efdeportes.com

A interface da alimentação no bem-estar subjetivo de um grupo de idosos

The interface of food in the subjective wellness of a group of elderly people

La interfaz de alimentación en el bienestar subjetivo de un grupo de ancianos

 

*Mestre em Saúde da Família

Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Piauí

**Nutricionista, Instituto Superior de Teologia Aplicada

INTA, Sobral, Ceará

(Brasil)

Denilson Gomes Silva*

dgsilva19@hotmail.com

Etianne Waleska Lopes**

etianne-lopes@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O significado de felicidade e suas implicações na alimentação não é uma tarefa simples, porém, uma tarefa que vem sendo discutida e ganhando espaço nas pesquisas científicas. Por se tratar de algo subjetivo e de difícil definição, o estudo da felicidade vem sendo tratado como o estudo do Bem-Estar Subjetivo (BES). A pesquisa teve como objetivo descrever a possível relação entre o Bem-Estar Subjetivo e a alimentação, a partir da inserção em um grupo de idosos do município de Tianguá, Ceará. Foi utilizada uma pesquisa qualitativa, com o método da observação incorporada. O estudo foi desenvolvido no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), no município de Tianguá-CE, que acompanha cerca de 60 a 70 idosos. Estes foram observados, durante as refeições, de forma aleatória, sem distinção de sexo e idade, a partir do grupo de convivência que estão cadastrados. Os dados da pesquisa foram coletados por meio de um diário de campo durante 07 encontros. Para tal coleta, foram registradas as percepções significativas das expressões faciais e sentimentos dos idosos, evitando qualquer situação de risco ou constrangimento. Por conseguinte, foram desenvolvidas interpretações e reflexões a partir da experiência no grupo. Ressalta-se que este estudo faz referência a um processo de observação livre (observação incorporada) e dispensa a apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa. Durante as observações, pode-se descrever que a alimentação entre os idosos é utilizada como recurso de acolhimento e integração entre eles. Vale destacar expressões faciais de atenção e entusiasmo, bem como sorrisos diversos, o que corrobora na proposta de que a alimentação possui significados e uma simbologia que vai além do biológico. O ato alimentar-se pode ser um fator contribuinte para a felicidade, pois provoca envolvimento genuíno, contentamento e bem-estar entre os idosos, ou seja, representações de felicidade. A presente pesquisa evidenciou a possível relação entre a felicidade e a alimentação com os idosos, proporcionando reflexões críticas e mais investigações na área da Nutrição. Cabe salientar, que este estudo não esgota o tema escolhido, pelo contrário, recomenda-se novas ações de promoção da saúde do idoso, com a finalidade de situar o escopo da alimentação na sua multidimensionalidade biológica, social, política e, associá-la à vida, à saúde, ao bem-estar subjetivo e ao prazer.

          Unitermos: Alimentação. Felicidade. Idosos.

 

Abstract

          The meaning of happiness and its implications in food is not a simple task, but a task that has been discussed, and gaining ground in scientific research. Because it is subjective and difficult to define, the study of happiness has been treated as the study of Subjective Well-Being (SWB). To describe the possible relationship between Subjective Well-Being, and the food, from the insertion in a group of elderly in Tianguá, Ceará. A qualitative research was used, with the method of embedded observation. The study was conducted at the Reference Center for Social Assistance (CRAS) in the municipality of Tianguá-CE, which tracks about 60-70 seniors. These were observed during meals, at random, without regard to sex and age, from the support group who are registered. The research data were collected through a field diary during 07 meetings. For this collection, we recorded significant perceptions of facial expressions and feelings of the elderly, avoiding any risk or embarrassment. Therefore, interpretations and reflections from the experience in the group were developed. It is noteworthy that this study refers to a process of observation free (incorporated observation) and makes an assessment of the Research Ethics Committee. During the observations, one can describe the food among the elderly is used as a resource for reception and integration among them. It is worth noting facial expressions of attention and enthusiasm, as well as many smiles, which supports the proposal that the supply has meanings and symbolism that goes beyond the biological. The feeding act can be a contributing factor to happiness, because it causes genuine engagement, contentment and well-being among the elderly, ie representations of happiness. This research showed a possible relationship between happiness and the power of the elderly, providing critical thinking and further research in the area of ​​Nutrition. It should be noted that this study does not exhaust the theme, on the contrary, new actions to promote the health of the elderly is recommended, in order to situate the scope of supply in its biological, social, political multidimensionality and associate it with life, health, subjective well-being and pleasure.

