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Análise do conhecimento dos professores do 

ensino fundamental sobre interdisciplinaridade

Estudio sobre el conocimiento de los profesores de escuela primaria sobre interdisciplinariedad

 

*Mestre em Educação Física, Professor da Faculdade

União das Américas/UNIAMÉRICA. Foz do Iguaçu – Paraná

**Licenciado (a) em Educação Física da Faculdade União

das Américas-Uniamérica. Foz do Iguaçu – Paraná

(Brasil)

Fernando Guilherme Priess*

fernando@uniamerica.br

Fellipe Zanata da Silva**

Carlos Alonso Balzan**

Karla Rafaela Cocato**

karla_sti@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo procura-se compreender o conhecimento sobre Interdisciplinaridade dos professores do Ensino Fundamental séries iniciais e finais de escolas do município de Foz do Iguaçu. Através dessa análise, busca-se entender um pouco do pensamento dos professores sobre Interdisciplinaridade e a forma de ser trabalhada nas salas de aula e sua importância para o Ensino-Aprendizado. Para desenvolver o assunto, foi realizada uma pesquisa de campo através de entrevistas dirigidas e a análise e resultados finais foram avaliadas de forma descritivas. Para o roteiro da entrevista, foram desenvolvidas 6 perguntas bases, mas que não necessariamente impedissem a formulação de outras perguntas pertinentes ao tema. Por meio de entrevista dirigida com os professores, foram coletados os dados necessários para descrever o pensamento geral desses professores sobre o tema sugerido, ou seja, todos os dados ou afirmações mencionadas são puramente resumos daquilo que foi dito aos entrevistadores, não tendo como objetivos julgar tais pensamentos como bons ou ruins, mas sim, apresentar as idéias gerais sobre o assunto e também as necessidades ou dificuldades de se implantar tais métodos.

          Unitermos: Interdisciplinaridade. Educação.

 

Resumen

          La presente investigación buscó comprender el conocimiento de los docentes sobre el tema “Interdisciplinariedad” de la escuela primaria en grados iniciales y finales de las escuelas en la ciudad de Foz do Iguazú. A través de este análisis, buscamos entender algunas de las ideas de los maestros sobre la interdisciplinariedad y la forma de los trabajos en el aula y su importancia para la enseñanza y el aprendizaje. Para desarrollarlo se llevó a cabo una investigación de campo a través de entrevistas estructuradas y el análisis y los resultados finales se evaluaron de manera descriptiva. Para el guión de la entrevista, se desarrollaron 6 preguntas básicas; pero eso no necesariamente impidió la formulación de otras cuestiones relacionadas con el tema. A través de entrevistas estructuradas con maestros hemos recogido los datos necesarios para describir el pensamiento general de estos sobre el tema propuesto, es decir, todos los datos o declaraciones mencionadas son puramente resumen de lo que se dijo a los entrevistadores, no teniendo como objetivo juzgar tales pensamientos como buenos o malos, sino más bien presentar las ideas generales sobre el tema y también según las necesidades y dificultades de la aplicación de tales métodos.

          Palabras clave: Interdisciplinariedad. Educación.

 

Recepção: 02/11/2015 - Aceitação: 18/01/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 213, Febrero de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A interdisciplinaridade é um conceito utilizado para definir a metodologia pedagógica na quais diversas áreas do conhecimento são trabalhadas em cima de um mesmo assunto. Essa integração pode ser facilmente aplicada em qualquer ambiente escolar, desde que o professor esteja interessado em buscar formas de ensinar aos seus alunos mais do que aquilo que propõe sua disciplina. Esse método irá proporcionar ao professor maior liberdade e maior abrangência de conteúdos a serem abordados, mas nunca deixando de ensinar a sua própria disciplina. A fim de exemplificar o conceito de Interdisciplinaridade, utilizaremos tal metodologia de ensino direcionada à Educação Física.

    A Educação Física tem como foco principal proporcionar um estilo de vida saudável aos seus alunos, como o próprio nome já diz, educar o corpo, torná-lo apto para atuar nas mais diversas tarefas, estimulá-lo de forma que possa funcionar com potência máxima, adaptando-o a todas as necessidades e potencializando sua própria utilização. A Educação Física escolar compreende diversas formas de cultura corporal tendo diversos objetivos, mas sua principal finalidade e o corpo e o movimento ela engloba muitos conteúdos tais como: jogos, esportes, danças, lutas agregando aspectos das culturas em questões sociais e políticas desenvolvendo todas as valências da criança.

