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A influência de um programa de conscientização na utilização da escada

The influence of an awareness program in using the ladder

La influencia de un programa de concientización en la utilización de la escalera

 

*Professor (a) de Educação Física, Faculdade da Serra Gaúcha, Caxias do Sul

**Professor (a) de Educação Física, Centro Universitário Univates, Lajeado

(Brasil)

Claudiana Storchi*

Anelise Mieres*

Caito André Kunrath**

Caroline Pieta Dias**

Carlos Leandro Tiggemann* **

cl-audi2010@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo
          O objetivo do estudo foi verificar a influência de um programa de conscientização na utilização de escadas e elevadores em uma Instituição de Nível Superior. A coleta dos dados foi subdividida em três etapas: coleta pré, intervenção e coleta pós intervenção. A contabilização dos usuários foi realizada duas vezes no período de uma semana, sendo a intervenção realizada por oito dias consecutivos, com distribuição de folders, mantendo a mesma duração diária da coleta. A comparação dos resultados se deu por meio do teste Qui-quadrado (p≤ 5%). Constatou-se que a maior parte dos usuários utiliza os elevadores como principal meio de deslocamento e que houve um aumento de 3,8% da utilização das escadarias, não sendo este um aumento significativo. Portanto, a conscientização de curta duração não foi eficiente para a alteração de hábitos diários.

          Unitermos: Conscientização. Atividade física. Sedentarismo.

 

Abstract
          The aim of the study was to investigate the influence of an awareness program on the use of stairs and elevators on a Higher Education Institution. Data collection was divided into three stages: pre collection, intervention and post-intervention data collection. Accounting for users was performed twice within one week, lasting 45 minutes daily, being. The intervention was performed for eight consecutive days, with folders distribution, maintaining the same daily duration of collection. The comparison of the results was made using the chi-square test (p≤ 5%). From the results, it was found that most users use the lifts the main displacement means. After the intervention, there was a 3.8% increase in the use of stairs, which is not a significant increase. Therefore, so the short awareness was not efficient to change daily habits.

          Keywords: Awareness. Physical activity. Sedentary.

 

Resumen
          El objetivo del presente estudio fue verificar la influencia de un programa de concientización en la utilización de escaleras y ascensores en una Institución de Nivel Superior. La recolección de los datos fue subdividida en tres etapas: recolección previa, intervención y recolección post intervención. La medición de la cantidad de los usuarios fue realizada dos veces en el período de una semana, siendo la intervención realizada durante ocho días consecutivos, con distribución de folders, manteniendo la misma duración diaria de la recolección. La comparación de los resultados se dio mediante la prueba Chi-cuadrado (p≤ 5%). Se constató que la mayoría de los usuarios utiliza los ascensores como principal medio de desplazamiento y que hubo un aumento del 3,8% de la utilización de las escaleras, no siendo éste un aumento significativo. Por lo tanto, la concienciación de corta duración no fue eficaz para el cambio de hábitos diarios.

          Palabras clave: Concientización. Actividad física. Sedentarismo.


Recepção: 01/02/2017 - Aceitação: 29/10/2017


1ª Revisão: 28/09/2017 - 2ª Revisão: 26/10/2017

 

 
Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 22, Nº 233, Octubre de 2017. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O sedentarismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2017) o inimigo número um da saúde pública, associado a dois milhões de mortes por ano em todo o mundo. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2013), 80% da população brasileira é sedentária. No desenvolvimento de doenças crônicas degenerativas (DCD), como a hipertensão arterial, as doenças cardiovasculares, o diabetes melitus e a obesidade, o sedentarismo e o estresse são fatores contribuintes (Pedersen e Saltin, 2015). Conforme dados do IBGE (2014), 12,5% dos homens e 16,9% das mulheres do país são obesos, enquanto que 50,1% dos homens e 48% das mulheres estão acima do peso. Na região Sul destacam-se os maiores percentuais de obesidade, sendo de 15,9% nos homens e de 19,6% nas mulheres.

    Sabe-se que pessoas que apresentam hábitos saudáveis de alimentação e praticam exercícios, apresentam-se mais aptos física e mentalmente, com mais resistência ao esforço físico, diminuindo as tensões nervosas e estimulando também os sistemas circulatório, respiratório e digestivo (Pedersen e Saltin, 2015). Assim, essas taxas poderiam ser diminuídas com mudanças de hábitos alimentares e a prática de atividades físicas prazerosas e adequadas (Oliveira, Tavares e Bosco, 2015).

