; segundo lugar nas paralelas assimétricas na Copa do Mundo de Ginástica Artística do Baku (AZE) em 2016; primeiro lugar no solo, na trave de equilíbrio e no salto na Copa do Mundo de Ginástica Artística de São Paulo (BRA) em 2016 (FIG, 2019)7.

 

    Na figura 2 é possível observar que Daniele Hypolito, foi beneficiada pelo programa Bolsa-Atleta a partir do ano de 2011, recebendo por cinco anos seguidos a Bolsa-Atleta categoria Olímpica. Hypolito recebeu a Bolsa Atleta Pódio apenas no ano de 2017, possivelmente, tendo em vista o resultado nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016), no qual a atleta obteve o 19º lugar na trave de equilíbrio.

 

    No ano de 2017 a atleta participou apenas da etapa da Copa do Mundo de Ginástica Artística de Varna (BUL)8, na qual conquistou o quinto lugar no salto, o quarto lugar no solo e o primeiro lugar na trave de equilíbrio com a nota final 13.750. No mesmo ano, a atleta alemã Pauline Schaefer conquistou o ouro no Campeonato Mundial de Ginástica Artística no mesmo aparelho com a nota 13.433. Ou seja, ao comparar a nota da atleta pode-se presumir que ela possuía chances de disputar a medalha no principal campeonato da modalidade em 2017 (FIG, 2019).

 

    Apesar de ter se consagrado campeã nacional em 2018, não participou de competições da FIG. Ainda assim, foi contemplada pela categoria Olímpica, do Programa Bolsa-Atleta no mesmo ano. Ressalta-se a ausência da atleta nos principais campeonatos da modalidade nos anos de 2017 e 2018. Além de não ter participado do Campeonato Brasileiro de Ginástica Artística de 2019, Hypolito não consta na listagem da seleção brasileira de Ginástica Artística Feminina (junho de 2019) (CBG, 2019).) As chances de participar do evento máximo da modalidade em 2020 são escassas tendo em vista que Hypolito não foi convocada para o Campeonato Mundial de Ginástica Artística 2019, na Alemanha (COB,2019). Tais dados são apresentados de maneira ilustrativa, na Figura 2, a seguir.

 

Figura 2. Resultados e categorias de bolsa de Daniele Hypolito

Figura 2. Resultados e categorias de bolsa de Daniele Hypolito

Fonte: Os autores (2019)

 

Flavia Saraiva 

 

    A mais jovem atleta entre os contemplados na modalidade no edital nº 01, de 03 de abril de 2018, Flavia Saraiva, nascida em 1999 na cidade do Rio de janeiro (RJ), foi contemplada pelo Programa Bolsa-Atleta em 2013 com a categoria Internacional. A atleta manteve-se recebendo a mesma categoria de bolsa nos anos de 2014 e 2015. Já em 2016, 2017 e 2018 a atleta passou a receber a categoria máxima do Programa – a Bolsa Atleta Pódio.

 

    Conforme observa-se na figura 3, no ano de 2017, apenas uma atleta brasileira participou do Campeonato Mundial de Ginástica Artística, sendo então considerados os resultados das etapas da Copa do Mundo de Ginástica Artística para a análise, a saber: etapa de Osijek (CRO) – quinto lugar nas paralelas assimétricas, terceiro lugar na trave de equilíbrio e segundo lugar no solo; etapa de Koper (SLO) – oitavo lugar no solo, quarto lugar na trave de equilíbrio e terceiro lugar nas paralelas assimétricas (FIG, 2019). No entanto, vale lembrar que apesar de serem eventos considerados “equivalentes”, o resultado em termo quantitativo não representa a realidade mundial. Afinal, muitos países optam por participar de apenas uma etapa, ou ainda por enviar suas equipes secundárias para tais campeonatos (Schiavon, 2009).

 

    A título de exemplo, de acordo com a FIG (2019) na etapa da Copa do Mundo de Ginástica Artística de Osijek (CRO), a atleta conquistou o segundo lugar com a nota 13,633. No mesmo ano, no Campeonato Mundial de Ginástica Artística, a atleta campeã do solo, Mai Murakami (JPN), obteve a nota 14,233. A nota da atleta brasileira na etapa da Copa do Mundo de Ginástica Artística a colocaria em quinto lugar no solo no Campeonato Mundial de Ginástica Artística de 2017. Vale ressaltar, conforme dito anteriormente, que por tratar-se de uma avaliação subjetiva, não é ideal avaliar os atletas da ginástica artística somente a partir de comparações de notas em diferentes campeonatos.

