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História da Dança de Salão no Brasil: Bahia do século XIX

Historia de la Danza de Salón en Brasil: Bahía en el siglo XIX

 

Mestre em Ciências Biológicas, UFPR

Especialista em Educação, IBPEX

Licenciada em Ciências Biológicas, UFPR

Maristela Zamoner

maristela.zamoner@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A literatura atual sobre as Danças de Baile, dentre as quais a Valsa, primeira Dança de Salão, na Bahia, apresenta algumas informações sobre o século XIX e seus antecedentes, relatando-se a prática de Valsa, Quadrilha, Polca, Contradanças, Minuetos, Gavota, Allemanda e Danças Inglesas e Francesas. Em muitos dos relatos sobre as Danças de Baile destas épocas há referência a presença e/ou influência de danças relacionadas a origem africana, citando-se Batuques e Lundu mais especificamente. Esta pesquisa visou aprofundar o conhecimento sobre a Dança de Salão pelo estudo de jornais, revistas, livros e outros documentos produzidos na Bahia do século XIX. Foram identificados: 11 nomes de professores, 30 nomes de instituições de ensino formal que ofertaram aulas de dança; 7 nomes de sociedades/clubes que ofertavam atividades relacionadas à dança, anúncios de produtos, artigos e textos sobre dança bem como espetáculos com números de dança. As danças cujos nomes constataram-se mais vezes foram, nesta ordem: Valsa, Polca e Quadrilha. A pesquisa revelou que a sociedade da Bahia do século XIX foi intensamente permeada pelas Danças de Baile e pela primeira Dança de Salão, a Valsa.

          Unitermos: Dança de Salão. Bahia. História. Professores. Mestres. Ensino. Século XIX.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    É no século XIX que a Valsa, primeira Dança de Salão, como parte das Danças de Baile, tem pleno florescimento (Zamoner, 2013a), por isto, seu estudo no território brasileiro, nos séculos XVIII e XIX, tem ampliado o conhecimento sistematizado sobre a História da Dança de Salão no Brasil (Zamoner, 2013b, c, d, e; 2014a, b).

    A literatura atual sobre a Dança de Salão na Bahia apresenta algumas informações sobre o século XIX e seus antecedentes. Segundo Pinho (1970), no século XVIII os salões da Bahia eram “igrejas, coros e locutórios”, que se caracterizavam por abrigar “círculos mundanos”. Mesmo assim, o autor não deixa de abordar diversos bailes de nobres ocorridos no século XVIII, a exemplo da comemoração do casamento dos príncipes de Portugal e Espanha em 1729, no Paço dos Governadores e Vice-Reis, sobre o qual cita o “Poema Festivo” de João de Brito e Lima mencionando a prática de Contradanças. Ainda sobre o século XVIII, Conde e Massimi (2008) referem-se a pratica de Minuetos e Contradanças na Bahia.

    Quanto ao início do século XIX, Acayaba et al (2001) citam “Narrativas de uma viagem ao Brasil” de Thomas Lindley, onde se encontra o Minueto como dança praticada nos círculos mais elevados de Salvador em 1802. Também sobre o início do século XIX, Pinho (1970) cita a importância das descrições deste de outros estrangeiros como Tonellare, Mawe, Martius e Spix, Ferdinand Denis e Maria Graham. Também citando Lindley, referenciando o ano de 1802, informa que nas casas “de gente mais fina” ocorriam bailes nos quais durava pouco a “música dos brancos” devido a prática da “sedutora dança dos negros, misto de coreografia africana e fandangos espanhóis e portugueses”, abordando inclusive o Lundu. Registra que Tonellare acusa o Lundu, ao final de 1817, de excluir as “senhoras da primeira camada” do teatro e, mesmo reclamando da inexistência de bailes, aborda o baile da inauguração da Praça do Comércio, citando prática de Gavota, Allemanda e Danças Inglesas, encerrando por abordar que o decoro evitou os “saracoteios crioulos”. Martius, descreveria para a mesma época, hábitos da alta sociedade baiana fazendo referência a prática de danças de sociedade seguidas pelo Lundu, dançado graciosamente. Ferdinand Denis discursa sobre a sociedade baiana observada em 1819, fazendo referência à prática de danças inglesas e o início das francesas. Maria Graham também passou pela Bahia entre 1821 e 1822, registrando um aspecto da arquitetura das casas, as salas, mobiliadas com sofás nas extremidades e filas longas de cadeiras fixadas ao chão de forma a deixar um grande espaço para a prática de danças.

    Em referência ao baile dado na vinda do imperador à Bahia, no ano de 1859, Pinho (1970) faz referência a danças “sem o protocolo da Côrte” que foram praticadas após a saída dos monarcas, citando “quadrilhas de contradanças, valsas e polcas”. O autor aborda ainda o viajante Maximiliano d’Austria que teria visitado a Bahia no início de 1860, descrevendo que se dançava Quadrilha no interior de uma residência, enquanto à sua frente havia prática de danças “primitivas e selvagens”. Também se refere, o autor Pinho (1970), à prática de Gavota, Mazurca e Quadrilhas Francesas, no entorno de 1840, e Contradanças próximo a sexta década do século XIX.

    Quanto ao ensino da dança é relevante o fato de que Pinho (1970) cita o volume XV da Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia abordando o registro de que muitos bailarinos, praticantes de Danças de Baile, eram discípulos de “Marqueton”. Segundo Elmerich (1987), a identificação de nomes de professores pode servir como um índice do quanto se dançava em certa localidade e tempo.

    A disponibilização de documentos em formato eletrônico, produzidos no século XIX (jornais, revistas, livros e outros), viabiliza o acesso a dados que permitem conhecer mais sobre as sociedades das diferentes épocas e localidades, inclusive no que tange a características peculiares que incluem, por exemplo o ensino e a prática das Danças de Baile. Na Bahia do século XIX produziram-se periódicos que vêm sendo disponibilizados para consulta eletrônica pela Hemeroteca Digital Brasileira. O objetivo desta pesquisa foi reconhecer aspectos das Danças de Baile na sociedade da Bahia do século XIX pela analise destes periódicos.

Metodologia

    Pesquisaram-se periódicos obtidos pela busca filtrada por “Bahia”, produzidos no século XIX, no acervo de periódicos da Hemeroteca Digital Brasileira.

    A metodologia seguiu o padrão utilizado por Zamoner (2014a):

    Todos os periódicos elencados foram acessados procedendo-se a busca pelo unitermo “dança”. Registraram-se os totais de suas ocorrências e a natureza de cada uma delas.

    Os periódicos obtidos foram tabelados adicionando dados do intervalo de anos em que foram produzidos, quantidades de ocorrências do unitermo “dança” e de professores neles identificados. Os nomes de professores foram tabelados separadamente, com o ano em que apareceram, periódico, e, quando identificado, o endereço em que as aulas foram ofertadas.

    De forma complementar, para efeito de confronto de informações, foram consultados periódicos do século XIX produzidos em outras localidades brasileiras.

    Esta pesquisa foi complementada por dados de libretos brasileiros e europeus referentes a apresentações cênicas do século XIX, nos endereços eletrônicos: http://www.internetculturale.it; http://polovea.sebina.it; http://catalogo.bnportugal.pt; http://trove.nla.gov.au; http://www.amadeusonline.net; http://openlibrary.org; http://www.worldcat.org; http://www.bn.br.

    Considerando a importância da Bahia no contexto histórico brasileiro do século XIX procedeu-se, eventualmente, a busca complementar por palavras chave alternativas, como “dansa” e “baile”, nos periódicos com maior número de resultados para o unitermo “dança”.

