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Programa de atividade física na prevenção 

de quedas entre idosos institucionalizados

Programa de actividad física para la prevención de caída en personas mayores institucionalizadas

 

*Acadêmicos do curso de Medicina

da Universidade Federal de São João Del Rei

**Fisioterapeuta. Professora de Anatomia e Neuroanatomia da UFSJ. Campus

Centro Oeste Dona Lindu. Mestre em Neurociências pela Universidade

Federal de São João Del Rei

(Brasil)

Thiago Aguiar Faier*

Alexandre Lúcio Soares de Assunção*

Andréia Silva Ferreira*

Bruno José Eleutério Guimarães*

Luiz Flávio Pimenta de Grácia*

Nathane Tayná Dias Machado*

Phelipe Gabriel dos Santos Sant’Ana*

Laila Cristina Moreira Damázio**

lailacmdamazio@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A prática regular de atividade física é considerada uma das principais estratégias para a promoção da saúde e prevenção de doenças cardiovasculares. Diversos estudos mostram a importância deste estilo de vida na população com idade avançada, reduzindo ou controlando suas comorbidades. A melhora do equilíbrio corporal e da força muscular permite a prevenção e diminuição da incidência de quedas entre os idosos. O objetivo do estudo foi implantar um programa de atividade física entre os idosos institucionalizados na cidade de Divinópolis na tentativa de diminui a incidência de quedas entre os idosos. Participaram do estudo, 19 idosos, onde foi avaliado o equilíbrio corporal utilizando a escala de Berg e a incidência de quedas através de um questionário elaborado pelos pesquisadores. A avaliação dos parâmetros físicos e vitais foi acompanhada semanalmente (peso, índice de massa corpórea, freqüência cardíaca de repouso, pressão arterial sistólica e diastólica). A circunferência abdominal foi avaliada no início e no final do programa de atividade física utilizando uma fita métrica. A amplitude de movimento articular foi avaliada apenas no final do programa utilizando um goniômetro. Os resultados do estudo sugerem que a prática de exercício físico regular é importante para a manutenção e a melhora da aptidão física dos idosos e, conseqüentemente, na diminuição no risco de quedas e suas comorbidades. Conclui-se que o programa de atividade física é fundamental para melhora das condições motoras dos idosos institucionalizados, reduzindo o índice de quedas e suas complicações, no entanto, é necessário o controle da administração de medicamentos e da alimentação dos idosos, juntamente com um programa de exercícios físicos que seja realizado no mínimo três vezes por semana.

          Unitermos: Quedas. Idosos institucionalizados. Programa de atividade física. Equilíbrio corporal.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 188, Enero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O número de idosos tem aumentado em ritmo acelerado, existiam 19 milhões de pessoas com mais de 60 anos em 2006. O número de idosos esperado para 2020 é por volta de 28 milhões e para 2050 são 65 milhões. A proporção de idosos na população brasileira em 2007 era 9,6 e essa proporção tende a crescer devido a queda na natalidade e ao aumento na expectativa de vida (IBGE, 2005).

    O maior número de idosos na população faz com que aumente a incidência de problemas de saúde ligados ao envelhecimento e freqüentemente são provocados por quedas e doenças crônicas (Siqueira et al, 2007; Ruwer et al, 2005; Ribeiro, et al, 2008).

    No processo de envelhecimento existem alterações multidimensionais nos âmbitos: biológico, psíquico e social, que desencadeiam maior número de morbidades de longa duração seguidas de suas seqüelas e, por conseguinte do incremento na utilização de medicamentos por essa população (MUIR et al., 2001; MOTA e AGUIAR, 2007). Há também elevação da dependência funcional, encargos previdenciários, bem como o emprego de vultosas somas para a realização do tratamento (MOTA e AGUIAR, 2007).

    Duarte (2007) lembra ainda que as políticas voltadas para o idoso deveriam apoiar os programas intergeracionais a reduzirem iniqüidades, combaterem a discriminação e reconhecerem a diversidade existente entre os idosos. Apesar disso, Veras et al (2008) consideram que os esforços para a atenção ao idoso ainda encontram-se pontuais e desarticulados e que o peso assistencial continua preponderante e o sistema de saúde dificulta a operacionalização de uma avaliação multidimensional.

