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Avaliação posturográfica por meio da fotogrametria
em atletas de bolão 23

Evaluación posturográfica por medio de la fotogrametría en jugadores de bolao 23

 

*Universidade do Vale do Itajaí

Laboratório de Fisiologia do Exercício (LAFEX)

**Pós-Graduação. Especialização no Centro

de Ciências Avançadas (CCA) Balneário Camboriú (SC)

(Brasil)

João Augusto Reis de Moura*

Carlos Eduardo Campigotto**

Jaison Goedert**

joaomoura@univali.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo analisar os indicadores posturais em atletas de bolão 23 de longa prática competitiva. Foram selecionados 15 atletas que praticavam o esporte a mais de quatro anos e de três a quatro vezes por semana. Utilizou-se o Software de Avaliação Postural (SAPO) para a avaliação postural via fotogrametria digital. Os indivíduos foram fotografados em vista anterior e posterior para análise de nivelamento horizontal de cabeça, ombro e pelve e em vista lateral direita para análise de cifose torácica e lordose lombar além do equilíbrio pélvico. Os dados mais contundentes apontaram que a verticalização da coluna vertebral com vista anterior (2,3º ± 1,9º) e posterior (3,1º ± 1,8º) indica inclinação da mesma para o lado de dominância motora o que, possivelmente, causou desnivelamento horizontal da cabeça (2,3º ± 1,7º). A maioria dos atletas apresentou retroversão pélvica (9,3º ± 4,5º). Os desalinhamentos encontrados sugerem forte suspeita de escoliose e retroversão pélvica.

          Unitermos: Alinhamentos corporais. Atletas. Bolão 23.

 

Resumo

          El presente estudio tuvo como objetivo analizar los indicadores posturales en atletas de bolao 23 de larga práctica competitiva. Fueron seleccionados 15 atletas que practicaban este deporte hace más de cuatro años y de tres a cuatro veces por semana. Fue utilizado Software de Análisis Postural (SAPO) para el análisis postural por medio fotogrametría digital. Los individuos fueron fotografiados en vista anterior y posterior para análisis de nivel horizontal de la cabeza, hombros y pelvis y en vista lateral directa para análisis de cifosis torácica y lordosis lumbar como también el equilibrio pélvico. Los datos más contundentes apuntaron que la verticalización de la columna vertebral con vista anterior (2,3º ± 1,9º) y posterior (3,1º ± 1,8º) indica inclinación de la misma para el lado de dominio motor que, posiblemente, causó el desnivel horizontal de la cabeza (2,3º ± 1,7º). La mayoría de los jugadores presentaron retroversión pélvica (9,3º ± 4,5º). Los desalineamientos encontrados sugieren una fuerte sospecha de escoliosis y retroversión pélvica.

          Palabras clave: Alineamientos corporales. Deportistas. Bolao 23.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    O bolão surgiu na Alemanha entre os anos de 1260 a 1309, com a imigração alemã. Chegou ao Brasil entre os anos de 1806 a 1871, difundido principalmente no sul do país. Existem duas categorias de bolão, uma é o bolão 23, que é o mais praticado no sul do país, e ainda o bolão 16. O bolão 23 é um esporte recreativo e competitivo, onde o objetivo é derrubar o maior número de pinos, arremessando uma bola feita de um aglomerado de madeira com diâmetro máximo de 23 cm e com peso máximo de 11 quilos em uma pista de madeira. Sendo que, em uma partida completa, o atleta arremessa cinco vezes em cada uma das quatro pistas, totalizando 20 arremessos válidos. A bola de bolão pode ter dois ou três furos, onde o atleta a segura com a mão dominante, efetua um arranque de, em média, três a cinco passos fazendo um pêndulo com o braço, arremessando a bola em direção aos pinos sendo assim um esporte de ação motora unilateral.

    Segundo Moura e Silva (1), uma má postura estática ou dinâmica adotada por um grande período de tempo pode causar um desalinhamento postural devido ao desequilíbrio muscular causado pela força gravitacional. Nesta visão, alguns estudos foram conduzidos em esportes assimétricos. Peres et al. (2) encontraram desalinhamentos horizontais na cintura escapular e pélvica em mesatenistas. Atletas de voleibol em categoria infantil apresentaram desalinhamentos horizontais de cintura escapular e pelve além de inclinações cervicais (3). Moura e Silva (1) apresentaram informações de desalinhamentos corporais em atletas de badminton e estes parecem ser desenvolvidos a partir da prática sistemática e de longa data da modalidade.

