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Avaliação do consumo alimentar e percepção

 da imagem corporal de culturistas

Evaluación del consumo alimenticio y la percepción corporal de fisicoculturistas

Evaluation of food consumption and body image perception of bodybuilders

 

*Nutricionista pela Universidade de Franca, UNIFRAN, SP

**Nutricionista, Docente da Universidade de Franca, UNIFRAN

Doutora pela Escola de Enfermagem de Ribeirão, Universidade de São Paulo

***Docente do Programa de Mestrado/Doutorado em Promoção de Saúde UNIFRAN

****Docente: Faculdade de Ciências - UNESP; Programa de Mestrado/Doutorado em Promoção

de Saúde UNIFRAN; Faculdade de Medicina, Universidade de Ribeirão Preto

*****Nutricionista, Docente da Universidade de Franca, UNIFRAN SP

Doutoranda pela Escola de Enfermagem de Ribeirão, Universidade de São Paulo

(Brasil)

Bianca Baptista de Paula*

Dra. Felícia Bighetti Sarrassini**

Dra. Maria Georgina Marques Tonello***

Dr. Cassiano Merussi Neiva****

Ms. Marina Garcia Manochio*****

mamanochio@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O culturismo, esporte no qual os competidores são julgados pela aparência física, tamanho e definição muscular, surgiu no Brasil na década de 70. O presente estudo teve como objetivo avaliar o consumo alimentar, uso de suplementos e investigou a percepção da imagem corporal de culturistas. Participaram deste estudo, praticantes de três diferentes academias do estado de São Paulo, os quais preencheram a ficha de anamnese contendo dados sobre consumo alimentar e ingestão de suplementos e o questionário para investigar a percepção da imagem corporal (Escala de Satisfação com a Aparência Corporal). O estudo mostrou grande inadequação alimentar com média de ingestão de carboidratos de 41,84% ± 10,88%, de lipídeos em média 18,96% ± 6,40% e em relação à proteína 39,20% ± 10,41%. Já em fase de pré-competição a média diária de ingestão de carboidrato se reduz para 22,69% ± 12,34%, a de lipídio aumenta para 25,68% ±14,0% e a proteína aumenta para 51,63%± 10,28%. Observou-se que todos os indivíduos consomem algum tipo de suplemento alimentar. Quanto à percepção da imagem corporal 60% dos avaliados estão totalmente satisfeitos com a aparência muscular e 40% tem maiores riscos de desenvolver a vigorexia. O culturista possui controle dietético rígido, assim, é importante um acompanhamento nutricional, portanto faz-se necessário melhor identificação e orientação de grupos de riscos para o desenvolvimento de distúrbios na imagem corporal, através de profissionais especializados como nutricionistas, psicólogos e treinadores para o sucesso do treinamento, visando o bem estar físico e mental dos atletas.

          Unitermos: Atletas. Ingestão alimentar. Imagem corporal.

 

Abstract

          In bodybuilding, sport that emerged in Brazil in the 70s, competitors are judged by physical appearance, size and muscle definition. The present study aimed to assess dietary intake, supplement use, and it also investigated body image perceptions of bodybuilders. Practitioners of three different gyms in the state of São Paulo participated in the study. They filled the anamnesis form containing data on food consumption and intake of supplements and also answered a questionnaire on the perception of body image (Satisfaction Scale with Body Appearance). The study showed a considerable food inadequacy with an average of carbohydrate intake of 41.84% ± 10.88%, of lipid, an average of 18.96% ± 6.40% and of protein 39.20% ± 10.41%. In pre-competition, the average of daily carbohydrate intake is reduced to 22.69% ± 12.34%, the lipid increases to 25.68% ± 14.0% and the protein increases to 51.63% ± 10.28%. It was observed that all individuals take some sort of supplement. Considering the perception of body image 60% of the appraised are fully satisfied with the muscular appearance and 40% has greater risk of developing vigorexia. As the bodybuilder has rigid dietary control, it is important nutritional monitoring. So it is necessary a better identification and guidance of risk groups for the development of body image disturbances through specialized professionals such as dieticians, psychologists and coaches for success training, aiming at physical and mental well being of the athletes.