Resultados

    Os resultados mostraram-se compatíveis com o que foi relatado em Zamoner (2013, b, c, d, e; 2014 a, b, c) no que diz respeito ao que segue:

    Notou-se que parte dos exemplares consultados apresentaram condições de ilegibilidade e mutilações. Alguns estavam incompletos, faltando edições, ou danificados. O filtro de palavras foi eficiente, mas, apresentou algumas falhas, trazendo palavras semelhantes à buscada ou não identificando sua presença. Assim, esta metodologia admite falhas porque pode haver outras ocorrências do unitermo de busca além do que foi possível obter por este método. Entretanto, esta dificuldade não inviabilizou que o objetivo da pesquisa fosse atingido (Zamoner, 2014a).

    (...)

    Vários apontamentos trouxeram como resultados o uso da palavra “dança”, referindo-se a doenças nomeadas, por exemplo, como “dança de S. Guido”, “dança de S. Guy”, “dança de S. Victor” e “dança de São Vito” (Zamoner, 2014c).

    Foram encontrados 47 periódicos da Bahia produzidos no século XIX cobrindo o intervalo de tempo entre 1811 e 1900 (Anexo). Destes, 22 apontaram resultados positivos para a presença do unitermo de busca.

    As buscas nos periódicos elencados no Anexo trouxeram 888 apontamentos do unitermo “dança”, sendo que destes, 137 corresponderam a palavras semelhantes ao unitermo de busca.

Professores de Dança

    O Quadro apresentado abaixo reúne todos os nomes de professores de dança encontrados durante esta pesquisa, conforme foram citados.

Quadro 01. Elenco dos nomes de professores encontrados na pesquisa e ano de publicação

    Francisco Tago foi o nome de mestre de dança encontrado nesta pesquisa com data de ocorrência mais antiga, 1817, no periódico “Idade D’Ouro”. O texto em que seu nome foi constatado está transcrito a seguir.

    Francisco Tago, de Nação Italiana, e Mestre de dança que foi da Real Familia de SS.MM. Sicilianas; tendo proximamente chegado a essa Cidade, faz sciente ao respeitavel Público, que ensina todas as danças em uso nesta Cidade, pelos seus verdadeiros principios, com o melhor garbo, e ultimo gosto, ou seja na casa da sua morada na rua dereita de Palacio N. 47 defronte da porta travessa do Palacio ou Collegios, Escholas, ou casas particulares, em que já tem alguns discípulos d’ambos os sexos; e na do Professor de primeiras letras Luiz Gomes Tourinho da Silva, ao subir a ladeira de S. Thereza, de quem se póde ter informações.

    Nesta pesquisa o nome “Tago” não foi constatado em libretos europeus do século XIX.

    Pinho (1970) cita que perto de 1840 discípulos de “Marqueton” dançavam Gavota, Mazurca e Quadrilhas Francesas em soirées. Nesta pesquisa encontraram-se registros de Julio Marqueton entre os anos de 1843 e 1863, sendo o professor constatado pelo maior intervalo de anos de atuação, 20 anos.

    O “Almanak Administrativo Mercantil e Industrial da Bahia” apresenta listagens de profissionais de várias áreas, entre elas, professores de dança. Neste documento são citados: no ano de 1854, Albino Barbalho de Negreiros (r. dos Barris); Joaquim Barbalho de Negreiros; Luiz José de Souza Baraúna (Itapagipe); Olympio Deodato Pitanga (Preguiça); no ano de 1863, Francisco Antonio de Souza Braga (Taboão); Julio Marqueton (Graça); Luiz José de Souza Baraúna (+ G. I., da lad. Da Soledade).

    Uma referência sobre o que ocorria no exterior foi encontrada no periódico “O Monitor”, do ano de 1877, que noticiou dados sobre imigração, inclusive de mestres de dança, para os Estados Unidos, informando que a maioria vinha primeiramente da Grã Bretanha e suas colônias, depois, da Alemanha. As profissões e seus quantitativos de imigrantes registrados foram: 88 atores, 12 autores, 88 químicos, 417 clérigos, 5 mestres de dança, 39 dentistas, 421 músicos, 301 mestres de escola, 156 barbeiros, 2631 carpinteiros, 325 tanoeiros, 218 modistas, 2054 mineiros, 16536 agricultores, 38847 jornaleiros, 6493 criados, 313 monges e irmãs de caridade.

Dança no ensino formal

    Algumas instituições de ensino formal fizeram anúncios em periódicos da Bahia no século XIX, citando o ensino de dança. O Quadro abaixo mostra a listagem destas instituições identificadas na pesquisa.

Quadro 02. Colégios que funcionaram no século XIX ofertando aulas de dança no ensino formal na Bahia, seguidos por ano de ocorrência

    Alguns anúncios de aulas de dança publicados nos periódicos da Bahia do século XIX revelavam a diferença dos valores destas aulas em relação a outras.

    Em 1843 o “Correio Mercantil” anuncia aulas do “Collegio Fraternidade”, informando valores de cada disciplina paga a parte do valor anual: francês três vezes por semana a 3$rs por mês; música e piano 1$rs cada lição que ocorreria 2 vezes por semana; desenho três vezes por semana a 2$500 ao mês, dança três vezes por semana a 2$rs mensais.

    No ano de 1852 lê-se no periódico “O Guaycuru” um anúncio da abertura de classes de disciplinas específicas sob a responsabilidade de “Francisco de Paula Amor”, no qual os valores publicados para as mensalidades são: “primeiras letras” por 2U200; “Frances e Ingles” por 4U00 cada. As aulas de dança são cobradas por lição, cada uma no valor de 240 rs sendo que devem ser pagas juntas 12 delas.

    O “Almanak Administrativo Mercantil e Industrial da Bahia” do ano de 1860 publica anúncios do “Collegio Dous de Julho”, revelando os seguintes valores trimestrais de aulas: primeiras letras – 4$, latim e francês 5$, desenho 4$, música vocal e piano 4$ e dança 3$000 réis.

    “O Monitor” publica em 1881 parte das normas do “Collegio Athenêu Bahiano” referentes às pensões, informando os seguintes valores: “aula primaria”, 4$000 mensais; “secção preparatoria", 3$000 mensais, “secção accessoria” 8$000 mensais e aulas de dança 9$000 o trimestre.

    Em 1882 o “Collégio União” anuncia que as aulas de dança serão gratuitas sem que outra disciplina fosse citada nas mesmas condições.

    Nos anúncios publicados na primeira metade do século XIX, nota-se que as aulas de dança são citadas juntamente com as de música. No ano de 1846 o periódico “Guaycuru”, edição 204, publica na sessão “COMMUNICADOS”, sob o título “LITERATURA”, uma classificação dos conhecimentos humanos, registrando tratar-se de “versão do Dr. J. – R. offerecida a seos sabios e respeitaveis mestres, os Ill. Srs. Drs. J. Abbott, e I. Antunes de Azevedo Chaves”. Nesta publicação a dança é classificada na “Subdivisão das belas artes”, em seu terceiro item denominado “Artes dirigindo-se aos olhos”. No ano de 1877 “O Monitor” publica um artigo extenso intitulado “De que escola normal precisamos” e em determinado trecho a dança é abordada juntamente com a ginástica. Em 1881 o “Collegio Abilio” anuncia aulas de dança juntamente com ginástica. Esta mudança no decorrer do século, de uma concepção da dança como arte para seu entendimento como atividade física, foi notada em outras localidades brasileiras, como por exemplo, Rio de Janeiro (Zamoner, 2013b).

