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Efeitos de um programa de treinamento crossfit sobre

composição corporal, força muscular e freqüência cardíaca 

de repouso em homens jovens adultos treinados

Efectos de un programa de entrenamiento crossfit sobre la composición 

corporal, fuerza muscular y la frecuencia cardiaca en adultos jóvenes entrenados

Effects of a crossfit training program on body composition, muscular 

strength and frequency rest cardiaca in men of young adults trained

 

*Graduado em Educação Física. Universidade do Oeste

de Santa Catarina – UNOESC, São Miguel do Oeste – Santa Catarina

**Laboratório de Fisiologia do Exercício - LAFE. Mestre em Educação Física

Professora do curso de Educação Física da Universidade do Oeste

de Santa Catarina – UNOESC. São Miguel do Oeste – Santa Catarina

Paulo Ricardo da Silva Guerro*

pauloricardosas25@bol.com.br

Sandra Fachineto**

sandra.fachineto@unoesc.edu.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo
         
O objetivo geral deste estudo foi analisar os efeitos de um programa de treinamento Crossfit sobre a composição corporal, força muscular e freqüência cardíaca de repouso em três homens jovens adultos treinados de uma academia de Guaraciaba, Santa Catarina. Para avaliação da composição corporal (% de gordura, massa corporal magra, peso de gordura e peso de massa magra) foi usado um aparelho de bioimpedância. Para determinar a força de para membros superiores foi utilizado um dinamômetro para teste de preensão manual e para força de membros inferiores o teste de impulsão horizontal. Foram realizados os pré testes, na seqüência foi desenvolvido o programa de treinamento de Crossfit que durou dois meses. Por fim, foram realizados os pós-testes, para determinar os efeitos do programa de treinamento. Os dados foram analisados através de uma planilha do Excel e usado o delta percentual (∆%) para determinar as diferenças pré e pós-treino para um único caso. Os resultados mostraram que em relação a composição corporal, tiveram um aumento na massa magra e dois deles um leve aumento na taxa metabólica basal. Em questão da força muscular, os três participantes tiveram ganhos principalmente de membros inferiores após o término do treino. Observou-se que a freqüência cardíaca de repouso apresentou uma diminuição considerável de pré para pós-testes nos três participantes. Conclui-se que o treinamento Crossfit tem resultados rápidos e eficazes e em pouco tempo de treinamento há boas melhoras fisiológicas.
          Unitermos: Crossfit. Treinamento. Homens.

Abstract
          The aim of this study was to analyze the effects of a Crossfit training program on body composition, muscle strength and resting heart rate in three adults young men trained in a health Guaraciaba, Santa Catarina. For assessment of body composition (% fat, lean body mass, fat weight and lean mass weight) was using a bioimpedance device. To determine the strength of upper limb was used a dynamometer to test and handgrip strength in the lower limbs the standing long jump test. Pre tests were performed in sequence was developed Crossfit training program that lasted two months. Finally, post-tests were performed to determine the effects of the training program. Data were analyzed using an Excel spreadsheet and used the percentage delta (Δ%) to determine the pre- and post-training differences for a single case. The results showed that compared body composition, had an increase in lean body mass and two of them a slight increase in basal metabolic rate. Within muscle strength, the three participants were mainly lower limb gains after training completion. It was observed that resting heart rate showed a considerable decrease of pre- to post-test in the three participants. It concludes that the Crossfit training is fast and effective results and little training time there are good physiological improvements.
          Keywords: Crossfit. Training. Men.

 

Recepção: 04/10/2015 - Aceitação: 19/01/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 213, Febrero de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Nos dias atuais, cada vez mais pessoas procuram academias para a prática de alguma modalidade de exercícios físicos a fim de melhorar o condicionamento físico. Além disso, a prática regular de exercícios no cotidiano das pessoas é fundamental para evitar o sedentarismo e prevenir doenças como obesidade, diabetes, hipertensão, câncer, entre outras. (Samulski, 2000).

    Uma das modalidades mais praticadas por homens visando melhoria da saúde e performance é a musculação. Sabe-se que esta modalidade contribui para melhoria da composição corporal (em especial percentual de gordura e massa corporal magra). Ainda, a musculação é importante para o ganho de força muscular. (Ferreira et al., [2007?]).

    Embora haja muitas controvérsias na literatura, a musculação também ajuda na saúde cardiovascular, em especial na hipertrofia ventricular esquerda. Segundo Ghoyareb et al. (2005) a hipertrofia cardíaca do atleta altamente treinado foi reconhecida há mais de um século, trata-se de um processo puramente fisiológico, hipertrofia compensatória ou adaptativa. Desta forma, um coração hipertrofiado irá contribuir para diminuir a freqüência cardíaca de repouso, uma vez que o coração bombeará a mesma quantidade de sangue batendo menos vezes, o que diminui o gasto de energia.

