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Adolescência e sexualidade segundo a literatura

Adolescencia y sexualidad según la literatura

 

*Enfermeira. Especialista em Urgência e Emergência pelas Faculdades Unidas do Norte de Minas

**Enfermeira. Especialista em Saúde da Família pela Universidade Estadual de Montes Claros

***Enfermeiro. Especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior

pela Universidade Estadual de Montes Claros. Acadêmico de Medicina, UNIMONTES

(Brasil)

Bruna Ritiely Murta Marques*

ritielymurta@hotmail.com

Marcela Guimarães Fonseca**

marcelafonseca1@yahoo.com.br

Antônio Lincoln de Freitas Rocha***

antonio.lincoln@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A adolescência é considerada uma fase de transição entre infância e o estado adulto, na qual o ser humano vive transformações psicológicas e sociais. Essas mudanças que estão ocorrendo entre a infância e a idade adulta estão relacionada com a busca da identidade e uma aceleração no desenvolvimento intelectual e sexual do adolescente. Sendo assim, os objetivos da presente pesquisa é analisar as produções cientificas sobre a sexualidade na adolescência, em bases eletrônicas de dados primários (Scielo) e secundários (obras literárias). Este trabalho é uma revisão bibliográfica tipo descritiva que inclui artigos de periódicos eletrônicos e obras literárias, publicados ao longo dos últimos 12 anos. Diante do conteúdo explorado percebe-se que a sexualidade do adolescente é um assunto pouco discutido entre pais, professores e profissionais de saúde e que os mesmos mostram-se despreparados, cheios de preconceitos e tabus para falar sobre o tema.

          Unitermos: Adolescente. Sexualidade. Educação em saúde.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    A adolescência é considerada uma fase de transição entre infância e o estado adulto, na qual o ser humano vive transformações psicológicas e sociais. Essas mudanças que estão ocorrendo entre a infância e a idade adulta estão relacionadas com a busca da identidade e uma aceleração no desenvolvimento intelectual e sexual do adolescente (COLLI, 2003).

    Segundo a organização mundial de saúde (OMS) apud Saito e Silva (2001) consideram como adolescente o individuo que se encontra entre 10 a 20 anos de idade, já o estatuto da criança e do adolescente (ECA, 2002) considera adolescente o indivíduo entre 12 a 18 anos incompletos. Para fins deste estudo, considera-se adolescente de 11 a 19 anos.

    A adolescência é uma fase extremamente importante na vida de uma pessoa. Não se pode falar em adolescência sem abordar a sexualidade que se caracteriza não apenas pelo ato sexual, mas sim com um respeito ao conceito do indivíduo que se tornará um homem ou uma mulher que expressam através disso sua masculinidade ou feminilidade. È através da sexualidade que o adolescente se mostra como gostaria de ser visto, seu desejo, a capacidade de atrair aqueles que lhe interessam e ainda seus medos e fantasias sobre si e outras pessoas (REATO, 2003).

    O adolescente quando começa a descobrir sua sexualidade fica perdido, sem saber o que está acontecendo com ele, se tudo aquilo é normal ou não, visto que ele está descobrindo um novo mundo. Muitos adolescentes ficam com vergonha de conversar com seus pais, educadores e profissionais de saúde sobre esse assunto, pois está numa busca constante voltada para si, cheia de dúvidas e questionamentos como: Quem sou eu? Sou afetivamente importante para alguém? Já ocupo lugar na sociedade? E também faz algumas afirmações como: Ninguém manda em mim! Eu sou mais eu! Etc., (SAITO; SILVA, 2001).

    No Brasil, existem poucas referências sobre a sexualidade do adolescente. Quando tratado na família, o diálogo é ainda pobre ou inexistente, na escola o debate é tímido e a discussão envolve apenas assuntos relacionados aos aspectos biológicos ligados a reprodução. Enfim muitos familiares, educadores e profissionais da saúde mostram-se despreparados para discutir sexualidade, permanecendo impregnados por preconceitos e tabus, (SAITO; SILVA, 2001).

    Segundo Façanha et al. (2004), alguns dados epidemiológicos demonstram a importância da avaliação continuada do perfil comportamental e educativo da população adolescente. Apesar de serem feitas inúmeras campanhas preventivas e dos diversos métodos para obtenção de informação sobre prevenção das DST e gravidez, dentre elas a AIDS e o uso do preservativo, através dos diversos meios de comunicação e dos profissionais de saúde, esses adolescentes ainda apresentam um déficit de informação em relação ao tema e mostram se desconcientizados em relação ao risco de se contaminarem pelo HIV e de serem pais e mães precocemente.

