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Efeitos da prática de exercícios de 

alongamento na flexibilidade durante a gestação

Efectos de la práctica de ejercicio de elongación en la flexibilidad durante el embarazo

Stretching effects in pregnants’ flexibility

 

*Academia BodyTech. Porto Alegre, RS

**Centro Universitário La Salle

Curso de Bacharelado em Educação Física, Canoas, RS

(Brasil)

Letícia Luna Trindade Mineiro*

leticia.ltm@bol.com.br

Adriana Marques Toigo**

adrytoigo@terra.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo desse estudo foi verificar, por meio de uma revisão de literatura, os efeitos da prática de exercícios de alongamento na manutenção da flexibilidade em gestantes. Abordou-se inicialmente os aspectos conceituais da flexibilidade, do alongamento, da gestação e da atividade física nesse período. Os resultados encontrados indicaram que os exercícios de alongamento são benéficos para a gestante, pois auxiliam na prevenção de dores musculares e de alguns riscos para a saúde, tal como a pré-eclâmpsia.

          Unitermos: Flexibilidade. Alongamento. Fisiologia materna. Atividade física.

 

Abstract

          The purpose of this study was to review in the literature the effects of stretching exercises in maintaining overall flexibility in pregnant women. Conceptual aspects of flexibility, stretching, pregnancy, and physical activity were explained. The results indicate that stretching exercises appear to be beneficial for pregnant women by preventing muscular pain and the occurrence of a number of health issues, such as preeclampsia.

          Keywords: Flexibility. Stretching. Maternal physiology. Physical activity.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    A atividade física é qualquer movimento realizado com o corpo, por meio de contração muscular e com gasto energético acima do nível basal, sendo assim, considerada a melhor relação entre saúde e movimento humano (MATSUDO; MATSUDO, 2000). Por essa razão vemos cada vez mais as pessoas praticando atividade física.

    Segundo Garber et al. (2011), além de melhorar o bem-estar e a qualidade de vida, o American College of Sports Medicine (ACSM) salienta que a prática de atividade física diminui o risco de desenvolver doenças coronarianas, de sofrer um acidente vascular cerebral, de desenvolver diabetes tipo II e alguns tipos de câncer, tais como o do cólon e o de mama. Estes benefícios dizem respeito à população em geral, mas também se aplicam à mulher durante o período gestacional.

    Por outro lado, em 2002, o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) divulgou as novas recomendações e diretrizes para a prática de exercício físico durante a gestação. Na ocasião, foram apontadas contra-indicações absolutas ao exercício aeróbio, como a presença de doença pulmonar restritiva e a gestação múltipla em risco de parto prematuro; relativas, como a anemia grave, a bronquite crônica e a hipertensão não controlada, e, finalmente, os sinais de alerta, tais como o sangramento vaginal, tonturas e dor no peito, a fim de encerrar a atividade física no período gestacional (ARTAL; O’TOOLE; WHITE, 2003). Na ausência desses fatores, o exercício físico pode ser um importante aliado na manutenção da qualidade de vida das gestantes.

    Uma das maiores reclamações de dor durante a gravidez é a lombalgia, em função da mudança do centro de gravidade provocada pela alteração da distribuição de massa com conseqüente lordose lombar acentuada, rotação anterior da pelve e aumento da elasticidade ligamentar (LIMA; OLIVEIRA, 2005). A prática de atividade física pode ser uma medida preventiva dessa e outras dores musculoesqueléticas.

    Para reduzir as tensões musculares, uma alternativa é o treinamento de alongamento, que também prepara o corpo para receber outros exercícios, alongando os músculos encurtados pela mudança fisiológica que ocorre durante a gravidez (MELO; AMARAL, 2009). O aumento da amplitude articular e a correção postural proporcionam uma tomada de atitude corporal mais confortável, tanto na prática de exercícios quanto nos movimentos diários, além de ter efeito relaxante (ALMEIDA; JABUR, 2006). A flexibilidade é utilizada para os movimentos mais comuns, como por exemplo subir no ônibus (atividade na qual é necessária uma boa mobilidade do quadril); para pegar algum objeto em cima do armário (que demanda de uma boa flexibilidade na região do ombro e da escápula); e para juntar qualquer material do chão (atividade para qual é preciso ter um bom alongamento do tornozelo, se ao abaixar não se tira o calcanhar do chão) (SABA, 2003). Portanto, até para indivíduos sedentários é importante fazer a manutenção da amplitude de movimentos a fim de evitar qualquer tipo de lesão que a falta dessa aptidão física possa causar.

