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O aporte da música na dor oncológica

El aporte de la música en el dolor oncológico

The music contribution in cancer pain

 

*Psicólogo. Pós graduando em Terapia Cognitivo Comportamental pela Capacitar NH

Pós graduando em Neuropsicologia pelo Centro Universitário de Araraquara

**Mestre em Medicina e Ciências da Saúde – Neurociências Professora do curso

de Psicologia na FSG (Faculdade da Serra Gaúcha, Caxias do Sul/RS)
(Brasil)

Luciano de Souza Santos*

luciano_uk@hotmail.com

Adriana Machado Vasques**

adriana.vasques@fsg.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica fundamentada em artigos nacionais e internacionais pesquisados em revistas, livros e periódicos relacionados com o assunto e em bases de dados online como Scielo, Google acadêmico e PubMed, entre os anos de 2003 e 2014. Sabendo que a dor é uma experiência sensorial, emocional e subjetiva necessária para a preservação da vida do ser humano, o paciente com diagnóstico de câncer irá sentir dor em qualquer etapa do tratamento quimioterápico produzindo medos, angústias, desesperança e isolamento. Para os pacientes do setor da oncologia, a música possui inúmeros benefícios e torna-se eficaz para aqueles casos em que há uma resistência na adesão ao tratamento medicamentoso para o alívio da dor. Pensando em uma maneira de proporcionar qualidade de vida nessa fase, percebe-se a musicoterapia como uma terapia complementar que auxilia na redução e alívio da dor. Nesse trabalho buscou-se investigar os efeitos da música no cérebro de pacientes oncológicos com dor; compreender a interferência da música nas conexões cerebrais e seus efeitos no tratamento da dor oncológica. O trabalho evidenciou a necessidade de um incentivo maior a pesquisas relacionadas com a música e a dor oncológica, assim como, a implantação da música em setores de oncologia como forma de terapia complementar, que pode ser oferecida tanto para os pacientes quanto para familiares e cuidadores.

          Unitermos: Musicoterapia. Dor. Oncologia.

 

Abstract

          The present assignment is about a bibliographic review based upon national and international articles researched in magazines, books and papers related to the subject as well as in online databases such as Scielo, Academic Google and PubMed, between the years 2003 and 2014. Knowing that pain is a sensory, emotional and subjective experience, necessary to the preservation of human life, the patient diagnosed with cancer will experience pain in every step of the chemotherapeutic treatment, resulting in fears, anguishes, hopelessness and isolation. For the patients of oncology, the music has countless benefits and becomes effective for those cases in which there is resistance in accepting treatments with medicine for pain relief. Thinking of a way of providing quality of life during this stage, music therapy has been noticed as a complementary therapy that helps reducing and relieving pain. This study intended to investigate the effects of music in the brain of oncologic patients in pain; understand the interference of music in brain connections and their effects in the treatment of cancer pain. The assignment showed the need for encouraging more research related to the music and oncologic pain, as well as for implementing the music at the oncology sections as a complementary therapy, that can be offered both to patients and to family and caretakers.

          Keywords: Music therapy. Pain. Oncology.

Recepção: 18/03/2015 - Aceitação: 10/04/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 203, Abril de 2015. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Cada vez mais o conceito de saúde tem se tornado abrangente, levando em consideração não apenas a falta de doenças, mas sim a prevenção delas, a reabilitação e recuperação de pacientes, a manutenção e a busca pela qualidade de vida. Assim, surge a necessidade do ser humano buscar algo que lhe propicie o bem estar, fato que instigou pesquisas que trazem práticas e inovações que podem contribuir para a melhora na qualidade de vida de toda população. Dessa forma, com base na música, surge a musicoterapia como complemento às terapias convencionais.

    A música por representar uma forma de linguagem universal que está presente em qualquer época e cultura, também é considerada como meio de expressão e comunicação universal. Além disso, proporciona ao indivíduo diferentes reações psicológicas. A música é capaz de aumentar a autoestima, auxiliar na interação entre membros de um grupo e auxiliar em uma vida mais saudável, prevenindo e até tratando doenças. Todos estes benefícios estão intimamente ligados com a música e a influência dos sons e manuseio de instrumentos musicais (Padilha, 2008).