          Keywords: Food. Happiness. Elderly.

 

Resumen

          El significado de la felicidad y sus implicaciones en los alimentos no es una tarea sencilla, sino una tarea que se ha discutido y ganando terreno en la investigación científica. Debido a que es subjetivo y difícil de definir, el estudio de la felicidad se está abordando como el estudio de Bienestar Subjetivo (SWB). La investigación tuvo como objetivo describir la posible relación entre el Bienestar Subjetivo y alimentación, de la inserción de un grupo de personas mayores en Tianguá, Ceará. Se utilizó una investigación cualitativa, con el método de la observación construido. El estudio fue desarrollado en el Centro de Referencia de Asistencia Social (CRAS) en el municipio de Tianguá-CE, que sigue aproximadamente 60-70 personas mayores. Estos se observaron durante las comidas, al azar, independientemente del sexo y la discriminación por edad en el grupo social que se ha registrado. Los datos de la encuesta se recogieron a través de un diario de campo durante 07 reuniones. Para esta colección, se registraron las percepciones significativas de las expresiones faciales y los sentimientos de las personas mayores, evitando cualquier riesgo o vergüenza. Por lo tanto, se han desarrollado interpretaciones y reflexiones desde la experiencia en el grupo. Se destaca que este estudio se refiere a un proceso de observación libre (observación integrado) y hace una evaluación de la Comisión de Ética de la Investigación. Durante las observaciones, se puede mencionar que la alimentación de las personas de edad se usa como un recurso de host y la integración entre ellos. Vale la pena señalar expresiones faciales de la atención y entusiasmo, así como muchas sonrisas, que apoya la propuesta de que el poder tiene significados y simbolismo que va más allá de lo biológico. La alimentación puede ser un acto factor que contribuye a la felicidad, ya que causa la participación genuina, la alegría y el bienestar de las personas mayores, es decir, representaciones felicidad. Esta investigación mostró una posible relación entre la felicidad y la alimentación de las personas mayores, ofreciendo reflexiones críticas y nuevas investigaciones en el área de la nutrición. Cabe señalar que este estudio no agota el tema elegido, en cambio, recomienda nuevas medidas para promover la salud de las personas mayores, con el fin de situar el alcance del poder en su multidimensionalidad biológica, social, política, y asociarse con la vida, la salud, el bienestar subjetivo y el placer.

          Palabras clave: Alimentación. Felicidad. Personas mayores.

 

Recepção: 18/02/2016 - Aceitação: 19/02/2017

 

1ª Revisão: 18/01/2017 - 2ª Revisão: 15/02/2017

 
Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 21, Nº 225, Febrero de 2017. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    A alimentação é considerada como um dos componentes essenciais para a promoção e proteção da saúde. A cada ano, novos idosos são incorporados à população brasileira. Assim, a qualidade de vida ganha um sentido maior, criando-se a necessidade de um olhar mais amplo e intervenções mais efetivas, a fim de proporcionar ao idoso maior capacidade funcional e bem-estar em vários aspectos.

    As condições de saúde têm melhorado de forma considerável na maioria dos países, devido a uma série de ações efetivas. Entendida como algo essencial para a vida e para a qualidade de vida, a promoção da saúde, assim como ações e serviços diversos, tem acontecido em cada um dos níveis de atenção, seja ele primário, secundário ou terciário (Buss, 2000).

    Os temas relacionados com a promoção da saúde já foram discutidos em grandes conferências internacionais e originaram documentos relevantes. Em Setembro de 1978, foi realizada a I Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, que deu origem a Declaração de Alma-Ata (Mendes, 2004). Nesta conferência, foi enfatizado que a saúde é um direito humano fundamental e que alcançar o mais alto nível de saúde é a meta social mundial mais importante. Neste contexto, a promoção e proteção da saúde passaram a constituir fatores fundamentais para a qualidade de vida e para a paz mundial (Brasil, 2002).

