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O esporte futebol e a criticidade dos alunos

El deporte fútbol y el sentido crítico de los alumnos

 

Docente de Educação Física

(Brasil)

Jonas de Almeida

jonasdealmeida@ymail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho tem o objetivo de tentar desenvolver debates críticos, por meio do esporte futebol, nas aulas de Educação Física. Por ser o esporte mais acessível (refiro-me aqui aos meios de comunicações) e também o mais aceito no âmbito escolar, parto dele, para mostrar sua história, sua evolução, sua verdadeira realidade e no que ele se transformou. A escolha deste tema é por ter conhecido este esporte demais na prática e acredito que partindo dessas novas descobertas, os alunos possam compreender e analisar melhor a realidade que os mesmos estão inseridos, buscando seres humanos críticos e emancipados, com isso, superados.

          Unitermos: Criticidade. Educação Física. História. Evolução. Descobertas. Emancipados.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 188, Enero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Estamos vivendo em uma sociedade submissa ao sistema imposto pela classe dominante e a educação de forma geral precisa de uma reconstrução e devemos começar a nos preocuparmos com a nossa área específica, a aula de Educação Física. Nas escolas hoje, os professores de certa forma, apenas repassam o conteúdo, ou seja, buscando com isso a idéia que se teve por muito tempo nas escolas públicas, rico sempre será rico e pobre sempre será pobre, cada um deverá seguir o que a sociedade estabeleceu.

    Partindo disso, podemos e devemos aproveitar o esporte Futebol, pois é o mais conhecido, o mais aceito e também o mais transmitido nos meios de comunicações, para debater aspectos críticos sobre o mesmo. Discutir com eles as diferenças existentes deste esporte para os demais, discutir por que os atletas profissionais de futebol são comparados, de certa forma, com “heróis”. Também, por que esses atletas recebem milhões de reais por ano, enquanto trabalhadores recebem uma miséria. Discutir a influência do capitalismo, da mídia, entre outros pontos predominantes que se destacam, como patrocinadores, propagandas, entre outros.

    Pretendemos com esta pesquisa, debater aspectos críticos sobre o esporte futebol. Objetivando diretamente, verificar as possibilidades de desenvolver debates críticos, sendo o esporte futebol o conteúdo e também fazer com que os alunos, partindo dessas novas descobertas, possam compreender e analisar melhor a realidade que os mesmos estão inseridos. Ou seja, almejo a partir deste esporte, que historicamente e culturalmente faz parte de nossas vidas, mostrar para os alunos a verdadeira realidade do mesmo, fazer com que os alunos percebam a real diferença que existe do futebol espetáculo, já pronto e a verdadeira realidade que espetáculo não nos mostra, como: patrocinadores, mídia, lucros absurdos, entre outros.

    Para dar conta desta problemática, este trabalho de conclusão de curso possui como objetivo geral: verificar as possibilidades de desenvolver debates críticos, a partir do esporte Futebol. A partir do dado exposto, construí os seguintes objetivos específicos: verificar quais os problemas relacionados ao capitalismo que interferem no esporte; constatar como o esporte Futebol está inserido nesta configuração capitalista; também demonstrarei um plano de aula, tendo como base a tendência Critico-Superadora, onde este plano irá evidenciar o que pretendo com este artigo, no qual o objetivo deste plano será proporcionar e desenvolver debates críticos sobre o esporte futebol.

2.     Fundamentação teórica

2.1.     O futebol como e “esporte rei" no mundo e no Brasil

    O futebol é o esporte mais praticado mundialmente. Por ser de fácil acesso e também por não ser preciso muitos acessórios e espaços, é sem dúvida, o esporte “rei”, que prevalece há muito tempo hegemônico sobre os demais.

    Historiadores, na investigação da origem do futebol, relatam que jogos com os pés, permanecem desde o início do homem no planeta, (Frisselli e Mantovani, 1999) relatam a prática de jogos com uma bola de granito na pré-história, e que era prática comum entre os primeiros homens chutar frutas ou mesmo crânios humanos. Essa forma pode ser considerada como o mais distante antepassado do futebol, em sua forma mais primitiva. Ou seja, o futebol foi praticado em vários países antes de chegar à Inglaterra, que foi o seu dito “inventor”.