    Um dos pontos relevantes do estudo da postura e de possíveis desalinhamentos, em diferentes modalidades esportivas, reside no fato de que as cargas unilaterais podem causar adaptações estruturais às articulações. Murachovsky et al. (4), demonstraram alterações estruturais na articulação glenoumeral (retroversão da cabeça do úmero) entre lado dominante e não dominante de atletas de handebol, as quais geraram alterações na amplitude de movimento.

    Diante dos argumentos produzidos, o presente estudo teve como objetivo analisar os indicadores posturais em atletas de bolão 23 de longa prática competitiva.

Metodologia

Amostra

    A amostra do presente estudo foi composta por 15 atletas (12 homens e três mulheres) de bolão 23 que praticavam o esporte no mínimo ha 04 anos e com volume de três a quatro treinos por semana. Foram excluídos da amostra indivíduos que não apresentaram o tempo mínimo de prática do esporte e volume de treino semanal anteriormente descritos. Também indivíduos que apresentassem alguma patologia ou sequela de doença ortopédica, reumatológica, respiratória ou neurológica que impedisse a adoção de posturas corporais utilizadas no presente estudo. Ao grupo de estudo foram explicados, minuciosamente, os procedimentos do presente estudo e lhes foi passado para leitura e análise pelos seus responsáveis o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) o qual versava sobre os objetivos do estudo, os procedimentos metodológicos de testagem aos quais iriam se submeter e que estes poderiam desistir do estudo em qualquer fase deste sem qualquer tipo de ônus aos mesmos.

Coleta de dados

    Inicialmente, os pesquisadores entraram em contato com o clube o qual os atletas são filiados e desenvolvem seus treinamentos. Após o aceite do clube para as coletas de dados serem realizadas no mesmo, iniciou-se o contato com os atletas. Todos os atletas contatados aceitaram fazer parte do estudo. Após aceite, foi agendado o dia para realização da coleta no próprio clube de treinamento dos atletas.

Avaliação posturográfica bidimensional estática por fotogrametria digital

    Utilizou-se o programa SAPO (Software de Avaliação Postural) versão 0.68 de distribuição livre para a avaliação dos alinhamentos corporais via fotogrametria digital.

    Os atletas foram fotografados em posição de ortostase e usando trajes de banho. Fotos no plano coronal-anterior, coronal posterior e sagital (face corporal direita) com os membros superiores ao longo do corpo, conforme figura 1. As fotos foram realizadas em uma sala reservada com fundo não reflexivo registras por uma câmera fotográfica digital da marca Samsung® SL420 com 10.2 megapixels de resolução, sem o uso de zoom, posicionada em um tripé regulável a uma distância horizontal de três metros do avaliado, à altura aproximada da cintura deste.

Pontos de demarcação

    Os pontos de análise postural foram os mesmos utilizados por Moura e Machado (5), sendo eles demarcados de forma bilateral: trago, borda lateral dos acrômios, Espinhas Ilíacas Ântero Superior (EIAS), Espinhas Ilíacas Póstero Superior (EIPS), trocânter maior do fêmur e tuberosidade da tíbia. Ainda foram demarcados: borda superior do manúbrio, sétima vértebra cervical (C7), ponto sobre a coluna vertebral torácica (processo espinhoso) que fosse a intersecção da linha imaginária que une os dois ângulos inferiores da escápula direita e esquerda e, finalizando, ponto sobre a coluna vertebral sacral que correspondesse ao ponto de interseção da linha imaginária horizontal que une as EIPS. Os pontos descritos anteriormente foram demarcados com esferas de isopor de 25 mm fixadas sobre a pele através de fita dupla face.

Definição dos alinhamentos corporais analisados

    Os segmentos de reta descritos a seguir formam ângulo com a linha horizontal e definem os alinhamentos horizontais corpóreos no plano frontal (figura 1). O segmento de reta constituído pelo trago direito e esquerdo (linha “a”) constituiu o Alinhamento Horizontal da Cabeça (AH_C). O segmento de reta (linha “b”) formado pelos acrômios direito e esquerdo definiu o Alinhamento Horizontal da Cintura Escapular (AH_CE). O segmento de reta (linha “c”) formado por EIAS direita e esquerda definiu o Alinhamento Horizontal da Pelve (AH_Pel). O segmento de reta (linha “d”) formado pelos trocanteres maior dos fêmures direito e esquerdo definiu o Alinhamento Horizontal da Coxa (AH_Cx). O segmento de reta (linha “e”) formado pela tuberosidade da tíbia direita e esquerda define o Alinhamento Horizontal da Perna (AH_Pn).