    No ano de 1878 “O Monitor” publica um texto intitulado “A aula de francez do Internato”, no qual é feita uma abordagem sobre o ensino de dança que permite perceber certo comparativo com aulas de francês:

    Pois não vê bem que uma professora lucraria mais em saber o canto, o piano, o desenho ou a dansa do que em saber o francez?

    As senhoras da nossa terra, que não conhece a gymnastica, são anêmicas porque não sabem: o unico movimento que lhes é livremente permitido é a dansa que hoje nenhuma pessoa de boa sociedade pode ignorar.

    Em 1881 “O Monitor” publica um artigo intitulado “A gymnastica nas escolas” e em determinado trecho a dança é abordada:

    Mas porque, em vez da gymnastica, não mandou a reforma ensinar a dansa?

    A dansa contribue para o desenvolvimento do corpo, e tem o atrativo do prazer.

    A dansa é instinctiva na criança: toda criança, ainda antes de saber falar, procura dansar.

    Ainda não se encontrou povo algum, que não tiesse suas dansas.

    Entre nós a dansa é uma necessidade, [trecho apagado]

    [...]

    No centro a população vive em grande isolamento; as familias não se frequento e d’ahi provêm a rudeza dos costumes.

    Para que mude este estado de cousas, basta que se introduzam ali uma phylarmonica e uma sala de dansa.

    Sem ir muito longe, ha na provincia cidades em que não se ensina a dansa, em que não há quem a ensine.

    Consequentemente, a dansa seria muito mais proveitosa em nossas escolas que a gymnastica.

    Si conseguíssemos ter nas aulas primarias de dansa e a musica, o si pudéssemos dotal-as de jardins, os mestres estariam habilitados para dispensar os castigos bárbaros e anachronicos, de que ainda usam.

    Alem disso seria muito mais fácil achar professores de dansa do que de gymnastica, e aquella não acharia da parte dos paes a repugnancia com que esta vae luctar.

    Para muita gente a gymnastica é uma cousa perigosa, e alguns a teem como indescente, tratando-se de meninas.

    Não diremos que tenham nisso razão; mas como desarraigar estes preconceitos?

    A dansa, pelo contrario, seria acceita com agrado, quer pelos paes, quer pelos alumnos.

    Um documento datado de 1882, intitulado “Relatório dos Trabalhos do Conselho Interino de Governo 1823-1889” registra um texto que discute matérias e sua pertinência no ensino formal, no qual lê-se:

    E poderiamos adicionar-lhes a dansa, de que a reforma não cogitou, e que é entretanto um meio de sociabilidade; poderia ella, juntamente com a musica e a gymnastica, occupar a atenção dos alumnos durante as horas de recreio.

    E’ verdade que pelo regimento interno está marcada apenas meia hora para recreio dos alumnos; porém parece-nos que este intervallo é sobremodo insufficiente; elle chegará quando muito para que os alunos sirvão-se de alguma refeição.

    Os inconvenientes das longas demoras nas salas de estudo são hoje reconhecidos por todos;

Artigos, notas e outros textos

    Em 1838 o “Correio Mercantil” dedica um espaço de quase uma página inteira a um artigo na seção de variedades, intitulado “A Dansa”. O texto inicia com a descrição de uma espécie de lenda e segue com aspectos da dança. Na seqüência foram destacados alguns destes trechos que revelam uma forma de pensar sobre dança.

    Em verdade o andar he o eio mais seguro de se desenvolverem todos os encantos de uma pessoa agradavel e garbosa, e daqui o grande merecimento da dansa. Vejão que tal era o pisar, o porte, o recacho dengoso da Sra. Venus, que não pôde esconder ao bom olho do capitão Troiano, o ser ella de origem celeste! A dansa, pois que he uma das artes liberaes, tem por fim o realçar da belleza, d’onde se segue que não deve metter-se a dansar quem não fôr dotado das precisas qualidades corporaes. Em um dos diálogos de Luiano, apparece um philosopho reprehendendo a um de seus amigos o gostar da dansa e frequentar bailes.

    [...]

    Ao depois passa a mostrar que a dansa merecera a approvação e estima dos maiores homens de todos os seculos, tanto assim que o divino Homero da a Merion o epitheto de bom dansador, e afirma que, pela sua bella presença e dexteridade adquirida nesse exercicio era tido pelo mais guapo e completo cavalheiro de quantos havia assim no exercicio grego, como no troyano.

    [...]

    ...e nem lhe escapa o exemplo do virtuoso Socrates, que não satisfeito de admirar nos mais este exercicio, depois de velho apprendeu a dansar! Havia ter que ver um velho de barbas até a cinta, enfiado em uma capa assim por modo de timão, dando pernadas, fazendo piruetas, bamboleando-se, e saracoteando os ferrugentos quadriz no meio de uma sala!

    [...]

    Todos os povos, quer polidos, quer selvagens amão e cultivão a dansa (...) só um rigorismo demasiado prescrevera absolutamente esta arte, que nada tem de criminosa, uma vez que se contenha nos limites do decoroso e honesto. A dansa fortifica os membros, dá flexibilidade aos musculos, dá garbo, majestade e graças ás maneiras, e assim ajuda grandemente a dar realce á belleza. Mas como esta arte pressuppõe certos dotes da natureza, claro está que não he para todos, nem em todos assenta bem a dansa. Em verdade quem póde ver sem fastio, ou sem estoirar de riso a um arganaz pernilongo, alcatrosado, com corpo, em summa, de socó, ou de galinha de mangue no meio de uma sala a dansar, por exemplo, a cachucha? Ou um sujeito obeso com contornos de anta, ou vera effigie de Esopo; mettido em restea a dançar quadrilhas francezas? Quem haverá tão taciturno e melancolico que possa conter o serio, vendo uma senhora repulhuda e que parece feita a enchó, com uma enorme panturra, alagada de suor a dansar o ril? Como se soffre um sujeito de pernas tortas e mui compridas, um francatripas, a quem se pôde chamar (em latim macarrônico) pernarum desengaçamentarum mearum, dansando a gavota, o mantenello, ou o solo inglez?

    Nem tudo he para todos, nem todos servem para tudo. A dansa requer certa idade, um corpo bem proporcionado e esvelto, e certo geito, certo donaire natural; e quem não tiver estas partes não se venture a dansar sob pena de se tornar ridículo e fazer-se alvo dos apodos e motejos dos espectadores.

    [...]

    Se a dansa só cabe a certas pessoas, tambem deve em meu humilde entender ser relativa aos climas e aos habitos dos povos. Certas dansas altas e violentas são proprias de paizes frios; e por isso não me parece adequado ao nosso Pernambuco o tal estrambolico galope. Entretanto, como somo macaquinhos, tambem adoptamos o galope, embora seja uma especie de pulha por ser um dos passos das bestas, e só sirva para nos fatigar. Em outras eras usava-se o minuete rasteiro e o da corte, que erão uma monotonia, e uma verdadeira massada; mas ainda hoje ha velho e velha que chorão o bom tempo dos minuetes, e bem pôde ser que algum attribua a actual fome de tudo a extincção dessa dansa, como castigo do céo.

