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ISSN 1514-3465

 

Relação entre o risco coronariano e capacidade para atividades 

da vida diária. Um estudo em idosas praticantes de hidroginástica

Relationship between Coronary Risk and Capacity for Activities 

of Daily Living. A Study in Elderly Hydrogymnastic Practices

Relación entre riesgo coronario y capacidad para las actividades de 

la vida diaria. Un estudio en mujeres mayores que practican aquagym

 

Bruna Ferreira Cardoso*

bru_fcardoso@hotmail.com

Renata Aparecida Rodrigues de Oliveira**

renata.oliveira@unifagoc.edu.br

Roseny Maria Maffia***

maffia@unifagoc.edu.br

Liana do Vale Reis Lobato****

liana.lobato@fagoc.br

Aline Toledo de Oliveira*

alinetoledo13@hotmail.com

Victor Neiva Lavorato*****

victor.lavorato@unifagoc.edu.br

 

*Bacharela em Educação Física

pelo Centro Universitário Governador Ozanam Coelho

**Mestre em Educação Física

pela Universidade Federal de Viçosa

Professora do curso de Educação Física

do Centro Universitário Governador Ozanam Coelho

***Mestre em Educação Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

****Mestre em Educação Física pela Universidade Federal de Viçosa

*****Doutor em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Ouro Preto

Professor do curso de Educação Física

do Centro Universitário Governador Ozanam Coelho

(Brasil)

 

Recepção: 23/08/2019 - Aceitação: 07/02/2021

1ª Revisão: 02/07/2020 - 2ª Revisão: 13/01/2021

 

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Citação sugerida: Cardoso, B.F., Oliveira, R.A.R. de, Maffia, R.M., Lobato, L. do V.R., Oliveira, A.T. de, e Lavorato, V.N. (2021). Relação entre o risco coronariano e capacidade para atividades da vida diária. Um estudo em idosas praticantes de hidroginástica. Lecturas: Educación Física y Deportes, 25(274), 123-133. https://doi.org/10.46642/efd.v25i274.1593

 

Resumo

    O estudo teve como objetivo relacionar o risco coronariano com a capacidade para atividades da vida diária (AVDs) em idosas praticantes de hidroginástica. A pesquisa foi realizada com idosas (n=40) praticantes de hidroginástica em academias da cidade de Ubá-MG. Avaliou-se os fatores de risco coronarianos através do questionário adaptado do Michigan Heart Association. Para avaliação da capacidade para AVDs foi utilizada a escala de autopercepção do desempenho em atividades da vida diária. Foi realizado o teste Komolgorov-Smirnov para verificar a normalidade dos dados e o teste de correlação de Pearson aplicado para verificar a relação entre o risco coronariano e a capacidade para AVDs das praticantes. Foi adotado um nível de significância de p≤0,05. O risco coronariano foi classificado como “risco médio” (24,00 ± 3,81) e a capacidade para AVDs classificada como “muito boa” (134,3 ± 21,10). Foi encontrada correlação significativa entre risco coronariano e a capacidade para AVDs. Conclui-se que a hidroginástica proporciona menor risco coronariano e maior capacidade para AVDs em idosas.

    Unitermos: Fatores de risco. Atividades cotidianas. Hidroginástica. Idoso.

 

Abstract

    The aim of the study was to evaluate coronary risk and capacity for activities of daily living (ADLs) in elderly women practicing hydrogymnastic. The research was carried out with elderly women practicing hydrogymnastic in gyms in the city of Ubá-MG. Coronary risk factors were assessed using the Michigan Heart Association adapted questionnaire. To assess ADLs capacity, the self-perception scale of performance in activities of daily living was used. The Komolgorov-Smirnov test was performed to verify the normality of the data and the Pearson correlation test applied to verify the relationship between the coronary risk and the practitioners' capacity for ADLs. A significance level of p≤0.05 was adopted. Coronary risk was classified as “medium risk” (24.00 ± 3.81) and the capacity for ADLs was classified as “very good” (134.3 ± 21.10). A significant correlation was found between coronary risk and the capacity for ADLs. It is concluded that water aerobics provides less coronary risk and greater capacity for ADLs in elderly women.

    Keywords: Risk factors. Activities of daily living. Hydrogymnastic. Elderly.