    Neste mesmo momento, reafirmou-se um conceito ampliado de saúde. A saúde passou a ser entendida como um estado que envolve corpo, mente e a relação com os outros. Esse novo conceito foi fundamental para o atual movimento de promoção da saúde (Ferreira; Magalhães, 2007).

    Em Novembro de 1986, foi realizada a I Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Ottawa. Esta conferência é considerada um marco fundamental para a promoção da saúde e resultou na Carta de Ottawa em resposta às crescentes expectativas por uma nova saúde pública (Brasil, 2002).

    Devido à utilização do conceito ampliado de saúde, a saúde passou a ser relacionada à qualidade de vida. Após a realização dessa Conferência, outras Conferências Internacionais aconteceram, e o tema saúde e seus fatores influenciadores passaram a ser mais debatidos, até mesmo em nosso território. No Brasil, alguns acontecimentos também merecem destaque acerca desse assunto.

    Em 1986, foi realizada a VIII Conferência Nacional de Saúde (CNS). A partir deste movimento, a promoção da saúde ganhou destaque no país (Ferreira; Magalhães, 2007). Em seu relatório a saúde foi colocada como dever do estado, devendo ser exercida por meio de seu conceito ampliado. Tal assunto passou a ser debatido de forma mais concreta, por meio de atitudes mais sólidas criadas anos depois. Porém, iniciativas de caráter nacional de capacitação para a promoção da saúde em suas diversas dimensões só aconteceram recentemente (Buss; Carvalho, 2009).

    Nos últimos anos, por indicação de organizações nacionais e internacionais, as políticas públicas nas áreas de educação e da saúde têm dado prioridade às estratégias que visem a Promoção de Saúde. Um dos fatores considerados essencias é a garantia de uma alimentação saudável (Vasconcelos; Batista Filho, 2011).

    A alimentação constitui um direito humano, consignado na Declaração Universal dos Direitos Humanos e é um requisito indispensável para a promoção e proteção da saúde. Neste sentido, é indispensável para o crescimento e desenvolvimento saudável (Ferreira; Magalhães, 2007).

    A cada ano, cerca de 650 mil novos idosos são incorporados à população brasileira, a maioria destes com doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e com limitações funcionais. Outro ponto importante é a busca de um idoso com capacidade funcional e participativa, que reconheça que possui total influência em sua saúde. Quando se pensa nos cuidados que envolvem os idosos, a capacidade funcional assume grande importância. Essa capacidade por sua vez envolve o estado de saúde (Veras, 2009).

    Diante da notável transformação epidemiológica que o Brasil vem sofrendo nestes últimos tempos, a Qualidade de Vida (QV) ganha um sentido mais amplo e necessário, criando-se a necessidade de um olhar mais amplo e intervenções mais efetivas a respeito das alterações do envelhecimento e de suas consequências, a fim de proporcionar ao idoso maior capacidade funcional e bem-estar (Santos; Andrade, 2005).

    Com base nessas modificações que ocorrem com os idosos, é importante que haja a preocupação sobre como estes idosos sentem-se nessa fase. É importante preocupar-se com a felicidade dos mesmos. Felicidade como algo subjetivo, pode ter várias definições. Por ser algo que pode ser associado há mais de um conceito, encontrar uma definição consistente torna-se difícil (Scorsolini-Comin, 2009).

    Por meio do conhecimento científico, o termo felicidade tem sido expressado pelo termo Bem-Estar Subjetivo (BES). Dessa forma, a pesquisa deste termo tem sido utilizada para expressar o estudo científico da felicidade e está intimamente relacionada com a promoção da saúde (Scorsolini-Comin; Santos, 2010).

    Diante disso, um questionamento é identificado: a alimentação como fator determinante da saúde é capaz de proporcionar além de um envelhecimento mais saudável aos idosos, o sentimento de felicidade?

    Portanto, o seguinte trabalho teve como objetivo descrever a possível relação entre a felicidade (Bem-Estar Subjetivo) e a alimentação a partir da inserção em um grupo de idosos no Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) do município de Tianguá, Ceará.

Metodologia

    Nesta pesquisa, utilizou-se a abordagem qualitativa, com o método da observação incorporada, que permite vislumbrar as sensações e emoções produzidas na experiência de observar (Rheingantz; Alcantara, 2007).

    A abordagem qualitativa permite que a imaginação e a criatividade levem os investigadores a propor trabalhos que explorem novos enfoques (Godoy, 1995).