    Pollock e Wilmore (1993), afirmam que o avanço tecnológico vem transformando os cidadãos, que eram fisicamente ativos, em pessoas com pouca ou nenhuma oportunidade para o envolvimento em programas de atividades físicas. Segundo Marques (2007), o estilo de vida sedentário vem acontecendo há dois séculos em razão da industrialização, pois essas evoluções tecnológicas, urbanas e econômicas contribuem favoravelmente para a sua ocorrência. Atualmente esses avanços têm nos proporcionado um nível de conforto cada vez maior, fazendo com que utilizemos um número maior de equipamentos que facilitam nossas vidas, como por exemplo, usar o elevador ao invés de utilizarmos a escadaria.

    Em estudo realizado por Reis et al. (2007), que teve por objetivo analisar a frequência da utilização da escada em relação ao elevador, constatou-se que a maioria das pessoas avaliadas (62%) optava por utilizar as escadarias. Conforme os autores, em detrimento a estes resultados positivos, não houve necessidade de fazer nenhuma forma de intervenção de aderência à escada. Em outro estudo realizado por Nahas et al. (2010), teve como principal objetivo analisar o impacto do programa “Lazer Ativo” na vida dos industriários catarinense, assim como em seus familiares. Diferentes estratégias Foram adotadas, como: informação, motivação e criação de oportunidades para que os sujeitos pudessem experimentar comportamentos relacionados à saúde. Na comparação dos resultados, constatou-se uma redução da prevalência da inatividade física no lazer com variação de 33,3%, sendo este resultado considerado como muito positivo.

    Desta forma, o objetivo do presente estudo foi de verificar a influência de um programa de conscientização na utilização de escadarias ao invés de elevadores, no dia-a-dia dos acadêmicos de uma instituição de ensino superior.

Materiais e métodos

    O estudo foi conduzido no Bloco G da Faculdade da Serra Gaúcha, da cidade de Caxias do Sul - RS, sendo o mesmo selecionado por apresentar escadas com características arquitetônicas distintas ao lado dos elevadores, amplas e com boa iluminação. Os dois elevadores possuíam capacidade de 14 pessoas em cada. O prédio possui sete andares, frequentado predominantemente por estudantes, funcionários e professores. Este estudo foi aprovado pela Instituição e respeitou todos os procedimentos éticos com seres humanos.

    O experimento foi subdividido em três etapas: coleta pré-intervenção, intervenção e coleta pós-intervenção. Na coleta pré-intervenção foram contabilizados os usuários que utilizavam as escadarias e os elevadores para deslocar-se aos próximos andares do prédio,durante duas noites da semana durante 45 minutos por dia (das 19 horas às 19 horas e 45 minutos). Posteriormente, durante as duas semanas subsequentes, em uma frequência de três noites por semana (segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira) no mesmo horário, realizou-se uma intervenção com a distribuição de folders (aproximadamente 2100 unidades), abordando os riscos que o sedentarismo traz a saúde, a influência do avanço da tecnologia em relação à atividade física e o incentivo do uso de escadarias. Após realizada a intervenção, foi realizada a coleta pós-intervenção, sendo a mesma idêntica à avaliação pré.

    Para a análise estatística, foi utilizada análise descritiva e comparativa dos resultados, realizada através do Teste Qui-Quadrado, no software, SPSS, com nível de significância de (p≤ 0,05).

Resultados

    Os dados absolutos de usuários, de acordo com o local de observação e a opção de acesso (elevadores ou escadas), demonstrou que a maior parte dos usuários utiliza os elevadores como principal meio de acesso para os próximos andares (tabela 1).

Tabela 1. Pessoas que fizeram uso das escadarias e dos elevadores (valores absolutos)

    Na figura 1 apresentamos os percentuais relativos de utilização das escadas, constatando que após a intervenção houve um aumento médio de 3,8% na utilização das mesmas, contudo, não sendo este aumento significativo (p>0,05).

Figura 1. Percentual de utilização das escadas pré e pós intervenção no dia 1, dia 2 e média dos dias

Discussão

    O principal resultado de nosso estudo indica que uma intervenção de conscientização de curto prazo ao uso de escadas ao invés de elevadores não é eficiente na alteração dos hábitos de acadêmicos de uma instituição de ensino superior. Tanto antes como após a intervenção, a maioria dos usuários do prédio investigado, optou pelo uso dos elevadores como meio de acesso aos demais andares, corroborando com o entendimento que o avanço da tecnologia tem interferência direta na prática de atividades físicas espontâneas. Para Marques (2007), o estilo de vida sedentário vem acontecendo há dois séculos, em razão da industrialização, pois evoluções tecnológicas, urbanas e econômicas contribuem muito para essa ocorrência. Isso se reflete também em estudo realizado por Fernandes et al. (2014), onde constatou-se que o estilo de vida dos alunos da educação de jovens e adultos (EJA), necessita de mudanças de hábitos, pois apresentaram-se com o estilo de vida inadequado em relação à nutrição e a atividade física.