    O câncer é uma doença caracterizada pelo crescimento desordenado de células que se alastram para os órgãos e tecidos. Ao se multiplicarem rapidamente, essas células causam a formação de tumores malignos que podem invadir outras partes do corpo. Esse processo é conhecido como metástase. Conforme o Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2014) estima-se que em 2014, 576.580 novos casos sejam diagnosticados no Brasil. Desse total, 274.230 para o sexo feminino e 302.350 para o sexo masculino.

    Graner, Costa Jr. e Rolim (2010, p. 346), enfatizam que “a dor é um dos fenômenos mais temidos e uma das queixas mais freqüentes entre pacientes com câncer”. Na década de 1980, a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2014), realizou pesquisas elegendo a dor, associada ao câncer, como uma emergência médica mundial. A OMS chegou a essa conclusão ao constatar que os pacientes passam por inúmeros desconfortos iniciando nos exames diagnósticos até os tratamentos convencionais, produzindo algumas limitações físicas, sociais e psicológicas como mutilações e deformidades, perdas materiais, ansiedade e medo de morrer. Com a redução da qualidade de vida ocasionado pelas dor oncológica, é imprescindível uma atenção especial aos recursos disponíveis para o manejo da dor de indivíduos ou grupos.

    Com essa estimativa das taxas de incidência de novos casos de câncer, em homens e mulheres para o ano de 2014, é inevitável pensar em uma terapêutica complementar com o propósito de trabalhar uma maneira que resgate o sentido pela vida e que faça do tratamento do câncer uma fase menos desagradável, promovendo qualidade de vida para o paciente. Mas qual é a contribuição da música para os pacientes que sentem dor decorrente do câncer? Esse foi a questionamento que norteou o desenvolvimento do presente trabalho.

    A música quando usada terapeuticamente oferece numerosos benefícios. Existem várias pesquisas que referem a música como sendo uma opção eficaz no tratamento de doenças neurológicas. Alguns estudos indicam que “ouvir música afeta a liberação de substâncias químicas cerebrais poderosas que podem regular o humor, reduzir a agressividade e a depressão e melhorar o sono” (Giannotti; Pizzoli, 2004, p. 36).

    Fonseca (2006), afirma que a recusa pela musicoterapia não acontece por parte dos pacientes e da população leiga, pois, além de ser de baixo custo não causa dor e depende exclusivamente do paciente aceita-la ou não. Entretanto, os musicoterapeutas percebem a falta de divulgação da terapia com música, fazendo necessário uma maior exposição do assunto. Contudo, faz-se indispensável pensar sobre a música como uma ferramenta para promoção de bem estar e qualidade de vida aos pacientes oncológicos que apresentam quadro de dor, que muitas vezes se encontram em angústia e sofrimento psíquico. Dessa forma, é fundamental que a população entenda a importância da música e conheça como ela age no organismo humano, podendo minimizar a dor causada pelo câncer.

    Enfim, é importante que a sociedade reconheça os benefícios e a eficácia dessa terapia complementar que é a musicoterapia. Sendo assim, este estudo objetiva investigar os efeitos da música no cérebro de pacientes oncológicos com dor; se existe alterações cerebrais significativas nesses pacientes; e pesquisar os benefícios e a eficácia da musicoterapia no tratamento da dor oncológica.

2.     Fundamentação teórica

2.1.     A música e sua trajetória até o cérebro

    Historicamente, a origem das doenças era tida como uma influência do sobrenatural. A cura delas se dava através de rituais religiosos em que a dança e a música se faziam presentes. Atualmente, existem alguns povos indígenas que acreditam que a música tem o efeito de expulsar os espíritos e ainda praticam seus rituais com essa finalidade. Com isso, em toda a trajetória da humanidade a música sempre esteve presente e ligada a um poder terapêutico. Blasco et al. (apud Oliveira et al., 2012), afirmam que os elementos musicais como o ritmo, a harmonia e a melodia são capazes de provocar alterações fisiológicas em quem às escuta.