    Para determinação de Ângulo Cifose Torácica (A_CT) foi utilizado o protocolo originalmente descrito por Wilner (6). O ponto de inflexão da curvatura da lordose lombar com o ponto de inflexão da curvatura de cifose torácica forma um segmento de reta, sendo o outro segmento de reta formado pelo ponto de inflexão da curvatura da cifose torácica com o ponto de inflexão da lordose lombar (Imagem “h”, figura 1). Entre os dois segmentos de reta foi mensurado o ângulo interno. O Ângulo de Lordose Lombar (A_LL) foi o definido por Moura e Machado (5) pelos pontos de maior concavidade lombar com o a maior convexidade torácica constituindo um dos segmentos de reta, o qual angula-se com a reta formada pelo ponto de maior concavidade lombar e uma tangente sobre a região lombossacra (imagem “i”).

    O equilíbrio pélvico (E_Pel) entre anteversão e retroversão (plano sagital) foi determinado pelo segmento de reta formado pela EIAS e EIPS com a horizontal (imagem “j”).

    O alinhamento vertical da coluna vertebral foi determinado de duas formas: O ângulo formado (do lado direito corporal) entre os segmentos de reta constituídos por C7 até ponto de intersecção dos ângulos inferiores da escápula, com o segmento de reta do mesmo ponto torácico-escapular até a intersecção das EIPS (imagem “f”). Este foi definido como Alinhamento Vertical Posterior da Coluna Vertebral (AVP_CV).

    Verticalização anterior da coluna foi verificada através do comparativo entre dois ângulos frontais. A linha vertical traçada a partir do manúbrio angula-se à direita e à esquerda com um segmento de reta formado pelo próprio manúbrio até EIAS direita e esquerda (imagem “g”). Estes ângulos do lado direito e esquerdo foram quantificados e a diferença entre as medidas foi avaliada. Esta medida foi definida como Alinhamento Vertical Anterior da Coluna Vertebral (AVA_CV).

Figura 1. Imagens representando segmentos de reta que se angulam entre si, com a horizontal

ou com a vertical formando pontos de análise dos alinhamentos corporais

Descrição da técnica de arremesso do bolão 23

    Antes do arremesso propriamente dito o atleta busca concentração já com o bolão fixo a sua mão de dominância motora com inclinação do tronco para este lado e a carga corpórea deslocado para o membro inferior homolateral (imagem “A”, figura 2). Na sequência é realizado o deslocamento e pêndulo do membro superior para o arremesso (imagem “B”, figura 2). Neste momento há uma acentuação da inclinação lateral do tronco seguido da inclinação pélvica lateral e da cintura escapular para o mesmo lado além de uma pequena flexão da coluna vertebral. No momento do arremesso (imagem “C”, figura 2) os joelhos são fortemente flexionados e acentua-se a flexão da coluna vertebral.

Figura 2. Imagens representando a postura adotada durante a o fundamento de arremesso dos atletas de Bolão 23

Tratamento estatístico

    Foi aplicada estatística descritiva aos dados coletados com medidas de tendência central e de dispersão. Foi usado o programa Microsoft Office Excel 2007.

Resultados

    Para os alinhamentos horizontais ideias espera-se que os segmentos de reta formem ângulo zero com a linha horizontal para estarem completamente alinhados. Na tabela 1 foram analisadas as discrepâncias gerais, ou seja, os ângulos de desvios com as linhas horizontais em valores médios (média geral) e a variação dos mesmos através do desvio padrão (DP geral) e coeficiente de variação (CV).

    Também, os desalinhamentos encontrados em relação à horizontal foram segmentados em valores de zero a 2,9º; de 3,0º a 5,0º e maiores a 5,0º. Nesta segmentação foram analisados o número de indivíduos que se encontram no grupo segmentado, o quanto percentualmente (%) estes representam da amostra total (n=15) e foi calculado o valor médio do desalinhamento dentro do grupos de segmentação angular.