          Keywords: Athletes. Food intake. Body.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    As práticas de treinamento físico de força e modelagem corporal vem ganhando cada vez mais adeptos, sobre tudo nas últimas 3 décadas, o que levou o culto ao corpo a uma verdadeira obsessão, com grande preocupação com o volume e a forma corporais. O Culturismo esporte no qual os competidores são julgados pela aparência física, tamanho e definição muscular surgiu na Europa, antes da segunda grande guerra, nos EUA na década de 50, tomando seu apogeu já na década de 60 e no Brasil na de 70 e sua origem se derivou do alterofilismo, hoje levantamento olímpico1.

    O culturismo, também chamado de bodybuilding, é um esporte no qual a aparência física é julgada, ao contrário da maioria dos outros esportes, que avaliam a força, a resistência ou a velocidade2. O culturista é o indivíduo que pratica exercícios físicos com peso, para o desenvolvimento da massa muscular visando a estruturação do corpo3. Estes atletas almejam o aumento do tamanho muscular e o mínimo de gordura corpórea, tendo consciência de como a dieta é importante para a tal aparência desejada2.

    O planejamento de treinamento de um culturista é dividido em três fases distintas: off-season, pre-contest e a fase de transição. Cada fase possui um objetivo diferente, sendo que uma serve de base para a outra. A duração de cada fase é determinada de acordo com as datas das competições4.

    Os padrões dietéticos de um culturista nos momentos não-competitivos e pré-competitivos (10-12 semanas antes do evento) parecem ocorrer de modo muito característico5. Muitos desses atletas adotam dietas com importante déficit energético e nutricionalmente desiquilibradas, em períodos pré-competitivos, na tentativa de aperfeiçoar a definição muscular5.

    De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte a ingestão de carboidrato deve ser de 60 a 70% do aporte calórico total, para atender a necessidade energética de um treinamento esportivo. Em se tratando de proteínas, para atletas de força a necessidade diária varia de 1,4 a 1,8g/kg de peso, já os lipídeos a sua ingestão deve ser de 20 a 30% do valor calórico total6.

    A incidência de distorção da imagem corporal subestimando ou superestimando o peso é muito mais alta em mulheres, porém estudos demonstram que o grau de insatisfação dos homens em relação a sua imagem corporal vem crescendo nos últimos anos7. A imposição, pela mídia, sociedade e meio esportivo é um dos principais fatores que causam as mudanças da percepção da imagem corporal. Nos últimos anos, uma nova classificação está em destaque nos indivíduos do sexo masculino denominado vigorexia ou dismorfia muscular8.

    Os indivíduos acometidos pela vigorexia, se descrevem como fracos e pequenos, quando na realidade são extremamente fortes e musculosos9. Os indivíduos que apresentam dismorfia muscular praticam excesso de levantamento de peso, uso abusivo de suplementos proteicos, técnicas de dietas hiperglicídicas, hiperproteicas e hipolipídicas, além do uso de esteróides anabolizantes8.

    Os culturistas podem ser um grupo de risco para a vigorexia, pois são julgados por sua aparência e não por sua performance8. Estudos anteriores comprovam esta afirmação, como o realizado nos Estados Unidos, que participaram 100 culturistas e 68 levantadores de peso, sendo todos atletas de elite competitivos, o estudo revelou que o grupo de culturistas apresentou maiores porcentagens de indicadores de vigorexia9.

    O objetivo do presente estudo foi avaliar o consumo alimentar, verificar a distribuição de macronutrientes, identificar a percepção da imagem corporal de culturistas, e analisar a associação destes.