    A música tem o poder de provocar arrepios, evocar lembranças e produzir sensação de prazer ou desgosto (Schaller, 2005). Além disso, o cérebro tem papel fundamental na compreensão e interpretação do que o ser humano está ouvindo. O som, segundo Altenmuller (2004) depois de registrado no ouvido é transmitido pelo nervo auditivo até chegar no tronco cerebral. É nessa estrutura onde a informação é filtrada e são reconhecidos padrões para determinar a origem espacial. Após, as informações passam pelo tálamo até o córtex. O nervo auditivo irá terminar no córtex auditivo primário, ou giro de Heschl presente em ambos os hemisférios cerebrais no alto do lobo temporal.

    Altenmuller (2004) relata em seu estudo que nas últimas décadas, os resultados de exames referente a percepção da música, apresentam variáveis e são contraditórios. “Até técnicas modernas de imageamento produziram explicações incompletas sobre as bases anatômicas e fisiológicas da percepção musical” (Altenmuller, 2004, p. 26). Sua explicação para estes resultados está ligado com a subjetividade de cada indivíduo, suas preferências por estilos musicais, as memórias que são evocadas no momento em que a música está sendo escutada e as sensações e sentimentos que ela provoca. Dessa forma, várias regiões do cérebro acabam sendo ativadas.

    Schaller (2005) relata em seu artigo que o músico e psicólogo alemão Stefan Kolsch descobriu através dos exames de imagem que a música, quando utilizada de maneira adequada, ativa as mesmas regiões de recompensa que a nossa comida preferida, drogas e/ou sexo.

    As experiências vivenciadas por cada indivíduo têm influência e afetarão de forma diferente quando estilos de música são escutados. Portanto, deve-se levar em consideração a subjetividade de cada ser humano e entende-lo como um todo para compreender as reações produzidas pela música. Contudo, pesquisas ainda estão sendo desenvolvidas e muitos pesquisadores já estão a caminho de compreender onde o cérebro “ouve” música (Altenmuller, 2004; Kolsch apud Schaller, 2005).

2.2.     O que é musicoterapia?

    Backes et al. (2003, p. 38), definem a musicoterapia:

    A musicoterapia é a utilização da música e/ou instrumentos musicais (som, ritmo, melodia e harmonia) pelo musicoterapeuta e pelo cliente ou grupo em um processo estruturado para facilitar e promover a comunicação, o relacionamento, a aprendizagem, a mobilização, a expressão e a organização (física, emocional, mental, social e cognitiva) para desenvolver potenciais ou recuperar funções do indivíduo de forma que ele possa alcançar uma melhor integração intra e interpessoal e conseqüentemente uma melhor qualidade de vida.

    A musicoterapia é considerada como uma forma inovadora, criativa e simples quando comparada com outros métodos terapêuticos para o alívio da dor e de distúrbios psicossomáticos. Essa terapia utiliza-se apenas da música e de instrumentos musicais e possui métodos e técnicas próprias para aplicação. Dessa forma, vem contribuindo para a humanização dos cuidados em saúde e quem faz uso relata sensações de alegria, tranquilidade, paz, descontração e bem estar (Backes et al., 2003).

    Desde a antiguidade, a música vem sendo associada à cura por diversas sociedades e culturas. Tanto que nos dias atuais, a musicoterapia e a música estão sendo alvos de estudos dentro da neurociência (Oliveira et al., 2012). No Brasil, sua aplicação ganha destaque em clínicas, escolas, centros de reabilitação e hospitais. É comum também, o uso dessa terapia em pacientes psiquiátricos com o objetivo de auxiliar na recuperação deles (Silva et al., 2011).

    Esta ciência contribui para o aumento da autoestima nas interações de um grupo e auxilia nos tratamentos de doenças (Padilha, 2008). Outra finalidade em que a musicoterapia pode ser utilizada é na redução da intensidade da dor em pacientes com neoplasia.

2.3.     A dor em pacientes com câncer

    Segundo The International Association for the Study of Pain (IASP, 2014), a definição mais aceita para dor é:

    A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a um dano real ou potencial de tecidos. NOTA: Dor é sempre subjetivo. Cada indivíduo aprende a aplicação da palavra através de experiências relacionadas com lesões. Assim, a experiência da dor varia de pessoa para pessoa com base nas experiências passadas e/ou atual estado de espírito.