    Uma modalidade de exercícios físico, pouco conhecida ainda no Brasil, mas que vem numa crescente é o “Crossfit”. O programa de treinamento Crossfit, geralmente é feito em forma de um circuito que trabalha força e condicionamento geral e “acredita-se” que proporciona a mais ampla adaptação fisiológica possível para qualquer tipo de pessoa e ainda contribuindo para aumentar a força muscular, agilidade e flexibilidade. (O Guia de Treinamento Crossfit, 2015).

    Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo analisar os efeitos de um programa de treinamento Crossfit sobre a composição corporal, força muscular e freqüência cardíaca de repouso em homens jovens adultos treinados de uma academia de Guaraciaba, Santa Catarina.

Materiais e métodos

Amostra e instrumentos de coleta de dados

    A amostra foi constituída por três homens adultos jovens, regularmente matriculados e fisicamente ativos de uma academia de Guaraciaba, Santa Catarina na faixa etária entre 18 e 30 anos. A amostra foi selecionada de forma intencional, com participação voluntária e como critério de inclusão foi adotado a devolução do termo de Consentimento Livre e Esclarecido devidamente assinado pelos participantes; ter idade igual ou superior a 18 anos e praticar atividade física regular por no mínimo 1 ano, sendo feita uma anamnese de cada participante para saber seu histórico clínico (em relação a patologias, medicamentos...).

    Para avaliação da composição corporal (% de gordura, Massa corporal magra, peso de gordura e peso de gordura) dos jovens treinados, foi usado um aparelho de bioimpedância.

    Para avaliação da força muscular foi utilizado o dinamômetro para determinar a força isométrica das mãos, o teste de abdominal de 1 minuto para verificar a força abdominal e para membros inferiores o teste de impulsão horizontal, conforme o protocolo proposto por Matsudo (2003).

    A avaliação da freqüência cardíaca de repouso foi feita por meio de sensores de freqüência cardíaca. (Marins; Giannichi, 2003).

Programa de treinamento Crossfit

    O programa de treinamento aconteceu duas vezes por semana durante dois meses. A parte inicial dos treinamentos era composta por um aquecimento que envolvia tanto exercícios calistênicos (Burpee, Agachamentos, pranchas, etc.) como esteira e bicicleta.

    Após o aquecimento, a parte principal da sessão iniciava com a demonstração do exercício e posteriormente aprendizagem pelos participantes de cada um, sempre com adaptações em alguns exercícios mais avançados.

    O programa de treinamento Crossfit, geralmente é feito em forma de um circuito que trabalha força e condicionamento geral. É feita por repetições e séries. Pode-se fazer contra o cronometro ou sem. O treinamento proporciona ampla adaptação fisiológica para qualquer tipo de pessoa e ainda contribui para aumentar a força muscular, agilidade e flexibilidade. (O Guia de Treinamento Crossfit, 2015).

    A parte final do treino era composta por alongamentos de membros superiores e inferiores.

Técnica de análise dos dados

    Os dados foram analisados através de uma planilha do Excel e foi usado o delta percentual (%) para determinar as diferenças pré e pós-treino para um único caso.

Resultados e discussão

    Na tabela 1, é apresentada a comparação dos resultados do participante A em relação ao pré e pós-testes. Percebeu-se uma diferença percentual positiva para: taxa metabólica basal (TMB), massa corporal magra (MCM), força muscular e freqüência cardíaca (FC) de repouso. Salienta-se que a massa corporal e o percentual (%) de gordura aumentaram e isso pode ser devido ao fato de não ter acontecido nenhum controle nutricional durante o programa de treino, somente orientações dadas pelos pesquisadores.

Tabela 1. Comparação das variáveis de composição corporal, força muscular e fisiológicas/metabólicas 

do participante A (27 anos) antes e após o programa de treinamento Crossfit

Variáveis

Pré-teste

Pós-teste

∆%

Massa corporal (Kg)

84,9

88,1

3,77%

Estatura (cm)

1,85

1,85

0,00%

%Gordura

15,1

17,1

13,25%

TMB (Kcal)

2191

2220

1,32%

Peso gordura (Kg)

12,8

15,1

17,97%

MCM (Kg)

72,1

73

1,25%

FC de repouso (bpm)

70

61

-12,86%

Preensão manual_direita (Kg)

46,7

47,4

1,50%

Preensão manual_esquerda (Kg)