    Desaparecerão os minuetes, o sabão, a comporta, o côco, o passapé, e dessas antigulhas só permanece ainda o boliçoso landum, vulgo o Bahiano; mas á dizer a verdade, raramente deixará esta dansa de peccar por libidinosa, pelo que nada se perderia, se a pozessem em desuso. [...] Já aqui andarão em voga umas walsas, que em verdade erão escandalosas, e uma mina para os nossos gamenhos, e conquistadores do reino de Cupido. A joven andava sempre nas derretidas mãos do calafatinho, ora toda derreada, ora affectando de fugir-lhe, e o galgo ferrando-a pela cintura, ora, fingindo-se desmaiada, e o caridoso par limpando-lhe o rosto com o lencinho ad hoc, e de tal arte se embrilhavão elle e ella, que parecião duas cobrinhas brincando. Quem tem juízo, e conhece o mundo não mette em taes debuxos a sua mulher, ou a sua filha. [...] Danse-se, sim. Hajão bailes, e sardos; mas guarde-se sempre o decóro. A cachucha, por exemplo, póde ser dansada por uma menina até idade de 10 annos; mas he indecente em uma senhora honesta. E ainda dirão que o Carapucei-he impertinente e rabugento? Bem longe disto, até approvo a dansa, com tanto que esta não transponha as balizas da moderação, e honestidade. Disse.

    (Carapuceiro)

    No ano de 1877, o “Correio da Bahia” publica um artigo intitulado “As danças antigas”, iniciando o texto abordando os bailes e banquetes de gregos e romanos que promoviam números de dança nos intervalos da alimentação. O artigo segue discorrendo sobre os excessos em conseqüência do vinho nestas ocasiões, depois, sobre a invenção da dança, a prática de bailes em funerais gregos e outros aspectos das práticas romanas.

    O “Correio da Bahia” publica em 1877 um artigo intitulado “Os bailes”, no qual discorre sobre o assunto. É assinado por “França Junior” e parece ter sido extraído de outra publicação. De qualquer forma, o artigo é muito relevante para o entendimento de diversos aspectos de pelo menos três tipos de bailes do século XIX, por esta razão será tratado em detalhes. Na seqüência destacam-se trechos que abrem o assunto no artigo.

    O baile e a musa inspiradora dos idyllios aos vinte anos.

    Não ha livro de versos que não tenha um canto consagrado à walsa, e raro e o romance que elle e ella não se encontrem pela primeira vez em um baile.

    Estudemos pois os bailes com todos os seus encantos e ridiculos.

    Ha bailes de primeira, segunda e terceira classe, como os enterros.

    Os de primeira constituem o imperio da elegancia sob as fórmas as mais seductoras.

    Por entre luzes e perfumes desfila o sexo adorado, com a respiração offegante, espaduas de neve, e arrastando sêdas, filós e velludos de todos os matizes pela mescla alfombra dos salões.

    O sexo feio chega até a assumir as proporções do bello sob o uniforme da casaca preta, calça idem, gravata branca, luvas gris perle e.... botim de polimento, como dizem os caros irmãos de além mar.

    Nessas reuniões, onde domina a nata da sociedade, não se dá um passo sem consultar o codigo da equiteta e o ultimo decreto do bom gosto.

    As moças andam inclinadas para diante, compellidas a tomar tão incommoda posição pelos saltos do sapatinho a Luiz XV.

    Os homens vergam-se para traz, para que o plastron da alva camisa se ostente em toda a plenitude, á semelhança do papo de um perú recheiado, antes do ir ao fogo.

    Quando tiram pares para quadrilhas não dispensam a cortesia do estylo, a qual consiste em unir os pés e vergar o corpo para frente, deixando pender os braços com estudada languidez.

    Esta fórma de bodoques ou lua nova, descripta em todos os tractados de etiquetometria, é executada á risca pelo gentleman.

    As senhoras têm o leque, que mandam com mais ou menos graça, segundo a situação o exige.

    O elegante, que traz cabello repartido ao meio e usa de «pastinhas» como o bello sexo, também empunha o seu leque, o gibus; que é uma especie de chapeo chato, como um figo passado, e em cujo forro de setim azeviche ostenta-se, em relevo, dourado monograma.

    O que faz toda essa gente que enche o salão principal, e transborda pelos corredores e salas adjacentes?

    Conversa e dansa.

    O artigo segue simulando diálogos do que considera “importantes assumptos”, exemplificando com conteúdos como, por exemplo, o calor que faz em determinado ambiente.

    O trecho seguinte dedica-se à dança, ainda discorrendo sobre os bailes de primeira classe, como se percebe no texto destacado que segue.

    Quanto á dança, manda a boa etiqueta que as walsas sejam vertiginosas, ao passo que as quadrilhas consistem em andar para diante e para traz, assim com ares de quem passeia inconscientemente, depois do jantar, para fazer o chyto.

    O epilogo dos grandes bailes é o cotillon.

    O diretor deste gênero de dança é em geral magrinho, walsador de primeira força, trajando no ultimo apuro, com fóros de cidade, em summa, no mundo elegante.

    Na seqüência o autor do artigo dedica-se a descrever os bailes de segunda classe.

    Figurem os leitores um sobrado com janellas de peitoril, na Prainha, Wallengo, rua do Livramento ou em qualquer ponto da Cidade Nova.

    Entremos pelo corredor mal illuminado e vamos direto á sala, onde uma orchestra, composta de um ophocleyd, um pistom, uma rabeca e um clarinete manhoso, executa a polka Zizinha.

    Alli não ha ceremonias, nem etiquetas.

    Para assistir áquella festa, não recebemos, com oito dias de antecedência, pomposo convite em papel doré sur tranche, nem se nos impõe a casaca.

    O dono da casa encontrou-nos ao meio dia, no meio da rua, beteu-nos amigavelmente no hombro, e disse-nos como riso da satisfação nos lábios:

    Espero-te hoje, á noite, lá em casa, para tomar uma chicara de chá. Nada de ceremonias. Vai assim mesmo como estás, e leva os teus amigos.

    Já vêm, portanto, os leitores, que fiquei autorisado a leval-os, e essa a razão por que nos achamos neste momento na sala do baile.

    Emquanto polkam, vejamos o que nos cerca.

    Meia duzia de crioulas com vestidos brancos e fitas á cintura guardam a porta do corredor, que dá entrada para sala, commentando o que se passa.

    Neste ponto do texto, novamente o autor simula diálogos sobre situações que ocorrem no evento e em seguida, retorna a descrição da reunião:

    Ao lado, em uma pequena alcova, jogam o sólo diversos individuos.

    Pelo corredor etendem-se em alas os convidados, cuja toilette, com pequenas variações, consistem em sobrecasaca abotoada, calça branca e luvas pretas.

    Fuma-se por toda parte.

    No salão avulta o bello sexo, cujos vestuários ostentam as mais variegadas côres.

    Aqui é um vestido verde com enfeites côr de rosa, acolá vê-se o amarello com um mundo de babados e fôfos, que dur-se-hia aquelles cartuchos de amendoas, que distribuíam outr’ora aos anjinhos de procissão; mais adiante é o escalarte em lueta com o roxo; uma combinação de côres, emfim, como não seria capaz de imaginar o pintor o mais extravagante.

    Os penteados elevam-se um palmo acima do cimeipot, e vêm perder-se nas costas em dous negros cachos grossos e duros.

    Prossegue o autor abordando a danças e músicas praticadas nestes eventos.

    A maneira por que alli se dança é diversa da dos bailes de primeira ordem.

    O cavalheiro não sai nas quadrilhas sem descrever uma especie de s com o pé direito, e tem o maior cuidado em acompanhar o compasso da musica, voltando o corpo ora para a direita ora para a esquerda, com os braços em forma de arco e punhos cerrados.

    As damas inclinam-se para diante, e dançam aos saltinhos com a cabeça pendida para o lado.

    As walsas são dançadas a tres tempos.

    Quanto ás polkas consistem em arrastar os pés e dar ás cadeiras um certo movimento de fado, que não deixa de ter a sua originalidade.

