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Formação em Educação Física e o mundo
do trabalho: entraves e paradoxos

La formación en la Educación Física y el mundo del trabajo: obstáculos y paradojas

 

Acadêmico de Educação Física Licenciatura

UVA/GETHED

(Brasil)

Alisson Slider do Nascimento de Paula

alisson.slider@yahoo.com

José Luiz Pereira de Sousa

gm_luis@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O referido trabalho aborda as problemáticas que rodeiam a formação em Educação Física, tais como: qual o peso dessa fragmentação na formação causou na vida do trabalho dos profissionais professores de Educação Física? Em que está baseada a justificativa para divisão e restrição no campo de atuação? Quais os reais interesses do Confef com esta divisão na formação? O objetivo do trabalho foi levantar dados significativos que diagnostiquem as influências da fragmentação da formação no mundo do trabalho, quais os impactos que esta divisão ocasionou, e propor elementos para a superação de modelo de fragmentação de ciência. O estudo constituiu-se numa investigação quali-quantitativa com trabalho bibliográfico, documental e de campo (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). A parte bibliográfica/documental foi realizada a partir de periódicos de circulação nacional e livros produzidos pelo grupo LEPEL/FACED/UFBA. E na parte de campo utilizamos, como procedimento para a coleta de dados empíricos, formulário, aplicado com os dezesseis profissionais professores de Educação Física que estão atuando nas demais áreas de atuação “escola, academia, NASF, políticas públicas de Lazer e outros” . Para o tratamento dos dados, nos apropriamos da análise de conteúdo (BARDIN, 1988). A partir dos dados da pesquisa, pode-se diagnosticar a necessidade de buscar materialmente possibilidades que superem o atual modelo coercivo de formação em Educação Física. Para isso, é necessário buscar através da história, quais os procedimentos históricos do homem que possamos utilizar para superar o modelo vigente de formação. Para isso, fazemos uso dos sistemas de complexos, que a partir de ligações e causalidade de problemáticas possam evidenciar modelos de superação da formação em Educação Física contemporânea.

          Unitermos: Formação ampliada. Confef. Formação fragmentada.

 

Abstract

          That paper addresses the issues surrounding the training in physical education, such as: what is the weight of this fragmentation in the formation caused in the life of the work of professional physical education teachers? It is based on the rationale for dividing and restricting the field? What are the real interests of Confef with this division in training? The objective was to collect significant data to diagnose the influence of fragmentation of training in the workplace, which impacts caused this division, and propose elements for overcoming fragmentation model of science. The study was based on qualitative and quantitative research with bibliographic work, documentary and field (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). Part bibliographic / documentary was made ​​from nationally circulated periodicals and books produced by the group LEPEL / FACED / UFBa. And in the field used as a procedure to collect empirical data, form, applied with the sixteen professional physical education teachers who are working in other areas of performance "school, academy, NASF, public policies Leisure and others." For the treatment of the data, we appropriate content analysis (Bardin, 1988). From the survey data, we can diagnose the need to seek opportunities to materially exceed the current model coercive training in Physical Education. For this it is necessary to look through history, what procedures historic man that we can use to overcome the current model of training. For this, we make use of complex systems that from links and causality problems may show models for overcoming contemporary training in Physical Education.
          Keywords: Training enlarged. Confef. Training fragmented.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com

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    “Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de suas escolhas e sim sob aquelas com que se defontram diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando paressem empenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os nomes, os gritos de guerra e as roupagens, a fim de apresentar-se nessa linguagem emprestada.” Marx, Karl. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. São Paulo, Abril Cultural, 1978, p. 329

Introdução

    No limiar da sociedade contemporânea o que se identifica são as influências neoliberais advindas de um sistema político social e formativo caótico. As forças produtivas estão à mercê da propriedade privada, estas ultimas com interesses corporativistas controlam com indiscriminação as ações dos trabalhadores do atual modelo de sociedade – o capitalismo – através de coerção face às necessidades miseráveis que a as classes subalternas estão alocadas.