    A dor é entendida como integrante de um sistema primitivo de fuga, que serve para o indivíduo escapar de eventos nocivos. Ela tem a função de preparar o organismo para cuidar e prevenir lesões, assim como evitar possíveis infecções dos tecidos lesados (Vandenberghe, 2008).

    Pressão arterial elevada, aumento de batimentos cardíacos, estresse, alterações na respiração, sudorese e tensão muscular são alguns sintomas que surgem como resposta à dor. Quando o sistema nervoso simpático é estimulado, hormônios do estresse são liberados resultando em sentimentos relacionados à ansiedade. Por tanto, devido a estas respostas fisiológicas, poderá acontecer um aumento da percepção da dor. (Finnerty, 2006).

    Em estudo realizado por Waterkemper e Reibnitz (2010), enfermeiras entendem a dor de pacientes com câncer como uma dor global, pois ela ultrapassa o limite físico até chegar às dimensões sociais e psicológicas. Assim, quando associada à neoplasia, ela é transformada em uma experiência sofrida e angustiante.

    Waterkemper e Reibnitz (2010) ressalta que uma grande parte desses pacientes recebe o diagnóstico em estado avançado da doença. Sendo assim, com a falta de resposta ao tratamento curativo, a equipe de saúde acaba focando nos cuidados paliativos do paciente, voltando-se para o controle dos sintomas e dos sinais causadores de sofrimento, desconforto e de dor.

    Para a medicina, o câncer é constituído como um crescimento desordenado de células que rapidamente se multiplicam, determinando a formação de tumores que podem invadir outros órgãos e tecidos por disseminação direta e/ou pelas vias sanguíneas e linfáticas. Além disso, juntamente ao câncer, a dor está presente desde o diagnóstico e segue durante todo o tratamento. Ela é uma experiência vivenciada por quase todos os seres humanos; é através dessa sensação que se habilita o indivíduo a sobreviver. Entretanto, o sofrimento pode ser o responsável por desempenhar um papel negativo na qualidade de vida de pacientes oncológicos.

    A dor é o fator mais determinante constituído entre todos os sintomas apresentados por um paciente com diagnóstico de câncer quando comparado à morte. Rangel (2012) traz em sua pesquisa que a dor acomete 60 a 80% dos pacientes com câncer sendo 25 a 30% na ocasião do diagnóstico e 70 a 90% dos pacientes com doença avançada classificam a dor como moderada a grave. Corroborando com o mesmo pensamento, Graner, Costa Jr. e Rolim (2010) enfatizam a dor como sendo o motivo mais freqüente das queixas de pacientes com câncer e um fenômeno bastante temido por eles.

    Conforme Minson et al. (2010) a origem da dor em pacientes com câncer pode ser multifatorial, podendo ser relacionada ao tumor, a morbidades associadas ou ao tratamento. É importante salientar que a dor nesses pacientes freqüentemente está associada à depressão, ansiedade, falta de esperança, suicídio e vontade de morrer. Indiferentemente do tipo de dor, a música é capaz de trazer benefícios que aliviam essa sensação desagradável.

2.4.     Benefícios da música na oncologia

    A música quando usada para fins terapêuticos não contribui apenas na humanização dos cuidados em saúde, mas também estabelece uma forma criativa, inovadora e simples para alívio da dor psíquica e física. Dentre seus benefícios, a musicoterapia pode oferecer uma sensação de tranquilidade, bem estar, descontração e alegria (BACKES et al., 2003). A musicoterapia possibilita uma melhor qualidade de vida aos seus adeptos que se encontram em situações de sofrimento, dor ou de fragilidade, pois ela interfere nos mecanismos biológicos do ser humano de forma positiva, tornando assim uma opção bastante interessante no processo de restabelecimento da saúde.

    Giannotti e Pizzoli (2004), afirmam que existem estudos comprovando que a música oferece benefícios para o tratamento de doenças como Alzheimer e Parkinson, pois a música é responsável por estimular a produção e liberação de substâncias cerebrais que possuem a finalidade de melhorar o humor, o sono, o estado depressivo e reduzir a agressividade. “O pensamento que associa a música à cura está ligado a diversas culturas desde a antiguidade até os dias de hoje, sendo que a música tornou-se um objeto de estudo da neurociência” (OLIVEIRA et al., 2012, p. 88).