    Há poucos estudos referindo à prática de exercícios de alongamento e o nível de flexibilidade em gestantes. Sabe-se muito sobre a atividade física no período gestacional, contudo, com pouca especificidade com respeito à amplitude de movimento, ao que se refere ao tempo de execução, ao período de prática, aos tipos de exercícios, aos riscos e aos benefícios. O objetivo desse estudo foi apresentar a síntese de uma revisão de literatura sobre os efeitos da prática de exercícios de alongamento na flexibilidade de gestantes.

Alterações fisiológicas durante a gestação

Mãe

    Durante as quarenta semanas de gestação, o corpo da mulher sofre alterações fisiológicas para que possa garantir a saúde e o desenvolvimento do feto. Estas alterações inicialmente ocorrem devido às ações hormonais procedentes do corpo lúteo e da placenta em formação e, a partir do segundo trimestre, em função do crescimento uterino (REIS, 1993).

    As principais modificações durante a gestação acontecem no sistema cardiocirculatório, respiratório, gastrintestinal e metabólico (REIS, 1993). Com relação ao sistema cardiocirculatório, já nas primeiras semanas, nota-se um aumento gradativo da freqüência cardíaca, que atinge um pico máximo entre as 28ª e 36ª semanas, após as quais volta a níveis menores, mas não aos valores normais.

    Também há um aumento em cerca de 50% do débito cardíaco. No início da gestação, isso ocorre devido à elevação do volume sistólico e no terceiro trimestre, pelo aumento da freqüência cardíaca (ROMBALDI et. al., 2008). Do início até a metade da gestação, percebe-se uma redução da pressão arterial causada pela diminuição da resistência vascular sistêmica, em razão da atividade hormonal gestacional, aumento das prostaglandinas, circulação de baixa resistência no útero gravídico e produção de calor fetal (GRINBERG apud ROMBALDI, 2008).

    Com o sistema respiratório, não se percebem modificações dos volumes pulmonares até o 5º mês de gestação. Após esse período, observa-se uma redução gradativa do volume de reserva expiratório (VRE), volume residual (VR) e da capacidade residual funcional (CRF) (REIS, 1993). Além disso, durante o período gestacional, nota-se uma elevação de 20% na absorção de oxigênio, suprindo às novas necessidades metabólicas.

    As modificações gastrintestinais caracterizam-se pela dificuldade do esvaziamento gástrico, que se deve a ação da progesterona e do aumento uterino que desloca o piloro para cima e para trás, tornando o processo mais lento. Essa situação se agrava durante o trabalho de parto em razão da dor, da ansiedade e do uso de opióides (REIS, 1993).

    O metabolismo materno aumenta proporcionalmente ao seu aumento de peso em virtude da maior demanda de energia necessária para a mãe carregar o peso crescente. Porém, o rápido crescimento do feto exige outras adaptações maternas, como um rápido metabolismo intermediário no fígado, rápido bombeamento de sangue pelo coração, respiração acelerada, e digestão e assimilação alimentar aumentadas (GUYTON, 1988).

    Algumas alterações fisiológicas continuam ocorrendo mesmo no período pós-parto, a fim de assegurar a nutrição da criança após o nascimento.

Feto

    A fertilização é o primeiro passo de uma série de acontecimentos que levam à gravidez. Segundo o American College of Obstetricians and Gynecologists (2011), a fecundação ocorre nas Trompas de Falópio. Nos dias seguintes, o óvulo fecundado (também chamado de zigoto) movimenta-se das trompas até o revestimento do útero, onde se implanta e começa a crescer, formando, assim, o embrião, bem como, as estruturas de sustentação (placenta, cordão umbilical e líquido amniótico). A função da placenta é fornecer oxigênio, nutrientes e hormônios da mãe para o embrião, que a partir do terceiro mês de vida gestacional recebe a denominação de feto.

    Quase todos os órgãos do feto assumem a forma final até o quinto mês de gestação e a maior parte deles pode funcionar de modo quase normal após seis meses do início da gravidez (GUYTON, 1988). A partir do terceiro mês, os sistemas metabólicos atuam quase que da mesma forma como ocorre depois do nascimento.