    A política neoliberal, por meio do governo FHC possibilitou as ingerências privadas permearem nos muros das instituições de ensino superior (IES), buscando formar profissionais que estejam aptos a venderem sua força de trabalho, com expectativas de salários que sirvam apenas para a reprodução do trabalho, em outras palavras, o salário pago seja o suficiente apenas para sua sobrevivência. Focando no âmbito da Educação Física encontramos além das coerções do Conselho Nacional de Educação (CNE) por meio de suas resoluções das diretrizes curriculares para o ensino superior também vemos como um real entrave provindo do Conselho Federal de Educação Física (Confef) que a partir de suas ingerências tentam intervir no âmbito da formação profissional, e conseguem êxito graças à política neoliberal.

    Um fato concreto das coerções advindas do CNE é a divisão na formação em Educação Física decorrente da resolução 07/04, que dividi em licenciado e em bacharelado em Educação Física. Com essa fragmentação na formação, também foi restringido o campo de atuação conforme a formação, sendo áreas educacionais exclusivamente campo dos licenciados e áreas extra-educacionais campo exclusivo dos bacharéis. Para melhor elucidação, fazemos uso das palavras do Confef.

    A LICENCIATURA: a formação de professores que atuarão nas diferentes etapas e modalidades da educação básica, portanto, para atuação específica e especializada com a componente curricular Educação Física.

    O BACHARELADO (oficialmente designado de graduação) qualificado para analisar criticamente a realidade social, para nela intervir por meio das diferentes manifestações da atividade física e esportiva, tendo por finalidade aumentar as possibilidades de adoção de um estilo de vida fisicamente ativo e saudável, estando impedido de atuar na educação básica. (CONFEF, 2006, p. 20).

    Todavia, qual o peso dessa fragmentação na formação causou na vida do trabalho dos profissionais professores de Educação Física? Em que está baseada a justificativa para divisão e restrição no campo de atuação? Quais os reais interesses do Confef com esta divisão na formação? Com essas problemáticas, torna-se imprescindível uma análise minuciosa acerca da temática em tela. Ora, fragmentar a formação em Educação Física, e assim delimitando as áreas de atuação, devemos também realçar a regulamentação da profissão em Educação Física que fora homologada sendo a Lei 9.696/98. Sendo assim, quais os reais interesses da regulamentação da profissão?

    Com isso, o trabalho irá buscar responder estas problemáticas a parte de seu referencial teórico e também com os resultados de pesquisa de campo que irão diagnostica os efeitos da política neoliberal face à atuação dos professores1 diante da sociedade do capital.

Objetivo

    Através de pesquisa de campo com professores que atuam de diversas áreas da Educação Física, levantar dados significativos que diagnostiquem as influências da fragmentação da formação no mundo do trabalho, quais os impactos que esta divisão ocasionou, e propor elementos para a superação de modelo de fragmentação de ciência.

Metodologia

    O presente trabalho é uma pesquisa advinda da disciplina de Bioestatística do curso de Educação Física da Universidade Estadual Vale do Acaraú, cuja intenção era levantar dados que colocassem em xeque a tese da fragmentação da formação em Educação Física, e a partir de constatação de lastro teórico desenvolver uma análise crítica acerca das ingerências do Confef no âmbito da formação em Educação Física bem como no exercício da profissão em sua totalidade.

    O estudo constituiu-se numa investigação quali-quantitativa com trabalho bibliográfico e de campo (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). A parte bibliográfica/documental foi realizada a partir de periódicos de circulação nacional e livros produzidos pelo grupo LEPEL/FACED/UFBA. E na parte de campo utilizamos, como procedimento para a coleta de dados empíricos, formulário, aplicado com os dezesseis profissionais professores de Educação Física que estão atuando nas demais áreas de atuação “escola, academia, NASF, políticas públicas de Lazer e outros” . Para o tratamento dos dados, nos apropriamos da análise de conteúdo (BARDIN, 1988).

Resultados e discussão

    A partir das respostas dos formulários da pesquisa, pode-se constatar o ponto de vistas dos graduados em licenciatura em Educação Física, levando em consideração todos os aspectos de suas respostas.

    A 1° pergunta correspondia à: Você considera positivo ou negativo a posição do CNE - Mec em dividir o a formação em Educação Física, em licenciatura e em Bacharelado?