45,2

48,3

6,86 %

Salto horizontal (cm)

1,47

1,52

3,40%

Abdominal 1 minuto (repetições)

44

39

-11,36

Fonte: os autores

    Na Tabela, 2 é apresentada a comparação dos resultados do participante B em relação ao pré e pós-testes. Percebeu-se uma diferença percentual positiva especialmente para a força muscular e FC de repouso. É importante considerar que para esse participante houve um aumento considerável da massa corporal, do percentual de gordura e do peso de gordura. Novamente se destaca o fato de não ter acontecido controle alimentar, o que explica o fato de que a MCM quase não teve alterações e nem a TMB. No entanto, esse participante melhorou consideravelmente a força muscular.

Tabela 2. Comparação das variáveis de composição corporal, força muscular e fisiológicas/metabólicas

do participante B (29 anos) antes e após o programa de treinamento Crossfit

Variáveis

Pré-teste

Pós-teste

∆%

Massa corporal (Kg)

89,4

93,8

4,92%

Estatura (cm)

1,83

1,83

0,00%

%Gordura

20,5

24

17,07%

TMB (Kcal)

2160

2167

0,32%

Peso gordura (Kg)

18,3

22,5

22,95%

MCM (Kg)

71,1

71,3

0,28%

FC de repouso (bpm)

70

64

-8,57%

Preensão manual_direita (Kg)

52,9

59,1

11,72%

Preensão manual_esquerda (Kg)

50

56,5

13,00 %

Salto horizontal (cm)

1,65

1,81

9,70%

Abdominal 1 minuto (repetições)

34

35

-2,94%

Fonte: os autores

    Na Tabela 3 é mostrada a comparação dos resultados do participante C em relação ao pré e pós-testes. Percebeu-se uma diferença percentual positiva para: FC de repouso e força de membros inferiores, embora não muito relevante.

Tabela 3. Comparação das variáveis de composição corporal, força muscular e fisiológicas/metabólicas 

do participante C (24 anos) antes e após o programa de treinamento Crossfit

Variáveis

Pré-teste

Pós-teste

∆%

Massa corporal (Kg)

79,7

81,4

2,13%

Estatura (cm)

1,80

1,80

0,00%

%Gordura

8,1

13

60,49%

TMB (Kcal)

2227

2153

-3,32%

Peso gordura (Kg)

6,4

10,6

65,63%

MCM (Kg)

73,3

70,8

-3,41%

FC de repouso (bpm)

80

75

-6,25%

Preensão manual_direita (Kg)

52,6

51,5

-2,09%

Preensão manual_esquerda (Kg)

55,8

55,3

-0,90 %

Salto horizontal (cm)

1,84

2,6

41,30%

Abdominal 1 minuto (repetições)

50

52

4,00%

Fonte: os autores

    Uma das modalidades mais praticadas por homens é a musculação. Santos et al. (2002) objetivaram avaliar o efeito de dez semanas de treinamento com pesos sobre indicadores da composição corporal em 16 homens com média de idade de 23 anos e sedentários. Eles foram aleatoriamente divididos em grupo treinamento e controle. O grupo treinamento realizou 11 exercícios de treinamento com pesos, três sessões semanais enquanto o grupo controle não se envolveu nenhuma prática de atividade física. Após as 10 semanas de treino se observou um aumento de 3,8% na massa magra e também na massa corporal (4%). Esses resultados se assemelham ao aplicado no programa de treinamento Crossfit pelo participante A. Porém os autores Santos et al. (2002) também chamam a atenção para o fato de que o treinamento de peso feito de forma isolada e sem orientação nutricional não parece ser bom para a redução dos depósitos de gordura corporal. Sendo assim, se compararmos o Crossfit com a musculação, no Crossfit a massa corporal magra teve um resultado positivo como na musculação, porém, não se notou mudanças positivas nos níveis de % de gordura no Crossfit. Ao invés disso, os participantes aumentaram seu peso corporal, talvez pelo não controle alimentar.

    No artigo de revisão feito por Freitas, Oliveira e Santos (2009), os autores afirmam que o exercício ajuda a balancear a perda de massa corporal magra e a redução da taxa metabólica basal - TMB, podendo aumentar a massa corporal magra em proporção à gordura. Segundo Weineck (2001 apud Freitas; Oliveira; Santos, 2009, p.4) “cerca de 60% da energia utilizada no metabolismo basal serve para manutenção da temperatura corporal, o restante é utilizado para funções fisiológicas de sistemas de controle”. A exemplo do que vimos nos resultados do treinamento Crossfit, principalmente o indivíduo (A) teve um leve ganho de massa corporal magra e conseqüentemente, nos níveis da taxa metabólica basal. Acontece que quanto mais o indivíduo é ativo, mais alta é sua taxa metabólica basal é o que justifica os autores do artigo, Freitas, Oliveira e Santos (2009) que o treinamento resistido aumenta a massa magra, somando-se à taxa metabólica em repouso e à capacidade de utilizar mais da ingestão de energia. Essa explicação pode ser considerada para o Crossfit, por ser um exercício de alta intensidade.

