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Análise do cortisol salivar livre em atletas
fisiculturistas de Brasília, Brasil

Análisis de cortisol libre en saliva en atletas fisicoculturistas de Brasilia, Brasil

 

*Nutricionista, Mestre em Nutrição Humana

Doutoranda em Ensino na Saúde. Universidade de Brasília

**Nutricionista, graduada pelo Uniceub

(Brasil)

Andréia Araujo Lima Torres*

Sara Tereza Gomes Teodoro**

andreiat@me.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como finalidade analisar os níveis de cortisol salivar, em atletas fisiculturistas de Brasília, Brasil, antes de um treino resistido e após o mesmo treino. Foi realizado um estudo transversal envolvendo a análise do Cortisol Salivar e o preenchimento de um questionário com perguntas fechadas, envolvendo aspectos relativos ao treinamento e competições, assim como o uso de suplementos. Foram avaliados 10 atletas de fisiculturismo, do sexo masculino com idade média de 29,6 anos ± 3,027 anos. A análise do hormônio cortisol salivar livre no período pré-treino encontrava-se em média, dentro dos valores de referência (inferior a 19.7 nmol/l) e no pós-treino manteve-se dentro da referência para todos os atletas, contudo houve uma redução nos valores do pós-treino em 80% da amostra analisada, sugerindo uma adaptação às situações agressivas impostas pelo exercício físico. Outros estudos devem ser realizados afim de que possíveis fatores confundidores possam ser analisados.

          Unitermos: Cortisol salivar. Suplementos alimentares. Exercício. Fisiculturismo.

 

Abstract

          The present study aimed to analyze the levels of salivary cortisol in bodybuilders from Brasília, Brazil. The mean age was 29.6 years ± 3.027 years. There were taken two samples of saliva, one immediately before a resistance training (1st collection) and another immediately after the workout (2nd collection). The analysis of salivary free cortisol hormone during pre-training was within the reference values (less than 19.7 nmol/l) and post-training remained within the reference to all athletes, however there was a reduction in the values of post-training, suggesting an adaptation to the aggressive conditions imposed by the exercise. Other studies should be conducted in order to analyze possible confounding factors.

          Keywords: Salivary cortisol. Food supplements. Exercise. Bodybuilding.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    De acordo com a Confederação Brasileira de Culturismo e Musculação o fisiculturismo ou bodybuliding é definido como um “esporte que visa desenvolver o tamanho muscular entre definição, proporção, simetria estética e harmonia” (CBCM, 2012).

    Segundo Pagnani (2003), até 2003 mais de 175.000 pessoas estavam registradas no mundo como competidores amadores na Federação Internacional de Fisiculturistas (IFBB). No Brasil, no mesmo ano existiam 24 estados com federações filiadas, e um número estimado de 18.000 culturistas.

    Os fisiculturistas aderem a um sistema de treinamento baseado em 3 principais modelos: treinamento de força não periodizado (sem variação de intensidade e volume); Periodização linear (diminuição do volume e aumento da intensidade conforme a progressão do treinamento); Periodização ondulatória ou não linear (alterações constantes de volume e intensidade durante um período de treinamento) (Minozzo et al, 2008).

    De uma maneira geral, o treinamento periodizado traz mais adaptações positivas com relação a ganho de força, potência e hipertrofia muscular quando comparado com o treinamento não periodizado (Kraemer, 1997; Marx et al, 2001).

    De acordo com Haskell (2007), a atividade física praticada regularmente pode diminuir o risco e ou a evolução de doenças cardiovasculares, acidentes vasculares cerebrais, problemas hipertensivos, diabetes, osteoporose, câncer, ansiedade e depressão, sendo determinante no controle do peso corporal. Contudo, quando esportes de competição nem sempre são sinônimo de equilíbrio ao organismo. Segundo Lukaski (2004) as alterações fisiológicas e os desgastes nutricionais gerados pelo esforço físico podem conduzir o atleta de fisiculturismo ao limiar da saúde e da doença se não houver a compensação adequada de todos os nutrientes essenciais.

    Pesquisas sobre o tema demonstraram que o exercício físico é capaz de exercer influência sobre os níveis de cortisol sob determinadas condições como intensidade do exercício freqüência de treinamento, estado nutricional e ritmo circadiano (BRENNER, 1998).

    Em condições normais os glicocorticóides exercem várias ações benéficas durante o exercício, aumentando a disponibilidade de substratos metabólicos, mantendo normal a integridade vascular e protegendo o organismo de uma ação exacerbada do sistema imunológico para danos musculares induzidos pelo exercício (DUCLOS, 2003).