Métodos

    Foi extraído de um universo de 38 culturistas, onde apenas 10 participaram efetivamente da amostra, levando em consideração de que cada atleta encontrava-se em uma fase de treinamento (pré-contest e off-season) a exclusão dos 28 atletas se deu em função da dificuldade de disponibilização para ceder as informações necessárias para a realização da pesquisa. O estudo foi realizado em três diferentes academias, sendo uma da cidade de São Paulo e duas no interior do mesmo estado. Dos 10 participantes, sete são do sexo masculino e três do sexo feminino. A idade variou entre 24 e 48 anos, com média de 32,9 ± 8,91 anos.

    O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEPE da Universidade de Franca com a referência n.0084/11.

    Para o cálculo do consumo alimentar, as medidas caseiras obtidas foram convertidas em mililitros e gramas, porém a maioria dos fisiculturistas pesam as suas refeições antes de ingerirem então, já sabem a quantidade exata em gramas. Os dados obtidos foram avaliados pelo Dietpro 5i® (Software para avaliação nutricional e prescrição dietética. Versão 5i) que calculou os percentuais e total de gramas dos macronutrientes. Os resultados foram comparados com as recomendações da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte6, assim como a ingestão de grama de proteína por kilograma de peso corporal.

    Para avaliação da percepção da imagem corporal foi utilizada a Escala de Satisfação com a Aparência Muscular (MASS), esta foi elaborada em 2002 por Mayville et al.10 e adaptada e validada para o Brasil11. Segundo os pesquisadores que desenvolveram a escala, escores globais superiores a 52 pontos no MASS parecem ser indicativos de Dismorfia Muscular.

    Foram ainda calculados as variáveis quantitativas valor calórico ingerido (Kcal) e percentagem de nutrientes ingeridos nas fases pre-contest e off-season e para tais variáveis foram calculados os parâmetros estatísticos média aritmética, mediana, desvio padrão e coeficiente de variação, com a finalidade de caracterizar a amostra.

    Análise e tratamento estatístico dos dados foi dividida em duas etapas, sendo que para comparar os grupos nas fases pré-contest e off-season foi utilizada a estatística não paramétrica de Wilcoxon, recomendada por Siegel e Castellan12. Já as variáveis qualitativas risco de vigorexia e grau de satisfação com a aparência muscular, foi aplicado o teste de Fischer.

Resultados

    Em relação ao acompanhamento nutricional, apenas 30% dos atletas o fazem com nutricionistas, o restante dos participantes são acompanhados apenas pelos treinadores e/ou médicos. O valor calórico total ingerido pelos atletas nas duas fases, off-season e pre-contest, é apresentado no Figura 1.

Figura 1. Valor calórico total ingerido nas fases off-season e pré-contest

    A Figura 2 apresenta o valor calórico total ingerido e o recomendado para os atletas na fase pre-contest.

Figura 2. Valor calórico total ingerido na fase pré-contest

    Na Figura 3 estão expressos os resultados referentes à quantidade de proteína ingerida pelos atletas em g/kg de peso nas duas fases de treinamento.

Figura 3. Ingestão de proteína em g/kg de peso nas fases off-season e pre-contest

    A Figura 4 apresenta a satisfação da aparência muscular segundo a Escala de Satisfação com a Aparência Muscular (MASS).

Figura 4. Grau de satisfação com a aparência muscular segundo MASS

    Como mostra a Figura 5. 40% dos fisiculturistas apresentam maior risco de desenvolver a vigorexia.