    O repertorio musical para esse gênero de dança compõe-se da – Zizinha, Que é d’ella as clares (?), Só para moer, Sahe cinza, Copenga (?) não fórma, Quebra rude e por ahi além.

    Na seqüência o autor cita que nestes bailes existem três tipos, os “recitadores”, os “marcadores de quadrilhas” e os “suplentes”. Sobre os recitadores, registra que não dançam, nem comem ou conversam, apenas sentam-se em um sofá como se fossem indiferentes às futilidades e banalidades daquele mundo, aguardando alguém pedir uma recitação, o que geralmente é feito pelo dono da casa. Conforme o autor, após o pedido do dono da casa para o recitador recitar, esse o faz ao piano.

    Passa o autor a descrever o marcador de quadrilha.

    O marcador de quadrilhas constitue um typo completamente oposto áquelle.

    E’ vivo, travesso, buliçoso e alegre.

    O seu reinado começa do meio do baile para o fim.

    Quando á dona da casa vê que o enthusiasmo vai arrefecendo, dirige-se áquelle salvador da situação, e diz-lhe:

    -Sr. N... inflúa.

    O sr. N.... empertiga-se como um homem que tem consciencia do quanto vale, pula para o meio da sala, bate palmas e exclama:

    -Meus senhores, uma quadrilha. Andem, tirem os pares e vamos a isso.

    Quando chegam os dançantes á ultima marea, entra elle no exercicio de suas funcções, eagora o vereis!

    - Grande chaine! Em avant deux! Tour! Grand promenade! Balancez! Damas ao centro e cavalheiros á roda! Caramujo! Caminho da roça! Volta que está chovendo!

    No meio do enthusiasmo grita um cavalheiro: Trocar com a dama da esquerda!

    Esta marca é sempre promovida pelo individuo que está mal servido de dama.

    -Grand galop, continua o marcador, Changez! Roda! Desanda!

    E uma vez recebido o impulso, não pára mais.

    Alguns chegam até a fechar a porta da rua e esconder a chave, afim de que a aurora os sorprehenda dançando.

    Após este trecho o autor explica o que são os suplentes e encerra a descrição dos bailes de segunda classe.

    Figurem uma quadrilha formada.

    No momento em que a musica vai começar, descobre o mestre de sala que falta um vis á vis.

    -Esperem, lá! Vai á sala do jogo, e arranca do sólo um parceiro, que, por maiores que sejam os protestos que faça, resigna-se a deixar em cima da mesa a ponta de um cigarro apagado, e vir preencher a lacuna.

    Chegados ao salão, olha o mestre de sala para todos os cantos, afim de vêr si descobre alguma dama, e dispara com o seu prisioneiro para um lado.

    [...]

    E lá vai o sujeito com uma respeitavel matrona de cincoenta annos depor a sua oferenda no altar de Terpsychore.

    Outras vezes é uma menina de oito annos, ou alguma solteirona, que, antes, que o individuo se approxime, já está de pé, recebendo o convite como um maná que lhe cahiu do céo.

    Esses bailes terminam quando o sol abre as portas douradas do Oriente.

    Os convidados tomam o primeiro bond de tostão que passa, conduzindo cada um a sua trouxinha de doce, e vão se entregar ás doçuras de Morpheu.

    A descrição que segue dedica-se aos bailes de terceira classe, que segundo o autor, não reúnem a flor da sociedade e sim a “flor da gente, que é a flor da politica”.

    Têm por theatro uma casa térrea, de rotula e janella, em cujos peitoris ha sempre uma fila de espectadores, que approvam e reprovam, commentam e ampliam o que vêm lá por dentro; sendo necessário muitas vezes a intervenção policial para impedir conflitos.

    A sala recende á agua florida, e á essencia de canella e alfazema.

    Escusado é dizer que não ha etiquetas.

    A musica, que compõe-se de flauta, violão e rabeca, é executada por amadores.

    Os cavalheiros trajam calça flôr de alecrim e paletot alvadio; as damas côres tão fortes como os perfumes de que usam.

    Os mais elegantes põem entre o collarinho e o pescoço um lencinho branco em formade bejú, afim de que o suor não lhes desconcerte a toilette.

    O serviço é o mais succulento possível: peças de carne, linguiças, peixe frito em abundancia, conservas de pimentões, café e cervêja marca barbante a fartar.

    Não se fala: grita-se;

    Não se ceia; come-se.

    Não se bebe: rega-se.

    De certa hora em diante, quem estava fóra já está dentro, e toma parte na função, como si estivera desde o principio.

    E’ o ideal de igualdade sonhado por Platão!

    Eis em pallidas côres o que são os bailes.

    São quase todos os mesmos.

    A diferença única, como nos enterros, é que este tem menos galões, ao passo que aquelle tem mais penachos.

    Um texto da “Assembleia Provincial” publicado no “Correio Mercantil”, em 1847, aborda a dança em um determinado trecho, inclusive citando “dança dos salões”, expressão encontrada nesta pesquisa com ocorrência mais antiga. O trecho exato foi reproduzido abaixo.

    Parece-me que ouvi ao nobre deputado dizer que esse dinheiro também havia de servir para escola de dançarinos... Ora isto não tem cabimento! Que as companhias theatraes, acrescentadas de corpo de baile tenhão um subsidio, ou maior subsidio, tirado da consignação para o theatro, eu admito. Mas fazer aqui os dançarinos!.... Senhores, a fabrica de dançarinos está na Europa; aqui nos devemos contentar com os que de lá poderem vir-nos; os diletante aprenderão nos collegios de educação para a fácil dança dos sallões.

    Esta declaração pelo que é possível entender feita na “Assembleia Provincial” parece ter provocado uma reação. Na edição seguinte do mesmo periódico encontra-se a continuação do texto extenso, sob o título “ASSEMBLÉA PROVINCIAL. SESSÃO EM 10 DE MAIO DE 1847 (Continuação do número antecedente)”, no qual encontram-se os trechos que seguem.

    Eu não propuz a criação de um conservatorio, porque isso depende de muitas circunstancias, sendo a principal uma maior quantia para o fim de ser montado convenientemente; limitei-me á propor uma escola de mero ensaio, que não poderá durar mais de 6 á 8 mezes. Depois não tive a honra de propor a creação de uma companhia de dançarinos; quis somente que houvesse um mestre de dança, que ensinasse aos cômicos, e lhes fizesse adquirir as atitudes graciozas, que são precizas na scena. Isso não significa a creação de companhia de dançarinos, como o quiz entender o sr. deputado.

    [...]

    É preciso que não confundamos esta ultima arte [mímica] com a dança; esta é mui diversa daquella outra que se chama mimica. Isto bem o sabe o nobre deputado; e se fallou em dança, foi por confuzão de idéas. Sabemos que a dança não é a arte que ensina aos artistas dramaticos a darem ao corpo posições elegantes e graciosas, para isto temos a mimica. Mas, acaso possue a Bahia um professor de mimica, ou alguma coisa que com isso se pareça?....

    “O Noticiador Catholico” em uma edição de novembro de 1848 dedica um longo texto à “Educação da mulher”, discutindo em alguns trechos, conforme transcrição que segue, a música e a dança.

