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A utilização do treinamento resistido na recuperação 

de lesões de rompimento do ligamento cruzado anterior

La utilización del entrenamiento resistido en la recuperación de lesiones de ruptura del ligamento cruzado anterior

 

*Graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Ceará

**Graduando em Educação Física Pela Universidade Federal do Ceará

(Brasil)

Abraham Lincoln de Paula Rodrigues*

Allyson Façanha Lima**

Rodrigo do Vale dos Santos**

lincoln7777@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O joelho é uma das articulações do corpo mais suscetível à ocorrência de lesões, em especial, nos indivíduos praticantes de atividades esportivas. Muitas dessas lesões levam os indivíduos contundidos a submeterem-se a intervenções cirúrgicas, como por exemplo, a cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior do joelho. Atualmente, as técnicas de reconstrução do ligamento cruzado anterior têm sido aperfeiçoadas e mostram bons resultados na estabilização do joelho. A incorporação do treinamento resistido na recuperação de lesões de ligamento cruzado anterior vem sendo adotada há alguns anos, e essa incorporação, tem-se mostrado importante no processo de reabilitação desses pacientes. O estudo teve como objetivo atualizar acerca da importância da prática do treinamento resistido no processo de recuperação dos casos de lesão de rompimento de ligamento cruzado anterior. Foram revisados artigos científicos publicados em periódicos da base de dados eletrônicas Google Acadêmico e Scielo. Percebe-se que existem diversos tipos de protocolos com recomendações a seguir e opções de tratamento relacionadas às condutas fisioterápicas e envolvendo os exercícios físicos. Os conhecimentos sobre a anatomia e biomecânica do joelho são muito importantes. Deve-se levar em conta sempre a resposta individual de cada paciente ao tratamento, assim como a conduta e o protocolo adotado pela equipe que faz o acompanhamento do paciente desde o período pré-operatório até a fase final de recuperação do paciente. Encontram-se referências na literatura científica, que nos permitem estabelecer uma base sólida para a utilização do treinamento resistido no processo de recuperação de lesões de rompimento do ligamento cruzado anterior.

          Unitermos: Joelho. Ligamento Cruzado Anterior. Treinamento resistido.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com

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1.     Introdução

    De acordo com Andrews, Harrelson e Wilk (2000), o joelho é uma das articulações do corpo mais suscetível à ocorrência de lesões, em especial, nos indivíduos praticantes de atividades esportivas. A articulação do joelho está associada à cerca de 50% das lesões musculoesqueléticas. Muitas dessas lesões levam os indivíduos contundidos a submeterem-se a intervenções cirúrgicas, como por exemplo, a cirurgia de reparação dos meniscos e de reconstrução do ligamento cruzado anterior do joelho. Atualmente, as técnicas de reconstrução após a ruptura do ligamento cruzado anterior (LCA) têm sido aperfeiçoadas e mostram bons resultados na estabilização do joelho. Entretanto, mesmo com maior estabilização, há grandes possibilidades de não ocorrer à recuperação completa da sua funcionalidade após a cirurgia, o que pode estar ligado não somente a questões motoras, mas também a uma possível diminuição sensorial (BONFIM, PACCOLA e BARELA, 2003).

    Atualmente, o treinamento resistido deixou de ser praticado apenas por uma pequena parcela da população, popularizando-se, devido em grande parte aos benefícios que traz aos seus praticantes, sejam eles, estéticos e/ou na saúde (FLECK e FIGUEIRA, 2003). A incorporação do treinamento resistido na recuperação de lesões de LCA vem sendo adotada há alguns anos, e essa incorporação, tem-se mostrado importante no processo de reabilitação desses pacientes, ressaltando-se a importância da realização de um trabalho multidisciplinar. No artigo foram discutidos aspectos inerentes aos protocolos mais recentes que tratam da condução do processo recuperativo nos casos de lesão de rompimento do LCA utilizando o treinamento resistido. O estudo teve como objetivo atualizar acerca da importância da prática do treinamento resistido na recuperação dos casos de lesão de rompimento de LCA.

2.     Metodologia

    O estudo caracteriza-se como uma revisão bibliográfica, onde foram revisados artigos científicos publicados em periódicos da base de dados eletrônicas Google Acadêmico e Scielo. Utilizou-se como critério de inclusão: artigos publicados entre os anos de 2004 a 2012; classificação na Qualis (A1, A2, B1, B2 e B3); artigos publicados nos idiomas português, inglês e espanhol; artigo experimental (ensaio clínico randomizado) ou revisão de literatura. Para a realização da busca, utilizaram-se os descritores “treinamento resistido”, “reabilitação” e “LCA”. Foram encontrados 298 artigos a partir dos termos de busca utilizados, sendo selecionados 20 artigos de acordo com os critérios de inclusão.