Tabela 1. Alinhamentos horizontais (em graus) no plano frontal de diferentes pontos anatômicos

    Os alinhamentos gerais apresentaram ângulos de divergência baixos com a horizontal, sendo que somente AH_C apresentou média geral superior a 2,0º (2,3º). A variabilidade foi alta apresentando CV acima de 70% em sua maioria (somente AH_Pel apresentou CV=63,0%).

    Nos grupos de segmentação angular a maioria da amostra ficou nos desvios entre zero e 2,9º (80% ou mais da amostra). O AH_C apresentou desvios mais pronunciados onde sete indivíduos (46,7% da amostra) obtiveram desvios entre 3,0º e 5,0º. Somente AH_Pel apresentou medida superior a 5,0º em um sujeito avaliado.

    Na tabela 2 são apresentadas as médias e variações gerais dos dados e foram formados grupos de segmentação angular de zero a 2,0º, de 2,1º a 4,0º e maiores que 4,0º para análise de verticalização da coluna vertebral. Para equilíbrio pélvico foram segmentados grupos de inclinação menores de 10,0º, entre 10,0º e 15,0º e superior a 15,0º. E para os ângulos de cifose torácica e lordose lombar os grupos foram formados usando como critério o desvio padrão (dp) dos dados gerais. Os grupos foram formados com ângulos menores de – 1dp, entre – 1dp e + 1dp e maiores de +1dp.

Tabela 2. Ângulos (em graus) de verticalização da coluna vertebral, equilíbrio pélvico e de cifose torácica e lordose lombar

    Para análise de verticalização anterior da coluna vertebral AVA_CV o ideal é que a diferença entre os ângulos do lado direito e esquerdo fosse igual à zero. Esta apresentou média geral de diferença entre os ângulos de 2,3º com uma variação elevada (CV=80,3%). Quarenta por cento da amostra apresentou desvios acima de 2,0º e 26,7% apresentaram desvios superiores a 4,1º.

    O AVP_CV ideal é de 180º, ou seja, a coluna apresenta um comportamento completamente vertical (imagem “f”, figura 1). A média da diferença entre os ângulos mensurados e o 180º foi de 3,1º com 33,3% dos atletas apresentando diferenças angulares de 2,1º a 4,0º e 26,7% diferenças superiores a 4,0º.

    Para o equilíbrio pélvico 10 atletas (67,0% da amostra) apresentaram valores inferiores a 10,0º. O ângulo médio de cifose torácica foi de 142,9º e de lordose lombar foi de 150,3º sendo que a maioria dos atletas apresentaram valores entre -1dp e +1dp 66,7% e 86,7%; respectivamente.

Discussão

    Qualquer modalidade esportiva praticada para o alto rendimento necessita que seus atletas estejam dispostos a submeterem-se às altas cargas físicas diárias e evolutivas que gerem quebra da homeostasia em períodos temporais de micro, meso e macrociclo de treinamento. Tais cargas de treinamento seguem princípios do treinamento como a especificidade onde se busca treinar o mais próximo possível ao gesto esportivo. Em esportes de cunho unilateral tal especificidade do treinamento pode induzir a desalinhamentos corporais alterando a boa postura (1).

    O objetivo do presente estudo foi verificar se os atletas da modalidade bolão 23 apresentavam desvios posturais caracterizados pela pratica da modalidade. Devemos levar em consideração que os autores não encontraram estudos relatando referências sobre os padrões de desvios posturais referentes à verticalização da coluna vertebral, fato este também exacerbado por Mansoldo e Nobre (7), tendo então adotado o parâmetro de 0° a 2,0° para a normalidade, 2,1° a 4,0° para propensão a desvio postural e acima ou igual a 4,0° para caracterização do desvio.

    Na verticalização da coluna vertebral na visão anterior, tivemos um desvio médio de 2,3°, sendo que seis atletas (40,0% da amostra), apresentaram desvio postural acima de 2,1° caracterizando, no mínimo, como propensão à desvio. Na verticalização com vista posterior (onde a medida é realizada diretamente sobre a coluna vertebral – processos espinhosos), podemos observar que a média geral de desvio foi de 3,1°, sendo que nove atletas (60% da amostra) obtiveram desvio maior de 2,1°. A partir destes dados ilustra-se que a coluna vertebral da maioria dos atletas não se encontrou completamente verticalizada o que gera a suspeita de escoliose na amostra estudada. A concavidade gerada no plano frontal, devido a não verticalização da coluna, coincidiu com o lado de dominância motora do atleta.