    Acredita hoje uma moça, que tem posto o remate á obra de sua educação, quando por sobre um teclado, rico de harmonias, corre molemente os macios dedos; ou quando em calorosa valsa move os passos, e os requebros d’entre os applausos dos espectadores: mal sabe ella que apenas tem tocado os pontos menos importantes da educação, ou, talvez que o diga melhor, mal sabe ella, que ainda não deo um passo para a educação propriamente dicta! E com effeito eu não reputo a musica, e a dança, que por accessorios d’ella, e erro julgo de prudência, e de economia tomar-se, como se toma, accessorios por essenciaes. Não as proscreve; somente condemno a exclusão de cousas mais uteis. Uma educação só de sons, e de movimentos julgo en muito á baixo da cathegoria da mulher, esse ente destinado á amaciar os espinhos da vida do homem aqui na terra, não pode, absolutamente o digo, não póde preencher este seu fim só com dotes tão mesquinhos. [...]

    E se não, perguntára eu porque razão se dá só á mulher esta educação para dizer toda sensual? Si o homem olha para estas cousas como divertimento ás sérias fadigas de estudo, ou dos negocios, não sei eu porque a mulher, sendo igualmente racional, só se forma entre superfluidades que em nada vigorão, antes corrompem o espirito. E as consequências? Ahi as tendes n’este gosto desmarcado pelo luxo, n’essa fome de passatempos vãos, e recreios inúteis, e n’esse pequeno numero de moças ilustradas que rutilão no céo da literatura Brasileira.

    Em 1850 o mesmo periódico “O Noticiador Catholico”, chega a publicar diferentes artigos citando a dança, afirmando opiniões como:

  • A dança é um prazer criminoso;

  • Quem vai ao baile, leva consigo a vaidade como companheira; e a vaidade he uma grande disposição para as affeições más, amores perigosos e loucos, quase sempre nascidos na dansa” [...] “Se tiverdes occasião de ir ao baile, não vos sendo possível uma esquivança, tomai sentido em vos, e na vossa dança. Que seja ella modesta, cheia de dignidade e boas intenções;

  • Em quanto os philosophos dissertão contra as festas, em todas as cidades se multiplicão os theatros, as salas de dansa, escholas de vícios, e lugares de deboxe de todas as especies. Uma falsa politica, um interesse sórdido, um fundo de irreligião, persuadem que taes estabelecimentos são necessarios: elles o não erão quando o povo passava nos templos a maior parte dos dias de festa.

    “O Monitor”, datado de 15 de maio de 1878 publica um texto sobre a educação no qual lê-se:

    As senhoras de nossa terra, que não conhece a gymnastica, são anemicas porque não sabem: o unico movimento que lhes é livremente permitido é a dança que hoje nenhuma pessoa de boa sociedade pode ignorar.

    A “Gazeta Médica da Bahia” publicou alguns artigos abordando a “dança de S. Guido” ou de “S. Vito”, doenças citadas também em anúncios de fármacos como por exemplo, xaropes. Em 1883 em um longo artigo sobre epidemias é possível ler trechos em que a dança é citada, conforme segue.

    Ainda hoje nas tradições, na língua e no espirito de muitos povos existem indeleveis recordações d’estas epidemias. Fidedignas narrações dizem-nos o que foi a dança de S. Guido ou de S. Vito na Belgica, na Hollanda, na Allemanha desde o seculo undecimo; epidemias análogas produziram a tarântula na Italia, o tigretier na Abyssinia, o convulsionismo em França e a dança macabria em diversos paizes.

    [...]

    Os ajuntamentos dos enfermos em romarias ou para solicitarem a compaixão publica; a idéa falsa de que a molestia era uma especie de desejo irresistivel de dançar e que só na dança não interrompida e cada vez mais convulsa e desordenada estaria a saciedade d’esse desejo e uma supposta melhora; a prostração que se succedia a este delirio crescente do movimento e que naturalmente exercia sobre o espirito d’esses individuos e sobre a propria innervação uma influencia progressivamente mais grave; as praticas religiosas que faziam dos atacados outros tantos possessos; tudo isso contribuiu para deixar d’aquellas epidemias taes impressões que ainda hoje celebra-se nas provincias do Rheno, não obstante as tentativas do Governo e do clero com o fim de abolil-a, uma popularissima procissão, chamada das cabras, em que todo préstito dirige-se ao templo a dar tres pulos para diante e um para traz, movimentos que recordam, em mão arremedo, as desordens de locomoção dos antigos enfermos.

    Uma sessão de variedades do “Pequeno Jornal”, publicada em 1891 apresenta textos humorísticos curtos e um deles, conforme segue, tem como temática a dança.

    Aos 15 annos a dança é um prazer; aos 25 um pretexto; aos 40 uma fadiga.

    Ironicamente, o mesmo periódico “Pequeno Jornal”, no mesmo ano, 1891, publica uma notícia sobre um concurso de dança para mulheres casadas em um salão de baile de uma localidade chamada “Pudersbock”. A vencedora fora uma senhora sexagenária empolgada, que já premiada, fora convidada por um cavalheiro para uma valsa, durante a qual acabou falecendo.

    Ainda em 1891 o periódico “Pequeno Jornal” publica um texto de literatura intitulado “O minuete”, no qual um dos personagens é um professor de dança. Este texto foi publicado em várias outras localidades brasileiras nesta época, a exemplo do que registra (Zamoner, 2014c) sobre o Maranhão.

Anúncios

    Um dos primeiros anúncios constatados nesta pesquisa envolvia atividades em uma sala de dança, tendo sido publicado no periódico “Idade D’Ouro” em 1812. O texto exato pode ser lido na seqüência.

    Participa-se ao Pùblico, que no dia Quarta feira que se hão de contar 24 do corrente se ha de abrir uma Salla para toda qualidade de dança, na rua direita na Misericordia; e a pezar de que o Mestre Sala Antonio Luiz Soares tenha convidado varias pessoas para entreter aquelle dia e noite; com tudo convida geralmente a todos e quaesquer Senhores que quiserem ser expectadores, ou entrar no divertimento, com tanto que hão de comparecer vestidos decentemente de cazaca.

    O “Correio Mercantil”, edição 103 de 1840 anuncia sapatos para dança com o texto reproduzido na seqüência.

    -Na loja de Victorio do Nascimento Pinto, a rua direita de Palacio, n. 77, acha se á venda um optimo sortimento de sapatos envernisados de todas as qualidades, proprios para dança, tanto para homem como para senhora, assim como botins de duraque para senhora e de bizerro para homem, chegados ultimamente.

    No ano de 1846 “O Guaycuru” publicou na sessão de avisos outro anúncio para venda de sapatos destinados à dança.

    Vende-se na loja de couros e cançado ás Portas do Carmo n.o 23, uma porção de çapatos francezes de olivado de homem proprios para dança. Vende-se por preço muito commodo em razão de o dono os ter comprado para embarcar, e agora achar-se obrigado a ter demora nesta cidade.

    Em 1847 o “Correio Mercantil” publica um anúncio de um senhor que pretende encontrar um professor de piano e dança.

    O tenente coronel Manoel João de Meirelles paga bem a pessoa que for a sua morada, na freguesia de Santa Anna do Catú, ensinar uma senhora a tocar piano e a dança: trata se com Francisco Cardozo da Cunha.

    “O Monitor” de 1879 publicou um anúncio de produtos para baile, cujo texto segue.

    FLORES

    Grinaldas para os modernos penteados de bailes, casamentos e soirées, unicamente na loja do Ballalai cabelleirleiro Travessa do Guindaste dos Padres n. 29.

Sociedades de dança

    Pinho (1970) cita que como na Corte, a fina sociedade da Bahia reunia-se em festas de clubes de dança, citando a “Recreativa” e a “Phileuterpe”, sem referenciar datas.

    Nesta pesquisa foram encontradas 7 sociedades nos nomes das quais publicaram-se atividades de dança.