    No Japão, relatos fazem menção a um jogo chamado “Kemari” praticado pela realeza, onde a bola deveria ser passada de pé em pé sem tocar o chão e sem finalidade de marcar gol ou pontos, sendo mais formidável o controle e a arte de chutar a bola (Oliveira apud Frisselli e Mantovani, 1999).

    Na Grécia antiga, por volta de 1.500 anos a.C. apareceram alguns jogos precursores do futebol. Relatos de 776 a.C. mencionam um jogo chamado de “Epyskiros”, em que duas equipes de quinze jogadores disputavam a posse de uma bexiga cheia de ar (Frisselli e Mantovani, 1999).

    Quando conquistaram a Grécia, os romanos adotaram o jogo, latinizando seu nome para “Haspartun”, que logo caiu no agrado das tropas, pelo seu caráter competitivo e violento (Frisselli e Mantovani, 1999).

    Em 1060, após a batalha de Hastins, os comandados de Guilherme, levaram o jogo para Inglaterra, onde caiu imediatamente no agrado popular (Goldman & Dunk apud Frisselli e Mantovani, 1999).

    O futebol tem varias versões e ele nasce com diferentes formas em inúmeros países, no Brasil ele chega a meados de 1894 e se torna o esporte mais praticado e mais aderido da elite brasileira, as classes inferiores não tinham acesso a este esporte e menos ainda, os negros.

    Segundo Cardoso (2003, p.44):

    O futebol foi exportado da Inglaterra e chegou ao Brasil (1894) sendo motivo de grandes comemorações, principalmente para os brasileiros de classe média alta e classe alta que aliavam este esporte aos dos europeus, enquadrando-se ao modelo hegemônico burguês de esporte da época. Apesar de ser um jogo da elite, mesmo na Inglaterra, há registros de que existiam times de operários como o Manchester e o Arsenal.

    De acordo com Santos (apud Cardoso, 2003), o fato de o futebol integrar o modelo hegemônico-burguês, fazia com que este esporte não fosse acessível para todos, ou melhor, este esporte era para a minoria. As pessoas que tinham acesso a este esporte faziam parte da elite. Ou seja, este esporte neste item não mudou muito, a elite quem determina e quem decide o que as classes inferiores assistem e praticam.

    A história oficial contada é a de “Charles Miller”, filho de ingleses radicados em São Paulo que quando retorna de seus estudos na Inglaterra, trouxe ao Brasil as regras e a bola de futebol, no ano de 1894. Entretanto, de acordo com Levine (apud Cardoso, 2003) “o futebol foi pela primeira vez jogada no Brasil em 1864 por marinheiros britânicos de licença em terra brasileiras” (p. 23).

    Como podemos perceber o futebol desde seu nascimento faz parte da elite, tanto no Brasil, como em outros países, mas ao passar do tempo ele se tornou parte de nossas vidas e se inseriu em nossa cultura. O Brasil é conhecido como o país do futebol, todas as pessoas aderiram este esporte e de certa forma, ele é o esporte que prevalece, não só em nosso país, mas mundialmente.

    O futebol move multidões, envolve paixão, emoção, competição e muita empolgação. Podemos dar um exemplo básico, para mostrar como o futebol se tornou o esporte “rei”, predominante e hegemônico, existe alguma competição que se compara com a Copa do Mundo de Futebol? Onde o país todo torce, empresas param, não quero generalizar, mas quase todos param para assistir e vestir a camisa de nossa seleção, isso não acontece no mundial de Voleibol, de Basquete, de Atletismo, isso só ocorre no futebol. Não por que nosso país se identifica mais com este esporte, mas por que mundialmente o futebol é predominante dentre os outros esportes.

