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Mães de bebês prematuros: vivências, dificuldades e expectativas

Las madres de bebés prematuros: experiencias, retos y expectativas

Mothers of premature babies: experiences, difficulties and expectations

 

*Enfermeira Docente do departamento de enfermagem

da rede Sociedade Educativa do Brasil/SOEBRAS

**Enfermeira. Montes Claros, MG

***Mestre em Ciências da Saúde. Enfermeira Docente do Departamento

de Enfermagem da Universidade Estadual de Montes Claros

e da rede Sociedade Educativa do Brasil/SOEBRAS

(Brasil)

Dina Luciana Batista Andrade*

dinalucianab@yahoo.com.br

Jordana Gonçalves Silva**

jordanamoc@yahoo.com.br

Kamila Sampaio de Souza**

kamilasampaiosouza@hotmail.com

Fernanda Marques da Costa***

fernandafjjf@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Objetivou-se desvelar a vivência materna diante a prematuridade de seus filhos e da incerteza do prognóstico em um hospital no Município de Montes Claros, MG, levantando dificuldades encontradas pelas mães de recém-nascidos prematuros, conhecendo suas expectativas em relação a seus filhos e elucidando as suas experiências com a equipe de enfermagem. Estudo qualitativo, de caráter descritivo. Participaram 15 mães de recém-nascidos prematuros. Na análise estabeleceram-se os seguintes núcleos temáticos: dúvidas e medos relacionados à hospitalização e ao prognóstico, o desafio de cuidar de um bebê prematuro e a relação com a equipe de enfermagem. Conclui-se que a prematuridade imprime vivências conflitantes para as mães e para os demais membros da família e que as dificuldades apontadas pelas mães estão dentro da área de atuação da enfermagem.

          Unitermos: Enfermagem materno-infantil. Prematuro. Cuidado de enfermagem.

 

Resumen

          Este estudio tuvo por objetivo conocer experiencias maternas con bebés prematuros y la incertidumbre del pronóstico de un hospital en la ciudad de Montes Claros, MG, el aumento de las dificultades encontradas por las madres de los bebés prematuros, conocer sus expectativas hacia sus hijos y comprender sus experiencias con el personal de enfermería. Se trata de un estudio cualitativo de carácter descriptivo. Las participantes fueron 15 madres de recién nacidos prematuros. El análisis estableció los siguientes temas: las dudas y los temores relacionados con la hospitalización y el pronóstico, el reto de cuidar a un bebé prematuro y la relación con el personal de enfermería. Se concluye que la prematuridad imprime experiencias conflictivas para las madres y otros miembros de la familia y que las dificultades señaladas por las madres están en el área de actuación de la enfermera.

          Palabras clave: Enfermería materno infantil. Prematuro. Atención de Enfermería.

 

Abstract

          This study aimed to reveal maternal experiences prematurity of their children and the uncertainty of prognosis in a hospital in the city of Montes Claros, MG, raising difficulties encountered by mothers of premature infants, knowing their expectations for their children and elucidating their experiences with the nursing staff. Qualitative study of descriptive character. Participants were 15 mothers of preterm infants. The analysis established the following themes: doubts and fears related to hospitalization and prognosis, the difficulties of caring for a premature baby and the relationship with the nursing staff. It is concluded that prematurity prints conflicting experiences for mothers and other family members and that the difficulties pointed out by the mothers are in the area of ​​nursing performance.

          Unitermos: Maternal-child nursing, Premature. Nursing care.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 186, Noviembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (OMS 1994) prematuro é todo nascimento antes de 37 semanas de gestação. Os bebês que nascem prematuros têm maior morbimortalidade que os demais, associado principalmente à imaturidade de seus sistemas que propiciam risco aumentado de inadaptação à vida extra-uterina, infecções, hospitalização prolongada, desenvolvimento de seqüelas oftamológicas, neurológicas, pulmonares, etc. (CRUZ, et al., 2010). A prematuridade está relacionada à 61,4% da mortalidade infantil associados a problemas perinatais e a 75% da morbidade neonatal (VICTORA, 2001; CASCAES, et al., 2008).

    A ocorrência de nascimentos de recém-nascidos (RN) prematuros no Brasil cresceu 27% entre os anos de 1997 e 2006. Acredita-se que o número real seja muito maior, uma vez que ocorre grande taxa de subnotificação, principalmente nos estados do Norte e no Nordeste, onde mais crianças nascem em casa, e muitas mulheres sequer fazem acompanhamento pré-natal (SILVEIRA et al., 2008; VICTORA, 2001).