 

Resumen

    El estudio tuvo como objetivo relacionar el riesgo coronario con la capacidad para las actividades de la vida diaria (AVD) en mujeres mayores que practican aeróbic acuático. La investigación se realizó con mujeres mayores (n=40) que practicaban aquagym en gimnasios de la ciudad de Ubá-MG. Los factores de riesgo coronario se evaluaron mediante el cuestionario adaptado de la Michigan Heart Association. Para evaluar la capacidad para las AVD se utilizó la escala de desempeño autopercibido en las actividades de la vida diaria. Se realizó la prueba de Komolgorov-Smirnov para verificar la normalidad de los datos y se aplicó la prueba de correlación de Pearson para verificar la relación entre el riesgo coronario y la capacidad de las practicantes para las AVD. Se adoptó un nivel de significancia de p≤0.05. El riesgo coronario se clasificó como “riesgo medio” (24,00 ± 3,81) y la capacidad para AVD se clasificó como “muy buena” (134,3 ± 21,10). Se encontró una correlación significativa entre el riesgo coronario y la capacidad para las AVD. Se concluye que el aquagym aporta menor riesgo coronario y mayor capacidad de para las AVD en mujeres mayores.

    Palabras clave: Factores de riesgo. Actividades diarias. Aquagym. Persona mayor.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 274, Mar. (2021)


 

Introdução 

 

    A expectativa de vida no Brasil teve um aumento considerável ao longo dos anos e, consequentemente, o número de idosos também aumentou. Segundo dados do IBGE, o número de idosos no Brasil ultrapassou 30 milhões em 2017 (IBGE, 2018). O envelhecimento populacional é uma realidade em muitos países devido à redução de taxas de mortalidade, fecundidade e do aumento da expectativa de vida. Apesar dessas mudanças, a grande maioria da população idosa sofre com o acometimento de doenças crônicas, que perduram por longos anos, trazendo limitações físicas, dependência e uso frequente de remédios. (Oliveira, 2019)

 

    Esse processo de envelhecimento acelerado implica maiores necessidades e cuidados que são próprios dessa fase da vida, pois os idosos sofrem alterações em suas condições fisiológicas, fisiopatológicas e sociais, sendo, portanto, mais acometidos por doenças crônico-degenerativas. Essas se caracterizam por doenças que acompanham os indivíduos por tempo indeterminado, podendo oscilar entre quadros mais agudos ou de possíveis alívios (Miranda, Mendes, e Silva, 2017). Englobam um vasto número de patologias que não são transmissíveis, dentre elas estão as doenças cardiovasculares, respiratórias, hipertensão arterial, diabetes e alguns tipos de câncer. (Devassy et al., 2020)

 

    O aparecimento de doenças crônicas pode acarretar inúmeras perdas físicas e funcionais, principalmente se as doenças adquiridas forem caracterizadas por doenças cardiovasculares (Silva et al., 2020). À medida que o indivíduo avança em sua idade cronológica, mais longa é a exposição que ele sofre aos diversos fatores de risco para desenvolver doenças coronarianas, obtendo assim maiores chances de manifestá-las (Medeiros et al., 2019). Esse quadro torna necessária a criação de mais meios de conscientizar a população sobre os riscos das doenças coronarianas, criando-se estratégias palpáveis para a sua prevenção. (Medeiros et al., 2019)

 

    Segundo Alves et al. (2007), o aumento das doenças crônicas, dentre elas as doenças cardíacas, está diretamente relacionado com o declínio da capacidade funcional. Para os autores, quando há um comprometimento da capacidade para atividades da vida diária (AVDs), a realização de tarefas básicas e diárias fica comprometida, o que torna o idoso mais vulnerável e dependente. Nesse estudo é relatado que o aumento da quantidade de doenças crônicas pode contribuir para uma menor capacidade funcional do idoso. É fundamental que haja a manutenção da capacidade para AVDs do idoso, através da prevenção e controle de doenças crônicas, para que o mesmo possa desfrutar de uma melhor qualidade de vida e obter maior independência dentro da sociedade em que está inserido.

