ISSN 1514-3465

 

Percepção da qualidade de vida dos trabalhadores da 

indústria metalúrgica na cidade de Sertãozinho, SP

Perception of Quality of Life of Workers in 

Metallurgical Industry of Sertaozinho City

Percepción de la calidad de vida de los trabajadores de 

la industria metalúrgica en la ciudad de Sertaozinho, SP

 

Willian Rodrigues da Silva*

willian.amaral21@hotmail.com

Ana Beatriz Battaus Silva*

anabeatriz.battaus@gmail.com.br

Camila Midori Takemoto Vasconcelos**

camismidori@gmail.com

Luiz Gustavo Almeida dos Santos**

luizgustavoalmeidadossantos@gmail.com

Lucas Bertoluci Zuquieri***

lucaszuquieri_rt@hotmail.com

Me. Astor Reis Simionato****

astor_ars@hotmail.com

Me. Leandro Oliveira da Cruz Siqueira*****

le_siqueiraedf@hotmail.com

 

*Bacharel em Educação Física - Centro Universitário UNIFAFIBE

**Mestranda/o em Desenvolvimento Humano e Tecnologias

Universidade Estatal Paulista - UNESP

***Mestrando em Desenvolvimento Humano e Tecnologias

Universidade Estatal Paulista - UNESP

Bacharel em Educação física

****Mestre em Desenvolvimento Humano e Tecnologias

Universidade Estatal Paulista - UNESP

*****Mestre em Desenvolvimento Humano e Tecnologias

Doutorando em Desenvolvimento Humano e Tecnologias

Universidade Estatal Paulista - UNESP

Docente do curso de Educação Física

Centro Universitário UNIFAFIBE

(Brasil)

 

Recepção: 25/03/2019 - Aceitação: 30/04/2020

1ª Revisão: 13/04/2020 - 2ª Revisão: 21/04/2020

 

Este trabalho está sob uma licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0)

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Silva, W.R. da, Silva, A.B.B., Vasconcelos, C.M.T., Santos, L.G.A., Zuquieri, L.B., Simionato, A.R., y Siqueira, L.O.C. (2020). Percepção da qualidade de vida dos trabalhadores da indústria metalúrgica na cidade de Sertãozinho, SP. Lecturas: Educación Física y Deportes, 25(265), 44-58. Recuperado de: https://doi.org/10.46642/efd.v25i265.1238

 

Resumo

    Na indústria metalúrgica existe um alto índice de patologias e acidentes que vêm afetando os trabalhadores. Assim, este estudo objetivou analisar e compreender a correlação dos sintomas de dores relacionadas ao trabalho e do nível de atividade física com a percepção de qualidade de vida de trabalhadores de uma indústria metalúrgica. Foram avaliados 20 funcionários da indústria, por meio do questionário de anamnese e do SF-36, que avalia a percepção da qualidade de vida. Os resultados mostram que quanto maior a intensidade da dor, menor a qualidade de vida nos aspectos físico e emocional.. Quanto ao tempo de prática de exercícios por semana, encontrou-se que aqueles que realizavam maiores quantidades de minutos por semana apresentavam uma maior percepção da qualidade de vida para capacidade funcional. Os resultados indicam que o investimento das empresas em atividades físicas para os trabalhadores pode melhorar sua capacidade funcional e consequentemente o rendimento do funcionário no trabalho.

    Unitermos: Percepção da qualidade de vida. Patologias ocupacionais. Exercício físico. Metalúrgicos.

 

Abstract

    In the metallurgical industry there is a high index of pathologies and accidents that are affecting workers. Therefore, this study aimed to analyze and understand the correlation of pain symptoms related to work and physical activity level with the perception of quality of life of workers in a metallurgical industry. Were evaluated 20 industry employees, through an anamnesis questionnaire and the SF36, which evaluates the perception of quality of life. The results show that the higher the intensity of the pain, the lower the quality of life in the physical and emotional aspects. Regarding the time of practice of exercises per week, it was found that those who performed greater amounts of minutes per week had a greater perception of the quality of life for functional capacity. The results indicate that the companies' investment in physical activities for workers can improve their functional capacity and consequently the employee's income at work.

    Keywords: Perception of quality of life. Occupational pathologies. Physical exercise. Metallurgists.

