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A avaliação e a participação: desafios da Educação Física escolar

La evaluación y la participación: desafíos de la Educación Física escolar

 

*Professor Adjunto do Centro de Educação Física e Desportos, UFSM

Coordenador do Laboratório de Análise dos Cenários Esportivos na Mídia, LACEM

**Acadêmico do Curso de Educação Física / Licenciatura, UFSM

Laboratório de Análise dos Cenários Esportivos na Mídia, LACEM

**Especialista em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde, UFSM

Bacharel em Educação Física, UFSM

Acadêmico do Curso de Educação Física / Licenciatura, UFSM

Laboratório de Análise dos Cenários Esportivos na Mídia, LACEM

****Especialista em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde, UFSM

Bacharel em Educação Física, UFSM

Acadêmico de do Curso de Educação Física / Licenciatura, UFSM

Laboratório de Análise dos Cenários Esportivos na Mídia, LACEM

Antonio Guilherme Schmitz Filho*

schmitzg@terra.com.br

Cesar Vieira Marques Filho**

cesarvmf@hotmail.com

Heitor dos Santos Daronch***

heitordaronch@gmail.com

Marcelo Freitas Prestes****

marcelofprestes@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A educação física escolar passou por um processo critico durante muitos anos, logo após o fim da ditadura militar onde ocorreu um processo de questionamento sobre a real importância desta para a escola. Porém, com a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e com a inserção da disciplina nos concursos vestibulares a tendência é de que a educação física escolar comece a receber um olhar mais atento dos professores. Para tanto, dois aspectos muito importantes devem ser trabalhados: a Avaliação e a Participação dos alunos. Neste sentido, o artigo tem como objetivo trazer a visão proposta por alguns artigos com relação a estes dois fatores essenciais para o desenvolvimento de uma educação física de boa qualidade, que possibilite aos alunos uma real compreensão dos conteúdos que compõe a grade curricular da disciplina.

          Unitermos: Avaliação. Participação. Educação Física.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    A educação física é um componente curricular do ensino escolar. Para tanto, a disciplina está orientada por uma grade curricular atrelada ao Projeto Político Pedagógico da escola ao qual está inserida. Nesta grande curricular, podem-se observar os conteúdos e diretrizes a serem seguidas pelos professores nas aulas da disciplina.

    No entanto, existem alguns fatores que se acentuam ao tratarmos destas diretrizes a serem seguidas quando falamos da educação física. Um dos maiores problemas enfrentados na educação física é a avaliação dos alunos. Neste sentido, os professores encontram dificuldades ao optar pela forma mais adequada para avaliar os seus alunos. Qual seria problema em encontrar a melhor forma de avaliar os alunos em uma aula de educação física na escola?

    Esta dificuldade da disciplina em avaliar adequadamente os alunos, prolonga-se por anos, muito devido ao fato da queda da ditadura militar no Brasil e o período que a sucedeu. Neste período, a educação física entrou em processo de questionamento quanto a sua real importância no contexto escolar. Existiam os profissionais que defendiam a questão tecnicista relacionada ao desporto, enquanto que outros defendiam uma nova tendência para as aulas, abordando fatores sociais, cognitivos e motores.

    Para tanto, esta discussão sobre a importância da educação física no ensino escolar, prejudicou o desenvolvimento das aulas e da própria formação dos professores nesta área. Foi então que surgiram professores da disciplina que em suas aulas deixavam com que os alunos vivenciassem apenas as atividades pelas quais possuíam interesse. Os meninos então jogavam futebol e as meninas jogavam voleibol. Enquanto isso, o professor da disciplina apenas observava ou até mesmo ficava em sua sala.

    A partir disto, surgiu outro problema a ser enfrentado nas aulas de educação física: a participação. Pois, aqueles alunos que não tinham interesse na prática do futebol e do voleibol acabavam não participando das atividades. Então a partir daí a participação dos alunos também passou a se tornar um problema para a disciplina.

    Neste sentido, este estudo tem como objetivo analisar e compreender como a avaliação e a participação são trabalhadas pelos professores de educação física no contexto escolar. O estudo está baseado na busca de referências bibliográficas que possam auxiliar está análise.