    Em relação aos fatores de risco para a ocorrência de prematuridade, a literatura estudada aponta para diversas causas, entre elas: alterações placentárias, excesso de líquido amniótico, idade materna, infecções maternas, primiparidade, prematuridade anterior e sangramento vaginal persistente no início da gestação. Além disso, também estão relacionados baixo nível socioeconômico, mulheres jovens e mulheres sem companheiro e fatores como o estilo de vida da gestante, incluindo o uso de fumo, álcool e drogas, trabalho, atividades físicas (CASCAES et al., 2008; BEZERRA; OLIVIERIA; LATORRE, 2006).

    O nascimento prematuro acarreta às famílias e à sociedade em geral um custo social e financeiro de difícil mensuração, uma vez que as internações hospitalares durante o primeiro ano de vida são três a quatro vezes mais freqüentes nos prematuros. No ambiente hospitalar cabe à equipe que assiste a este paciente proporcionar à sua família segurança e apoio suficiente para diminuir os desgastes resultantes desse momento. Nesta perspectiva encontra destaque a equipe de enfermagem que deve ter capacidade de ação multidisciplinar e possuir conhecimentos para aproveitar as ferramentas disponíveis em sua área de atuação a fim de identificar os agravos e minimizar os danos (SILVEIRA et al., 2008; ARAÚJO; RODRIGUES; RODRIGUES, 2008).

    Entretanto, é válido ressaltar que este momento afeta diretamente a estrutura familiar alterando as expectativas e anseios que permeiam a perinatalidade. Os pais enfrentam, após o nascimento, a situação crítica de saúde do filho e a conseqüente necessidade de hospitalização geralmente por longos períodos. Essa realidade implica em desgaste familiar no acompanhamento dos filhos hospitalizados, principalmente para as mães (CRUZ et al., 2010; SOUZA et al., 2009).

    Estudos com mães de RN hospitalizados revelam escores significativos de ansiedade, disforia e/ou depressão. Dessa forma, essas mães apresentam alto risco para problemas de saúde mental, tornando-se mais fragilizadas para o enfrentamento adequado do nascimento prematuro e menos adaptadas aos cuidados iniciais do bebê (PINTO; PADOVANI; LINHARES, 2009).

    É revelador ainda que os pais, principalmente as mães, são agentes mediadores importantes no desenvolvimento de seus filhos, ou seja, ambientes familiares inadequados podem potencializar os riscos perinatais que um RN pré-termo está exposto. Entre os fatores que caracterizam ou não a adequação do ambiente familiar está a capacidade da mãe de cuidar do bebê (PINTO; PADOVANI; LINHARES, 2009).

    Neste íntere, torna-se imprescindível discutir as experiências das mães de RN prematuro, destacando assim as dificuldades enfrentadas pelas mesmas decorrentes das condições de saúde de seus filhos e da espera até que o RN atenda pré-requisitos do protocolo de alta. Destarte, este trabalho faz-se relevante para a enfermagem por proporcionar um direcionamento de suas atividades no sentido de tornar esse momento mais construtivo e menos traumático para as mães e conseqüentemente para toda a família.

    Por conseguinte, partindo de uma visão fenomenologia, adotou-se o objetivo de desvelar a vivência materna e suas dificuldades diante a prematuridade dos seus filhos em um hospital escola do norte de Minas Gerais, buscando conhecer suas expectativas em relação a seus filhos, além de elucidar a experiência dessas mães com a equipe de enfermagem.

    Espera-se que os resultados desta pesquisa tornem visíveis os significados da prematuridade para as mães dos neonatos pré-termo e que forneça contribuição valiosa à enfermagem.

Metodologia

    Optou-se pela pesquisa qualitativa de caráter descritivo no intuito de adentrar no universo das mães que vivem a prematuridade de seus filhos. Essa abordagem responde a questionamentos extremamente particulares, além de oferecer a possibilidade de conhecer pela vivência, experiência de vida e reflexão à realidade, a fim de transformá-la (TRIVIÑOS, 1994; MINAYO, 2007).

    Esta investigação foi realizada no Hospital Universitário Clemente Faria (HUCF) da Universidade Estadual de Montes Claros entre os meses de Junho e dezembro de 2011. A escolha deste cenário se deu devido à importância regional que este hospital tem no âmbito da saúde atendendo gestantes do Norte de Minas e Sudoeste da Bahia.