 

Resumen

    En la industria metalúrgica hay una alta tasa de patologías y accidentes que han estado afectando a los trabajadores. En este sentido, este estudio tuvo como objetivo analizar y comprender la correlación entre los síntomas de dolores relacionados con el trabajo y el nivel de actividad física con la percepción de la calidad de vida de los trabajadores en una industria metalúrgica. Veinte empleados de la industria fueron evaluados utilizando el cuestionario de anamnesis y el SF-36, que evalúa la percepción de la calidad de vida. Los resultados muestran que cuanto mayor es la intensidad del dolor, es menor la calidad de vida en los aspectos físicos y emocionales. En cuanto al tiempo de práctica de los ejercicios por semana, se encontró que aquellos que realizaron mayores cantidades de minutos por semana tenían una mayor percepción de la calidad de vida para la capacidad funcional. Los resultados indican que la inversión de las empresas en actividades físicas para los trabajadores puede mejorar su capacidad funcional y, en consecuencia, el desempeño laboral del empleado.

    Palabras clave: Percepción de la calidad de vida. Patologías ocupacionales. Ejercicio físico. Metalúrgicos.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 265, Jun. (2020)


 

Introdução

 

    O ambiente de trabalho das indústrias metalúrgicas está passando por grandes mudanças. Com a chegada da tecnologia, o processo de fabricação ficou mais exigente na produtividade e na qualidade dos serviços, aumentando a cobrança em cima dos trabalhadores durante sua jornada de trabalho. Tudo isso, pode acarretar em uma sobrecarga de trabalho, muitas vezes insalubre, maior do que suas capacidades físicas e mentais suportam, podendo prejudicar a sua saúde no aspecto físico e emocional, piorando a qualidade de vida dos mesmos. (Lancman, 2004)

 

    Um exemplo disso é o ambiente de trabalho na indústria metalúrgica, que historicamente está relacionado a diversas patologias, provenientes do esforço repetitivo acompanhado de postura inadequada, comprometendo a saúde dos trabalhadores, aumentando o número de afastamentos e prejudicando a qualidade de vida dos mesmos (Dyniewicz et al., 2009; Dert, 2010; Martins, 2015). Sendo assim, o adoecimento por lesões de esforço físico ou esgotamento mental resulta em graves problemas de saúde pública e social (Brasil, 2011) devido ao aumento de afastamentos e aposentadorias precoces,já que para o governo, esses problemas geram como consequências um aumento na folha salarial nas contas do INSS, fator negativo para a renda pública do país. (Lancman, 2004; Gonçalves et al., 2011)

 

    Com os avanços tecnológicos provenientes da globalização industrial, o trabalho braçal foi substituído pelo uso de máquinas que realizam a maior parte das tarefas. Em contrapartida, esta substituição originou uma maior exigência de movimentos repetitivos e a permanência em posturas inadequadas, provocando o aumento da sobrecarga diária e do desgaste físico. Além disso, com as novas tecnologias, as exigências por produtividade e qualidade nas indústrias metalúrgicas deixaram em segundo plano a qualidade de vida dos seus empregados (Moser et al., 2006). Dessa forma, o trabalho, que é determinante para a inserção do homem na sociedade e sua satisfação pessoal, deixa de ser um intermediário do bem-estar e da qualidade de vida e passa a ser fator prejudicial à saúde dos trabalhadores, podendo até levar a quadros de depressão no trabalho. (Stacciarini et al., 2000; Joca et al., 2003; Kaliterna et al., 2004; Camelo et al., 2004; Dyniewicz et al., 2009; Teychenne et al., 2010; Werneck et al., 2019)

 

    Dentre as principais insalubridades presentes na área da metalurgia estão as patologias osteomusculares, decorrentes do esforço repetitivo e a má postura, e os ruídos internos, que além do estresse, podem ocasionar uma baixa perda de audição (Murta, 2007, Dyniewicz et al., 2009; Rios et al., 2010). Além do mais, o ambiente de trabalho nas metalúrgicas contém uma série de riscos como calor, agentes químicos, eletricidade, máquinas sem proteção e outras ameaças que podem ocasionar acidentes de trabalho (Gonçalves et al., 2011).

 

    Para prevenir acidentes de trabalho e reduzir o estresse ocupacional nos trabalhadores é muito importante que as empresas adotem medidas que diminuam os riscos das atividades laborativas e promovam o bem-estar, fazendo com que dessa forma os funcionários estejam mais satisfeitos no seu local de trabalho e menos vulneráveis a adoecer (Kaliterna et al., 2004; Murta, 2007; Gonçalves et al., 2011). Diante deste contexto, o exercício físico pode promover muitos benefícios para esses trabalhadores, de modo que é possível afirmar que aqueles que se preocupam em ter um estilo de vida ativo são menos susceptíveis a adoecerem e tem mais qualidade de vida. (Nahas, 2010; Shockey et al., 2017)

 