 

    A figura 3 ilustra que, em 2018, a atleta manteve o bom desempenho finalizando o calendário competitivo com o quinto lugar no aparelho solo e o oitavo lugar individual geral, no Campeonato Mundial de Ginástica Artística (FIG, 2019). Flavia Saraiva permanece (novembro de 2019) entre as cinco melhores do mundo, desde os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016), possibilitando afirmar que possui chances de medalhas nos Jogos Olímpicos de Tóquio (2020). Afinal, a ginasta obteve bons resultados no Campeonato Mundial de Ginástica em Stuttgart na Alemanha (2019), a saber: sétimo lugar no individual geral, somando 55.732 pontos e quarto lugar no solo. Destaca-se que Flavia Saraiva foi a única classificada ginasta brasileira classificada para os Jogos Olímpicos de Tóquio (2020)9 (O Globo, 2019). A Figura 3, sintetiza os dados descritos.

 

Figura 3. Resultados e categorias de bolsa de Flavia Saraiva

Figura 3. Resultados e categorias de bolsa de Flavia Saraiva

Fonte: Os autores (2019)

 

Letícia Stephanie Lima da Costa 

 

    A atleta Letícia da Costa, nascida em 1995 na cidade do Rio de Janeiro (RJ), estreou em competições da Federação Internacional de Ginástica em 2013, especificamente no Campeonato Mundial de Ginástica Artística, no qual obteve a 22ª colocação na trave de equilíbrio. Na mesma edição, a atleta competiu nos demais aparelhos e finalizou na 28ª colocação individual geral. No ano seguinte, a melhor colocação individual da atleta no Campeonato Mundial foi 66° lugar individual geral.

 

    Conforme é possível observar na figura 4, em 2015, a atleta caiu para a 256º lugar no individual geral e, finalizou o Campeonato Mundial, em 147º lugar no solo. No mesmo ano, a atleta participou da etapa da Copa do Mundo de Ginástica de São Paulo (BRA), conquistando o quarto lugar no aparelho salto. Possivelmente, tal resultado amparou a atleta para receber o benefício do Bolsa Atleta Pódio, em 2016.

 

    De acordo com a FIG (2019), Letícia da Costa também participou dos Jogos Pan-americanos de 2015 em Toronto, no qual obteve o terceiro lugar por equipe. Contudo, para fins de recebimento do benefício tal resultado não deveria ser validado, pois trata-se da soma de notas das ginastas da equipe.

 

    A atleta não compôs a seleção brasileira de ginástica nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016), assim como não participou de nenhuma competição FIG entre 2017 e 2018. Ainda assim, a atleta foi contemplada pelo Programa Bolsa-Atleta, na categoria Internacional no ano de 2017.

 

    A atleta compete pelo Clube de Regatas Flamengo e obteve o terceiro lugar na prova de salto no Campeonato Brasileiro de Ginástica do ano de 2018. Em 2019, foi convocada para integrar a seleção Brasileira como reserva na disputa pela vaga olímpica de Tóquio. Porém,devido a lesão de Carolyne Pedro, Letícia Costa a substituiu e disputou provas no Campeonato Mundial de Ginástica em Stuttgart, na Alemanha. No entanto, a melhor colocação obtida pela ginasta no evento foi o 53º lugar na prova de solo (FIG, 2019). A seguir, a Figura 4 ilustra os dados coletados da ginasta.

 

Figura 4. Resultados da bolsa Letícia Costa

Figura 4. Resultados da bolsa Letícia Costa

Fonte: Os autores (2019)

 

Lorrane dos Santos Oliveira 

 

    Lorrane Oliveira, nascida em 1998 na cidade de Curitiba (PR), foi contemplada cinco anos seguidos pelo Programa Bolsa-Atleta. Em 2014 e 2015 na categoria Internacional, nos dois anos seguintes na categoria Pódio e, em 2018, pela categoria Olímpica.

 

    Conforme elucidado na Figura 5, em 2014, a atleta compôs a seleção brasileira campeã nos Jogos Sul-Americanos de Ginástica Artística. No ano seguinte, a atleta contribuiu para que a equipe nacional chegasse ao terceiro lugar no Campeonato Pan-Americano de Toronto (CAN), em 2015. No mesmo ano, a ginasta participou do Campeonato Mundial de Ginástica Artística e de quatro etapas da Copa do Mundo de Ginástica Artística. Dentre tais participações, o melhor resultado obtido foi na etapa da Copa do Mundo de Ginástica Artística de Ljubljana (SLO) – segundo lugar na trave de equilíbrio. No Campeonato Mundial de Ginástica Artística, daquele ano, a atleta finalizou a mesma prova na 21ª colocação.