Figura 5. Risco de desenvolver a vigorexia

Discussão

    Foi observado que apenas 3 (30%) atletas fazem acompanhamento nutricional com nutricionistas, sendo este um dado preocupante, já que a maioria dos atletas não possui suporte nutricional correto. Em um estudo realizado em Itu – SP, em 200713, foi avaliado a ingestão alimentar de sete atletas de força que participavam ou treinavam na equipe profissional de Powerlifting, com idade entre 16 e 38 anos. O estudo mostrou que apenas um (14,2%) atleta recebia orientações nutricionais por um profissional nutricionista13. Em outro estudo realizado na Flórida, avaliou o conhecimento nutricional, opiniões e práticas de 53 treinadores de atletas da primeira divisão universitária, demonstrando que apenas 30% dos treinadores relataram recomendar aos atletas que procurassem um profissional nutricionista. Já a porcentagem dos treinadores que trabalhavam regularmente com o especialista em nutrição foi também 30%14. Um acompanhamento nutricional adequado é muito válido, para estabelecer dietas saudáveis, visando a melhora do desempenho e para evitar possíveis riscos à saúde17.

    Como mostrado na Figura 1, a ingestão calórica na fase off-season é mais elevada quando comparada com a fase pre-contest. Em uma pesquisa realizada em Boston, nos Estados Unidos, que acompanhou um atleta de 25 anos de idade, por um período de seis meses, que se preparava para um campeonato de culturismo seu consumo calórico se iniciou com 4.193 kcal, enquanto que na fase pré-contest diminuiu para 1.936 kcal16, o que também ocorreu no presente estudo já que a média de ingestão calórica na fase off-season foi de 3832 kcal ± 1590 e na fase pré-contest a média se reduziu para 2577 kcal ± 866 kcal. Essa diferença calórica é comum nas fases de treinamento, já que a fase off-season é caracterizada por dietas hipercalóricas, que visam apenas o crescimento muscular, sem ter grande preocupação com o tecido adiposo e a fase pre-contest é caracterizada por uma dieta com restrição calórica e visa a definição muscular e máxima perda do tecido adiposo17.

    O valor médio de ingestão calórica diária está inferior ao recomendado, tanto na fase off season, quanto na pre-contest. Do total de culturistas, 50% estavam com a ingestão abaixo do recomendado, 30% acima e apenas 20% se apresentaram com a ingestão calórica adequada na fase off-season. Já na fase pre-contest 80% atletas estavam com a ingestão abaixo do ideal e 20% estavam com a ingestão acima do recomendado, nesta fase nenhum dos atletas estava com a ingestão adequada. Um estudo realizado em 2006, com 24 atletas, sendo 12 do sexo masculino (19,7±2,4 anos) e 12 do feminino (19,2±1,8 anos), (da Equipe Olímpica Permanente de Levantamento de Peso do Comitê Olímpico Brasileiro COB), que teve como objetivo diagnosticar o estado nutricional destes, encontrou resultados semelhantes já que 83% atletas estavam com ingestão calórica diária abaixo do recomendado em quanto apenas 17% estavam com valores acima do ideal18.

    Fica claro a diferença de ingestão de macronutrientes nas duas fases de treinamento, já que a média de consumo em porcentagem de carboidratos na fase off-season foi de 41,84%±10,88%, já na fase pre-contest este valor se reduz para 22,69%±12,34%. A média em porcentagem no consumo de lipídeos na fase off-season e pré-contest foi de 18,96%±6,40% e 25,68%±14,0% respectivamente. Em relação às proteínas, a média de ingestão em porcentagem na fase off-season foi de 39,20%±10,41%, sendo que na fase pre-contest este valor aumenta para 51,63%±10,28%, quanto à proteína em g/kg de peso (Figura 3) os valores médios nas fases off-season e pre-contest são próximos, 4,10 g/kg/dia ± 0,93 g/kg/dia e 3,97 g/kg/dia ± 0,85 g/kg/dia respectivamente, isso se deve ao fato da redução de calorias na fase pre-contest, consequentemente redução de peso corporal e baixa redução no consumo em grama de proteína.