2.2.     Os problemas relacionados ao capitalismo no esporte

    O sistema capitalista é um problema que está presente em todos os esportes atualmente. Este sistema tem algumas características próprias, fazendo os esportes perderem suas essências, ele transforma tudo em mercadoria e visa exclusivamente o maior lucro possível.

    Segundo Brohm (apud Proni, 2002), se analisarmos a construção histórica do sistema esportivo mundial, identificaremos quatro fatores responsáveis pelo desenvolvimento do esporte moderno:

  1. O aumento do tempo livre e o desenvolvimento do ócio (que ocupa um lugar de destaque na civilização do lazer);

  2. A universalização dos intercâmbios mediante os transportes e os meios de comunicação de massa (o esporte converte-se em “mercadoria cultural” graças a sua natureza cosmopolita);

  3. A revolução técnico-cientifica (que reflete-se na busca de eficiência corporal, nos novos materiais e equipamentos, inclusive no surgimento de novas modalidades esportivas);

  4. E a revolução democrático-burguesa e o enfrentamento das nações no plano internacional (isto é, a dinâmica político-ideológica) (BROHM, apud PRONI, 2002, p. 39).

    De acordo com Proni (2002), o sistema esportivo se organiza então, num contexto articulado de instâncias dominantes, que se estrutura segundo um esquema piramidal no que há um conjunto de poder e uma determinada escala de valores, ou seja, o sistema esportivo e o sistema capitalista defendem uma idéia, defende o interesse das classes dominantes que organizam, estruturam e comandam estes sistemas e nossa sociedade.

    Segundo Proni (2002), o importante do ponto de vista da lógica que comanda o sistema, é que se verifica uma “homologia estrutural” entre a competitividade mercantil capitalista e a competição existente no ambiente esportivo, assim como entre a universalização da configuração mercantil esportiva. Do mesmo modo que existe uma racionalidade que organiza os mercados e a concorrência capitalista, há um quadro de normas e regras que regulam as competições esportivas.

    Para retratarmos bem como o capitalismo interferiu e se alojou nos esportes, concordo com Proni (2002, p.43):

    E como os princípios da sociedade capitalista mercantil determinam estruturalmente o esporte, as categorias socioeconômicas encontram correspondência nas categorias esportivas: a especialização esportiva é produto da divisão social do trabalho (técnica do corpo); a busca do máximo de rendimento torna recorde similar a uma medida da capacidade produtiva almejada; o esporte é uma corrida contra o relógio (o tempo capitalista); o espetáculo esportivo torna-se uma mercadoria; os esportistas perdem sua individualidade (despersonalização e massificação).

    Os esportes passam a ser comandados por este sistema capitalista, onde grandes atletas perdem suas identidades e assumem identidades que este sistema acredita que irá render lucros para os mesmos. Os esportes como citado anteriormente, perdem suas essências e assumem um papel totalmente capitalista.

    Segundo Proni (2002), esse modelo esporte, que segue os modelos capitalistas é conhecido como “esporte moderno”. Este modelo surge com o desenvolvimento do capitalismo industrial, sendo imediatamente cercado pelo mercantilismo e pela procura de lucro, nas vendas dos espetáculos e apostas dos mesmos. A venda capitalista do espetáculo esportivo confirma que o objetivo do esporte de competição é o lucro, pois os responsáveis pela organização se interessam pelo rendimento econômico.

    De acordo com Brohm (apud Proni, 2002, p. 46):

    Portanto, á medida que a circulação e a valorização das mercadorias penetram o âmbito do sistema esportivo, inserindo-se nas malhas do sistema capitalista, o esporte converte-se num “simples anexo funcional” desse sistema (cap.5, p.153). Assim, á medida que as praticas esportivas se estruturam enquanto instituição integrada, o esporte moderno passa a obedecer a todas as leis que regem o sistema capitalista (acumulação, concentração, circulação de capitais).

    Pelo que podemos perceber, o sistema capitalista está envolvido e embutido em todos os esportes, além de inserido no meio esportivo, ele tem uma influência monstruosa.

