Contribuições da atividade física,
para a melhoria da auto-imagem
e auto-estima de idosos

Marisete Peralta Safons
mari7@unb.br
(Brasil)

Faculdade de Educação Física. Universidade de Brasília - Brasil

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 5 - N° 22 - Junio 2000

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Introdução

    Para Bento (1997), "...quando a idade começa a pesar e os sinais do corpo nos levam a descobrir que não somos eternos, olhamos para nós, medimo-nos de alto a baixo, por dentro e por fora. Surpresos e incrédulos resistimos ao reconhecimento e aceitação do diagnóstico, procurando saídas e escapatórias ditadas pela amargura da ansiedade. Não adianta fazer de conta e ignorar a realidade. O olhar não engana. olhamos ao nosso redor e não é difícil ver que a paisagem humana se vai apodrecendo" .

    Hayflick (1996), observa que diminuições e perdas são coisas distintas porque dependem muito de como as percebemos. "Com a idade, nossa pele pode perder sua suavidade e adquirir rugas. Do ponto de vista da função da pele, que é encobrir nossos órgãos e nos proteger do meio ambiente, não importa muito se nossa pele é suave ou enrugada. O pessimista vê a mudança como negativa e a classifica como perda; o otimista vê a mudança como positiva e a chama de ganho. Da mesma forma o cabelo branco é uma mudança normal da idade que não afeta a saúde. Se é uma perda ou um ganho, depende do ponto de vista sob o qual este fato é vivenciado" .

    Mosquera (1976), observa que a auto-imagem é o quadro que a pessoa faz de si mesma. A natureza da auto-imagem reside no conhecimento individual de si mesmo, na consciência de suas próprias potencialidades, na percepção dos sentimentos, atitudes e idéias que se referem à própria dinâmica pessoal.

    Dessa forma, afirma Mosquera (1976), o indivíduo desenvolve uma imagem de si mesmo através de um processo contínuo que é determinado pela vida individual mas que se estrutura na ação social. Portanto, a auto-imagem está relacionada com o desenvolvimento da personalidade que consiste em valores e atitudes eminentemente sociais e que nem sempre são produtos apenas de um elaborar pessoal.

    A auto-imagem segundo Mosquera (1976), está sempre em mudança, na medida em que o indivíduo cresce e se desenvolve, acrescentando a seu quadro pessoal de referências novas dimensões que alteram substancialmente a percepção de si mesmo e do mundo que o rodeia. Estas afirmações de Mosquera já contêm a dimensão social da personalidade agindo sobre a auto-imagem que o autor adotou em 1978. Corona (1978), concorda com Mosquera quando afirma que a auto-imagem é uma concepção dinâmica. Modifica-se na proporção em que o indivíduo vai absorvendo experiências na vida quotidiana bem como na vida ocupacional. Dentro dessa concepção, o indivíduo da terceira idade reflete na sua auto-imagem a história da sua vida; e o modo como ele percebe a si mesmo é conseqüência de suas experiências vitais.

    Gallahue e Ozmun (1995), observam que vários aspectos do domínio motor influenciam os estados psicológicos e as características sociais do indivíduo adulto e idoso. A possibilidade da pessoa ter uma vida fisicamente ativa, ser capaz de realizar as atividades da vida diária e exercitar-se são fatores que podem ter efeitos positivos sobre o que ela sente, sobre sua auto-avaliação e sobre como os outros a vêem.

    De acordo com Mosquera (1976), a auto-estima decorre de uma atitude positiva ou negativa perante si mesmo. Por isso, auto-estima é o que a pessoa sente a respeito de si mesmo. A auto-estima, tem gradações e mudanças que possibilitam as diferentes imagens e que resultam das experiências estabelecidas no intercâmbio humano. É precisamente porque a inter-relação entre auto-imagem e auto-estima é tão íntima, que uma depende da outra e consequentemente, as próprias gradações e mudanças são simultâneas em ambas quando acontecem. Quando uma é alta em relação a algum critério adotado, ambas são altas; quando uma é baixa, ambas são baixas. Segundo este mesmo autor, a auto-estima alta surge de experiências positivas com a vida e com a afeição. A auto-estima baixa resulta de fatores negativos.

    Para Strauss (1962) "...o conceito que a pessoa tem de si mesmo está sempre de acordo com os ideais e expectativas que mantemos sobre a nossa pessoa e materializa-se a partir das avaliações decisivas que fazemos e que são feitas sobre nós. Todos nós nos apresentamos ante os demais e ante nós mesmos e nos olhamos nos espelhos dos julgamentos" .

    As autoras Berger e McInman (1983), realizaram alguns estudos que mostram que idosos praticantes de atividade física têm características de personalidade mais positivas do que idosos não praticantes. As pessoas que sempre fizeram atividade física mostram-se mais confiantes e emocionalmente mais seguras. Para estas autoras, idosos fisicamente ativos tendem a ter melhor saúde e mais facilidade para lidar com situações de estresse e tensão e atitudes mais positivas para o trabalho, reforçando a correlação forte que existe entre satisfação na vida e atividade física. As autoras apontam que estudos sobre a relação entre atividade física e satisfação de vida mostram que os sentimentos positivos de auto-estima e auto-imagem são prevalecentes em tal relação.

