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Nutrição e atividade física para a
promoção de saúde no envelhecimento
José Carlos Gil Figueroa e Andréa Abdala Frank

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 48 - Mayo de 2002

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    Em suas recomendações a NRC/RDA(1989), sugere uma ingestão apropriada de 0,8g de proteína de alto valor biológico por quilograma de peso ao dia, para idosos saudáveis, compondo de 12% a 14% dos nutrientes ingeridos.

    Com a prática da atividade física espera-se que haja aumento de peso corporal magro e consequentemente das necessidades calóricas, o que representa também um aumento relativo no consumo alimentar protéico, além de vitaminas e minerais.

    Os carboidratos desempenham quatro funções importantes relacionados ao metabolismo energético e à realização de exercícios: fonte de energia, preservação das proteínas, ativador metabólico e combustível para o sistema nervoso11. Com relação aos carboidratos, estes devem corresponder a aproximadamente 50% a 55% do valor energético total ingerido pelo idoso 8.

    Deverão prevalecer na alimentação os carboidratos complexos, como forma de minimizar os picos hiperglicêmicos. Tal consideração é imprescindível, pois geralmente com o envelhecimento os indivíduos apresentam menor secreção de insulina ou tolerância à glicose, não conseguindo manter os níveis glicêmicos em padrões normais. Além disso, os carboidratos complexos são importantes carreadores de vitaminas e fibras alimentares. Estas últimas beneficiam o trânsito intestinal, amenizando o quadro de constipação apresentado por um número relativamente grande de indivíduos nesta faixa etária 8.

    Neste enfoque a atividade física contribui através de exercícios específicos, para uma melhor funcionalidade dos órgãos abdominais, como força e aumento na circulação sangüínea sistêmica, proporcionando melhor absorção dos nutrientes e excreção do bolo fecal 17.

    Dietas com baixo teor de carboidratos, ou ainda hiperproteicas, muitas vezes recomendadas para perda de peso corporal são contra-indicadas, por causarem efeitos deletérios à saúde como: produção de corpos cetônicos, perda de massa corporal magra e distúrbios no sistema nervoso central como mau humor, alto estado de irritabilidade e baixo poder de concentração 19,21.

    Apesar dos cuidados básicos no controle da ingestão da gordura, estas apresentam funções importantes no organismo e na prática de exercícios, culminando em: reserva corporal de energia potencial, acolchoamento para a proteção de órgãos e vísceras, isolamento térmico, absorção de vitaminas e síntese hormonal 8,11.

    Em relação aos lipídeos vários estudos, citam valores iguais ou inferiores a 30% frente ao consumo total calórico, sendo que para as gorduras saturadas a ingestão não deve ultrapassar a 10% do valor total calórico, em virtude do grande número de enfermidades cardiovasculares associadas 8.

    A ingestão de lipídeos acima dos valores recomendados acarretará alterações no perfil lipídico plasmático. Fator crucial no aparecimento de doenças cardiovasculares, que tanto acometem o idoso.

     A Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME), em conjunto com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), afirmam que a atividade física induz a melhora do perfil lipídico, muito embora o efeito do treinamento de força sobre o perfil lipídio ainda não seja completamente compreendido5,16.

    Com relação aos micronutrientes, o cálcio, vem sendo de fundamental importância na alimentação não apenas dos idosos, mas em todas as faixas etárias. Segundo FNB/RDI (1997), a recomendação dietética norte-americana de cálcio, para adultos com idade igual ou superior a 51 anos, é de 1200mg por dia.

     A sua inadequação nutricional acarretará o surgimento de alterações na densidade óssea levando a osteoporose, facilitando as fraturas por pequenas quedas, principalmente nas mulheres pós-menopausa.

    A prática da atividade física é recomendada para manter e/ou melhorar a densidade mineral óssea e prevenir a perda de massa óssea segundo 19. Recentes estudos indicam que o treinamento de força pode reduzir o risco de várias doenças como também a osteoporose 3.

     Juntamente com a adesão do idoso à programas de atividade física, é necessário seu acompanhamento nutricional objetivando o aporte recomendado para energia, macro e micronutrientes que venha contribuir para a manutenção da saúde, autonomia e bem estar desta população.


Perfil alimentar de idosos em programas de atividade física

    A avaliação do estado nutricional de idosos, assim como para qualquer outro grupo populacional, necessita de instrumentos como história clínica e dietética, exames laboratoriais e medidas antropométricas na identificação do perfil nutricional da população. A partir desta avaliação, e em conjunto com profissionais da área da saúde, consegue-se estabelecer programas ou ações assistenciais específicas e individualizadas 9,13.

    Em estudo realizado com 140 idosas, 75 sedentárias e 65 ativas, pertencentes aos municípios de Niterói, São Gonçalo e Nova Friburgo - Rio de Janeiro, Henriques9 verificou que o valor energético total consumido, apresentou-se de acordo com o padrão estabelecido pela OMS/FAO(1985), para ambos os grupos. A ingestão média diária de macronutrientes, mostrou-se adequada. No entanto o consumo de proteínas, lipídeos e energia pelas idosas ativas apresentou-se elevado quando comparado com a alimentação das idosas sedentárias.