A avaliação nas aulas de Educação Física

    Para compreendermos a questão da avaliação, podemos observar alguns conceitos encontrados como, por exemplo, o conceito defendido por Barbosa (2008, p.01) onde a “avaliação é uma reflexão sobre o nível de qualidade do trabalho escolar tanto do professor como dos alunos”.

    Segundo Mendes et al. (2007) a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9.394/96, propõe no seu artigo 24 um modelo de avaliação escolar com caráter contínuo e cumulativo, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados adquiridos ao longo do período sobre as eventuais provas finais.

    Para Bratifische (2003), a Educação Física hoje, almeja que as aulas possibilitem ao aluno vivenciar as habilidades físicas por meio de conhecimentos que enfatizam o corpo, esportes, lutas, danças e ginástica, visando enriquecer seu vocabulário motor. Bratifische diz ainda em sua publicação que a avaliação escolar tem se modificado no decorrer dos anos, em conseqüência das mudanças estruturais na sociedade, das alterações no comportamento humano, dos avanços tecnológicos, entre outros fatores. Desta forma, avaliar em educação física consiste em reconhecer, diagnosticar, desenvolver e valorizar a expressão individual, a cultura própria e a manifestação de afetividade, viabilizando a aprendizagem e formação integral do educando.

    Pode-se perceber que a educação física possui uma grade curricular com inúmeros conteúdos que podem ser trabalhados. Atualmente, os conteúdos estão atrelados a elementos da cultura corporal de movimento que devem servir de base para o desenvolvimento das aulas de educação física na escola. Para tanto, a avaliação deve considerar estes elementos de forma que os alunos possam ao final do ano letivo compreender e apropriar-se destes conteúdos para vivencias futuras, sejam elas dentro ou fora do ambiente escolar.

    Mendes et.al. (2007) afirma que estudos apontam que as características das práticas avaliativas aplicadas pelos professores de Educação Física na atualidade, nos diversos níveis de ensino, direciona-se na maioria das vezes exclusivamente à verificação do aprendizado pela análise da capacidade de retenção de informações e reprodução de movimentos técnicos, desconsiderando-se o desenvolvimento e progresso global do aluno.

    Para Darido e Rangel (2005) nos últimos anos não foram poucos os professores que optaram por esse método tradicional de avaliação, pois diziam tornar a Educação Física mais cientifica, objetiva e qualitativa. Apesar de que partir da década de 70, esse modelo tradicional de avaliação passou a ser alvo de muitas críticas e comprovado através de pesquisas que esse sistema de avaliação só estava servindo para rotular os alunos (em excelentes, bons, regulares e fracos).

    Ainda segundo Darido e Rangel (2005), deve-se evitar utilizar provas escritas em que se deve responder exatamente conforme o que foi apresentado em sala de aula, mas sim observar o aluno durante todas as aulas e ser for necessário solicitar a sua interpretação dos conceitos.

     A primeira questão a ser discutida, fundamentada na compreensão dos aspectos pedagógicos que defendemos inclusive para a avaliação escolar, é a preocupação/consideração com três dimensões dos conteúdos: procedimental, conceitual e atitudinal. (DARIDO; RANGEL, 2005, p.129).

    É notório perceber que mesmo com a tentativa de evolução com relação à educação física escolar, muitos professores caminham em sentido contrário. A utilização de novas estratégias de avaliação encontra-se restritas a um número reduzido de professores, quando na maioria deles ainda utilizam as provas escritas e provas com objetivo de verificar a simples execução de atividades.

    Para Darido e Rangel (2005) a Educação Física não pode se restringir a avaliação do domínio motor e esquecer as relações cognitivas, afetivas e sociais dos alunos. Deve considerar a conduta humana em todas as dimensões.

    Considerando a pesquisa realizada por Ferreira et. al. (2009) onde foi feito uma pesquisa de campo, qualitativa e descritiva com 40 professores de educação física da cidade de Fortaleza, pode-se verificar que as inúmeras respostas convergem principalmente para os aspectos motores, demonstrando que a maioria dos professores utiliza o modelo tradicional de avaliação.