    Com base nestas afirmações, torna-se importante sugerir que parece existir uma relevância da participação da atividade física na melhora do bem-estar e da satisfação com a vida de idosos advinda da prática regular e sistemática de exercícios físicos.


Objetivo

    Este estudo teve como objetivo verificar as contribuições da prática regular de atividade física para a melhoria da auto-imagem e auto-estima de idosos.


Amostra

    Participaram desta pesquisa 30 pessoas com mais de 60 anos de idade.


Critérios de inclusão

    Os critérios estabelecidos para a seleção das pessoas que fariam parte do estudo foram:

  • Ter idade igual ou superior a 60 anos,

  • Não ser portador de doença Cardio-respiratória e/ou locomotora,

  • Disponibilidade de completar o programa.


Programa de atividade física

    O programa de atividade física foi executado em forma de circuito de treinamento, com 10 estações organizadas de forma a trabalhar membros superiores e inferiores alternadamente. No final de cada sessão do circuito, realizava-mos uma caminhada de 10 minutos, com controle da frequência cardíaca, para aprimoramento do condicionamento aeróbio. O Programa de Atividade Física teve a frequência de 3 vezes semanais e a duração de seis semanas. As estações implementadas no circuito foram distribuídas da seguinte forma:

  1. Subir e descer do Step

  2. Peitoral

  3. Hiperextensão do quadril

  4. Dorsais

  5. Extensão de joelhos

  6. Bíceps

  7. Panturrilha

  8. Tríceps

  9. Agachamento

  10. Ombros

    A medida que o grupo foi evoluindo na execução dos exercícios, cargas, como halteres, tornozeleiras e cadeiras foram sendo utilizadas para aumentar a sobre carga de trabalho.


Questionário de auto-imagem e auto-estima

    Para avaliação da auto-estima e auto-imagem pré e pós programa de atividade física, utilizou-se o questionário criado por Steglich (1978). O questionário foi adaptado para este trabalho, excluindo-se as questões que se referiam aos aspectos financeiros dos indivíduos que julgamos não ter importância para o objetivo desta pesquisa.

    Para este estudo organizamos dois questionários compostos por quinze questões cada um relativas a auto-imagem e a auto-estima.

    As respostas possíveis nos questionários variavam entre, sim, quase sempre, várias vezes, algumas vezes e não.

    Dizem respeito a auto-imagem os itens de 1 a 15 do questionário 1, e dizem respeito a auto-estima os itens de 1 a 15 do questionário 2.

    Os questionários foram divididos considerando as tendências de respostas positivas e tendências negativas. No questionário 1 foram consideradas como tendência positiva as respostas sim, quase sempre e várias vezes. Como tendência negativa as respostas algumas vezes e não. No questionário 2, foram consideradas com tendência positiva as respostas não, algumas vezes. Com tendência negativa várias vezes, quase sempre e sim. Para avaliação das variáveis em questão, utilizou-se o método de comparação do número total de respostas de tendência positiva e tendência negativa pré e pós programa de atividade física.


Análise estatística

    No tratamento estatístico para as variáveis não numéricas dos questionários de auto-imagem e auto-estima utilizou-se o teste Qui-quadrado com correção de Yates.

    A diferença entre as variáveis estudadas foi considerada estatisticamente significativa quando a probabilidade de sua ocorrência mostrou-se menor de 5% (p < 0,05).


Resultados e discussão

    Nas tabelas 1, 2, 3 e 4, apresentam-se os resultados individuais às respostas do questionário 1 e 2 pré e pós programa de atividade física. Conforme observa-se na tabela 1 e 3 o número de respostas com tendência positiva pré programa foi de 679, enquanto que o número total de respostas com tendência positiva apresentadas nas tabelas 2 e 4 pós programa de atividade física foi de 730. Da mesma forma, nas tabelas 3 e 4 apresentam-se os resultados individuais das respostas do questionário 2 pré e pós programa de atividade física. Conforme observa-se na tabela 2 e 4 o número de respostas com tendência negativa pré programa foi de 221, enquanto que o número total de respostas negativas pós programa de atividade física foi de 170.

    Tabela 1 - Número de respostas de tendência positiva do questionário 1 pré programa de atividade física

 

Variável Sim Quase sempre Várias vezes Algumas Vezes Não TOTAL
Ordem
Questão 01 27 3 0 0 0 30
Questão 02 25 2 0 2 1 30
Questão 03 9 6 2 8 5 30
Questão 04 27 1 0 2 0 30
Questão 05 17 1 2 6 4 30
Questão 06 19 4 1 5 1 30
Questão 07 13 8 0 6 3 30
Questão 08 25 3 0 1 1 30
Questão 09 19 6 1 2 2 30
Questão 10 14 7 1 5 3 30
Questão 11 19 3 1 6 1 30
Questão 12 19 3 2 4 2 30
Questão 13 29 0 0 0 1 30
Questão 14 23 2 1 3 1 30
Questão 15 11 7 2 7 3 30
Total 296 56 13 57 28  

    No questionário 1 foram consideradas como tendência positiva as respostas sim, quase sempre e várias vezes; sendo portanto igual a 296+56+13. como tendência negativa as respostas algumas vezes e não; sendo portanto igual a 57 + 28.  

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