    Foi observado no presente estudo que 100% dos avaliados ingerem quantidades de carboidrato abaixo do ideal. Em um estudo realizado em 2009 no município de Cascavel, PR, com 11 indivíduos do sexo masculino (26,2 ± 5,5 anos), praticantes de musculação tendo como objetivo a hipertrofia muscular obteve-se resultado semelhante, já que a maioria dos avaliados 90,9% apresentaram consumo abaixo do recomendado19. O consumo adequado de carboidratos é essencial para otimizar os estoques iniciais de glicogênio muscular, para a controle da glicemia durante o exercício e na fase de recuperação, para repor as reservas de glicogênio5. Os valores ideais de CHO são entre 7 e 10g/kg de peso, no presente estudo o valor máximo encontrado foi de 6,85g/kg de peso, sendo a média encontrada na fase off-season de 4,18g/kg de peso e na fase pre-contest de 1,71 g/kg de peso20.

    O metabolismo do carboidrato é mais elevado em modalidades de alta intensidade e o consumo abaixo do ideal deste macronutriente levará a redução nos estoques de glicogênico, o que pode prejudicar o desempenho e levar à fadiga18.

    Observou-se que na fase off-season a maioria (60%) dos atletas ingere quantidades abaixo do recomendado, enquanto que na fase pré-contest 40% consomem o recomendado, 30% abaixo e 30% acima do ideal. No mesmo estudo, realizado em 2009, na cidade de Cascavel, a maioria dos indivíduos (81,8%) apresentaram consumo de lipídeos acima do recomendado, tendo como média diária 36% do valor calórico total19. O consumo adequado de lipídeos é também fundamental para os atletas, já que fornece energia para o músculo durante o exercício, poupando assim o estoque de glicogênio, importante na modulação da resposta inflamatória e na síntese de hormônios esteroides5,18.

    A ingestão diária de lipídeos inferior a 15% do valor calórico total não traz benefício à performance e à saúde21. O consumo acima de 35% está claramente associado a malefícios à saúde e à uma redução da capacidade física22.

    Sobre a ingestão de proteínas, identificou-se uma ingestão excessiva em todos os atletas avaliados. Ainda na pesquisa realizada em Cascavel, também se observou um elevado consumo deste macronutriente. O percentual médio de proteína da dieta encontrado foi de 23,7% sendo que o máximo encontrado foi de 40% e o mínimo 12,4%, dado inferior ao do presente estudo que teve na fase off-season o percentual mínimo de 24% e máximo de 59,05% e na fase pre-contest valor mínimo de 34,7% e máximo de 71,54%. Em relação a g/kg de peso 63,6% dos indivíduos avaliados em Cascavel consumiam acima de 2 g/kg de peso19, já no presente estudo o valor mínimo encontrado de ingestão proteica foi de 2,36 g/kg de peso e máximo de 5,53 g/kg de peso.

    Em outro estudo que avaliou o consumo de proteína de 23 indivíduos, com idade entre 19 e 33 anos em praticantes de musculação com objetivo de hipertrofia muscular em uma academia do interior do estado do Rio Grande do Sul, foi observado que 30,4% dos indivíduos ingeriam quantidades diárias abaixo do recomendado (de 0,6 a 1,5 g/kg de peso), 43,5% ingeriam acima do recomendado (de 1,8 a 3,4 g/kg de peso) e 26,1% ingeriam quantidades diárias adequadas de proteína23.

    Em relação a esse aspecto o que sabemos é que a ingestão abusiva de proteínas pode trazer em longo prazo sérias complicações à saúde, como sobrecarga renal e hepática, hipercalciúria e desidratação24.

    Ainda no estudo realizado no Rio Grande do Sul por Menon e Santos23, foi observado que para as três classificações de ingestão de proteína “abaixo do recomendado”, “recomendado” e “acima do recomendado”, a massa magra na ocasião do estudo mostrou-se mais elevada que a massa magra inicial em todos os grupos, porém a ingestão proteica dentro da faixa recomendada e acima do recomendado teve um resultado significativamente maior no ganho de massa muscular.