 

    Lorrane Oliveira repetiu a ampla participação internacional no ano de 2016, no qual competiu em três etapas da Copa do Mundo de Ginástica Artística, no Evento Teste dos Jogos Olímpicos e nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016). O quarto lugar nas barras assimétricas na etapa da Copa do Mundo de São Paulo (BRA) foi o melhor resultado individual alcançado pela ginasta, naquele ano. No entanto, para fins de análise foram considerados os resultados nos Jogos Olímpicos – 39º lugar nas paralelas assimétricas, conforme Figura 5.

 

    De acordo com a FIG (2019) a atleta acumulou algumas lesões em 2016, fato que acarretou o seu afastamento das competições no ano seguinte. Em 2018, a atleta retornou aos treinos e representou o país em alguns campeonatos, a saber: Campeonato Pan-Americano de Lima (PER), no qual obteve a sexta colocação individual geral; Torneio FIG Individual por Aparelho, no qual obteve a melhor colocação do ano – 11º lugar nas paralelas assimétricas; Campeonato Mundial de Ginástica Artística, obtendo o melhor resultado na prova de solo – 28º lugar.

 

    Lorrane Oliveira foi campeã nas paralelas assimétricas e vice-campeã da trave no Campeonato Brasileiro de Ginástica Artística de 2019 (CBG, 2019). Já no Campeonato Mundial de Ginástica Artística, em Stuttgart na Alemanha (2019), os resultados não foram o suficiente para classificação e conquista de uma vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio (2020). A melhor colocação da atleta,no referido evento, foi o 41° lugar nas paralelas assimétricas. Os resultados da atleta e as categorias de bolsa recebidas foram evidenciados na Figura 5.

 

Figura 5. Resultados da bolsa Lorraine Oliveira

Figura 5. Resultados da bolsa Lorraine Oliveira

Fonte: Os autores (2019)

 

Rebeca Rodrigues de Andrade 

 

    Rebeca Andrade, nascida em 1999 na cidade de Guarulhos (SP), é mais uma atleta nacional que participa de competições por aparelho e individual geral. Ainda assim, os melhores resultados internacionais da atleta são no salto e nas paralelas assimétricas.

 

    Como é apresentado na figura 6, a atleta foi contemplada pela Bolsa-Atleta entre os anos de 2012 e 2018 ininterruptamente. Nos primeiros quatro anos, Rebeca Andrade recebeu a Bolsa-Atleta Internacional e, nos três anos seguintes (2016 – 2017 – 2018) a categoria Pódio.

 

    A primeira participação em eventos máximos da FIG ocorreu no ano de 2015, em duas etapas de Copa do Mundo, com os seguintes resultados: Copa do Mundo de São Paulo (BRA) – sétimo lugar nas paralelas assimétricas e segundo lugar no salto; Copa do Mundo de Ljubljana (SLO) – terceiro lugar nas paralelas assimétricas (FIG, 2019). Tal resultado não foi apresentado no gráfico, pois, naquele ano, o Brasil participou do Campeonato Mundial de Ginástica Artística.

 

    Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016) a atleta classificou-se para a final individual geral, em quarto lugar. Porém, na competição final a atleta caiu para o 11º lugar. Vale destacar que na mesma competição a atleta conquistou as seguintes posições: 15º lugar nas paralelas assimétricas, 20º lugar no solo e 22º lugar na trave de equilíbrio, conforme gráfico 6.

 

    Em 2017, apenas Thaís Fidelis participou da principal competição do ano – Campeonato Mundial de Ginástica Artística. No entanto, Rebeca Andrade participou de duas etapas da Copa do Mundo de Ginástica Artística obtendo os melhores resultados na etapa de Varna (BUL) nas provas de salto (nota 14,800) e nas paralelas assimétricas (nota 14,450), ambas finalizando em primeiro lugar. Naquele mesmo ano, no Campeonato Mundial de Ginástica Artística, as notas obtidas a deixariam em quinto lugar e 11º lugar, respectivamente. Mais uma vez percebe-se a diferença nos resultados quando comparado Campeonato Mundial e etapas da Copa do Mundo (FIG, 2019).