    Geralmente, o acesso dos trabalhadores a práticas de lazer está relacionado com seu tempo fora do ambiente de trabalho, entretanto este tempo é dependente da disponibilidade e das condições econômicas que os trabalhadores possuem (Siqueira et al., 2017). Pode-se afirmar que o acesso ao lazer está atrelado ao nível de qualidade de vida dos trabalhadores, pois é um indicativo de desenvolvimento de aspectos físicos, motores, sociais, afetivos, emocionais e mentais. (Scharwtz, 2015)

 

    Quando se pensa na relação entre o homem e o trabalho, este último assume papel importante no bem-estar dos trabalhadores, uma vez que o trabalho associado ao prazer é determinante e o reconhecimento profissional e social são determinantes para a qualidade de vida (Minayo et al., 2000; Stacciarini et al., 2000; Martinez et al., 2003; Dyniewicz et al., 2009; Oliveira et al., 2009). Sendo assim, o objetivo deste estudo foi analisar e compreender a correlação dos sintomas de dores relacionadas ao trabalho e do nível de atividade física com a percepção de qualidade de vida de trabalhadores de uma indústria metalúrgica na cidade de Sertãozinho/SP. Especificamente, buscou-se descrever a percepção da qualidade de vida em seus diferentes domínios, os sintomas de dor e o nível de atividade física desses trabalhadores, correlacionando essas variáveis com o objetivo de compreender a relação entre elas.

 

Métodos

 

    Este estudo conduziu-se através de uma pesquisa de campo descritiva e quantitativa, sendo aplicada individualmente para funcionários do sexo masculino de dois setores da indústria metalúrgica da cidade de Sertãozinho-SP. Foram aplicados os questionários de anamnese, dor e o SF36. Todos os questionários foram aplicados fora da jornada de trabalho, buscando evitar qualquer tipo de transtorno para os entrevistados. O presente estudo foi aprovado pelo comitê de ética do Centro Universitário UNIFAFIBE (CAAE: 95860318.8.0000.5387).

 

Participantes

 

    Participaram deste estudo, 20 trabalhadores do sexo masculino da indústria metalúrgica da cidade de Sertãozinho-SP. Dentre os participantes, foram selecionados os funcionários que trabalhavam nos dois setores com os maiores números de afastamentos (usinagem e solda). Todos os trabalhadores que atendiam este requisito (trabalhar nos setores especificados) participaram da presente pesquisa

 

Instrumentos da pesquisa

 

    Para o presente estudo, foram utilizados questionários de anamnese, dor, e o questionário de avaliação de indicadores de percepção de qualidade (SF-36 - Medical Outcomes Study 36 – Item Short – Form Health Survey). Consiste em um questionário multidimensional formado por 36 itens, englobados em 8 escalas ou domínios, sendo eles: aspectos físicos, capacidade funcional, dor, estado geral da saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. Seu resultado apresenta um escore final que vai de 0 (zero) a 100 (obtido por meio de cálculo do Raw Scale), onde o zero corresponde ao pior estado geral de saúde e o 100 corresponde ao melhor estado de saúde (Ciconelli, 1999). O questionário de dor foi elaborado através de diagramas corporais, onde os sujeitos foram instruídos a marcar o diagrama corporal a localização da sua dor, e a intensidade. (Sullivan et al., 2004).

 

Procedimentos

 

    Os participantes assinaram o termo de consentimento e responderam todos os questionários de anamnese, dor e SF-36 durante o retorno para suas casas.

 

Análise dos dados

 

    Os dados obtidos foram analisados por estatística descritiva, e foram expressos como média ± DP através do software Microsoft Excel 2010. Sendo apresentados em tabelas e gráficos elaborados neste mesmo software. As correlações foram analisadas pelo coeficiente de Pearson. Em todas as análises adotou-se r ≤ 0,05.

 

Resultados

 

    Os resultados de qualidade de vida dos participantes estão descritos na Figura 1. Pode-se observar que os melhores resultados foram encontrados nos aspectos sociais, aspectos emocionais, capacidade funcional e aspectos físicos. Os resultados mais baixos encontrados foram para os pontos saúde e vitalidade.

 

Figura 1. Médias e desvios padrão da percepção de qualidade de vida em cada um dos domínios de qualidade de vida.

 

    Em relação ao tempo de prática de atividade física por semana, encontrou-se que aqueles que realizavam maiores quantidades de minutos por semana apresentavam uma maior percepção da qualidade de vida para o componente capacidade funcional (Figura2).