    A Educação Física escolar deve abarcar todas as formas dessa chamada cultura corporal, e incluir, nos seus conteúdos: jogos, esportes, esportes, danças, ginásticas e lutas (Soler, 2003, p. 37).

    Como iremos focar na Educação Física e Interdisciplinaridade em ambiente escolar, devemos lembrar-nos da necessidade do professor estar em constante atualização. Em qualquer área essa atualização é necessária, porém, quando se trabalha de forma interdisciplinar o esforço deve ser muito maior, para que haja entendimento do conteúdo não somente pelos alunos, mas também pelo professor.

    A origem da interdisciplinaridade está nas transformações dos modos de produzir a ciência e de perceber a realidade e, igualmente, no desenvolvimento dos aspectos político-administrativos do ensino e da pesquisa nas organizações e instituições científicas. Mas, sem dúvida, entre as causas principais estão a rigidez, a artificialidade e a falsa autonomia das disciplinas, as quais não permitem acompanhar as mudanças no processo pedagógico e a produção de conhecimento novos (Paviani, 2008, p. 14).

    Quando falamos de produzir ciência, devemos lembrar como a ciência funciona, no que se aplica, como se aplica e o que ela tem a ver com o assunto em questão. Há autores que explicam a ciência da seguinte forma:

    “A ciência compõe-se de um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade (objeto de estudo), expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira programada, sistemática e controlada, para que se permita a verificação de sua validade. Assim, podemos apontar o objeto dos diversos ramos da ciência e saber exatamente como determinado conteúdo foi construído, possibilitando a reprodução da experiência. Dessa forma, o saber pode ser transmitido, verificado, utilizado e desenvolvido.” (Bock; Furtado e Teixeira, 2001, p. 19)

    A ciência precisa de objetos para estudo, esse objeto precisa ser observado, distanciado da realidade, deve ser analisado de forma crítica para que se possa entender seu funcionamento e só depois, relacionado com a realidade da qual foi distanciado, deve novamente se aproximar do ambiente e ver como ele interage dentro de um todo. No caso da criança não é diferente quando se fala em dar autonomia à ela. A criança deve ser objeto de estudo, mas não de seus professores, mas de si própria, ela precisa se observar, se distanciar do todo, criticar-se, analisar-se, para que assim, ela possa entender seu funcionamento, para que ela possa criar hipóteses, aprender com ela mesma, só assim, depois de passar por tudo isso é que ela pode aproximar-se novamente da realidade e perceber-se como parte de um todo, como ela funciona dentro daquele ambiente, daquele sistema.

    Não é tarefa fácil, e talvez por isso não se encontre muitos docentes engajados em utilizar-se da metodologia da Interdisciplinaridade. Trabalhar dessa forma exige que o próprio professor tenha passado por essa experiência, que ele mesmo se veja como objeto e se perceba como parte de um todo, onde vive e interage, onde sua utilidade não é mais ou menos importante comparada à outras pessoas, mas sim, indispensável para o funcionamento, assim como um carro, onde não há peça mais importante, retirar uma peça, por menos que seja, pode vir a comprometer todo seu funcionamento, e assim é a vida, um ciclo sem fim, e quanto antes ensinarmos isso aos nossos alunos, mais fácil será para gerarmos mudanças significativas e melhorarmos nossa forma de viver e agir.

    Se passarmos ver o indivíduo como parte de um todo, a tarefa de ensinar de forma integrada torna-se mais fácil. Mostrar à criança que os conhecimentos ensinados são indissociáveis e com a mesma importância para a existência do Universo é papel de profissionais capacitados, preparados para aquilo que se dispuseram a fazer, e principalmente, para pessoas que enxergam o mundo de forma única, não-segmentada, os conhecimentos não são mais vistos de forma isolada, não são mais condensados, não são mais enlatados (BRASIL, 2002, p. 30).

    Devemos lembrar apenas que a Interdisciplinaridade não dilui as disciplinas, ela reforça sua individualidade e importância, mostrando todas as forças e conhecimentos que agem sobre nosso Universo e como elas interagem entre si para manter o equilíbrio natural das coisas.