    Os sujeitos deste estudo foram as mães de RNs prematuros que embora estivessem de alta acompanhavam seus filhos ainda hospitalizados. A delimitação da amostra foi através da saturação dos dados colhidos nas entrevistas (MINAYO, 2007). Foram excluídas da amostra as mães de RN prematuro que por algum motivo não quiseram participar da pesquisa, ou não forem encontradas no momento da entrevista. Contudo, a amostra foi fixada em 15 entrevistadas.

    Para a coleta dos dados foi utilizada a entrevista individual semi-estruturada. Com a aquiescência das mães as entrevistas foram gravadas, transcritas e codificadas para manter o sigilo da sua identidade (TRIVIÑOS, 1994).

    Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros - parecer nº 2.767 em 04 de junho de 2011. O anonimato das entrevistadas foi garantido através de estabelecimento de um código para identificá-las. Cada entrevistada foi identificada com a letra M – referente à mãe – mais o número arábico (1, 2, 3...) na seqüência das entrevistas realizadas.

    A análise dos dados foi organizada segundo a técnica de Análise do Conteúdo e distribuídos em categorias que se referem a um conceito que abrangem elementos ou aspectos com características comuns ou que se relacionam entre si (MINAYO, 2007). Dessa forma, constituíram-se três categorias: Hospitalização e Prognóstico: Dúvidas e Medos; O desafio de cuidar de um bebê prematuro; A relação com a equipe de enfermagem.

Análise e discussão dos dados

    Entre as entrevistadas a média de idade foi de 17 a 33 anos, destas 67% (10 mães) eram primíparas; todas relataram possuir união civil ou relacionamento estável, 100% das entrevistas relatam terem realizado pré-natal, porém nem todas souberam precisar o número de consultas. Os principais riscos perinatais apresentados foram abortamento, história pregressa de prematuridade, óbito neonatal prévio e Doença Hipertensiva Específica da Gravidez (DHEG). Esses riscos condizem com o que traz a literatura apresentada (RAMOS; CUMAN, 2009; RADES; BITTAR; ZUGAIB, 2004; KENNER, 2001).

Hospitalização e prognóstico: dúvidas e medos

    A prematuridade implica em uma vivência para a mãe totalmente diferente do que ela imaginou e até mesmo sonhou durante toda a gestação, o que não se dá sem sofrimento.

    (...) Assim foi um pouco difícil né, porque assim eu tomei um susto porque não passava na minha cabeça que iria nascer prematuro né. (M4)

    Em consonância com a literatura percebe-se que a fragilidade emocional de mães de bebês prematuros pode ser identificada por meio dos relatos sobre a sua experiência, revelando os seguintes aspectos: medo das possíveis conseqüências do parto prematuro, temor pela saúde do bebê e tristeza por vivenciar uma situação diferente daquela vivenciada por mães de filhos nascidos a termo, as quais podiam acariciá-lo, amamentá-lo e envolvê-lo nos braços a qualquer momento (PINTO; PADOVANI; LINHARES, 2009). Ao mesmo tempo vem a realidade do hospital, que se configura como um ambiente hostil onde não lhe é permitido decidir sozinha sobre si e sobre seu filho.

    (...) Ficar aqui pra mim, passa a noite aqui, comer aqui, come nos horários que e daqui, às vezes eu to com fome antes às vezes não to com fome e vem a comida, e não poder sair que tem que fica aqui com o neném. (M7)

    A gente fica aqui no hospital isso que é chato (M5)

    A mãe, na maioria das vezes, passa a assistir aos cuidados especializados prestados pela equipe de saúde, tendo como pano de fundo um cenário inóspito do hospital composto de aparelhos, fios e profissionais da equipe de saúde executando procedimentos invasivos. A contemplação materna desta rotina aterrorizadora é especialmente estressante (ARAÚJO; RODRIGUES; RODRIGUES, 2008).

    As entrevistas retratam esse estresse que a prematuridade traz para a mãe e é fácil perceber ainda que ele se estenda aos outros membros da família. As dificuldades expressas em relação ao afastamento do lar, do convívio com os outros parentes ou mesmo outros filhos, gera sentimentos angustiantes nas mães. É o que afirmam as seguintes falas:

    A experiência é ruim, é difícil de ficar aqui, minha família esperando para ver meu filho e não ter como (M14)

    (...) uma experiência um pouco complicada (...), por eu ter que ficar um certo tempo longe da minha família e por meu parto ter tido algumas complicações. (M3)

    (...) é uma experiência bastante difícil, tudo se torna mais complicado quando está aqui este tanto de dia, e casa que fico pra traz, e a família. (M15)

    No ambiente hospitalar, os pais passam a conviver inicialmente com a ansiedade pela estabilização do quadro clínico, com o ganho e manutenção do peso e, por fim, com o período que antecede a alta hospitalar. Na maioria das vezes, em função das inúmeras alterações em seu cotidiano, as famílias tendem a perceber essa trajetória como longa, mesmo quando não o é de fato (VELOSO, 2007; SOUZA et al., 2012).

