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Análise de dominância dos membros superiores em testes

 incrementais mediante o potencial de ação e padrão angular

Dominance analysis of the upper limbs in incremental testing by the action potential and angular pattern

Análisis de la dominación de los miembros superiores en las pruebas incrementales por el potencial de acción y el patrón angular

 

*Mestranda em Pneumologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP

Departamento de Clínica Médica, Ribeirão Preto - SP

**Graduando em Fisioterapia pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais

Laboratório de Biomecânica do Movimento - Labim, Batatais - SP

***Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais

Projeto de Reabilitação Cardiopulmonar e Metabólica, Batatais - SP

****Doutoranda em Fisioterapia Respiratória pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP

Departamento de Biomecânica e Aparelho Locomotor, Ribeirão Preto - SP

*****Professora Associada 3 da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto/USP. Depto.

de Morfologia, Fisiologia e Patologia Básica Laboratório de Eletromiografia, Ribeirão Preto - SP

******Docente do Centro Universitário Claretiano de Batatais

Laboratório de Biomecânica do Movimento - Labim, Batatais – SP

(Brasil)

Aline Aparecida Simsic*

aline_simsic@hotmail.com

Saulo Fabrin**

saulo.fabrin@gmail.com

Nayara Soares***

naya_lmn@hotmail.com

Aline Patricia Bonato Miranda****

apbmiranda@usp.br

Profa. Dra. Simone Cecílio Hallak Regalo*****

simone@forp.usp.br

Prof. Ms. Edson Donizetti Verri******

edverri@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O interesse nos aspectos que podem influenciar na eficiência dos membros superiores devem ser evidenciadas e analisadas contribuindo para o bom desempenho entre os lados. A assimetria entre membros podem ser decorrentes da lateralidade humana, explicada pela diferenciação dos hemisférios cerebrais que provoca a dominância de um dos lados. Desta forma o teste incremental de membros superiores, a eletromiografia e cinemetria demonstram o comportamento entre o lado dominante e não dominante durante o exercício. O objetivo do estudo foi analisar a dominância dos membros superiores em testes incrementais mediante o potencial de ação e padrão angular. Participaram da pesquisa seis indivíduos do gênero masculino, com idade entre 22 à 30 anos e membro superior dominante do lado direito. Os registros eletromiográficos e de cinemetria foram captados em músculos isolados durante a realização de testes, normalizado e analisados posteriormente. Os resultados sugerem que para os músculos deltóide médio, bíceps braquial, e trapézio superior houve maior ativação do lado dominante com diferença significativa durante a realização dos exercícios, de forma que este padrão também foi observado quando analisado o teste incremental pela cinemetria. O estudo sugere que o teste incremental de membros superiores apresentam diferentes potenciais de ação entre o lado dominante e não dominante, de forma a provocar alterações na denominação de carga durante a prescrição do treinamento em indivíduos saudáveis.

          Unitermos: Teste incremental. Eletromiografia. Cinemetria. Fisioterapia. Lateralidade.

 

Abstract

          The interest of the aspects that can influence the efficiency of the upper limbs should be highlighted and analyzed contributing to the performance between the sides. The asymmetry between members may be due to human laterality explained by differentiation of the cerebral hemispheres leads to the dominance of one side. Thus the incremental test of upper limbs, electromyography and kinematic analysis demonstrate the behavior between dominant and non-dominant side during the exercise. The aim of the study was to analyze the dominance of the upper limbs in incremental testing by the action potential and angular pattern. Six individuals participated in the survey were male, aged 22 to 30 years and a member of the dominant upper right side. Electromyography records and kinematic analysis were obtained in isolated muscles during testing, standardised and analysed later. The results suggest that for the mid-deltoid muscles, biceps brachial and upper trapezius there has been greater activation of the dominant side with significant difference while performing the exercises, so that this pattern was also observed when examining the incremental test for kinematics analysis. The study suggests that the incremental test of upper limbs have different action potentials between dominant and non-dominant side, in order to provoke changes in designation of load during training in healthy individuals..