    Em outro estudo em 2007, na cidade de Botucatu – SP, foi comparado o efeito da oferta dietética de proteína sobre o ganho muscular, balanço nitrogenado e cinética da 15N-glicina de seis atletas do sexo masculino praticantes de musculação, com idade entre 18 e 35 anos onde foi demonstrado que o consumo proteico de 2,5g/kg de peso não promoveu ganhos adicionais significativos na força e massa muscular comparado com a oferta de 1,5g/kg de peso/dia25.

    Em 2000, um estudo na cidade de Londrina – PR, o aumento de força e massa muscular em seis atletas de fisiculturismo do sexo masculino, com idade entre 22 e 29 anos, suplementados com proteína, demonstrou que a ingestão proteica entre 1,5 e 2,5 g/kg de peso/dia, associada ao treinamento com pesos, pode contribuir de forma significativa para essa variável ergogênica26.

    No presente estudo pudemos observar o alto consumo de suplementos alimentares pelos fisiculturistas onde 100% dos avaliados utilizam algum tipo de suplementação. Um estudo realizado em Tübingen, na Alemanha, que analisou o uso de suplementos alimentares em atletas demonstrou que 60,5% dos avaliados utilizavam algum tipo de suplemento alimentar, as vitaminas e os minerais eram os mais utilizados, seguidos pela proteína, carboidrato e creatina27.

    Segundo a pesquisa na qual verificou-se a utilização de recursos ergogênicos e suplementos alimentares em 200 praticantes de musculação de Belo Horizonte – MG, sendo 90,5% do sexo masculino e 9,5% do sexo feminino, com faixa etária entre 15 e 70 anos, os suplementos mais citados pelos avaliados foram: 89% para creatina, 83,5% whey protein, 82% albumina, 78,5% aminoácidos, 59% maltodextrina, 57,5% vitaminas, 56,5% gel ou barra nutricional, 48,5% bebida carboidratada, 44,5% BCAA e 2,5% boro28.

    Em casos como os acima citados, é relevante considerar que a ingestão de tais produtos sem uma orientação adequada aumenta o risco de consequências à saúde do indivíduo e pode levar a um excessivo consumo proteico e energético, influenciando no aumento do percentual de gordura29.

    Em nosso presente estudo foi observado que a dieta dos atletas avaliados, principalmente na fase pré-contest, além de monótona foi bastante restrita, e assim, não atende as recomendações necessárias de carboidrato, principalmente e excede o valor ideal de proteína, o que pode causar complicações a longo prazo.

    Outro estudo realizado em Albuquerque, nos Estados Unidos, no qual foi analisado o padrão alimentar de culturistas durante as duas fases de treinamento, não competitivo (off-season) e pré-competitivo (pré-contest), também demonstrou a pouca variedade de alimentos dos diferentes grupos alimentares, sendo observado que as limitações eram ainda mais acentuadas no período pré-competitivo30.

    Já em relação a Dismorfia Muscular sabe-se que acomete principalmente os homens31, o que coincide com os resultados do presente estudo, já que 100% dos avaliados do sexo feminino demonstraram estar totalmente satisfeitas com a aparência muscular, tendo também o total da pontuação do MASS inferior a 52 pontos.

    Em um estudo realizado na cidade de Maringá – PR, em 201032, foi avaliado o nível de satisfação com a imagem corporal e aparência muscular de 50 sujeitos praticantes de musculação do sexo masculino, idade média 23,9 anos ± 6,07 anos, os resultados obtidos foram que 10% da amostra se sente “insatisfeito a maioria das vezes com a aparência muscular”.

Conclusão

    O culturista possui controle dietético muito rígido, assim é importante um acompanhamento nutricional, pois ingestões inadequadas de nutrientes poderão causar danos à saúde e ao desempenho e também, identificar e orientar grupos de riscos para o desenvolvimento de distúrbios na imagem corporal, através de profissionais especializados como nutricionistas, psicólogos e treinadores para o sucesso do tratamento, visando o bem estar físico e mental dos atletas.

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