    Segundo Proni (2002), para comprovar que o esporte é um sistema de idéias a serviço do sistema, o autor busca demonstrar que a instituição esportiva cumpriu as seguintes funções:

  1. Dissimular e encobrir as relações de produção, gerando uma falsa consciência das relações sociais;

  2. Justificar e fazer uma apologia da situação social existente;

  3. Ajudar a manter a ordem, por meio de um conjunto coerente de representações, valores e crenças, atuando no plano imaginário;

  4. Potencializar as forças produtivas e a reprodução do sistema de produção;

  5. E estruturar e alimentar a visão de mundo cotidiano das massas (PRONI, 2002, p. 54).

    Os esportes fazem parte do sistema capitalista, este sistema se implantou e fez esportes como o futebol e o basquete, por exemplo, chegarem a um nível de espetáculo e rentabilidade notórios. E cada vez mais os espetáculos e as estrelas dos mesmos são considerados heróis, com isso, o capitalismo aumenta cada dia mais seu poder e sua hegemonia dentro dos esportes. Em relação ao futebol, podemos lembrar-nos dos espetáculos criados para geração de lucro, campeonato brasileiro, libertadores, sem falar, no espetáculo criado para Copa do Mundo que acontece no Brasil no próximo ano. Tudo isso, toda essa criação, são sementes plantadas para colherem muito lucro.

2.3.     Esporte futebol nesta configuração capitalista: novo mercado?

    De acordo com Giulianotti (2002), desde a década de 1960, a economia que movimenta o futebol passou por uma rápida modernização, devido aos famosos jogadores e clubes que foram incorporados com uma maior intensidade na mercantilização da cultura popular, ou seja, se tornou parte da cultura e das vidas das pessoas, fazendo com que este esporte se desenvolvesse notoriamente.

    Segundo Giulianotti (2002, p. 118):

    A experiência do futebol tornou-se cada vez mais sinônimo de placas de publicidade, patrocínio de camisas, comerciais de televisão, patrocínio de ligas e copas e comercialização de parafernálias de clube. Perto do final da década de 1980, os clubes mais profissionais do Reino Unido objetivaram ganhar mais dinheiro com suas atividades fora do campo do que a renda da bilheteria paga pelo torcedor médio. Camarotes executivos foram construídos nas arquibancadas cobertas para atrair os patrocinadores empresariais locais.

    O futebol no passar dos anos, foi perdendo sua essência de esporte. De uma pratica que nos proporcionava prazer e alegria, hoje o futebol se tornou um mercado, simplesmente, na minha humilde opinião, o mais lucrativo e também, o mais influente na economia mundial. São gastos fortunas em compras, as mesmas fortunas que também entra na venda de uma grande estrela.

    Mas esse salto quantitativo, que fez este esporte crescer tanto teve um fato que foi essencial para este acontecimento. Segundo Giulianotti (2002, pg.120), “a mercantilização do corpo foi intensificada quando a maior empresa mundial de produtos esportivos, a Nike, entrou no futebol”. Ou seja, quando a Nike veja neste esporte um meio de gerar lucros, ela investe consideravelmente.

    Segundo Giulianotti (2002, p.120):

    A base de vendas e o poder financeiro da Nike cresceram rapidamente por meio de assinatura de contrato com as personalidades americanas de esportes, principalmente Michael Jordan, Tiger Woods e Pete Sampras.

    A Nike assina contrato com lendas de esportes, onde eles carregam a marca em todos os lugares, eventos, competições, fazendo a marca se tornar cada vez mais uma potencia mundial. Ainda hoje presenciamos isso, por exemplo, podemos pegar os dois melhores jogadores do mundo atualmente, Lionel Messi, patrocinado pela Adidas e Cristiano Ronaldo, patrocinado pela Nike. Ambos rivais de clubes, rivais de premiações e rivais de patrocínios.