    Para a realização de uma avaliação multidimensional, outros fatores também deverão ser observados, além da escolha do instrumento que permita tal avaliação. Faz-se necessário o envolvimento e treinamento de uma equipe multiprofissional, pois a população idosa na maioria das vezes requer atenção de vários profissionais, mas para garantir à qualidade dessa assistência a equipe deve trabalhar de maneira interdisciplinar (PAIXÃO JÚNIOR e REICHENHEIM, 2005).

    A preocupação em conhecer a realidade do idoso não é recente. Em 1984 foi realizado o primeiro inquérito domiciliar que tinha como objetivo traçar o perfil do idoso residente em zona urbana no Brasil (RAMOS et al, 1993).

    Ramos (2003) afirma que a saúde não deve ser medida pela presença ou não de doenças e sim pelo grau de preservação da capacidade funcional e com base nesse conceito foram desenvolvidos vários instrumentos abrangendo as dimensões pertinentes à avaliação funcional do idoso.

    As quedas são responsáveis por uma parcela das internações de idosos podendo causar diversos traumas como fratura no fêmur, rádio, clavícula, contusões, lesões neurológicas, entre outras e também podem indicar outras patologias agudas como, pneumonias, insuficiência cardíaca, infecção urinária, nesse caso sendo um sintoma e não a causa da enfermidade (BARBOSA, 2001; Fabrício et al, 2004).

    As quedas também trazem complicações psicológicas uma vez que após uma queda surge o medo de cair novamente que pode causar redução da mobilidade e resultar em perda da capacidade funcional que por sua vez pode resultar em outras quedas no futuro (BARBOSA, 2001; Menezes e Bachion, 2008).

    Algumas vezes os idosos com histórico de quedas apresentam comprometimento no equilíbrio funcional devido ao processo de envelhecimento e das doenças crônicas típicas dessa faixa etária (Gonçalves et al, 2009).

    Existem múltiplos fatores de risco que predispõe às quedas, normalmente divididos em fatores intrínsecos e extrínsecos, o primeiro tem relação com características do idoso como, mudanças fisiológicas, o uso de medicamentos e doenças. O segundo se relaciona ao ambiente e circunstâncias sociais (BARBOSA 2001; Menezes e Bachion, 2008; Ribeiro et al., 2008).

    Entre os fatores de risco mais significativos para quedas estão: idade avançada, sexo feminino, função neuromuscular prejudicada, presença de doenças crônicas, história prévia de quedas, prejuízos psicocognitivos, uso de vários medicamentos, presença de ambiente físico inadequado, incapacidade funcional e hipotensão postural (Menezes e Bachion, 2008).

    Existem interações complexas entre os fatores relacionadas à idade, doenças e meio-ambiente inadequado que aparentemente predispõem às quedas. (Ribeiro et al, 2000; Menezes e Bachion, 2008) Em idosos institucionalizados a maioria das quedas ocorre dentro da instituição, no quarto, a beira da cama quando estão se deitando ou levantando (Gonçalves et al, 2008).

    Os idosos residentes em instituições sofrem maior número de quedas, provavelmente porque praticam menos atividades físicas, tendem a ser mais sedentários e ter menor capacidade funcional (Gonçalves et al, 2008; Gonçalves, et al, 2010; Menezes e Bachion, 2008).

    As quedas podem ser evitadas descobrindo suas causas e desenvolvendo estratégias para prevenir sua ocorrência (Gonçalves et al, 2008; Ribeiro et al, 2008). Medidas como promoção da saúde, revisão das medicações, prática de atividade física, modificações nos domicílios, promoção da segurança dentro e fora do domicílio são essenciais na elaboração de um programa de prevenção de quedas e melhora da qualidade de vida dos idosos (Gonçalves et al, 2008).

    Com isso, o objetivo do estudo foi Implantar um programa de atividade física entre os idosos institucionalizados na cidade de Divinópolis na tentativa de diminui a incidência de quedas entre os idosos de uma instituição de longa permanência.

Metodologia

    O estudo caracterizou-se na implantação de um programa de atividade física e a avaliação da incidência de quedas entre os idosos de uma instituição de longa permanência no município de Divinópolis-MG/Brasil.

    Como critérios de inclusão foram considerados as seguintes condições: Idosos do gênero feminino e masculino, com idade superior a 60 anos, institucionalizado a pelo menos três meses e que consentiram em participar do estudo. Os critérios de exclusão foram os idosos com déficits cognitivos graves e problemas osteomusculares que comprometesse a execução dos exercícios.