    Com apenas duas opções de respostas, obtivemos um grande diferencial para com uma das opções conforme o gráfico abaixo:

Gráfico 1

    Com o quantitativo de somente 13% dos sujeitos da pesquisa, acreditam que a divisão na formação em Educação Física seja positiva enquanto 88% dos sujeitos acreditam que essa fragmentação tenha sido negativa. É necessário refletir sobre a temática. Ora, se grande maioria dos professores de Educação Física consideram negativo a fragmentação na formação, deve haver aspectos para que justifiquem essa condição de negação.

    Todavia, a partir da próxima constatação de dados podemos começar a identificar os conflitos causais que provém dessa fragmentação.

    A 2º indagação referia-se à: Você atua no campo que é determinado pelo CONFEF?

    Obtivemos novamente, diferencias significativos nos resultados, vejamos abaixo:

Gráfico 2

    Pode-se identificar que 67% dos professores atuam tanto em áreas formais como não-formais, e apenas 27% atuam na área conforme delimita o Confef e apenas 7% atua somente na área não-formal. A partir desses dados, podemos identificar que após a formação, com a demanda de trabalhos, muitos professores atuam em ambas as áreas. Contudo, com a formação fragmentada, com privações de conhecimentos, não estariam assim encontrando dificuldades no desenvolvimento do trabalho? Assim prejudicando os seus públicos? Esta problemática nos direciona para a próxima pergunta do questionário.

    3° pergunta diz respeito à: A partir da formação fragmentada você pode identificar se encontrou dificuldades ou facilidade no exercício de seu trabalho?

Gráfico 3

    Com isso, identificamos que mesmo com as justificativas de que a formação fragmentada irá qualificar os professores a desenvolver seu trabalho é mistificadora, pois através deste dado comprova que os professores de Educação Física escolar encontraram dificuldades de realizar seu trabalho após a formação em licenciatura em Educação Física.

    Vale ressaltar se esses professores encontraram dificuldades em desenvolver o trabalho na Educação Física escolar, que sua formação os direcionam para este campo, devemos considerar então que devem ter encontrado dificuldades no desenvolvimento do trabalho nas áreas-não formais. Contudo, refletimos enquanto possibilidade de superação dessa mazela na formação em Educação Física, à proposta de formação unificada, no que diz respeito à licenciatura ampliada (TAFFAREL et al., 2007).

    Muito embora, possamos levantar hipóteses acerca desse modelo de formação, devemos, sobretudo, considerar o que pensam os professores de Educação Física sobre a proposta de formação unificada. Com isso, selecionamos três respostas abertas indiscriminadas para servir de amostra.

    A 4º pergunto fora: Qual seu posicionamento frente à proposta da licenciatura ampliada?

    A primeira resposta selecionada segue a baixo:

    Sujeito 1: Acredito que a proposta de licenciatura ampliada é de grande contribuição, pois quando um dia pensarmos em um ser humano na sua totalidade, talvez, passamos a compreender melhor o indivíduo nas suas diversas dimensões. Se a educação no modo geral é fragmentada e se continuarmos dentro da educação física com essa divisão, não vamos tão cedo conseguir respaldo.

    Sujeito 2: Sou graduado em licenciatura, sendo essa fragmentada. Todavia, atuo em academia, não encontrei dificuldades no desenvolvimento profissional. Minha especialização é voltada para a fisiologia e biomecânica. Acho que essa poderia ser uma possibilidade a ser concretizada, uma formação ampliada, e após a formação fazer uma especialização para se qualificar no determinado campo.

    Sujeito 3: Acredito que mesmo a formação sendo dividida, nós sempre iremos encontrar dificuldades, pois estamos entrando em vivências distintas, não é a mesmo coisa de um IESC ou de um Estágio. A formação ampliada não lhe priva conhecimentos, lhe oportuniza saberes para as múltiplas profissões no âmbito da ed. física. Acredito que esse seja o melhor caminho. Conteúdos sem privações e sem delimitações profissionais.