    Segundo Katz (apud Giulianotti, 2002), a Nike apostou no Dream Team americano de basquete, acreditando que este esporte desalojaria a hegemonia global do futebol depois deste time estrelou nas Olimpíadas de Barcelona em 1992. Mas esse pensamento não se concretizou, pois as olimpíadas não foram o suficiente para causar um grande impacto nas vendas, fazendo com que a Nike, voltasse a atuar nos mercado de futebol local. Para a Nike entrar no futebol com força máxima, ela deveria buscar jogadores mundialmente conhecido e respeitado, causando grande impacto e mostrando sua marca no melhor jogador possível.

    Segundo Giulianotti (2002, pg.120):

    Inevitavelmente, a empresa esteve no centro da maior especulação quando assinou um contrato com Ronaldo, do Brasil, em 1996, considerado seu patrimônio do futebol. O contrato rende a Ronaldo um mínimo de 10 milhões de libras esterlinas durante mais de dez anos e, supostamente, 120 milhões de libras esterlinas durante sua vida pós-futebol.

    A empresa Nike, entra no mundo do futebol e começa a fazer dos jogadores mercadorias e máquinas de fabricar dinheiro. Jogadores viram modelos, por exemplo, David Beckham que lucrava mais com seu marketing pessoal, do que nos campos de futebol. Tornando atualmente os jogadores fontes de gerar lucro.

    Outro fator que ajudou e muito para essas “mercadorias” se tornarem os “heróis” e fabricantes de lucro para seus patrocinadores é a mídia. A mídia não só no esporte futebol, mas em outros esportes, ela fez o esporte perder sua essência para poder ser transmitido, um exemplo é o Voleibol, que antes um jogo de Vôlei não tinha hora pra acabar, então, foi modificado e alterado para poder ser incluído nos padrões midiáticos.

    Segundo Brailsford (apud GiulianottI, 2002, p.126):

    A oposição á influencia crescente da televisão centrou-se em seus efeitos nitidamente negativos sobre o futebol. A crítica mais constante é de que o futebol vai se tornar igual ao esporte americano, em que a televisão “controla o tempo e o horário do jogo.

    De acordo com Hoch (apud Giulianotti, 2002), o calendário do futebol pode ser alterado para se adaptar aos horários televisivos e as próprias partidas ficariam comprometidas, pois serão fragmentadas para permitir os intervalos comerciais, onde esses comerciais são a fonte de lucro dos responsáveis do evento.

    A televisão modifica a essência do esporte e faz com que esses jogadores, se tornem uma forma de adquirirem lucro e patrocínio. A mídia alterou, modificou e interfere no esporte futebol. Ela cria “mitos” e essa mesma mídia destrói os mesmos.

    Os jogadores são como maquinas, eles em boas condições valem muito e são muito respeitados, machucados não valem nada. A Nike, mas me refiro aqui a todos os patrocínios que modificaram e ainda modificam o meio esportivo atual, ao entrarem neste meio, fizeram com que os trabalhadores, passassem de jogadores á protagonistas de comercias, eventos beneficentes, participações em filmes, fizeram de um ser humano que quis apenas jogar futebol, uma fonte de arrecadar dinheiro e riqueza. E a televisão é o meio de comunicação que faz com que esses jogadores, se tornem ídolos.

    Segundo Wacquant (apud Giulianotti, 2002, p.144-145):

    O jogador é um empreendedor que investe em capital corporal, um jovem free-lance que trabalha com os pés. Todavia, o capital físico dos jogadores é central para sua relação produtiva com o clube. Se não passar no exame médico, nenhum contrato é proposto. No treino pré-temporada, o corpo é aprimorado, de mercadoria flexível é transformado em capital do futebol. Durante a temporada, ele é perfeitamente afinado pelo treinamento e pela estética do sacrifício. Ao passar pelas ultimas etapas de uma partida ou de uma carreira profissional, o corpo é considerado como uma maquina, um instrumento de “trabalho morto” como uma existência finita.

2.4.     Tendências pedagógicas da Educação Física

    As tendências pedagógicas são ferramentas importantíssimas para o desenvolvimento das aulas e para facilitar no ensino/aprendizagem dos alunos. Existem inúmeras tendências pedagógicas, mas me proponho a retratar algumas das mais usadas e mais conhecidas ao longo da história.