    O programa de atividade física foi realizado por seis meses, duas vezes por semana com duração de 40 minutos. O programa constitui-se de alongamentos, exercícios de fortalecimento dos membros superiores e inferiores, além de exercícios que trabalhassem o equilíbrio corporal e a coordenação motora. A pressão arterial e a freqüência cardíaca dos idosos foram aferidas antes e depois do programa de atividade física com o intuito de controlar os valores fisiológicos dos idosos. O programa de atividade física foi acompanhado por uma fisioterapeuta e acadêmicos do curso de medicina.

    Foram avaliados os seguintes parâmetros físicos dos idosos pelos participantes da pesquisa, como: o peso corporal, o índice de massa corpórea (IMC), a freqüência cardíaca (FC); a pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD), a circunferência abdominal e a amplitude de movimento articular (ADM) do quadril, joelho e tornozelo. A ADM foi realizada utilizando um goniômetro manual da marca Carci de 360º. Para avaliação das medicações utilizadas pelos idosos foram analisados os prontuários dos idosos participantes do programa de atividade física.

    Para análise da incidência de quedas no ambiente de institucionalização e os fatores associados às quedas utilizou-se um questionário que consta de 36 perguntas contendo informações como, a identificação dos indivíduos, o ambiente do asilo onde eles vivem e os principais fatores de risco para quedas citados na literatura. Alguns dados importantes na identificação do idoso foram: a idade, o sexo, a presença de doenças crônicas, os medicamentos utilizados, a utilização de óculos, de auxílio para locomoção, entre outros. Foi utilizada para avaliação do equilíbrio corporal a escada de Berg, a qual é um teste que contém 14 tarefas comuns que envolvem o equilíbrio estático e dinâmico, tais como alcançar, girar, transferir-se, permanecer em pé e levantar-se. A realização das tarefas foi avaliada através da observação e pontuação de 0 a 4 pontos, totalizando um máximo de 56 pontos.

    A reavaliação dos idosos foi realizada pelo pesquisador acompanhado de um funcionário da instituição caso fosse requisitado pelo entrevistado ou caso fosse necessário para proteção do idoso. A aplicação da escala e dos questionários aconteceu em um local calmo dentro da instituição de longa permanência. O questionário foi aplicado em um dia e a escala de Berg em outro. O programa de atividade física e a avaliação das condições de saúde e de quedas dos idosos foram realizados em conformidade às normas éticas estabelecidas pela resolução 196/96.

    Para análise estatística dos dados foi utilizado o teste t student pareado considerando um nível de significância de 5%.

Resultados

    Em relação ao peso corporal notou-se que não houve uma redução significativa no peso corporal dos idosos (p>0.05), que era de 66 Kg no início do estudo e passou para 65kg no final do programa de atividade física, com um total de perda de peso bruto de todos os idosos de 17 Kg. Esse dado reflete diretamente no IMC dos participantes, que passou de 27,2 para 26,8. No indivíduo idoso, é aceitável um IMC de 22 à 26,9 (LIPSCHITZ, 1994). Também não foi observada alteração significativa (p>0.05) na média da circunferência abdominal. Isso pode estar relacionado ao número limitado de sessões realizados na semana (duas vezes por semana) e a má alimentação empregada na instituição de longa permanência. Esses idosos precisam de um acompanhamento nutricional, pois nessa instituição de longa permanência não existe orientações alimentares para os idosos.

    Os dados da frequência cardíaca de repouso demonstraram que no inicio do programa de atividade física a média foi de 82 batimentos por minuto (bpm) e no final do treinamento físico os batimentos cardíacos passaram para 70 bpm (p<0.05). Neste caso, a prática regular de exercícios físicos se mostra um fator preventivo no desenvolvimento de comorbidades cardiovasculares, as quais apresentam alta incidência na população idosa (JAMA, 1999). Um parâmetro que também corrobora com a eficácia do programa de atividade física como um agente redutor do risco cardiovascular foi à redução da pressão arterial sistólica e diastólica (p<0.05) após a prática de atividade física observado na tabela 1. Indivíduos com altos índices pressóricos estão mais propensos a desequilíbrios hemodinâmicos, sendo o exercício físico uma alternativa complementar para o tratamento de pacientes hipertensos, podendo ser utilizado como uma estratégia na tentativa de reduzir a polifarmácia (SBC, 2012).