     Frank8, concluiu em seu estudo realizado com 113 idosos, sendo 37 do Programa de Reabilitação Cardíaca e 76 da Universidade Aberta à Terceira Idade, com idade de 62 a 80 anos, que o valor energético total consumido pelos idosos do sexo feminino, mostrou-se inadequado ao padrão estabelecido pela FAO/85, apenas a contribuição dos carboidratos ficou entre 50% e 60%. A ingestão protéica, assim como o seu percentual no consumo diário ficou em 19% do valor energético total, valor superior ao recomendado para os idosos em ambos os sexos.

Tabela 1: Ingestão Média de Idosos por Análise Qauntitiva.


Fonte: Frank AA. 8

    Em ambos estudos 8,9, o leite foi citado como alimento de maior freqüência no consumo diário, ficando o arroz, o pão e o biscoito entre os alimentos energéticos de maior consumo. No grupo dos alimentos reguladores a laranja e a alface se destacaram. O óleo de origem vegetal obteve maior frequência de ingestão diário dentre os alimentos que fazem parte do grupo das gorduras.

    Quanto à ingestão de micronutrientes, as mesmas autoras observaram um consumo médio de cálcio abaixo dos valores dietéticos recomendados, independente do leite ter sido citado como um alimento freqüentemente consumido pelos idosos. Este fato exige atenção por parte dos profissionais.

Tabela 2: Ingestão média, mínima e máxima, de micronutrientes nas dietas de idosas sedentárias e ativas.


Fonte: Henriques P 9

    Frank8 verificou um grande numero de idosos, de ambos o sexo, apresentando sobrepeso e obesidade, já na pesquisa de Henriques9 mais de 50% das idosas sedentárias encontravam-se situadas na categoria de pré-obesidade, ao passo que uma menor parcela das ativas se enquadrava nesta classificação.

    A hipertensão foi a enfermidade de maior incidência entre as mulheres, enquanto que nos homens, verificou-se maior predomínio para intervenção cirúrgica de revascularização do miocárdio, sendo a osteoporose encontrada em 15% dos idosos do sexo feminino 8. Um elevado percentual de idosas ativas com riscos cardiovasculares foi encontrado no estudo de Henriques9, enquanto as sedentárias apresentaram um risco triplicado para o desenvolvimento destas doenças, obdecendo o protocolo seguido pela autora.

    Com isto observa-se que as práticas de atividade física normalmente aconselhadas ou realizadas com grupos de idosos, devem vir acompanhadas de orientações nutricionais, como forma de otimizar os resultados esperados e propostos pelo estímulo físico à saúde, lazer e socialização deste grupo populacional.


Conclusão

    Esta crescente fração da população não pode e nem merece o abandono, havendo a necessidade de maciças campanhas de estímulo a prática de atividades físicas, tirando-a do sedentarismo e do isolamento. O treinamento de força e as atividades aeróbias constituem os tipos de exercícios mais indicados na redução das ações degenerativas e das enfermidades orgânicas.

    Outra imprescindível conduta a ser adotada é a busca por uma alimentação balanceada, visando um consumo alimentar adequado quantitativamente e qualitativamente. Os profissionais de saúde são fundamentais na divulgação e na maior adesão dos idosos em programas de atividade física acompanhados de uma nutrição balanceada.

    Com o objetivo de proporcionar maior saúde, qualidade de vida e independência em suas atividades de vida diária, o idoso ativo deve ser orientado pelos profissionais de saúde que possuam conhecimentos práticos e teóricos aplicados ao programa de treinamento buscando o alcance de suas metas e redução dos riscos existentes.

    Devido à grande necessidade e a complexidade, do assunto abordado, se faz necessário a realização de novos estudos, com investigações longitudinais, envolvendo outras populações idosas, para que possamos através de comprovação científica quantificar e qualificar ainda mais os benefícios da atividade física acompanhado de uma nutrição balanceada.


Referências

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  5. Fleck SJ e William KJ. Designing Resistance Training Programs. 2nd ed. USA: Human Kinetics; 1997.

  6. FOOD AND NUTRITION BOARD. Dietary Reference Intake for Calcium, Phosphorus, Magnesium, Vitamin D and Fluoride. Washington, D.C: National Academy Press; 1997.

  7. FOOD AND NUTRITION BOARD, NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Recommended Dietary Allowances. 10 . ed. Washington: National Academy of Sciences; 1989.

  8. Frank AA. Estudo Antropométrico e Dietético de Idosos. Tese de Mestrado, Instituto de Nutrição, UFRJ; 1996.

  9. Henriques P. Avaliação Antropométrica e Dietética de Idosas Sedentárias e Ativas. Tese de Mestrado, Instituto de Nutrição, UFRJ; 1999.

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  11. McArdle WD, Katch FI e Katch VL. Fisiologia do Exercício, Energia , Nutrição e Desempenho Humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998.

  12. ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD. Informe de una reunión consultiva conjunta. Genebra: FAO/OMS/UNU; 1985.

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  15. POSICIONAMENTO OFICIAL DO COLEGIO AMERICANO DE MEDICINA ESPORTIVA-ACSM. A Quantidade e o tipo recomendado de exercícios para o desenvolvimento e a manutenção da aptidão cardiorrespiratória e muscular em adultos saudáveis. Revista Brasileira Med Esporte 1998; 4(3)96-106.

  16. POSICIONAMENTO OFICIAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA DO ESPORTE E DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA. Arquivos de Geriatria e Gerontologia 1999; 4(1)28-32

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