    Podemos observar nos resultados, que assim como na musculação o Crossfit também aumenta de maneira considerável a força tanto de membros inferiores como a de membros superiores, por incorporar os levantamentos de peso (powerlifting).

    Em uma pesquisa feita por Dias et al. (2005), os autores avaliaram a força muscular de 21 homens (24,5 a 38 anos) aparentemente saudáveis que participaram voluntariamente deste estudo. Como critérios de inclusão, os participantes deveriam ser fisicamente ativos, além de ter experiência de pelo menos seis meses em treinamentos com pesos. Os autores concluíram que os resultados indicaram aumentos significantes na força muscular entre diferentes sessões de teste de 1-RM nos exercícios de supino com banco horizontal, agachamento e rosca direta de bíceps, em sujeitos com experiência prévia em treinamento com pesos.

    Uma das variáveis com efeito muito positivo nos três participantes foi a FC de repouso. De acordo com Diretrizes de Reabilitação Cardíaca (2005) o treinamento aeróbio reduz tanto a freqüência cardíaca em repouso como durante o exercício realizado. Tais efeitos parecem ser devidos a redução da hiperatividade simpática e parassimpática, mudança no marcapasso ou melhora na sístole cardíaca.

    Portanto, praticantes e atletas de Crossfit, tem a tendência de melhorar a sua freqüência cardíaca tanto a de repouso como a máxima, por ser também um treinamento aeróbico. (O Guia de Treinamento Crossfit, 2015).

Conclusão

  • Conclui-se, de forma geral, que as variáveis com maiores efeitos pós-treinamento foram a força muscular, principalmente de membros inferiores e a FC de repouso.

  • Destaca-se ainda o fato de que há muita pouca pesquisa ainda com essa modalidade no Brasil, daí a importância de mais estudos ser conduzidos.

Bibliografia

  • Dias, R. M. R. et al. (2005). Influência do processo de familiarização para avaliação de força muscular em testes de 1-RM. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 11, n. 1, p. 34-38, jan./fev.

  • Diretrizes de Reabilitação Cardíaca (2005). Arquivo Brasileiro de Cardiologia. v. 84, n. 5, p. 431-439, maio.

  • Ferreira, A. C. D. et al. ([2007?]). Musculação: Aspectos Fisiológicos, Neurais e metodológicos e nutricionais. p. 76-85. Disponível em: http://www.prac.ufpb.br/anais/xenex_xienid/xi_enid/prolicen/ANAIS/Area6/6CCSDEFPLIC04.pdf. Acesso em: 25 fev. 2015.

  • Freitas, C. C.; Oliveira, D. M.; Santos, D. (2009). Efeito do exercício resistido frente ao metabolismo de lipídios durante e pós treinamento. Revista Digital Efdeportes, Buenos Aires, v. 13, n. 130, p. 01-06, mar. http://www.efdeportes.com/efd130/metabolismo-de-lipidios-durante-e-pos-treinamento.htm

  • Ghorayeb, N. et al. (2005). Hipertrofia Ventricular Esquerda. Resposta Adaptativa Fisiológica do Coração. Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, v. 85, n. 3, p.191-197, set.

  • Marins, J. C. B; Giannichi, R. S. (2003). Avaliação e prescrição de atividade física: guia prático. 3ª ed. Rio de Janeiro: Shape.

  • Matsudo, V. K. (2003). Testes em Ciências do Esporte. São Paulo: Aratebi.

  • O Guia do Treinamento Crossfit (2015). 117 p. Disponível em: http://library.crossfit.com/free/pdf/Level1_Training_Guide_Portuguese.pdf. Acesso em: 03 mar. 2015.

  • Santos, C.F. et al. (2002). Efeito de 10 semanas de treinamento com pesos sobre indicadores da composição corporal. Revista Brasileira de Ciências e Movimento. v. 10, n. 2, p. 79-84.

  • Samulski, D. M. A. (2000). A importância da Atividade Física para a saúde e qualidade de vida: Um estudo entre professores, alunos e funcionários da UFMG. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, Belo Horizonte, v. 5, n. 1, p. 6-21.

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