    A permanência materna como acompanhante do filho submete a mulher a uma desintegração temporária do convívio familiar e social. Tal fato pode desencadear sensações de negligenciamento no seu papel de mãe, que sem escolhas, permanecem acompanhando o filho prematuro e submete os outros filhos a privação dos cuidados maternos (SOUZA et al., 2009).

    Em diversas entrevistas pôde-se notar uma construção de insegurança sobre como o seu filho vai reagir, quanto tempo vai demorar à alta e se ele vai ter um desenvolvimento adequado ao de outras crianças que nascem a termo. A expectativa em relação ao filho parece ser cercada de dúvidas onde se acredita que terá um desenvolvimento adequado, mas ao mesmo tempo há o medo disso não se concretizar.

    (...) a demora de ganho de peso acaba sendo estressante (M2)

    (...) eu me sinto insegura em relação à saúde do bebê (...) é a insegurança em acreditar que nada vai acontecer com ele. (a mãe se emociona e chora) (M1)

    As falas expostas, em especial a de M1 reportam à necessidade de se prestar apoio às mães de forma integral e particular, uma vez que essa situação pode configurar em risco para a saúde mental e emocional. Faz-se necessário tornar a hospitalização um momento menos traumático e de maior aprendizagem (PINTO; PADOVANI; LINHARES, 2009; SOUZA et al., 2012).

O desafio do cuidado de um bebê prematuro

    Nesta categoria discute-se que as experiências da maternidade no âmbito da prematuridade devem ser marcadas pela construção do aprendizado de cuidar de um bebê que se apresenta diferente do que era esperado. O desafio passa pela desconstrução da imagem de bebê ideal e construção da imagem do bebê real. O bebê prematuro é diferente do que ela sonhou, ele é muitas vezes pequeno e frágil. A reorganização desse quadro imaginário torna-se então desafiador e quando não são bem superados os sentimentos representativos poderão ser os de culpa, ansiedade e fracasso (PADOVANI et al., 2004).

    É notório entre as falas das entrevistadas, algumas vezes interrompida por lágrimas, o relato de um sentimento angustiante pelo fato de não conseguirem cuidar de seus filhos nas situações mais cotidianas, passando apenas a ser uma mera espectadora do cuidado prestado por outros, o que reafirma a sua sensação de incapacidade. As falas abaixo caracterizam bem esse sentimento. A submissão à rotina hospitalar e a autorização dos cuidados muitas vezes prestados por desconhecidos promove a quebra do simbolismo social que representa a maternidade como algo soberano (SOUZA et al., 2009).

    A minha dificuldade de ter que dar o banho neh, pelo fato dele ser bem pequenininho, e até mesmo de ficar aqui no hospital esses dias (M4)

    (...) pois ele era muito pequeno,e eu tinha medo de não saber pegar direito, e acabar machucando.M3)

    (...) sou bastante insegura para pegar meu filho no colo.(M15)

    O estabelecimento do vínculo e apego pode ser prejudicado pela falta de oportunidades da mãe interagir com seu filho, gerando desordens no relacionamento futuro de ambos. Esses sentimentos podem ser atenuados ou reforçados de acordo com a oportunidade que essa mãe tem ou não de participar, de alguma forma, dos cuidados de seu filho. O ver, tocar e ajudar a cuidar do filho alivia em parte a angústia e a insegurança. Daí a necessidade de ensinar e estimular as mães para o cuidado do bebê prematuro hospitalizado sempre que possível, tornando-as partícipes e responsáveis do desenvolvimento saudável do seu filho (SCOCHI et al., 2008; THOMAZ et al., 2005).

    Outro aspecto importante na relação mãe-filho e que foi destaque na fala das entrevistadas foi a dificuldade de se estabelecer a amamentação ao seio efetiva. A literatura aponta alguns fatores que favorecem o declínio da prática da amamentação em pré-maturo dentre os quais: a falta de contato precoce mãe-filho e a ausência de amamentação na sala de parto, bem como a permanência prolongada do recém-nascido em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (VELOSO, 2007; GORGULHO; PACHECO, 2008).