    Durante o quinto mês de gestação, o reflexo de sucção está desenvolvido. Então, se ocorrer de as mãos flutuarem até a boca, o feto poderá chupar o dedo. No sexto mês o cérebro se desenvolve rapidamente. No sétimo mês o bebê já chuta e pode responder a sons. No oitavo mês os ossos endurecem, mas o crânio continua macio e flexível para o momento da saída. Finalmente, no último mês, o feto ganha cerca de meio quilo por semana, e geralmente começa a ficar na posição de cabeça para baixo até o nascimento (AMERICAN COLLEGE OF OBSTETRICIANS AND GYNECOLOGISTS, 2011).

Prática de exercícios físicos durante a gestação

    O sedentarismo durante a gestação era muito comum antigamente por conta da falta de informações quanto à atividade física nesse período. Tavares et. al. (2009) realizaram um estudo sobre o padrão de atividade física em gestantes, no qual verificaram que desde o primeiro trimestre gestacional houve baixa prevalência de prática de exercícios físicos, alternando entre o leve e o sedentário, e diminuindo com a evolução da gravidez. Na 32ª semana, 100% das gestantes alcançaram o nível sedentário, em virtude da mudança do centro de gravidade e do próprio peso como sendo fatores relevantes para a indisposição à prática de atividade física ao final da gestação. Silva e Toigo (2013) também verificaram baixa prevalência de exercício físico por parte das gestantes investigadas, embora as mesmas tenham informado que conheciam vários benefícios da prática de exercícios durante a gestação.

    Porém, um estudo realizado por Dumith et. al. (2012), revela que um terço das mães que praticaram atividade física durante a gestação, realizaram menos partos cesáreos e tiveram menos incidência de natimortos, indicando que o exercício físico, realizado na medida correta, e com a orientação de um profissional, traz mais benefícios do que malefícios, tanto para a mãe quanto para o bebê. Na mesma perspectiva, Artal, Clapp e Vigil (2012), sustentam que a prática de atividades regulares durante a gestação restringe o ganho de peso da mãe sem comprometer o crescimento fetal e acelera a recuperação pós-parto, além de proporcionar benefícios psicológicos. Contudo, os autores ponderam que é recomendado durante este período, evitar esforço intenso, fazer boa hidratação e utilizar roupas leves para proteção contra estresse por calor. Também devem ser evitados mergulhos em alto-mar, devido à condição de baixa pressão.

    Segundo Artal e O’Toole (2003), as recomendações atuais do ACSM e do Centers for Disease Control (CDC), são de trinta minutos diários de exercício para mulheres não grávidas. As mulheres grávidas com ausência de uso de medicação ou complicações obstétricas, também podem adotar a mesma recomendação. As mulheres que eram sedentárias antes de engravidar devem seguir uma progressão gradual de tempo de exercício físico de até trinta minutos por dia. Em contrapartida, aquelas que têm um alto padrão de aptidão física em virtude da prática de exercícios, devem ser cautelosas ao se envolverem em níveis mais elevados de exercícios durante o período gestacional diminuindo a intensidade conforme avança a gravidez.

Flexibilidade

    A flexibilidade é a habilidade funcional das articulações de se movimentarem por meio de uma amplitude plena de movimento. Essa amplitude refere-se à capacidade de movimentar a articulação sem sofrer dor, nem ter um limite para o desempenho (DWYER; DAVIS, 2006). Baranda e Ayala (2010) afirmam que as recomendações do ACSM para os exercícios de flexibilidade são baseados em crescentes evidências sobre os seus benefícios, tais como maior amplitude de movimento e aumento de desempenho muscular. Uma boa função músculo-esquelética requer uma manutenção adequada de movimento em todas as articulações. Deste modo, programas de exercícios de prevenção devem incluir atividades que promovam a manutenção da flexibilidade. Essas atividades referem-se a exercícios de alongamento, que é a extensão do músculo além de seu comprimento de repouso (BARBANTI, 1994). Algumas técnicas utilizadas para aumentar a flexibilidade são as de alongamento dinâmico, em que se usa balanceamentos e oscilações das articulações envolvidas e o alongamento estático, no qual se mantém o músculo em uma posição desejada na sua maior extensão possível.

    Os benefícios dos exercícios de alongamento são diversos. Por meio deles, pode-se evitar ou eliminar o encurtamento musculotendíneo, diminuir o risco de alguns tipos de lesão músculo-articular, aumentar o relaxamento muscular e melhorar a circulação sanguínea, liberar a rigidez e melhorar a simetria muscular e ainda, evitar problemas posturais que alternam o centro de gravidade, provocando adaptação muscular (ACHOUR JR., 2002).