    Porém pode-se observar que o interesse aos aspectos avaliativos atitudinais e cognitivos também está presente em algumas respostas dos professores entrevistados, reforçando que Educação Física está em fase de transição, ou seja, cada vez mais voltada para as dimensões atitudinais e cognitivas, porém ainda permanecendo, as habilidades motoras, como os principais fatores a serem analisados e avaliados.

A participação dos alunos nas aulas de Educação Física

    Para discutir a questão da participação dos alunos nas aulas de educação física, utilizamos como base o artigo intitulado: “A participação dos alunos do ensino médio em aulas de educação física: algumas considerações”. O artigo foi publicado na revista da Educação Física da Universidade Estadual de Maringá (UEM) pelas autoras: Raquel Stoilov Pereira e Evando Carlos Moreira no ano de 2005.

    Os autores abordam questões sobre a evolução da educação física na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB. Especificamente, sobre a inclusão da palavra obrigatório no texto da lei 10.328, sobre a educação como componente curricular da Educação Básica. É utilizado os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), para refletir sobre os objetivos e caminhos da educação física no ensino médio. Pode-se perceber uma critica a educação física no ensino médio, pois segundo Brasil (2004); Celante (2000); Hildebrandt-Stramann (2001) a educação física no ensino médio não deve voltar-se apenas para a prática, mas utilizar-se de conhecimentos teóricos sobre o movimento humano e o esporte ou problemas de ordem social, política, emocional, psíquica e física, criando situações-problema que o próprio aluno deverá resolver.

    Em seguida, os autores comentam sobre o método, sendo essa uma pesquisa descritiva, onde se fez a observação de 80 horas/aula (50 minutos) de Educação Física de duas escola privadas da Zona Leste de São Paulo, com a participação de 446 alunos do Ensino Médio e 04 Professores de Educação Física. Utilizou-se como técnica a observação não-participante, em que o observador se insere na realidade da aula sem, contudo, participar dela atuando como um espectador. Depois, o artigo apresenta a discussão dos resultados, senda essas divididas em três partes: observação não-participante e questionário com os alunos e os professores.

    Na primeira parte (observação não-participante), apresentam-se três tabelas: a tabela 1 fala sobre a relação da participação dos alunos nas aulas de educação física, onde 46% das aulas observadas não ocorreu a participação total dos alunos; na tabela 2 foi mostrada as aulas em que nem todos os alunos participaram e foi constatado que a quantidade de aulas iniciados com número reduzido de alunos (37,5%), por causa que esses ficavam sentados na arquibancada.; a tabela 3 apresenta a relação das atividades aplicadas aos alunos durante as aulas e em 75% das aulas observadas ocorreu a aplicação de práticas esportivas (jogos), dando a impressão de que a aula de educação física é sinônimo de esporte. Utiliza-se de teóricos para criticar a “esportivização” das aulas e os seus métodos, segundo Montenegro-Montenegro (2004) afirmaram: os professores não devem ensinar os alunos exclusivamente “como faze”, mas, acima de tudo, ensiná-los a “aprender a aprender”, ou seja, que estejam atentos á dinâmica social e possam manter-se atentos e disponíveis para a aprendizagem.

    Na parte 2 (questionários aos alunos), foram apresentadas duas tabelas: a tabela 4 que mostra motivos da participação dos alunos nas aulas de educação física, detectando que 70,6% dos alunos participam porque gostam, enquanto que 28,5% o fazem por obrigação; na tabela 6 foi apresentado o atendimento aos interesses dos alunos nas aulas de educação física, onde cerca de 57% dos alunos afirmaram que as aulas atendem a seus interesses. Esses dados destoam do número de aulas em que todos os alunos frequentam, pois se os interesses são atendidos a participação deveria ser maior. Na parte 3 (os professores), foi feita uma constatação e uma entrevista com os professores. A constatação foi à seguinte, das 80 aulas observadas, em uma única aula o professor tentou convencer o aluno a participar da aula, os demais professores nada fizeram diante da ausência ou desistência dos alunos. Não se manifestaram no sentido de estimular a participação ou, ao menos, conscientizar os alunos no final da aula.