 

    Segundo Dumith et al. (2019) através da atividade física regular e seus benefícios, podem-se prevenir inúmeras doenças e promover a saúde e bem-estar dos idosos. Portanto, é necessário que a prática regular de atividade física seja sempre estimulada em todas as etapas da vida, como meio eficaz de prevenir as doenças crônicas (Matsudo, Matsudo, e Barros Neto, 2001) e manter a capacidade para AVDs por mais tempo, favorecendo a autonomia e qualidade de vida na terceira idade. (Sousa et al., 2020)

 

    A hidroginástica está entre os exercícios mais adequados para os idosos, aumentando assim sua procura para a prática de atividade física (Leão et al., 2019). Como principais benefícios encontram-se a melhora da capacidade aeróbia, o aumento da força muscular e da flexibilidade articular, além de trabalhar capacidades específicas como o equilíbrio e a coordenação motora. Acrescentam-se os benefícios psicológicos, sociais e afetivos, como a interação e um bom convívio social, melhora da autoestima, além do combate da depressão e estresse. (Leão et al., 2019)

 

    Assim sendo, programas de atividades físicas, como os propostos pela hidroginástica, podem auxiliar tanto na prevenção de doenças crônica degenerativa, quanto na manutenção da capacidade para AVDs em idosos, promovendo assim um maior bem-estar, conforto e mais independência nessa população. O estudo teve como objetivo relacionar o risco coronariano com a capacidade para atividades da vida diária (AVDs) em idosas praticantes de hidroginástica.

 

Métodos 

 

    Foi realizado um estudo de campo de caráter quantitativo descritivo, com um delineamento transversal. A amostra foi composta por 40 pessoas com idade de 60 a 76 anos, do sexo feminino, praticantes de hidroginástica a no mínimo três meses. Nenhuma das participantes se negou a participar das coletas.

 

    A pesquisa foi realizada em uma academia da cidade de Ubá-MG (Brasil). A coleta de dados foi executada no horário da manhã por um profissional devidamente treinado. Inicialmente, foi solicitado ao proprietário e responsável pelo estabelecimento que autorizasse o desenvolvimento do presente trabalho. Posteriormente, os avaliados assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual foram explicados os objetivos e procedimentos do estudo. Todos os procedimentos éticos foram respeitados seguindo a Resolução nº 466/12, do Conselho Nacional de Saúde.

 

    Como critério de inclusão, todos os avaliados deveriam ser do sexo feminino, praticar hidroginástica por um período mínimo de três meses, ter assinado o termo de consentimento livre e esclarecido e preenchido corretamente os questionários. Foram excluídas da pesquisa todas aquelas que abandonaram as aulas de hidroginástica ao longo das avaliações.

 

    As coletas foram realizadas em agosto de 2019. Os questionários foram entregues aos indivíduos participantes do estudo, os quais foram devidamente orientados de forma verbal e com a menor interferência possível do avaliador, além das próprias orientações escritas sobre os procedimentos adequados a serem seguidos nos próprios questionários. Os avaliados deveriam responder aos questionários no mesmo local onde foram entregues, a fim de evitar possíveis esquecimentos e para que o avaliador responsável pela pesquisa pudesse sanar todas as dúvidas de forma adequada.

 

    A fim de avaliar os fatores de risco coronarianos, foi utilizado o questionário adaptado do Michigan Heart Association (MHA, 1973) que avalia oito fatores de risco, podendo ser classificados em: idade, hereditariedade, peso, tabagismo, exercício, percentual de colesterol ou gordura na dieta, pressão arterial sistólica e sexo. Cada fator de risco possui seis opções de respostas diferentes que irão variar de acordo com o fator associado. Cada resposta equivale a uma pontuação que representa o risco coronariano referente àquele fator. A soma das pontuações obtidas nas respostas aos oito fatores de risco corresponde a um valor que representa o risco coronariano do sujeito. Esse valor classifica o risco coronariano através de uma tabela formulada pela própria Michigan Heart Association, em que se avalia o indivíduo como “bem abaixo da média”, caso obtenha uma pontuação menor que 11 pontos; “abaixo da média”, caso tenha uma pontuação entre 12 e 17 pontos; “risco médio”, se tiver pontuação entre 18 e 24 pontos; “risco moderado”, caso obtenha pontuação entre 25 e 31 pontos; “risco alto”, com pontuação entre 32 e 40 pontos; e “risco muito alto”, se tiver pontuação maior que 41 pontos. Sendo assim, todos os resultados de peso, exercício, colesterol e pressão arterial foram derivados de valores autodeclarados.