    O estudo foi desenvolvido no grupo de convivência para idosos no CRAS, no município de Tianguá-CE. Foram observados cerca de 60 a 70 idosos, durante as refeições, de forma aleatória, sem distinção de sexo e idade.

    Os dados da pesquisa foram coletados por meio de um diário de campo durante 07 encontros. Pode-se transcrever manifestações corporais e sentimentos percebidos nas expressões faciais dos idosos. De acordo com Minayo (2002), o diário de campo é um objeto pessoal e intransferível. Sobre ele o pesquisador se debruça no intuito de construir detalhes que no seu somatório vai congregar os diferentes momentos da pesquisa. Nele, são registrados todos os momentos, desde o primeiro momento da ida ao campo até a fase final da investigação. Quanto maior a riqueza de anotações, maior será o auxilio que oferecerá à descrição e a interpretação do objeto estudado.

    Em uma análise crítica dos riscos e benefícios da pesquisa, pode-se afirmar que a mesma não apresentou risco ou constrangimento, pois em momento algum foi explicitado o objetivo da pesquisa e os idosos não perceberam que estavam sendo observados por alguém que não fazia parte do grupo de convivência. Porém, os benefícios revelam-se na possibilidade de despertar o interesse na realização de ações na atenção primária à saúde, voltadas para a promoção da saúde e alimentação saudável para os idosos.

    É importante esclarecer que esta pesquisa faz referência a um processo de observação livre (Observação Incorporada) e dispensa a apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa. Contudo, foram considerados os princípios que constam na resolução 466/12 do Comitê Nacional de Saúde.

Resultados e discussão

    Em cada momento observado, pode-se identificar expressões corporais importantes e foram transcritas para o diário de campo. Um momento observado foi o seguinte:

    Os idosos chegam ao local e vão se agrupando. Outros vão chegando, cumprimentam-se, e logo vão juntando-se aos outros. Conversam sobre suas vidas e sobre as atividades que irão realizar no local. São avisados que o lanche será servido, e logo levantam-se para se servirem. Alguns chegam já no momento do lanche. Alguns já se dirigem e vão se servindo, outros não. Mas logo alguém do grupo trata de oferecer o lanche, como se este fosse o cumprimento e a recepção de quem acabou de chegar. Percebi então, que a alimentação tem a capacidade de unir e facilitar diálogos, relações e sentimentos. Dessa forma, percebi um sentimento positivo nos participantes que eram assim acolhidos.

    Foi possível perceber, que a alimentação no grupo de idosos é utilizada, mesmo que de forma inconsciente, como recurso de aproximação e integração entre as pessoas. Torna-se esse um fator importante a ser citado, pois apresenta uma convivência favorável e uma relação próxima entre os idosos, uma vez que um dos objetivos do local é o fortalecimento dos vínculos.

    Um aspecto significativo para a alimentação humana é quando relaciona-se a com quem comemos. Esse fato possibilita as pessoas em que envolve, a partilha, a comensalidade, e assim, transforma o ato de se alimentar em um acontecimento social. Assim, a comensalidade, o “comer juntos”, é o momento de reforçar a coesão do grupo, pois ao partilhar a comida partilham sensações, sentimentos, emoções, tornando-se uma experiência sensorial compartilhada (Maciel, 2001). Comer não é um ato solitário ou autônomo do ser humano, ao contrário, é um ato em que há socialização e aproximação. Assim, as diferentes culturas humanas sempre encararam a alimentação como um ato revestido de conteúdos simbólicos (Carneiro, 2005).

    Proença (2010) afirma que a alimentação constitui uma das atividades humanas mais importantes, não apenas por razões biológicas evidentes, mas também por envolver outros aspectos importantes, como os aspectos sociais, científicos, culturais e psicológicos fundamentais na dinâmica da evolução e da relação entre as sociedades.

    Nos primeiros momentos observados, foi possível perceber que a alimentação em si ou o fato de alimentar-se em grupo, é capaz de gerar relações entre o indivíduo e o próprio alimento ou entre o grupo, pois como foi registrado, a alimentação como meio de comunicação, de acolhimento e de emoções.