    Sendo assim, tomando por base às respostas constatadas, é possível por em xeque a formação dividida, que limita, que priva os estudantes de conhecimentos, que tira a liberdade profissional, que abri espaço para interesses privados corporativistas a intervirem na formação e na atuação profissional, que oprime através de coerções que justificam sendo hierárquicas e de controle.

    Não é plausível uma formação que ludibria estudantes garantindo a excelência na formação para o mundo do trabalho, no entanto, quando este se depara com a vivência a qual se preparou em uma formação específica, direcionada, estreitamente ligada para aquele campo, o que encontra são apenas entraves para o desenvolvimento do trabalho. Esta formação fragmentada é um modelo de fragmentação de ciência, a qual, desvaloriza determinada área do conhecimento para priorizar apenas alguns que estão nos conformes da formação.

    Justifica-se a fragmentação da formação de professores em Educação Física como sendo veículo para uma formação com maior qualidade, baseada na pedagogia das competências. Hirata (1994) determina que a concepção de qualificação vem cedendo à lugar a de competência, na vigência do parâmetro de fundamento microeletrônica, o qual adota aspectos subjetivos e cognitivos, que potencializam a capacidade de “aprender a aprender” no atual padrão de acumulação. Com isso, determinando uma formação unilateral, provocada por um trabalho alienado, por meio da divisão social do trabalho, reificação, identifica-se ainda através do desenvolvimento dos indivíduos em direções específicas, pela especialização na formação, pela internalização de valores da classe dominante associados à competitividade, ao individualismo, etc. entretanto, sobretudo, a unilateralidade se revela nos mais variados tipos de limitação consequentes do submetimento do conjunto da sociedade à dinâmica do sociometabolismo do capital.

Conclusão

    A partir dos dados da pesquisa, pode-se diagnosticar a necessidade de buscar materialmente possibilidades que superem o atual modelo coercivo de formação em Educação Física. Para isso, é necessário buscar através da história, quais os procedimentos históricos do homem que possamos utilizar para superar o modelo vigente de formação. Para isso, fazemos uso dos sistemas de complexos, que a partir de ligações e causalidade de problemáticas possam evidenciar modelos de superação da formação em Educação Física contemporânea.

    Não há dados que comprovem cientificamente que deva ocorrer a fragmentação na formação em Educação Física, devemos reconhecer a Educação Física como uma área interdisciplinar, pois trata das ciências biológicas, saúde, sociais e humanas. Deste modo, evidenciando a reais possibilidades de saberes a serem apropriados pelos estudantes em formação. Não se pode deixar esse modelo de formação fragmentada se estabelecer, pois são apenas evidencias baseadas no modo de produção capitalista, com propósito de sobrecarregar a reserva de mercado, alienando os estudantes através de um trabalho estranhado.

    Sendo assim, a licenciatura plena de caráter ampliada surgi como possibilidade de superação do atual modelo de formação especializada em Educação Física, que não prive conhecimentos e nem liberdade profissional, que não proporcione uma formação unilateral e sim uma formação que possibilite um amplo conhecimento e capacidade de efetivação de uma práxis social nos espaços de trabalho e de não-trabalho (SOBRINHO SOUSA, 2011). Um vasto domínio das capacidades culturais e da cultura corporal é imprescindível para a subsistência omnilateral do ser, ou seja, uma formação omnilateral.

Nota

  1. Entendemos como sendo todos os profissionais que atuam na área da Educação Física como professores, pois não importa seu campo, sempre estará tratando pedagogicamente os saberes de determinada prática, em outras palavras, sempre será um processo de ensino e aprendizagem.

Referências

  • BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1988.

  • CONFEF. REVISTA E.F. nº 19 - Março de 2006.

  • HIRATA, Helena. Da polarização das qualificações ao modelo da competência. In: FERRETTI, Celso João et. al. (org.). Tecnologias, Trabalho e Educação: um debate multidisciplinar. Petrópolis: Vozes, 1994.

  • LÜDKE, M., ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo EPU, 1986.

  • SOUSA SOBRINHO, J. P. A Formação do Ser Omnilateral e a Cultura Corporal. Trabalho Necessário, v. Ano 9, p. 1/4-29, 2011.

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