    Um estudo realizado por Khalfa (2005) salienta que algumas melodias e músicas mais calmas e harmoniosas diminuem o nível de cortisol no sangue. Quando o ser humano se vê frente a uma situação de stress e/ou medo, o complexo amigdaloide prepara o corpo para se defender. Uma mensagem para o hipotálamo é enviada, que logo em seguida ordena que a hipófise libere o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). Esse hormônio em contato com a circulação sanguínea chegará até as glândulas suprarrenais, onde liberará o cortisol. É neste momento que o organismo estará pronto para se defender de qualquer agressão. Ao mesmo tempo em que o corpo se defende, sendo importante para a sobrevivência e manutenção da vida do indivíduo, o nível concentrado e elevado de cortisol no organismo torna-se nocivo. A longo prazo, o sistema imunológico e as funções reprodutoras podem ser afetados. Além disso, favorece o surgimento de diabetes tipo 2, prejudica a memória e pode ocasionar depressão. Nessa perspectiva, Khalfa (2005, p. 72) descreve que:

    Em uma pessoa estressada, o complexo amigdaloide é ativado.[...] Elas liberam o cortisol, aumentando a liberação de glicose pelo fígado, que ficará disponível para os músculos. Quando o cortisol atinge o cérebro, o indivíduo está em estado de alerta. Passado o stress, uma música tranquila ativa o córtex auditivo, reduzindo a atividade do complexo amigdaloide, e inibindo toda a cadeia de reações. O cortisol para de ser liberado.

    Conforme o estudo realizado por Khalfa (2005), o córtex auditivo e outras estruturas cerebrais responsáveis pelas emoções são ativadas e interagem com o complexo amigdaloide, havendo uma interrupção da liberação de cortisol. Dessa forma, prevenindo e evitando o surgimento e/ou complicações dos seus efeitos negativos para o indivíduo.

    Os benefícios da musicoterapia para o organismo do ser humano, vão além das dimensões físicas, diferente do modelo biomédico que é oferecido dentro dos hospitais. Podemos tomar como exemplo o ambiente hospitalar. Este espaço para muitos pacientes é carregado de medos, pensamentos negativos e crenças, sendo assim, a sua passagem por essa instituição se torna desagradável e angustiante. Outro fator desfavorável é a perda da subjetividade de quem está internado. Dessa forma, esse processo terapêutico se torna viável e positivo para os pacientes hospitalizados e que se encontram em estado de fragilidade emocional. “A música é capaz de chamar a atenção para longe dos pensamentos que produzem a depressão e, uma vez a impressão deixada na consciência, o humor deprimido pode ser substituído” (Giannotti; Pizzoli, 2004, p. 37).

    Toccafondi et al. (2013), publicaram um artigo que mensurava um caso de sucesso entre o câncer e a música. Um grande produtor italiano de música clássica entrou no departamento de oncologia com diagnóstico de uma neoplasia no sistema digestivo. Chegou sem esperança, completamente desinteressado, sem sentido e significado na vida. A partir de uma iniciativa da equipe de saúde, foi usado a música como estratégia para trazer o interesse do paciente ao tratamento. Com os concertos de música promovidos dentro do departamento de oncologia, o paciente pode melhorar o relacionamento com a equipe que o atendia, assim como, restabeleceu sua conexão com o mundo e sua vida proporcionando condições para enfrentar e lutar contra o câncer.

    Existem alguns estudos que demonstram a eficácia da música na diminuição da dor e da ansiedade. Estes estudos mostram que a música possui um efeito semelhante aos benzodiazepínicos, diminuindo a necessidade de sedativos em procedimentos de anestesia espinhal. A música influencia de forma positiva na qualidade de vida dos indivíduos, pois, ela facilita na expressão de sentimentos, ajuda no desenvolvimento cognitivo e motor, interfere contribuindo nas relações interpessoais e estimula uma reflexão quanto a sua própria vida (Lepage; Berbel apud Oliveira et al., 2012).

    Sendo assim, Backes et al. (2003, p. 38) destacam que a música é “um excelente subsídio para os tempos modernos em que somos marcados pela busca de alternativas que contemplem a pessoa na sua integridade”.