No Campeonato Mundial de Ginástica Artística de 2018, a atleta obteve os seguintes resultados: 52º lugar na trave de equilíbrio e décimo lugar nas paralelas assimétricas (figura 6). Apesar de, em 2019, Rebeca Andrade constar na lista oficial da seleção brasileira de ginástica (CBG, 2019), ela não esteve presente no principal campeonato da modalidade do ano devido a uma lesão no ligamento cruzado anterior (Agencia Olímpica,2019). Os resultados descritos, bem como as diferentes categorias de bolsa recebidas pela atleta, foram ilustrados na figura 6, a seguir.

 

Figura 6. Resultado da bolsa Rebeca Andrade

Figura 6. Resultado da bolsa Rebeca Andrade

Fonte: Os autores (2019)

 

Thais Fidelis 

 

    Thais Fidelis, nascida em 2001 na cidade de Ribeirão Preto (SP), foi contemplada pelo programa Bolsa-Atleta pela primeira vez em 2016 – categoria Nacional. No ano seguinte, a atleta passou para a categoria Pódio e, em 2018, Bolsa-Atleta Olímpica.

 

    Como é possível observar na figura 7, a atleta teve sua primeira participação em competições internacionais no ano de 2017, na referida competição a atleta foi a única brasileira a participar. Naquele ano, além de finalizar o Campeonato Mundial de Ginástica Artística em quarto lugar no solo, Fidelis foi campeã no mesmo aparelho, em três etapas de Copa do Mundo de Ginástica Artística realizadas – Varna (BUL), Osijek (CRO) e Koper (SLO). Os excelentes resultados, obtidos em 2018, culminaram na indicação da atleta para o Prêmio Brasil Olímpico de 2017 (Comitê Olímpico Brasileiro, 2019).

 

    Conforme figura 7, no ano seguinte (2018), o melhor resultado da atleta no Campeonato Mundial de Ginástica Artística foi o 22º lugar no aparelho solo. Ainda em 2018, Fidelis competiu nos Jogos Pan-Americanos de Lima (PER), no qual o melhor resultado foi o sétimo lugar na trave de equilíbrio (FIG, 2019).

 

    Em 2019, a atleta participou da etapa da Copa do Mundo de Birmingham (GBR) conquistando o terceiro lugar individual geral. Mais uma vez Fidelis foi a única brasileira a participar de um determinado evento internacional (FIG, 2019).

 

    Mesmo considerando que o ano de 2018 não foi expressivo em conquistas para a atleta. Em 2019, Thais Fidelis integrou a equipe brasileira no Campeonato Mundial de Ginástica, em Stuttgart na Alemanha,tendo como melhor resultado o 30º lugar na trave de equilíbrio. Os dados referente a atleta Thais Fidelis foram ilustrados na Figura 7.

 

Figura 7. Resultados bolsa Thais Fidelis

Figura 7. Resultados bolsa Thais Fidelis

Fonte: Os autores (2019)

 

Discussão 

 

    Com as observações individuais é possível identificar situações pontuais nos caminhos até ser um beneficiado da Bolsa Atleta Pódio. O primeiro ponto comum das atletas de ginástica artística é que todas já haviam recebido outras categorias de bolsa do Programa Bolsa-Atleta anteriormente. Tal situação, de certa forma, reforça o sucesso do Programa, pois o objetivo do Bolsa-Atleta é patrocinar atletas de alto rendimento (Reis, & Capraro, 2020). Ainda assim, observou-se que, em alguns casos, as bolsas não seguiram, necessariamente, uma ordem crescente do benefício (estudantil/base, nacional, internacional, olímpica e pódio). A título de exemplo, a atleta Thais Fidelis, em 2016, recebia a Bolsa-Atleta Nacional e, em 2017, recebeu a Bolsa Atleta Pódio. Acredita-se que tal fato está relacionado com a própria oscilação de resultados individuais, algo típico da ginástica artística feminina (Molinari et al., 2018).

 

    O segundo ponto observado trata-se da distribuição da Bolsa Atleta Pódio. Dentre as cinco10 ginastas representantes do Brasil, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016), apenas três (Flavia Saraiva, Lorrane Oliveira e Rebeca de Andrade) já recebiam a categoria máxima do Programa. Por sua vez, Letícia Costa, que estava sendo beneficiada pela Bolsa Atleta Pódio, não representou o Brasil no evento. Tal situação é explicada a partir dos critérios para o requerimento dessas bolsas, pois demandam da participação e classificação das atletas em competições anteriores, tais como estar entre os 20 primeiros do ranking mundial de sua modalidade ou prova específica (Moraes e Silva et al., 2015).