    A relevância em realizar o estudo é que conhecendo a sexualidade desses adolescentes facilitará a qualquer profissional da área da saúde, ou mesmo de outra área, mas que trabalhem com adolescentes, a elaborarem estratégias e oficinas que usem abordar o tema ou mesmo discutir o assunto com eles sem causar receio. Sendo assim, é necessária uma maior aproximação entre estes e os profissionais de saúde, para que os jovens se tornem conscientizados sobre os riscos ao qual estão sujeitos, mostrando a eles que é possível viver os prazeres e aventuras da adolescência de forma saudável e diminuindo os riscos de adquirir uma Doença Sexualmente Transmissível (DST) ou uma gravidez indesejada.

    Diante do exposto acima, estabelecemos como objetivos desta pesquisa analisar as produções cientificas sobre a sexualidade na adolescência, em bases eletrônicas de dados primários (Scielo) e secundários (obras literárias).

Metodologia

    Este trabalho é uma revisão bibliográfica tipo descritiva que inclui artigos de periódicos eletrônicos e obras literárias, publicados ao longo dos últimos 12 anos, utilizando-se os termos “adolescente”, “sexualidade”, “Adolescência e sexualidade” e “educação em saúde” como unitermos da busca. Foram analisados 9 artigos científicos e 4 obras literárias pertinentes ao tema. O critério de seleção foi à abordagem dos subtemas nos quais se dividem este estudo: adolescência, adolescência e sexualidade, educação em saúde para adolescentes, principais questões dos adolescentes, família e adolescente e, objetivando contextualizar com a prática profissional, o papel da enfermagem no desenvolvimento da sexualidade no adolescente. Os critérios de exclusão foram artigos com datas de publicação inferiores aos últimos 12 anos e que não condizem com o assunto. Foi realizado um levantamento e comparação entre opiniões de diversos autores, fazendo com que a análise documental a respeito do assunto permita delinear um quadro generalista e com riqueza de informações a respeito de cada subtema.

Revisão bibliográfica

Adolescência

    A adolescência é considerada uma fase da vida onde o indivíduo encontra-se em situação de aprendizagem da descoberta do mundo, estando mais aberto que os adultos à adoção de novos comportamentos, ele não se enquadra nem como criança ou tão pouco como adulto, encontra-se na busca de sua identidade, vivendo mudanças físicas e psicológicas (CAMARGO; BOTELHO, 2007).

    A adolescência é uma fase marcada por mudanças intensas e multidimensionais, que engloba a esfera física (biológica), psicológica e sócio-cultural. Ele vivência essas mudanças e enfrenta processos conflituosos que, muitas vezes, não ganham uma escuta sensível, nem por parte da família, nem por parte dos profissionais, pois se trata de um momento de difícil compreensão, por não haver muitos profissionais especializados nessa área. Por essa razão cabe ao enfermeiro tratar as questões do processo da adolescência, com paciência e sabedoria para promover uma qualidade de saúde, e minimizar possíveis riscos que ele venha a sofrer (FERREIRA, 2006).

Adolescência e sexualidade

    Quando se fala em adolescente, alguns aspectos importantes relacionados à sexualidade costumam assumir posição de destaque em suas vidas sendo um momento importante no seu processo de formação como ser humano. Nesta fase, é imprescindível que os pais, professores e profissionais da equipe de saúde, que fazem parte do mundo das relações interpessoais do adolescente, participem no sentido de contribuir para o desenvolvimento saudável desse indivíduo. Portanto, não existe uma única definição do que é a sexualidade, mas que, a partir da história pessoal e da aprendizagem social se constroem uma concepção do que é a sexualidade (MEDEIROS, 2001).

    A adolescência esta ligada a sexualidade, que por sua vez é uma manifestação presente desde o nascimento até a morte e assume formas diferentes a cada etapa do desenvolvimento humano, sendo construída ao longo da vida. Se por um lado sexo é a expressão biológica e define um conjunto de características anatômicas e funcionais (genitais e extragenitais), a sexualidade, entendida de forma bem mais ampla, é tida como uma expressão cultural. Cada sociedade desenvolve regras que se constituem em parâmetros fundamentais para o comportamento sexual das pessoas. Esse processo acontece num aspecto social que passa pelos interesses dos grupos socialmente organizados e das classes sociais, que pode ser influenciado pela ciência, religião, mídia e sua resultante são expressa tanto pelo imaginário coletivo quanto pelas políticas públicas, coordenadas pelo Estado (SILVA, 2004).