Quadro 03. Sociedades e Clubes sobre os quais publicaram-se textos a respeito de 

atividades de dança em periódicos da Bahia do século XIX e anos em que foram citados

Espetáculos

    O periódico “Idade D’Ouro” publicou em maio do ano de 1814 um relatório de despesas com uma produção teatral na qual parte dos recursos foi destinada a “dança”. Esta publicação permite entender que nesta época já existiam espetáculos com números de dança na Bahia.

    Em 1841 “O Correio Mercantil” anuncia um espetáculo que abrange uma dança intitulada “O Baile de la Tranca”, executado por “Mr. Robert”, segundo o anúncio, “em caracter Chinesco”. Em edições subseqüentes a mesma dança é anunciada com a participação de “Madame Robert”. Ainda em 1841 o mesmo intérprete é anunciado no periódico “O Correio Mercantil”, como responsável por números denominados “A Dança dos Gatos” e “A Dança dos Diabos”.

    Ainda em 1841 o “Correio Mercantil” anuncia a apresentação de um Drama no “Theatro Publico”, quando, ao final do primeiro ato “Mr. Marqueton” “executará um excellente solo”. Em 1843 o “Correio Merantil” anuncia um espetáculo no “Theatro de S. João”, em que “Julio Marqueton”, um dos professores que anunciou aulas de dança no mesmo período, dirige um número de dança intitulado “Quinteto Chinez”. No ano seguinte o mesmo periódico anuncia no “Theatro Público” um espetáculo em benefício de “Madama Léon Giavelly” no qual é apresentado o número “Grand pas de deux de la Sylphide”, conforme o anúncio “Dansa nova na Bahia, executada pela Beneficiada e o Sr. Marqueton”. Nesta pesquisa o nome “Marqueton” não foi constatado em libretos europeus do século XIX.

    “O Monitor” do ano de 1876 publica um texto curto da “Associação dos Artistas Líricos” desculpando-se por só apresentar duas óperas para seis recitas de assinaturas, justificando “serem operas grandiosas e precisarem de mais ensaios, além de que as repetições das operas serão com intervalos de dança”.

    Neste mesmo ano de 1876 “O Monitor” publica alguns anúncios de espetáculos citando uma companhia italiana e os nomes de “Marcelina”, “Ambrosina” e “Clotilde” em números de dança. Um deles cita uma recita da “Companhia Lyrica Italiana” no “Theatro S. João” contendo no intervalo uma dança a caráter, denominada “Passo Hespanhol”, realizada por “Marcellina e Ambrosina, com uma linda variação dançada por Mme. Clotilde”. Estes três nomes femininos foram constatados em anúncios de aulas de dança em São Paulo, entre os anos de 1877 e 1883, eventualmente, citando-se o sobrenome Martinelli. Desta forma, considera-se a possibilidade das três professoras terem vindo da Bahia para estabelecerem-se futuramente em São Paulo, onde também estiveram relacionadas a atividade de marmoraria (Zamoner, 2013d).

    No ano de 1877 “O Monitor” noticia um espetáculo da “Companhia Lyrica de Zarzuella” no “Theatro S. João”, citando como dançarinos o “Casal Montoro”.

    Em 1879 “O Monitor” noticiou vários espetáculos com números de dança da “Companhia Lyrica Italiana Empreza de Thomaz Pasini”.

Danças

    As danças cujos nomes constataram-se mais vezes foram, nesta ordem: Valsa, Polca e Quadrilha. Outras danças foram lidas em menores quantidades ao longo da pesquisa, como, por exemplo: Contradanças, Batuques, Lundu, Minueto, Hespanhola, Galopes, Cotilon, Mazurca, Shottish e Cracoviana.

    Na literatura que se refere à Bahia do século XIX nota-se relevância dada aos batuques e lundus. É notadamente importante abordar estas práticas no contexto da Bahia em virtude dos seus desdobramentos para a Dança de Salão.

    Reis (2002) discute o caráter polissêmico das palavras “batuque” (música, dança, reunião em que música e dança de mesmo nome são praticadas) e “samba”, especialmente no contexto do século XIX. Segundo Sousa (2008), o conde dos Arcos que governou a Bahia entre 1810 e 1818, diferente de seu antecessor conde da Ponte, entendia que para controlar os escravos precisava reduzir punições e permitir que se expressassem por meio de suas danças e batuques. Conforme a autora, o conde dos Arcos acreditava que segregar cativos para prática de seus “batuques” favorecia a desunião e dificultava a organização de uma revolta maior enquanto reprimia com violência manifestações de rebeldia. Esta postura não foi bem vista inclusive pelos negociantes da Bahia que achavam mais difícil manter a disciplina diante da liberdade em praticar os batuques e, conforme Sousa (2008) o marquês de Aguiar teria lembrado ao Conde dos Arcos que no Rio de Janeiro: “além de não ter havido até agora desordens, bem sabe V. Exa. que há uma grande diferença entre os Negros Angolas e Benguelas nesta Capital e os dessa Cidade, que são muito mais resolutos, intrépidos e capazes de qualquer empresa, particularmente os de nação Aussá”. Nogueira (2008) considera ainda a questão religiosa e a conversão de africanos ao catolicismo como parte do contexto. Para o autor, inicialmente as danças de origem africana não foram tão reprimidas pela Igreja, pelo contrário, foram aceitas quando estabeleceram, de alguma forma, relação com o catolicismo, o que mudou a partir de meados do século XIX quando a Igreja Católica passou a empenhar-se no controle da religiosidade popular. A questão sobre reprimir ou não o batuque permeou praticamente todo o século XIX conforme foi observado nesta pesquisa, mostrando que sua prática perdurou ao longo deste século, naturalmente trazendo influências para outras danças, inclusive aquelas praticadas nos salões. Segundo Nogueira (2008), havia um temor durante o período imperial, que as festividades dos escravos fossem pretexto para organização de revoltas e também que subvertessem os costumes europeus. Spix e Martius (1976) fazem referência a prática do “quase imoral batuque” e do “sensual lundu” em festividades públicas ocorridas na primeira semana de 1819. Há autores que entendem o batuque como antecessor imediato do Lundu (Kiefer, 1977; Araújo, 1967), outros, relacionado à umbigada e ao samba de roda (Paim, 1999).

    Quanto ao Lundu, independente do constrangimento de alguns, era sucesso no Teatro São Pedro de Alcântara, no Rio de Janeiro, onde vivia a família real, como bem constatado em (Zamoner, 2013b, c). Embora fosse uma dança ligada a cultura dos escravos, sofreu adaptações para ser praticada nos salões da alta sociedade (Reis, 2002). Conforme Veiga (1984), Martius registra graficamente o Lundu na Bahia próximo ao ano de 1818 como “Brasilianischer Volkstanz”, citando-o como “lundu de salão”. Na Bahia, Tonellare registra a prática do “voluptuoso” Lundu em 1817, citando o caso de uma senhora que, sob o efeito do álcool entregou-se a esta dança e depois, sóbria, teria pedido ao governador que impedisse a representação do Lundu no teatro (Verger, 1981). Houve de fato discussão sobre a possibilidade de banir o Lundu dos intervalos dos espetáculos do Teatro São João, segundo correspondências datadas dos anos de 1836-1837, entre autoridades soteropolitanas transcritas por Luiz Américo Lisboa Júnior (1990).

    Em 1844 o “Correio Mercantil” apresenta na sessão “Variedades” um artigo sob o título “A Polka”. Na seqüência apresentam-se alguns trechos deste artigo.