    Embora usando metodologia diferente da aplicada no presente estudo, Peres et al. (2) encontraram inclinações laterais na coluna vertebral de mesatenistas. A tarefa motora unilateral da prática dos mesatenistas, assim como dos atletas de bolão 23, parece ser a explicação mais plausível para a não verticalização da coluna. Tensionamentos musculares mais intensos realizados de forma unilateral podem levar a desequilíbrios musculares e, estes por sua vez, produzem o desvio de escoliose.

    Analisando a verticalização da coluna vertebral com vista posterior, podemos constatar que 26,7% da amostra possui um desvio maior que 4,0° e 33,3% apresentando propensão à escoliose. Especula-se que isso pode ter ocorrido devido à unilateralidade do esporte, onde os atletas compensam o peso da bola (11kg) segurada em sua mão dominante, fazendo que ative a musculatura em isometria no seu lado oposto. Como geralmente os atletas estudados não fazem um trabalho muscular específico para compensação, essa isometria feita no ato de jogar a bola pode ser a responsável por esse desalinhamento vertical (indicação de escoliose).

    A não verticalização da coluna vertebral na maioria dos atletas parece ter repercutido sobre a horizontalidade da cabeça. No AH_C houve um desvio médio de 2,3°, e este foi o maior valor de desvio entre os alinhamentos horizontais analisados. Como a cabeça é “apoiada” sobre o atlas (primeira vértebra cervical) e este segue em apoio direto sobre as demais vértebras da coluna, e ainda, partindo-se do entendimento que a coluna está inclinada lateralmente (plano frontal), há de se esperar que a cabeça tenda a inclinar-se lateralmente perdendo sua horizontalidade.

    Devemos levar em consideração que se seguiu a seguinte interpretação para os alinhamentos horizontais analisados: relativamente “normal” desalinhamentos horizontais de 0° a 2,9, propensão a desvio postural de 3,0° a 5,0° e desvio postural completamente caracterizado acima ou igual a 5,0°.

    Atletas da seleção brasileira feminina adulta de handebol apresentaram incidência de 100% de assimetrias horizontais da cintura escapular (8). Moura, Alexandre e Deichsel (9) avaliaram atletas adolescentes de handebol de nível competitivo internacional e identificaram desalinhamento médio de 1,4º para a cintura escapular. Este dado demonstra a grande prevalência deste desvio em atletas de handebol e que, com os anos de treinamento, parecem acentuar-se. Mesatenistas apresentaram em média 3,6º de desnível horizontal do ombro (2). Nos estudos supracitados o lado mais baixo do ombro foi o de dominância motora.

    Em atletas de futevôlei, Moura e Machado (5) encontraram desnivelamento horizontal da cintura escapular de somente 1,0º. Mansoldo e Nobre (7) não encontraram diferenças estatisticamente significativas no nivelamento do ombro entre um grupo de atletas federados do nado borboleta e um grupo controle.

    Frente à literatura analisada, percebe-se que o nivelamento horizontal dos ombros é modificado por esportes de ação motora de MMSS assimétricos como no caso de handebol e tênis de mesa. Analisando-se a cinesiologia funcional da prática desportiva do bolão 23 verifica-se que esta é assimétrica em relação à MMSS para manipulação da bola e isto pode ser potencialmente gerador de desvios no alinhamento horizontal dos ombros, entendimento muito comum em tenistas profissionais (10).

    Estudos em outras modalidades esportivas apontam que no badminton, por exemplo, a ação motora unilateral, praticada de forma intensa e por longa data, foi uma das explicações encontradas para assimetrias corporais entre o hemicorpo direito e esquerdo devido às questões de dominância motora no manejo da raquete e posição corporal para execução dos fundamentos (1).

    Os achados do presente estudo não apontaram diretamente neste sentido. Entretanto, possíveis variações musculares ocorridas em função de atividade coordenativa assimétrica do esporte bolão 23, se traduziram em desvios posturais referentes à indicação de escoliose.