    O quadro a seguir apresenta as tendências e seus principais representantes, segundo Castellani Filho (apud Oliveira, 2001, p.38):

Concepções não - propositivas

Concepções propositivas

Não - sistematizadas

Sistematizadas

Abordagem Fenomenológica (Silvinho Santin e Wagner Wey Moreira)

Concepção Desenvolvimentista

(Go Tani)

Aptidão Física

Concepção Construtivista

(João Batista Freire)

Concepção de “Aulas Abertas” (Reiner Hildebrant)

Abordagem Cultural (Jocimar Daólio)

Concepção Crítico – Emancipatória (Elenor Kunz)

Crítico-Superadora

(Coletivo de Autores)

    Castellani Filho (apud Oliveira, 2001), caracteriza as teorias não-propositivas como aquelas que abordam a Educação Física escolar, mas não constituem parâmetros ou princípios metodológicos. Já as propositivas não-sistematizadas são aquelas que idealizam outra configuração de Educação Física escolar, definindo princípios identificadores de uma nova pratica, os quais não são sistematizados numa perspectiva metodológica, O autor não nos retrata uma distinção das propostas sistematizadas, mas depreende-se das demais caracterizações que se trata daquelas que apresentam parâmetros e princípios metodológicos.

    Essas são algumas das abordagens ou concepções existentes na área da Educação Física, mas irei enfatizar a concepção que me identifico e que será à base deste artigo, a Crítico-Superadora.

    Oliveira (2001) nos retrata que esta classificação, é de certa forma polêmica, mas o autor nos mostra que seu principal interesse com este quadro, é trazer essas concepções como reconhecimento provisório, em relação ao atual quadro da Educação Física brasileira. O que nos interessa não é a classificação exposta no quadro acima, mas sim, como dados em movimento que se caracterizam como tendências, no sentido mesmo de aproximação, intenção e direção, que hoje, são ferramentas essenciais num planejamento escolar e na elaboração de nossos planos de aula.

    Nesta lógica, onde as tendências ou concepções, são ferramentas essenciais e primordiais em nossa área especifica, acredito que a concepção Crítico-Superadora é a mais apropriada entre as demais, pois além de sistêmica, possui outro fator importante, onde o conhecimento é a base desta concepção, o aluno a partir deste conhecimento pode se superar e entender a verdadeira realidade que o mesmo está inserido, buscando com isso, alunos críticos e superados.

2.5.     Planos de aula

    Neste espaço do trabalho apresento alguns planos de atuação com o propósito de oferecer alguns exemplos do que acreditamos ser uma abordagem crítica do conteúdo futebol considerando os elementos levantados até o momento.

Plano de atuação

    Objetivo: Verificar as possibilidades de desenvolver debates críticos, sendo o esporte futebol o conteúdo e também fazer com que os alunos, partindo dessas novas descobertas, possam compreender e analisar melhor a realidade que os mesmos estão inseridos.

Linha de Atuação 1 e 2

    Num primeiro momento iremos conversar sobre o que o texto ira relatar. O texto criado por mim une um site que trata especificamente da historia dos esquemas táticos e sua evolução, também me baseio nos autores Frisselli e Mantovani.

    Iremos fazer a leitura do texto e após iremos debater o mesmo, seguindo os seguintes tópicos:

  • O que são esquemas táticos?

  • Como os esquemas táticos eram no inicio, defensivo ou ofensivo?

  • Por que os esquemas táticos foram evoluindo ao longo da história?

  • Qual a importância dos esquemas táticos numa partida de futebol?

  • Qual o sistema tático que vocês acreditam que seja o melhor a ser utilizado e por quê?

    Após esse debate, iremos para o campo, vivenciar estes esquemas táticos. Iremos começar com o 1-1-8, e vir evoluindo até os mais atuais. A cada esquema vivenciado irei reunir a turma e debater com eles, o que o esquema tem de positivo e negativo, por que o mesmo não é usado (se for o caso), após isso, vivenciar outro esquema mais atual do que o anterior, realizar o debate, e assim, sucessivamente.