    (...) maior dificuldade em dar o peito, tenho muito medo de não consegui. (M13)

    (...) dar o peito também é muito difícil porque tem hora que ele pega, tem hora que ele não pega. (M9)

    (...) a principal dificuldade é no meu peito pelo fato de eu não ter leite, aí eu vou ficando muito nervosa, porque ele chora querendo mama e eu não tenho leite. (M8)

    O estabelecimento pleno da amamentação é um dos critérios para a alta hospitalar, esta medida tem efeitos benéficos em curto e médio prazo, como constatado em estudos pela redução no uso da complementação das mamadas e pela manutenção exclusiva após a alta, porém para ser efetiva requer profissionais hábeis e mães informadas e apoiadas para superar as dificuldades. A baixa produção de leite tem sido o principal fator do desmame em RN prematuro de baixo peso. Sabe-se que essas mães são puérperas que vivenciam situações peculiares, enfrentando uma fase de estresse que pode provocar a diminuição ou rompimento da lactação. Assim, os profissionais de saúde devem oferecer ajuda prática e emocional às mães e familiares, auxiliando-a a tomar decisões acerca do que é melhor para ela e seu filho bem como a adquirir autoconfiança em sua capacidade de amamentar (VELOSO, 2007; LAMY et al., 2005).

A relação com a equipe de enfermagem

    Em relação ao profissional de enfermagem, acredita-se que o enfermeiro possui o papel de grande importância no cuidado à mulher e ao RN. É um profissional que faz um elo entre as mães com outros profissionais, pensa-se que este profissional deve realizar um cuidado de forma humanizada e individualizada (ARAÚJO; RODRIGUES; RODRIGUES, 2008).

    As mulheres deste estudo revelam, através das falas, que a integração entre enfermeiros e pais pode minimizar o sofrimento, criando assim um laço de confiança para a cooperação mútua entre as partes, possibilitando a prevenção de danos à saúde do bebê, acompanhamento do seu desenvolvimento e de possíveis seqüelas, gerando tranqüilidade e segurança para toda equipe neonatal.

    (...) Alguns enfermeiros me apóiam e me incentivam bastante nos cuidados com meu filho (M3)

    (...) pra mim ta boa, tão sendo prestativas comigo, não deixa falta nada para o bebê, sempre me dando força. Ta tudo bem (M6)

    (...) nossa não tenho nada que reclamar viu, tão me tratando muito bem (M9)

    (...) ta boa, melhor na parte do dia, à noite elas são mais fechadas (M8)

    Ressalta-se a necessidade de acolhimento e de uma comunicação efetiva e contínua a essas mães. Na maioria das vezes, as mães desejam apenas um gesto de atenção, um olhar de carinho, uma palavra de encorajamento, de incentivo em relação à equipe de profissionais (SOUZA et al., 2012; OLIVEIRA, 2005).

    O auxílio na amamentação, na realização dos cuidados com o bebê a o estímulo à independência devem ser especialmente avaliados e implementados pela enfermagem, a fim de que a mãe possa colocar em prática o que para ela é o verdadeiro sentido do ser mãe.

Considerações finais

    Ao chegar ao término desta pesquisa pode-se perceber que a prematuridade imprime vivências conflitantes para as mães e para os demais membros da família. Essas vivências perpassam pelas dificuldades da hospitalização, pelos cuidados de um bebê que para elas parece mais frágil do que esperavam que fosse. Neste contexto, é favorável o convívio com a equipe de enfermagem que tem se apresentado como aliada em um momento tão delicado. Descrever cada um dos estressores apontados pelas mães foi importante na medida em que fornece subsídios para a atuação mais efetiva da enfermagem na implementação de planos de cuidados que visem não só o bebê, mas também a mãe e muitas vezes o pai. Nesse íntere, deve-se direcionar atenção também às necessidades maternas, pois somente entendendo suas dificuldades pode-se proporcionar-lhe um cuidado humanizado e holístico.

    Este trabalho produz conhecimentos ímpares à enfermagem uma vez que cada uma das dificuldades apontadas pelas entrevistadas está dentro desta área de atuação, são dificuldades que podem ser abordadas nos planos de cuidados e intervenções da enfermagem. Contudo, também abre espaço para mais discussões a cerca dos diagnósticos de enfermagem que pode ser envolvidos nesse processo visando sempre uma atenção sistematizada.

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