Educação em saúde para adolescentes

    Considerando que a educação em saúde está relacionada à aprendizagem, e que o adolescente está vivendo esse momento ele pode estar vulnerável a alguns riscos em relação à sua saúde, por isso, torna-se necessário desenvolver trabalho de acordo a necessidade de cada população. Outra questão é que a educação em saúde deve provocar conflito nos indivíduos, criando oportunidade da pessoa pensar e repensar a sua cultura, e ele próprio transformar a sua realidade de acordo com as orientações dos profissionais de saúde, que são pessoas chaves nesse contexto (OLIVEIRA; GONÇALVES, 2004).

    O desenvolvimento psicossocial mostra-se de muita importância, se falamos de prevenção e promoção da saúde. Infelizmente, são estes aspectos, junto com as condições sócio-ambientais que estão em estreita interdependência, os que são permanentemente negligenciados no modelo de saúde vigente. É verdade que para seu desenvolvimento psicossocial e sua formação intelectual, moral e espiritual, o adolescente precisa definir suas relações e processos de identidade, sua sexualidade, precisa de certa autonomia e, especialmente, de espaços apropriados para desenvolver a auto-estima, a criatividade e seu projeto de vida, por isso a educação em saúde é feita para ajudar os adolescentes nas suas descobertas sobre sexualidade (TRAVERSO-YEPEZ; PINHEIRO, 2002).

Principais questões dos adolescentes

    Existem vários caminhos que levam um jovem a ter relações sexuais desprotegidas, e os números que vêm à tona sobre a gravidez, DST ou sobre a infecção pelo HIV sem dúvida são menores do que os números reais. O sexo seguro entre jovens continua sendo necessário, exigindo esforços para produção de estratégias criativas que façam sentido nos diferentes contextos socioculturais nos quais os jovens experimentam o sexo. Os adolescentes são distintos entre si e lidam com a sua sexualidade de várias formas. O uso do preservativo é o oposto da espontaneidade e costuma atribuir ao sexo e à juventude. Assim, o estímulo ao uso do preservativo deve incluir a dimensão do erotismo e da praticidade, não apenas o medo. Os jovens não se percebem em risco para o HIV é como se isso existisse somente com os outros e nunca com eles (VILLELA; DORETO, 2006).

    O quadro epidemiológico da AIDS no Brasil nos últimos anos vem apresentando importantes mudanças. Percebe-se maior número de casos entre heterossexuais e usuários de drogas injetáveis, além de um crescimento proporcional da categoria nas transmissões perinatal. A diminuição da sua faixa etária, o declinante nível socioeconômico dos pacientes e a incidência da doença entre pessoas do sexo feminino causam modificações no perfil da população acometida. Alguns fatores têm contribuído para o aumento da incidência das DST: falta de informação sobre o assunto devido à diminuição das campanhas educativas, automedicação ou medicação indicada por pessoas não-qualificadas, multiplicidade de parceiros, com o uso de métodos anticoncepcionais torna-se maior a liberdade para a prática da atividade sexual, dificuldade na investigação dos parceiros sexuais, menor medo do público por essas doenças pela facilidade que hoje tem no diagnóstico e tratamento, facilidade de deslocamento das populações, e por fim a maior resistência microbiana aos antibióticos e quimioterápicos (FAÇANHA et al., 2004).

    Os adolescentes devem usar os métodos de barreiras, que são os preservativos masculinos e femininos, comprovadamente efetiva contra o HIV e a gravidez e seu uso correto reduz substancialmente o risco de transmissão do HIV e das outras DST. O uso regular de preservativos pode levar ao aperfeiçoamento na sua técnica de utilização, reduzindo a freqüência de ruptura e escape e, conseqüentemente, aumentam sua eficácia. Estudos recentes demonstraram que o uso correto e sistemático do preservativo masculino reduz o risco de aquisição do HIV e outras DST em até 95% e diminuem o número de gravidez na adolescência (FAÇANHA et al, 2004).

Família e adolescente

    A família é entendida como uma instituição privada, passível, neste mundo pós-moderno, de vários tipos de arranjo, mas basicamente tendo a função de socialização primária das crianças e dos adolescentes. Já a adolescência é entendida como um período do ciclo vital em que a curiosidade por experiências novas e a troca e a influência do grupo de amigos são fundamentais. A família nuclear (pai, mãe e filhos) tem um papel fundamental na vida do adolescente, pois ela é o ponto de referência na base do seu desenvolvimento social e cultural (SCHENKER; MINAYO, 2003).