    A falta de atrações visuais e conforto, podem ser um dos motivos pelos quais as pessoas não sintam-se confortáveis para utilizar a escadaria. Conforme identificado em estudos anteriores (Barbosa, 2012) combinações de conforto e atratividade, através da utilização de quadros, artesanatos, cartazes, música e iluminação adequada em espaços com escadarias, podem influenciar na frequência do uso. Se no bloco estudado fossem feitas mudanças como as citadas anteriormente, talvez a utilização de escadas fosse maior que a apresentada no estudo.

    Conforme Nahas et al. (2010), resultados de estudos internacionais indicam que mesmo intervenções simples, tendo como base estratégias educativas e apresentando atividades informativas para a população, podem ser suficientes para produzir um impacto positivo nos fatores relacionados ao estilo de vida das pessoas. Neste contexto, deparando-se com os resultados obtidos, é possível verificar que uma intervenção de conscientização em um período de curto prazo, não é suficiente para que haja alteração nos hábitos diários dos acadêmicos.

    A forma pela qual se busca fazer com que pessoas observem necessidades de mudanças, também interfere bastante no impacto de uma intervenção. Em estudo realizado por Silva et al. (2014), que possuía por base uma intervenção intitulada como “Saúde na Boa”, teve o intuito de promover hábitos de prática de atividade física e de alimentação saudável, entre estudantes de escolas públicas estaduais, apresentando-se com cinco eixos avaliativos: conhecimento da intervenção, visibilidade da intervenção, modificações ambientais, aulas de Educação Física, atividades extraclasse. Ao final do processo, algumas ações apresentaram-se mais bem sucedidas que outras, como o conhecimento da intervenção, modificações ambientais e aulas de Educação Física. Em nosso estudo, a exposição de cartaz ou de folders contendo mais informações, talvez pudessem trazer melhores resultados.

    Segundo Oliveira, Tavares e Bosco (2015), dentre os fatores de risco a saúde relacionados ao estilo de vida, encontram-se o sedentarismo, o tabagismo e a alimentação inadequada, sendo o sedentarismo o fator com maior prevalência dentre a população, podendo acarretar em um nível muito elevado de riscos de doenças cardiovasculares crônicas. Nahas (2010) apresentou dados indicando que 200 mil mortes por ano podem ser atribuídas ao estilo de vida sedentário, e que níveis moderados de atividade física podem reduzir o risco de diversas doenças. O aumento da atividade física também pode contribuir com a diminuição na quantidade de medicamentos necessários para o controle de algumas doenças, redução na necessidade de internação e menor quantidade de custos com serviços médicos hospitalares.

    Há um elevado índice de pessoas sedentárias na fase adulta do ser humano. Baretta et al. (2007) nos confirmam isso em seu estudo, o qual teve por objetivo estimar o nível de atividade física praticado pela população adulta do município de Joaçaba, Santa Catarina, e reconhecer os fatores associados nesta população. O estudo constatou-se uma prevalência de inatividade física de 57,4%, verificando ainda que as seguintes variáveis associadas à inatividade física: apresentar idade superior a 29 anos, não estar trabalhando ou não ser aposentado, ter renda mensal superior a mil reais e relatar dificuldade de locomoção, independente do gênero. Conforme Paes et al. (2008),o sedentarismo é mais comum entre os idosos (89,5%), por isso a preocupação com a prevenção ou diminuição do sedentarismo deve ser levada em conta o quanto antes, para que no futuro, possamos diminuir esse índice de sedentarismo nesta faixa etária.

Conclusão

    Intervenções de curta duração por meio de folders na utilização de escadarias ou elevadores não são eficientes para a alteração dos hábitos.

Bibliografia

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  • Paes, M. O. et al. (2008). Impacto do sedentarismo na incidência de doenças crônicas e incapacidades e na ocorrência de óbitos entre os idosos do município de São Paulo. Saúde Coletiva, v. 5, n. 24, p. 185-92.

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  • Reis, R. S., Júnior, J. S. V., Silva, A. C., Nahas, M. V. (2007). Associação entre ambiente construído em prédios públicos, características dos usuários e uso de escadas. Revista Brasileira de Atividade Física, V. 12,n. 3, p. 31-35.

  • Silva, K. S., Barros, M. V., Filho, V. C. B., Garcia, L. M. T., Junior, R. S. W., Beck, C. C., Nahas, M. V. (2014). Implementação da intervenção “Saúde na Boa”: avaliação de processo e características dos estudantes permanecentes e não permanecentes. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, v. 16 (Suppl. 1), p. 1-12.

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