    Essa pesquisa parte da necessidade de encontrar meios de continuar ensinando as crianças ao mesmo tempo em que as estimule à buscar mais conhecimentos, ensinar a criança não apenas uma disciplina, mas acima de tudo, ensiná-la a conhecer-se profundamente, ser cientista dela mesma, escritora da própria vida, transformadora de sua sociedade, pois sabe que faz parte do todo e que ela é peça fundamental no desenvolvimento desse todo.

    Partindo do contexto da Interdisciplinaridade e a atualização dos profissionais da Educação, o presente trabalho tem como objetivo analisar o quão a par do assunto estão os professores da rede de ensino Fundamental do município de Foz do Iguaçu.

    Para coleta de dados, serão realizadas entrevistas dirigidas contendo 6 perguntas que objetivam analisar o conhecimento dos professores em relação à Interdisciplinaridade. As perguntas a seguir servirão como base para o roteiro da entrevista, abrindo assim, a possibilidade de outras perguntas durante a aplicação da mesma:

  1. Você compreende o significado de Interdisciplinaridade? Poderia falar sobre.

  2. Você como professor, considera importante a interdisciplinaridade no ensino-aprendizagem?

  3. Durante o exercício da profissão docente, como você percebe as aulas Interdisciplinares em relação às aulas que não utilizam essa metodologia? 

  4. Como é a relação entre aluno e professor sobre o Ensino-Aprendizagem durante o trabalho interdisciplinar?

  5. A escola promove algum evento durante o ano onde a Interdisciplinaridade é aplicada? Cite.

  6. Há aplicação de atividades lúdicas durante a semana? Se há, essa atividade envolve algum tipo de conhecimento de sua área?

    Tais perguntas foram desenvolvidas de forma a possibilitar uma abertura para novas perguntas durante as entrevistas, dando maior dinamismo e liberdade ao entrevistado e ao entrevistador, facilitando assim o alcance aos objetivos estipulados pela pesquisa.

1.    Fundamentação teórica

Conhecimentos enlatados

    Todos nós nos acostumamos desde cedo com formas de ensino unilaterais, que não permitem desvios e muito menos atalhos. Somos ensinados desde cedo a pensar como nossos antepassados, antigos estudiosos, nossos professores e todos aqueles que detêm algum diploma ou status sobre o conhecimento, mas nunca a pensar como nós mesmo, nunca a procurar nossas próprias respostas, não criamos hipóteses e não chegamos a resultados por nossas próprias mãos. Isso faz parecer que todos os conhecimentos já vêm prontos, que tudo o que precisamos aprender está mastigado em um livro ou que apenas temos que esperar que uma pessoa agarrada ao seu diploma nos despeje todos os seus anos de experiência em pensar como outras pessoas, formando assim um ciclo sem fim, onde cada vez menos pessoas são livres de fato para pensar, numa grande afronta à autonomia.

    Esse tipo de conhecimento não proporciona nada de novo ao aluno, não é maleável, é intangível, as mãos não podem tocar e manipular, é como olhar para fora e ver as árvores balançando, mas não poder sentir o vento, ou seja, não há liberdade alguma, não passa de um conhecimento enlatado e que não abre espaço para questionamentos. Essa falta de liberdade do pensamento faz com que o aluno adquira conhecimentos sem ao menos saber os motivos para tal, tornando difícil uma mudança posterior na forma de pensar. Freire (2005, p. 77) nos diz que:

    “A educação que impõe aos que verdadeiramente se comprometem com a libertação não pode fundar-se numa compreensão dos homens como seres vazios a quem o mundo ‘encha’ de conteúdos, não pode basear-se numa consciência especializada mecanicistamente compartimentada, mas nos homens como “corpos conscientes” e na consciência intencionada ao mundo. Não pode ser a do deposito de conteúdos, mas a da problematização dos homens em suas relações com o mundo.”

    Assim conseguimos ver mais nitidamente aquilo que não devemos fazer enquanto docentes, devemos quebrar paradigmas, ir um pouco contra o fluxo e estimular nossos alunos a utilizar a melhor ferramenta que a natureza lhe proporcionou: o pensamento. E talvez não haja até o presente momento uma metodologia melhor que a Interdisciplinaridade para representar o papel de agente “libertador da mente”. A liberdade é fruto da real natureza do homem, mesmo que esse esteja em constante processo de aprisionamento. Quando falamos em liberdade dentro de uma escola, refere-se a livrar-se dos conhecimentos enlatados, deixá-los um pouco de lado e olhar o mundo de outra forma, não só olhar, mas sim, tocar, manipular, analisar, criar e repartir esse mundo de conhecimentos infinitos. Novamente, segundo a visão de Freire (2005, p. 36), o autor chama as pessoas que se encontram aprisionado pelo conhecimento limitado e unilateral de oprimidos e fala sobre o medo que há em deixar de sermos oprimidos na seguinte frase:

    “O ‘medo da liberdade’, de quem se fazem objeto os oprimidos, medo da liberdade que tanto pode conduzi-los a pretender ser opressores também, quando pode mantê-los atados ao status de oprimidos, e outro aspecto que merece igualmente nossa reflexão.”