    Entretanto, os níveis basais de cortisol tendem a oscilar em respostas agudas ao treinamento, principalmente aeróbio, ora estando em altas concentrações ora em baixas concentrações, evidenciando assim a importância da periodização do treinamento (MARX et, al., 2001).

    Este hormônio, que em níveis controlados é indispensável ao bem estar do indivíduo, frente a agentes estressores crônicos constantes, passa a ser liberado em excesso, sendo extremamente prejudicial à saúde (KHALSA; STAUTH, 1997). Entre os efeitos adversos citados estão a obesidade, hipertensão, perturbações, impotência, distúrbios psiquiátricos, astenia ou osteoporose (ORTH, 1995) sudorese, aumento dos níveis de açúcar no sangue, imunossupressão (BAUER, 2002) aumento do número de glóbulos brancos, diminuição do número de eosinófilos; ulcerações no aparelho digestivo; aumento da secreção de cloro na corrente sanguínea; irritabilidade; insônia; mudanças de humor diminuição do desejo sexual entre outros (FRANÇA; RODRIGUES, 1997).

    Como atletas de fisiculturismo, seguem o sistema de periodização e, em geral, estão submetidos a longos períodos de treinamento a avaliação do cortisol salivar torna-se fundamental afim de que ajustes na alimentação, suplementação e treino possam ser sugeridos pela equipe que os acompanham.

    Para medir os níveis de cortisol, a saliva oferece mais vantagens em relação às dosagens em soro ou plasma. Segundo Schmidt (1997), “as coletas das amostras para dosagem de cortisol na saliva não são invasivas nem caras; além disso, são fáceis de serem realizadas”. Chernow (1987) acrescenta que “múltiplas amostras podem ser coletadas em vários lugares, não necessitando ser em laboratório, oferecendo um modo conveniente de coleta seriada em diferentes períodos do dia”. Além disso, o cortisol salivar representa a fração livre do cortisol e mostra boa correlação com o cortisol sérico total e excelente correlação com o cortisol sérico livre (CASTRO, 1999).

    Desta forma, o estudo dos níveis de cortisol como preditor de estresse, vem ganhando interessados em aprofundar as investigações sobre o efeito do exercício no organismo e controlar os efeitos adversos do mesmo.

    O presente estudo teve como finalidade analisar os níveis de cortisol salivar, nos atletas fisiculturistas brasilienses, antes de um treino resistido e após o mesmo treino, associando estas concentrações com os níveis de estresse fisiológico. E por fim verificar o consumo de suplementos alimentares, e analisar por qual profissional foram indicados tais produtos.

2.     Materiais e métodos

    Este projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos – CEP do Centro Universitário de Brasília em 06 de Novembro de 2012. Foi realizado um estudo transversal quantitativo e qualitativo a partir da análise do Cortisol Salivar em fisiculturistas. Foi determinada uma amostra de conveniência composta por 10 atletas de fisiculturismo, com idade superior a 18 anos, registrados na Federação Brasiliense de Fisiculturismo. Foram adotados como critérios de inclusão: serem do gênero masculino, competirem há mais de um ano, com freqüência de treino de três vezes ou mais na semana, sem uso de qualquer glicocorticóide ou antiinflamatório, e que tenham lido, concordado e assinado o termo de consentimento livre e esclarecidos (TCLE).

    Os atletas foram abordados pessoalmente pelos pesquisadores em três academias, onde foi explicado o procedimento e feito o convite para participar da pesquisa.

    Foram realizadas duas coletas de cortisol salivar, uma imediatamente antes do treino resistido (1ª coleta) e outra imediatamente após a realização do mesmo treino (2ª coleta). Após a segunda coleta cada voluntário respondeu a um questionário a respeito do consumo de suplementos alimentares.

    Os dados foram tabulados no programa Excel versão 2007 e então analisados no programa R. Foi utilizado o teste t-Student para avaliar os valores médios do cortisol antes e após o treino, e como requisito foi aplicado antes o teste de normalidade de Shapiro-Wilk, e o teste F de variâncias.

3.     Resultados e discussão

    Foram avaliados 10 atletas de fisiculturismo, do sexo masculino, no período de 21 de agosto a 2 de setembro de 2012. A idade média foi de 29,6 anos ±3,027 anos, sendo que a maioria compete há 1,7 anos ±1,505 anos.

    O estudo foi realizado com indivíduos do sexo masculino, pois são mais estáveis do ponto de vista hormonal, e isso quer dizer que suas respostas ao treinamento ou intervenções são mais previsíveis, menos sujeitas a alterações causadas por oscilações do organismo (BELTRAME, 2012).