Linha de Atuação 3 e 4

    Num primeiro momento iremos conversar sobre o que o texto ira relatar. Baseio-me em dois autores para atingir os objetivos desta aula, Richard Giulianotti (1999) e Marcelo Proni (2002), ambos discutem o que pretendo debater nesta aula, que seria a influencia do capitalismo e como ele modificou a essência dos esportes.

    Iremos fazer a leitura do texto e depois iremos debater seguindo algumas ordens. Sendo elas:

  • O que é o capitalismo?

  • Como e por que o capitalismo se insere no futebol?

  • O que o futebol proporciona ao capitalismo?

  • Como os jogadores são vistos na visão capitalista?

  • Qual a influencia da mídia no futebol?

  • Partidas de futebol ou espetáculos? Por que são criados?

  • Como nós vimos todo esse espetáculo?

Linha de Atuação 5 e 6

    Num primeiro momento iremos conversar sobre o que o texto ira relatar. Baseio-me em uma autora para atingir os objetivos desta aula, Ana Lúcia Cardoso (2003), que debate sobre o futebol feminino e a cultura do mesmo. Pretendo debater nesta aula, o futebol feminino e o preconceito existente.

    Iremos fazer a leitura do texto e depois iremos debater seguindo algumas ordens. Sendo elas:

  • Quando nasce o primeiro time feminino?

  • Quem eram as jogadoras?

  • Como eram vistas as mulheres que praticavam e como são vistas atualmente?

  • Quando as mulheres podem participar de alguma modalidade nos Jogos Olímpicos e que modalidades são estas?

  • Futebol feminino nos Jogos Olímpicos?

  • O que fez com que o preconceito e o numero de praticantes aumentasse?

  • Como deve ser trabalhado o futebol na Educação Física, só para meninos?

3.     Considerações finais

    Este trabalho teve por objetivo verificar as possibilidades de desenvolver debates críticos, a partir do esporte Futebol. Por ser o mais praticado e aceito no âmbito escolar, acredito que é possível atingir esse objetivo proposto.

    As tendências críticas da Educação Física podem apresentar soluções para os problemas encontrados nas escolas, especificamente nas aulas de Educação Física. Digo isso, pois quem segue estas tendências, é de certa forma, atualizado e comprometido com o que faz, e é isso que precisamos para melhorar nossa educação.

    O futebol e todos os esportes, trás consigo uma história, uma evolução, fatores que interferiram e interferem a favor e negativamente para ser o que é atualmente, além de inúmeros pontos que podem ser usados para debates. Acredito que professores atualizados e comprometidos nessa busca de mediar o conhecimento, de tentar mudar essa visão que a Educação Física possui atualmente, podem sim, debater aspectos críticos do futebol, do voleibol, do basquete, do handebol, dentre todos os esportes.

    Trago aqui uma proposta de verificar as possibilidades de desenvolver aspectos críticos sobre o futebol, para que o aluno possa se apropriar do conhecimento, internalizá-lo e a partir disso, o mesmo poderá ser critico e emancipado no mundo que está inserido, pois não existe emancipação sem conhecimento.

Referências

  • AUTORES, Coletivo de. Metodologia do Ensino de Educação Física. Editora Cortez, 1992.

  • CARDOSO, Ana Lúcia. O futebol da escola: uma proposta co-educativa sob a ótica da pedagogia Crítico-Emancipatória. UFSC, 2003.

  • GIULIANOTTI, Richard. Sociologia do futebol: dimensões históricas e socioculturais do esporte das multidões. São Paulo, Nova Alexandria, 1999.

  • FRISSELI, Ariobaldo; MANTOVANI, Marcelo. Futebol Teoria e Prática. São Paulo: Phorte, 1999.

  • LUCENA, Ricardo. PRONI, Marcelo. Esporte: História e Sociedade. Campinas, SP: Autores associados, 2002. – (Coleção educação física e esportes)

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