 

    O terceiro ponto analisado na pesquisa relaciona-se com o desempenho durante o recebimento da Bolsa Atleta Pódio, em que o objetivo é manter as conquistas e o desempenho atlético e, consequentemente, continuar a receber a categoria mais alta do Programa. A partir deste cenário, observou-se que boa parte das atletas não atingiu tal êxito, ou seja, caíram para outra categoria de bolsa no ano subsequente ao recebimento da Bolsa Atleta Pódio. Neste sentindo, as atletas que passaram a receber a Bolsa-Atleta Olímpica foram: Carolyne Mercer Winche Pedro em 2018, Daniele Matias Hypolito em 2018 e Thais Fidelis dos Santos em 2017. Já a atleta Letícia Sthephanie Lima da Costa, em 2017, caiu para a categoria Internacional. Oliveira, & Bortoleto (2012) explicam que as lesões sofridas pelos atletas, podem ser o motivo da queda nos resultados em competições, ou ainda a não participação nos eventos, caso da ginasta Letícia Costa, a qual não participou dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016) por motivo de lesão. Por esse motivo, os autores (2012) reforçam a necessidade de rever os critérios de seleção dos contemplados pelo Programa.

 

    Sobre o Programa, Paz et al. (2018), ao investigar as contribuições do Programa Bolsa-Atleta para a carreira de atletas da seleção brasileira de ginástica rítmica, indicam que o Programa é fundamental para a manutenção das atletas na modalidade. Afinal, o suporte financeiro obtido pela Bolsa-Atleta possibilita a dedicação das atletas aos treinamentos diários, dessa forma, não havendo a necessidade de inserção imediata no mercado de trabalho. Fatores que não foram analisados nessa pesquisa, mas dão fomento para discussões futuras, ou ainda, indicam possibilidades de respostas aos dados levantados.

 

    No presente estudo, apenas três, das sete atletas analisadas mantiveram-se recebendo a Bolsa Atleta Pódio, por mais de um ano. Flavia Saraiva e Rebeca de Andrade,entre os anos de 2016 e 2018 e Lorrane dos Santos Oliveira, nos anos 2016 e 2017. Flavia Saraiva, passou receber a Bolsa Atleta Pódio em 2016, ano em que esteve na final olímpica. Segundo Molinari et al. (2018) a ginasta, na ocasião, tinha grandes chances de medalha, mas a baixa experiência e imaturidade contribui para que Flavia tivesse falhas técnicas nas finais. Ainda assim, os bons resultados se mantiveram nos anos seguintes. Na etapa da Copa do Mundo de Osijek (CRO) em 2017, conquistou o segundo lugar, e, em 2018, o quinto lugar no solo no Campeonato Mundial de Ginástica Artística (FIG, 2019). Por sua vez, Rebeca de Andrade, em 2016, já contemplada pela Bolsa Atleta Pódio, estreou em Jogos Olímpicos, finalizando em 11º lugar no individual geral. Molinari et al. (2018) frisou que a classificação de Rebeca de Andrade para a final olímpica, em quarto lugar, foi inédita. Segundo os autores (2018) as falhas na trave de equilíbrio na final olímpica fizeram que a atleta caísse de posição na final. Ainda assim, reforça-se a magnitude desse resultado para a ginástica brasileira. Já em 2017, Rebeca de Andrade não participou do Campeonato Mundial de 2017, mas esteve presente em etapas na Copa do Mundo, com resultados expressivos. No ano seguinte, obteve o décimo lugar nas paralelas assimétricas no Campeonato Mundial de Ginástica Artística, reforçando os bons resultados no cenário internacional. Lorrane Oliveira, por sua vez, recebeu a bolsa com base nos resultados obtidos antes e durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016). Conforme explicado por Molinari et al. (2018), os melhores resultados dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016) foram conquistados pelas ginastas mais novas e menos experientes.

 

    Em outra perspectiva, Schiavon et al. (2013) indicam que não há ginastas reservas no mesmo nível técnico para compor o grupo de ginastas nacional em diferentes ciclos olímpicos, ou seja, não há renovação suficiente. Tal fato pode estar relacionado com o baixo número de atletas contempladas pela Bolsa Atleta Pódio, entre os anos de 2014 e 2018. A título de exemplo, Reis, & Capraro (2020) encontraram 44 atletas de judô contemplados pela Bolsa Atleta Pódio, entre os anos de 2013 e 2018. O baixo número de ginastas de alto nível da modalidade no Brasil, pode estar relacionado a questões técnicas, de infraestrutura e, ainda, “insuficiência de políticas públicas que invistam no esporte de base e de rendimento” (Schiavon et al., 2013, p. 431). Por esse motivo, reforça-se a necessidade de não somente implementar políticas públicas para o esporte, como nesse caso o Bolsa-Atleta, mas também realizar a avaliação dos impactos nas diferentes modalidades.