    Em relação ao que foi percebido no momento em que os idosos chegavam ao local, se agrupavam e esperavam o momento da refeição. E no que foi observado no momento em que os idosos se alimentavam, é importante destacar o seguinte trecho do diário de campo:

    Agora, após serem convidados para se servirem, os idosos vão ao local, servem-se e novamente se agrupam. Continuam a conversar, mas agora, a conversa no momento do lanche é mais entusiasmada! Falam mais alto e é possível ouvir mais sorrisos, demonstrando-se mais felizes.

    A mudança de comportamento que os idosos demonstraram quando passaram a se alimentar comprova que a alimentação possui significados e uma simbologia que vai além do biológico e que pode ser entendida por um observador atento.

    Maciel (2001) enfatiza que a alimentação é capaz de gerar indagações que levam a refletir sobre questões fundamentais da antropologia tais como a relação da cultura com a natureza, com o biológico e simbólico. O ato de alimentar-se é um ato vital, sem o qual não há vida possível, mas, ao se alimentar, o homem cria práticas e atribui significados aquilo que está incorporando a si mesmo, o que vai além da utilização dos alimentos pelo organismo.

    Diversos estados e experiências podem produzir felicidade. Alguns exemplos são: o amor, a alegria, a saúde, a saciedade, o prazer e o contentamento. Que por sua vez, são influenciados por outros meios (Ferraz; Tavares; Zilberman, 2007). Pode-se dizer que não há um único determinante do BES, mas uma série de aspectos que parecem contribuir ou que se associam a ocorrência do BES (Woyciekoski; Stenert; Hutz, 2012).

    Como afirma os autores, os seres humanos influenciados e marcados por diversos sentimentos e sensações, não há apenas um fator que possa determinar a felicidade, mas sim um conjunto de fatores, de momentos, de relações, de sensações e até mesmo por meio dos que permitem todos esses, como a alimentação, que se pode sentir essa sensação de felicidade, de bem-estar subjetivo.

    A partir da observação incorporada, a alimentação, em momentos como estes, mostra-se ser capaz de completar o que está em volta. Seja como algo que completa a conversa entre os indivíduos, como algo que os recepciona, que acolhe, que traz sensações em meio aos sabores e que traz um misto de sentimentos positivos. Assim, foi identificado no momento em que os idosos se alimentavam, a alimentação é capaz de gerar sensações positivas. A observação incorporada passa a ser uma explicação das distinções da experiência vivenciada conscientemente da avaliação pelo observador, integra a experiência vivenciada, a bagagem cultural e as várias emoções (Rheingantz; Alcantara, 2007).

    Vale destacar que as mudanças faciais e as expressões positivas percebidas durante a alimentação podem ser consideradas evidências para a manifestação da felicidade. Destaca-se o seguinte trecho do diário de campo:

    Percebo também, além das mudanças de comportamento, as mudanças nas expressões faciais dos idosos. Agora, é possível perceber que sorriem mais e seus olhos mostram-se mais atentos. Agora, parecem estarem envolvidos por um contentamento, por um sentimento de felicidade.

    As emoções básicas da vida, como a felicidade, são acompanhadas por expressões faciais específicas, não importando a cultura do indivíduo, além de relacionarem-se com determinadas alterações fisiológicas, há mudanças também no comportamento (Ferraz; Tavares; Zilberman, 2007).

    A comida envolve emoção, trabalha com a memória e com sentimentos. A comida pode marcar um território, um lugar e pode ser ligada à uma rede de significados (Maciel, 2001).

    De acordo as observações e transcrições no diário de campo, pode-se descrever que a alimentação compartilhada implica nas manifestações de felicidade entre os idosos, bem como na ampliação das suas relações interpessoais.

Conclusão

    Embora pouco pesquisada, o estudo da felicidade vem ganhando espaço nas ciências e o ser humano parece estar sempre em busca do que pode torná-lo mais feliz. Devido à grande importância desse sentimento, torna-se importante também discutir o que pode contribuir para seu alcance. Estudar esse sentimento nos idosos também se faz necessário, uma vez que essa população vem crescendo e é preciso não apenas preocupar-se com o aumento dos anos vividos, mas também como estes anos a mais de vida são sentidos.