    A comunicação sobre sexualidade entre pais e adolescentes é marcada, enfim, por uma ambigüidade em que ambas as partes reconhecem o problema, mas evitam enfrentá-lo, preferem sempre em deixar para depois. O dilema está então constituído num conflito entre falar sobre sexo ou não. Por exemplo, a orientação sexual poderia levar a iniciação sexual precoce? Ou a falta de orientação poderia resultar em doenças ou gravidez indesejada? Os pais atentos para realidade, explicam para seus filhos à sexualidade, pois entendem que mesmo que os adolescentes iniciem a vida sexual mais cedo, pelo menos estão fazendo de modo seguro, evitando uma doença ou uma gravidez (DIAS; GOMES, 1999).

Considerações finais

    Diante do conteúdo explorado percebe-se que a sexualidade do adolescente é um assunto pouco discutido entre pais, professores e profissionais de saúde e que os mesmos mostram-se despreparados, cheios de preconceitos e tabus para falar sobre o tema.

    Ao que parece, apesar de serem feitas inúmeras campanhas preventivas de existirem diversos meios de comunicação, profissionais de saúde realizando educação em saúde sobre DSTs, gravidez, AIDS e temas relacionados à sexualidade, ainda existem muitos adolescentes que apresentam déficit em relação ao assunto. Ao que parece tudo que está sendo feito pelos profissionais e mídia em geral não estão adequados a real necessidade do adolescente.

    Por isso ressaltamos ainda que as idéias expostas vão contribuir na sensibilização dos profissionais de enfermagem, acadêmicos da área, pais e professores, a saberem como abordar e ajudar um adolescente que encontra-se em conflito com sua sexualidade e assim orientá-lo de forma adequada e concisa.

    Deve-se também enfatizar a necessidade de mais estudos sobre essa problemática, para que se consolide o conjunto de conhecimentos científicos na área e seu progresso continue.

Referências

  • CAMARGO, Brigido V; BOTELHO, Lúcio J. AIDS, Sexualidade e atitudes de adolescentes sobre proteção contra o HIV. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 41, n. 1, Feb. 2007.

  • COLLY, A. S. A consulta do adolescente. In: MACONDES. E, Pediatria básica. 2º edição. São Paulo. 2003.

  • DIAS, Ana Cristina Garcia; GOMES, William B.. Conversas sobre sexualidade na família e gravidez na adolescência: a percepção dos pais. Estud. psicol. (Natal), Natal, v.4, n.1, June. 1999

  • FAÇANHA, Mônica; MENEZES, Beatriz L. F; FONTENELE, Ana D.B; MELO, Marina A; PINHEIRO, Adivânia S; CARVALHO, Cecília S; PORTO, Ivna A; PEREIRA, Larissa O. C. Conhecimento sobre reprodução e sexo seguro de adolescentes de uma escola de ensino médio e fundamental de fortaleza–ceará. ISSN: 0103-0465 DST – J bras Doenças Sex Transm 16(2):5-9, 2004. Fortaleza-CE, 2004.

  • FERREIRA, Márcia de Assunção. A educação em saúde na adolescência: grupos de discussão como estratégia de pesquisa e cuidado-educação. Texto contexto - enferm. Florianópolis, v.15, n.2, June 2006.

  • MEDEIROS, Marcelo; FERRIANE, Maria das Graças Carvalho; MUNARI, Denize Bouttelet; GOMES, Romeu. A sexualidade para o adolescente em situação de rua em Goiânia. Rev. Latino-Am.Enfermagem vol.9 no. 2, Ribeirão Preto Mar./Apr. 2001.

  • OLIVEIRA, Hadelândia Milon de; GONCALVES, Maria Jacirema Ferreira. Educação em Saúde: uma experiência transformadora. Rev. bras. enferm. Brasília, v. 57, n. 6, Dec. 2004.

  • OLIVEIRA, Maria Joana; et al, Estatuto da criança e do adolescente. Belo Horizonte, 2002.

  • REATO. Desenvolvimento da sexualidade na adolescência. In: COATES, Verônica; et al. Medicina do adolescente. 2º edição. São Paulo: Servier, 2003.

  • SAITO, Maria Ignez; SILVA. Luiz, E, V, Adolescência: Prevenção e risco. Edição. São Paulo: Atheneu, 2001.

  • SCHENKER, Miriam; MINAYO, Maria Cecília de Souza. A implicação da família no uso abusivo de drogas: uma revisão crítica. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 8, n.1, 2003.

  • SILVA, Marcelina Severina; SILVA, Marcelo Rodrigues da; ALVES, Maria de Fátima Paz. Sexualidade e Adolescência: É Preciso Vencer os Tabus. Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitário Belo horizonte 12a 15 de setembro de 2004.

  • VILLELA, Wilza Vieira; DORETO, Daniella Tech. Sobre a experiência sexual dos jovens. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 11, Nov. 2006.

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