    Quanto à periodização, 60% (n=6) encontravam-se em período de hipertrofia, 10% (n= 1) em período de definição e 30% (n= 3) em período de transição. A periodização do treinamento de força parece ser fundamental na modulação dos níveis hormonais de testosterona e cortisol, e conseqüentemente, na potencialização da força muscular (MARX et al., 2001).

    A análise do hormônio cortisol salivar livre no período pré-treino encontrava-se dentro dos valores de referência (inferior a 19.7 nmol/l) e no pós-treino manteve-se dentro da referência para todos os atletas, contudo houve uma redução nos valores do pós-treino em 80% da amostra analisada (Tabela 1).

Tabela 1. Níveis do hormônio cortisol medidos antes e após o treino

    Os níveis hormonais antes e após o treino podem ser observados na Tabela 1. O valor médio calculado sob as duas condições sugere que os valores sejam distintos. A simples diferença entre eles aponta que o valor médio pós-treino é 1,48 nmol/l menor do que o valor pré-treino.

    A visualização da distribuição dos valores mensurados como um todo é importante para avaliar se a tendência apontada anteriormente pelo valor médio se estende ao conjunto de dados.

Figura 1. Diagrama de caixas da distribuição dos níveis hormonais antes e após o treino

    O Gráfico 1 corrobora com a diferença apontada pelo valor médio. A distribuição dos valores medidos pós-treino, em geral, é menor que a diferença medida antes do treino, como pode ser visualizado no boxplot. Há um único ponto discrepante, o indivíduo 9, cujo valor pós-treino foi de 16,2 nmol/l. Esse valor é bem distinto do restante dos dados sob essa condição. Talvez este indivíduo esteja menos treinado do que os demais. Novos testes ou perguntas específicas precisariam ser feitas para a confirmação do fato.

    A estatística do teste foi t = 1,668 (com 9 graus de liberdade) e o p-valor foi 0,065. A interpretação é que há evidências estatísticas de que os resultados não sejam iguais de fato com 90% de confiança (ou seja, há evidências de que o nível médio hormonal pré-treino seja maior do que o do pós-treino). Com isso, a diferença mínima estimada é de que o valor médio pré-treino seja pelo menos 0,25 nmol/l maior do que o pós-treino. Esse valor remete ao intervalo de 90% de confiança. Já a diferença medida foi de 1,48 nmol/l.

    Tal hipótese vem sendo reforçada pelos resultados de Inder e colaboradores (INDER, 1995) e Duclos e colaboradores (DUCLOS et al., 2003), nos quais o aumento das concentrações basais de ACTH (adrenocorticotrófico) no plasma não foi acompanhado do aumento de cortisol em homens treinados. Há hipótese de que o treinamento físico com intensidade moderada pode desenvolver mecanismos de tolerância, tais como a sensibilidade diminuída ao cortisol, de forma a proteger os músculos da ação deste hormônio. Portanto, após um período de treinamento de força, mesmo com aumento da liberação de ACTH, pode não ocorrer um aumento do cortisol (KRAEMER et al., 1997).

    Brenner relata que existe muita variabilidade em relação ao tipo e intensidade do exercício, nível de treinamento, estado nutricional e ritmo circadiano. Em estudo realizado por este autor com atletas de tênis não foi possível chegar a um posicionamento conclusivo, pois apesar de “poder-se dizer, com mais certeza hoje em dia, que os níveis de cortisol aumentam durante o exercício físico intenso em exercícios moderados, ainda há ainda muita controvérsia nesta área” (BRENNER, 1998).

    Já Urhausen (1998) relatou que indivíduos em overtraining têm cortisol sérico aumentado em relação a indivíduos com atividade física normal (264 ± 28 vs 254 ± 19 nmol/L), levando a crer que os atletas da presente pesquisa não encontravam-se em overtraining, pois os valores encontravam-se normais. Nahas (2001) lembra que, a persistência da situação de estresse, causa no organismo uma fase, onde são liberados os hormônios glicocorticóides (cortisona, cortisol e corticosterona). Além disso, Wilmore e Costill (2010) lembram que o cortisol pode ser um indicador da síndrome do supertreinamento.

    Outro ponto é que a gradativa elevação na produção de Espécies Reativas de Oxigênio (EROs) promovida pela realização de exercícios físicos aeróbios ou anaeróbios pode aumentar a resistência a novos estresses, efeito conhecido como adaptação ao treinamento (CRUZAT, 2007). Frente aos resultados obtidos nos exames de cortisol salivar livre, sugere-se que indivíduos treinados que não se encontrem em overtraining controlam melhor os níveis deste hormônio por meio da adaptação do organismo. Atletas mais experientes podem apresentar não apenas um melhor preparo fisiológico, mas também uma maior capacidade de administrar o estresse (MELLALIEU et al., 2004).