          Keywords: Incremental test. Electromyography. Kinematics. Physiotherapy. Laterality.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    A dominância entre os lados é uma consequência da lateralidade humana. Em geral, a preferência por um dos lados é explicada pela diferenciação em dois hemisférios cerebrais. Essa diferenciação é responsável pelo funcionamento não equivalente entre os hemisférios, o que causa a dominância de um dos lados. O interesse nos aspectos que podem influenciar na eficiência da dominância e não dominância do membro superior deve ser evidenciado e analisado, contribuindo para a simetria de desempenho entre os lados(1,2). O treinamento físico proporciona melhor desempenho nos movimentos das extremidades superiores, redução das demandas metabólicas e ventilatórias, de forma que o teste incremental é comumente utilizado para predizer respostas metabólicas durante exercícios, contribuindo na melhora da capacidade física, aumento da qualidade de vida e aprimoramento das atividades diárias(3). A modalidade de testes incrementais consiste na elevação de pesos realizando movimentos diagonais de ombro, com padrão expiratório durante atividade motora, solicitando a ação de vários grupos musculares dos membros superiores utilizados na realização das atividades de vida diária(4).

    Na execução dos testes incrementais a eletromiografia monitora atividades elétricas das membranas excitáveis, representando a medida do potencial de ação do sarcômero. O sinal eletromiográfico é a soma de todos os sinais captados naquela área, aonde pode ser afetado por propriedades musculares, anatômicas e fisiológicas assim como o controle nervoso periférico e os instrumentos utilizados para aquisição do sinal(5), porém para identificar padrões biomecânicos se faz necessário associar a avaliação de cinemetria ou videogrametria que permite estudar tanto movimentos lineares, como parâmetros cinemáticos(6). A cinemetria ou videogrametria permite estudar tanto movimentos lineares, cujos parâmetros cinemáticos são a posição, a velocidade e aceleração, como movimentos angulares cujos respectivos parâmetros são ângulos, velocidade angular e aceleração angular(7). A utilização de métodos quantitativos não invasivos de avaliação proporcionam critérios de planejamento e acompanhamento das intervenções(8), pois a discrepância entre os níveis de exigência e tolerância da musculatura envolvida durante o teste incremental de membros superiores demonstra o comportamento entre o lado dominante e não dominante.

Objetivo

  • Analisar a dominância dos membros superiores em testes incrementais mediante o potencial de ação e padrão angular.

Materiais e método

    Participaram da pesquisa seis indivíduos do gênero masculino, com idade entre 22 e 30 anos e membro superior dominante do lado direito. Quanto aos critérios de inclusão foram determinados indivíduos saudáveis sem a presença de comprometimentos anatomofuncionais em membros superiores ou comprometimentos cardiopulmonares, e idade compatível com a faixa etária designada. Os critérios de exclusão foram aplicados para indivíduos com comprometimentos anatomofuncionais em membros superiores, cardiopulmonares e faixa etária diferente da determinada.

    As avaliações ocorreram nas dependências do Laboratório de Biomecânica do Movimento (LABIM), do Claretiano Centro Universitário de Batatais. Os registros eletromiográficos foram captados nos seguintes grupos musculares isoladamente para cada membro: deltóide médio, bíceps braquial, trapézio superior e tríceps braquial, durante à condição clínica de repouso e realização do teste incremental. Toda a atividade eletromiográfica foi normalizada por meio da contração voluntária máxima de flexão de cotovelo (bíceps braquial) e extensão de cotovelo (tríceps braquial).

    Para avaliação foi utilizado um eletromiógrafo EMG system Brasil modelo 810-C de 8 canais com taxa de amostragem de 2000hz aterrado, com isolamento de rede elétrica e com uma bateria própria, acoplado a um computador Intel Pentium Dual Core de 1 Gb de memória HD de 80 Gb. O sistema de aquisição de dados utilizou o software proprietário da EMG System para controle, armazenamento, processamento e análise de dados. Os eletrodos foram posicionados sobre os músculos seguindo as recomendações de SENIAM (Surface EMG for the Non-Invasive Assessment of Muscles). Após determinação dos pontos musculares, foi realizado a assepsia com álcool 92.8% e tricotomia a seco com lâmina de barbear descartável, para o posicionamento e fixação dos eletrodos. O posicionamento do indivíduo foi determinado em ortostatismo, com os pés paralelos e olhar ao horizonte. Além do posicionamento dos eletrodos de superfície utilizou-se um eletrodo de referência, terra, posicionado sobre a pele da região do maléolo lateral do tornozelo direito do indivíduo, além disso, foram utilizados placas de borracha, como medidas complementares de isolamento elétrico, para uma maior fidedignidade da pesquisa.