 

    Posteriormente, os avaliados responderam à escala de autopercepção do desempenho em atividades da vida diária (Andreotti, e Okuma, 1999), composta por quarenta itens que descrevem atividades que são realizadas na vida diária de um indivíduo: as básicas, nos itens 1 a 15, e as instrumentais, do item 16 ao 40. Ao lado de cada atividade citada há um quadrado no qual deveriam assinalar como a realizam, seguindo a seguinte classificação: (A) Não consigo realizar esta atividade; (B) Realizo esta atividade só com ajuda de outra pessoa; (C) Realizo esta atividade sozinha, mas com muita dificuldade; (D) Realizo esta atividade sozinha, mas com um pouco de dificuldade; (E) Realizo esta atividade sozinha e com facilidade. Para classificação da capacidade para AVDs, a pontuação varia de 0 a 160, podendo ser classificada como “muito ruim, ruim, média, boa e muito boa”.

 

    Após a coleta dos dados, a análise foi realizada através da exploração descritiva das variáveis estudadas (média, desvio padrão e porcentagem). Foi realizado o teste Komolgorov-Smirnov para verificar a normalidade dos dados e o teste de correlação de Pearson aplicado para verificar a relação entre o risco coronariano e a capacidade para AVDs das praticantes. Para todos os tratamentos foi adotado um nível de significância de p≤0,05. Os dados foram analisados pelo programa GraphPad Prism 6.0®.

 

Resultados 

 

    Os resultados referentes ao Escore de risco coronariano e ao Escore de capacidade para AVDs estão apresentados na Tabela 1. Foi verificado que as praticantes de hidroginástica apresentaram risco coronariano médio e capacidade para AVDs muito boa.

 

Tabela 1. Escore de risco coronariano e Escore de 

capacidade para AVDs de idosas praticantes de hidroginástica

 

Risco Coronariano

Capacidade para AVDs

Pontuação

24,00 ± 3,81

134,3 ± 21,10

Classificação

Risco Médio

Muito Boa

 

    Os resultados relativos ao risco coronariano das idosas praticantes de hidroginástica estão contidos nas Figuras 1 e 2. A Figura 1 mostra os resultados referentes à distribuição percentual do risco coronariano, sendo possível observar que a maior parte das idosas foi classificada com risco médio, seguido de risco moderado, abaixo da média e risco alto. A Figura 2 apresenta a prevalência de cada fator de risco para as idosas praticantes de hidroginástica avaliadas. O fator de risco não modificável mais presente foi a idade, seguido da hereditariedade. O fator de risco modificável que apresentou maior porcentagem foi o peso, seguido da hipercolesterolemia, da hipertensão arterial sistólica e do tabagismo.

 

Figura 1. Distribuição percentual do risco coronariano de acordo com 

a classificação de idosas praticantes de hidroginástica, Ubá-MG/Brasil

Figura 1. Distribuição percentual do risco coronariano de acordo com a classificação de idosas praticantes de hidroginástica, Ubá-MG/Brasil

 

Figura 2. Prevalência de cada fator de risco para idosas praticantes de hidroginástica, Ubá-MG/Brasil

Figura 2. Prevalência de cada fator de risco para idosas praticantes de hidroginástica, Ubá-MG/Brasil

    Os resultados referentes à capacidade para AVDs de idosas praticantes de hidroginástica estão contidos na Figura 3, a qual mostra os resultados referentes à distribuição percentual da capacidade para AVDs, sendo possível observar que a maior parte das idosas foram classificadas com a capacidade muito boa, seguido de boa e média.

 

Figura 3. Distribuição percentual da capacidade para AVDs 

de idosas praticantes de hidroginástica, Ubá-MG/Brasil

Figura 3. Distribuição percentual da capacidade para AVDs de idosas praticantes de hidroginástica, Ubá-MG/Brasil

 

    A Figura 4 apresenta a correlação entre os escores de risco coronariano e de capacidade para AVDs. Foi possível observar que houve uma correlação significativa (r=-0,6342; p< 0,0001), ou seja, quanto maior a capacidade para AVDs, menor o risco coronariano.