3.     Terapêutica da lesão de ligamento cruzado anterior

    O tratamento da lesão de LCA passou por fases distintas ao longo da história da cirurgia do joelho. Inicialmente, era amplamente difundido entres o corpo médico, o tratamento conservador, com órteses e reforço muscular. Com o passar dos anos e o desenvolvimento de novas técnicas, como a anestesia, assepsia e terapia antibiótica, a abordagem cirúrgica do tratamento da lesão do LCA começou a ganhar espaço. Várias técnicas operatórias surgiram, mas a insatisfação com os resultados obtidos na fase de pós-operatório levaram ao surgimento de novas técnicas e abordagens que posteriormente foram modificadas e aprimoradas. Essa evolução ocorreu em grande parte, por conta de um maior domínio dos conhecimentos sobre anatomia e a biomecânica do joelho, ao desenvolvimento de trabalhos experimentais e ao surgimento da artroscopia (PENTEADO et al., 2008).

    De acordo com Penteado et al. (2008), atualmente, a técnica cirúrgica preferida pelos ortopedistas no tratamento da lesão de rompimento de LCA envolve a reconstrução intra-articular, utilizando-se diferentes estruturas anatômicas corporais. O objetivo dessa intervenção cirúrgica é substituir o ligamento lesionado por outra estrutura que possua características biomecânicas semelhantes ou superiores às do ligamento original, buscando reestabelecer sua função original. Os enxertos biológicos disponíveis e utilizados nas cirurgias de reconstrução ligamentar anterior do joelho podem ser autólogos e homólogos. Os enxertos autólogos mais utilizados nos dias atuais, em ordem de popularidade, são: os do terço médio do tendão patelar; os dos tendões dos isquiotibiais, chamados de tendões flexores semitendíneo e grácil; e os do tendão do quadríceps (HAN et al., 2008).

    Segundo Penteado et al. (2008), os enxertos homólogos, retirados de cadáveres humanos, são pouco utilizados, devido à baixa disponibilidade e ao custo elevado do seu processamento. Os enxertos homólogos mais utilizados são: os do ligamento patelar; os do tendão calcâneo; os dos tendões flexores semitendíneo e grácil; e os tendões dos músculos tibial anterior e posterior. Outros enxertos podem ser utilizados na reconstrução do LCA, como, por exemplo, a fáscia lata, todavia, o fato de sua resistência ser inferior à do LCA, recomenda-se ser utilizada juntamente com outras estruturas orgânicas ou sintéticas. Existem diferentes tipos de ligamentos sintéticos, de materiais variados, porém, têm-se mostrado pouco eficientes em longo prazo, apresentando uma alta incidência de complicações, o que desfavoreceu a sua utilização. As lesões de rompimento de LCA podem ocorrer unilateralmente ou bilateralmente, sendo estas, menos freqüente. Quando a lesão ocorre bilateralmente, a cirúrgica de reconstrução do ligamento pode ser realizada separadamente, em momentos diferentes ou em um único procedimento. A realização do procedimento em um único momento mostrou-se segura, apresenta um baixo custo e parece não comprometer a recuperação (MOTOHASHI, 2004; LARSON et al., 2004).

4.     Protocolos de reabilitação no pós-operatório de ligamento cruzado anterior

    No estudo de Pimenta et al. (2012) foram citados vários protocolos de reabilitação para reconstrução do LCA, todos eles demonstraram a importância da utilização do treinamento resistido no tratamento recuperativo no pós-operatório das lesões de LCA.

4.1.     Protocolo de Campos (2010)

    Os primeiros cuidados serão durante 0 a 15 dias após a cirurgia com exercícios isométricos com ganho de arco de movimento passivo de 0 a 90º. Na segunda etapa consistirá, durante o período de 15 a 30 dias, na realização de exercícios isotônicos sem carga. Na fase de 30 a 45 dias, serão realizados exercícios isotônicos sem carga com amplitude completa. De 45 a 90 dias a carga será total, porém sem imobilizador e realizando exercícios de hidroterapia, natação e bicicleta ergonômica sem carga. Durante a etapa de 90 a 180 dias o paciente já poderá fazer natação, musculação com exercícios de cadeia cinética fechada para quadríceps e aberta para ísquiostibiais, step e esteira para caminhada. E antes da ultima etapa, durante os 180 a 240 dias o tratamento consistirá em musculação, esteira para corrida, ginástica livre, step e exercícios de propriocepção. Sendo que após os 240 dias continua o tratamento com musculação e está livre para retorno ao condicionamento físico para o esporte desejável caso sinta confiança e segurança.