    Mesmo a musicoterapia sendo cientificamente fundamentada e considerada como ciência, suas ações terapêuticas possuem uma visão equivocada pelos leigos. As informações atuais são escassas e a população conhece pouco quanto aos benefícios e a eficácia da música quando aplicada terapeuticamente (Fonseca et al, 2006).

    Contudo, torna-se necessário ressaltar que para a qualidade de vida do paciente com câncer tenha uma melhora significativa, é necessário que sejam desenvolvidas mais pesquisas na área, pois a música ainda encontra-se pouco explorada e aplicada (Ferreira; Rezende; Vargas, 2013). Somente assim, será possível a divulgação da música com finalidade terapêutica na promoção de saúde.

3.     Metodologia

    Trata-se de uma pesquisa bibliográfica em que foram utilizadas as bases de dados online Scielo, Google acadêmico e PubMed, revistas, livros e periódicos referentes ao tema abordado.

    Inicialmente, foi realizada uma busca referente a produção de conhecimento sobre a música e o cérebro, tendo como objetivo identificar a correlação entre ambos os assuntos, assim como, as contribuições da música para pacientes oncológicos referida em periódicos nacionais e internacionais, através de literatura sobre o tema.

    Na busca inicial, utilizou-se como palavras chave os termos: música, musicoterapia, benefícios da musicoterapia, qualidade de vida, oncologia e dor. Após, se usou da análise de conteúdo com o objetivo de analisar os dados coletados através dos materiais pesquisados, de recortes e fragmentos fazendo conexões entre os diferentes teóricos, de maneira que houvesse uma construção coerente das temáticas abordadas.

    Sendo assim, foram utilizados como critérios de inclusão os textos que abordavam a música como sendo um fator importante para a promoção de qualidade de vida, publicados entre os anos de 2003 à 2014. Os materiais que não atendiam os critérios de inclusão foram excluídos da pesquisa.

4.     Considerações finais

    A música como recurso terapêutico mostrou-se de grande importância para pacientes com câncer e com quadro de dor. Através da presente pesquisa, verificou-se que a música nesses indivíduos contribui de forma favorável no tratamento, aliviando a dor e trazendo à tona conteúdos emocionais que possibilitam um trabalho terapêutico, que quando conduzido de forma adequada, irá refletir positivamente durante todo o tratamento do câncer.

    Além disso, esse trabalho proporcionou a possibilidade de pesquisar os efeitos da música relacionados com a existência de alterações cerebrais. Ambos interligados, música e cérebro, atuam de forma benéfica ao tratamento da dor oncológica. Por meio desta pesquisa, foi possível compreender como a música interfere em estruturas responsáveis pela liberação de hormônios que inibem o cortisol, diminuindo os efeitos nocivos que ele causa no organismo. Outro fator relevante foi à constatação de efeitos da música semelhante aos benzodiazepínicos, auxiliando o paciente em momentos de ansiedade e o tranquilizando em momentos estressores. Contudo, fica claro que a música e o cérebro possuem uma estreita ligação que pode influenciar de forma positiva nos quadros de dor dos pacientes com câncer.

    A partir da pesquisa dos benefícios e da eficácia da musicoterapia, foi possível fazer uma reflexão da música no tratamento da dor oncológica, e o quanto ela é importante e necessária para os pacientes que não aderem com facilidade aos tratamentos medicamentosos. Assim, sua importância e necessidade não se restringem apenas aos pacientes mencionados anteriormente. Os familiares, cuidadores e a equipe de saúde também são beneficiadas com os efeitos da música. Dessa maneira, fica evidente a implantação de terapias complementares em setores da oncologia, pois, elas favorecem não só o alívio da dor, mas contribuem nas interações e relações entre paciente, família, equipe de saúde e comunidade.

    Por fim, tomando como base dados revelados nos materiais pesquisados, percebeu-se a importância e necessidade de maior divulgação dos efeitos da música. Dessa forma, pesquisas poderão ser desenvolvidas com o intuito de contribuir na qualidade de vida de pacientes com dor, decorrente do tratamento do câncer, tornando essa fase menos desagradável tanto para o paciente quanto familiares e equipe de saúde, os quais sempre estarão em contato com o paciente e necessitam de um bom vínculo e relacionamento durante o tratamento do câncer.

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