 

Conclusões 

 

    Ao analisar os resultados internacionais das atletas de ginástica artística feminina contempladas pela maior categoria de bolsa do Programa Federal Bolsa-Atleta, pode-se inferir que não há linearidade nos resultados obtidos, ou seja, as atletas não mantêm a posição no ranking internacional por anos, havendo uma oscilação nas posições obtidas. Lembrando que, ao utilizar os resultados de etapas da Copa do Mundo de Ginástica Artística, algumas atletas foram superestimadas, visto que tal campeonato não substitui o Campeonato Mundial e/ou Jogos Olímpicos. Ainda assim, ressalta-se que cabe a confederação esportiva indiciar as competições válidas, conforme esclarece o texto da lei (De Camargo, & Mezzadri, 2017). Vale ressaltar que as lesões acumuladas pelas ginastas podem impactar diretamente nos resultados, pois em alguns casos inviabilizam a participação em competições importantes.

 

    No que tange às diferentes categorias de bolsa foi possível identificar a mesma oscilação. Fato este que está intimamente relacionado aos resultados internacionais das atletas, afinal, quando a atleta cai no ranking internacional ela também cairá na categoria de bolsa recebida. Portanto, este dado aponta para uma administração assertiva do Programa Bolsa-Atleta.

 

    O ápice da carreira esportiva é integrar a seleção brasileira de sua modalidade participando de competições internacionais representando o país. A luta constante para alcançar este objetivo perpassa mais uma vez pelos investimentos, receber a Bolsa Atleta Pódio, estar entre os 20 melhores ranqueados e manter esta posição é uma conquista diária, em longo prazo. Por isso, os benefícios de um programa como esse podem influenciar na carreira profissional do atleta. (Paz et al., 2018)

 

    Os resultados da pesquisa demonstraram que é preciso analisar e acompanhar os resultados das políticas públicas para o esporte, a fim de avaliar a sua eficácia.Sugere-se para pesquisas futuras a comparação de resultados entre atletas de diferentes modalidades esportivas contempladas pelo Programa Federal Bolsa-Atleta, bem como, o acompanhamento periódico dos resultados obtidos por eles, e ainda, entrevistas que busquem a perspectiva do atleta.

 

Notas 

  1. Para saber mais: http://www.inteligenciaesportiva.ufpr.br/site_api/arquivos/ginastica-artistica.pdf

  2. A título de exemplo em 2018 foram promovidas nove etapas de Copa do Mundo de Ginástica Artística.

  3. A exceção são as etapas de Copa do Mundo que antecedem os Jogos Olímpicos, quando ainda estão em disputa vagas individuais para os Jogos Olímpicos.

  4. Este estudo contou com o apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

  5. Trata-se de um Projeto de Pesquisa que tem por objetivo definir variáveis e indicadores sobre o esporte de alto rendimento no Brasil. Sustenta-se em parceria com a Secretaria Especial do Esporte, do Ministério da Cidadania, e o centro de Pesquisa em Esporte, Lazer e Sociedade (CEPELS) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desde 2013. O banco de dados do IE conta com mais de 50 mil atletas e aproximadamente 5 mil instituições cadastradas, perfazendo um volume superior a 3 milhões de registros.

  6. http://www.gymnastics.sport/site/

  7. A FIG apresenta outros resultados, mas para fins do relatório foram destacados os melhores resultados em cada competição.

  8. Em 2017 apenas a atleta brasileira Thais Fidelis disputou o Campeonato Mundial, sendo assim, foram considerados os resultados nas etapas da Copa do Mundo de Ginástica Artística.

  9. Apesar dos Jogos Olímpicos de Tóquio terem sido reagendados para o ano de 2021, o Comitê Olímpico Internacional declarou que será mantido o ano “2020” na logo marca do evento (Olympic Games, 2020).

  10. Rebeca Andrade, Flavia Saraiva, Jade Barbosa, Lorrane Oliveira e Daniele Hypolito (FIG, 2016).

 

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