    A alimentação, quando analisada de forma biológica e por meio de sua complexidade deve ser alvo de estudos. Pois, uma vez que a saúde é citada como um fator que contribui para a felicidade, e a alimentação é um fator determinante da saúde, pode-se então identificar uma relação com esse sentimento. Como algo que aproxima e uni as pessoas, e como algo que traz sensações positivas, é possível reforçar que há uma relação próxima entre a felicidade e a alimentação.

    É indispensável citar a importância das ações de promoção da saúde e das ações voltadas para a alimentação e bem-estar dos idosos, gerando assim um olhar mais humanizado a esses indivíduos que possuem uma vasta vivência de sentimentos adquiridos ao longo da vida.

Bibliografia

  • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da Saúde. (2002). As Cartas da Promoção da Saúde. Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Projeto Promoção da Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde.

  • Buss, P. M. (2000). Promoção da saúde e qualidade de vida. Rev. Ciência & Saúde Coletiva, vol.5, n.1, pp.163-177.

  • Buss, P. M.; Carvalho, A. I. (2009). Desenvolvimento da promoção da saúde no Brasil nos últimos vinte anos (1988-2008). Rev. Ciência & Saúde Coletiva, vol.14, n.6, pp. 2305-2316.

  • Carneiro, H. S. (2005). Comida e sociedade: significados sociais na história da alimentação. História: Questões & Debates, Editora UFPR, n. 42, pp. 71-80.

  • Ferraz, R. B.; Tavares, H.; Zilberman, M. L. (2007). Felicidade: uma revisão. Rev. Psiq. Clín, vol.34, n.5, pp. 234-242.

  • Ferreira, V. A.; Magalhães, R. (2007). Nutrição e promoção da saúde: perspectivas atuais. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, vol. 23, n.7, pp.1674-1681.

  • Godoy, A. S. (1995). Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. RAE – Revista de Administração de Empresas, São Paulo, vol. 35, n. 2, pp. 21-29.

  • Maciel, M. E. (2001). Cultura e alimentação, ou o que têm a ver os macaquinhos de Koshima com Brillat-Savarin? Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 7, n. 16, pp. 20-29.

  • Mendes, I. A. C. (2004). Desenvolvimento e saúde: a declaração de alma-ata e movimentos posteriores. Rev. Latino-am Enfermagem, vol. 12, n.3, pp. 447-448.

  • Minayo, M. C. De S. (2002). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade, editora Vozes, p. 63, Petrópolis.

  • Proença, R. P. C. (2010). Alimentação e globalização: algumas reflexões. Cienc. Cult., vol.62, n.4, São Paulo, pp. 30-38.

  • Rheingantz, P. A.; Alcantara, D. (2007). Cognição experiencial, observação incorporada e sustentabilidade na avaliação pós-ocupação de ambientes urbanos. Ambiente Construído, Porto Alegre. vol. 7, n. 1, pp. 40-49.

  • Santos, M. L. C.; Andrade, M. C. (2005). Incidência de Quedas Relacionada aos fatores de riscos em idosos institucionalizados. Revista Baiana de Saúde Pública, Salvador, vol. 29, n. 1, pp. 57-68.

  • Scorsolini-Comin, F. (2009). A felicidade paradoxal: ensaios sobre a sociedade de hiperconsumo. Rev. Psicologia em estudo, Maringá, vol.14, n.1, pp. 203-204.

  • Scorsolini-Comin, F.; Santos, M. A. (2010). O estudo científico da felicidade e a promoção da saúde: revisão integrativa de literatura. Rev. Latino-Am. Enfermagem, vol.18, n.3, pp. 50-59.

  • Vasconcelos, F. A. G; Batista Filho, M. (2011). História do campo da Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva no Brasil, Rev. Ciênc. Saúde Coletiva. vol.16, n.1, pp. 81-90.

  • Veras, R. (2009). Envelhecimento populacional contemporâneo: demandas, desafios e inovações. Rev. Saúde Pública, vol.43, n.3, pp. 548-554.

  • Woyciekoski, C. Stenert, F. Hutz, C. S. (2012). Determinantes do Bem-Estar Subjetivo. PSICO, Porto Alegre, PUCRS, vol. 43, n. 3, pp. 60-68.

Outros artigos em Portugués

www.efdeportes.com/

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 21 · N° 225 | Buenos Aires, Febrero de 2017
Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2017 Derechos reservados