    Mas se essa metodologia é tão eficaz, por que ela não é aplicada constantemente nas escolas?

    De fato a metodologia é excelente e os resultados melhores ainda, mas utilizar-se dessa ferramenta não é tão fácil, pois exige mais esforço, maior integração, planejamento conjunto, mais estudo, ou seja, maior gasto de energia e tempo. Luck (2007, p. 80) dá a sua própria explicação sobre os requisitos necessários para utilizar-se da Interdisciplinaridade:

    “Reconhece-se que, para o desenvolvimento da interdisciplinaridade, é fundamental que haja dialogo, engajamento, participação dos professores, na construção de um projeto comum voltado para superação da fragmentação do ensino e de seu processo pedagógico. No entanto, essas não são características facilmente encontradas nas escolas em geral. Registra-se em muitas delas, muito mais um desejo de grande lamentação pela dificuldade da prática pedagógica, em decorrência dessa falta.”

    Como vemos, não é uma metodologia simples de se utilizar, necessita diálogo, vontade, criatividade para transcender as formas de ensino mais tradicionais. Exige um conhecimento muito maior daqueles que utilizam essa metodologia, e principalmente, exige-se conhecimento de si mesmo para que se possa despertar no outro a vontade de conhecer-se, de integrar-se, de se ver como parte de um processo maior e acima de tudo, ver-se com elevada importância, pois o indivíduo é peça fundamental no desenvolvimento do mundo em que vive.

    Ensinar de forma interdisciplinar é mostrar ao aluno que não há matéria chata, pois ela só é chata quando vista isoladamente, separada de outras matérias e o pior, muitas vezes atribuindo-se um valor de importância maior que as outras por parte do próprio professor. Vendo por esse ângulo, podemos entender o motivo de ser tão complicado despertar o interesse dos alunos pelas atividades desenvolvidas dentro de sala de aula, pois os assuntos parecem não-funcionais, é complicado para o aluno entender a funcionalidade e aplicação de certos conhecimentos, já que esses simplesmente se mostram isolados e parecem muitas vezes vir sem nenhuma explicação concreta sobre sua importância. Por esses motivos é que, integrar as disciplinadas é importante, para mostrar como tudo se encaixa como o quebra-cabeça termina. De acordo com (Santomé, 1998, p. 73):

    “O ensino baseado na interdisciplinaridade tem um grande poder estruturador, pois os conceitos, contexto teóricos procedimentos, etc., enfrentados pelos alunos encontram-se organizados em torno de unidades mais globais, de estruturas conceituais e metodológicas compartilhadas por várias disciplinas. Além disso, depois fica muito mais fácil realizar transferências das aprendizagens assim adquiridas para outros contextos disciplinares mais tradicionais. Alunos e alunas com uma educação mais interdisciplinar estão mais capacitados para enfrentar problemas que transcendem os limites de uma disciplina concreta e para detectar, analisar e solucionar problemas novos”

    Só pelo fato de poder tornar as aulas mais atrativas já indicaria um bom motivo para utilizar a Interdisciplinaridade como metodologia durante a aplicação das aulas, mas como visto acima, há muitos outros benefícios e aproxima-se mais do desejo de tornar o aluno autônomo, capaz de se conhecer, se criticar, se analisar, se envolver com o mundo e fazer-se ferramenta de mudança social.

2.     Percursos metodológicos, sujeitos e fontes de pesquisa

    Para a análise dos dados, foi realizada uma pesquisa de campo com professores do Ensino Fundamental, sendo que a análise foi realizada de forma dissertativa, expondo os principais dados coletados.

    Foi realizada uma entrevista dirigida com (20) professores do Ensino Fundamental séries iniciais e finais de várias escolas municipais e estaduais do Município de Foz do Iguaçu.