    Uma das questões colocadas na entrevista indagou a forma como o professor seleciona os conteúdos para a aula. Foi possível notar dificuldade em responder á questão, pois nenhum deles foi claro e objetivo ao explicar como determinam o conteúdo. Todos, sem exceção, responderam que trabalham um esporte por semana, de acordo, muitas vezes, com o rodízio que é feito nas quadras. Outra questão buscou verificar se os professores pressupõem que os objetivos a serem atingidos dever ser os mesmos para os três anos. Para os professores no primeiro ano deveria haver uma carga maior de fundamentos e regras, pois existem alunos que vêm de outra escola e ainda não detêm as habilidades esportivas; já nos segundos e terceiros anos não existe mais a necessidade desse trabalho, por já ter sido realizado anteriormente. Percebe-se inclusive que as aulas das turmas de segundos e terceiros anos são idênticas.

    Pode-se concluir através dos autores deste artigo o quão problemática está a situação da Educação Física no Ensino Médio, onde mais da metade dos alunos que responderam aos questionários afirmaram gostar da aula de educação física, no entanto, apenas 57% deles responderam que aulas atendem aos seus interesses, deixando uma parcela significativa de alunos descontentes. Essa posição pode ser um reflexo, da forma como as aulas eram propostas, pois, das 80 aulas observadas, 70 estiveram voltadas ao esporte.

    Por isso, alunos e professores precisam se conscientizar de seus papéis dentro da escola, com finalidade de atingir focos mais importantes (criação, criticidade, transformação, discussão) que a simples transmissão e reprodução de conhecimentos. Os professores devem repensar suas atitudes, pois, em breve não existirá mais motivo para a existência da Educação Física no Ensino Médio, visto que a ação pedagógica dos professores não vem suprindo as necessidades, quer do educando quer da própria disciplina.

    Neste sentido o futuro aponta para que o professor busque novos conhecimentos, motivando seus alunos, com um planejamento dos conteúdos a serem trabalhados, possibilitando ao aluno uma diversidade de conteúdos e vivências diferenciadas nas aulas de educação física. Além disso, a escola deve oferecer melhores condições de infraestrutura, materiais e de formação continuada para os professores.

Conclusão

    Decorrente da instituição da nova LDB houve a necessidade de se repensar o papel da Educação Física no âmbito escolar, principalmente em relação ao ensino médio, onde deixou de ser obrigatória nos cursos noturnos. Muitos profissionais analisaram esta situação, pois essa diretriz praticamente excluiu a Educação Física do Ensino Médio noturno, tendo em vista que geralmente existe a impossibilidade dos alunos de participarem dessas aulas em outro turno, que é o que está previsto na lei. Isso acarreta prejuízos aos profissionais da área, pois é necessário um número menor de professores. Os alunos também são prejudicados, passando o Ensino Médio sem a oportunidade de experienciar e adquirir os conhecimentos advindos dessa disciplina.

    Cabe ressaltar, que existe uma parcela de culpa dos profissionais da área, que adotaram o ensino de quatro modalidades esportivas como conteúdo total das aulas, tornando o conteúdo bastante raso e pouco referenciado. Entretanto, as novas concepções da Educação Física apresentam práticas pedagógicas inovadoras, buscando qualificar a formação dos estudantes de Ensino Médio.

    A melhoria na qualidade de formação dos cursos de graduação em Educação Física também é um ponto que não pode deixar de ser considerado. Estas novas práticas têm de ser incorporadas no currículo, para que os estudantes consigam terminar o curso com uma maior capacidade de intervenção junto à escola.

    Hoje em dia, toda essa busca por uma maior qualificação dos professores, tenta suprir os prejuízos da não-legitimação do conteúdo da Educação Física. Cabe ao professor buscar formas de atrair a atenção dos alunos de Ensino Médio, encontrar recursos que os façam participarem das aulas, e uma das melhores maneiras é mostrando que a Educação Física é um componente curricular de extrema importância para os alunos.

Referencias bibliográficas

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