 

Figura 4. Correlação entre os escores de Risco Coronariano 

e os escores de Capacidade para AVDs, Ubá-MG/Brasil

Figura 4. Correlação entre os escores de Risco Coronariano e os escores de Capacidade para AVDs, Ubá-MG/Brasil

 

Discussão 

 

    O presente estudo teve como objetivo avaliar o risco coronariano e a capacidade para AVDs em idosas praticantes de hidroginástica. Diante disso, os principais achados foram: as idosas que praticam hidroginástica apresentaram risco coronariano médio e capacidade para AVDs muito boa.

 

    Em relação ao risco coronariano, a idade foi o fator de risco não modificável mais prevalente entre as idosas. Sabe-se que com avançar da idade é comum o surgimento de comorbidades que afetam a qualidade de vida, como por exemplo hipertensão arterial sistêmica, diabetes, obesidade, dentre outras (Urtamo et al., 2020). No entanto, é necessário que os idosos adotem um estilo de vida saudável com base na prática regular de atividades físicas e alimentação adequada a fim de minimizar os prejuízos decorrentes do envelhecimento. (Olaya et al., 2019)

 

    Adicionalmente, Barreto et al. (2003) a fim de determinar o risco de adultos e idosos desenvolverem doença arterial coronariana em 10 anos, observaram que o risco pode aumentar gradativamente com o aumento da faixa etária. Dessa maneira, o fator idade avançada é considerado um agravante para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

 

    Ademais, em relação ao fator de risco modificável com maior prevalência entre as idosas praticantes de hidroginástica, destaca-se o peso corporal. No processo de envelhecimento, a obesidade se relaciona com as alterações fisiológicas e metabólicas decorrentes da idade, o que reflete na composição corporal e saúde dos idosos (Batsis, e Villareal, 2018). Dessa maneira, a prevalência de obesidade encontrada neste estudo condiz com o encontrado na literatura acerca do processo de envelhecimento.

 

    No que diz respeito à capacidade para AVDs, 65% das mulheres foram avaliadas com a capacidade “muito boa”, e nenhuma das entrevistadas foi classificada com capacidade “ruim” ou “muito ruim”. Nesse sentido, é fundamental a manutenção dos domínios da capacidade para AVDs, a fim de proporcionar autonomia para os cuidados pessoais do idoso, como por exemplo, se alimentar, tomar banho e se trocar sozinho. (Almeida, Litvoc, e Perez, 2012)

 

    A literatura aponta que idosas que realizam hidroginástica apresentam melhores parâmetros de capacidade para AVDs em relação à idosas sedentárias (Oliveira-Silva, e Arcanjo, 2017). Adicionalmente, Carballo, Moraes, e Pinto (2019) compararam a autonomia e a capacidade funcional de idosas praticantes e não praticantes de hidroginástica. Os dois grupos apresentaram independência para as atividades básicas da vida diária, no entanto, as idosas que praticavam hidroginástica apresentaram níveis elevados no desempenho físico. Portanto, praticar hidroginástica pode melhorar a capacidade para AVDs em indivíduos idosos.

 

    Em última análise, foi encontrada uma significativa correlação negativa entre os escores de risco coronariano e a capacidade para AVDs, uma vez que à medida que a capacidade para AVDs aumentou, o risco coronariano diminuiu. Diante disso, fica evidente a importância de praticar hidroginástica para obter uma boa capacidade para AVD sem idosos.

 

Conclusão 

 

    Conclui-se, para esta amostra, que as idosas praticantes de hidroginástica apresentam um risco coronariano médio e capacidade para AVDs muito boa. Esses achados reforçam a importância da hidroginástica para os idosos, mostrando que a melhora da funcionalidade corporal proporciona redução dos riscos para o aparecimento de eventos cardiovasculares. Apesar dos resultados favoráveis encontrados no presente estudo, mais pesquisas devem ser realizadas para melhor compreensão de como a hidroginástica pode colaborar para o aumento da capacidade para AVDs e para a redução dos fatores de risco coronarianos. A realização de testes para avaliar a aptidão física relacionada à saúde pode ser uma estratégia interessante.

 

    Como limitações deste estudo, pode ser citada a amostra reduzida e não randomizada, bem como a ausência de comparação entre grupos ativos e inativos, e o moderado poder estatístico das análises, sendo assim necessários mais estudos que corroborem com tal correlação.

 

Referências 

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 274, Mar. (2021)