Efeitos da prática de exercícios de flexibilidade e alongamento durante a gestação

    Durante a gravidez e até o parto, existe a ocorrência do relaxamento dos ligamentos pélvicos em função do hormônio relaxina, que é secretado pelo corpo lúteo (ALDABE; CLAPP; VIGIL, 2012). Essa frouxidão pélvica e predisposição para separação da sínfise púbica deve ser cuidada de perto na hora da prescrição de exercícios de alongamento, pois o aumento da mobilidade pélvica leva a instabilidade articular e a dor.

    Os exercícios de alongamento devem ser executados de forma lenta e progressiva e podem ser mantidos por 20 a 30 segundos, com a intenção de reduzir as tensões musculares e preparar o corpo para receber melhor outros exercícios. Esse efeito pode ser obtido alongando os músculos que são encurtados durante a gravidez, como os peitorais e o iliopsoas, cujo encurtamento provoca a basculação da cintura pélvica pra frente, provocando a lordose lombar (ÁVILA apud MELO; AMARAL, 2009).

    Yeo (2009) propôs um programa denominado de Prenatal Stretching Exercises (PSE) - exercícios de alongamento pré-natal - de baixa intensidade e acompanhados de respiração profunda, no qual um único músculo, ou uma série deles, é alongado deliberadamente por todo seu comprimento, começando pelo pescoço, indo para os membros superiores e, em seguida, para o tronco e membros inferiores. A partir desse programa de exercícios, o mesmo autor realizou estudos que pudessem demonstrar a eficácia do alongamento durante a gravidez. No primeiro, fez uma comparação entre a aderência aos exercícios de caminhada ou alongamento sobre a incidência de pré-eclâmpsia (condição em que há um súbito aparecimento de hipertensão e proteinúria durante a segunda metade da gestação) (NATIONAL HIGH BLOOD PRESSURE EDUCATION PROGRAM WORKING GROUP apud YEO, 2009). Os resultados mostraram que as gestantes que aderiram à caminhada, se exercitaram com menos freqüência do que aquelas que aderiram ao alongamento. As gestantes que praticaram alongamento sentiram menos mudanças na freqüência cardíaca de repouso no final da gravidez e apresentaram alterações na pressão mais favoráveis ao longo de todo o período gestacional por serem mais propensas a permanecer dentro do ganho de peso recomendado. No segundo estudo (YEO, 2010), o objetivo foi comparar as respostas autonômicas de freqüência cardíaca de repouso e pressão arterial entre dois grupos de exercícios (caminhada e alongamento). Os resultados apontam para uma possível participação do sistema nervoso autônomo (SNA) em exercícios de alongamento, indicando que os sinais dos músculos esqueléticos produzidos vão para o sistema nervoso central (SNC), influenciando o sistema nervoso simpático (SNS) e parassimpático (SNP) de forma independente e interativa. A conseqüência disso é o estado de preponderância vagal (termo que reflete o fato que em circunstâncias normais, quando o SNS é estimulado, o SNP exerce efeito inibitório sobre as influências do SNS excitatório). Levando em consideração que o tônus vagal (indicador do funcionamento do SNP) reduz ao longo do tempo, o PSE é considerado benéfico, pois influencia o aumento do tônus. Os resultados encontrados por Yeo (2009; 2010) dão conta que os PSE podem ser utilizados a fim de diminuir o risco de pré-eclâmpsia e promover a saúde, podendo também controlar sintomas como náuseas e inchaço, pois o SNA controla reflexos associados. Assim, as gestantes que não podem aderir a outra forma de exercício físico, podem se beneficiar com a prática de exercícios de alongamento.

Considerações finais

    Além da manutenção da flexibilidade, os exercícios de alongamento são benéficos para a saúde da gestante, tanto para aliviar dores que são causadas no período gestacional, como para a prevenção de alguns riscos, como a pré-eclâmpsia.

    O programa de exercícios de alongamento relatado nesta revisão de literatura foi prescrito por um grupo de enfermeiras, sem nenhum envolvimento de um educador físico. Embora tenha havido indícios de que os exercícios foram eficazes, alguns conhecimentos oriundos da Educação Física, como por exemplo a biomecânica, a cinesiologia e a fisiologia do exercício, os quais podem (e devem) ser levados em conta na prescrição deste tipo de exercício, podem ter sido subestimados. Portanto, são necessárias pesquisas adicionais sobre a obtenção e/ou manutenção da flexibilidade durante o período gestacional com enfoque nos tipos de exercícios recomendados nas diferentes etapas da gestação.

Referências

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