    A entrevista tem como objetivo fazer uma análise sobre o conhecimento desses professores em relação à Interdisciplinaridade e conta com um roteiro com 6 perguntas abertas que possibilitam ao entrevistador a aplicação de outras perguntas que possam vir a se aplicar no contexto do assunto.

    Foram aplicadas 18 aulas para alunos de 8 a 14 anos englobando 6 temas diferentes abrangendo diferentes conteúdos, mas todos ligados entre si e utilizando-se dos conhecimentos da Educação Física como base para a adaptação das aulas para um contexto mais lúdico e prazeroso.

3.     Análise e discussão dos resultados

    Os resultados aqui apresentados são frutos de toda a pesquisa realizada com os professores, não havendo nenhuma interferência por meio de palavras por parte dos autores, a não ser quando for dado parecer sobre as aulas realizadas em com os alunos. Todas as idéias e pensamentos expostos pelos professores foram escritos de forma resumida, tentando encontrar padrões, concordâncias e discordâncias, avaliando as necessidades e dificuldades gerais ao falar sobre o assunto.

    Cada entrevista durou aproximadamente de 15 a 20 minutos, tempo suficiente para que os professores pudessem dar seu parecer sobre o tema sugerido, havendo autonomia tanto por parte do entrevistador para criar novas perguntas, quanto por parte do entrevistado, para que pudesse fazer alguma observação além das perguntas realizadas.

    Além da entrevista, foram realizadas várias aulas envolvendo 6 temas diferentes. Essas aulas servem para que os autores também possam colaborar com os dados coletados das entrevistas, vendo se há ligação entre os relatos dos professores com o contexto das aulas aplicadas.

    Conforme dito anteriormente, a Interdisciplinaridade não é um assunto fácil de ser explicado e muito menos aplicado, portanto notou-se que a maioria dos professores teve certa dificuldade em desenvolver seus pensamentos em relação ao tema. A maioria soube dizer o que era a Interdisciplinaridade apenas como o ato de trabalhar diversas disciplinas sobre um mesmo tema, mas apenas de forma simples e sem muito desenvolvimento em cima disso. Conforme analisado, a definição era quase sempre a mesma e procedida da justificativa de que foi assim que aprenderam na faculdade. Há a idéia de que a Interdisciplinaridade é apenas o ensino de conhecimentos gerais, logo, as aulas do Ensino Fundamental séries iniciais seriam inteiramente interdisciplinares, pois o mesmo professor é responsável por todas as disciplinas. Apenas um dos entrevistados desenvolveu o assunto dizendo que a Interdisciplinaridade deve trabalhar o aluno como ser social completo, sem isolá-lo, vendo-o como uma agente transformador da sociedade.

    Em relação à importância da Interdisciplinaridade dentro de sala, todos os entrevistados concordaram com a sua grande relevância dentro do contexto escolar, pois propicia ao aluno a preparação para a vida, uma antecipação do que há por vir. Porém, a dificuldade entrada em realizar esse tipo de aula varia muito, alguns consideram muito trabalhosos aplicar aulas que envolvam diversos conteúdos, outros já dizem que o professor até pode ter vontade de gerar alguma mudança dentro de sala de aula, mas muitas vezes a própria coordenação não os estimula e sugerem seguir com o protocolo, as diretrizes designadas pelo MEC. Outro problema está relacionado ao preparo do currículo no município, onde não há embasamento teórico e prático nos conteúdos sociais e de relação com crianças e adolescentes.

    Conforme observado, poucos professores mostraram-se dispostos a realmente a utilizar essa metodologia em suas aulas. Dessa forma, as aulas caem na mesmice, o ensino é realizado no senso comum, de forma tradicional, onde o professor apenas despeja seu conteúdo em cima dos alunos. Aulas tradicionais não conseguem encaixar o aluno no mundo, ele torna-se mero produto existencial, separado, diferente, excluído. Segundo os próprios professores, a escola hoje exclui mais do que inclui, e isso acontece quando ela tenta minimizar o mundo e visa trancá-lo dentro de uma sala. A escola que utiliza o método tradicional é uma escola que não trabalha com perspectiva de mudança, pois ela mesma não tenta mudar, tornando difícil para a criança perceber a materialidade do mundo, não há toque, não há maleabilidade, apenas o objeto a ser observado.