Tabela 1. Média da freqüência cardíaca de repouso e pressão arterial sistólica e diastólica dos idosos no início e no final do programa de atividade física

    Os idosos tiveram a amplitude de movimento (ADM) dos membros inferiores (quadril, joelho e tornozelo) aferida no final do projeto. Percebe-se que apenas três variáveis estão dentro dos parâmetros de normalidade (tabela 2). Os idosos institucionalizados apresentam grande limitação funcional que é agravada pelo sedentarismo e a má alimentação. Os dados demonstram que o programa de atividade física, duas vezes por semana, não beneficiou de forma significativa a flexibilidade dos idosos avaliados.

Tabela 2. Média da ADM dos idosos institucionalizados e os valores normais de um indivíduo adulto

    Foi analisado o escore da escala de Berg no início e no final do programa de atividade física, onde foi identificado um aumento de 6 pontos no escore final dos idosos (p<0.05). No início do programa de atividade física, os idosos apresentaram um escore de 46 pontos e no final, o escore subiu para 52 pontos. O equilíbrio é um dos componentes que oferecem estabilidade ao corpo, sendo assim, seu déficit trás riscos de quedas e limitações para os idosos. (Carvalho e Coutinho, 2002). A melhora nos dados avaliados pela escala de Berg deixa claro que o programa de atividade física contribui para melhoria do equilíbrio e, conseqüentemente, redução do risco de queda dos idosos institucionalizados. (Blum e Korner-Bitensky, 2008).

    Em relação á avaliação dos medicamentos utilizados pelos idosos dessa instituição de longa permanência foi identificada um exemplo clássico de polifarmácia. Nessa instituição são indicados, em média, cerca de seis tipos diferentes de medicamentos para os internos. No gráfico 1 é possível identificar os medicamentos mais utilizados pelos idosos dessa instituição.

Gráfico 1. Medicamentos utilizados pelos idosos institucionalizados.

    Cerca de, 89% dos idosos avaliados fazem uso de algum tipo de medicamento, sendo as classes mais encontradas os anti-hipertensivos e os anti-depressivos. Segundo estudo de Leipzig et al. (1999) no qual foi investigado o papel de medicamentos psiquiátricos, cardiológicos e analgésicos sobre o risco de quedas entre idosos, o uso desmedido de benzodiazepínicos, neurolépticos, sedativos/hipnóticos, antidepressivos, diuréticos em geral, antiarrítmicos e digoxina associaram-se ao maior risco de quedas na população acima de 60 anos.

    As reações adversas á medicamentos aumenta de três a quatro vezes em pacientes submetidos á polifarmácia, podendo imitar síndromes geriátricas ou precipitar quadros de confusão, incontinências e quedas (WILLIANS, 2002; CASSIANI, 2005)

    No presente estudo houve registro de queda da própria altura em 70% dos entrevistados. Destes, cerca de 90% faziam uso de diuréticos e antihipertensivos, 85% estavam em uso contínuo de algum antidepressivo (em alguns casos era associado mais de um tipo deste grupo de medicamento) e 70% estavam em tratamento com benzodiazepínicos. Os fatores de risco às quedas e fraturas foram verificados, sobretudo, nos usuários de benzodiazepínicos quando comparados às demais classes terapêuticas. O uso prolongado de Diazepam em idosos desencadeia efeitos adversos como angústia, dores articulares, depressão e tontura, propiciando episódios de queda, além de elevar os riscos de dependência e tolerância a esses fármacos (COUTINHO e SILVA, 2002)

    Dentre os fatores que desencadeiam quedas entre os idosos avaliados, a utilização de medicamentos, o desequilíbrio e a presença dos problemas auditivos demonstraram alta prevalência e associação com os episódios de quedas registrados.

Conclusão

    Conclui-se que o programa de atividade física é fundamental para melhora das condições motoras dos idosos institucionalizados, reduzindo o índice de quedas e suas complicações, no entanto, é necessário o controle da administração de medicamentos e da alimentação dos idosos, juntamente com um programa de exercícios físicos que seja realizado no mínimo três vezes por semana.

Referências bibliográficas

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 188 | Buenos Aires, Enero de 2014
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