    Uma hipótese que nós haviamos produzido, era que os atletas apresentassem um desvio na cintura escapular, devido o bolão ser um esporte que sobrecarrega apenas um dos membros superiores. Mas os resultados apresentaram que 80% possuem um bom alinhamento da cintura escapular. O que gerou uma segunda hipótese após realizar a análise da verticalização posterior da coluna vertebral. Constatou-se que se a coluna encontra-se em uma curvatura lateral moderada, seria natural que a cintura escapular acompanhasse essa diferença, ou seja, a cintura escapular deveria estar desalinhada horizontalmente. Suspeita-se que se não ocorresse a presença de escoliose nos atletas, estes apresentariam um desvio na cintura escapular. A hipótese é de que esta não apresenta ângulo de 90º com a coluna cérvico-torácica (o que seria o esperado no bom alinhamento). Desta forma, o desnível de cintura escapular, teoricamente existente, acaba não sendo detectado na fotogrametria, pois é “corrigido” pela escoliose apresentada pelos atletas.

    Segundo Kapandji (11) e Tribastone (12) o ângulo pélvico ideal é de 12º a 15º nestas condições a pelve estará em ótimo equilíbrio. No presente estudo, 67% da amostra apresentou um ângulo pélvico inferior a 10º, o que caracteriza a maioria dos atletas de bolão 23 portadores de retroversão pélvica, o que, por sua vez, inferi-se ser induzido por adaptações crônicas sobre as estruturas do aparelho locomotor devido à prática sistemática e intensa do esporte. Em outras modalidades esportivas não foram encontradas retroversão pélvica (5,9). A retroversão pode se dar devido à postura que os atletas assumem no ato do arranque para arremessar a bola, onde o atleta faz um “arqueamento” tóraco-lombar (flexão tóraco-lombar da coluna), o que inverte a curvatura de lordose e torna a pelve retrovertida. Tal posição gera influência sobre a propriocepção corporal e músculos que determinam o equilíbrio pélvico (12).

    A hipótese levantada anteriormente tem bases sobre desequilíbrios de força e encurtamentos musculares, como tais variáveis não foram quantificadas por nós, não temos condições de estabelecer relação causa e efeito, ficando tal abordagem como sugestão para futuros estudos.

    Mesmo não havendo referências para análise de quais amplitudes de ângulos de cifose torácica e lordose lombar seriam consideradas normais, Saad (13) demonstrou que as medidas apresentam boa confiabilidade. O ângulo lombar apresenta uma grande variabilidade entre indivíduos assintomáticos (14-16) sendo, portanto, difícil o desenvolvimento de um ponto de corte que possa estabelecer a hiper ou hipolordose lombar. Além do mais, esta curvatura é influenciada pelo sexo sendo mais acentuada nas mulheres (14,16) e com o passar da idade (14,16,17).

    Esta técnica para quantificação da curva de cifose utilizada no presente estudo foi originalmente descrita por Wilner (6) e Corlett, Wilson, Manenica (18), posteriormente adaptada por Penha, João, Casarotto et al. (19) e foi empregada posteriormente nos trabalhos de Canales (20) e Rodrigues, Romeiro e Patrizzi (21) para avaliar a cifose torácica.

    No presente estudo as curvaturas sagitais da coluna vertebral e os valores médios de cifose torácica e lordose lombar foram 142,9º e 150,3º; respectivamente. Em trabalhos similares que realizaram medida da cifose torácica com a mesma metodologia que o presente estudo encontraram-se valores de 143,9º (hemicorpo direito) 145,5º (hemicorpo esquerdo) em atletas adolescentes de handebol (9); e 144,8º em atletas de futevôlei (5). Quanto à lordose lombar Moura, Alexandre e Deischesel (9) apresentaram 149,6º (hemicorpo direito) 149,2º (hemicorpo esquerdo) para atletas de handebol e Moura e Machado (5) 152,5º em atletas de futevôlei. Assim, temos que os valores identificados além de extremamente homogêneos (CV entre 4,2% e 5,3%) são similares aos encontrados na literatura corrente tanto para cifose torácica quanto lordose lombar.

Conclusão

    Os atletas apresentaram desalinhamentos verticais substanciais que geraram forte suspeita de escoliose tóraco-lombar o que parece repercutir no alinhamento horizontal da cabeça. A técnica unilateral da modalidade (lançamento do bolão) pode ter levado aos desalinhamentos encontrados.

    A maioria dos atletas apresentou retroversão pélvica e esta pode estar associada à posição de flexão da coluna vertebral no ato do arremesso.

    Sugere-se que os resultados encontrados no presente estudo sejam comparados com atletas que pratiquem as modalidades de boliche e bocha já que estas apresentam similaridades cinesiológicas e biomecânicas no lançamento dos implementos.

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