    No caso da relação entre professor e aluno não há um consenso, pois alguns professores consideram que a interação com aluno não mudará, independente da metodologia utilizada, já que também consideram que suas aulas, por serem de conhecimentos gerais, são inteiramente interdisciplinares. Por outro lado, alguns professores consideram que a relação é totalmente diferente durante uma aula interdisciplinar, pois o aluno tem maior autonomia, maior interação com o mundo, consegue associar conteúdos e entender a funcionalidade das coisas, e todo esse processo é desenvolvido totalmente em conjunto, onde professor e aluno trabalham juntos para criar e aprender.

    Em nenhuma das escolas visitadas promovia eventos pedagógicos conjuntos, onde todos os professores trabalhariam juntos para proporcionar um dia ou uma semana para o desenvolvimento e apresentação de trabalhos interativos e de cunho interdisciplinar.

    Quando se trata da aplicação de atividades lúdicas adaptadas às disciplinas de cada professor, a grande maioria relatou que apenas eram desenvolvidas atividades recreativas nos últimos minutos das aulas e ainda assim, não estavam relacionadas à disciplina, eram desenvolvidas apenas por obrigação. Entretanto, alguns professores relatam utilizar-se de algumas estratégias para tornar suas aulas mais divertidas, por exemplo, utilizam-se de jogos pedagógicos, teatros, contam histórias e davam autonomia para que o aluno participasse das atividades.

Considerações finais

    Através da pesquisa de campo realizado com os professores e as atividades realizadas com as crianças, podem-se coletar dados que confirmavam toda a fundamentação teórica desse estudo.

    Observou-se que a maioria compreendia o conceito de Interdisciplinaridade, porém eram idéias com pouco embasamento e com certo grau de dificuldade para definir. Nem todos os professores que disseram entender esse conceito utilizavam essa metodologia em suas aulas, pois trabalhar dessa forma acarretava em maior esforço, e maior gasto de tempo, além da necessidade de trabalhar de forma criativa com os alunos, dando a eles maior autonomia. Muitos professores não conseguem lidar com essa autonomia, pois acham que irão perder sua autoridade dentro de sala de aula, o que acaba por excluir o aluno cada vez mais do contexto social, tornando-o apenas mais um dentro da sociedade.

    De acordo com os relatos, a faculdade não aprofundava no desenvolvimento da metodologia sugerida, e o próprio currículo do Município não proporcionava a amplitude necessária para que inclusão desse método de ensino. Além disso, muitos diretores de escola não são a favor de seus professores irem além daquilo que devem passar, pois vai contra o protocolo de ensino estipulado pelo MEC, tornando os conteúdos expostos necessários apenas para o alcance dos índices do IDEB, e em alguns casos, para melhor remuneração ao atingir tal índice, sem se preocupar realmente com o desenvolvimento do aluno como ser social.

    Já em relação às aulas aplicadas com as crianças, percebeu-se uma enorme participação dos alunos e maior assimilação dos conhecimentos propostos, já que os mesmos estavam incluídos no processo de construção do conhecimento e não apenas fazendo papel de ouvinte e receptor daqueles conteúdos. Dessa forma, a interação entre aluno e professor ocorreu de forma horizontal e autônoma, já que o aluno via-se livre para participar e contribuir com seu próprio conhecimento sobre os assuntos, traçando um roteiro de aula criado por eles mesmos.

    Conclui-se então, que o método Interdisciplinar ainda não é desenvolvido de forma adequada dentro das escolas, em parte por falta de conhecimentos, em parte por falta de vontade, além de muitas vezes a própria escola não colaborar para que esse método seja desenvolvido.

Bibliografia

  • Bock, A. M. B.; Furtado, O. e Teixeira, M. L. T. (2005). Psicologias: Uma introdução ao estudo de psicologia. 13ª ed. São Paulo-SP: Editora Saraiva.

  • Brasil (2002) Ministério da Educação-MEC, Secretaria de Educação Básica. Orientações Curriculares para o Ensino Médio: Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília.

  • Freire, P. (2005). Pedagogia do oprimido. 46ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

  • Luck, H. (2007). Pedagogia Interdisciplinar: Fundamentos teóricos metodológicos. 14. Ed. Petrópolis: Rio de janeiro.

  • Paviani, J. (2008). Interdisciplinaridade: conceitos e distinções. 2ª ed. Caxias do Sul-RS: Educs.

  • Santomé, J. T. (1998). Globalização é Interdisciplinaridade: O currículo integrado. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda.

  • Soler, R. (2006). Educação Física: Uma abordagem cooperativa. Rio de Janeiro: Sprint.

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