    Durante o registro eletromiográfico, procurou-se manter um ambiente calmo, silencioso, estando o indivíduo em ortostatismo, com postura ereta, com as plantas dos pés apoiadas no solo, e os braços ao longo do corpo. A cabeça foi posicionada de forma ereta, tendo o plano da cabeça paralelo ao solo. Previamente à realização de cada experimento, o indivíduo recebeu as instruções e explicações necessárias, solicitando sempre que permaneça o mais calmo possível e respirando lentamente.

    Antes do inicio do teste o indivíduo recebeu orientações sobre o movimento realizado, para minimizar o efeito aprendizado, após isto iniciou-se o teste com 0,5 kg durante dois minutos, mantendo a velocidade e forma de execução do inicio ao final do teste, realizando intervalos de um minuto, após o período de descanso a carga foi aumentada em 0,5 kg por mais dois minutos, e assim sucessivamente até indivíduo apresentar alterações nos sinais vitais, dispneia, cansaço ou compensação de tronco, que são indicativos para o cancelamento do teste.

    A análise da Cinemetria Computadorizada foi orientada pelo protocolo de posicionamento e padronização de imagem, utilizando bolinhas de isopor com tamanho de 25 e 10 mm, fixadas aos pontos de referências através de uma fita adesiva dupla face, por meio da anatomia palpatória e protocolo determinado pelo software SAPO (versão 0.68), sendo estes: acrômio, manúbrio do esterno, epicôndilo lateral, processo estilóide do rádio, espinha ilíaca ântero-superior. Estabelecido os pontos de análise, o indivíduo sentou-se em uma cadeira com posicionamento de 90º de flexão de quadril e joelho. Uma câmera da marca Kodak p880 com 8.5 megapixels foi posicionada à um tripé com uma distância de 1,5 metros entre a lente focal da câmera ao centro corporal do indivíduo e o tripé posicionado à uma distância de 1,10 cm do foco da lente ao solo. Esta distância foi demarcada no solo por uma fita, como critério de padronização da pesquisa. A obtenção dos vídeos foi realizada por um único avaliador, sem zoom e no plano de delimitação anterior. Após a coleta dos vídeos, estes foram analisados pelo software Quintic Biomechanics 9.03v17 e tabulados pelo software Excel, 2007.

    Os indivíduos foram informados sobre propósitos e etapas da pesquisa, e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, previamente aprovado pelo Comitê de Ética de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Assinou o termo de consentimento livre esclarecido que gerou o (Processo nº 0013/2010-CEP).

Análise dos dados e estatística

    Os sinais eletromiográficos foram processados no software EMG LAB versão 1.20. Após a digitalização, os sinais são analogicamente amplificados (com um ganho de 1000x), filtrados (filtro passa-banda de 0,01-1,5kHz) e amostrados por uma placa conversora A/D de 12 bits com frequência de aquisição de 2KHz.

    O sinal eletromiográfico bruto foi utilizado para derivar valores de amplitude eletromiográfica, obtidos pelo cálculo da raiz quadrada da média (RMS). Utilizaram-se os valores da RMS obtidos durante a contração voluntária máxima de flexão de cotovelo (Bíceps braquial) e extensão de cotovelo (tríceps braquial) para a normalização dos valores nas demais situações clínicas.

    Os dados eletromiográficos normalizados e os valores angulares da Cinemetria Computadorizada foram tabulados e submetidos à análise estatística utilizando o software SPSS versão 17.0 para Windows (SPSS Inc.; Chicago, IL, USA).

Resultados e discussão

    Finalizado os testes incrementais dos músculos relacionados aos membros superiores, os resultados obtidos foram analisados e comparados, conforme demonstra a Tabela 1.

Tabela 1. Valores médios determinados pelos testes incrementais em relação a lateralidade

    Os resultados sugerem que para os músculos deltóide médio, bíceps braquial e trapézio superior houve maior ativação do lado dominante com diferença significativa durante a realização dos exercícios, de forma que este padrão também foi observado quando analisado o teste incremental pela cinemetria computadorizada, conforme descrito na Tabela 2.