    Não ha ninguem da boa roda que não tenha ouvido fallar da polka – e que não tenha fallado da polka. Em todas as casas do tom se toca a polka: todos os armazéns de musica vendem a polka: e todas as amigas pedem umas ás outras a polka para aprenderem: emfim, a polka já está entre nós aclimada sem ainda cá ter chegado. Pois bem, sete desiderandum a dansa maravilhosa dos salões de Paris, dos theatros de Paris, o assumpto dos voudevilles de Paris – acaba de chegar. He mais uma importação que nos vem da França, furtada aos direitos apezar de toda a fiscalisação de alfandega (...).

    [...]

    A palavra polka quer dizer polaca. Os Polacos chamão ao paiz polska, e polka ou pulk foi tambem o nome de um regimento da Polonia. A dansa que hoje chamão assim he conhecida naquele paiz pelo nome de mazurek, que vem de Mazowia um dos mais bonitos logares da Polonia. Todas as arias nacionaes deste povo desditoso tem um caracter peculiar, festivo ou de melancolia que se não confunde com nenhuma outra musica. A mazurek he a menos antiga destas arias, mas a typo de todas as suas dansas. O compasso da mazurek he em tres tempos; o seu movimento varia muitas vezes e exprime adoravelmente os sentimentos suaves e ternos, ora graciosos, ora patheticos, ora vivos ora risonhos; as figuras e passos são uma serie de movimentos complicados, com certo systema de voltas, com menos rapidez do que a valsa, a cadencia de um motivo em notas picadas em valores desiguaes, que requerem grande energia e leveza para boa execução.

    As principaes figuras são a roda, a troca dos pares e a cadêa.

    São a dansa e canto mais predilectos dos Polacos. Por ultimo, apezar do que muita gente pensa, nada tem de voluptuoso; he certo que os Francezes, que transtornão tudo que lhes cahe nas mãos, lhe tirão muito da sua singeleza popular. Cada mestre de dansa se arvorou em legislador da polka, de maneira que a principio foi uma anarchia dansante nas assembléas de Paris. Mas ultimamente a celebre dansarina Maria Dumilatre dansou a polka na Grande Opera, e fez tamanho furore, que a sua maneira de polkar ficou definitivamente adoptada. Esperamos que Madame Mahile queira ser tambem nossa legisladora da polka, assim como he o iman dos nossos olhos, e que em vez de nos krakoviar até a sociedade, nos polkatise antes eternamente.

    Com effeito, era já tempo de uma reforma na dansa. O romancismo devia invadir tambem os domínios de Terpsichore. A classica dansa já enastiava por monotona, e a valsa já estava mais caduca que o minuete da côrte. Terpsichore imperou tempo em demasia, foi a deusa da Grecia que mais custou a desalojar, mas finalmente elle s’en va, graças ao influxo do norte, donde tem vindo as reformas em todos os tempos, desde a politica, com os Saxonios e os Godos; da religião com Luthero, de jurisprudencia com [ilegível]: da filosofia, com Kant; da astronomia, com Copernico, da historia natural, com Linaeu; da medicina, com Bichat, da literatura, com Tiock, da poesia, com Goethe, da Historia, om Herder: da musica, com Mozart; até da dansa, com a polka....

    Pois viva a polka! E não polkalisemos mais com os leitores.

    Silva Leal

    (Revista Universal Lisboense)

    Em 1876 a Polka volta a ser alvo de um pequeno artigo, no periódico “O Monitor”, abordando-se um pouco de sua história, como pode ser constatado na seqüência.

    Origem da polka – Em 1830, diz um jornal estrangeiro, uma camponeza da Bohemia, criada de servir, desenfadava-se certo dia em casa de seus amos, que haviam saído: e começou a ensaiar uma dança rustica, a que adicionou uma canção da sua aldeia.

    Emquanto dançava, chegaram os amos e gostando do ensaio pediram-lhe de dar o espetaculo no seu salão, onde se achava tambem o musico Jose Neruda, que os visitava.

    Este tomou nota da musica e do passo: e a nova dança foi depois bailada em publico com muito applauso.

    Em 1835 foi dançada em Praga, onde se chamou polka, que quer metade, por causa do meio passo.

    Quando annos depois foi tocada em Vienna por uma banda de musica e obteve grande exito; e em 1840 um bailarino de Praga, chamado Raad dançou a polka pela primeira vez em um theatro de Pariz.

    Desde então popularisou-se por todo o mundo.

    No ano de 1882 a “Gazeta da Bahia” anuncia que haverá baile no “Theatro S. João”, citando Valsas, Polkas e Quadrilhas. A prática de bailes em teatros foi verificada em outros estados brasileiros.

    Entre as danças de cunho cênico foi possível constatar citações de: “dança da corda” (1838; 1843; 1844; 1877), “dança de bacias e pratos” (1839), “os velhos dançadores” (1844), “Dança saloia” (1844), “dança Hespanhola” (1844), “dança Russiana” (1844),

    Em 1895 foi publicado no periódico “Leituras Religiosas” um texto citando a “dança das mezas”, que se refere a um ritual tido como de natureza mediúnica.

Periódicos que compuseram a pesquisa e intervalos de publicações pesquisados - Bahia

Fonte: Acervo de periódicos da Hemeroteca Digital Brasileira registrados como produzidos na Bahia do século XIX – pesquisados até junho de 2014.

Conclusões

    É importante considerar o fato de que os periódicos da época, documentação base desta pesquisa, foram produzidos pela e para a elite letrada. Logo, é preciso ponderar o fato de que revelam um olhar mais distante das práticas culturais da parcela populacional que tinha origem africana. Mesmo assim, a pesquisa deixa evidente que práticas africanas como os batuques e o Lundu, penetraram na cultura da alta sociedade modificando-a consideravelmente e favorecendo o rico surgimento de novas danças que ganharam os salões ao longo do tempo e por extensos territórios.

    Esta pesquisa permitiu a identificação de 11 nomes de professores, 30 nomes de instituições de ensino formal que ofertaram aulas de dança, 7 nomes de sociedades/clubes que promoveram atividades relacionadas à dança, anúncios de produtos, artigos e textos sobre dança bem como espetáculos com números de dança. As danças cujos nomes constataram-se mais vezes foram, nesta ordem: Valsa, Polca e Quadrilha.

    A pesquisa revelou que a sociedade da Bahia do século XIX foi intensamente permeada pelas Danças de Baile e pela primeira Dança de Salão, a Valsa.

Referencial teórico

  • Acayaba, Marlene Milan (Coord.); Guerra, José Wilton; Simões, Renata da Silva; Zeron, Carlos Alberto (Org.). Equipamentos, usos e costumes da casa brasileira. São Paulo. Museu da Casa Brasileira, Imesp. Edusp. 2001.

  • Amaral, Rita de Cássia de Mello Peixoto. Festa à Brasileira Significados do festejar, no país que “não é sério”. Tese de doutorado. Departamento de Antropologia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. 1998.

  • Araújo, Mozart de. A Modinha e o Lundu no Século XVIII (uma pesquisa histórica e bibliográfica). São Paulo: Ricordi Brasileira, 1963.

  • Conde, Renata de Lima; Massimi, Mariana. Corpo, sentidos e coreografias: narrativas de uma festividade na Bahia do século XVIII. Psicologia em Revista. Belo Horizonte. Volume 14. Número 1. Junho de 2008.

  • Ellmerich, Luis. História da dança. 4ª. edição revisada e ampliada. São Paulo. Editora Nacional. 1987

  • Kiefer, Bruno. A modinha e o lundu. 2ª ed. Porto Alegre: Movimento, 1977.

  • Lisboa Junior, Luiz Americo. A Presença da Bahia na Música Popular Brasileira. Brasília: Musimed, 1990.

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