4.2.     Protocolo de Thiele et al. (2009)

    Os objetivos do tratamento na primeira semana consiste em controlar o edema, a dor e chegar a uma amplitude de movimento de 90º, adotando as condutas de crioterapia, exercícios de amplitude de movimento passiva e ativa para flexão e hiperextensão, mobilização da patela, flexo/extensão tornozelo ativa, contração isométrica do quadríceps, exercícios de controle do quadríceps, mini agachamentos, heel prop extension e marcha com 2 muletas. Já no 1º mês os objetivos serão de amplitude de movimento de 0º a 120º, com atividades limitadas, prevenir o derrame articular e padrão de marcha deverá ser normal trabalhando na 2ª semana propriocepção na bola, elevação da perna com peso, bicicleta, treino de marcha e alongamentos e na terceira semana progredir o tratamento com propriocepção em apoio monopodal, exercícios de extensão terminal em cadeia cinética aberta (CCA) e em cadeia cinética fechada (CCF). Entre a 5ª e 8ª semanas a mobilidade devera ser igual ao membro oposto, o controle de derrame deverá ser mantido e deverá ter a recuperação da força muscular com propriocepção em apoio monopodal, exercícios em CCA e CCF. Com 2 meses de tratamento intensifica-se os exercícios de força e alongamentos, inicia-se trote e linha reta e com mudança de direção e exercícios com bola. No 3º mês deve recuperar a força muscular e melhorar a propriocepção com o inicio de musculação e intensificando exercícios proprioceptivos e do esporte praticado. No 4º e ultimo mês o déficit de força deverá ser mínimo e já pode fazer o retorno progressivo ao esporte.

    Percebe-se que existem vários protocolos com recomendações a seguir e opções de tratamento relacionadas às condutas fisioterápicas e envolvendo os exercícios físicos. Os estudos das patologias do joelho sofreram grande avanço nos últimos anos e por conseqüência vários protocolos ainda vêm sendo desenvolvidos. Deve-se levar em conta sempre a resposta individual de cada paciente ao tratamento, assim como a conduta e o protocolo adotado pela equipe que faz o acompanhamento do paciente desde o período pré-operatório até a fase final de recuperação do paciente.

5.     Treinamento resistido e aplicação prática em indivíduos pós cirurgia de LCA

    Bezerra et al. (2012) em seu estudo verificaram diferenças de carga entre membro operado (MO) e membro não operado (MNO) de vinte homens pós-reconstrução de ligamento cruzado anterior e compararam a soma das ações unilaterais com as bilaterais em um teste de 10 repetições máximas (10RM) nos movimentos de extensão e flexão de joelhos. Os valores encontrados para o MO foram menores em relação ao MNO, assim como, o somatório de carga unilateral foi maior que a carga obtida bilateralmente nos movimentos. Identificou-se no estudo um déficit bilateral para os dois movimentos analisados, assim como, diferença na força máxima entre o MO e MNO.

    Como recomendação para reabilitação pós-cirurgia de reconstrução do LCA, os autores supracitados sugerem que o treinamento resistido seja realizado de forma unilateral, visto que há déficit funcional do MO em relação ao MNO. Embora atividades bilaterais também contribuam para reduzir o déficit de forca, a utilização de exercícios unilaterais pode constituir-se em uma estratégia importante, no sentido de aumentar e equilibrar a força entre os membros, especialmente, em situações de assimetria considerável.

    Os exercícios resistidos são recomendados por Kisner e Colby (1998) e podem ser realizados de forma concêntrica e excentricamente, ou de ambas as formas. A maioria dos programas isotônicos resistidos envolve uma combinação de exercícios concêntricos e excêntricos, dependendo das necessidades fundamentais do paciente e da força muscular. Os exercícios isotônicos demandam movimento articular, sendo mais efetivos na aquisição de massa muscular e melhora da resistência (BIASOLI e IZOLA, 2003).

6.     Considerações finais

    Conclui-se que as referências existentes na literatura científica, nos permitem estabelecer uma base sólida para a utilização do treinamento resistido no processo de recuperação de lesões de rompimento de LCA nos pacientes e/ou alunos em fase de reabilitação pós-cirúrgica. Assim o profissional da educação física deve estar atualizado sobre as recomendações contidas nos principais protocolos de reabilitação desses pacientes, objetivando tornar os indivíduos aptos às suas atividades diárias e/ou ao retorno da prática do seu esporte.

Referências bibliográficas

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