 

Figura 2. Correlação entre a Capacidade Funcional e Minutos de Exercícios/Semana

 

    Os resultados descritos para intensidade de dor mostraram uma correlação inversa entre a percepção da qualidade de vida para o componente aspecto físico, ou seja, quando há o aumento de uma das variáveis há a diminuição da outra (Gráfico3).

 

Figura 3. Correlação entre Aspectos Físicos e Intensidade da Dor

 

    Outra correlação negativa foi encontrada entre a intensidade de dor e a percepção da qualidade de vida para os aspectos emocionais, onde os participantes com maiores índices de dor possuíam uma menor percepção para este aspecto. Este resultado está descrito no gráfico 4.

 

Figura 4. Correlação entre aspectos Emocionais e Intensidade da Dor

 

Discussão

 

    Este estudo teve como objetivo analisar e compreender a correlação dos sintomas de dores relacionadas ao trabalho e do nível de atividade física com a percepção de qualidade de vida de trabalhadores de uma indústria metalúrgica. De acordo com os resultados, foi observado uma correlação direta entre o tempo de prática de atividade física e a capacidade funcional, variável importante no dia a dia de trabalho. Neste sentido, entende-se que seja importante que os indivíduos pouco ativos se engajem em programas de exercícios, que poderiam ser oferecidos pela própria empresa por meio de práticas de exercício fisco como a ginástica laboral, de modo que esta intervenção possa impactar no rendimento do trabalho, favorecendo a empresa e também ao funcionário. (Nahas, 2010)

 

    A ginástica laboral surgiu como uma ferramenta para minimizar o estresse sobre o sistema osteomuscular, através de um conjunto de práticas que relaxa a musculatura agonista ao mesmo tempo que aumenta a ativação daquelas que não costumam ser exigidas, prevenindo a fadiga, diminuindo o número de acidentes de trabalho, corrigindo a postura e evitando o adoecimento por esforço repetitivo. Pensando nisso, Martins (2015) observou que um programa de ginástica laboral durante três meses com trabalhadores de uma metalúrgica contribuiu significativamente para reduzir as queixas de dores dos funcionários e auxiliou na promoção de um estilo de vida mais saudável.

 

    Além disso, estudos mostram que os trabalhadores que se preocupam em ter um estilo de vida mais ativo possuem alguns aspectos de qualidade de vida mais favoráveis, mas também trabalhadores que têm uma vida mais ativa no seu cotidiano, apresentam de fato uma menor frequência de incidência de doenças como as patologias cardiovasculares, diabetes e também alguns tipos de câncer, além de apresentarem menor nível de ingestão de bebidas alcoólicas (Werneck et al., 2018). Quando essa realidade é observada dentro do ambiente de trabalho, é evidenciado que as empresas que oferecem intervenções simples, baseada em programas educativos e atividades informativas, ajudam a melhorar aspectos em relação ao estilo de vida desses trabalhadores. (Nahas e al., 2010)

 

    Outro resultado importante observado foram as correlações inversas entre a intensidade da dor e a percepção de qualidade de vida nos aspectos físicos e emocionais. Estudos apontam que os problemas osteomusculares e os sintomas de dor são comuns em funções de trabalho que envolvem horas excessivas de movimentos repetitivos, afetando qualidade de vida do trabalhador e sua condição emocional (Battisti et al., 2005). Por outro lado, este mesmo estudo aponta que a prática de exercícios físicos pode promover a melhora das dores físicas e do bem-estar físico e emocional, segundo relato dos participantes.Dessa forma, Candotti et al. (2011) verificaram que um programa de ginástica laboral, também com duração de três meses, promoveu a diminuição da intensidade e da frequência das dores na região das costas em trabalhadores do setor administrativo, mas também contribuiu para a melhora da postura durante a jornada de trabalho.

 

    Corroborando com os resultados supracitados, Ferracini et al. (2010) identificou que os trabalhadores do setor administrativo de um hospital público apresentavam alto índice dores relacionadas ao esforço repetitivo nos membros superiores e na região lombar, e após um programa de ginástica laboral 60% dos trabalhadores relatou diminuição das dores após a jornada de trabalho. Outros achados deste estudo mostram que a ginástica laboral favoreceu a adesão de um estilo de vida mais saudável e melhorou o relacionamento interpessoal entre os trabalhadores.