    Outra explicação é que a dissipação do cortisol ocorre mais lentamente nos indivíduos não treinados, após o exercício (RUDOLPH, 1998), o que não é o caso dos atletas deste estudo.

    A análise os dados demonstrou que 100% (n=10) dos atletas faziam uso de suplementos alimentares.

    O estudo também analisou quais suplementos são mais utilizados por estes atletas, destacando-se em primeiro lugar no ranking o Whey Protein com 100% (n=10), em segundo lugar o BCAA com 90% (n=9) e, em terceiro lugar, a glutamina com 70% (n =7). No estudo de Lugarezze (2009) o uso de suplementos nutricionais foi referido por 71% dos fisiculturistas, sendo a maioria dos suplementos, hiperprotéicos.

    É recomendado que praticantes de atividade física aumentem o consumo de proteínas para atender ao aumento da quantidade de proteína utilizada como fonte de energia pelo organismo durante os exercícios e reparar as lesões nas fibras musculares. Atletas de força podem necessitar de 1,6-1,7g de proteína por quilograma de peso corporal por dia (SALZANO, 2002). Contudo, segundo a Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva o excesso de proteína não promove ganho de massa muscular adicional, nem aumento do desempenho, pois há um limite para a utilização e acúmulo de proteínas nos diversos tecidos (LEMON, 1991; GUEDES, P. et al., 1998; GARCIA JÚNIOR, 1999; TALES, 2003). Desta forma, o acompanhamento nutricional é imprescindível para que os ajustes necessários sejam realizados.

    Na pesquisa feita por Rocha e Pereira (1998), também se observou que os suplementos protéicos são os mais consumidos pelos praticantes de atividades físicas, sendo que a maioria deles faz uso de aminoácidos e proteínas. Segundo Junior e Borelli (1994), diversos artigos publicados em revistas, folhetos e propaganda de alguns produtos, ratificam que suplementos a base de aminoácidos são úteis para halterofilistas e fisiculturistas, pois ajudam a amenizar a fadiga e aumentar a massa muscular.

    Quanto à indicação de uso dos suplementos (Figura 3), a maioria dos participantes relatou ter sido orientado a consumirem tais produtos por indicação de um nutricionista (n = 4, 40%), (n= 3, 30%) relataram ter a indicação do professor da academia e 30 % (n =3) tiveram a indicações de outros profissionais.

    Outros estudos também relataram que educadores físicos são responsáveis por grande parte da indicação do consumo de suplementos. Pereira, Lajolo e Hirschbruch (2003), observaram que 31,1% dos participantes pesquisados foram instruídos por instrutores e professores nas academias e Pedrosa et al. (2010), obtiveram valor similar ao demonstrarem que 30% dos usuários de suplementos tiveram a indicações feita por seus instrutores.

    Apesar de o educador físico ou treinador terem um contato mais constante com os atletas é importante lembrar que somente o nutricionista segundo a resolução CFN nº 390/2006 pode prescrever suplementos alimentares, caso seja necessário à complementação da dieta. Além disso, a prescrição deve ser feita após o diagnóstico nutricional, baseado minimamente em dados antropométricos, avaliação clínica, bioquímica e dietética. Para complementar a importância da especificidade no controle dietético feito unicamente pelo nutricionista, o estudo de Viviani e Júnior (2003) sugere que grande número de instrutores de academias e educadores físicos confundiu e desconheceu conceitos básicos de nutrição relacionados a práticas de musculação, demonstrando a ausência de conhecimento científico e específico sobre os temas.

4.     Conclusões

    A análise apontou que os níveis médios do hormônio cortisol pré-treino foram maiores do que os níveis pós-treino. Em vista do exposto, uma das explicações para isto seriam as próprias alterações homeostáticas e adaptações às situações agressivas impostas pelo exercício físico.

    Os atletas da modalidade de fisiculturismo geralmente apresentam controle dietético bastante rígido e seletivo. São pessoas disciplinadas que cumprem à risca dietas e sessões de treinamento. No caso de atletas de competição o planejamento alimentar adequado e o controle estável do cortisol é decisivo para melhor desempenho nos treinos e competições.

    De qualquer forma, outros estudos devem ser realizados afim de que possíveis fatores confundidores possam ser analisados, dentro os quais o efeito do padrão alimentar, uso de suplementos alimentares, qualidade do sono, ritmo circadiano, alterações endócrinas, uso de hormônios anabólicos dentre outros.

Referências bibliográficas

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