Tabela 2. Comparativo de lateralidade em relação ao ângulo de movimento

    De acordo com as avaliações o membro dominante apresentou maior potencial de ação e resistência durante a realização dos testes incrementais. Incel et al. (2002), explica que o membro dominante é utilizado com maior frequência dentro das atividades de vida diária, enquanto que o membro contralateral é requerido principalmente em tarefas que exijam coordenação fina(9), o que também relatou Novaes et al. (2009), aonde concluíram após comparação entre força de preensão palmar de membro dominante e não dominante, que existe uma diferença favorável ao lado dominante(10), corroborando com estudo realizado por Hanten (1999), que avaliou a força de preensão palmar em um total de 1.182 voluntários com idade entre 20 e 64 anos utilizando um dinamômetro, e cita que a mão direita tende a ser mais forte que a contralateral, em função da população em geral viver em uma sociedade organizada para pessoas destras(11).

    Os dados apresentados durante a realização dos testes incrementais associado ao recurso da eletromiografia e cinemetria evidenciaram que existem diferenças na angulação do movimento do MSD em relação ao MSE, sugerindo que ao realizar determinado movimento o lado não dominante pode não atingir a mesma angulação do lado dominante provocando compensações de tronco nos indivíduos, pois conforme mesurado ocorre um maior suporte de carga do membro dominante em relação ao não dominante

Conclusão

    Há escassez na literatura referente aos testes incrementais de membros superiores e uma possível diferença de sustentação máxima entre os lados dominante e não dominante. Embora este teste incremental seja normalmente utilizado em pneumopatas, principalmente portadores de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, os dados analisados por meio da eletromiografia e cinemetria em indivíduos saudáveis sugerem que o teste incremental de membros superiores apresentam diferentes potenciais de ação entre o lado dominante e não dominante, de forma a provocar alterações na denominação de carga durante a prescrição do treinamento em indivíduos saudáveis, interferindo no desempenho físico devido aos desequilíbrios posturais decorrentes desta relação, sendo este trabalho o início para a aplicação do mesmo protocolo de avaliação em pacientes que possuem comprometimentos cardíacos ou pulmonares.

Referências

  1. Martin WL, Machado AH. Deriving estimates of contralateral footedness from prevalence rates in samples of Brazilian and non-Brazilian right and left-handers. Laterality: Asymmetries of Body, Brain and Cognition, 2005;10:353-368.

  2. Barut C, Ozer CM, Sevinc O, Gumus M, Yunten Z. Relationships between hand and foot preferences. The International Journal of Neuroscience, 2007;117:177-185.

  3. Presto B, Damázio L. Fisioterapia respiratória. 4ª Ed. Elsevier, 2009.

  4. Zanchet RC. A eficácia da reabilitação pulmonar na capacidade de exercício, força da musculatura inspiratória e qualidade de vida de portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica; Jornal Brasileiro de Pneumologia, 2005;31.

  5. Marchetti PH, Duarte M. Instrumentação em eletromiografia. Laboratório de Biofísica, escola de educação física e esporte, Universidades de São Paulo, 2006.

  6. Iunes DH, Castro FA, Salgado HS, Moura IC, Oliveira AS, Bevilaqua-Grossi D. Confiabilidade intra e interexaminadores e repetibilidade da avaliação postural pela fotogrametria. Rev Bras Fisioter, 2005;9(3):327-334.

  7. Fatarelli IFC, Almeida GL, Nascimento BG. Lesão e Reconstrução do LCA: uma revisão biomecânica e do controle motor. Revista Brasileira de Fisioterapia, 2004;8:197-206.

  8. Benhardt M, Bridwell, KH. Segmental Analysis of the Sagittal Plane Alignment of The Normal Thoracic And Lumbar Spines And Thoracolumbar Junction. Spine. 1998;14(7):717-21.

  9. Inkle NA, Ceceli E, Durukan PB, Erdem HR, Yorgancioglu ZR. Grip strength: effect of hand dominance. Singapore Med, 2002;43(5):234-237.

  10. Novaes RD, Miranda AS, Silva JO, Tavares BVF, Dourado VZ. Equações de referência para a predição da força de preensão manual em brasileiros de meia idade e idosos. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo. 2009;16(3):217-22.

  11. Hanten WP. Maximum Grip Strength in Normal Subjects from 20 to 64 Years of Age. J of Hand Ther. 1999:193-200.

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