 

    Assim, pode-se dizer que a prática de ginástica laboral pode ser uma ótima saída para diminuir a intensidade de dor e melhorar o bem-estar físico e emocional dos trabalhadores. Neste caso, o profissional da área da Educação Física pode atuar preparando os indivíduos para a jornada de trabalho, como também recuperá-los, posteriormente, oferecendo uma aula que busque atenuar as dores, favorecendo os aspectos de qualidade de vida. Além disso, a ginástica laboral mostra ser bastante eficaz sem sobrecarregar os trabalhadores, por ser uma atividade leve e de curta duração (Vretaros, 2000; Nahas et al., 2010). Dessa forma, a ginástica laboral ajuda a prevenir o esgotamento dos trabalhadores e proporciona um menor índice de acidentes no seu local de trabalho, inclusive permite corrigir alguns erros de postura durante a realização das tarefas, prevenindo lesões provenientes de desgastes acumulativos devido a jornada de trabalho. (Vretaros, 2000; Lima, 2003)

 

    Em relação a correlação da intensidade da dor com os aspectos físicos e emocionais da qualidade de vida, o resultado foi moderado. Uma explicação para isso é que a dor pode não ser um único fator a estar relacionado com a qualidade de vida, visto que esta depende de múltiplos fatores (Grupo Whoqol, 1998; Fleck et al., 2000). Para Nahas (2010), a qualidade de vida é um conjunto de parâmetros individuais como os sócios culturais, ambientais e de trabalho, considerando as condições em que os seres humanos vivem. Dessa forma, não apenas os movimentos repetitivos e a carga horária de trabalhos podem afetar a qualidade de vida dos trabalhadores, mas também os hábitos de vida como o tabagismo, o consumo de álcool, a obesidade, má alimentação e a relação negativa entre eles no seu ambiente de trabalho. (Alvarez, 2002)

 

    A partir do crescimento do mercado das inovações tecnológicas da indústria metalúrgica, pode-se destacar o ritmo intenso na fabricação dos produtos que a globalização nas empresas está exigindo, portanto, a qualificação dos funcionários, devido a essas tecnologias e a redução no quadro de pessoas no mercado de trabalho tem sobrecarregado o trabalhador da indústria metalúrgica. Além disso, esses funcionários lidam com problemas complexos de relacionamento social e conflitos no ambiente de trabalho (Westley, 1979). Nesse sentido, o exercício no ambiente de trabalho pode auxiliar, é o que mostram estudo de Battisti et al. (2005) que aponta que trabalhadores que praticam regularmente atividades físicas têm uma convivência melhor com seus colegas dentro e fora do seu ambiente de trabalho.

 

    Como exemplo, várias empresas metalúrgicas estão implantando programas de ginástica laboral no seu local de trabalho como uma forma de melhorar o bem-estar dos funcionários (Lima, 2003). Além disso, esses programas têm proporcionado aos trabalhadores menor índice de complicações de patologias fisiológicas e psicológicas durante a vida laboral. (Herman, et al., 2006; Matsudo et al., 2007; Petersen et al., 2008)

 

    Ainda, a elevada carga horária de trabalho reflete negativamente na qualidade de vida desses trabalhadores, uma vez que eles não podem ser comparados com máquinas no seu ambiente de trabalho (Conte, 2003). Os funcionários possuem histórias pessoais que caracterizam a qualidade e a motivação de suas necessidades psicológicas e interagem com suas histórias passadas, conferindo a cada indivíduo características únicas e pessoais. Alguns conceitos da qualidade de vida no trabalho podem estar ligados com a participação dos funcionários nas decisões que afetam o desempenho das suas funções dentro da empresa. Sendo assim, uma maior participação nas decisões proporcionaria maior satisfação no seu ambiente de trabalho. (Pilatti et al., 2005)

 

    Portanto, a qualidade de vida no trabalho é uma variável complexa, dependente do bem-estar individual e social, onde um relacionamento baseado no respeito mútuo entre todos os colaboradores da empresa seria a base para um ambiente favorável.

 

Conclusão

 

    A partir dos resultados obtidos, o estudo permite concluir que os trabalhadores que dedicam mais tempo a prática de atividades físicas por semana apresentam melhor percepção de qualidade de vida, especialmente em relação a sua capacidade funcional. Isso indica que o investimento das empresas em atividades físicas para os trabalhadores pode melhorar seu bem-estar e, consequentemente, o seu rendimento no trabalho.

 

    Além disso, maior intensidade dos sintomas de dor está relacionada com a diminuição da percepção de qualidade de vida nos aspectos físicos e emocionais, sendo dois domínios que podem interferir no rendimento e no afastamento do funcionário no trabalho.

 

    Estes achados sugerem que é importante que as empresas ofereçam oportunidades de prática de exercício físico para seus funcionários, visando a redução das dores decorrentes das funções laborais e a melhora da qualidade de vida desses trabalhadores.

 

Referências

 

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Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 25, Núm. 265, Jun. (2020)